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Fisiologia 1 Material de Produção Industrial Alexander Cascardo Carneiro 1ª e di çã o DIREÇÃO SUPERIOR Chanceler Joaquim de Oliveira Reitora Marlene Salgado de Oliveira Presidente da Mantenedora Wellington Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Planejamento e Finanças Wellington Salgado de Oliveira Pró-Reitor de Organização e Desenvolvimento Jefferson Salgado de Oliveira Pró-Reitor Administrativo Wallace Salgado de Oliveira Pró-Reitora Acadêmica Jaina dos Santos Mello Ferreira Pró-Reitor de Extensão Manuel de Souza Esteves DEPARTAMENTO DE ENSINO A DISTÂNCIA Gerência Nacional do EAD Bruno Mello Ferreira Gestor Acadêmico Diogo Pereira da Silva FICHA TÉCNICA Direção Editorial: Diogo Pereira da Silva e Patrícia Figueiredo Pereira Salgado Texto: Alexander Cascardo Carneiro Revisão Ortográfica: Rafael Dias de Carvalho Moraes Projeto Gráfico e Editoração: Antonia Machado, Eduardo Bordoni, Fabrício Ramos Supervisão de Materiais Instrucionais: Antonia Machado Ilustração: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos Capa: Eduardo Bordoni e Fabrício Ramos COORDENAÇÃO GERAL: Departamento de Ensino a Distância Rua Marechal Deodoro 217, Centro, Niterói, RJ, CEP 24020-420 www.universo.edu.br C289m Carneiro, Alexander Cascardo. Material de produção industrial / Alexander Cascardo Carneiro ; revisão de Rafael Dias de Carvalho Moraes. – 1. ed. – Niterói, RJ: UNIVERSO: Departamento de Ensino à Distância, 2019. 298 p. : il. 1. Engenharia de materiais. 2. Engenharia de produção. 3. Materiais. 4. Ciência dos materiais. 5. Processos de fabricação 6. Metais. 7. Materiais cerâmicos. 8. Polímeros (materiais). 9. Materiais compósitos. 10. Ensino à distância. I. Moraes, Rafael Dias de Carvalho. II. Título. CDD 620.11 Bibliotecária responsável: Elizabeth Franco Martins CRB 7/4990 Informamos que é de única e exclusiva responsabilidade do autor a originalidade desta obra, não se r esponsabilizando a ASOEC pelo conteúdo do texto formulado. © Departamento de Ensi no a Dist ância - Universidade Salgado de Oliveira Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, arquivada ou transmitida de nenhuma forma ou por nenhum meio sem permissão expressa e por escrito da Associação Salgado de Oliveira de Educação e Cultura, mantenedor a da Univer sidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO). Material de Produção Industrial Palavra da Reitora Acompanhando as necessidades de um mundo cada vez mais complexo, exigente e necessitado de aprendizagem contínua, a Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO) apresenta a UNIVERSO EAD, que reúne os diferentes segmentos do ensino a distância na universidade. Nosso programa foi desenvolvido segundo as diretrizes do MEC e baseado em experiências do gênero bem-sucedidas mundialmente. São inúmeras as vantagens de se estudar a distância e somente por meio dessa modalidade de ensino são sanadas as dificuldades de tempo e espaço presentes nos dias de hoje. O aluno tem a possibilidade de administrar seu próprio tempo e gerenciar seu estudo de acordo com sua disponibilidade, tornando-se responsável pela própria aprendizagem. O ensino a distância complementa os estudos presenciais à medida que permite que alunos e professores, fisicamente distanciados, possam estar a todo momento ligados por ferramentas de interação presentes na Internet através de nossa plataforma. Além disso, nosso material didático foi desenvolvido por professores especializados nessa modalidade de ensino, em que a clareza e objetividade são fundamentais para a perfeita compreensão dos conteúdos. A UNIVERSO tem uma história de sucesso no que diz respeito à educação a distância. Nossa experiência nos remete ao final da década de 80, com o bem- sucedido projeto Novo Saber. Hoje, oferece uma estrutura em constante processo de atualização, ampliando as possibilidades de acesso a cursos de atualização, graduação ou pós-graduação. Reafirmando seu compromisso com a excelência no ensino e compartilhando as novas tendências em educação, a UNIVERSO convida seu alunado a conhecer o programa e usufruir das vantagens que o estudar a distância proporciona. Seja bem-vindo à UNIVERSO EAD! Professora Marlene Salgado de Oliveira Reitora. Material de Produção Industrial 4 Material de Produção Industrial 5 Sumário Apresentação da disciplina ............................................................................................. 07 Plano da disciplina ............................................................................................................ 09 Unidade 1 – Os Materiais e sua essência...................................................................... 13 Unidade 2 – Classificação dos materiais e suas estruturas ...................................... 55 Unidade 3 – Materiais metálicos .................................................................................. 101 Unidade 4 – Materiais cerâmicos .................................................................................. 169 Unidade 5 – Materiais poliméricos ................................................................................ 203 Unidade 6 – Aplicação dos materiais ............................................................................ 241 Considerações finais ......................................................................................................... 288 Conhecendo o autor ......................................................................................................... 289 Referências .......................................................................................................................... 290 Anexos.................................................................................................................................. 291 Material de Produção Industrial 6 Material de Produção Industrial 7 Apresentação da disciplina Caro Leitor, A compreensão sobre a Ciência e Engenharia de Materiais começa com o entendimento sobre a relação entre estrutura, processamento, propriedades e desempenho. Para isso, é necessário recordarmos os conceitos sobre estrutura atômica e ligações químicas, até chegarmos às classificações dos materiais, suas propriedades e aplicações. Os estudos de química, de mecânica quântica e de arranjos atômicos nos mostram como os átomos formam um material, influenciando as suas propriedades físicas. Com isso estudaremos as células unitárias, que as unidades ordenadas que se repetem para formar uma estrutura cristalina. A partir daí estudaremos separadamente cada uma das classes de materiais: os metais, as cerâmicas e os polímeros. Veremos como as fases são distribuídas no material e como a sua forma pode influenciar as propriedades mecânicas do material. Por fim apresentaremos os materiais que são formados a partir de uma mistura inteligente de materiais, conhecidos como materiais compósitos, o qual possui propriedades específicas, aproveitando o melhor de cada material. Além disso, trataremos questões econômicas, sociais e ambientais, associadas à seleção de materiais e ao seu ciclo de vida. Que esse livro possa então servir como um manual para você, meu caro leitor, estimulando a sua busca por conhecimento e pela compreensão plena dos princípios de Material de Produção Industrial. Seu Professor, Alexander Cascardo Carneiro. Material de Produção Industrial 8 Material de Produção Industrial 9 Plano da Disciplina Prezado, Vamos iniciar os nossos estudos sobre a disciplina de Material de Produção Industrial a partir dos conceitos fundamentais sobre os materiais e sua essência. O conteúdo da disciplina fica dividido nas seguintes seis Unidades. Unidade 1 – Os Materiais e sua Essência Na primeira Unidade, vamos começar apresentandoo campo da Ciência e Engenharia de Materiais, a partir de diversos exemplos do mundo real. Em seguida, faremos uma introdução ao estudo do átomo. Objetivos da unidade: Compreender os conceitos mais importantes que definem a ciência e engenharia dos materiais. Conhecer as características dos materiais, seus tipos e como se formam. Entender as propriedades dos materiais. Introduzir os conceitos relacionados ao estudo do átomo e das ligações químicas. Unidade 2 – Classificação dos Materiais e suas Propriedades Na segunda Unidade, aprenderemos sobre as diferentes classificações dos materiais, suas propriedades e aplicações na Engenharia, além de suas estruturas. Objetivos da unidade: Conhecer as diferentes classificações dos materiais e suas principais características. Entender as propriedades e as aplicações dos materiais na Engenharia, considerando as questões de sustentabilidade e engenharia verde. Material de Produção Industrial 10 Aprender as estruturas dos materiais, seus arranjos e estruturas cristalinas. Unidade 3 – Materiais Metálicos Na terceira Unidade, estudaremos os conceitos básicos necessários para a compreensão sobre o comportamento e o desempenho dos metais. Além disso, aprenderemos sobre os seus diagramas de fases, seu processamento, os diversos tipos de ligas e os ensaios mecânicos. Objetivos da unidade: Aprender os conceitos básicos de imperfeições em sólidos e de difusão, os quais são necessários para a compreensão comportamento e do desempenho dos metais. Apresentar os diagramas de fase e sua relação com a produção dos metais. Estudar os diversos tipos de ligas e os ensaios mecânicos utilizados. Unidade 4 – Materiais Cerâmicos Na quarta Unidade, vamos estudar os conceitos relacionados aos materiais cerâmicos, incluindo o vidro e o concreto, assim como os principais métodos de processamento. Além disso, veremos algumas das propriedades mecânicas, térmicas, elétricas, magnéticas