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@diego_sanson – UFJF Neurônios e Glia Introdução: ainda que existam muitos neurônios no encéfalo humano (em torno de 100 bilhões), as células gliais excedem em cerca de dez vezes o número de neurônios. No entanto, os neurônios são as células mais importantes para as funções exclusivas do encéfalo. São os neurônios que percebem modificações no ambiente, comunicam essas modificações a outros neurônios e comandam as respostas corporais a essas sensações. Acredita-se que a glia, ou células gliais, contribui para a função encefálica principalmente por isolar, sustentar e nutrir os neurônios vizinhos. Na realidade, o termo glia origina-se da palavra grega cola, dando a impressão que a principal função dessas células seria de impedir que o encéfalo escapasse por nossas orelhas. A doutrina neuronal: a estrutura das células nervosas apresenta um pequeno tamanho limitando seu estudo a olho nu. A maioria das células está entre os limites de 0,01-0,05 mm de diâmetro. O tecido nervoso apresenta uma consistência semelhante à de gelatina: insuficientemente firme para realizar cortes finos. Preparações frescas de encéfalo observadas sob microscópio apresentam um aspecto de coloração creme uniforme; assim, o tecido não mostrava diferenças em sua pigmentação que permitissem ao histologista identificar células individualmente. No final do sec.XIX, Nissl mostrou que um tipo de corante básico tingia o núcleo de todas as células, além de corar um material agrupado ao redor dos núcleos dos neurônios. Esses agrupamentos foram chamados corpúsculos de Nissl, e a técnica é conhecida como coloração de Nissl -Diferenciar neurônios de glia -Permite aos histologistas estudar o arranjo, ou citoarquitetura, dos neurônios em diferentes partes do encéfalo. O procedimento de Golgi: em 1873, Golgi descobriu que, submergindo uma amostra de tecido nervoso em uma solução de cromato de prata, agora chamado de procedimento de Golgi, um percentual pequeno de neurônios corava-se de preto em toda a sua extensão. O método de Golgi mostra que os neurônios têm pelo menos duas regiões distintas: uma região central, que contém o núcleo, e numerosos tubos finos que irradiam da região central. A região inchada onde está o núcleo celular possui diferentes nomes, os quais são usados alternadamente: corpo celular, soma e pericário. Os finos tubos que irradiam do soma são chamados de neuritos e são de dois tipos: axônios e dendritos. @diego_sanson – UFJF Como os axônios podem estender-se por grandes distancias no corpo, foi imediatamente reconhecido pelos histologistas da época que os axônios atuariam como “fios” que transportam a informação que emerge dos neurônios. E, uma vez que os dendritos estabelecem contato com muitos axônios, devem atuar como as “antenas” do neurônio para receber aferências ou sinais de entrada. A contribuição de Cajal: Golgi defendeu o ponto de vista de que os neuritos de diferentes células se fundem uns aos outros, formando um reticulo continuo, ou rede, semelhante ao que acontece com as artérias e veias do sistema circulatório. Cajal, por outro lado, defendia ferrenhamente que os processos de diferentes neurônios não possuem continuidade entre eles e devem comunicar-se por contato, não continuidade. Essa ideia, que estava de acordo com a teoria celular, veio a ser conhecida como a doutrina neuronal. Com o aumento do poder de resolução do microscópio eletrônico, foi finalmente possível demonstrar que os prolongamentos dos diferentes neurônios não possuem continuidade entre eles. Neurônio- estrutura isolada. O protótipo neuronal: o neurônio (também chamado de célula nervosa) consiste em várias partes: o soma, os dendritos e o axônio. O conteúdo interno de um neurônio é separado do meio externo por uma membrana limitante, a membrana neuronal, a qual recobre o neurônio como uma tenda de circo sustentada por um intrincado esqueleto interno, dando a cada parte da célula sua aparência tridimensional