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Jenneph Félix - @jenneph Medicina UFPE CAA CEFALÉIAS Introdução e epidemiologia → Estudos metanalíticos mostraram que cerca de 90% da população apresentou ou apresenta algum tipo de dor cabeça; → Em mais de 90% dos casos a dor de cabeça não significa problema grave; → A enxaqueca e a cefaléia tensional são mais frequentes em mulheres; → A enxaqueca ocorre em 15 a 30% dos indivíduos; → A cefaleia tensional aparece em 35 a 78% da população; → Até os 50 anos as cefaléias mais comuns são as primárias; após isso, há uma maior incidência das cefaléias secundárias. → As cefaléias causam ônus social resultante dos custos para o tratamento e também pelo absenteísmo no trabalho; → Comprometem o desempenho social e geram prejuízos pessoais por meios de danos psicológicos e econômicos. Classificação das cefaléias De acordo com a International Headache Society, de 2004, as cefaléias são classificadas em primárias e secundárias e subdivididas em 14 grupos. 1. Primárias → caracterizam-se pela ausência de anormalidades anatomopatológicas identificáveis. São elas: Enxaqueca ou migrânea; cefaléia tensional; cefaléia em salva e outras trigêmino-autonômicas (inclui as hemicranias paroxísticas e a SUNCT); Outras: idiopática, da tosse, associada a atividade sexual, em trovoada; 2. Secundárias → decorrem de lesões identificadas no segmento cefálico ou de afecções sistêmicas. Exemplo: cefaleia atribuída a trauma craniano, atribuída a doença intracraniana, atribuída a infecção, entre outras. 3. Neuralgias cranianas, dor facial primária e outras (neuralgias e dores faciais não-classificadas, cefaleia por compressão externa, por estímulo do frio) Avaliação dos pacientes com cefaléia ● História clínica detalhada: detalhes pregressos, antecedentes familiares; interrogatório sintomatológico; ● Característica da cefaleia: momento e circunstância, horário e velocidade do início, intensidade e caráter da dor, duração do ataque individual, localização, irradiação da dor, frequência das crises, ocorrência de fenômenos neurológicos e físicos gerais que precedem e/ou acompanham a dor, variações sazonais, progressão dos sintomas, fatores desencadeante e piora, tratamento atual e/ou prévio (insatisfatório ou efetivos), abuso de analgésicos e outros, história familiar de cefaléia, correlação da dor com o sono, impacto da dor no dia-dia; ALICIA FREDUSA ● Distinção entre cefaléia primária e secundária; ● Quatro padrões básicos de cefaléia: aguda emergente, aguda recorrente, crônica progressiva e crônica não progressiva. Agudo emergente e crônica progressiva sugerem cefaléia secundária. ● ⚠Sinais de alarme: primeira ou pior cefaléia; de início recente; iniciada após os 50 anos; associada a traumatismo craniano; com intensidade e frequências progressivas; em pessoas com câncer; com imunodeficiência adquirida e coagulopatias; em doentes com alteração da consciência e/ou alteração neurológica anormal; cefaleia de esforço; associada a febre e/ou doenças sistêmicas; dor com evidência de rigidez de nuca; em doentes com convulsão. ● Na cefaléia primária, o exame físico geral e neurológicos costumam estar normais; ● Rotina: observar sinais vitais, evidência de traumatismo, sinais meníngeos e fenômenos focais. ● Exame físico: palpação e percussão do crânio, mandíbulas, região cervical pericraniana, além da avaliação da cavidade oral, dentes, ouvidos e seios da face. Possíveis alterações vão indicar a necessidade de exames subsidiários. Obs.: síndrome de Claude-Bernard e Horner pode estar presente em pacientes com cefaleia em salvas. Jenneph Félix - @jenneph Medicina UFPE CAA Investigação diagnóstica ● Sinais e fatores de alarme que indiquem a possibilidade de cefaléia secundária exigem a execução de exames subsidiários como TC, RNM, LCR etc; ● Ressonância magnética é o exame mais sensível para avaliar os tecidos moles, porém nem sempre disponível devido a seu alto custo; ● Exame do LCR (Líquido cefalorraquidiano): indicado em casos de dor de início súbita após TC normal; em sinais de infecção, suspeita de sangramento ou processos inflamatórios. ● As radiografias são indicadas quando houver suspeita de sinusopatias e história de