e ópticas dessa classe de materiais. Objetivos da unidade: Aprender sobre os conceitos relacionados às estruturas dos materiais cerâmicos. Estudar as diversas técnicas de processamento das cerâmicas. Apresentar as principais propriedades dos materiais cerâmicos. Material de Produção Industrial 11 Unidade 5 – Materiais Poliméricos Na quinta Unidade, estudaremos os principais conceitos relacionados aos materiais poliméricos, como a sua estrutura, a sua síntese, o seu processamento e as suas propriedades. Além disso, veremos as suas classificações em relação à temperatura, e como isso impacta no seu processamento e reciclagem. Objetivos da unidade: Estudar sobre a estrutura dos polímeros, a forma como eles são sintetizados, as suas classificações frente à temperatura e a alteração de suas propriedades por meio de aditivos. Entender os diversos processos de fabricação de polímeros, considerando as suas vantagens e desvantagens, e também questões ambientais, em especial sobre a reciclagem de polímeros. Conhecer as principais propriedades dos polímeros, incluindo as suas propriedades mecânicas, elétricas e ópticas. Unidade 6 – Aplicação dos Materiais Na sexta Unidade, iremos abordar sobre os principais conceitos relacionados aos materiais compósitos, incluindo as suas classificações e propriedades mecânicas. Em seguida, estudaremos alguns dos principais critérios para seleção de materiais, além dos aspectos econômicos sociais e ambientais na engenharia. Objetivos da unidade: Estudar sobre as principais características e classificações dos materiais compósitos, além da regra das misturas. Entender as principais propriedades mecânicas dos materiais compósitos, e suas diferenças em relação aos materiais não compósitos. Apresentar os critérios para seleção de materiais, incluindo os mapas de Ashby, alguns materiais avançados, e as questões econômicas, sociais e ambientais na engenharia. Material de Produção Industrial 12 Material de Produção Industrial 13 1 Os Materiais e sua Essência Material de Produção Industrial 14 Nesta Unidade, vamos começar apresentando o campo da Ciência e Engenharia de Materiais, a partir de diversos exemplos do mundo real. Em seguida, faremos uma introdução ao estudo do átomo. Objetivos da unidade: Compreender os conceitos mais importantes que definem a ciência e engenharia dos materiais; Conhecer as características dos materiais, seus tipos e como se formam. Entender as propriedades dos materiais; Introduzir os conceitos relacionados ao estudo do átomo e das ligações químicas. Plano da unidade: Definição e tipos de materiais Átomos e materiais Ligações químicas Bons estudos! Material de Produção Industrial 15 Definição e tipos de materiais Podemos entender a evolução dos povos ao longo da história humana ao observarmos as influências dos materiais na vida e na cultura da sociedade. Já na Antiguidade, a descoberta de técnicas de manipulação e de novos materiais para adequar-se às necessidades cotidianas, ditaram o progresso da sociedade. Essa importância dos materiais fica evidente quando observarmos as designações das sociedades antigas, como “Idade da Pedra”, “Idade do Bronze”, “Idade do Ferro”. Isso se deve ao fato de o desenvolvimento desses materiais terem sido marcantes no desenvolvimento da época. Os primeiros seres humanos tinham acesso apenas a um conjunto limitado de materiais, os quais ocorriam naturalmente, como pedra, madeira, peles, argila e etc. Com o tempo, eles evoluíram dos materiais da Idade da Pedra para as subsequentes Idades do Ferro e do Cobre (Bronze). Mais tarde, a descoberta de técnicas para a produção de materiais superiores aos naturais determinou o desenvolvimento das cerâmicas e de vários metais. A utilização do tratamento térmico e adição de outros constituintes para a alteração das propriedades dos materiais, também foi uma descoberta importante. Naquela época, a utilização dos materiais ainda era um processo bastante seletivo, uma vez que envolvia escolher o material mais adequado para uma dada aplicação a partir de um conjunto muito limitado de materiais. Foi apenas em tempos mais modernos que passamos a entender as relações entre as propriedades dos materiais e seus elementos estruturais, permitindo a nós “moldar” as características dos materiais. Assim, desenvolveram-se dezenas de milhares de novos materiais, com características específicas, capazes de atender às necessidades da sociedade moderna. A Figura 1 apresenta um resumo da importância relativa de cada material ao longo da história. Material de Produção Industrial 16 Figura 1: Evolução da importância relativa dos materiais ao longo da história. Fonte: https://ctborracha.com/?page_id=442 Nesse ponto, podemos definir a Ciência e Engenharia de Materiais como “um campo interdisciplinar que estuda e manipula a composição e a estrutura de materiais utilizando escalas de proporção, a fim de controlar as propriedades dos materiais através da síntese e do processamento”. A composição é a constituição química do material. A estrutura é a descrição detalhada do arranjo de átomos. A síntese é o modo como os materiais são feitos (a partir de quais substâncias químicas naturais ou produzidas pelo homem). O processamento é a forma como os materiais são transformados em componentes úteis (com propriedades adequadas). Portanto, os cientistas e engenheiros de materiais não lidam apenas com o desenvolvimento de materiais, mas também com a sua síntese e seu processamento, além de os processos de fabricação referentes a ̀ produção de componentes. É importante observar que uma das principais funções dos cientistas e engenheiros de materiais é estabelecer uma correlação entre as propriedades de um material ou dispositivo com o seu desempenho,com sua microestrutura, com Material de Produção Industrial 17 sua composição e com o modo como foi sintetizado e processado. A diferença fundamental entre os cientistas e os engenheiros de materiais é que, enquanto a ciência de materiais se concentra nos fundamentos científicos da correlação entre síntese e processamento, microestrutura e propriedades dos materiais (ou seja, estuda as relações existentes entre a estrutura e as propriedades dos materiais, tendo como objetivo a geração de conhecimento básico para estabelecer os conceitos e as teorias que permitam relacionar a estrutura dos materiais com suas propriedades e comportamentos), a engenharia de materiais desenvolve os modos de converter ou transformar materiais em dispositivos ou estruturas úteis (ela busca um conjunto predefinido de propriedades estruturais que sejam adequadas a uma determinada aplicação, ou bens acabados). A Figura 2 resume essa diferença. Figura 2: Espectro do conhecimento sobre materiais. Fonte: SMITH et al, 2012. Uma das atividades mais importantes da economia moderna é a “produção e transformação de materiais em bens acabados”. Para que um produto seja “manufaturado” é preciso de uma etapa de “planejamento de seu processo de produção”, na qual são selecionados diversos materiais, em função dos custos e das necessidades técnicas exigidas. Para a elaboração dessa etapa, é necessário conhecimento sobre as estruturas internas dos materiais (o conhecimento dos materiais a um nível submicroscópico permite a previsão do comportamento desse material em operação, além de possibilitar a programação e o controle de suas características e propriedades). Material de Produção Industrial 18 Portanto, a Ciência e Engenharia de Materiais é um ramo do conhecimento que tem como objetivo a geração e o emprego de conceitos envolvendo a composição química, o arranjo atômico e o processamento de materiais com suas características e empregos. Dessa forma, a Ciência e Engenharia de Materiais permite que cientistas e engenheiros façam escolhas baseadas no projeto, na seleção e no uso de materiais para atender aplicações específicas. Segundo NEWELL (2018), existem quatro doutrinas fundamentais para guiar o estudo da Ciência e Engenharia de Materiais: 1. Os princípios que governam o comportamento dos materiais são baseados na ciência e são compreensíveis; 2. As propriedades de um dado material são determinadas por sua estrutura. O processamento pode modificar a estrutura de maneiras específicas e previsíveis; 3. As propriedades de todos os materiais variam ao longo do tempo devido ao uso e à exposição às condições ambientais. 