Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Programa de Pós-Graduação EAD UNIASSELVI-PÓS DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM ESCRITA Autoria: Bethânia Coswig Zitzke Otilia Lizete de Oliveira Martins Heinig 370.14 Z82d Zitzke, Bethânia Coswig Desenvolvimento da Linguagem Escrita/ Bethânia Coswig Zitzke; Otilia Lizete de Oliveira Martins Heinig. Indaial : UNIASSELVI, 2016. 173 p. : il. ISBN 978-85-69910-21-3 1. Linguagem e Comunicação I. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CENTRO UNIVERSITÁRIO LEONARDO DA VINCI Rodovia BR 470, Km 71, no 1.040, Bairro Benedito Cx. P. 191 - 89.130-000 – INDAIAL/SC Fone Fax: (47) 3281-9000/3281-9090 Reitor: Prof. Hermínio Kloch Diretor UNIASSELVI-PÓS: Prof. Carlos Fabiano Fistarol Coordenador da Pós-Graduação EAD: Profa. Cláudia Regina Pinto Michelli Equipe Multidisciplinar da Pós-Graduação EAD: Profa. Bárbara Pricila Franz Profa. Cláudia Regina Pinto Michelli Profa. Kelly Luana Molinari Corrêa Prof. Ivan Tesck Revisão de Conteúdo: Cláudia Cristiane Levandoski Martins Revisão Gramatical: Iara de Oliveira Revisão Pedagógica: Bárbara Pricila Franz Diagramação e Capa: Centro Universitário Leonardo da Vinci Copyright © UNIASSELVI 2016 Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. UNIASSELVI – Indaial. Possui graduação em Letras pela Universidade Federal de Pelotas (1995) e mestrado em Linguística e Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1998). Tem experiência na área de Linguística, atuando principalmente nos seguintes temas: aquisição da linguagem, aquisição da fonologia, ensino de língua materna, metátese e aquisição da linguagem com desvios fonológicos. Atuou em projetos de extensão e também no PIBID. PUBLICAÇÕES: HEINIG, O. L. O. M.; FRITZEN, M. P.; ZITZKE, B. C. Nós: amarras entre pesquisa, extensão e ensino no campo da linguagem. Revista de Cultura e Extensão, v. 1, p. 31-36, 2009. ZITZKE, B. C. Um levantamento de metáteses na fala de crianças em fase de aquisição de linguagem. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 125, n.0, p. 219-227, 2001. HEINIG, O. L. O. M.; FRITZEN, M. P.; ZITZKE, B. C. A linguagem que permite diálogos entre pesquisa, extensão e ensino. In: Neide de Melo Aguiar Silva; Rita Buzzi Rausch. (Org.). Extensão Universitária: movimentos de aproximação entre sociedade e universidade. Blumenau: EDIFURB, 2010, v. 1, p. 41-53. LUEDTKE, Andresa; ATANASIO, C. L. I.; MELO, M. P. de; FRITZEN, M. P.; ZITZKE, B. C.; LUEBKE, J. Narrativas de alunos do ensino fundamental II: reflexões a partir do projeto Letras Português do PIBID. In: Jornada de Linguagem, 2013, Florianópolis. Anais da Jornada de Linguagem. Florianópolis: Editora da UDESC, 2013. MOREIRA, E. M.; BERNARDO, S.; FRITZEN, M. P.; ZITZKE, B. C. Subprojeto Letras Português: diagnóstico de narrativas do ensino fundamental II. In: Jornada de Linguagem, 2013, Florianópolis. Anais da Jornada de Linguagem. Florianópolis: Editora da UDESC, 2013. APRESENTAÇÕES DE TRABALHO: ZITZKE, B. C.. PIBID e currículo: desafios na construção de subjetividades. 2012. (Apresentação de Trabalho/Comunicação). ZITZKE, B. C. Comissão de Verificação - Conselho Estadual de Educação do Estado de Santa Catariana das Condições de funcionamento do Curso de Letras- Habilitação em Português e Alemão - UNOESC. 2000. Universidade do Oeste de Santa Catarina. Endereço para acessar o CV: <http://lattes.cnpq. br/0839118442429236>. Bethânia Coswig Zitzke Mestre em Educação pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), doutora em Linguística pela Universidade Federal de Santa Catarina. Em seu caminho pela educação, atuou desde a pré-escola até o ensino superior, o que possibilitou compreender as relações existentes em diferentes níveis e espaços educacionais. Ingressou, em 1990, como docente naFURB, no curso de Letras e, em 2004, integrou a linha Educação e Linguagem do Programa de Mestrado em Educação do qual também foi coordenadora. Atualmente é professora aposentada e voluntária no Mestrado em Educação. É membro da ANPED, ABRALIN, ISAPL e ALFAL. Suas pesquisas focam questões em torno das práticas de leitura e escrita em diferentes níveis de ensino, abarcando também questões sobre a aprendizagem do sistema escrito e da formação de professores. Entre suas publicações mais recentes em livro está “Baú de práticas: socialização de projetos de letramento” (2013). Organizou, juntamente com Cátia Fronza, os dois volumes das obras Diálogos entre linguística e educação. Além disso, publicou capítulos de livros, artigos em periódicos e vários em anais de eventos. Entre os seus projetos de pesquisa, está “Padrões e funcionamento de letramento acadêmico em cursos brasileiros e portugueses de graduação: o caso das engenharias” que resultou na produção da obra “Ler e escrever: uma proposta para as engenharias” (2013) em parceria com Bruna A. Franzen. Deste projeto também resultou a obra que aqui se apresenta. Paralelo à pesquisa, coordenou até o início de 2014 o NEL (Núcleo de Estudos Linguísticos). Atua como formadora de professores e coordena desde 2000 o GPLP (Grupo de Professores de Língua Portuguesa). Otilia Lizete de Oliveira Martins Heinig Sumário APRESENTAÇÃO ............................................................................ 7 CAPÍTULO 1 O Paradigma Construtivista e o Paradigma Fonológico ........ 9 CAPÍTULO 2 Linguagem Escrita e Consciência Fonológica na Educação ................................................................................ 47 CAPÍTULO 3 Fatores Socioculturais no Processo de Aquisição da Linguagem Escrita .................................................................. 75 CAPÍTULO 4 Dificuldades na Linguagem Escrita .........................................111 CAPÍTULO 5 A Função da Escrita na Vida do Sujeito ................................. 145 APRESENTAÇÃO O poeta Mário Quintana ganhara uma pintura de bolso, de 6cm x 4cm, e, ao agradecer ao pintor, justificando porque não havia aceito um quadro grande, afirmou: “Elias, me desculpe e acredite. Eu não tenho paredes. Só tenho horizontes...”1. Com esta frase de Quintana, gostaríamos de abrir este caderno de estudos, com o objetivo maior de que as conversas que estabeleceremos possam ampliar os seus horizontes e sua capacidade de vislumbrar outras (novas e velhas) possibilidades. Nosso caderno versa sobre o desenvolvimento da linguagem escrita, trazendo diferentes abordagens, teorias, práticas e, parafraseando o poeta, horizontes. No capítulo 1, trazemos dois paradigmas que envolvem o desenvolvimento da escrita - os paradigmas construtivista e fonológico – e buscamos apresentá- los como suportes teóricos para que você possa compreender um pouco mais dos processos que envolvem a alfabetização. O capítulo 2 apresenta um aprofundamento sobre o segundo paradigma e sobre a consciência fonológica. No capítulo 3, refletimos sobre a influência de fatores socioculturais na alfabetização e letramento, buscando elementos que transcendem os fatores puramente cognitivos ou linguísticos. No capítulo 4, trazemos, novamente, o viés linguístico e psicolinguístico, procurando analisar os processos de leitura e escrita, focalizando o sistema de escrita alfabético e a questão dos erros ortográficos. No último capítulo, abordamos a escrita no seu passado, presente e futuro, mostrando um percurso que nem sempre é linear, e pensando nela como condição para inserção social dos sujeitos. Este caderno é o resultado do trabalho de duas professoras que têm vislumbrado novos horizontes juntas, há um bom tempo. É fruto de estudos, pesquisas e conversas com muitos autores. Buscamos e apresentamos alguns posicionamentos teóricos, no entanto, acreditamos em construções, em compreensões e sempre na ampliação da nossa capacidade de compreenderos processos relacionados à escrita. Sempre é bom lembrar que uma teoria nunca se encerra em si mesma. Quintana já dizia: “Pertencer a uma escola poética é o mesmo que ser condenado 1 FONSECA, J. Ora bolas. O humor de Mário Quintana. 4. ed. Porto Alegre: L&PM, 2011, p. 17. à prisão perpétua”2. Prisões não combinam com novos horizontes! Portanto, venha conversar conosco no desenrolar destas páginas, refletir sobre sua prática e experimentar estes novos horizontes! As autoras. 2 QUINTANA, M. Caderno H. 4. ed. São Paulo: Globo, 2009, p. 52. CAPÍTULO 1 O Paradigma Construtivista e o Paradigma Fonológico Objetivos de aprendizagem relacionados ao saber fazer: 9 Conhecer as teorias construtivistas e fonológicas no que tange à aquisição da escrita. 9 Apontar os aspectos relevantes dessas teorias para o ensino e a aprendizagem da escrita. 9 Analisar artigos e materiais didáticos sobre o desenvolvimento da escrita, identificando o aporte teórico subjacente. 9 Avaliar a própria prática, buscando implementar e melhorar as ações a partir do que foi estudado na unidade. 