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ENSINO MÉDIO PRODUÇÃO DE TEXTO 7 Capa_Humanas cad7_ al_pr.indd 14 07/12/16 19:20 1 P R O D U Ç Ã O D E TE X TO O Discurso Argumentativo I PRODUÇÃO DE TEXTO Emiliana Abade O DISCURSO ARGUMENTATIVO I 1 Dissertação I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4 Persuadir é mais que conhecer, é convencer . . . . . . . . . .4 Uma volta rápida à narração e à descrição . . . . . . . . . . .4 O texto temático . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .6 Estrutura da dissertação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .7 2 Dissertação II . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 Com visão ampliada, um fato pode ser modificado . . . .19 Análise de um texto dissertativo . . . . . . . . . . . . . . . . . .19 Tipos de argumentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .21 2137819 (PR) MÓDULO O Discurso Argumentativo I Há uma quantidade inimaginável de textos escritos: científicos, jornalísticos, humorísticos, literários… Em meio a tantos tipos, existe um especificamente para per- suadir o leitor e convencê-lo a respeito de determinado ponto de vista. Para tanto, esse tipo de texto baseia-se na argumentação. RA D U B ER CA N /S H U TT ER ST O CK Objetivos: c Compreender a frequência e a importância da persuasão em diversos contextos comunicativos diários. c Comparar a estrutura narrativa, descritiva e argumentativa por meio da leitura de excertos de textos desses gêneros, a fim de reconhecer as particularidades do tipo textual argumentativo. c Produzir textos de diversos gêneros dissertativos, adequados tematicamente e estruturalmente, contendo: introdução com tese clara, desenvolvimento com ponto de vista em defesa da tese, e conclusão. 4 O Discurso Argumentativo I CAPÍTULO 1 Dissertação I PERSUADIR É MAIS QUE CONHECER, É CONVENCER Em um Universo imensurável, cada um de nós é único. Somos únicos na íris dos olhos, nas im- pressões digitais. Em nossas preferências por cor, sabor, amigos, namorados(as), profi ssões, estilo de vida etc., somos opostos ou semelhantes. E, para defender as coisas de que gostamos e as ideias nas quais acreditamos, precisamos en- contrar argumentos convincentes no dia a dia, desde muito cedo: a criança, por exemplo, que deseja um brinquedo novo, precisa persuadir seu pai de que o que quer é diferente de tudo o que já possui; o adolescente que deseja um smartphone também precisa induzir em seus pais a crença de que o novo modelo possui funcionalidade e modernidade que o “velho” aparelho já perdeu. A persuasão não é conquista somente de escritores, cientistas, palestrantes e mestres. É a nossa conquista diária, gerada em conversas, leituras, debates, pensamentos, amadurecimentos. Sem ela, seremos mais sós, mais manipulados, mais desmotivados. Com ela, teremos voz nas defi nições. UMA VOLTA RÁPIDA À NARRAÇÃO E À DESCRIÇÃO Leia os textos a seguir com bastante atenção. A pequena vendedora de fósforos Estava muito frio, a neve caía e já começava a escurecer. Uma menina descalça e sem agasalho andava pelas ruas. Ela já estava com os pés roxos. Tinha pacotinhos de fósforos para vender. Naquele dia não havia conseguido vender nada. Se voltasse para casa, sem dinheiro, seria castigada pelos pais. As casas estavam iluminadas porque era noite de passagem de ano. Com as mãos geladas, pensou em acender um fósforo. Conseguiu. Olhando a chama, ima- ginou ver uma lareira com fogo, esquentando-a. Mas logo a chama apagou e a lareira sumiu. Acendeu outro fósforo que fez a parede de uma casa fi car transparente. Então ela viu a mesa, a louça, o assado, as frutas. Mas o fósforo apagou e a parede fi cou grossa. Depois, as velinhas da árvore de natal começaram a subir, a subir e vi- raram estrelas. Uma era estrela cadente e riscou o céu. Lembrou- -se da avó — a única pessoa que tinha gostado dela e que já havia morrido. Ela dizia: “Quando uma estrela cai, é sinal de que uma alma subiu para o céu”. A menina riscou mais um fósforo e viu a avó tão boa e carinhosa. E foi acendendo outros fósforos para que a avó não sumisse. E a avó muito linda pegou a menina no colo e voou para onde não fa- zia frio e não havia fome nem dor. De manhã, encontraram a menina que tinha morrido de frio. Ninguém podia adivinhar tudo o que ela tinha visto: a lareira, os assados, as estrelas, a avó… Adaptado de Hans Christian Andersen. 