traumatismo; ● Tomografia computadorizada (TC) é útil para verificar a presença de sangue no espaço subaracnóideo ou no parênquima encefálico; ● A TC contrastada ajuda a identificar tumores, malformações vasculares, abscessos, hematomas e coleções. Cefaléias primárias Enxaqueca ou Migrânea Cefaléia recorrente e paroxística (refere-se ao momento mais intenso de uma dor ou de um ataque) caracterizada por episódios críticos e intervalos de acalmia. Tem maior prevalência na quarta década de vida. As crises duram de 4 a 72h com pelo menos duas das seguintes características: ● localização unilateral; ● caráter pulsátil; ● intensidade moderada ou intensa (suficiente para limitar ou impedir atividades); ● agravamento durante as atividades físicas; Durante a crise, pelo menos um: ● náuseas e/ou vômitos ● fotofobia e/ou fonofobia ● fases: pródromo, aura, dor, sintomas associados, pósprodromo (fase de exaustão/0 Sintomas premonitórios podem incluir: hiperatividade, depressão, irritabilidade, bocejos, déficit de memória, desejo de certos alimentos, hiperosmia (sensibilidade exagerada do olfato), sonolência. 25% dos que possuem enxaquecas apresentam sinais ou sintomas neurológicos focais (auras), sensitivos gerais, anormalidades da linguagem (disfagias) e/ou déficits motores unilaterais (paresias). Após a aura, vem a dor. O paciente típico com enxaqueca é uma mulher, entre 30-50 anos, cujo quadro iniciou-se na infância ou adolescência, havendo um familiar próximo acometido em 60-80% dos casos. Fonte: Google Imagens .Fonte: Google imagens Fisiopatologia → Durante 50 anos prevaleceu a idéia de que a aura (estudos de Graham & Wol�) surge devido à vasoconstrição; e a dor, devido à vasodilatação. No entanto, estudos questionaram a correspondência clara entre a vasoconstrição e a aura ou entre a vasodilatação e a dor. A aura seria explicada pelo fenômeno chamado de “depressão alastrante” (DA), descrito por Aristides Leão, em 1944. Trata-se de um fenômeno de despolarização com excitação neuronal seguido de redução da atividade que se desloca pelo córtex a uma velocidade de 2-3 mm/min. A passagem da depressão no córtex visual justificaria a percepção da anormalidade visual. O tecido cerebral é indolor, a DA pode Jenneph Félix - @jenneph Medicina UFPE CAA ser a responsável pela ativação do núcleo espinhal do trigêmio ou ainda haveria estimulação das fibras trigeminais ainda na periferia, causando a dor. Estado de mal enxaquecoso: crise de dor ultrapassa 72h ou na ocorrência de mais de uma crise com acalmia de menos de 4h. Fatores que podem desencadear enxaqueca: estresse emocional, alimentos, medicamentos, estímulo luminoso, jejum, fadiga, condições psiquiátricas como ansiedade, depressão. Tratamento e profilaxia Tratamento: Dor fraca a moderada → dipirona 500mg, paracetamol 500mg, aspirina 500mg, diclofenaco 500mg. Obs.: Considerar via parenteral ou retal na presença de vômitos. Antieméticos → metoclopramida, bromoprida, tiaprida. A associação de AAINH + analgésico ou cafeína ou agonistas serotoninérgicos (ex: ergotamina) ou vasoconstritores (isometepteno) também é eficaz. Os triptanos também podem ser utilizados em caso de crises refratárias ao uso de AAINH (ex: sumatriptanos, naratriptano). Fonte: Martins et al, 2009 Profilaxia → eliminar fator desencadeante. As crises perimenstruais podem ser prevenidas com o uso de estradiol. Quando os episódios são frequentes e incapacitantes o tratamento medicamentoso é indicado. Agentes eficazes: betabloqueadores (propranolol), antagonistas da serotonina (bloqueador 5-HT2), bloqueadores dos canais de cálcio (flunarizina) antidepressivos tricíclicos (amitriptilina), antiepiléticos (topiramato), neurolépticos (clorpromazina). Após melhora, suspensão gradual de 6 a 12 meses. Fonte: Martins et al, 2009. Jenneph Félix - @jenneph Medicina UFPE CAA Cefaléiatensional ● Dor bilateral não pulsátil; ● Intensidade discreta a moderada; ● Não impede atividades; ● Não está associada a náuseas, vômitos, foto e fonofobia; Obs.: Ainda sim algum desses sintomas pode estar presente. ● Não se agrava com exercícios físicos; ● Está associada ou não a anormalidades na musculatura pericraniana; ● Pode estar associada a anormalidades da coluna cervical e