4. Ao se selecionar um material para uma aplicação específica devem ser realizados testes apropriados e em número suficiente, para garantir que o material permanecerá apto à aplicação desejada por toda a vida esperada do produto. Ainda segundo NEWELL (2018), um cientista ou um engenheiro de materiais deve: Entender as propriedades associadas com as várias classes de materiais; Conhecer por que essas propriedades existem e como elas podem ser alteradas para tornar um material mais apropriado para uma determinada aplicação; Ser capaz de medir propriedades importantes dos materiais e avaliar como essas propriedades irão afetar o desempenho; Avaliar as considerações econômicas que, em última análise, governam a maioria das questões relacionadas aos materiais; Considerar os efeitos de longa duração sobre o meio ambiente ao usar um material. Material de Produção Industrial 19 A tomada de decisão embasada no projeto ou na seleção de um material começa com o conhecimento sobre as propriedades mais importantes do material para a aplicação específica. É importante observar que essa lista de propriedades desejadas pode se tornar tão mais longa ou mais complexa conforme as necessidades do produto evoluem. A propriedade é uma característica de um dado material, em termos do tipo e da magnitude da sua resposta a um estímulo específico que lhe é imposto (ou seja, as propriedades estão relacionadas com o comportamento do material quando submetido a algum estímulo ou esforço específico). As propriedades são parâmetros fundamentais para a escolha de certo material para dada aplicação. Dessa forma, o conhecimento sobre as propriedades básicas dos materiais, e como elas se relacionam com a forma como os átomos estão organizados, é fundamental para a tomada de decisão adequada sobre a seleção de materiais. Nesse aspecto, se faz interessante classificar as propriedades em categorias, envolvendo os principais campos de aplicação da engenharia. De forma geral, podemos classificar os materiais sólidos nas seguintes seis categorias: 1. Propriedades Mecânicas: relacionam o comportamento do material quando submetido a esforços mecânicos (“habilidade” do material resistir a forças mecânicas). A tensão é a força por unidade de área (força dividido pela área na qual atua). Como efeito da tensão tem-se a deformação (em geral, expressamos o comprimento deformado como uma porcentagem do comprimento original). A deformação pode ser elástica (é reversível, isto é, desaparece quando a tensão é removida, sendo praticamente proporcional à tensão aplicada) ou plástica (é irreversível, isto é, a deformação é permanente, ocorrendo quando se excedem os limites de deformação elástica). Enquanto a deformação plástica é o resultado do deslocamento permanente dos átomos que constituem o material, na deformação elástica os átomos mantêm suas posições relativas. São propriedades mecânicas: 1.1. Módulo de Elasticidade (Módulo de Young): é a razão entre a tensão aplicada e a deformação elástica resultante, estando relacionado com a rigidez do material. Material de Produção Industrial 20 1.2. Ductilidade: é a deformação plástica total, até o ponto de ruptura do material. Seu valor pode ser expresso como alongamento nas mesmas unidades de deformação. Uma segunda medida de ductilidade é chamada de estrição, que consiste na redução da área da seção transversal do corpo no instante imediatamente anterior à ruptura. Materiais altamente dúcteis sofrem grande redução na área da seção transversal antes da ruptura. A estrição é um índice expresso em termos de porcentagem e é calculado como (área inicial menos área final) dividido pela área inicial. 1.3. Resistência Mecânica: O limite de resistência à tração de um material é calculado como a carga máxima suportada pelo material dividida pela área de sua seção transversal inicial. Esse limite é expresso em unidades de tensão. É importante observar que o limite de resistência é calculado em relação à área inicial. Essa observação é importante particularmente para os materiais dúcteis, pois estes sofrem uma redução da área quando solicitados pela carga máxima. Apesar de a tensão verdadeira solicitada pelo material ser calculada considerando-se a área real, a tensão tal como definida anteriormente – tensão é a força por unidade de área (força dividida pela área na qual atua) – é mais importante para o engenheiro, tendo em vista que os projetos devem ser realizados com base nas dimensões iniciais. 1.4. Fluência: são deformações plásticas permanentes sofridas pelo material quando este é submetido a tensões constantes (inferiores ao limite de ruptura) por longos períodos de tempo. 1.5. Dureza: é a resistência da superfície do material à penetração. É importante destacar que a dureza e a resistência à tração estão intimamente relacionadas. 1.6. Tenacidade: é a medida de energia necessária para romper o material. É diferente da resistência à tração (que é a medida da tensão necessária para romper o material). Um material dúctil, por exemplo, com mesma resistência de um material frágil requer maior energia para ser rompido e, portanto, é mais tenaz. Material deProdução Industrial 21 2. Propriedades Elétricas: são os parâmetros que descrevem a resposta do material a estímulos de campo elétrico. As propriedades elétricas mais conhecidas dos materiais são a resistividade e a condutividade. São propriedades elétricas: 2.1. Resistividade elétrica: a resistividade mede a “dificuldade” de os elétrons se movimentarem no material. Materiais com baixa resistividade elétrica, como o cobre, são ótimos condutores, enquanto materiais com elevada resistividade, como a borracha, são ótimos isolantes (dielétricos ou não condutores). 2.2. Condutividade elétrica: é o inverso da resistividade (1 dividido pela resistividade). Portanto mede a “facilidade” com que os elétrons se movimentam no material. É importante observar que se um material dielétrico for utilizado como isolante elétrico, deve-se considerar a sua rigidez dielétrica. 2.3. Rigidez dielétrica: é o valor limite de campo elétrico que pode ser aplicado sobre o material, a partir do qual ele deixa de atuar como isolante (passa a funcionar como condutor). O raio, por exemplo, é um fenômeno de ruptura da rigidez dielétrica do ar. Isso significa que até mesmo o melhor dos isolantes, quando submetido a um campo elétrico acima do seu limite de rigidez dielétrica, conduzirá eletricidade (deixará de agir como isolante). 3. Propriedades Térmicas: são as propriedades do material que definem sua relação com a energia térmica e sua temperatura. Devemos destacar a diferença entre temperatura (que é o nível de atividade térmica do material, estando associada ao movimento dos elétrons) e o calor, que é a energia térmica. São propriedades térmicas: 3.1. Condutividade térmica: é a capacidade do material em conduzir calor; 3.2. Pontos de fusão e de ebulição também são propriedades importantes, pois correspondem à transição entre diferentes arranjos estruturais dos átomos no material; Material de Produção Industrial 22 3.3. Calor específico: é definido como a razão entre a capacidade térmica do material e a da água; 3.4. Capacidade térmica: determina a razão entre a quantidade de calor fornecida ao material e a variação de sua temperatura; 3.5. Dilatação térmica: é a deformação do material devido à variação da temperatura. 4. Propriedades Químicas ou Deteriorativas: se refere à reatividade química do material. Quase todos os materiais utilizados pelos engenheiros são suscetíveis de corrosão por ataque químico. Em alguns materiais, a solubilização é importante. Em outros, o efeito da oxidação direta de um metal ou de um material orgânico, como a borracha, é o mais importante. A resistência do material à corrosão química, devido ao meio ambiente, também pode ser a propriedade mais importante. 5. Propriedades Magnéticas: é a resposta do material ao ser submetido a um campo magnético. São exemplos de propriedades magnéticas a susceptibilidade magnética e a permeabilidade magnética. Os materiais, em qualquer estado físico, possuem propriedades magnéticas e podem ser classificadas em uma das seguintes categorias: 5.1. Diamagnéticos: são materiais que, quando colocados na presença de um campo magnético externo, estabelecem um campo magnético em seus átomos com sentido contrário ao que foi submetido, e que desaparece assim que o campo magnético externo é removido. Por conta disso, esse tipo de material não é atraído por ímãs. São exemplos: bismuto, chumbo, mercúrio, ouro, prata etc. 5.2. Paramagnéticos: são os materiais que possuem elétrons desemparelhados, que, ao serem submetidos a um campo magnético externo, ficam alinhados no mesmo sentido do campo ao qual foram submetidos, o qual desaparece assim que o campo magnético externo é retirado. São materiais fracamente atraídos pelos ímãs, como: alumínio, cálcio, sódio, magnésio etc. Material de Produção Industrial 23 5.3. Ferromagnéticos: são os materiais que, quando submetidos a um campo magnético externo, adquirem campo magnético no mesmo sentido do campo ao qual foram submetidos, e que permanece quando o campo magnético externo é removido. É como se possuíssem uma “memória magnética”. Eles são fortemente atraídos pelos ímãs, e esse comportamento é observado em poucas substâncias, entre elas estão: ferro, cobalto, níquel e alguns de seus compostos. 6. Propriedades Ópticas: é a resposta do material em relação à incidência de luz (estímulo eletromagnético ou irradiação de luz). Alguns exemplos de propriedades ópticas são o índice de refração, a absorção, a transmitância e a refletividade do material. Naturalmente, além da estrutura e das propriedades dos materiais, a Ciência e Engenharia de Materiais considera também o processamento e o desempenho dos materiais como fatores fundamentais para a sua seleção e aplicação. Esses quatro fatores andam juntos, uma vez que a estrutura de um material dependerá de como ele é processado; e o desempenho de um material é função de suas propriedades. Assim, temos o princípio conhecido como processamento-estrutura-propriedades- desempenho, mostrado na Figura 3: Figura 3: Os quatro componentes da Ciência e Engenharia de Materiais e seu inter- relacionamento. Fonte: CALLISTER JR. et al, 2018. Nas próximas seções, tenha sempre em mente as relações existentes entre esses quatro componentes em termos de projeto, de produção e de utilização dos materiais. Nesse ponto, devemos refletir sobre a importância de estudarmos a Ciência e a Engenharia de Materiais. É importante observar que a busca por uma boa relação entre o custo e a durabilidade dos processos e bens de consumo é um dos objetivos dos cientistas e engenheiros que lidam com os materiais e suas aplicações. Esses profissionais precisam avaliar e decidir pela seleção de materiais apropriados a uma determinada situação. A questão é: como fazê-lo sem conhecer os tipos, as propriedades, os processos de fabricação e desempenho esperado de um material? Em geral, para que o material mais adequado