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1 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia – Avaliação do risco cirúrgico Avaliação do risco cirúrgico Objetivos • Identificar comorbidades: é muito importante: ❖ Quantificar sua gravidade: Tem algumas comorbidades que vão impedir que se faça uma cirurgia eletiva; até mesmo uma cirurgia de urgência pode ser impedida por alguma comorbidade. • Otimizar evolução peri e pós-operatória: Tanto o peri quanto o pós-operatório tardio. O que conseguir identificar antes pode evitar eventos catastróficos para a cirurgia. Principal função da avaliação do risco cirúrgico: Reduzir morbimortalidade. Conceitos ❖ Pré-operatório: tudo que vai anteceder a cirurgia: história da doença, história familiar, indicação da cirurgia ... até o momento da cirurgia. ❖ Perioperatório: é a partir do momento que o paciente entrou na sala: início da anestesia até as 48h após a cirurgia. Se acontecer alguma coisa com o paciente nessas primeiras 48h, provavelmente foi por algum evento adverso dentro da cirurgia. ❖ Pós-operatório: a partir das 48h após até 30 dias após a cirurgia. Risco cirúrgico Não existe cirurgia com risco zero. Até mesmo cirurgias pequenas, com anestesia local, geram risco. 1. Risco no procedimento: Alto risco: longos, com perda sanguínea considerável, que vão mexer com via aérea. Baixo risco: procedimentos que não vão trazer uma REMIT grande para o paciente; 2. Risco anestésico: geral, raquimedular, local com sedação, se um bloqueio. Cada tipo de anestesia vai trazer um risco diferente – gerais e locais; 3. Risco individual: comorbidades. Avaliação pré-operatória 1º: Anamnese minuciosa: É necessário entender o porquê que o paciente está operando/qual a história dele. Assim, consegue saber mais ou menos quais são as comorbidades do paciente e com o que precisa se preocupar. 2º: Exame físico pormenorizado: atenção principal para o sistema cardiovascular e respiratório; a depender do tipo de cirurgia, o exame físico do local onde será operado. 3º: Exames complementares: nem todos os pacientes. Anamnese • História da doença atual e do tratamento: tempo e forma do tratamento; idas ao médico; Isso mostra o grau de confiabilidade da sua informação; • Tolerância ao exercício: é preciso saber se o paciente aguenta a cirurgia. Às vezes, passar por uma cirurgia, é como se fosse passar por uma maratona; a REMIT, a resposta metabólica, é como se a pessoa estivesse correndo, então tem que pensar se o coração e o pulmão vão aguentar; • Medicações em uso e história pessoal ou familiar de alergias: é importante saber se o paciente vai poder utilizar alguma medicação que eventualmente seja necessária na cirurgia ou no pós operatório; • História social do paciente: uso de drogas ilícitas, álcool ou tabaco; duração; se abstêmio, há quanto tempo? • Doenças crônicas: principalmente cardiovascular, pulmonar, hepática, renal, endócrina e neurológica; • Antecedentes anestésicos e cirúrgicos: internação; operação; tipo de operação; tipo de anestesia; complicações; sangramentos; transfusão sanguínea; febre; reações adversas; terapia intensiva; presença de gengivorragia. Perguntar tudo sobre cirurgias prévias; • Sangramentos e cicatrização: saber se ele tem uma cicatrização eficaz, principalmente se suspeita diabetes mellitus (cicatrização ruim). Capacidade funcional • É medida pelo MET - coeficiente metabólico. • 3,5mL/Kg/min de O2: é mais ou menos o que um homem adulto de 70kg gasta (consumo de oxigênio) em um minuto de atividade. • O MET apresenta relação com o consumo de O2 e os tipos de atividade praticadas pelo paciente. 