10 Desenvolvimento da linguagem escrita 11 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 Contextualização Os números e resultados sobre a alfabetização no país têm motivado profissionais das áreas da educação, linguística e psicologia a pesquisarem soluções para os problemas que surgem no período de desenvolvimento da escrita. Os governos e secretarias de educação buscam por métodos eficientes, no entanto, nem sempre “um método de alfabetização” é a solução para os problemas existentes. Antes, é necessário que se compreenda o que significa ler e escrever. Para isso servem os paradigmas: auxiliar na compreensão destes dois processos interdependentes, mas, ao mesmo tempo, de natureza diferente. Neste capítulo, estudaremos dois dos paradigmas contemporâneos: o paradigma construtivista e o paradigma fonológico, e, a partir destes olhares, compreenderemos um pouco mais sobre a leitura e a escrita. Por uma concepção teórica, advinda da Psicolinguística, optamos pelo termo aprendizagem da escrita e não aquisição da escrita. Essa escolha se deve ao fato de que a aquisição da linguagem é um processo natural, que não depende de um ensino sistemático, enquanto a aprendizagem é um processo que depende, em algum momento, do ensino sistemático. A diferença entre a aquisição e a aprendizagem é explicada por Scliar-Cabral (2003, p. 20), “[...] a primeira, a compulsão natural que todo o bebê normal tem, desde que participante da interação linguística, para adquirir a variedade oral de uma ou mais línguas; a segunda, o processo sistemático, na maioria dos casos, para dominar o sistema escrito”. Outra diferença destacada pela autora é entre a recepção e a produção, que, apesar de processos interligados, não são idênticos. “[...] a recepção é um processo mais simples, se comparado à produção, a precede e é seu pré-requisito” (SCLIAR-CABRAL, 2003, p. 20). Panorama Teórico Por que pensamos em um panorama teórico? Para compreender os movimentos e mudanças que têm ocorrido no campo educacional, é necessário buscar os grandes motivadores dessas mudanças. Quem são e o que o pensam. Qual a força de suas teorias, de seus conceitos e por que chegam a causar mudanças nas perspectivas educacionais de um país. Nesta seção não se pretende esgotar o tema e nem caberia, mas você terá condições de compreender os paradigmas propostos e, também, pensar sobre 12 Desenvolvimento da linguagem escrita sua prática. Acreditamos que muitos dos problemas que envolvem tais paradigmas resultam justamente do fato de que métodos e teorias são impostos sem que se conheçam e estudem as bases teóricas. Então, vamos conhecer um pouco mais! O Paradigma Construtivista Pensar não se reduz, acreditamos, em falar, classificar em categorias, nem mesmo abstrair. Pensar é agir sobre o objeto e transformá-lo. Jean Piaget. O sucesso (ou fracasso?) da alfabetização no Brasil esteve, historicamente, relacionado aos métodos de alfabetização. Segundo Soares (2004), nas décadas de 50, 60 e 70 os estudos e pesquisas estavam voltados para a eficiência dos métodos propostos e empregados pelos alfabetizadores, principalmente o método sintético ou método das partes, o método analítico ou global e o método misto ou eclético. O paradigma dos métodos está baseado na perspectiva associacionista (vertente skinneriana) e, nela, o método é essencial para o processo de aprendizagem da língua escrita. Para que você possa compreender um pouco mais, estudaremos brevemente os conceitos destes três métodos de alfabetização. No Glossário Ceale (http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/ glossarioceale/), você poderá aprofundar o seu conhecimento no assunto. Método sintético ou método das partes: Os métodos sintéticos partiam do pressuposto de que o aprendizado da escrita se dava das partes para o todo. Por isso, esse método é também conhecido como método das partes. As unidades de análise escolhidas poderiam ser letras, fonemas ou sílabas. Segundo Espírito Santo (2013, p. 72): Considerar as partes para chegar ao todo advém de uma ideia bastante preconizada pelo método indutivo – a de que se deve partir do mais simples para o mais complexo, do mais concreto para o mais abstrato – só que essa gradação se baseia na lógica do adulto, pois o paradigma dos métodos, em geral, não considera a aprendizagem, toda a ação pedagógica se centra no ensino: é o paradigma do como se ensina. Assim, o processo do ser que aprende não é sequer considerado, tudo parte do ser que ensina, o qual se encontra teleguiado pelo método de ensino da escrita e da leitura. 13 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 Nessa perspectiva, ensinar a ler e escrever significa ensinar a codificar e a decodificar, sem levar em conta contextos e situações sociais diferenciadas. Método analítico ou global: Esse método se opõe ao método anterior, pois propõe que a alfabetização deva partir do todo para as partes. Assim, trabalha com unidades de sentido, devendo-se começar pela maior unidade de sentido, até se chegar a menor: texto – frase – palavra – sílaba - fonema e letra. Segundo Frade (2015, verbete), “está presente nesse movimento metodológico a defesa do trabalho com sentido, na alfabetização, enfatizando- se o reconhecimento global como estratégia inicial, para que os aprendizes realizem, posteriormente, um processo de análise de unidades menores da língua”. No entanto, o método não favorece a criação de sentidos, pois parte da memorização e reprodução dessas unidades, até se chegar ao domínio da escrita. Método misto ou eclético: este método busca um meio termo entre os dois outros métodos, tentando evitar a polarização decorrente de se trabalhar a partir das partes (método sintético) ou a partir das unidades maiores (método analítico). Apesar de representar uma nova proposta de alfabetização, ele ainda desconsiderava o contexto dos aprendizes, conforme confirma Espírito Santo (2013, p. 75): Nesse tipo de metodologia as histórias utilizadas para o ensino da escrita e da leitura não possuem ligação com o contexto de vida da criança e os textos são artificiais, pois sua estruturação serve unicamente ao ensino da leitura. Não existe estrutura linguística, trata-se de textos que se constituem como meros pretextos para ensinar a ler (decodificar) e a escrever (codificar), os famosos textos cartilhados. Os textos se centram em artificialidades que se voltam ao domínio da ortografia da língua. No entanto, na década de 80, há uma mudança de paradigma na reflexão sobre a alfabetização no Brasil, sob influência, principalmente, das ideias de Piaget. Para que se possa compreender um pouco mais este paradigma, é necessário situá-lo teoricamente. É muito comum que o termo Construtivismo seja associado aos métodos de alfabetização ou ensino. Muitos educadores afirmam que usamo método construtivista em suas aulas. Porém, o que é construtivismo? É o nome dado a uma das correntes teóricas empenhadas em explicar como a inteligência humana se desenvolve. Segundo essa corrente, o desenvolvimento 14 Desenvolvimento da linguagem escrita da inteligência e a construção do conhecimento são determinados pelas “interações entre o sujeito (aquele que conhece) e o objeto (sua fonte de conhecimento)” (BREGUNCI, 2015). As bases teóricas que sustentam a corrente estão na Epistemologia Genética (ou Teoria Psicogenética) de Jean Piaget e na Psicologia Sociohistórica de Vygotsky, Luria e Leontiev e foram desenvolvidas no início do século XX. Piaget explicou detalhadamente como o sujeito, desde o nascimento, constrói o conhecimento, através de interações com o objeto e o meio, de forma cada vez mais elaborada. Assim, o conhecimento resultaria do próprio comportamento e geraria esquemas de ação. Segundo Kato (1999), Piaget não partia do princípio de que o estado inicial para a aquisição da linguagem seria uma ‘tábula rasa’, para ele, esta aquisição também dependeria de programas que gerariam esquemas de ação orientados para o objeto a ser aprendido, no caso, a linguagem. Os estudos de Piaget, no entanto, não envolveram a leitura e a escrita especificamente e também não se constituíram em um “método educacional”. Figura 1 – Correntes teóricas sobre a aquisição da escrita Fonte: As autoras. Então, como chegamos ao paradigma construtivista e qual sua relação com a leitura e a escrita? Na década de 70, uma das alunas de Piaget, Emília Ferreiro, com Ana Teberosky e outros colaboradores, observaram como a criança constrói seu conhecimento sobre leitura e escrita, seguindo a base teórica da Teoria Psicogenética e buscando fundamentos também na Psicolinguística. Sendo assim, no princípio da década de 80, os estudos de Ferreiro e colaboradores começam a ser divulgados por pesquisadores brasileiros, como Esther Pillar Grossi (fundadora do Grupo de Estudos Sobre Educação, Metodologia de Pesquisa e Ação - GEEMPA), Telma Weisz (foi supervisora pedagógica na elaboração e implementação do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores – PROFA), Lúcia Rego, entre outros. Estes tiveram forte influência nos estudos sobre Educação Infantil e nos primeiros anos do Ensino Fundamental, voltados para a alfabetização, assim como nas políticas estaduais e nacionais que regulamentavam estes níveis escolares. O desenvolvimento da inteligência e a construção do conhecimento são determinados pelas “interações entre o sujeito (aquele que conhece) e o objeto (sua fonte de conhecimento)” https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Grupo_de_Estudos_Sobre_Educa%C3%A7%C3%A3o,_Metodologia_de_Pesquisa_e_A%C3%A7%C3%A3o&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Grupo_de_Estudos_Sobre_Educa%C3%A7%C3%A3o,_Metodologia_de_Pesquisa_e_A%C3%A7%C3%A3o&action=edit&redlink=1 https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=GEEMPA&action=edit&redlink=1 15 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 Soares (2004) considerou tardia a entrada dessas reflexões no Brasil, mas causadoras de mudanças radicais. Se, na concepção associacionista, o método era determinante na aprendizagem, pois a criança aprenderia a ler através da exercitação de habilidades hierarquicamente ordenadas, na concepção psicogenética seria o contrário, pois esta: [...] considera ser o aprendiz o centro do processo, já que o vê como sujeito ativo que define seus próprios problemas e constrói, ele mesmo, hipóteses estratégicas para resolvê-los. Nessa segunda perspectiva, o método de ensino, em sua concepção