seja selecionado, o primeiro fator a ser considerado na seleção são as propriedades requeridas do Material de Produção Industrial 24 material. Vale destacar que, apesar de termos uma vasta gama de materiais disponíveis, não podemos assegurar que todas as propriedades requeridas serão encontradas em um único material. Nesse caso, é possível que necessitemos decidir pelas características mais importantes, ou então buscar uma boa relação entre elas. O segundo fator a ser considerado na seleção é a perda das propriedades do material durante a sua utilização. Processos corrosivos ou de desgaste podem levar à perda da resistência mecânica do material. O terceiro fator a ser considerado é o custo, uma vez que reunir todas as características em um único material pode tornar a sua utilização economicamente inviável. Além desses fatores, devemos considerar a disponibilidade dos materiais e as suas limitações sociais e ambientais. Devemos avaliar uma boa relação entre os custos e as propriedades. Portanto, devemos conhecer as características, as correlações ente estrutura e propriedades, além dos processos de fabricação dos materiais, para permitir a seleção de materiais de modo apropriado. Para isso, iremos abordar sobre os principais tipos de materiais, suas propriedades, as técnicas de processamento, aplicações, bem como as considerações sociais e ambientais de sua seleção. Átomos e materiais Para entender as classificações dos materiais disponíveis na engenharia precisamos entender a natureza de suas ligações atômicas, pois cada tipo de material está associado a um ou mais tipos de ligações. São as ligações químicas que fazem com que “um amontoado de átomos permaneça unido”. Com isso, temos que considerar a estrutura do átomo para entender os fatores que governam as propriedades do material. Por exemplo, se um material for tensionado, é a força de atração entre os átomosque resiste à tensão e controla a deformação e a fragmentação do material (ou seja, são as ligações químicas que definem essa propriedade mecânica). A condutividade elétrica resulta da mobilidade dos elétrons que estão associados aos átomos do material. A oxidação dos metais é causada pela difusão de átomos metálicos (ou de oxigênio) através da superfície, a fim de formar o óxido. Logo, algumas das propriedades importantes dos materiais sólidos dependem dos arranjos geométricos dos átomos e também das interações que existem entre os seus átomos ou moléculas constituintes. Material de Produção Industrial 25 Antes de tudo, precisamos estudar como é o átomo. Cada átomo consiste em um núcleo muito pequeno, composto por prótons e nêutrons, e está envolto por elétrons em movimento. Tanto os elétrons quanto os prótons possuem cargas elétricas, cuja magnitude é de 1,602 × 10–19 C. A carga dos elétrons possui sinal negativo, enquanto a carga dos prótons possui sinal positivo; os nêutrons são eletricamente neutros. As massas dessas partículas subatômicas são extremamente pequenas; os prótons e nêutrons possuem aproximadamente a mesma massa, de 1,67 × 10–27 kg, que é significativamente maior que a massa de um elétron, de 9,11 × 10–31 kg (a massa do próton é cerca de 1840 vezes maior do que a massa do elétron). A Tabela 1 resume esses dados. Tabela 1: Massa, carga e unidade de carga de prótons, nêutrons e elétrons. Fonte: SMITH et al, 2012. Cada elemento químico é caracterizado pelo número de prótons no seu núcleo, ou seu número atômico (Z). Para um átomo eletricamente neutro ou completo, o número atômico também é igual ao número de elétrons (uma vez que os átomos são eletricamente neutros, eles devem possuir o mesmo número de elétrons e de prótons.). Esse número atômico varia em unidades inteiras entre 1, para o hidrogênio, e 92, para o urânio, que é o elemento com o maior número atômico entre os que ocorrem naturalmente. Dessa forma, o átomo de ferro, que contém 26 prótons, tem o número atômico 26. O átomo como um todo é eletricamente neutro porque o número de prótons é igual ao de elétrons (então um átomo de ferro deve conter 26 elétrons). Temos um íon, quando o átomo é carregado. Íons carregados positivamente são chamados de cátions (ou íons Material de Produção Industrial 26 positivos), por exemplo, Fe2+ (significa que o íon de ferro possui 2 prótons a mais do que elétrons – como os elétrons são mais “facilmente removidos” do átomo, isso significa que esse átomo de ferro perdeu 2 elétrons, ou seja, significa que esse íon possui 24 elétrons). Íons carregados negativamente são chamados de ânions (ou íons negativos), por exemplo, O3- (o número atômico do átomo de oxigênio é 8, isso significa que esse íon de oxigênio ganhou 3 elétrons, ou seja, ele possui 11 elétrons). Logo, quando o átomo perde elétrons ele se torna um íon positivo e quando ele ganha elétrons ele se torna um íon negativo. A tabela periódica, mostrada na Figura 4, foi um grande avanço para o estudo sistemático da química. Nela, os elementos estão organizados em função dos seus números atômicos, agrupados por grupos, baseados em suas configurações eletrônicas. Em geral, os elementos de um determinado grupo possuem estrutura e propriedades físicas e químicas semelhantes. Essa periodicidade também fica evidente quando consideramos as propriedades elétricas, magnéticas e mecânicas dos materiais. Material de Produção Industrial 27 Figura 4: Tabela periódica atualizada mostrando os sete períodos, oito grupos principais de elementos, elementos de transição e elementos de transição interna. Observar que a maioria dos elementos é classificada como metais ou metaloides. Fonte: SMITH et al, 2012. Material de Produção Industrial 28 No estudo atômico, devemos considerar os conceitos descritos pela mecânica quântica. Um dos precursores da mecânica quântica foi o modelo atômico de Bohr, no qual se considera que os elétrons circulam ao redor do núcleo atômico em orbitais discretos (com valores exatos), e a posição de qualquer elétron particular está mais ou menos bem definida em termos do seu orbital. Esse modelo do átomo está representado na Figura 5. Figura 5: Representação esquemática do átomo de Bohr. Fonte: CALLISTER JR. et al, 2018. Outro importante princípio da mecânica quântica estipula que as energias dos elétrons são quantizadas; isto é, aos elétrons só são permitidos valores de energia específicos. Dessa forma, a energia de um elétron pode mudar, mas para fazê-lo o elétron deve realizar um salto quântico para um nível de energia permitido mais elevado (com a absorção de energia), como mostrado na Figura 6 (a) ou para um nível de energia permitido mais baixo (com a emissão de energia, normalmente na forma de fóton, isto é, de luz), como mostrado na Figura 6 (b). Material de Produção Industrial 29 Figura 6: (a) O elétron de hidrogênio sendo excitado para uma órbita mais alta. (b) Um elétron de hidrogênio em uma órbita mais alta descendo para uma órbita mais baixa, resultando na emissão de um fóton de energia h ν, em que h é a constante de Planck (aproximadamente 6,62607004 × 10-34 m2 kg / s) e ν (lê-se ni) é a frequência de oscilação do fóton. Fonte: SMITH et al, 2012. É bastante conveniente pensarmos nessas energias eletrônicas permitidas como estando associadas a níveis ou estados de energia. É importante observar que esses estados (ou níveis) não variam de uma forma contínua com a energia; isto é, os estados adjacentes estão separados por quantidades de energias finitas (os elétrons só possuem um número finito de estados (ou níveis) que podem alcançar). Dessa forma, o modelo de Bohr representa um modelo bastante simples para descrever os elétrons nos átomos, em termos tanto da posição (orbitais eletrônicos) quanto da energia (níveis de energia quantizados). Segundo CALLISTER JR. et al (2018) esse modelo de Bohr foi considerado como possuindo algumas limitações significativas, em razão de sua incapacidade em explicar diversos fenômenos que envolvem os elétrons. Daí surgiu uma solução com um modelo mecânico-ondulatório, no qual o elétron é visto com características tanto de uma onda como de uma partícula. Com esse modelo, um elétron não é mais tratado como uma partícula que se move em um orbital discreto (ou seja, fixo); em lugar disso, a posição do elétron é analisada como a probabilidade de um elétron estar em vários locais ao redor do núcleo. Em outras Material de Produção Industrial 30 palavras, a posição é descrita por uma distribuição de probabilidades, ou uma nuvem eletrônica. A Figura 7 compara os modelos de (a) Bohr e (b) mecânico- ondulatório para o átomo de hidrogênio. Figura 7: Comparação entre os modelos atômicos de (a) Bohr e (b) mecânico- ondulatório em termos da distribuição eletrônica. Fonte: CALLISTER JR. et al, 2018. Note que no modelo de Bohr, a probabilidade de o elétron estar naquela posição orbital é de 100% (é certa), enquanto no modelo mecânico-ondulatório existe uma probabilidade associada à posição do elétron (a maior probabilidade ocorre para aquela posição prevista pelo modelo de Bohr, porém existe uma probabilidade do o elétron estar em outros locais ao redor do núcleo). Considerando o modelo mecânico-ondulatório, cada elétron em um átomo é caracterizado por quatro parâmetros conhecidos como números quânticos. O tamanho, a forma e a orientação espacial da densidade de probabilidade de um Material de Produção Industrial 31 elétron são especificados por três desses números quânticos. Além disso, os níveis energéticos de Bohr se separam em subcamadas eletrônicas, e os números quânticos definem o número de estados em cada subcamada. As camadas são especificadas por um número quântico principal, n, que pode assumir valores inteirosa partir da unidade; algumas vezes essas