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EEG E SONO-VIGÍLIA ELETROENCÉFALOGRAFIA – EEG A eletroencefalografia (EEG) é um método eletrofisiológico de estudar a atividade elétrica dos neurônios corticais e do tálamo em decorrência de diferentes estímulos que ocorrem verticalmente no córtex. Os potenciais elétricos têm amplitudes que variam na faixa de quase zero até quase 200 µV, por isso o galvanômetro deve amplificar muito as ondas do EEG. As frequências das ondas podem variar de 0,5 a até 80 Hz. O EEG é uma atividade de milhares (ou milhões) de células piramidais (principais) corticais, não apresentam um padrão regular, são em geral assincrônicas, pois é uma soma vetorial de um dipolo elétrico instantâneo. A parte positiva e negativa de uma onda não infere a atividade excitatória ou inibitória da sinapse. O EEG consiste, então, de um conjunto de ondas de frequências e amplitudes médias distintas que são denominadas de ondas beta, alfa, teta, delta, gama e mu (ou mi). Onda beta: aparece mais frequente nas regiões pré- centrais, são assincrônicas em ambos os hemisférios cerebrais e diminuem em movimentos dos membros contralaterais. Presentes na vigília alerta. Onda alfa: presente na maioria dos adultos normais, em especial quando o voluntário está relaxado e com os olhos fechados (sem estímulos sensoriais) e desaparecem quando os olhos são abertos em ambiente iluminado ou quando o voluntário realiza alguns cálculos mentais. Onda teta: é um ritmo de origem no hipocampo nos estados de sono e sonolência; na região frontal aparece durante a realização de cálculos matemáticos. Onda delta: é a onda característica de certas fases do sono de forma intermitente. Onda gama: advém principalmente do córtex somatosensorial, motor, visual e auditivo, indicando vigília, atenção sensorial e atividade mental superior. Onda mu (mi): presente somente na vigília, desaparecem na sonolência e sono; seu significado está relacionado à região motora cerebral e aparece em curtos períodos. Consiste na instalação de 21 eletrodos no couro cabeludo, em posições prédeterminadas no Sistema Internacional 10- 20. Utiliza pontos que são marcados, dividindo o crânio em diferentes pontos de referências em dois planos e relativos as estruturas ósseas logo abaixo do eletrodo. Os pontos de referências no plano medial são o nasal (entre as duas sobrancelhas) e o inion (base do crânio, na parte de trás da cabeça). No plano perpendicular entre as estruturas pré- auriculares de ambos os lados. Em relação às estruturas ósseas são classificados em: Fp = frontal polar; F = frontal; T = temporal; P = parietal; O = occipital e Z = linha zero ou média (de referência). Do lado esquerdo da linha média os números são impares e do lado direito são pares. Têm-se então as 20 coordenadas (letras e números) dos eletrodos. Existe pelo menos 5 procedimentos diferentes na realização do traçado do EEG que pode ser selecionado pelo neurologista, em função dos objetivos. a) Rotineiro: registro realizado com algumas atividades, a saber: abrir e fechar os olhos, movimentos respiratórios, incidência de luz piscante, estimulação sonora ou até pequenos problemas de lógica ou matemática. b) Sono: o paciente dorme no hospital e faz-se o registro do EEG durante a noite toda para descobrir distúrbios do sono. c) Vigília: semelhante ao primeiro, porém sem estímulos sensoriais. d) Mapeamento cerebral: faz-se, com o auxílio de um computador, um mapa colorido da atividade cerebral. e) Prolongado: com um equipamento portátil, faz-se o registro contínuo por 1 a 3 dias, realizando suas atividades diárias de rotina. O registro do EEG serve clinicamente para diagnosticar uma série de distúrbios neurológicos ou psiquiátricos, a saber: epilepsia, demência, perda de consciência, tumores cerebrais, lesões cerebrais, hemorragias, apneia do sono, narcolepsia, edema cerebral, traumatismos cranianos, tontura persistente, cefaleias intensas e frequentes, AVC, encefalites, efeitos de drogas e álcool, identificação de graus de coma e morte cerebral. SISTEMA ATIVADOR RETICULAR ASCENDENTE A região superior da Formação Reticular do Tronco Cerebral é uma estrutura muito complexa com redes neurais ascendentes e descendentes que faz conexões com o córtex cerebral, tálamo, hipotálamo, sistema límbico, cerebelo, outras áreas do tronco cerebral