tradicional, pode mesmo ser prejudicial, na medida em que bloqueie ou dificulte os processos de aprendizagem da criança (SOARES, 2004, p. 89). Então, fica claro que Ferreiro e seus colaboradores não propuseram um método de ensino, e sim uma teoria para que se pudesse compreender o processamento da leitura e da escrita. A teoria recebeu o nome de Psicogênese da Língua Escrita. Para compreender melhor, observe o conceito proposto por Bregunci (2015): O termo psicogênese pode ser compreendido como origem, gênese ou história da aquisição de conhecimentos e funções psicológicas de cada pessoa, processo que ocorre ao longo de todo o desenvolvimento, desde os anos iniciais da infância, e aplica-se a qualquer objeto ou campo de conhecimento. Agora que já nos situamos teórica e historicamente, aprofundaremos nosso conhecimento sobre o desenvolvimento da leitura e da escrita por meio do enfoque psicogenético. Na concepção construtivista, suporte teórico da psicogênese, a criança é o centro da aprendizagem – é o sujeito e o agente, pois elabora o conhecimento por meio de aproximações e hipóteses, relacionadas às fases do desenvolvimento. A língua escrita é entendida como um sistema de representação da linguagem e não como um código, no qual os elementos são previamente dados. As crianças, ao aprender a ler e a escrever, lidam com este sistema de representação, ou seja, precisam compreender como o sistema funciona, quais são os seus princípios e, posteriormente, quais são as regras de funcionamento. Segundo Ferreiro (1985), se a escrita é entendida como um código, sua aprendizagem é concebida como uma aquisição técnica, se é entendida como um sistema de representação, torna-se um novo objeto de conhecimento. Para que você possa compreender melhor a questão da língua como um sistema de representação, pesquise no artigo de Ferreiro 16 Desenvolvimento da linguagem escrita (1985) - on-line - <http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/cp/ arquivos/679.pdf>. A compreensão deste sistema de representação acontece por meio de um processo de construção, formulação de hipóteses e reformulações. Conforme Bregunci (2015, verbete) “a apropriação da escrita se apoia em hipóteses do aprendiz, baseadas em conhecimentos prévios, assimilações e generalizações, dependendo de suas interações sociais e dos usos e funções da escrita e da leitura em seu contexto cultural”. Para compreendermos como Ferreiro (1985) analisou e estudou as produções infantis, devemos partir do princípio de que as crianças, ao contrário do que previam os manuais de alfabetização, não precisam de permissão para aprender a ler e escrever, assim como não necessitam de um método especifico. “Mas se pensarmos que as crianças são seres que ignoram que devem pedir permissão para começar a aprender, talvez comecemos a aceitar que podem saber, embora não tenha sido dada a elas a autorização institucional para tanto” (FERREIRO, 1985, p. 9, grifo nosso). Isso quer dizer que, quando uma criança chega na escola, ela já está em contato com a leitura e a escrita, e, portanto, já vem desenvolvendo algumas hipóteses do que significa ler e escrever, mesmo antes de ser colocada formalmente numa sala de aula para que seja alfabetizada. Essa experiência prévia pode ocorrer tanto nos meios escolares como nos outros meios de circulação do aluno. Antes de estudarmos as fases evolutivas propostas por Ferreiro, assista a este pequeno vídeo, com a autora, sobre a escrita das crianças. No vídeo, há uma entrevista conduzida pela professora Telma Weiss, na qual Ferreiro reflete sobre a importância de se deixar a criança escrever como deseja e de se compreender o desenvolvimento da escrita como um processo. No link há outros vídeos que poderão contribuir para a sua aprendizagem. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=V2myaSubdbo>. Os estudos da psicogênese mostraram que a escrita infantil apresenta uma linha de evolução, com várias regularidades surpreendentes, independentes da língua, dos meios culturais e de situações educativa. Ferreiro (1985, p. 10) aponta para três grandes períodos que compreendem algumas subdivisões. 17 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 1. Distinção entre o modo de representação icônico e não icônico Esteprimeiro período exige um grande esforço intelectual da criança, pois ela precisa separar representações figurativas (icônicas) e não figurativas (não icônicas) e, também, compreender a escrita como um objeto substituto. Assim, é feita a primeira diferenciação entre desenhar e escrever. Na primeira, as formas dos grafismos são importantes e estão relacionadas às formas do objeto que se deseja representar (representação icônica). Na tentativa de escrita, por sua vez, as formas dos grafismos não estão relacionadas às formas dos objetos representados (representações não icônicas). São usadas de forma arbitrária e linear, o que representa a primeira tentativa de escrita pré-escolar. Diferenciar a atividade de desenhar da atividade de escrever é importante porque a escrita, para as crianças pequenas, recupera o que se pode desenhar: o nome do objeto desenhado (‘hipótese do nome’). Esta ideia também lhes serve para interpretar os textos que aparecem acompanhados de imagens. A escrita por si mesma não é suficiente para garantir o significado e por isso as crianças costumam desenhar antes de escrever. A imagem, por outro lado, é a que permite interpretar a escrita (pelo menos como uma tentativa) (FERREIRO, 2003 apud BAPTISTA; MONTEIRO, 2009, p. 49). Outra característica que marca este período é a compreensão da escrita como um objeto que substitui algo, que representa alguma coisa externa à própria escrita, porém, os aprendizes ainda não sabem da relação entre a escrita e a linguagem, e, principalmente, da relação com os sons da fala. Pensando dessa forma, pode-se afirmar que as crianças diferenciam os desenhos da escrita e sabem que a escrita não reproduz, mas substitui algo. Figura 2 - Exemplo de diferenciação entre escrita e desenho Fonte: Ferreiro (1985, p. 10). 2. Construção de formas de diferenciação (controle progressivo sobre os eixos qualitativo e quantitativo) 18 Desenvolvimento da linguagem escrita Como a criança já definiu o que é escrita e o que é desenho, nesta fase, ela passa a refletir sobre as características formais da escrita, o que exige um grande esforço intelectual. Ferreiro (1985) descreveu dois critérios de diferenciação estabelecidos pelas crianças, o intra-figura e o inter-figura. Primeiramente as crianças estabelecem quais são os critérios para que um texto possa ser interpretável – critérios intra-figura. Para que uma palavra possa ser lida, isto é, interpretável, precisa ter no mínimo três letras (eixo quantitativo) e estas letras precisam ser variadas (eixo qualitativo). Com base nesses critérios, palavras como “nó” e “osso” não são interpretáveis. Figura 3 - Exemplo de escrita seguindo o critério intra-figura Fonte: Ferreiro (1985, p. 11). No exemplo apresentado por Ferreiro (1985), a criança usou os critérios de quantidade e qualidade, mas não fez diferenciação entre palavras. O segundo passo é a busca de diferenciação entre as palavras escritas – inter-figura. Ainda permanecem os critérios da intra-figura, mas há um esforço para diferenciar as palavras entre si. Para diferenciar as palavras, é feito um esforço sistemático, que pode estar baseado no eixo quantitativo – a criança usa os mesmos elementos, mas varia as quantidades, ou no eixo qualitativo, são feitas diversas combinações e ordens diferentes, sem necessariamente variar as quantidades. Vamos exemplificar um pouco para que você possa compreender melhor este segundo passo. No decorrer do processo de reflexão sobre a linguagem, a criança vai estabelecendo alguns critérios de 19 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 interpretação e escrita. Para escrever palavras diferentes procura usar as letras e elementos gráficos que conhece, porém variando sua ordem e quantidades. Muitas usam as letras do seu próprio nome para escrever tudo o que for solicitado. Por exemplo, se a criança se chama Maria e foi solicitado a ela que escreva: caneta e borracha, podem ser realizadas as seguintes produções respectivamente: RMIAA e MIARA – nesse caso, utilizou a mesma quantidade de letras para produzir as duas palavras, mas modificou a ordem e combinações. O outro processo envolve as mesmas letras, no entanto, variando a quantidade. Para exemplificar, utilizando as mesmas palavras do exemplo anterior, a criança poderia escrever: MAA e MRAI respectivamente. Figura 4 - Exemplo de escrita seguindo o critério inter-figura Fonte: Ferreiro (1985, p. 12). No exemplo acima, em que a criança utilizou os critérios inter-figura, observa- se que houve uma variação na ordem das letras para escrever palavras diferentes. Nas etapas apresentadas, as crianças não tentam criar letras ou outros sinais, a própria autora destaca que estes aspectos são adquiridos mediante o convívio com materiais de leitura e escrita, seja este na escola, seja em casa. A partir dessas interações, a criança aprende as convenções relacionadas à leitura 20 Desenvolvimento da linguagem escrita e à escrita, como direção, quais são as letras e quais são os números, quais os sinais de pontuação. Quando estudamos a Psicogênese da Alfabetização, é muito comum que se apresentem as hipóteses elaboradas durante o processo. Uma das hipóteses ou estágios é a chamada pré-silábica, que faz parte dos dois períodos descritos acima. Pré-silábico – a criança ainda não compreende a escrita como uma representação dos sons da fala, por isso, utiliza-se de desenhos, rabiscos e grafismos. As representações estão relacionadas às imagens dos objetos e não ao nome. Este processo é chamado de realismo nominal. Figura 5 – Escrita pré-silábica Fonte: Disponível em: <http://slideplayer.com.br/ slide/3227764/>. Acesso em: 20 maio. 2016 Um avanço que ocorre nesta fase é a percepção de que para escrever se usa o nome das coisas, no entanto, o realismo nominal ainda se faz presente, pois as crianças normalmente usam muitas letras para representar coisas grandes e poucas para representar coisas pequenas. Exemplo: Para escrever o nome de uma professora alta, a criança pode usar muitas letras, se a professora for menor, seu nome consequentemente será escrito com menos letras. Para este estágio, Ferreiro e Teberosky (1986) estabeleceram dois princípios importantes: • Princípio da quantidade mínima, ou seja, uma palavra deve ter uma quantidade mínima de letras, em geral três. A criança ainda não compreende a escrita como uma representação dos sons da fala. 21 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 • Princípio das variações qualitativas: uma palavra deve ser representada por letras diferentes. Quando o aprendiz supera esta etapa, passa para o estágio silábico. 