característica. O soma: o corpo celular de um neurônio típico tem aproximadamente 20 micrometros de diâmetro. O fluido aquoso no interior da célula, chamado de citosol, é uma solução de sais ricas em potássio, separa do meio externo pela membrana neuronal. Dentro do soma, diversas estruturas delimitadas por membrana são coletivamente chamadas de organelas. - O núcleo: dentro do núcleo estão os cromossomos, que contém o material genético, o DNA (ácido desoxirribonucleico). O que distingue um neurônio de uma célula hepática são as partes especificas do DNA que estão sendo utilizadas para construir a célula. Esses segmentos do DNA são chamados de genes. A leitura do DNA é chamada de expressão gênica. A síntese proteica, ocorre no citoplasma. Como o DNA não sai do interior do núcleo, deve haver um intermediário que carregue a mensagem genética aos locais de síntese de proteínas no citoplasma. Essa função é realizada por uma macromolécula chamada ácido ribonucleico mensageiro, ou RNAm. O processo de confecção de um RNAm que contenha a informação de um gene é chamado transcrição, e o RNAm resultante é chamado de transcrito. A síntese de proteínas a partir de AA, sob o controle do RNAm, é chamada tradução. - Reticulo endoplasmático rugoso: é mais abundante nos neurônios que na glia ou na maioria de outras células não-neuronais. O RE rugoso é um importante sitio de síntese proteica nos neurônios. Não é de nos surpreendermos que os neurônios são tão ricos em @diego_sanson – UFJF RE rugoso, pois, proteínas especiais de membrana conferem a essas células sua notável capacidade de processar informações. - Reticulo endoplasmático liso e aparelho de Golgi: acredita-se que no RE liso as proteínas que se projetam da membrana são cuidadosamente dobradas, assumindo sua estrutura tridimensional. Também regulam as concentrações internas de algumas substâncias, como o cálcio. O aparelho de Golgi é um sitio de intenso processamento bioquímico pós-traducional de proteínas. Acredita-se que uma função importante do AG seja a distribuição de certas proteínas destinadas a diferentes partes do neurônio, como os axônios e os dendritos. - A mitocôndria: organela muito abundante no soma. O ATP é a moeda energética da célula. A energia química armazenada no ATP é utilizada para manter a maioria das reações bioquímicas de um neurônio. A membrana neuronal: serve como uma barreira, delimitando internamente o citoplasma e excluindo no meio externo certas substancias presentes nos fluidos que banham os neurônios. A membrana tem aproximadamente 5 nanômetros de espessura e é cravejada por proteínas. Uma importante característica dos neurônios é que a composição proteica da membrana varia de acordo com a localização da membrana: no soma, no axônio ou nos dendritos. A função dos neurônios não pode ser compreendida sem o conhecimento da estrutura e da função da membrana neuronal e de suas proteínas associadas. Estudaremos em diante como as membranas conferem aos neurônios sua notável capacidade de transferir sinais elétricos ao longo do encéfalo e do corpo. O citoesqueleto: os componentes do citoesqueleto são regulados de forma muito dinâmica e estão, muito provavelmente, em constante movimento. - Microtúbulos: a polimerização e a despolimerização dos microtúbulos e, consequentemente, a forma neuronal pode ser regulada por vários sinais dentro do neurônio. Uma classe de proteínas que participa da regulação da polimerização e função dos microtúbulos são as proteínas associadas aos microtúbulos, ou MAPs. As MAPs ancoram os microtúbulos uns aos outros e a outras partes dos neurônios. Alterações patológicas em uma MAP dos axônios, chamada proteína tau, estão relacionadas a demência que acompanha a doença de Alzheimer. -Neurofilamentos: filamentos intermediários dos neurônios. Axônio: uma estrutura exclusivamente dos neurônios, altamente especializada nosprocessos de transferência de informações ao longo do sistema nervoso. O axônio parte de uma região chamada cone de implantação, que se torna afilado para formar o segmento inicial do axônio propriamente dito. @diego_sanson – UFJF 1. não há RE rugoso no axônio, e acorrem poucos, ou nenhum, ribossomos livres. 