2 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia – Avaliação do risco cirúrgico Consumo de O2 em equivalente metabólico Tipos de atividade 1 MET - Comer, vestir-se, usar o banheiro; - Caminhar dentro de casa; - Pouca atividade; - Caminhadas curtas (X quarteirões) com velocidade de no máximo 4,8km/h. 4 METs - Subir escadas; - Caminhar a 6,4km/h; - Correr pequenas distâncias; - Limpar assoalhos ou móveis; - Atividade recreativa moderada: dançar, jogar tênis em dupla. >10 METs - Participar de espertos extenuantes: natação, tênis individual, basquete, futebol. Repouso e atividades leves – 1-4 METs: Se o paciente consegue alcançar pelo menos 4 mets (ex. subir uma escada), já se imagina que ele tem uma capacidade funcional relativamente boa para fazer a cirurgia. Se for menor que 4 mets, deve-se ficar preocupado. Risco anestésico-cirúrgico • Classificação ASA (American Society of Anesthesiologist – 1941): Essa escala vai te dar mais ou menos a mortalidade operatória. ➢ Paciente ASA 1: melhorzinho; sem comorbidade; no geral, tem uma mortalidade operatória <1%. ➢ Paciente ASA 4: pacientes mais graves; com comorbidades; ruim; mortalidade >7%. • O ASA observa muito o estado físico e as comorbidades do paciente. É muito utilizada! • Críticas: avaliação subjetiva, não olha o tipo de cirurgia, órgão-inespecífica (é como se um hepatopata fosse igual a um nefropata), não leva em conta a idade (um paciente de 18 anos vai ter a mesma recuperação/morbimortalidade de um paciente de 75 anos?). 1. ASA I: paciente sem comorbidade nenhuma; 2. ASA II: é uma comorbidade leve e compensada, que não traz limitação funcional para o paciente; é no caso de uma DM ou uma HAS, mas que o paciente toma sua medicação, ou seja, mantém a doença controlada. Outros exemplos são: obesidade, gestação e anemia; 3. ASA III: doença sistêmica moderada ou grave que traz limitação funcional, porém, sem incapacidade funcional. EX: DM (com complicações), IAM prévio (mas que segue bem), HAS não controlada, IR crônico e obesidade mórbida; 4. ASA IV: paciente com doença sistêmica grave, que possui uma incapacidade funcional ou que representa ameaça a vida. EX: ICC (várias idas a emergência, vários EAP) e pacientes com angina pectoris instável. 5. ASA V: paciente moribundo; não é esperado que sobreviva com ou sem a cirurgia proposta, ou seja, é aquele paciente a beira da morte. EX: ruptura de aorta, hemorragia intracraniana com PIC elevada; 6. ASA VI: paciente com morte cerebral; a cirurgia será feita apenas para retirada de órgãos. Em casos de emergências, deve se acrescentar um E ao número do ASA. EX: ASA IIE ou ASA IIIE. Risco cardiovascular É um dos mais importantes, pois causas cardíacas são as principais causas de morte no perioperatório (intra e pós operatório). EX: IAM, FV (fibrilação ventricular), BAVT (bloqueio átrio ventricular). Então, é entender que o risco cardíaco está associado as taxas de morte em uma cirurgia, pois para aguentar o trauma de uma cirurgia, o coração precisa estar numa boa forma. Para determinar o risco cardiovascular existem diversos critérios, um dos mais usados são os critérios de Eagle. • Critérios de EAGLE: fala o tipo de risco a depender do procedimento que será feito; com isso, será avaliado diversas cirurgias, desde procedimentos simples e ambulatoriais até complexas. ❖ Alto (risco cardíaco >= 5,0%): Cirurgias vasculares (aórtica, grandes vasos e vasculatura periférica). Cirurgias de emergência e urgência. ❖ Intermediário (Risco cardíaco >= 1,0% e <5%): Cirurgias de cabeça e pescoço, intratorácicas, abdominais, ortopédicas, prostáticas. 