5 P R O D U Ç Ã O D E TE X TO O Discurso Argumentativo I Inverno Caracterizado como a estação com as temperaturas mais baixas, o inverno se estende de 21 de dezembro a 22 de março, no hemisfério norte; e de 21 de junho a 23 de setembro no hemisfério sul. O inverno tem início com o término do outono e antecede a primavera. As noites são mais longas que os dias nas regiões onde é inverno, visto que a incidência de raios solares é menor nessa porção da Terra. No Brasil, o inverno é mais rigoroso nos estados da Região Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). Esses locais podem registrar temperaturas negativas, além da ocorrência de neve em determinados pontos. Adaptado de FRANCISCO, Wagner de Cerqueria e. “Inverno”; Brasil Escola. Disponível em http://brasilescola.uol.com.br/geografi a/inverno.htm> Turistas comemorando a precipitação de neve no centro da cidade - serra Gaúcha, São José dos Ausentes, RS. GE RS O N G ER LO FF /P U LS AR IM AG EN S Os dois textos falam sobre o frio. Mas são diferentes, apresentam estruturas distintas. Na história de Andersen — “A pequena vendedora de fósforos” — existe uma estrutura que é narrativa, desenvolvida em prosa, com causalidade, passagem cronológica do tempo, mudanças no estado e nas ações da personagem: por causa do frio excessivo, a menina começa a imaginar coisas impossíveis, mas reveladoras de seus desejos e necessidades: uma lareira (para se aquecer do frio), a parede que fi ca transparente, capaz de mostrar-lhe os assados no interior da casa (para saciar sua fome), e fi nalmente o encontro com a avó, que já estava morta (para novamente ser amada). O narrador, em terceira pessoa, é onipotente, pois conhece o mundo interior da persona- 6 O Discurso Argumentativo I gem e nos faz revelações sobre ele. Sem essas informações, nenhum leitor poderia adivinhar tudo o que a menina vira em sua imaginação: a lareira, os assados, as estrelas, a avó… Em “Inverno”, temos uma descrição. Os fatos são reais e relatados com detalhes, os verbos são conjugados no presente. Quanto aos elementos usados para compor a linguagem — névoa, fósforo, lareira, mesa, assados, frutas, temperaturas, noites, Terra, neve… —, os dois textos, “A pequena vendedora de fósforos” (narração) e “Inverno” (descrição), apresentam termos predominantemente do mundo concreto; portanto, são textos figurativos, que simbolizam o mundo material. O TEXTO TEMÁTICO Leia agora este texto. Além da imaginação Tem gente passando fome. E não é a fome que você imagina Entre uma refeição e outra. Tem gente sentindo frio. E não é o frio que você imagina Entre o chuveiro e a toalha. Tem gente muito doente. E não é a doença que você imagina Entre a receita e a aspirina. […] Tem gente que existe e parece imaginação. Ulisses Tavares Esse texto, como os dois anteriores, também fala a respeito do frio. Seu título, “Além da imaginação”, sugere um rompimento no campo semântico presente pela impossibilidade de o leitor visualizar elementos em situação de normalidade. Para muitas pessoas, a intensidade da fome, do frio, ultrapassa situações normais de tempo entre duas refeições ou o desconforto e o desamparo físico entre o chuveiro e a toalha… Essas sensações particularizadas se generalizam na totalidade do ser que, de tanto romper li- mites vitais, perde a dignidade de ser humano. E é desse modo que o emissor se dirige ao interlocutor, levando-o a refletir sobre conceitos gerados das desigualdades humanas, próprios dos textos temáticos, nos quais predominamele- mentos de uma linguagem abstrata. Neles, não existe uma relação de anterioridade e posteridade, porque as relações são lógicas, pertinentes, abstratas, do pensamento. Em “tem gente que existe e parece imaginação”, acon- tece a fusão entre a realidade e a ficção, isto é, a existência física da pessoa torna-se invisível, indiferente para muitos. Realizamos, até aqui, uma volta rápida à narração e à