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Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO PROBLEMA 5 – INTERMEDIÁRIA: ASPECTOS DA COINFECÇÃO TB-HIV: A tuberculose (TB) é uma doença altamente frequente dentre as pessoas vivendo com HIV (PVHIV), representando, no Brasil, a principal causa de óbitos nessa população. Essa maior susceptibilidade pode ser explicada ao se analisar a fisiopatologia da TB, que tem na capacidade imunológica o principal mecanismo para manutenção da latência bacilar Ainda que nem dos PVHIV venha a manifestar tuberculose ativa, há um risco 20 a 30x maior de que quadros latentes passem a se manifestar com sintomas. Essa propensão é inversamente proporcional à contagem de linfócitos T CD4. Assim, conforme o contexto epidemiológico supracitado, nota-se a importância do rastreamento regular de TB em PVHIV, realizado em todas as oportunidades possíveis a partir do interrogatório sobre a presença de tosse, emagrecimento e sudorese noturna. Frente a algum desses indícios, recomenda-se a realização de radiografia de tórax e exames de detecção bacteriológica (baciloscopia, cultura e teste de resistência, ou teste rápido molecular [quando possível]). A investigação de quadros latentes também é crucial, sendo realizada em todos os indivíduos assintomáticos no início do seguimento clínico. Além disso, essa análise pode ser refeita após a reconstituição imunológica pela TARV e de forma anual para indivíduos com prova tuberculínica negativa e não tratados. Nessa situação, devem ser realizadas a radiografia do tórax e a prova tuberculínica, sendo que resultados não reagentes em pacientes com células T CD4 baixas devem ser repetidos após a conversão imunológica, ao passo que valores > 5 mm devem ser imediatamente tratados como infecção latente. TRATAMENTO: Graças ao contexto geral de sobreposição de diversos medicamentos, a ocorrência de efeitos adversos é mais acentuada, sendo necessário diferenciar manifestações temporárias daquelas de possível comprometimento a longo prazo, alterando a propedêutica conforme necessário. Dada a possibilidade de desenvolvimento de neuropatia com o uso de Isoniazida, é recomendado que PVHIV façam uso de 50 mg/dia de piridoxina (vitamina B6) até o fim do tratamento. Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO Principais efeitos adversos advindos do manejo da coinfecção TB-HIV O esquema terapêutico é o mesmo aplicado a pacientes sem infecção por HIV, ajustando a extensão de suas fases conforme a necessidade clínica individual. Uma vez que há maior risco de recidivas de TB entre PVHIV, recomenda-se que seja implementado o tratamento diretamente observado (TDO). Esquema terapêutico básico em adultos e adolescentes Em indivíduos com resistência ou contraindicação à rifampicina (ex.: uso de inibidores de protease ou Dolutegravir na TARV), seu uso pode ser substituído pela rifabutina, porém o tratamento se torna mais longo e menos eficaz, o que pode dificultar a adesão por parte do paciente. Outro fator que interfere na qualidade geral dessa variação terapêutica é a utilização de um maior volume de comprimidos, pois não há associações combinadas entre a Rifabutina e os demais fármacos antiTB. Variação do esquema básico de tratamento com o uso de Rifabutina INÍCIO DA TARV EM PACIENTES COM TUBERCULOSE: Caso o diagnóstico de HIV e TB tenha sido simultâneo, o primeiro tratamento a ser iniciado será o da tuberculose. O começo da administração de antirretrovirais deverá respeitar os valores de linfócitos T CD4 em pacientes virgens de TARV, a saber: T CD4 < 50 células: a TARV deve ser iniciada após duas semanas de tratamento contra a TB; T CD4 ≥ 50 células: o início da TARV coincide com o começo da fase de manutenção (8ª semana). Esse marco deve ser considerado como o limite máximo para se instituir o tratamento da TB. Critérios avaliados para determinar a cronologia da TARV em pacientes com coinfecção TB-HIV Caso o paciente já faça TARV, o tratamento para TB deve ser imediato, monitorando possíveis interações medicamentosas. De forma geral, a contagem de linfócitos deve anteceder a TARV, porém nem sempre esse exame