3 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia – Avaliação do risco cirúrgico ❖ Baixo risco (risco cardíaco <1%): procedimentos simples e ambulatoriais. Ex. cirurgia de mama, endoscopias, catarata ... OS OUTROS ÍNDICES SÃO SÓ PARA SE TER UMA NOÇÃO DE EXISTÊNCIA. ❖ GOLDMAN (1977): primeiro modelo para complicações cardíacas envolvendo diversos fatores. ❖ DETSKY (1986): aprimorou Goldman e acrescentou a angina ou história de IAM ou EAP prévios. ▪ Levados em consideração: IAM, B3, pontos de gasometriaarterial, tipo de cirurgia, idade. Então, é entender que são multifatoriais. ▪ Será somado e visto em qual classe o paciente se encaixa, porém esses dois índices não são muito utilizados atualmente. Atualmente, os mais utilizados são os 3 seguintes: • Algoritmo ACP (1997) • Critérios de LEE: (IRCR – Índice de risco cardiovascular revisado – 1999); Mais utilizados atualmente na prática médica. • Estudo multicêntrico de avaliação perioperatória (EMAPO – 2007) 4 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia – Avaliação do risco cirúrgico • Critérios de Lee: são os mais simples. Levam em consideração o tipo de cirurgia do paciente, onde será vista se o tem histórico de doença cérebro vascular, IC, DAC, creatinina pré operatória para saber se tem uma doença renal. Obs: Não precisa gravar os scores, apenas ter uma noção básica (GRAÇAS A DEUS!) Avalição do paciente com RCV (risco cardiovascular): ECG (primeira coisa a ser pedida) - para ver a questão de arritmias, sejam elas tratadas ou não para ver se será preciso cuidar durante a cirurgia. ▪ A depender, será avaliado alguns testes não invasivos, por exemplo, o teste ergométrico: em casos de pacientes de alto risco ou que tenha alguma doença ativa, EX: ICC. ▪ Avaliar uma intervenção coronariana: pode ser o paciente que sente uma angina durante o teste ergométrico. É um paciente que não consegue alcançar determinado MEETS. Então, será necessária uma intervenção, pois se paciente tiver com um distúrbio coronariano será necessário fazer uma angioplastia e colocar o STENT. Neste caso, antes de se fazer a cirurgia que estava marcada, será necessário fazer uma angioplastia para tratar a coronária e otimizar o paciente. Hoje, o algoritmo mais usado é esse do ACC/AHA (2014), demonstrado na figura abaixo. 5 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia – Avaliação do risco cirúrgico EXPLICANDO O ALGORITMO: primeira coisa é se for uma cirurgia de emergência → SO (sala de cirurgia); • Se não for cirurgia emergência, deve perguntar se o paciente já fez uma cirurgia de revascularização em até 5 anos ?? Se sim → SO; • Se não fez ... o paciente tem alguma avaliação coronariana recente? Se sim e estiver boa → SO; • Se não tiver nenhuma avaliação ou o resultado estiver ruim, você vai avaliar! Se for um paciente que não tiver nenhum preditor clínico, mas tiver ritmo do ECG anormal ou outro que não sinusal, será avaliado o MEET. Se o paciente tiver a capacidade do MEET moderada ou boa (>4meet) → SO; • Se não tiver o MEET bom (<4meet), será avaliado o tipo de risco do paciente. Se for uma cirurgia de baixo risco ou intermediário → SO; se for uma cirurgia de alto risco, faz exames não invasivos e depois uma angiografia coronariana. E então, o tratamento vai depender dos resultados encontrados. Se for necessário, será feito uma angioplastia e adiamento do procedimento • Voltando na parte de cima do fluxograma: se o paciente não fez uma avaliação coronariana ou o resultado não estiver bom, caso seja um paciente grave (com angina instável, ICC descompensada, arritmia significativa, doença valvar grave) será necessário fazer o adiamento da cirurgia, tratar o paciente, tentar modificar os fatores de risco, fazer uma angiografia (a depender do resultado → angioplastia) e futuramente cirurgia eletiva. • Obs: dar uma olhada no fluxograma que é pra entender como conduzir o paciente com RCV. • PA <180x110mmhg não eleva risco perioperatório de eventos cardiovasculares. Mesmo que seja um paciente hipertenso, se ele tiver assintomático, será um paciente que, geralmente, não estará em urgência hipertensiva; • BB é utilizado para pacientes coronariopatas, para prevenção de IAM e arritmias malignas pós operatóros. O BB só é feito para os coronariopatas, pois ele está associado ao risco de um AVC isquêmico (ainda não se sabe os motivos). • IAM recente ou