descrição. Poderemos, então, agora, ob- servar juntos os elementos que constituem o texto dissertativo, isto é, o texto predominantemen- te temático, sem deixar de nos lembrar de que, de toda e qualquer estrutura textual, podemos extrair reflexões, identificar temas. Observe também que, nas dissertações, poderemos encontrar narratividade, argumentos com aspectos descritivos, originários de mudanças que quase sempre ocorrem entre as ideias. Isso nos leva a concluir que as estruturas textuais não são “puras”, e aquilo que as distingue está diretamente relacionado à predominância ou não de elementos que nos levam (e quase sempre por questões didáticas) a denominá-las. O LE SI A BI LK EI /S H U TT ER ST O CK 7 P R O D U Ç Ã O D E TE X TO O Discurso Argumentativo I ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO Leia um editorial publicado pela Folha de S.Paulo. Injustiças e carteiradas Em boa hora a Corregedoria Nacional de Justiça decidiu que vai revisar o caso envolvendo um magistrado do Rio de Janeiro e uma agente de trânsito que foi condenada a indenizá-lo por ter dito que ele era juiz, mas não era Deus. A fatídica declaração ocorreu em fevereiro de 2011, após o magistrado ter sido parado pela agente numa blitz sem a carteira de habilitação e num carro sem placas. A sentença que a condenou a pagar R$ 5.000 por danos morais saiu há duas semanas. Não surpreende que o caso tenha ganhado repercussão nacional, já que encerra elemen- tos que são “cheesecake” mental para a fome que representantes da espécie humana nutrimos por boas histórias. O que mais chama a atenção é a inversão de papéis. No plano simbólico, o poderoso juiz, que estava inapelavelmente errado, não apenas deixou de ser punido como ainda faturou uma indenização da humilde servidora, que cumprira com diligência seu papel ao não con- ceder tratamento especial à autoridade. Injustiças fl agrantes sempre funcionam para tornar uma história cativante. O segundo ponto relevante é o corporativismo da sentença. Num contexto republicano, o magistrado nem deveria ter-se identifi cado como juiz durante a blitz, já que isso não poderia alterar sua situação legal. Ao contrário até, o fato de um representante da Justiça estar come- tendo tantas irregularidades deveria ser motivo de embaraço. Mas a condição profi ssional do magistrado serviu não apenas para ele dar voz de prisão à agente (outra injustiça) como ainda fundamentou a sentença de indenização. Para o desembargador que decidiu o caso, era “natural” que o magistrado informas- se que era “juiz de Direito” e que, “mesmo ciente da função pública desempenhada por ele”, a agente de trânsito “agiu com abuso de poder, ofendendo-o”. Aqui, o desembar- gador institucionalizou a carteirada. Ainda bem que magistrados não são deuses, ou seria ainda pior. Folha de S.Paulo, 12 nov. 2014. O texto lido apresenta, em sua introdução, o ponto de vista de quem o escreve jun- to ao tema que será desenvolvido: a necessidade de revisar a injustiça que sofreu uma agente de trânsito ao dizer a um magistrado que ele não era Deus. Dá-se a esse pro- cedimento o nome de tese. Para defendê-la, o enunciador (representando o editor do jornal) emprega ar- gumentos que apresentam a situação e que comprovam a inversão de papéis em nossa sociedade: juiz infrator pune agente de trânsito honesta. Além disso, fi ca clara sua indignação com o corporativismo da sentença (o juiz, que deixou de ser punido, deu voz de prisão à agente). Tem-se aqui o desenvolvimento do texto. Ao constatar que a carteirada foi institucionalizada em nosso país, isto é, que as autoridades abusam do cargo que ocupam para conseguir um objetivo na marra, o enunciador retoma as palavras ditas pela agente de trânsito (“ainda bem que magistrados não são deuses, ou seria ainda pior”) para reafi rmar a neces- sidade de revisão dessa injustiça. Trata-se da conclusão. Quanto ao gênero, o texto é um editorial, está redigido na primeira pessoa do plu- ral (“a fome que representantes da espécie humana nutrimos por boas histórias”), e, nele, o enunciador defende, com determinação, a necessidade de revisão de injustiças envolvendo abuso de poder dos magistrados. Nos editoriais, que têm a estrutura da dissertação, os fatos são apresentados, anali- sados, e tudo isso leva o leitor a fazer refl exões: tornam-se, assim, textos predominan- temente temáticos, e não apenas fi gurativos. Se o ponto de vista do editor fosse diferente, isto é, se ele se mostrasse favorável DEFINIÇÃO Editorial: é o texto que expressa a opinião de um veículo de comu- nicação a respeito de um assunto da atualidade, quase sempre polêmico. 