3. A fonetização da escrita (que se inicia com um período silábico e culmina no período alfabético) Neste terceiro grande período ocorre uma mudança, considerada fundamental para que a criança possa avançar no seu processo em direção à leitura e à escrita. É a percepção do aspecto sonoro, de que as letras estão relacionadas às emissões orais que podem ser percebidas nas palavras. Num primeiro momento, há a percepção das sílabas (hipótese silábica) e, posteriormente, das letras em si (hipóteses silábico-alfabética e alfabética). • Silábico – neste estágio, há uma mudança conceitual, e a escrita, além de simbólica, passa a ser associada aos sons da fala. O aprendiz acredita que as sílabas são os segmentos que precisam ser representados e, para isso, usa apenas uma grafia para representar cada sílaba. Esta representação pode ter um caráter quantitativo, ou seja, usa letras aleatórias para representar as sílabas, não havendo uma correspondência sonora. Pode ter um caráter qualitativo, sendo escolhidas letras que representam algum som da referida sílaba, ocorrendo, então, uma correspondência sonora. Figura 6 - Escrita silábica sem valor sonoro Figura 7 - Escrita silábica com valor sonoro Fonte: Disponível em: <http:// danielajanssen.com.br/?p=201>.Acesso em: 20 maio. 2016. Fonte: Disponível em: <http://danielajanssen. com.br/?p=201>. Acesso em: 20 maio. 2016. Segundo Ferreiro (1985, p. 12), a fase silábica evolui até chegar a uma exigência rigorosa “uma sílaba por letra, sem omitir sílabas e sem repetir letras”. No entanto, todo o rigor e estabilidade alcançados nesta etapa acabam criando Há uma mudança conceitual, e a escrita, além de simbólica, passa a ser associada aos sons da fala. 22 Desenvolvimento da linguagem escrita contradições. Nas palavras monossílabas, por exemplo, que seriam representadas por apenas uma letra, as crianças não aceitariam como passíveis de leitura, por um princípio quantitativo. Outro conflito surge no confronto com as palavras escritas pelos adultos, sempre com um maior número de letras do que a compreensão silábica desenvolvida pela criança. Este processo foi nomeado por Ferreiro como conflito cognitivo. Quando o aprendiz é questionado por um adulto – geralmente um educador ou pesquisador – quanto a um conceito ou fase de escrita, ocorre um desequilíbrio cognitivo. O objetivo deste procedimento é levar o aluno a avançar no seu processo de construção da escrita. • Silábico-alfabética – é uma fase de transição, e se observa a coexistência da representação de sílabas e grafemas. Segundo Perfeito (1999, p. 35) “o sujeito precisa negar a lógica da hipótese silábica, tentando superá-la, por parecer-lhe precária, escrevendo, por isso, às vezes no nível silábico, outras no sistema alfabético”. Para que você possa compreender melhor, leia o conceito de grafema, proposto por Scliar-Cabral (2003, p. 27): “[...] deve-se entender grafema como uma ou mais letras que representam um fonema (no sistema alfabético do português do Brasil, não mais que duas letras)”. Ou seja, em palavras como exceto temos 6 letras e 5 grafemas para representar /e’sεto/. Neste exemplo, o grafema “xc” é um dígrafo. Quando a criança descobre que a sílaba pode ser dividida em elementos menores, que devem ser igualmente representados, ingressa na última etapa, em direção à escrita convencional. Figura 8 – Escrita silábico-alfabética Fonte: Disponível em: <http://danielajanssen.com.br/?p=201>. Acesso em: 22 maio 2016. A coexistência da representação de sílabas e grafemas. 23 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 Ferreiro (1985, p 13-14) aponta dois problemas que ocorrem nesta fase: [...] pelo lado quantitativo, que se por um lado não bastam uma letra por sílaba, também não se pode estabelecer nenhuma regularidade duplicando a quantidade de letras por sílaba, (já que há sílabas que se escrevem com uma, duas ou mais letras); pelo lado qualitativo, enfrentará os problemas ortográficos (a identidade de som não garante a identidade de letras, nem a identidade de letras a de sons). Esta nova percepção, cujo resultado final será a escrita alfabética, também é geradora de dúvidas e conflitos, pois a criança, ao perceber que há elementos menores, compondo as sílabas, passa a buscar uma nova forma de representação, que exige uma nova construção e compreensão do que significam estas novas unidades (fonemas) e como representá-las. • Alfabético: neste estágio as letras passam a ser concebidas como representações dos sons, o aluno conhece as vogais e as consoantes, mas acredita que a escrita seja uma representação real da fala. Dessa forma, escreve foneticamente e não de forma ortográfica. É importante salientar que, nesta fase, a criança ainda não está alfabetizada. Para isso, será necessário que se organize, gradualmente, para apreender também as convenções da língua. Figura 9 - Escrita alfabética Fonte: Acervo das autoras. Para aprofundar seus conhecimentos sobre o que foi apresentado, realize a dinâmica proposta neste link: <http:// revistaescola.abril.com.br/avulsas/teste-hipoteses-de-escrita-dos- alunos.shtml>. 24 Desenvolvimento da linguagem escrita Como se pode observar, a teoria proposta mostra como a criança se apropria de conceitos e habilidades para desenvolver a leitura e a escrita. O caminho percorrido nas fases/ níveis é semelhante ao da humanidade no desenvolvimento do sistema escrito. Para compreender melhor como ocorre esta semelhança, leia o texto adaptado de Kato (1999). SEMELHANÇAS ENTRE A HISTÓRIA DA ESCRITA E AS ETAPAS/ NÍVEIS DE DESENVOLVIMENTO DA ESCRITA Segundo Kato, a escrita levou milênios para chegar a forma alfabética. A partir dos estudos de Gelb (A study of writing) a autora aponta etapas evolutivas, baseadas na natureza dos sistemas de escrita. • Inexistência da escrita • Precursores da escrita: o sistema pictográfico o recursos de identificação mnemônica • Escrita plena: fase fonográfica o lexical-silábica o silábica o alfabética (KATO, 1999, p. 13). Figura 10 - O Painel com filas de figuras humanas em deslocamento Parque Nacional da Serra da Capivara, Piauí, Brasil Fonte: Disponível em: <http://www.semeiosis.com.br/tecidos- graficos-da-cultura>. Acesso em: 22 maio 2016. 25 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 No sistema pictográfico, o homem se expressava através de desenhos, que tinham duas funções: uma forma de arte ou um sistema pictográfico de comunicação (desenhos utilizados para comunicar um acontecimento ou um fato). Os desenhos eram formas de representação do que o homem via, não do que o homem falava. Além destes, foram usados recursos para contar e marcar o tempo – recursos de identificação mnemônica, ou seja, símbolos para marcar a passagem do tempo, das estações, etc. Com o decorrer do tempo, os pictogramas começam a ser estilizados, o traçado simplificado e gradativamente convencionado. Assim, surgem os ideogramas, conforme se pode observar na escrita cuneiforme dos sumérios (escrita em forma de cunha, geralmente feita na argila molhada). O exemplo abaixo mostra a evolução de um pictograma para um ideograma. Figura 11 – Da Escrita Pictográfica à Cuneiforme Fonte: Disponível em: <ttp://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/ start.htm?infoid=911&sid=7>. Acesso em: 15 maio. 2016. É importante destacar que os ideogramas estavam associados a palavras e, portanto, tinham também uma representação fonética. Alguns ideogramas passaram por um processo de mudança de representação, um exemplo é o ideograma que representava “sol”, que passou a representar a palavra “brilhar”. A aproximação com o sistema fonético ocorreu quando os ideogramas passaram a ser usados com valor de sílaba, deixando o aspecto conceitual e de significado, sendo empregados a partir do seu valor sonoro. Mas isso não aconteceu de forma rápida e nem para todos os sistemas de escrita, segundo Kato (1999, p. 15): 26 Desenvolvimento da linguagem escrita Foram os fenícios, com seu espírito prático de comerciantes, que se apossaram da complicada escrita lexical-silábica dos egípcios, derivada dos hieróglifos, e dela extraíram 24 símbolos, os mais simples, para formar o silabário. Esse silabário era constituído ape- nas de consoantes, sendo que esporadicamente as semiconsoantes correspondentes aos fonemas /w/ e /y/ serviam para representar as vogais /u/ e /i/. Um mesmo símbolo podia ser lido, por exem plo, como /ma, me, mi, mo/ ou /m/. E como se chegou ao alfabeto? Os gregos tomaram o sistema fenício como base para a sua escrita, no entanto, passaram a usar a vogal depois das consoantes como uma regra. Chegava-se, assim, a escrita alfabética. Isso ocorreu aproximadamente no século X a. C. e, desde então, nenhuma inovação significativa ocorreu na história da escrita. Kato afirma que, embora existam diferenças formais externas entre os alfabetos, todos usam os mesmos princípios estabelecidos pela escrita grega. Pode-se considerar que não houve uma invenção da escrita alfabética, e sim uma “descoberta”, pois “quando o homem começou a usar um símbolo para cada som, ele apenas operou conscientemente com o seu conhecimento da organizaçãofonológica da sua língua” (KATO, 1999, p. 16). Fonte: As autoras. Agora que você leu este pequeno texto, vamos pensar um pouco sobre ele e também sobre o que estudamos até aqui. Não se preocupe em aprofundar neste momento, pois os conceitos serão retomados nas próximas unidades! Atividade de Estudos: 1) Você consegue levantar algumas semelhanças entre a história da escrita e as etapas/níveis propostas por Ferreiro (1985) e apresentadas no decorrer deste capítulo? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 27 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 Pensando um pouco sobre as implicações da teoria, Bregunci (2015) traz alguns pontos que são relevantes para a nossa compreensão: 1. Os progressos dos alunos são diferentes e dependem de fatores externos à escola. 2. A complexidade e o dinamismo dos processos são incompatíveis com avaliações e procedimentos direcionados para classes ditas homogêneas. 3. As hipóteses são chamadas de erros construtivos e servem para orientar o trabalho e a intervenção do professor. Ferreiro (1985) alerta para a necessidade de se aprender a ler e a interpretar as produções espontâneas das crianças, pois, dessa forma, torna-se possível compreender os processos de construção envolvidos no desenvolvimento do sistema alfabético. Quando uma criança escreve tal como acredita que poderia ou deveria escrever certo conjunto de palavras, está nos oferecendo um valiosíssimo documento que necessita ser interpretado para poder se avaliado. Essas escritas infantis têm sido consideradas, displicentemente, como garatujas, “puro jogo”, o resultado de fazer “como se” soubesse escrever. Aprender a lê-las – isto é, a interpretá-las – é um longo aprendizado que requer uma atitude teórica definida (FERREIRO, 1995, p. 9). Fica evidente que o professor precisa ter uma atitude muito diferenciada quando opta por desenvolver o seu trabalho com base na teoria apresentada. Novamente se reafirma que esta teoria oferece uma possibilidade de compreensão das produções infantis e também do processo de desenvolvimento da escrita. As interpretações e conhecimentos resultantes dessas compreensões com certeza geram mudanças didáticas e metodológicas profundas, assim como uma mudança de postura profissional. Nosso próximo tema apresentará outra postura teórica, que também nos auxiliará a refletir sobre o processo de alfabetização e sobre sua prática. Atividade de Estudos: 1) Antes de seguir para a próxima seção, procure refletir sobre a sua prática, o seu trabalho diário, identificando as concepções e teorias que norteiam o seu fazer profissional. Como você tem compreendido o processo de alfabetização? Sua concepção até o momento está relacionada ao que estudamos? Liste três atividades que costuma realizar com os alunos e tente relacioná- las aos conceitos que propusemos. 28 Desenvolvimento da linguagem escrita __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Para aprofundar seu conhecimento, sugerimos a leitura das páginas 54 a 57 do livro “A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o ensino fundamental de nove anos: orientações para o trabalho com a linguagem escrita em turmas de crianças de seis anos de idade”, disponível no site: <http://portal.mec.gov.br/secretaria-de-educacao- basica/destaques?id=12624:ensino-fundamental>. O Glossário Ceale – Termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores - pode auxiliá-lo(a) quanto aos conceitos, definições e termos técnicos. <http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/ glossarioceale/>. Paradigma Fonológico Mais um paradigma!? Nós finalizamos a seção anterior refletido sobre o paradigma construtivista, principalmente no que diz respeito à sua contextualização histórica e aos pressupostos relacionados ao desenvolvimento da língua escrita. Como já foi colocado, na década de 80, quando as ideias de Ferreiro e colaboradores passaram a ser divulgadas no país, dados os problemas nos índices de alfabetização, houve uma tentativa de modificação das políticas públicas, de mudança de métodos, principalmente voltados para a alfabetização. Naquela época, os métodos de alfabetização global, silábico, fônico, entre outros, passaram a ser duramente criticados, e, em função de uma nova perspectiva, foram entendidos como prejudiciais aos processos de aprendizagem da criança. O eixo da discussão passou do “como se ensina” para o “como se aprende”. 29 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 Para relembrar, veremos brevemente as definições dos métodos de alfabetização supracitados. Método global: Faz parte do conjunto de métodos analíticos e, portanto, segundo tal método, a criança percebe a língua como um todo. Assim, a alfabetização parte do todo (textos, poemas, parlendas, histórias) para as partes (palavras, sílabas e sons). Frade (2015, verbete método global) enumera algumas características do método global, que são importantes para sua compreensão. 1) a linguagem funciona como um todo e as partes somente têm sentido em função de uma unidade; 2) existe um princípio de sincretismo no pensamento infantil: primeiro percebe-se o todo e depois as partes; 3) os métodos de alfabetização devem priorizar a compreensão; 4) no ato da leitura, o leitor utiliza estratégias globais de reconhecimento; 5) o aprendizado da escrita não pode ser feito por fragmentos de palavras, mas por seu significado; 6) a escola tem que acompanhar os interesses, a linguagem e o universo infantil e, portanto, as palavras percebidas globalmente também devem ser familiares e ter sentido para a criança. Método silábico: É um dos métodos sintéticos que emprega a sílaba como unidade de aprendizagem da escrita. Parte do princípio de que as consoantes são percebidas nas sílabas, de forma natural e, por isso, as sílabas são apresentadas inteiras, sem que se reflita sobre a articulação entre as vogais e as consoantes. Nesta opção, é importante que as crianças consigam discriminar as sílabas no fluxo de fala e, posteriormente, registrá-las por meio da escrita. Como há uma ordem de trabalho, que prioriza as sílabas mais simples e introduz sequencialmente as mais complexas, este método se desenvolve utilizando textos artificiais, que contemplem as sílabas em questão. Método fônico: Também faz parte dos métodos sintéticos, neste a alfabetização se baseia na relação entre os grafemas e letras, sendo compreendida como um processo que envolve codificação e decodificação. São introduzidas primeiramente as vogais e depois as consoantes, e há uma sequenciação de sílabas mais simples para as mais complexas. Neste método são utilizados textos artificiais, que contemplem as letras e as sílabas que estão sendo estudadas pelas crianças. Fonte: As autoras. 30 Desenvolvimento da linguagem escrita Algumas concepções do processo de aquisição da língua escrita mudaram profundamente com a introdução da teoria psicogenética. As mais relevantes foram destacadas por Soares (2004): a criança passou de aprendiz, dependente de estímulos externos para chegar a escrita, para sujeito ativo, capaz de construir esse conhecimento por meio de sua interação com esse objeto de conhecimento. Os chamados pré-requisitos para a aprendizagem da escrita (“prontidão”/ “maturidade”) foram substituídos por uma visão que nega uma ordem hierárquica de habilidades e enfatiza que “[...] a aprendizagem se dá por uma progressiva construção de estruturas cognitivas, na relação da criança com o objeto ‘língua escrita’ ” (SOARES, 2004, p. 89). Nessamesma perspectiva, o que era considerado “deficiência” ou “disfunção” passa a ser compreendido como “erro construtivo”, parte das reestruturações no processo de construção da língua escrita. Nesse cenário, a psicogênese da língua escrita apontava para uma nova forma de compreender os processos de leitura e escrita, completamente diferente do paradigma associacionista (ou paradigma dos métodos) que a precedeu. Consequentemente, foi aceita como uma forma de reverter os índices negativos de alfabetização, repetência e desistência dos anos iniciais. O paradigma anterior tinha como foco os métodos de alfabetização, o atual, buscava os processos de aprendizagem e se apresentava como uma alternativa teórica. Para obter melhores resultados no campo da alfabetização, foram propostas mudanças em São Paulo (PROFA – Programa de Formação de Professores Alfabetizadores), no Rio Grande do Sul (GEMPA - Grupo de Estudos sobre Educação, Metodologia da Pesquisa e Ação), e a teoria foi utilizada na elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997), adotados pelos mais importantes sistemas públicos de ensino, entre outros. Atividade de Estudos: Antes de continuarmos esta discussão, faça a leitura desta crônica – O Currículo dos Urubus, escrita por Rubem Alves, e que faz parte do livro Estórias de quem gosta de ensinar. O Currículo dos Urubus O rei Leão, nobre cavalheiro, resolveu certa vez que nenhum dos seus súditos haveria de morrer na ignorância. Que bem maior que a educação poderia