camadas são designadas pelas letras K, L, M, N, O, e assim por diante, que correspondem, respectivamente, a n = 1, 2, 3, 4, 5, ... Deve ser observado ainda que o número quântico principal, e somente ele, se associa também ao modelo de Bohr (é o mesmo considerado no modelo de Bohr). O número quântico principal está relacionado com o tamanho de um orbital eletrônico (sua distância média até o núcleo). Assim, o estado de energia que cada elétron possui fica identificado pelos quatro números quânticos, que são: número quântico principal n, número quântico azimutal ou secundário l, número quântico orbital magnético ml e número quântico de spin do elétron ms. O número quântico principal reflete o agrupamento de elétrons em níveis de energia conhecidos como camadas (n = 1, 2, 3, 4, 5, ...). Os números quânticos azimutais descrevem os níveis de energia dentro de cada camada e refletem outro agrupamento de níveis de energia similares, geralmente denominados orbitais (ou subcamadas – cada subcamada é designada por uma letra minúscula: s, p, d ou f). O número quântico magnético especifica os orbitais associados a um número quântico azimutal particular dentro de cada camada (podendo assumir valores entre -l e +l). Por fim, o número quântico de spin (ms) recebe os valores +1/2 (spin ou rotação orientada para cima) e –1/2 (spin ou rotação orientada para baixo), que refletem os dois possíveis valores de “spin” de um elétron (também chamado de momento de spin ou momento de rotação). O mais importante dos quatro números quânticos é o número quântico principal, o qual define a energia do átomo. De acordo com o Princípio de Exclusão de Pauli, dentro de cada átomo, dois elétrons nunca podem ter os mesmos quatro números quânticos, portanto, cada elétron é designado por um conjunto único de quatro números quânticos. O número de níveis de energia possíveis é determinado pelos três primeiros números quânticos. Isso significa que cada estado eletrônico pode comportar um número máximo de dois elétrons, os quais devem possuir spins opostos. Material de Produção Industrial 32 A validação experimental dos níveis e subníveis eletrônicos foi realizada a partir de dados de espectroscopia, dos quais concluiu-se a necessidade de um quantum de energia para mover um elétron de um nível de energia para outro de maior energia. Inversamente, um quantum de energia é liberado (um fóton é liberado) quando um elétron decai de um nível de maior energia para outro de menor energia. Essa energia E do fóton é calculada conhecendo-se o comprimento de onda λ (lê-se lambda) do fóton, como mostrado na equação a seguir: E = h c / λ = h ν Em que h é a constante de Planck (aproximadamente 6,62607004 × 10-34 m2 kg / s) e c é a velocidade da luz (aproximadamente 3 x 108 m / s). A frequência de radiação (ou de oscilação) da luz é c / λ = ν. É importante observar que cada elemento apresenta um diferente conjunto desses níveis de energia, portanto as diferenças entre eles também são únicas. Tanto os níveis de energia como as diferenças entre eles são conhecidos com grande precisão para cada elemento, formando a base para muitos tipos de espectroscopia (são métodos de análise de substâncias baseados nos seus espectros de absorção e emissão – pois cada elemento possui seu próprio espectro de emissão e absorção). Utilizando-se um método espectroscópico, a identidade de elementos em uma amostra pode ser determinada (quais substâncias estão presentes nessa amostra?). Como aprendemos no início dessa seção, os átomos são eletricamente neutros (possuem o mesmo número de prótons e elétrons), mas isso não significa que eles sejam “estáveis” (com exceção dos gases nobres). De forma geral, quando um átomo “não estável” se aproxima de outro também “não estável” ocorre uma interação entre as eletrosferas de ambos. Esta interação pode ocorrer de várias formas: compartilhamento de elétrons, troca de elétrons ou “socialização” de elétrons dos átomos “em contato”. Esta interação produz uma força que faz com que os átomos permaneçam unidos, que é a “força de ligação química” (ou simplesmente ligação química). Com esta força atuando, os átomos ficam unidos e para separá-los é necessário ceder uma força maior que a da ligação química. Material de Produção Industrial 33 Ligações Químicas Como agem as ligações químicas? Existe uma força que faz os átomos se atraírem agrupando-os (semelhante a um ímã, no qual o polo negativo de um ímã é atraído pelo polo positivo de outro). Lembre-se que cargas opostas se atraem! E é justamente o que ocorre no caso das ligações químicas. Os átomos quando próximos de outros modificam o equilíbrio das suas cargas elétricas fazendo com que um átomo fique “grudado” em outro devido à atração de cargas. Esta força é conhecida como força de ligação química, ou simplesmente ligação química. Na Engenharia, a maior parte dos materiais está no estado sólido ou líquido, dependendo da atração que mantém os átomos unidos nesse estado. Para entender a importância de se estudar essas atrações, considere um pedaço de fio de cobre. Em condições usuais, as forças de atração que mantêm os átomos unidos são fortes. Se tal não ocorresse, os átomos seriam facilmente separados, o metal se deformaria sob pequenas solicitações e as vibrações atômicas associadas à energia térmica provocariam a gaseificação dos átomos em temperaturas mais baixas. Assim, tal qual esse fio de cobre, as propriedades de qualquer material dependem das forças interatômicas presentes. De fato, o comportamento e as características de um átomo (tamanho atômico, energia de ionização e afinidade eletrônica, por exemplo) dependem da sua estrutura eletrônica e das forças de atração entre o núcleo e os elétrons (assim como da existência das forças de repulsão entre estes). De forma análoga, o comportamento e as propriedades de uma substância também dependem do tipo e da intensidade das ligações entre os átomos que a compõem. Como dito anteriormente, com exceção dos gases nobres, é raro encontrarmos na natureza átomos isolados, pois, apesar de apresentarem o mesmo número de prótons e elétrons (serem eletricamente neutros), não possuem os estados dentro da camada eletrônica mais externa (chamados de elétrons de valência) completamente preenchidos. Com isso, os átomos precisam fazer algum tipo de associação com outros átomos buscando essa estabilidade. Tal associação acaba por produzir algum tipo de instabilidade de cargas elétricas, resultando na atração entre os átomos envolvidos (que é justamente o que chamados de ligação químicas). Material de Produção Industrial 34 As ligações químicas podem ser divididas em ligações primárias ou secundárias, dependendo da sua intensidade. As ligações primárias são cerca de dez vezes mais fortes do que as secundárias, com energia de ligação da ordem de 100 kcal/mol. As ligações primárias envolvem a transferência ou o compartilhamento de elétrons no orbital externo, resultando em uma junção entre os átomos adjacentes. Na categoria de ligação primária estão: 1. Ligações iônicas. 2. Ligações metálicas. 3. Ligações covalentes. As ligações secundárias são as ligações de van der Waals, com origem em mecanismos diferentes e relativamente mais fracas. Vamos analisar cada um dos tipos de ligação a seguir. Ligações iônicas: Nas ligações iônicas, um ou mais elétrons são transferidos de um átomo eletropositivo (menos “ávido” por elétrons) para outro mais eletronegativo (“sedento” por elétrons). É o resultado da atração entre íons negativos (ou ânions) e positivos (ou cátions). Assim, a força de ligação existe, pois um átomo ao ceder elétrons fica mais positivo e o outro átomo ao receber elétrons fica mais negativo, fazendo com que os átomos fiquem eletricamente desbalanceados. A ligação iônica ocorre devido à atraçãoentre o íon negativo ou ânion (átomo que recebeu elétrons) e o íon positivo ou cátion (átomo que doou elétrons). A ligação iônica é encontrada sempre nos compostos cuja composição envolve tanto elementos metálicos quanto não metálicos (ou seja, elementos que estão localizados nas extremidades horizontais da tabela periódica). Isso ocorre, pois a diferença na eletronegatividade é muito elevada entre esses átomos, favorecendo a ligação iônica. Dessa forma, os átomos de um elemento metálico perdem com facilidade seus elétrons de valência para os átomos de elementos não metálicos. O cloreto de sódio (NaCl) é o material iônico clássico. A ligação iônica entre átomos de sódio e de cloro é ilustrada na Figura 8. Material de Produção Industrial 35 Figura 8: Ligação iônica entre átomos de sódio (Na) e cloro (Cl) Fonte: SHACKELFORD, 2008. Observe que a transferência de elétrons do Na para o Cl cria um cátion (Na+) e um ânion (Cl–). Com isso, a ligação iônica se deve à atração elétrica (força de atração de Coulomb) entre os íons de cargas opostas. É importante observar que a ligação iônica é não direcional (ou seja, a intensidade da ligação é igual em todas as direções ao redor do íon), como mostra a Figura 9. Isso significa que o cátion Na+ atrairá qualquer ânion Cl– que estiver na vizinhança, maximizando a quantidade de ânions para formar o “sal de cozinha” (que no caso dessa molécula são seis ânions). Material de Produção Industrial 36 Figura 9: Empilhamento regular de íons Na+ e Cl– no cloreto de sódio, indicando a natureza não direcional da ligação. Fonte: SHACKELFORD, 2008. É importante observar que uma carga negativa é atraída por todas as cargas positivas e uma carga positiva é atraída por todas as cargas negativas. Com isso, os íons de sódio (cargas positivas) ficam envolvidos por íons de cloreto, e os íons de cloreto (cargas negativas) ficam envolvidos por íons de sódio, sendo a