está acessível, principalmente frente a coinfecções. Nessas situações, a capacidade imune por ser Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO estimada por achados clínicos e pela análise global de leucócitos. A genotipagem deve ser realizada em casos de coinfecção TB-HIV de forma a avaliar a necessidade de alterações terapêuticas. No entanto, o tratamento não deve ser retardado pela espera dos resultados. As rifamicinas (rifampicina e rifabutina) apresenta grande risco de interação com inibidores da protease, ITRNN, inibidores de entrada e inibidores de integrase. Isso ocorre devido à hiperativacão das enzimas mediadas pelo citocromo P450, causando diminuição na concentração sérica de antirretrovirais, e possível elevação da resistência viral. Assim, em pacientes com tuberculose em uso de rifampicina e virgens de terapias para o HIV, a primeira escolha medicamentosa é baseada em dois ITRN e efavirenz. Por outro lado, indivíduos com HIV associado a critérios de gravidade, são usados tenofovir, lamivudina e raltegravir. A síndrome inflamatória de reconstituição (SIR), fenômeno de exacerbação da resposta inflamatória Th1, pode ocorrer nos três primeiros meses em regime terapêutico para a TB, principalmente em indivíduos que iniciaram a TARV precocemente. Os principais sintomas desse quadro são linfoadenomegalia e sinais flogísticos, que podem comprometer estruturas importantes para o funcionamento do organismo. É também possível que essa condição se apresente como piora dos sintomas ou novo caso de tuberculose, porém isso não representa falha terapêutica. Os tratamentos em curso (TB e TARV) não devem ser interrompidos, sendo o manejo de casos leves/moderados de SIR realizados com sintomáticos ou AINES, e o controle de casos mais graves, com corticosteroides, retirados gradualmente. COINFECÇÃO TB-HIV NA GESTAÇÃO: A tuberculose representa a principal causa de morbimortalidade e mulheres vivendo com HIV, com maior incidência na faixa etária dos 15 aos 49 anos. Além do risco individual, nota-se que há probabilidade 2,5x maior de transmissão vertical do HIV entre gestantes que desenvolveram TB. Gestantes vivendo com HIV e com TB ativa devem iniciar a TARV o mais breve possível, de forma a evitar complicações e o risco de transmissão da infecção. O tratamento da coinfecção TB-HIV nessa população segue o esquema básico, constituído por uma fase intensiva de dois meses (administração de rifampicina, isoniazida, pirazinamida e etambutol), seguida por um período de manutenção de quatro meses (uso de rifampicina e isoniazida). Dada a potencial toxicidade da isoniazida na gestação, é recomendada sua administração junto a 50 mg/dia de piridoxina. A rifambutina não é recomendada na gestação, sendo necessária a formulação de outras estratégias terapêuticas frente à Júlia Figueirêdo – FEBRE, INFLAMAÇÃO E INFECÇÃO impossibilidade de uso da rifampicina. Os medicamentos usados na TARV podem ter de sofrer alterações durante o tratamento da TB, pois a rifampicina é uma potente indutora do citocromo P450, o que afeta a biotransformação hepática de diversos compostos. Assim, de forma a minimizar a oscilação sérica dos antivirais, as combinações recomendadas são: TDF + 3TC + RAL (interação entre inibidores da transcriptase reversa nucleosídeos/não nucleosídeos e inibidores de integrase); o O uso do raltegravir apresenta como vantagens a menor ocorrência de efeitos adversos e a redução mais rápida da carga viral do HIV, principalmente no último trimestre. TDF+ 3TC + EFV (associação de inibidores da transcriptase reversa nucleotídeos e não nucleotídeos). De forma a prevenir o desenvolvimento da TB como infecção oportunista em gestantes vivendo com o HIV, pode ser recomendada a quimioprofilaxia contra a doença, baseada no uso de isoniazida associada à vitamina B6. Esse protocolo será recomendado frente a histórico de contato com indivíduo portador de infecção ativa, presença de sinais radiológicos sugestivos, histórico de TB não tratada ou prova tuberculínica > 5 mm. Protocolo para quimioprofilaxia da tuberculose em gestantes com HIV
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