existir? Convocou o urubu, impecavelmente trajado em sua beca doutoral, companheiro de preferências e de churrascos, para assumir a responsabilidade de organizar e redigir 31 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 a cruzada do saber. Que os bichos precisavam de educação, não havia dúvidas. O problema primeiro era o que ensinar. Questão do currículo: estabelecer as coisas sobre as quais os mestres iriam falar e os discípulos iriam aprender. Parece que havia acordo entre os participantes do grupo de traba lho, todos urubus, claro: os pensamentos dos urubus eram os mais verdadeiros; o andar dos urubus era o mais elegante; as preferências de nariz e de língua dos urubus eram as mais adequadas para uma saúde perfeita; a cor dos urubus era a mais tranquilizante; o canto dos urubus era o mais bonito. Em suma: o que é bom para os urubus é bom para o resto dos bichos. E assim se organizaram os currículos, com todo o rigor e precisão que as últimas conquistas da didática e da psicologia da aprendizagem podiam merecer. Elaboraram-se sistemas sofisticados de avaliação para teste de aprendiza gem. Os futuros mestres foram informados da importância do diálogo para que o ensino fosse mais eficaz e chegavam mesmo, vez por outra, a citar Martin Buber. Isso tudo sem falar na parafernália tecnológica que se importou do exte- rior, máquinas sofisticadas que podiam repetir as aulas à vontade para os mais burrinhos, e fascinantes circuitos de televisão. Ah! Que beleza! Tudo aquilo dava uma deliciosa impressão de progresso e eficiência e os repórteres não se cansavam de fotografar as luzinhas piscantes das máquinas que haveriam de produzir saber, como urna linha de monta gem produz um automóvel. Questão de organização, questão de técnica. Não poderia haver falhas. Começaram as aulas, de clareza meridiana. Todo mundo entendia. Só que o corpo rejeitava. Depois de uma aula sobre o cheiro e o gosto bom da carniça, podiam-se ver grupinhos de pássaros que discretamente (para não ofender os mestres) vomitavam atrás das árvores. Por mais que fizessem ordem unida para aprender o gingado do urubu, bastava que se pilhassem fora da escola para que voltassem todos os velhos e detestáveis hábitos de andar. E o pavão e as araras não paravam de cochichar, caçoando da cor dos urubus: “Preto é a cor mais bonita? Uma ova...’ E assim as coisas se desenrolaram, de fracasso em fracasso, a despeito dos métodos cada vez mais científicos e das estatísticas que subiam. E todos comentavam, sem enten der: “A educação vai muito mal...” 1) É possível estabelecer relações entre a crônica “O Currículo dos Urubus” e a discussão que temos feito sobre os métodos/ paradigmas da alfabetização? Quais? Você já se sentiu assim na sua prática profissional? 32 Desenvolvimento da linguagem escrita __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ No entanto, apesar das grandes contribuições do construtivismo, principalmente o rompimento com métodos tradicionais, alguns problemas começaram a ser evidenciados, tanto por pesquisadores nas áreas da pedagogia, linguística e psicologia, como por avaliações, nacionais e internacionais (como o Saeb - Sistema de Avaliação da Educação Básica, o ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio e Pisa - Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). A partir dos resultados das avaliações, bem como do acompanhamento dos professores alfabetizadores, começou-se a repensar as questões de alfabetização. E, como um resultado natural, são propostas novas teorias e revistas as metodologias empregadas até então. Os artigos de Mendonça e Mendonça (2011), Morais (2006) e Soares (2004), que estão nas referências bibliográficas deste caderno, trazem uma análise sobre os resultados dos testes de alfabetização. Se você desejar se aprofundar nesta área, procure lê-los. Nesse contexto, surge a proposta de um paradigma fonológico, não como uma solução milagrosa, mas como uma nova perspectiva teórica de compreensão dos fenômenos que envolvem a escrita e a leitura. Com isso, não se pretende afirmar que o paradigma construtivista não era bom ou que não servia para a nossa realidade educacional e, por isso, deveria ser substituído. Vamos apenas mostrar alguns problemas que ocorreram quando se optou por adotar esta teoria como embasamento de diversas políticas públicas. Uma das primeiras falhas evidenciada foi a tentativa de didatizar a teoria da psicogênese da língua escrita, ou seja, transformar uma teoria de compreensão da escrita e leitura em uma metodologia de alfabetização – ou, como se escuta até hoje, no método construtivista. O processo ainda não foi bem-sucedido, pois, tanto a psicogênese como o construtivismo, são teorias que elucidam a aquisição do conhecimento pelas crianças, e devem ser entendidas como um recurso de compreensão aprofundada do desenvolvimento da escrita, cujas reflexões poderiam gerar mudanças de postura nos professores, na forma de analisar as produções infantis e reorientar sua prática. 33 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 Os pesquisadores (MORAIS, 2006) têm constatado que, em muitos contextos, os alfabetizadores compreendem a psicogênese, identificam as hipóteses de construção da escrita, mas não sabem como conduzir o processo, como auxiliar um aluno que está no nível pré-sílabico ou mesmo silábico a avançar. A concepção do erro construtivo e o pressuposto de que o professor não deve corrigir o aluno levaram a uma série de equívocos, pois, ao invés de realizarem a análise das produções e dos “erros” dos alunos, questionando-os e levando-os a reconstruir suas hipóteses, muitos alfabetizadores acreditaram que a exposição às formas ortográficas de escrita bastaria para que os alunos conseguissem avançar e desenvolver o sistema de escrita. Como a psicogênese aborda o desenvolvimento individual do sujeito, houve mudanças no sistema de avaliação e progressão escolar. Se um aluno não conseguisse alcançar a escrita alfabética no primeiro ciclo, passaria para o segundo, e terceiro consecutivamente, sendo respeitadas as individualidades e tempo de aprendizagem. No entanto, apesar do bom embasamento da proposta, o que se constatou é que há alunos nos quartos, quintose sextos anos que não dominam o sistema alfabético e outros são considerados semianalfabetos (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011). Por isso, é necessário que se compreenda que o papel do professor mediador, fundamental para que os alunos possam superar as diferentes hipóteses de escrita, não foi bem compreendido. Em vários contextos, os professores assumiram um papel de espectador, esperando que os alunos superassem sozinhos suas dúvidas e dificuldades. Os autores Mendonça e Mendonça (2011) e Morais (2006) questionam também a forma como a teoria foi imposta aos alfabetizadores e as formações rápidas e insuficientes para a atuação na perspectiva psicogenética. Trata-se de uma teoria complexa e que demanda dos profissionais compreensões linguísticas e psicológicas aprofundadas. Soares (2004, p. 96) afirma que o paradigma construtivista, apesar de ter sido amplamente divulgado e aceito, se tornou hegemônico, sendo desconsiderada a possibilidade de complementação por paradigmas linguísticos. Como os resultados obtidos nos sistemas de avaliação não foram positivos, levantou- se esta possibilidade, pois “[...] a alfabetização não é somente um processo de conceitualização da escrita, que a psicogênese descreve e explica, mas é também, e simultaneamente, um processo de apropriação de um objeto linguístico – a língua escrita, objeto e processo que as ciências linguísticas descrevem e explicam”. 34 Desenvolvimento da linguagem escrita Quando uma teoria ou um paradoxo se tornam hegemônicos, isso significa que são adotados como verdades únicas, e, dessa forma, não há espaço para outros paradigmas e teorias, que poderiam ser complementares. Antes de mostrarmos em que momento entra o paradigma fonológico e explicarmos um pouco mais sobre o que se propõe por meio dele, é necessário atentarmos brevemente para o paradigma do letramento. Letramento – estado ou condição de quem não apenas sabe ler e escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita (SOARES, 2001, p. 47). No final dos anos 80 e início dos anos 90, surge o paradigma do letramento (para alguns autores seria o paradigma sociocultural). Soares (2004) alerta para o fato de que, no Brasil, o letramento começa a ser discutido pelas concepções de alfabetização propostas pela psicogênese. Na teoria, o aprendiz construiria a escrita através do contato com textos que circulam nas práticas sociais. Com a entrada das concepções de letramento, começa a haver uma confusão entre alfabetização e letramento, que acaba sendo prejudicial para o desenvolvimento da escrita. Quando se parte do princípio de que uma criança construirá sua escrita com base no contato constante com textos relacionados às práticas sociais, na verdade, estão sendo empregadas estratégias de letramento, não de alfabetização. Apesar de serem interdependentes, a alfabetização e o letramento têm naturezas diferenciadas e, segundo Soares (2003, 2004) e Morais (2006), precisam estar juntos no processo de desenvolvimento da escrita. Para os autores, alfabetização foi perdendo suas especificidades no trabalho que seguia as concepções psicogenéticas, a construção da escrita acabou englobando e desenvolvendo mais aspectos psicológicos do que os linguísticos. Soares (2004, p. 16) postula que a alfabetização e o letramento devem ser trabalhados concomitantemente, sendo a primeira “[...] entendida como processo de aquisição e apropriação do sistema da escrita, alfabético