atração igual em todas as direções (tornando a ligação não direcional). Ligações covalentes: As ligações covalentes ocorrem quando um ou mais elétrons são compartilhados entre dois átomos, gerando uma força de atração entre aqueles que participam da ligação. Dois átomos que estão ligados de maneira covalente vão contribuir, cada um, com pelo menos um elétron para a ligação, e os elétrons compartilhados podem ser considerados como pertencentes a ambos os átomos. Este compartilhamento é muito comum nas moléculas orgânicas. Diferentemente das ligações iônicas, as ligações covalentes são direcionais, em geral resultando em um ângulo de ligação. Material de Produção Industrial 37 A ligação covalente é encontrada em materiais cujos átomos têm pequenas diferenças em suas eletronegatividades (ou seja, que estão localizados próximos um do outro na tabela periódica) e, sobretudo, entre não metais. As ligações covalentes são o tipo mais comum de ligação na natureza, abrangendo desde o hidrogênio diatômico aos materiais biológicos e macromoléculas sintéticas. Além disso, esse tipo de ligação pode responder por uma parte das ligações totais em materiais iônicos e metálicos (também pode estar presente). Assim como as ligações iônicas, as ligações covalentes são ligações muito fortes. Quando a ligação envolve uma combinação de dois átomos idênticos, como no caso da molécula de H2 e de N2, os pares de elétrons são igualmente compartilhados, resultando em uma ligação apolar (nesse caso, os dois lados da molécula são idênticos, resultando em uma diferença de eletronegatividade nula – ou seja, não existe diferença de eletronegatividade, que também pode ser chamada de polaridade). Já no caso da molécula de H2O, a transferência de carga é parcial, o que torna o hidrogênio levemente positivo em relação ao oxigênio (levemente negativo), resultando em uma ligação polar (ou seja, com diferença de eletronegatividade, ou polaridade). A Figura 10 ilustra uma ligação covalente para formar o gás cloro (Cl2) representada através de (a) um modelo planetário e (b) a densidade de elétrons real, concentrada ao longo de uma linha reta entre os núcleos de Cl. Figura 10: Ligação covalente em uma molécula de gás cloro (Cl2) através de (a) um modelo planetário e (b) densidade de elétrons real. Fonte: SHACKELFORD, 2008. Material de Produção Industrial 38 Vamos considerar agora um átomo de silício, o qual possui uma valência igual a quatro (quatro elétrons na camada de valência), atinge uma camada externa de energia completa com oito elétrons, compartilhando seus elétrons de valência com quatro átomos de silício ao redor, como mostra a Figura 11 (a) e (b). Cada um desses compartilhamentos representa uma ligação covalente. Dessa forma, cada átomo de silício é ligado a quatro átomos vizinhos por meio de quatro ligações covalentes. Segundo ASKELAND et al (2014) para que as ligações covalentes sejam formadas, os átomos de silício devem estar dispostos de modo que tais ligações tenham uma relação direcional fixa entre si (forma-se uma relação direcional sempre que as ligações entre átomos, em um material ligado de modo covalente, ocorrem com ângulos específicos, de acordo com o material). No caso do silício, esse arranjo produz um tetraedro com ângulos de 109,5° entre as ligações covalentes, como mostrado na Figura 11 (c). Figura 11: (a) As ligações covalentes exigem que os elétrons sejam compartilhados entre átomos, de modo que cada átomo tenha seu orbital externo preenchido. (b) No caso do silício, que tem valência quatro, é preciso formar quatro ligações covalentes. (c) As ligações covalentes são direcionais. No silício, é formada uma estrutura tetraédrica com ângulos de 109,5o, necessária entre cada ligação covalente. Fonte: ASKELAND et al, 2014. Material de Produção Industrial 39 No estudo da engenharia dos materiais, o carbono é muito importante, tendo em vista que é o elemento básico na constituição de grande parte dos materiais poliméricos. A Figura 12 ilustra uma molécula polimérica de (a) etileno (C2H4) e (b) polietileno, que resulta da conversão de uma ligação C=C em C-C. Figura 12: (a) Molécula de etileno (C2H4) e (b) molécula de polietileno. Essa última resulta de uma da conversão de uma ligação C=C em C-C. Fonte: SHACKELFORD, 2008. É importante observar que, no caso dos polímeros, as ligações entre átomos na cadeia de macromoléculas são ligações covalentes fortes, enquanto as ligações nas intercadeias (as quais mantêm as macromoléculas unidas) são ligações secundárias fracas (ligações de van der Waals). Na maioria dos casos, as ligações covalentes são bastante fortes. Como resultado, os materiais com esse tipo de ligação são quase sempre muito resistentes e duros. Exemplos de materiais que possuem ligações covalentes são: o diamante, o carbeto de silício (SiC), o nitreto de silício (Si3N4) e o nitreto de boro Material de Produção Industrial 40 (BN). Esses materiais apresentam ainda pontos de fusão bastante elevados, o que pode torná-los úteis em aplicações em que o material opere em temperaturas elevadas. Entretanto, as elevadas temperaturas necessárias para o processamento desses materiais representam um desafio prático. Segundo ASKELAND et al (2014) os materiais ligados covalentemente costumam ter ductilidade limitada, uma vez que as ligações tendem a ser direcionais. A condutividade elétrica de vários materiais com ligações covalentes (como o silício, diamante e várias cerâmicas, por exemplo) não é elevada, pois os elétrons de valência estão presos nas ligações entre átomos (não estando prontamente disponíveis para condução). Em alguns desses materiais (como o próprio silício), podemos obter níveis controlados de condutividade elétrica, por meio de uma inserção controlada de pequenas quantidades de outros elementos (chamados de dopantes). Nesse caso, a utilidadedecorre dessa condutividade intermediária (os materiais semicondutores). Ainda de acordo com ASKELAND et al (2014) os polímeros condutores são outros bons exemplos de materiais com ligações covalentes que podem ser transformados em materiais semicondutores. É importante destacar que a existência de polímeros condutores vem despertando a atenção de diversos cientistas e engenheiros, visando ao desenvolvimento de componentes eletrônicos leves e flexíveis. Devemos estar atento que não é possível prever as propriedades de um material (se ele terá alta ou baixa resistência, ou se será dúctil ou frágil) baseando- se apenas na natureza de suas ligações! São necessárias mais informações sobre as estruturas em nível atômico, micro e macro do material (que veremos na próxima Unidade). Ainda assim, a natureza das ligações nos fornece uma “tendência” geral em materiais com determinados tipos de ligações e de composições químicas. Ligações metálicas: As ligações metálicas envolvem o compartilhamento de elétrons e são não direcionais. Ela ocorre da seguinte forma: os metais possuem um, dois ou no máximo três elétrons na última camada (de valência), os quais estão ligados a um único átomo e estão relativamente livres para se movimentar por todo o metal (ou seja, possuem possibilidade de se movimentar livremente quando juntos com outros átomos com as mesmas características). Esses elétrons livres formam uma “nuvem” de elétrons. Os demais elétrons (que não são de valência permanecendo presos ao átomo) e o núcleo do átomo formam um núcleo de íons com carga Material de Produção Industrial 41 líquida positiva (pois perderam elétrons) e são envolvidos pela “nuvem” de elétrons (isto é, os elétrons presos mais o núcleo formam um “caroço” eletricamente positivo que é envolvido por uma nuvem de elétrons). Os elétrons da nuvem atuam como uma “cola” mantendo os caroços positivos unidos, como mostra a Figura 13. É importante observar que a condutividade dos metais ocorre em virtude dessa “nuvem” de elétrons (pois a condutividade, tanto elétrica quanto térmica, é justamente uma grandeza que mede a “mobilidade” dos elétrons por entre os átomos). Outras propriedades físicas e mecânicas dos materiais metálicos, como a capacidade de modelagem (ductilidade), também são consequência deste tipo de ligação. Figura 13: As ligações metálicas ocorrem quando átomos doam os elétrons de valência, formando uma “nuvem” de elétrons que pertencem a todos os átomos. Os núcleos positivamente carregados (núcleos e elétrons das camadas mais internas) são unidos devido a ̀ atração mútua com os elétrons, que são negativamente carregados. Fonte: ASKELAND et al, 2014. Material de Produção Industrial 42 Um exemplo é o alumínio que doa seus três elétrons de valência (da camada de valência), fazendo com que o átomo fique composto do núcleo e dos elétrons das camadas mais internas (demais elétrons). Nessa configuração, o átomo de alumínio passa a possuir uma carga positiva equivalente a três (uma vez que doou três elétrons, os quais possuem carga negativa). Dessa forma, os elétrons de valência movem-se livremente nessa “nuvem” de elétrons, de forma que cada elétron pertença simultaneamente a vários átomos. Essa atração mútua entre os elétrons da “nuvem” e os núcleos positivamente carregados é que mantém os núcleos unidos, produzindo, assim, uma forte ligação metálica. Segundo ASKELAND et al (2014) o fato de os elétrons de valência não estarem fixos em determinada posição permite que a maioria dos metais puros sejam bons condutores de eletricidade em temperaturas relativamente baixas (inferiores a 300 K). Sob a influência de uma tensão elétrica, se o circuito estiver fechado, os elétrons de valência tendem a se mover, gerando uma corrente elétrica (como ocorre em um fio de cobre da rede elétrica). De acordo com SMITH et al (2012) os pontos de