2. a composição proteica da membrana do axônio é fundamentalmente diferente daquela observada na membrana do soma. São as proteínas diferenciadas presentes na membrana do axônio que permitem ao mesmo funcionar como um “fio telégrafo”, o qual envia informações ao longo de grandes distâncias. Os axônios podem se estender por menos de um milímetro, ou podem atingir até mais de um metro. Os axônios frequentemente se ramificam, e essas ramificações são chamadas de colaterais axonais. Essas ramificações chamam-se colaterais recorrentes. Quanto maior o calibre do axônio, mais rápido o impulso trafega. O terminal axonal: todo o neurônio tem um início (o cone de implementação), uma porção intermediaria (o axônio propriamente dito) e uma extremidade. Essa extremidade é chamada terminal axonal ou botão terminal. O terminal é o local onde o axônio entra em contato com outros neurônios (ou outras células) e passa a informação para eles. Esse ponto de contato chama-se sinapse. Às vezes, os axônios apresentam ramificações em suas regiões terminais, e cada ramificação forma uma sinapse com dendritos ou corpos celulares na mesma região. Essas ramificações são chamadas coletivamente de arborização terminal. Quando um neurônio estabelece contato sináptico com outra célula, diz-se que ele inerva aquela célula, ou promove sua inervação. Os terminais sinápticos contem numerosas bolhas pequenas, envoltas por membranas, chamadas vesículas sinápticas. O terminal apresenta numerosas mitocôndrias, indicando uma alta demanda de energia no local. = quando um impulso nervoso chega ao terminal axonal pré-sináptico, são liberadas moléculas de neurotransmissores das vesículas sinápticas na fenda sináptica. Os neurotransmissores estão ligam-se a proteínas receptoras especificas, desencadeando a geração de sinais elétricos ou químicos na célula pós-sináptica. A sinapse: a sinapse tem dois lados: o pré-sináptico e o pós-sináptico. Esses nomes indicam a direção habitual do fluxo de informação, que é de “pré” para “pós”. O lado pré- sináptico geralmente consiste em um terminal axonal, enquanto o lado pós-sináptico pode ser um dendrito ou soma de outro neurônio. O espaço entre as membranas pré e pós é chamado fenda sináptica. A transferência de informação através da sinapse de um neurônio para outro é chamada transmissão sináptica. @diego_sanson – UFJF Na maioria das sinapses, a informação que viaja na forma de impulsos elétricos ao longo do axônio é convertida, no terminal axonal, em um sinal químico, que cruza a fenda sináptica. Na membrana pós-sináptica, esse sinal químico é novamente convertido em um sinal elétrico. O sinal químico é chamado de neurotransmissor e é armazenado nas vesículas sinápticas e liberado a partir delas na fenda sináptica. Transporte axoplasmático: Augustus Waller mostrou que os axônios não sobrevivem quando separados do soma da célula de que faziam parte. A degeneração dos axônios que acorre quando são cortados é chamada degeneração walleriana. A degeneração acontece porque o fluxo de materiais do soma para o terminal axonal é interrompida. Esse movimento de material ao longo do axônio chama-se transporte axoplasmático. O material é incluso dentro de vesículas, as quais então caminham ao longo dos microtúbulos do axônio. As pernas são formadas por uma proteína chamada cinesina, e o processo é sustentado por ATP. Transporte anterógrado (soma-terminal) Transporte retrógrado (terminal-soma) mediado pela proteína dineína. Dendritos: derivado da palavra árvore. Os dendritos de um único neurônio são coletivamente chamados de arvore dendrítica, e cada ramo da arvore chama-se ramo dendrítico. Os dendritos funcionam como uma antena para o neurônio, e estão recobertos por milhares de sinapses. A membrana dendrítica relacionada com as sinapses