e com a medula. Foi descrito por Bremer, em 1936, que esta região estava relacionada com a ativação do córtex cerebral por meio de neurônios aferentes para iniciar e manter o estado de vigília, e foi denominado de Sistema Ativador Reticular Ascendente (SARA). Este Sistema Ativador Reticular Ascendente abre-se em leque no tálamo e projeta suas fibras para diversas áreas corticais, ativando o córtex e sendo responsável pelo ato de despertar (efeito psicomotor), aumento da atividade do hipocampo e do córtex cerebral, com ondas do EEG características da vigília e alerta. A destruição bilateral desta área da formação reticular leva o animal ao coma e ondas do EEG características do sono. Por sua vez, a estimulação elétrica desperta o animal, mantem a vigília e o estado de alerta, com ondas do EEG características da vigília. Os neurotransmissores deste sistema são a noradrenalina (lócus cerúleos), dopamina (mesencéfalo e substância negra) e serotonina (núcleo da rafe). Existe um mecanismo de retroalimentação entre o SARA e o córtex cerebral. A formação reticular ativa o córtex, via tálamo, para o início da vigília (via ascendente) e o córtex estimula a formação reticular (via descendente) para a manutenção da vigília por muitas horas, até que o SARA seja inibido pelo circuito da região média da ponte, que leva ao sono. SONO-VIGÍLIA SONO: estado de inconsciência do qual a pessoa pode ser despertada por um estímulo sensorial (situação reversível); é uma desconexão perceptiva do ambiente. É fundamental para para o bem estar do indivíduo; sua privação causa desordens de ordem funcional, social e psicológica em graus variados. VIGÍLIA: estado de consciência (estar desperto), com manifestações vegetativas, funcionais, comportamentais, psíquicas e motoras bem definidas; apresenta conexão com o meio ambiente e social e as respostas são rápidas e adequadas. O sono apresenta vários estágios, do sono leve ao muito profundo e pode ser classificado em 2 tipos: 1. SONO REM OU PARADOXAL (REM) 2. SONO DE ONDAS LENTAS OU NÃO REM (OL ou NREM) O sono REM (do inglês Rapid Eye Moviments) ou paradoxal ocorre, em geral, em episódios de 25% do tempo do sono no adulto e está associado ao período dos sonhos, não é restaurador e ocorre a cada 90 minutos, com duração de 3 a 30 minutos. É chamado também de paradoxal pois parece que o indivíduo está acordado, com muitos movimentos e, em particular, dos olhos. O sono NREM ou de ondas lentas, compreende 75% do tempo do sono, é profundo, restaurador e ocorre, em geral, na primeira hora do sono em estágios. Em recém-natos o sono NREM ocupa 50% do tempo de sono (que é de 12 a 16 horas de sono/dia), em adultos jovens 75% (7 a 9 horas de sono/dia) e em idosos cerca de 90% (4 a 7 horas de sono/dia). CARACTERÍSTICAS DO SONO REM: 1. Associado aos sonhos e movimentos musculares (braços e pernas). 2. É difícil ser acordado. 3. Tônus muscular reduzido. 4. Movimentos rápidos dos olhos. 5. FC e FR irregulares (em especial durante os sonhos). 6. Metabolismo cerebral um pouco aumentado (até 20%). 7. EEG com ondas semelhantes ao estado de vigília. CARACTERÍSTICAS DO SONO NREM OU OL: 1. Sono relaxante e restaurador. 2. Redução da PA, FC e FR. 3. Tônus muscular muito reduzido. 4. Metabolismo basal reduzido. 5. Predomínio do tônus parassimpático. 6. Pode haver sonhos e pesadelos não lembrados. 7. EEG com ondas lentas (em diferentes estágios). TEORIA DO SONO: Centros neuraislocalizados na região média da ponte tem a capacidade de inibir a parte superior do tronco cerebral, o Sistema Ativador Reticular Ascendente, e induzir o sono; assim o sono é também um processo ativo. A estimulação elétrica de algumas áreas do cérebro podem induzir o sono, mas não se sabe se isso ocorre fisiologicamente; estas 3 áreas são: a) núcleos da rafe; b) núcleo supraquiamático; c) núcleos do trato solitário. Lesões em algumas áreas promovem vigília intensa e insônia. Função básica do sono: restaurar o equilíbrio natural entre os centros neuronais. POLISSONOGRAFIA: é a técnica utilizada para o estudo do sono, onde registra- se a atividade elétrica do córtex (EEG), os movimentos oculares (eletro-oculograma), eletromiografia (EMG) de alguns músculos, eletrocardiografia (ECG), frequências cardíaca e respiratória, termorregulação e outros ajustes viscerais durante as diferentes fases