fusão de metais puros são apenas moderadamente altos porque, para esse processo, não e ́ necessário romper a ligação entre o núcleo e a nuvem de elétrons (como é o caso das ligações iônicas e covalentes, nas quais o núcleo e a nuvem de elétrons estão ligados). Assim, em geral, os materiais iônicos e as redes covalentes exibem temperaturas de fusão mais altas porque ambos requerem o rompimento das ligações para tanto (as ligações entre os íons em um metal podem ser rompidas em níveis de energia menores comparativamente às ligações iônicas e covalentes). Além disso, as propriedades mecânicas dos metais são muito diferentes das propriedades mecânicas dos materiais iônicos e de rede covalente. Em particular, os metais puros são substancialmente mais maleáveis (macios e deformáveis) do que os materiais iônicos e de rede covalente. De fato, ha ́ poucas aplicações estruturais para esse tipo de metal em razão de sua característica de inexistente rigidez (isso ocorre porque, sob a ação de uma força externa, os íons no metal deslizam uns sobre os outros com relativa facilidade). Segundo ASKELAND et al (2014) os metais apresentam boa ductilidade pelo fato de suas ligações não serem direcionais. É importante observar que existem outras razões relacionadas a ̀ microestrutura que podem explicar por que os metais apresentam menor resistência mecânica e maior Material de Produção Industrial 43 ductilidade do que se pode prever pelas suas ligações. Lembrando que a ductilidade refere-se a ̀ capacidade dos materiais de serem alongados ou dobrados de forma permanente (ou seja, deformados) sem se romper. Ligações de van der Waals Até agora, consideramos apenas as ligações primárias entre os átomos, as quais dependem da interação entre os elétrons de valência. As ligações secundárias ou de van der Waals (físicas) existem entre praticamente todos os átomos ou moléculas (entretanto, a sua presença pode não ser percebida quando um dos três tipos de ligação primária estiver presente). As ligações secundárias são fracas quando comparadas às ligações primárias, possuindo energia de ligação de cerca de 4 a 42 kJ/mol (1 a 10 kcal/mol) e uma atração relativamente fraca, sem ocorrer transferência ou compartilhamento de elétrons. As ligações secundárias são resultantes da distribuição assimétrica das cargas positivas e negativas dentro de um átomo ou moléculas (essa assimetria de carga é chamada de dipolo atômico ou molecular). Um dipolo elétrico existe se houver alguma separação entre as partes positiva e negativa de um átomo ou molécula. A ligação resulta da força de atração elétrica (de Coulomb) que existe entre a extremidade positiva de um dipolo e a região negativa de um dipolo adjacente, como mostrado na Figura 14. Figura 14:Ilustração esquemática da ligação de van der Waals entre dois dipolos. Fonte: CALLISTER JR. et al, 2018. As ligações de van der Waals ocorrem devido à polarização da molécula e em função dos tipos de dipolo formado, que são classificados em temporários (induzidos) ou permanentes. Segundo PAVANATI (2015), os dipolos temporários estão relacionados com as deformações momentâneas na nuvem eletrônica de moléculas apolares, causadas por algum fator externo, por exemplo, um campo elétrico externo (essa deformação da nuvem eletrônica causa uma distribuição Material de Produção Industrial 44 desigual das cargas elétricas – um campo elétrico carregado positivamente pode, por exemplo, fazer com que os elétrons da nuvem se aproximem da fonte de campo elétrico e as cargas positivas se afastem, deformando a nuvem; essa divisão atômica ou molecular de dois polos, um positivo e um negativo, é o que chamamos de “dipolo”). Esse dipolo induz a polarização da molécula vizinha (considere a molécula da esquerda mostrada na Figura 14: se, por exemplo, o fator externo causar o deslocamento da nuvem eletrônica dessa molécula para a direita, teremos a formação de um dipolo com a carga positiva dolado esquerdo e a carga negativa do lado direito; quando a molécula da direita se aproximar desse dipolo, as cargas negativas do dipolo (que estão mais próximas da molécula da direita) irão afastar a nuvem de elétrons (por também ser negativa) para a direita e irão aproximar a carga positiva (pois cargas opostas se atraem), formando um dipolo induzido). Esse processo é chamado de polarização (o dipolo induz a polarização da molécula vizinha, convertendo-se em uma atração fraca entre eles, como mostrado na Figura 14). Um exemplo de dipolo temporário ocorre com o átomo de argônio (Ar), ilustrado na Figura 15. Figura 15: Ilustração de um dipolo induzido em átomos de argônio adjacentes. Fonte: SHACKELFORD, 2008. Quando isolado, o átomo de argônio está em uma condição de eletroneutralidade. Entretanto, ao aproximar outro átomo de argônio a esse átomo, ocorre um leve deslocamento de cargas, induzindo o mesmo comportamento no átomo vizinho (assim, é estabelecida uma ligação secundária fraca por um dipolo induzido – a carga positiva do átomo de argônio da esquerda e a carga negativa do átomo de argônio da direita se atraem, como mostrado na Figura 15). As interações que ocorrem entre dois dipolos induzidos entre átomos ou moléculas são denominadas forças de London. Material de Produção Industrial 45 PAVANATI (2015) define ainda os dipolos permanentes como as interações que ocorrem entre moléculas polares cuja característica é a distribuição não uniforme de carga elétrica. Um exemplo de dipolo permanente é a molécula de HCl. Nesse caso, a densidade eletrônica se concentra mais sobre o átomo de cloro (por ele ser mais eletronegativo), ocorrendo à concentração de elétrons sobre ele, como ilustrado na Figura 16. Figura 16: Moléculas de HCl: representação de uma ligação secundária a partir de um dipolo permanente. Fonte: BROWN et al, 2005. Dessa forma, o hidrogênio representa o polo (ou carga) positivo da molécula enquanto o cloro representa o polo (ou carga) negativo, e as moléculas vizinhas se atrairão por estes polos. As interações que ocorrem entre moléculas permanentemente polares são conhecidas como interações de Keesom. Segundo ASKELAND et al (2014), as moléculas polares também podem induzir dipolos em moléculas apolares adjacentes, e uma ligação se formará como resultado das forças de atração entre as duas moléculas. Nesse caso, quando um dipolo induzido (isto é, um dipolo é induzido no que seria normalmente um átomo ou uma molécula sem polaridade) interage com uma molécula com um momento de dipolo permanente, temos uma interação de Debye. Um exemplo de tal interação seriam as forças existentes entre moléculas de água (dipolo permanente) com as moléculas de tetracloreto de carbono (molécula apolar que se tornou um dipolo induzido com a aproximação das moléculas de água). Material de Produção Industrial 46 ASKELAND et al (2014) expõem ainda que a força de Keesom (ligação entre moléculas com momentos de dipolo permanentes, apresentada anteriormente) é normalmente chamada de ponte de hidrogênio, na qual os átomos de hidrogênio representam uma das regiões polares. As pontes de hidrogênio são ligações intermoleculares (entre moléculas) do tipo dipolo-dipolo que ocorre quando temos o hidrogênio ligado ao flúor, ao nitrogênio ou ao oxigênio (o hidrogênio de uma molécula ligado a um desses átomos da molécula adjacente). Dessa forma, a ponte de hidrogênio é essencialmente uma força de Keesom, que é um tipo de força de van der Waals (ligação secundária). É o que ocorre com as moléculas de água: a ligação O-H (ponte de hidrogênio com o oxigênio) tem um caráter direcional (em virtude da eletronegatividade, o oxigênio torna-se um centro negativo e o hidrogênio um centro positivo, estabelecendo essa ligação secundária). A força, relativamente intensa, de Keesom, entre moléculas de água é a razão pela qual a tensão superficial (72 mJ/m2 ou dina/cm à temperatura ambiente) e o ponto de ebulição da água (100 °C) serem muito maiores do que os de muitos líquidos orgânicos que tenham peso molecular comparável (tensão superficial ~20 a 25 dina/cm, pontos de ebulição de até 80 °C). Isso ocorre pois, apesar de as ligações de van der Waals serem secundárias, os átomos dentro das moléculas ou dos grupos de átomos estão unidos por fortes ligações covalentes ou iônicas (com isso, o aquecimento da água até o ponto de ebulição rompe as ligações de van der Waals e transforma a água em vapor, mas temperaturas muito superiores são necessárias para romper as ligações covalentes que unem os átomos de oxigênio e hidrogênio – cuidado para não confundir, existem as ligações covalentes entre os átomos de hidrogênio e de oxigênio para formar a molécula de água e existem as pontes de hidrogênio que são as ligações entre o hidrogênio de uma molécula de água com o oxigênio da molécula de água vizinha, que é uma ligação secundária, intermolecular). A coesão fornecida por muitas cadeias poliméricas ocorre através das pontes de hidrogênio associadas a hidroxila (OH–). Outro exemplo é a ligação entre duas cadeias de PVC, mostrada na Figura 17. Material de Produção Industrial 47 Figura 17: (a) No poli (cloreto de vinila), PVC, os átomos de cloro unidos à cadeia polimérica possuem carga negativa, ao passo que os átomos de hidrogênio têm carga positiva. As cadeias estão fracamente unidas por ligações de van der Waals. Essa ligação, apesar de fraca, contribui para tornar o PVC mais rígido. (b) Quando uma força é aplicada ao polímero, as ligações de van der Waals são rompidas e as cadeias se deslizam umas em relação às outras. Fonte: ASKELAND et al, 2014. De acordo com ASKELAND et al (2014), os polímeros, em que as forças de van der Waals são mais intensas, tendem a ser relativamente mais rígidos e