apresentam muitas moléculas de proteínas especializadas, chamadas de receptores, as quais detectam os neurotransmissores na fenda sináptica. Os dendritos de alguns neurônios estão recobertos por estruturas especializadas, chamadas espinhos dendríticos, que recebem alguns tipos de aferências sinápticas. Acredita-se que eles isolem várias reações químicas disparadas por alguns tipos de ativação sináptica. A estrutura do espinho é sensível ao tipo e a intensidade da atividade sináptica. A pesquisa de Steward sugere que a transmissão sináptica possa promover a síntese de proteínas de forma localizada em alguns neurônios. Classificando os neurônios -Baseada no número de neuritos De acordo com o número total de neuritos (axônios e dendritos) que se estendem desde o soma. Unipolar/ bipolar/ multipolares. -Baseada nos dendritos @diego_sanson – UFJF O córtex cerebral contém duas grandes classes: as células estreladas e as células piramidais. Outra forma é de acordo com a presença ou não dos espinhos dendríticos. Espinhosos/ não-espinhosos. -Baseada nas conexões Neurônios sensoriais (pele e retina) Neurônios motores (músculos) Inter neurônios (conexões entre os neurônios) -Baseadas no comprimento do axônio Neurônios de golgi I, ou neurônios de projeção: (longos axônios que se estendem de uma parte do encéfalo para outra) Neurônios de golgi II, ou neurônios de circuito local: (curtos axônios que não vão além do entorno do corpo celular) -Baseadas nos neurotransmissores Permite identificar quais neurônios contêm cada tipo de neurotransmissor. Ex: os neurônios motores que comandam movimentos voluntários liberam o neurotransmissor acetilcolina em suas sinapses. Glia: as evidências indicam que a glia contribui para a atividade encefálica principalmente dando suporte as funções neuronais. -Astrócitos: as células gliais mais numerosas no encéfalo. Essas células preenchem os espaços entre os neurônios. Quando se fala de um fluido que banha os neurônios no encéfalo, está muito mais para um banho de esponja do que para um banho de imersão em agua. Um papel importante dos astrócitos é a regulação do conteúdo químico desse espaço extracelular. Por exemplo, os astrócitos envolvem as sinapses no encéfalo, restringindo s difusão de moléculas neurotransmissoras que foram liberadas. Os astrócitos também apresentam, em suas membranas, proteínas especiais, as quais removem ativamente os neurotransmissores da fenda sináptica. Os astrócitos também controla rigorosamente as concentrações extracelulares de diversas substancias que tenham potencial para interferir nas funções neuronais normais. Glia formadora de mielina: a função principal dos oligodendrócitos e das células de Schwann é bem clara. Essas células gliais formam as camadas de membrana que isolam os axônios. Esse envoltório chamado mielina, se enrola formando uma espiral que envolve os axônios no encéfalo. Como o axônio ajusta-se ao interior desse envoltório @diego_sanson – UFJF espiralado como uma espada em sua bainha, o nome bainha de mielina. Ela é interrompida periodicamente, deixando pequenos espaços onde a membrana axonal está exposta. Essa região é chamada de nódulo de Ranvier. A mielina serve para acelerar a propagação do impulso nervoso ao longo do axônio. Os oligodendrócitos são encontrados apenas no sistema nervoso central, enquanto as células de Schwann são encontradas exclusivamente no sistema nervoso periférico. Um único oligodendrócito contribui para a formação da mielina de vários axônios, enquanto as células de schwann mieliniza apenas um fragmento do neurônio. Outras células não-neuronais: as células especiais chamadas células ependimais formam a camada de células que atapeta os ventrículosno encéfalo e também desempenham um papel no direcionamento da migração células durante o desenvolvimento do encéfalo. A microglia age como macrófagos na remoção de fragmentos celulares gerados pela morte ou degeneração de neurônios e glia.
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