dos músculos mastigatórios. ● Afeta mais mulheres que homens e tende a diminuir de frequência com o aumento da idade. Classificação: Episódica → menos de 180 dias ao ano. Contínua → até 15 dias ao mês, com duração de até 30 min a cada sete dias. Crônica → mais de 180 dias ao ano ou mais de 15 dias ao mês. A episódica pode ser subdividida em: infrequente → menos que 12 dias ao ano; frequente → 12 a 179 dias ao ano. Tratamento e profilaxia Na fase aguda → AINH (ibuprofeno, naproxeno, cetoprofeno). Os inibidores específicos da ciclo-oxigenase-2 também são eficazes (celecoxib, rofecoxib). Profilaxia → uso de antidepressivos (amitriptilina, nortriptilina). Outros: aplicação do frio, calor, massoterapia, reabilitação da mastigação. Cefaléia em salvas (Cluster headache) Predomina no sexo masculino em indivíduos com idades de 20 a 40 anos. Características: ● Um ataque a cada dois dias, até 8 ataques por dia; ● Dor unilateral muito intensa; ● Localizada na região orbitária, supra-orbitária e temporal, às vezes, irradiada para a região maxilar, occipito-nucal, pericarotídea e ombro; ● Dura 15 a 180 min quando não tratada, ocorrendo em episódios com duração de duas semanas e três meses, intervalados por remissões de, pelo menos, 14 dias a muitos meses. Ao contrário da enxaqueca, o paciente fica bastante agitado. ● A dor deve estar associada a, pelo menos, um sinal neurovegetativo ipsilateral (congestão conjuntival, lacrimejamento, congestão nasal, rinorréia, sudorese frontal e ou facial, miose, ptose palpebral, edema cerebral) ou então à sensação de inquietude ou agitação. ATENÇÃO: a dor excruciante pode induzir o paciente ao suicídio. Os ataques comumente ocorrem durante o sono e podem ser desencadeados pelo álcool, agentes vasodilatadores e hipóxia. ● Normalmente os ataques obedecem a um ritmo circadiano, ocorrendo a cada um dois anos, mantendo-se durante dois a três meses, seguido de remissão total; ● O principal fator desencadeante da dor é a ingestão alcoólica . ● É recomendável RNM do crânio em todos os casos de cefaléia em salvas; Tratamento e profilaxia Inalação de O2 puro (5 a 10 L/minuto) com máscara. Em casos de dor prolongada utilizar tartarato de ergotamina (1-2 mg) VO, SL ou VR. Em casos de persistência podem ser utilizados os triptanos VO ou SC (sumatriptano 6-12 mg SC - alivia a dor em 96% dos casos). Também pode ser feito o bloqueio anestésico por punção do gânglio esfenopalatino ou a instilação tópica de IN de 1ml de lidocaína a 4% estando o doente em posição supina com a cabeça virada 30 graus para trás e girada para o lado da dor. Profilaxia → Verapamila (240 mg - 480mg duas vezes ao dia, efeitos colaterais incluem obstipação, fadiga e hipotensão arterial; A profilaxia se faz com verapamila, corticóides, metisergida e carbonato de lítio, entre outros. Jenneph Félix - @jenneph Medicina UFPE CAA Fonte: Google Imagens Cefaléia crônica diária ● Ocorre 15 dias ou mais por mês, durante 3 meses ou mais; ● Pode ocorrer devido a uma enxaqueca transformada ou pelo abuso de analgésicos, ergotamínicos, triptanos ou cafeína. Tratamento e profilaxia Desintoxicação (mas não suspensa abrupta devido ao efeito rebote- pode requerer hospitalização); AAINH por VO, IM ou EV, corticosteróides (dexametasona 12-16 mg/dia EV, IM, VO ou prednisona 20-40 mg VO), sumatriptano (6-12 mg/dia SC ou 100-200 mg/dia VO), diidroergotamina (0,5-1 mg EV 8/8 h), clorpromazina (12,5 a 25 mg EV 6/6 h/2 dias) e clonidina (0,1 mg em casos de dependência de opiáceos) são utilizados como resgate. Medicação profilática: antidepressivos e antiepiléticos + suporte psicológico (há associação com comorbidade psiquiátricas). Outras cefaléias primárias Síndrome cluster-migraine Sintomas mistos de enxaqueca e cefaléia em salvas. Síndrome cluster-tic Cefaléia em salvas e de neuralgia do trigêmio. Enxaqueca cíclica ou em salvas Enxaqueca com crises com longos períodos de remissão Hemicrania paroxística crônica Rara. Crises de dor lateral intensa na região orbitária, supra orbitária e/ou temporal, durando de 2 a 30 minutos. Frequência superior a 5 por dia. Ocorre pelo menos um sintomas neurovegetativo. Para classificar como tal deve ocorrer completa remissão das crises com uso de indometacina (25 até 200 mg/dia VO ou 100mg parenteral). Predomina no sexo feminino. Deve ser investigada por exame de imagem. SUNCT (Short-lasting unilateral neuralgiform headache with conjuntival injection and tearing) Cefaleia neuralgiforme unilateral de curta duração com hiperemia conjuntival e lacrimejamento. Caracteriza-se por paroxismos ultracurtos de dor unilateral, em pontada ou pulsátil, geralmente intensa, localizada na região orbitária, supra-orbitária e/ou temporal durando de 5 a 240 segundos (geralmente 15 a 120 s) e ocorrendo de três até 200 vezes por dia; o ritmo e a periodicidade podem ser variáveis; em associação deve ocorrer pelo menos um dos sintomas autonômicos ipsolaterais. Não responde bem ao tratamento e casos intratáveis podem requerer rizotomia do trigêmio. Hemicrania contínua Caracteriza-se por cefaléia diária, contínua, sempre unilateral sem mudança de lado, intensidade moderada com exacerbações para dor intensa e sem períodos de remissão. Também responde bem a indometacina. Ainda existem outros tantos tipos: Cefaléia hípnica (durante o sono); cefaleia em facadas ou do “furador de gelo” (pontada que dura alguns segundos); causadas por tosse, esforço físico e atividade sexual (elevação súbita da pressão intracraniana e/ou redução do retorno venoso do encéfalo); cefaléia em trovoada (simula ruptura de um aneurisma); cefaléia persistente e diária desde o início (origem obscura, pode estar relacionada com a infecção pelo vírus epstein-barr. Jenneph Félix - @jenneph Medicina UFPE CAA Cefaléias secundárias São inúmeras e podem estar associadas a eventos traumáticos (cefaléia que simula a tensional, mas é agravada por atividade física e esforço mental-pode ocorrer em traumatismos mais discretos que intensos), associadas a problemas vasculares (episódios isquêmicos transitórios e infartos cerebrais, hematomas intracranianos, arterite de células gigantes), associadas a anormalidades da pressão intracraniana (comumente de etiologia desconhecida), associadas a infecção (presença de infecção no sistema nervoso), cefaleia cervicogênica. Neuralgias cranianas Processos patológicos que podem estimular os nervos da cabeça e pescoço por compressão, tração, exposição ao frio ou lesão nas vias centrais podem desencadear dor. As dores podem ser persistentes, caracterizando dor neuropática convencional. Por vezes assumem caráter paroxístico em choques, pontadas ou agulhadas, sendo chamada de neuralgia. Apesar da confusão dos termos, convencionou-se chamar de neuralgia clássica aquela que se apresenta com sintomas clássicos, mesmo que sua causa seja descoberta posteriormente. Já o termo secundário ficou para outras lesões demonstráveis, como aquelas decorrentes de um tumor, angioma, etc. A mais comum é a neuralgia do trigêmio. Essa neuralgia apresenta-se com dor facial muito intensa, como em choque elétrico, nas áreas inervadas pelo quinto par craniano, principalmente pela raízes maxilar e mandibular. O transtorno é unilateral. Fonte: Google Imagens A fisiopatologia não é totalmente conhecida, mas em 90% dos casos existe a compressão da raiz do nervo, próximo a zona de entrada no tronco cerebral, sugerindo uma lesão desmielinizante focal que induziria as descargas. A dor pode ser desencadeada ao escovar os dentes, falar, mastigar, fumar, etc. A dor também pode desencadear um espasmo, por isso é também chamada de “tique doloroso”.A neuralgia é comum em idosos, a partir dos 50 anos, sendo mais comum em homens, sugerindo etiologia secundária quando abaixo disso e esclerose múltipla quando em mulheres. Obs.: O diagnóstico é clínico! Tratamento: as doses devem ser iniciadas baixas devido aos efeitos adversos. Para primeira escolha se utilizam anticonvulsivantes e bloqueadores dos canais de sódio. A carbamazepina é a primeira utilizada. Caso não haja controle, lançar mão de cirurgia. Referências GAGLIARDI, Rubens; TAKAYANAGUI, Osvaldo. Tratado de neurologia da Academia Brasileira de Neurologia. 2ª ed. São Paulo: Elsevier, 2019. MARTINS, Milton de A. et al. Clínica médica: doenças dos olhos, doenças dos ouvidos, nariz e garganta, neurologia, transtornos mentais: Volume 6. São Paulo: Manole, 2009.
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