apresentam temperaturas de transição vítrea relativamente maiores (a temperatura de transição vítrea é aquela abaixo da qual alguns polímeros tendem a se comportar como materiais frágeis isto é, apresentam baixa ductilidade). Consequentemente, os polímeros com ligações de van der Waals (além das ligações covalentes nas Material de Produção Industrial 48 cadeias e nos grupos laterais) são relativamente frágeis à temperatura ambiente (por exemplo, o PVC). Ao processarem tais polímeros, eles precisam ser “plasticizados”, adicionando-se outras moléculas polares menores, que interagem com as partes polares das longas cadeias de polímeros, reduzindo a temperatura de transição vítrea e aumentando a flexibilidade. Nessa Unidade fizemos uma introdução no estudo da Ciência e Engenharia dos Materiais. É importante observar até aqui que para entendermos as propriedades dos materiais precisamos conhecer os tipos de ligações presentes nele. Um exemplo é o grafite e o diamante: embora ambos possuam a estrutura composta pelo elemento carbono, o tipo de ligação e o arranjo estrutural conferem-lhe propriedades bastante diferentes (o diamante é um mineral muito duro, com grande capacidade de riscar, enquanto o grafite é mais maleável). Na próxima Unidade, estudaremos as diferentes classificações dos materiais, assim como as suas estruturas. É hora de se avaliar Lembre-se de realizar as atividades desta unidade de estudo. Elas irão ajudá-lo a fixar o conteúdo, além de proporcionar sua autonomia no processo de ensino-aprendizagem. Material de Produção Industrial 49 Exercícios – Unidade 1 1. Sobre as definições dos conceitos da Ciência e Engenharia dos materiais, é correto afirmar que: a) A resistividade elétrica mede a "dificuldade" de os elétrons se movimentarem no material. b) O processamento é o modo como os materiais são feitos. c) A composição é a constituição química do material. d) TODAS as alternativas anteriores estão CORRETAS. e) TODAS as alternativas anteriores estão INCORRETAS.2. De maneira geral, as propriedades dos materiais sólidos podem ser agrupadas em 6 categoriais. Sobre essas categorias é correto afirmar que: a) As propriedades magnéticas apresentam a resposta do material a estímulos de campo elétrico. b) O índice de refração e a refletividade são exemplos de propriedades elétricas. c) As propriedades deteriorativas referem-se à reatividade química do material. d) O módulo de elasticidade é um exemplo de propriedade térmica. e) TODAS as alternativas anteriores estão INCORRETAS. Material de Produção Industrial 50 3. Considere as seguintes afirmações sobre as propriedades mecânicas dos materiais: 1- O módulo de elasticidade ou módulo de Young é a razão entre a tensão aplicada e a deformação elástica resultante, estando relacionado com a rigidez do material. 2- A ductilidade é calculada como a carga máxima suportada pelo material dividida pela área de sua seção transversal inicial. 3- A dureza é a deformação plástica total, até o ponto de ruptura do material. São corretas as afirmações: a) 1 apenas. b) 1 e 2 apenas. c) 2 e 3 apenas. d) TODAS as afirmações estão CORRETAS. e) TODAS as afirmações estão INCORRETAS. 4. Sobre as propriedades elétricas dos materiais, é correto afirmar que: a) A resistividade elétrica resistividade mede a “dificuldade” de os elétrons se movimentarem no material. b) A condutividade elétrica é diretamente proporcional à resistividade elétrica. c) A rigidez dielétrica é o valor limite de campo elétrico que pode ser aplicado sobre o material, a partir do qual ele deixa de atuar como condutor, passando a atuar como isolante. d) TODAS as alternativas anteriores estão CORRETAS. e) TODAS as alternativas anteriores estão INCORRETAS. Material de Produção Industrial 51 5. Além da estrutura e das propriedades, a ciência e a engenharia de materiais consideram o processamento e o desempenho como fatores importantes em sua seleção e aplicação. Marque a alternativa que apresenta corretamente a ordem de inter-relação entre esses quatro fatores. a) Processamento->Estrutura->Propriedades->Desempenho. b) Estrutura->Propriedades->Processamento->Desempenho. c) Desempenho->Estrutura->Propriedades->Processamento. d) Processamento->Desempenho-> Estrutura->Propriedades. e) TODAS as alternativas anteriores estão INCORRETAS. 6. Na sociedade moderna, a busca contínua de uma boa relação entre custo e durabilidade dos mais variados bens de consumo e processos movimenta cientistas e engenheiros de todas as áreas. Considere as seguintes afirmações sobre a seleção de materiais: 1- Apesar de uma vasta gama de materiais existentes, não há garantia de que todas as propriedades requeridas serão encontradas em um único material. 2- A perda das propriedades originais do material durante sua utilização também é um fator a ser considerado. 3- O custo é um fator determinante, visto que a tentativa de reunir todas as características em um único material pode tornar a sua utilização inviável do ponto de vista econômico. São corretas as afirmações: a) 1 e 2 apenas. b) 2 e 3 apenas. c) 1 e 3 apenas. d) TODAS as afirmações estão CORRETAS. e) TODAS as afirmações estão INCORRETAS. Material de Produção Industrial 52 7. Considere as afirmações a seguir sobre a estrutura atômica dos materiais segundo a mecânica quântica: 1- Os quatro números quânticos são: número quântico principal, número quântico momento angular orbital, número quântico orbital elétrico e número quântico de spin do elétron. 2- O número quântico mais importante é o número quântico de spin do elétron. 3- Pelo princípio da exclusão de Pauli, dois elétrons em um átomo podem ter os mesmos números quânticos. São corretas as afirmações: a) 1 apenas. b) 1 e 2 apenas. c) 1 e 3 apenas. d) TODAS as afirmações estão CORRETAS. e) TODAS as afirmações estão INCORRETAS. 8. Com exceção dos gases nobres, raramente encontramos na Natureza átomos isolados, devido à camada eletrônica mais externa não ter os estados completamente preenchidos. Dessa forma, os átomos necessitam fazer algum tipo de associação com outros átomos para buscar essa estabilidade. Assinale a alternativa que apresente uma afirmação INCORRETA sobre as ligações atômicas. a) As ligações atômicas podem ser divididas em ligações primárias ou secundárias. b) As ligações primárias são cerca de dez vezes mais fortes que as secundárias. c) As ligações iônicas se enquadram na categoria de ligações primárias. d) As ligações covalentes se enquadram na categoria de ligações primárias. e) As ligações metálicas são direcionais. Material de Produção Industrial 53 9. Um elétron decaiu de um estado de energia mais elevado para o seu estado fundamental, cuja diferença entre esses níveis de energia é dada por E = 0,0008 pJ. Determine a frequência do fóton. Em seguida, responda: esse fóton foi emitido ou absorvido? Justifique. Considere h = 6,62607004 × 10-34 J s. 10. Explique o que são os dipolos induzidos e os dipolos permanentes. Em seguida, dê um exemplo de cada. Material de Produção Industrial 54 Material de Produção Industrial 55 2 Classificação dos Materiais e suas Estruturas Material de Produção Industrial 56 Nesta Unidade, aprenderemos sobre as diferentes classificações dos materiais, suas propriedades e aplicações na Engenharia, além de suas estruturas. Objetivos da unidade: Conhecer as diferentes classificações dos materiais e suas principais características. Entender as propriedades e as aplicações dos materiais na Engenharia, considerando as questões de sustentabilidade e engenharia verde. Aprender as estruturas dos materiais, seus arranjos e estruturas cristalinas. Plano da unidade: Classificação dos materiais. Propriedades dos materiais e sua aplicação na Engenharia. Estrutura dos materiais. Bons estudos! Material de Produção Industrial 57 Classificação dos materiais Os materiais sólidos empregados na engenharia podem ser classificados em três categorias básicas principais: materiais metálicos, materiais poliméricos e materiais cerâmicos. Essa classificação está baseada principalmente na estrutura atômica e na composição química dos materiais. Adicionalmente, temos os materiais compósitos, que são combinações “engenheiradas” (ou o processamento) de dois ou mais materiais diferentes (são combinações estratégicas de até três categorias básicas de materiais para o aproveitamento racional das propriedades individuais de cada categoria básica). Ao considerarmos as aplicações dos materiais na engenharia, podemos incluir mais duas categorias adicionais, que são os materiais semicondutores e biomateriais. Cada uma dessas categorias é explicada a seguir: Materiais Metálicos: Os materiais metálicos são substâncias inorgânicas compostas geralmente de um ou mais elementos metálicos (pode também conter alguns elementos não metálicos). Alguns exemplos de elementos metálicos são o ferro, alumínio, cobre, titânio, ouro e níquel e de elementos não metálicos são carbono, nitrogênio e oxigênio (em quantidades relativamente pequenas). Os átomos nos metais e nas suas ligas estão arranjados de uma maneira muito ordenada, denominada “estrutura cristalina”. Segundo CALLISTER JR. et al (2018) quanto às características mecânicas, os materiais metálicos são relativamente rígidos e resistentes, e ainda assim são dúcteis (isto é, são capazes de se deformar intensamente sem sofrer fratura), e resistentes à fratura (por isso são amplamente utilizados em aplicações estruturais). Além disso, os materiais metálicos possuem grande número de elétrons livres (esses elétrons não estão ligados a qualquer átomo em particular). Muitas das propriedades dos metais podem ser atribuídas diretamente a esses elétrons livres
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