8 O Discurso Argumentativo I à manutenção da pena que sofreu a agente de trânsito: citaria que agentes de trânsito não possuem boa reputação no Brasil, pois costumam receber propinas; que um juiz é autoridade má- xima e representante da justiça; que, quando a agente de trânsito disse ao juiz que ele não era Deus, ofendeu-o e, por isso, deve indenizá-lo, entre outros. A conclusão revelaria, entre outras variáveis, que a sentença do magistrado não deve ser questionada ou revisada pela autoridade que ele representa. Percebe-se, assim, que, para se estruturar uma dissertação, não basta apenas delimitar um tema que traga alguma polêmica junto ao leitor. É pre- ciso selecionar argumentos que deem sustentação à tese que se irá defender. Como temas, podem ser citados: a influência da televisão; o uso da inter- net; o trabalho e o lazer; a impunidade; a importância da espiritualidade; o uso da energia atômica; o poder do conhecimento; a importância da educação na formação do ser humano; a tolerância para com os diferentes etc. Definido o tema, é necessário delimitar o ponto de vista do produtor do texto e apresentá-lo logo no início. Desse modo, a tese estará criada. Exemplos: A educação tradicional não atende aos apelos dos mais jovens: é preciso ouvi-los, primeiramente, em seus anseios mais íntimos; ou: A televisão é prejudicial quando a sua programação não discrimina o público a quem se dirige; ou, ainda: Num mundo acelerado, as pes- soas buscam encontrar um lugar para a espiritualidade. Mas… qual será o caminho? Feito isso, é preciso encontrar argumentos válidos e convincentes para sustentar o ponto de vista que foi apresentado, com o objetivo de influenciar o leitor. Esta é a função do desenvolvimento. A conclusão precisa ser coerente com a tese e com os argumentos presentes no desenvolvimento, ou ainda apresentar nova(s) perspectiva(s) para o assunto enfocado. A dissertação geralmente é redigida na terceira pessoa do singular ou, vez por outra, na primeira pessoa do plural. As dissertações redigidas na primeira pessoa do singular são menos comuns. Tema e título O tema é a delimitação do assunto proposto para reflexão. O título sintetiza o conteúdo discutido, ou faz referência a ele, e por isso é acon- selhável a criação de um título somente após a elaboração do texto. Vejamos as distinções entre título e tema, presentes em dois textos analisados neste capítulo. Em “Além da imaginação”, o título reflete o rompimento de limites contidos na rea- lidade, gerando o inimaginável, o irreal. Quanto ao tema identificado nos versos, este revela a visão de um mundo no qual existem diferentes necessidades decorrentes de desigualdades econômicas e sociais. No tema do último texto lido, “Injustiças e carteiradas”, a palavra “revisar” representa o ponto de vista do produtor do texto. O tema está vinculado às decisões injustas na aplicação das leis no país. Visão de mundo Para refletirsobre um assunto polêmico, é preciso possuir conhecimento apro- fundado desse assunto, e isso só é conseguido por meio da leitura de jornais diá- rios, revistas, noticiários ou de textos específicos ao tema, veiculados pela internet. O LE G GO LO VN EV /S H U TT ER ST O CK 9 P R O D U Ç Ã O D E TE X TO O Discurso Argumentativo I Textos ficcionais também revelam a visão de mundo de quem os escreve. Por esse mo- tivo, quem lê com frequência ou assiste a bons filmes vai construindo sua visão de mundo, indispensável para refletir sobre posições polêmicas e registrá-las em textos dissertativos. ATIVIDADES 1 Leia os três textos e identifi que sua modalidade (narração, des- crição ou dissertação), justifi cando sua resposta. Texto I Verônica tirou a chave da bolsa e hesitou um instante. Pela primeira vez entraria naquele pequeno apartamento saben- do que ele não estava ali. Deixara-o no Jardim da Sauda- de, hora e meia antes, num bairro muito longe da Glória. Quando perguntavam onde morava, ela dizia com um or- gulho triste: — Na Glória. CONY, Carlos Heitor e LEE, Anna. O beijo da morte. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. Texto II O uso da Ritalina — remédio indicado para o tratamento do transtorno do défi cit de atenção com hiperatividade (TDAH) — tem aumentado no Brasil, principalmente entre crianças e adolescentes. Estudos apontam que, nos últimos dez anos, seu consumo cresceu quase 800%. E, já que ado- ramos rankings, o Brasil quase lidera a lista de países cam- peões no uso desse medicamento, perdendo apenas para os EUA. Quais são as razões para tal crescimento? Por um lado, médi- cos afi rmam que o fenômeno se deve ao maior conhecimen- to do TDAH e de seu diagnóstico e tratamento. Por outro, di- zem que tem havido excesso de diagnósticos e de indicações da droga medicamentosa. Rosely Sayão. In: Folha de S.Paulo, 11 nov. 2014. Texto III Uma cena do bairro: uma mulher de uns 35 anos passeia com sua fi lha, de uns cinco anos, com um cachorrinho vira- -lata. Zona oeste de São Paulo, árvores para todo lado. Dia de semana, por volta das dez horas da manhã. Elas não parecem ter qualquer pressa. Bem alimentadas. A mãe, ainda sem o estresse da vaidade cotidiana naquele ins- tante, tem o cabelo bem tratado. Luiz Felipe Pondé. In: Folha de S.Paulo, 29 set. 2014. Texto I – narração. Sequência de ações ambientadas no tempo e no espaço, transformação dessas ações e presença de um narrador apresentando as per- sonagens e os acontecimentos. Texto II – dissertação. A partir da apresentação de um fato concreto, cria-se a possibilidade de analisar e refl etir sobre os seus efeitos. Leia o texto para responder às questões de 2 a 4. A banalização da vida Este é talvez um dos fatos mais assustadores e tristes do nos- so momento: falta de segurança generalizada, o medo, pois aqui se mata e se morre como quem come um pãozinho. Bala perdida, trafi cante, bandido graúdo ou pequeno, e o menor de idade, que é o mais complicado: pelas nossas leis absurdas, sendo menor ele não é de verdade punido. É le- vado para um estabelecimento hipoteticamente educativo e socializador, de onde deveria sair regenerado, com profi s- são, com vergonha na cara, sair gente. Não sai. Não, salvo raríssimas exceções, e todo mundo sabe disso. Todo mundo sabe que é urgente e essencial reduzir para menos de 18 anos a idade em que se pode prender, julgar, condenar um assassino feroz, reincidente, cruel e confesso. Mas aí vem quem defenda, quem tenha pena, ah! os direitos humanos, ah! são crianças. São assassinos apavorantes: torturam e matam com frieza de animais, tantas vezes, e vão para a reeducação ou a res- socialização certamente achando graça: logo, logo estarão de volta. Basta ver os casos em que, checando-se a fi cha do “menino”, ele é reincidente contumaz. Outro ponto dessa nossa insegurança é a rala presença de policiais em muitas cidades brasileiras. Posso rodar quartei- rões intermináveis de carro, e não vejo um só policial. Culpa deles? Certamente não. Os policiais ganham mal, arriscam a vida, são mortos fre- quentemente, são mais heróis do que vilões, embora muitos os queiram enxergar assim. Onde não temos policiamento, mais insegurança. Na verdade, a violência é tão alta e tão geral no país que mesmo porteiros treinados de bons edif ícios ou condomí- nios pouco adiantam: facilmente são rendidos, ou mortos, e estamos à mercê da bandidagem. Texto III – descrição. No texto, verifi camos a caracterização de uma situação (cena): mãe e fi lha passeando, desenvolvida por meio de verbos de estado e frases nominais. 