pós angioplastia coronariana: só poderão ser operados após 4-6 semanas do evento, a não ser que tenha alguma outra contra indicação que necessite esperar mais tempo. Lembrando que isso é para cirurgias eletivas!!! Cirurgias de emergência e urgência serão feitas. Risco pulmonar Programar estratégias em pacientes de alto risco Todas as vezes que o paciente necessita realizar anestesia geral ou ser intubado, o paciente pode apresentar uma complicação ou até mesmo pegar uma pneumonia por conta da IOT. Existem alguns tipos de cirurgia, de doenças e comorbidades que irão aumentar o risco pulmonar. Tipo de cirurgia: Andar superior do abdome. Está mais próximo e pode trazer uma reação inflamatória maior para os pulmões, apresentando uma chance maior de atelectasia. São cirurgias que apresentam um elevado risco pulmonar. Pacientes que apresentam alguma IC, idosos, cirurgias que apresentam duração >3 horas, desnutridos, doenças pulmonares crônicas ou infecção de via aérea superior e tabagistas-. 6 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia – Avaliação do risco cirúrgico Espirometria ou Rx pré-operatório: • Asma ou DPOC; ➢ VEF1 (volume expiratório) <30% do previsto – alto risco para afecções respiratórias; • Não estimam o risco em rotina. • Não é necessário em todos os pacientes. Tabagismo: Cessar 8 semanas antes. Não pode ser 2/3 dias antes, pois pode aumentar a reação inflamatória pulmonar, com aumento na produção de secreção. Asma/DPOC: Enviar para avaliação do pneumo, no pré e pós operatório. Na maioria das vezes, relacionado a asma e DPOC graves, é necessário o uso de broncodilatadores e corticóides nas 24 horas pré/pós-operatório, para tentar otimizar a função pulmonar do paciente no momento. ❖ Tratar pneumonias previamente: se o paciente apresenta uma pneumonia prévia, é necessário fazer o tratamento dela primeiro. Paciente operado com pneumonia pode aumentar até 50% a mortalidade. Primeiro tem que tratar a pneumonia, verificar a melhora clínica do paciente e depois operar. ❖ Lembrando que uma das principais respostas da REMIT é sobre o pulmão; pode ser atelectasia (uma das principais), derrame pequeno. Risco nutricional ▪ Perda de 10% em 6 meses ou 5% em 1 mês → desnutrição grave. ▪ A desnutrição pode ser medida com alguns marcadores: ➢ Albumina (Meia-vida 14-18d); Se o paciente estiver desnutrido acima desse tempo, ele terá uma albumina baixa. É a mais utilizada na prática. ➢ Transferrina (Meia-vida 7d) • NPT pré-op (7-10d) ➢ Somente em gravemente desnutridos. • Pacientes que apresentam doenças crônicas, câncer são cronicamente denutridos e, muitas vezes, necessitam de cirurgia. Lembrar: magreza (ele pode ser desde sempre magro) não é sinal de desnutrição. Falar de desnutrição NÃO é saber se o paciente está gordo ou magro, e sim saber o quanto de peso ele perdeu recente. O paciente pode apresentar gordura, mas ter uma perda proteica grave. • O manejo do paciente desnutrido depende do tipo de cirurgia da morbidade cirúrgica. Se for feita uma cirurgia em um paciente que se apresenta gravemente desnutrido, principalmente se for uma cirurgia grande, é interessante realizar uma nutrição pré op. - nutrição suplementar com NPT. • Alguns desses paciente apresentam desnutrição por uma tolerância como uma pancreatite grave e não apresentam intolerância ao alimento. Dessa forma, é possível realizar uma nutrição parenteral ou nutrição enteral, mas com suplementação. • Essa conduta modifica muita a sobrevida do paciente: relação coma cicatrização, com a chance de infecção em ferida operatória. • A nutrição do paciente é o principal fator que irá indicar se a cirurgia vai ocorrer bem ou não. Paciente desnutrido, normalmente, apresenta complicações cirúrgicas. Risco hematológico É importante pesquisar a anemia e saber quando é necessário realizar a transfusão.