e ortográfico” e o segundo “[...] como a participação em eventos variados de leitura e de escrita, e 35 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 o consequente desenvolvimento de habilidades de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita, e de atitudes positivas em relação a essas práticas” (SOARS, 2004, p. 16). Para aprofundar um pouco a sua reflexão, realize a atividade de estudo. Atividades de Estudos: Os autores Mendonça e Mendonça (2011, p. 56), no final do artigo ‘Psicogênese da Língua Escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização”, fazem uma síntese do que apresentamos até aqui. Analisando a alfabetização ao longo dos últimos 20 anos, constata-se que a teoria construtivista tem sido adotada por vários estados do Brasil como se fosse uma fórmula mágica para resolver todos os problemas relativos ao tema, mas resultados de pesquisas como o INAF 2009 (INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, 2009) mostram índices alarmantes de analfabetismo. O domínio da língua escrita, enquanto especificidade da alfabetização, e a participação do aluno no mundo letrado têm se configurado como um grande desafio e um problema considerável para o sistema escolar. Os dados do INAF 2009 (INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, 2009), quanto ao item escolaridade, mostram que 54% dos brasileiros que estudaram até a 4ª série atingem, no máximo, o grau rudimentar de alfabetismo. Outro fato pior é que 10% destes podem ser considerados analfabetos absolutos, apesar de terem cursado de um a quatro anos do ensino fundamental. Entre os alunos que cursam ou cursaram da 5ª a 8ª série, apenas 15% podem ser considerados plenamente alfabetizados. Além disso, 24% dos que completaram entre 5ª e 8ª séries do ensino fundamental ainda permanecem no nível mais rudimentar de leitura e escrita. Dos que cursaram alguma série ou completaram o ensino médio, apenas 38% atingem o nível pleno de alfabetismo (o que deveria ter ocorrido para 100% deste grupo). E ainda, somente entre os que chegaram ao ensino superior é que prevalecem (68%) os indivíduos com pleno domínio das habilidades de leitura/escrita e das habilidades matemáticas. 36 Desenvolvimento da linguagem escrita Nesse sentido, é urgente a adoção de metodologia adequada para que crianças sejam alfabetizadas em nosso país, assumindo a definição de alfabetização, em sua especificidade, como conjunto de técnicas para exercer a arte e a ciência da escrita. O construtivismo teve seu mérito, à medida que destronou a cartilha e apresentou uma teoria sobre a aquisição da escrita. Entretanto, segundo Soares (2003a), na época da cartilha havia método sem teoria sobre alfabetização, hoje há uma bela teoria, mas não se tem método. O ideal é que se tenha um método com base em uma teoria de alfabetização. (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 56). 1) Os dados, apresentados no texto acima, revelam um panorama desfavorável no que se refere à leitura e à escrita. Você acredita que estes resultados sejam atribuídos somente ao período em que houve a mudança para o paradigma construtivista? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) Nos dois últimos parágrafos, os autores retomam a questão do “método”. Isso poderia ser considerado um retrocesso? Reflita. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Para finalizar, ainda é importante lembrar que a alfabetização e o letramento têm dimensões diferentes e que demandam metodologias de trabalho diferentes. Para Soares (2004, p.16), “[...]algumas caracterizadas por ensino direto, explícito e sistemático – particularmente a alfabetização, em suas diferentes facetas – outras caracterizadas por ensino incidental, indireto e subordinado a possibilidades e motivações das crianças”. A falta de reflexão sobre as especificidades da alfabetização pode ser apontada como uma das causas dos resultados insatisfatórios que aparecem nas avaliações. Nesse contexto, propõe-se o paradigma fonológico, não como um substituto do paradigma construtivista, mas como um contraponto. 37 O ParadigmaConstrutivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 Finalmente.... O paradigma fonológico parte do pressuposto de que as crianças precisam compreender que as letras representam os sons para que possam ler e escrever. Pesquisas enfatizam a relação entre a consciência fonológica e o desenvolvimento da relação som e letra, assim como do desenvolvimento da escrita. Mas o que é a consciência fonológica? É a capacidade que um indivíduo tem de refletir conscientemente sobre os fonemas, sílabas e palavras da língua. Na verdade, a consciência fonológica faz parte de uma habilidade maior, que é a consciência metalinguística. Esta decorre da capacidade que o ser humano tem de se debruçar sobre a linguagem, de forma consciente (SCLIAR-CABRAL, 2010). [...] a consciência fonológica é uma competência metalinguística que possibilita o acesso consciente ao patamar fonológico da fala e a manipulação cognitiva das representações neste nível. Portanto, envolve reflexão, análise e manipulação intencional de unidades que compõem a linguagem (palavras, sílabas, fonemas) (PESTUN et al., 2010, p. 96). A consciência metalinguística envolve a reflexão sobre, basicamente, todos os aspectos da linguagem - aspectos fonológicos, morfológicos, sintáticos, semântico e ortográficos. Através dela, o ser humano pode refletir sobre a estrutura e organização da língua. Mas como se desenvolve a consciência fonológica? Ela se desenvolve na medida em que as crianças começam a perceber palavras, rimas, sílabas. Portanto, o desenvolvimento da escrita é importante para o desenvolvimento da consciência fonológica. As primeiras percepções podem ocorrer antes da escrita, mas a percepção dos fonemas estará atrelada à escrita. É importante salientar que este desenvolvimento é gradual, complexo e que algumas unidades são perceptíveis com mais facilidade do que as outras. Alguns teóricos afirmam que o desenvolvimento da consciência fonológica está atrelado ao desenvolvimento da escrita e vice-versa, assim, os avanços e o sucesso na leitura e na escrita dependem dos avanços na consciência fonológica. De acordo com Pestun et al. (2010) o sistema alfabético é fonográfico, pois representa elementos fonológicos com sílabas e fonemas. O sistema de escrita é baseado na linguagem oral, dessa forma, é possível entender como a ortografia e a escrita funcionam. Como as palavras são construídas a partir de combinações fonemas e grafemas, conhecidas pelos leitores, torna-se possível O paradigma fonológico parte do pressuposto de que as crianças precisam compreender que as letras representam os sons para que possam ler e escrever. É a capacidade que um indivíduo tem de refletir conscientemente sobre os fonemas, sílabas e palavras da língua. 38 Desenvolvimento da linguagem escrita a leitura de palavras que o leitor não conheça. “Como a escrita é uma habilidade criativa, construída a partir do alicerce alfabético, ela exige algumas habilidades precedentes que facilitarão essa complexa criação” (PESTUN et al., 2010, p. 96). Pode-se observar que existe uma complexidade na linguagem, e que, para chegar à escrita alfabética, o aluno deverá evoluir e ser capaz de refletir sobre as unidades que a compõem. Retomando o construtivismo, para começar a perceber o aspecto sonoro da língua, a criança precisa do desenvolvimento simbólico, ou seja, precisa ser capaz de desvincular a escrita dos significados. Outros autores destacam a importância da superação do realismo nominal, ou seja, os significados deixam de ser representados e os significantes (nomes das coisas) passam a ser representados. Superadas estas hipóteses, quando o aprendiz percebe as relações entre os sons e a escrita, ele ainda precisa descobrir como se dá essa relação, como representar as unidades da língua. Algumas são naturalmente percebidas, como as rimas (mesma terminação da palavra) e aliterações (palavras que iniciam pelo mesmo som). Já a percepção dos fonemas é mais complexa e depende de um ensino sistemático. Como a definição de consciência fonológica é bastante ampla, alguns autores apresentam diferentes níveis. No texto de Persun et al. (2010) foram abordados quatro níveis. 1) Sensibilidade à rima e à aliteração: a criança começa a perceber que há grupos de sons semelhantes em palavras diferentes. Nos exemplos abaixo, retirados da pesquisa de Maluf e Barrera (1997, p.14), pode-se verificar o domínio de rimas e aliterações por pré-escolares. Exemplo 1: C.(5;10) - Ao ser solicitada a dizer uma palavra parecida com a palavra CADEI- RA, responde: "Cátia", dando a seguinte justificativa: "É porque cadeira começa com CA e Cátia também começa com CA." (consciência da aliteração). Exemplo 2: F. (6;5) - Ao ser solicitada a dizer qual das palavras (BOLO/LEQUE/HOTEL) terminava igual à palavra PASTEL, responde: "hotel", justificando assim sua resposta: "Porque eu acho que no fim tem o TÉ e TÉ." (consciência da rima). Exemplo 3: C. (5;10) - Ao ser solicitada a dizer qual das palavras (FOGO/LÁPIS/BOCA) co- meçava igual à palavra FOLHA, responde: "fogo", dando a seguinte justificativa: "Porque folha começa com folha e fogo começa com fogo." (simples detecção da aliteração). Exemplo 4: V (4;11) - Ao ser solicitada a dizer uma palavra parecida com a palavra MATO, responde "tato", justificando assim sua resposta: "Porque mato e tato são iguais." (simples detecção da rima). 