do sono. SONHO: é uma experiência de imaginação do inconsciente durante o sono, pode ser agradável ou não, não há lógica e exatidão temporal ou espacial. São fenômenos psíquicos, imagens, representações, atos e ideias. A atividade onírica (relativo aos sonhos) parece fascinar a humanidade; na antiguidade acreditava-se que seria uma outra vida com acesso somente pelo sonho. Hobson e McCarley relatam que os sonhos são apenas associações e memórias do córtex cerebral causada por descargas aleatórias do tronco cerebral durante o sono REM. Se um voluntário for acordado logo após o sonho (pela atividade do EEG) ele irá lembrar quase todo o sonho, se for desperto 5 a 10 minutos após, já há perda de até 50% do sonho, isto porque a memória do sonho deve permanecer em ”alças” neurais que entram em fadiga e rapidamente são perdidas. EPILEPSIA Convulsão: é uma interrupção temporal da função cerebral provocada por uma atividade neural excessiva e incontrolável; não são recorrentes. Causas: distúrbios eletrolíticos, hipoglicemia, fármacos (cocaína), encefalopatia hipertensiva e meningite. Incidência: 5 a 10% da população poderá ter, ao menos, uma crise. Epilepsia: é uma doença crônica e complexa de convulsões, é recorrente, pode ser de diferentes intensidades e duração. Causas: traumatismo cerebral, tumores, infeções, alterações degenerativas, circuitos desorganizados por causas congênitas e alguma participação genética. Incidência: 1% da população. A epilepsia pode ser classificada em: a) crises focais (ou parciais) b) crises generalizadas c) epilepsia tônico- clônica (Grande mal) d) epilepsia de ausência (Pequeno Mal). a) Crises focais: iniciam em uma região pequena e bem localizada do córtex cerebral ou do tronco cerebral e apresenta manifestação clínica da região afetada. Lesões cerebrais podem favorecer descargas rápidas e espalhar- se para regiões adjacentes; são ondas de circuitos neurais reverberantes bem localizadas. Se não houver alterações da consciência durante a crise, esta é denominada de crise parcial simples, porém se houver alterações da consciência é denominada de crise parcial complexa. Seus principais sintomas são: tremores da face e membros, distúrbios sensoriais, mudança do humor, perda da memória, enformigamento da boca e mãos, sudorese e mal estar. b) Crises generalizadas: caracterizam por descargas neurais difusas, excessivas e descontroladas que se espalham rapidamente e de maneira simultânea, atinge os dois hemisférios cerebrais, devido às interconexões entre o tálamo e o córtex. Os principais sintomas são: movimentação descoordenada de braços e pernas, grunhidos, virar os olhos e salivação espumosa. c) Epilepsia tônico-clônica (Grande Mal): caracteriza por perda brusca da consciência e descargas extremas em todo o encéfalo (principalmente córtex), podendo chegar até a medula. A pessoa pode morder ou engolir a língua, ter dificuldades respiratórias e levar à cianose, micção ou defecação involuntária e tem a duração de 3 a 4 minutos. Em geral não se conhece a causa (idiopática), porém pode haver um componente hereditário e pode ser desencadeada por um estímulo emocional forte, alcalose respiratória por hiperventilação, fármacos, febre alta e sons ou luzes intensas. d) Epilepsia de ausência (Pequeno Mal): ocorre predominantemente na infância ou adolescência e envolve o sistema ativador tálamo-córtex, tem duração curta de 3 a 30 segundos de inconsciência (ou muito reduzida) e apresenta como sintomas o olhar fixo e contração moderadas dos músculos da cabeça e pescoço. TRATAMENTO DA EPILEPSIA: Não há cura definitiva, mas o uso de drogas antiepiléticas bloqueiam o início ou o espalhamento das convulsões. Estas drogas promovem: a) Bloqueio dos canais de sódio voltagem-dependentes (carbamazina e fenitoína). b) Alterações nas correntes de sódio (etosuximida). c) Aumento da atividade gabaérgica (fenobarbital e benzodiazepina). d) Bloqueio dos receptores de glutamato (perampanel). e) Outras ações conjuntas (valproato e topiramato). f) Remoção cirúrgica do foco neural, em casos graves que não respondam às medicações. A atividade elétrica cerebral – EEG – pode informar o estado da ativação cortical em diferentes momentos e permite identificar algumas alterações patológicas do Sistema Nervoso Central.
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