• Transfundir CH: ➢ Hb <6g/dl → Transfusão. Às vezes, o paciente apresenta uma hemoglobina de 2 e encontra-se assintomático. Às vezes, é uma anemia menor de longa data. No intraoperatório, o paciente começa a perder sangue e, no peri operatório ele perde líquido para o 3º espaço, podendo piorar a situação. Então, a ideia é transfundir. ➢ 6-10g/dl → Não é necessária a transfusão. É feita SOMENTE se o paciente apresenta alto risco para um IAM ou doença cerebrovascular ou cirurgia de grande porte com uma perda estimada de >30% da volemia ou mais de 1.500ml de sangue; • Plaquetas: ➢ <100.000 para oftalmológicas e neurocirurgia; ➢ <50.000 para qualquer cirurgia. Risco hepatobiliar – Cirrose • Estado nutricional: é um paciente que tem uma diminuição da função hepática; a albumina vai lá pra baixo; cirurgias muito mais complicadas. 7 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia – Avaliação do risco cirúrgico • Discrasias sanguíneas: geralmente o TP está largo; facilidade de sangramento muito maior; fazem plaquetopenia. CHILD-PUGH: CLASSIFICAÇÃO A, B E C ❖ CHild A: hepatopata que hoje é normal; o fígado consegue suprir. ❖ Child B: pesar se vale a pena. ❖ Child C: Hepatopatas (mais grave); contraindicar cirurgias eletivas. Só é indicada se tiver real necessidade, pesando o risco benefício. Tais pacientes têm um risco alto de mortalidade – 80%. Tentar medidas conservadoras. HERNIORRAFIAS: Muitas vezes fazem ascite, que predispõe a hérnias da parede abdominal, principalmente a umbilical, que pode romper e liberar ascite cronicamente e, consequentemente, complicar infeções. Assim, surge uma controvérsia da contra indicação da cirurgia nesse caso que, no geral, é indicada. Risco renal Paciente renal crônico tem distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos, apresentando tendência a fazer hipercalemia, acidose metabólica. Nesse caso uma gasometria intraoperatória pode ajudar o paciente. Creatinina > 2mg/dl: fator de risco INDEPENDENTE para complicações cardíacas. Terapia de substituição renal: paciente dialítico (terapia de substituição renal) que vai operar, é preciso fazer a hemodiálise 24 horas antes do procedimento, e avaliar uma nova hemodiálise após o procedimento. Todo paciente que sofre trauma (a cirurgia é um trauma) faz uma hipercalemia por conta disso e, por isso, é necessário a hemodiálise antes e após o procedimento para melhor controle de K+ e volemia. Exames pré-operatórios Aspectos médicos-legais: não é necessário pedir todos os exames pré-operatórios para todos os pacientes. Na maioria das vezes, só precisa de 1, 2 exames. Basta ter uma boa anamnese e um bom exame físico. Geralmente, as alterações que são encontradas nos exames, não irão aumentar a morbidade perioperatória. Quando pedir os exames pré- operatórios – Cobrado em provas HEMOG RAMA ❖ Pacientes com suspeita de anemia; ❖ Pacientes com suspeita de insuficiência renal; ❖ Pacientes com esplenomegalia (identificada no exame físico) ou história de esplenomegalia; ❖ Pacientes em uso de anticoagulantes; ❖ Pacientes em vigência de infecção; ❖ Pacientes que fizeram radioterapia ou quimioterapia recentes. COAGULOG RAMA ❖ Pacientes com história de sangramento (mesmo que pequeno. Ex: todas às vezes que escova os dentes sangra; epistaxe frequente); ❖ Pacientes que irão fazer uma cirurgia vascular, oftálmica ou neurocirurgia; ❖ Pacientes que irão fazer uma circulação extra corpórea (CEC); ❖ Pacientes com hepatopatias (alteração do TP); ❖ Pacientes com esplenomegalia; ❖ Pacientes com neoplasias avançadas; ❖ Pacientes com má absorção. TIPAG EM SANGUÍNEA ❖ Só pede se achar que vai ser necessário fazer uma transfusão sanguínea. Ex: em grandes cirurgias vasculares, em que o paciente sangra muito, é necessário pedir, pois pode ser que seja preciso transfundir durante a cirurgia. ❖ Quando perda estimada de >30% ou 1500ml. GL ICEMIA ❖ Pacientes acima de 70 