39 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 2) Consciência da sílaba – implica a capacidade de segmentar as palavras em sílabas. Nesta fase, as crianças conseguem contar quantas sílabas há numa palavra, conseguem omitir sílabas e comparar palavras, levando em conta a sílaba. A. (5;11) - Acha que as palavras LIVRO e REVISTA não são parecidas, dando a seguinte justificativa: “Por causa que livro e revista... é LI e RE.” (análise silábica) (MALUF; BARRERA,1997, p.13). 3) Conhecimento intrassilábico – compreensão de que a sílaba pode ser dividida em elementos menores do que ela e maiores do que os fonemas. Este nível já apresenta uma complexidade maior. 4) Conhecimentos segmental – palavras são constituídas por unidades menores – fonemas. Alguns autores chamam esta etapa de consciência fonêmica. Outros autores acreditam que as crianças não conseguem discriminar os fonemas de uma palavra, o que realizariam, na verdade, seria a soletração das letras que compõem a palavra. O paradigma fonológico também não responde a todos os questionamentos que têm sido feitos a respeito da alfabetização. Novamente, o que se propõe é uma teoria sobre o desenvolvimento da escrita, uma forma de análise e reelaboração de práticas e, talvez, uma aproximação de uma ação metodológica. É importante destacar que repensar as questões da consciência fonológica não significa uma volta ao método fônico. Morais (2006, p. 11) alerta para a questão dos métodos: Embora o emprego de métodos isoladamente não garanta sucesso ou êxito escolar, os métodos tradicionais, de base empirista, não são remédios miraculosos: foram e continuam sendo promotores de fracasso (ou sucesso) escolar. No caso específico do método fônico, tem-se a exigência de um nível de consciência metafonológica exagerado e antinatural, além de descuidar-se do ensino da linguagem própria dos diferentes textos escritos. Esse esclarecimento é fundamental, pois facilmente uma teoria que discuta a questão da consciência fonológica pode ser vista como um simples retorno a um procedimento metodológico que trabalhava o desenvolvimento da escrita como uma habilidade de codificação. 40 Desenvolvimento da linguagem escrita O artigo “Habilidades metalinguísticas e linguagem escrita nas pesquisas brasileiras” apresenta um levantamento de pesquisas na área, tanto em trabalhos de pós-graduação, como em artigos científicos. É uma boa opção para aprofundamento no tema. Disponível em: <https://goo.gl/VTbc4b>. Atividades de Estudos: No artigo Concepçõese metodologia de alfabetização: Por que é preciso ir além da discussão sobre “métodos”? (disponível em: <portal. mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/alf_moarisconcpmetodalf. pdf>), Morais (2006) apresenta quatro princípios para repensar os processos de alfabetização. No entanto, no final do artigo, faz uma ressalva quanto à aplicação e o emprego de novas metodologias, paradigmas, entre outros. [...] Entendemos, todavia, que esse conjunto de princípios, não deve ser tratado à margem de considerações mais gerais sobre a profissionalização do docente, de suas condições materiais e simbólicas de trabalho e da implementação de políticas que favoreçam, precocemente, o sucesso escolar das crianças oriundas de meios populares. O próprio significado da discussão de metodologias de alfabetização precisa estar subordinado a esses temas mais amplos, que são fatores de democratização da escola. É necessário reconhecer que muito precisa ser feito no sentido de assumir como política de estado a formação continuada dos professores, em especial a dos que se dedicam à alfabetização. Os esforços feitos nos últimos anos parecem-nos ainda insuficientes para dar conta da gravidade da questão. Acreditamos que é hora de termos políticas federais, estaduais e municipais que garantam a real formação continuada dos professores da educação básica. Para que essas não funcionem como apêndices ou ações descartáveis dos sistemas de ensino, é urgente priorizar a formação dos formadores de professores, em cada âmbito local. [...] (MORAES, 2006, p.13-14). 1) Faça uma comparação entre o posicionamento do autor e o texto o “ Currículo dos Urubus”, exposto anteriormente. 41 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 2) Após as reflexões dos paradigmas apresentados, como você avaliaria as políticas públicas para a alfabetização? No decorrer dos anos houve avanços, ou apenas uma maquiagem nos primeiros métodos? __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ 3) No material didático “Alfabetização e Linguagem”, elaborado pelo MEC e destinado à formação de professores do programa Pró- letramento, são apresentados alguns quadros que descrevem capacidades que os aprendizes devem desenvolver. O quadro 2 diz respeito à apropriação do sistema de escrita. Fonte: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/pro- letramento/publicacoes?id=12616:formacao>. 42 Desenvolvimento da linguagem escrita • I – introduzir • T – trabalhar sistematicamente • C – consolidar • R - retomar Após a análise do quadro, quais dos paradigmas traria embasamento para que o professor pudesse organizar seu trabalho, de forma a auxiliar os alunos no alcance destas capacidades, conhecimentos e atitudes? Explique. __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ __________________________________________________ Algumas Considerações Acreditamos que, ao final deste capítulo, você tenha compreendido um pouco mais sobre os dois paradigmas discutidos e apresentados. No entanto, é importante salientar que você deve buscar aprofundamento neste conteúdo, assim como outras leituras. Neste caderno, procuramos selecionar as ideias principais, pois, em virtude da densidade do tema, seria impossível abranger todos os aspectos que envolvem estas teorias. No próximo capítulo, aprofundaremos os conceitos sobre o paradigma fonológico, assim como, por meio da análise de pesquisas, veremos o que já se pode afirmar de positivo ou negativo sobre ele. 43 O Paradigma Construtivista e o Paradigma FonológicoCapítulo 1 Referências ALVES, R. Estórias de quem gosta de ensinar. 8. ed. São Paulo: Papirus, 2001. BAPTISTA, M.C.; MONTEIRO, S.M. Dimensões da proposta pedagógica para o ensino da linguagem escrita em classes de crianças de seis anos. In. MACIEL, F. I. P.; BAPTISTA, M.C.; MONTEIRO, S.M. (Org.) A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o ensino fundamental de nove anos: orientações para o trabalho com a linguagem escrita em turmas de crianças de seis anos de idade. Belo Horizonte: UFMG/FaE/CEALE, 2009. BRASIL. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica. Pró- Letramento: Programa de Formação Continuada de Professores dos Anos/ Séries Iniciais do Ensino Fundamental: alfabetização e linguagem. ed. rev. e ampl / Brasília: 2008. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/pro-letramento/ publicacoes?id=12616:formacao>. Acesso em: 10 fev. 2016. BREGUNCI, M. das G. de C. Psicogênese da aquisição da escrita (verbete) – In: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG). Faculdade de Educação (FaE). Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale). Glossário Ceale: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte, 2015. Disponível em: <http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/ glossarioceale/>. Acesso em: 15 mar. 2016. ESPÍRITO SANTO, Edeil Reis do. Consciência fonológica e prática alfabetizadora: por uma ação teórico – metodológica para o ensino da linguagem escrita. 2013. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Estadual de Feira de Santana, Bahia. Disponível em: <www2.uefs.br/ ppge/dissertacao/dissertacao-santo-2013.pdf>. Acesso em: 18 mar. 2016. FERREIRO, E; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986. FERREIRO, E. A representação da linguagem e o processo de alfabetização. Caderno de Pesquisa. São Paulo, v. 52, p.7-17, Fevereiro 1985. FRADE, I. C. A. da S. Métodos e Metodologia de alfabetização (verbete) – In: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG). Faculdade de Educação (FaE). Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale). Glossário Ceale: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte, 2015. Disponível em: <http://ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/ glossarioceale/>. Acesso em: 15 ago. 2016. http://portal.mec.gov.br/pro-letramento/publicacoes?id=12616:formacao http://portal.mec.gov.br/pro-letramento/publicacoes?id=12616:formacao 44 Desenvolvimento da linguagem escrita ______. Método global (verbete). In: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS (UFMG). Faculdade de Educação (FaE). Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale). Glossário Ceale: termos de alfabetização, leitura e escrita para educadores. Belo Horizonte, 2015. Disponível em: <http://ceale.fae. ufmg.br/app/webroot/glossarioceale>. Acesso em: 18 ago. 2016. KATO, M. No mundo da escrita. 7. ed. São Paulo: Ática, 1999. MALUF, M. R.; BARRERA, S. D. Consciência fonológica e linguagem escrita em pré-escolares. Psicol. Reflex. Crit., Porto Alegre, v. 10, n. 1, p. 125-145, 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 79721997000100009&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 15 abr. 2016. MALUF, M. R.; ZANELLA, M. S.; PAGNEZ, K. S. M. M. Habilidades metalinguísticas e linguagem escrita nas pesquisas brasileiras. Bol. psicol, n.56, n.124, p. 67-92, jan.-jun. 2006. Disponível em: <https://goo.gl/VTbc4b>. Acesso em: 12 abr. 2016. MENDONÇA, O. S.; MENDONÇA, O. C. de. Psicogênese da Língua Escrita: contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização. In: Caderno de formação: formação de professores: Bloco 02: Didática dos conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011. v. 2. p. 36-57. Disponível em: <http:// acervodigital.unesp.br/handle/123456789/40138>.
Compartilhar