anos; ❖ Pacientes com diabetes mellitus ou com história familiar; ❖ Pacientes em uso de corticoides; ❖ Pacientes com pancreatopatias; ❖ Pacientes com uso de NPT. CREATININA (FU NÇÃO RENAL) ❖ Pacientes acima de 74 anos; ❖ Pacientes com história pessoal ou familiar de nefropatia; ❖ Pacientes hipertensos ou diabéticos; 8 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia – Avaliação do risco cirúrgico ELETRÓL ITOS ❖ Pacientes nefropatas; ❖ Pacientes com insuficiência cardíaca ou hepática; ❖ Pacientes que fazem uso de diurético ou corticoide; ❖ Pacientes que tem hiperaldosteronismo. TGO/TGP ❖ Pacientes que tem hepatopatias; ❖ Pacientes etilistas; RAIO X DE TÓRAX ❖ Pacientes acima de 74 anos; ❖ Pacientes cardiopatas ou pneumopatas; ❖ Pacientes com alguma neoplasia; ❖ Pacientes tabagistas (acima de 20 maços/ano). ELETROCARDIOGRAMA ❖ Pacientes acima de 40 anos (homem) e de 50 anos (mulheres); ❖ Pacientes com doença sistêmica associada a patologia cardíaca (DM, HAS, doenças vasculares, LES, dislipidemias); ❖ Pacientes que fazem uso de alguma droga cardiotóxica (ADT). ❖ Paciente <40 anos, que vai ser feita uma anestesia regional, não é necessário pedir exame. ❖ Para mulher é colocado aqui o HB e o Beta Hcg, mas é controverso (não é obrigado a pedir). Independente da faixa etária: cirurgia cardíaca, vascular da aorta, neurocirurgia, cirurgias extensas da coluna vertebral, ressecções pulmonares e intestinais: creatinina, glicemia, ECG e radiografia de tórax. Avaliação medicamentosa • Medicações que são necessárias suspender previamente: AAS; clopidogrel; anti inflamatórios (1 – 3 dias); anti coagulantes orais. • No dia anterior: suspender antidiabético oral (ele pode dar algum grau de lesão hepática), diuréticos (para não alterar a volemia do paciente no peri operatório). • Medicações que devem ser mantidas durante a cirurgia: anti-hipertensivos, psicotrópicos, anticonvulsivantes, drogas pulmonares, levotiroxina. Anticoagulantes orais • Suspender 5 dias antes. Mensurar RNI no pré- operatório imediato. Reiniciar 12 horas pós operatório. • Paciente de alto risco: suspender o oral e iniciar a heparina sistêmica até 6 horas antes da cirurgia. • Cirurgia de emergência (que não teve tempo de suspender o anticoagulante oral): considerar usar plasma fresco, vitamina K ou protamina no paciente para diminuir seu risco cirúrgico. Antiplaquetários (aspirina e clopidogrel) • Depende do risco da cirurgia e do paciente. • Pacientes de baixo risco: devem ser mantidos. • Pacientes de risco moderado: se for como profilaxia secundária → manter; se for como profilaxia primária → suspende por 7 dias. • Nem sempre vai precisar suspender. • No geral, suspende, mas não é necessário, principalmente para cirurgias de baixo risco. 9 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia – Avaliação do risco cirúrgico Tricotomia • Não realizar, ou realizar apenas no momento da cirurgia (às vezes, com o paciente já anestesiado). ❖ Já foi evidenciado que fazer tricotomia um dia antes ou na noite anterior aumenta o risco de infecção. Ao realizar a tricotomia, é criado um grau de inflamação na região que propicia o surgimento de bactérias. Então, não é interessante, a menos que seja no momento da cirurgia. Sondagem vesical ❖ Caso seja necessário monitorizar perfusão tecidual: paciente grave - monitorização da diurese do paciente o tempo inteiro no intra-operatório.; cirurgias longas com mais de 4 horas); ❖ Cirurgias pélvicas ou de vias urinárias; ❖ Laparoscopias*: Muito comum; esvaziar a bexiga e diminuir os riscos ao passar o trocáter, principalmente se for passagem pélvica (pra não pegar na bexiga). • Não precisa fazer em todos os pacientes! Antibioticoprofilaxia • Para entender de antibioticoprofilaxia, o primeiro passo é classificar o tipo de cirurgia: •Limpa: Sem manipulação do TGI, GU, respiratório “nem nada”. Exemplo: hérnia, plástica. Só vai ser manipulado pele, TSC, músculo e fáscias. Risco de infecção 1-2%. • Limpa-contaminada: Cirurgias em que acaba invadindo, mas não tem uma contaminação grosseira. EX: Cirurgias do TGI (gastrectomia – NÃO vai abrir o estômago. Vai clampear, fazer a ressecção do tumor ou o que quer que seja e depois suturar). Quando ocorre extravasamento, é mínimo. Se contaminou é pouco. Outros exemplos: cirurgias de orofaringe (contato com saliva, com a boca - que é contaminada). Então, vai ser classificada como uma cirurgia limpa potencialmente contaminada. R. de infecção 2-4%. • Contaminada: A contaminada de verdade, geralmente, teve uma quantidade relevante de secreção no TGI. Por exemplo: O cara levou um tiro que perfurou uma alça intestinal e o conteúdo dessa alça está extravasando ali dentro. Outros exemplos: cirurgias que vai se operar urina ou bile (ex. colecistite) que possam estar contaminadas. Risco de infecção 7-10%. • Infectada: É o paciente que tem uma infecção estabelecida, geralmente com pus ou início de formação de pus. EX: Apendicite. Risco de infecção – 10-40%. Quando realizar A antibioticoprofilaxia, geralmente, é realizada no intraoperatório até 24h. Se passar disso vira terapia. • Cirurgia limpa: geralmente, não precisa fazer. ➢ Prótese (ex. tela) ou grande morbimortalidade. ➢ Ex. cirurgia cardíaca, neurocirurgia, cirurgia vascular de grande porte. São limpas, mas será catastrófico se houver infecção. • Contaminada ou potencialmente contaminada: deve-se realizar SEMPRE. ➢ Sabe-se que pode ter caído secreção ali; pode ter bactérias, contaminação do abdome (que era livre de bactérias); contaminação do meio estéreo com bactérias do TGI. Mesmo que seja pouco ou mesmo na hora do corte ... Contaminou! Ex. Paciente que levou PAF no estômago. • Infectada: Não se faz antibioticoprofilaxia, mas sim antibioticoterapia. Se ele já tem uma infecção estabelecida, ele já está ou deveria estar em uso de antibiótico. Por isso, não vai usar somente no intraoperatório, mas também depois. Tem que tratar a infecção. ❖ 1º dose na indução anestésica: ➢ Repetir em 1 a 2 meias-vidas da droga; ➢ Manter até o fim do procedimento ou no máximo 24horas. ❖ A cada droga, é necessário ver qual é a meia vida. Ex. Cefazolina (4 horas). Então, a cada 4 horas de cirurgia, repete o antibiótico. Mantém até o fim do 10 Beatriz Machado de Almeida Cirurgia – Avaliação do risco cirúrgico procedimento ou envia para a enfermaria em uso de ATB por até 24 horas. Profilaxia tromboembolismo • Importantíssimo! Uma das últimas considerações necessárias para a avaliação cirúrgica do paciente, para minimizar o seu risco cirúrgico. É a principal causa de mortalidade intra-hospitalar passível de prevenção. FATORES DE RISCO • Paciente neoplásico, grandes cirurgias, cirurgia que faz imobilidade, cirurgias ortopédicas no geral, paciente de grande trauma (principalmente de MMII, por causa da imobilidade), obesidade, gestante, idoso, compressão venosa pelo tumor, hematoma... Profilaxia geral • 1º: Avaliação do porte da cirurgia: ❖ Se é de pequeno porte, com menos de uma hora e internação prevista de menos de 2 dias → geralmente - somente deambulação precoce, sem necessidade de profilaxia química. Ex: hernioplastia. ❖ Porte médio e grande: vai depender da idade. Paciente menor que 60 anos, menor de 40 anos, sem risco (não entra naqueles fatores de risco) → deambulação precoce e casa depois. Se tiver mais de 60 anos, ou entre 40 e 60 com risco → ver se tem alguma contra indicação para profilaxia medicamentosa; Se não tiver contra indicação, faz! Se tiver contra indicação, faz métodos mecânicos (Ex. meia pneumática). Então, risco médio faz profilaxia química e/ou a mecânica. • Risco alto: geralmente faz as duas profilaxias. E sempre, se o paciente puder: Deambulação precoce.
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