10 O Discurso Argumentativo I Banalizamos a vida também nessas manifestações de toda sorte, em que paus, barras de ferro, bombas caseiras, até armas de fogo, não apenas assustam, não só ameaçam, mas aqui e ali matam alguém. Incendeiam-se ônibus não ape- nas em protesto, mas por pura maldade, com gente dentro, mesmo crianças: que civilização estamos nos tornando? Morrer assassinado, mesmo sem estar no circuito perigoso dos bandidos, dos marginais, começa a se tornar, não ainda banal, mas já frequente: nas ruas, às 10 da manhã, matam- -se pais de família ou jovens estudantes ou operários. Não falo em becos onde a violência impera e a mortandade é comum, mas em ruas abertas de bairros de classe média. Não se passa semana sem que se noticie criança morta por bala perdida. Agora uma mulher foi morta com um tiro na cabeça quando ia comprar pão para as oito crianças que estava criando: levada no porta-malas do carro da polícia, caiu na rua, fi cou presa pela roupa e assim foi arrastada no asfalto por um longo trecho. Vemos esse horror na televisão, e vamos tomar calmamente o café da manhã. Nada, quase nada mais nos espanta: es- tamos fi cando calejados, não nas mãos por trabalho duro, mas na alma pelo horror que nos assola tanto que a cada vez nos horrorizamos menos. Que humanidade estamos nos tornando, nós os abandona- dos, os expostos, os indefesos, sem proteção nem de uma Justiça confusa, anacrônica, irreal, e, quando a lei é boa, tão mal cumprida? Quero escrever uma coluna otimista. Quero escrever poe- mas delicados, romances intensos, crônicas de amor pela cidade, pelas pessoas, pela natureza, quero tudo isso. Mas se tenho voz, e vez, não posso falar de fl ores enquanto o as- falto mostra manchas de sangue, famílias são destroçadas, ruas acossadas, casas ameaçadas, seres humanos feito coe- lhos amedrontados sem ter para onde correr, nem a quem recorrer, e não se vê nem uma luz no fi m desse túnel. Pouca esperança real temos. Nós nos desinteressamos para sobreviver emocionalmente diante da horrenda banaliza- ção da vida representada não só pela quantidade e violência dos crimes cometidos e impunes como pela punição incri- velmente pequena para quem mata com seu automóvel por correr demais ou dirigir bêbado, por exemplo. O descaso, ou a incompetência, com que tudo isso é admi- nistrado nos faz temer outra ameaça ainda: a banalização da vida é o outro lado da banalização da morte. Lya Luft. In: Veja, 29 mar. 2014. 2 Quanto ao modo de composição, o texto apresenta-se sob a forma de: a) narração de um episódio cotidiano. b) descrição de personagem. c) dissertação sobre tema polêmico. d) narração de um fato atual. e) descrição de espaço. O texto tem como objetivo analisar, refl etir sobre um fato: a falta de segurança generalizada e o medo que ela causa. Alternativa c 3 No terceiro e no quarto parágrafo, a autora trata de um tema bastante polêmico que é a redução da maioridade penal, dei- xando clara a sua opinião que é: a) contrária, pois muitos adolescentes, que são privados de sua liberdade, não fi cam em instituições preparadas para sua reeducação, reproduzindo o ambiente de uma prisão comum. b) favorável, porém concorda que não há dados que compro- vem que o rebaixamento da idade penal reduz os índices de criminalidade juvenil. c) contrária, pois a violência não será solucionada com a culpa- bilização e punição,mas pela ação da sociedade e governos nas instâncias psíquicas, sociais, políticas e econômicas que as reproduzem. d) favorável, pois, embora sejam menores, são assassinos apa- vorantes: torturam e matam com frieza de animais, e vão para a reeducação certamente achando graça, com a certeza de que estarão de volta. e) contrária, pois a imposição de medidas socioeducativas e não das penas criminais relaciona-se justamente com a fi nalidade pedagógica que o sistema deve alcançar. 4 Releia o texto de Lya Luft para responder ao que se pede. a) Transcreva o trecho em que a autora afi rma que a violência não nos espanta mais. b) Transcreva o trecho em que a autora trata da relação entre os textos que ela produz e a violência. No décimo primeiro parágrafo a autora mostra que a violência não nos espanta mais: “Vemos esse horror na televisão, e vamos tomar calmamente o café da manhã. Nada, quase nada mais nos espanta: estamos fi cando calejados, não nas mãos por trabalho duro, mas na alma pelo horror que nos assola tanto que a cada vez nos horrorizamos menos”. No antepenúltimo parágrafo a autora trata da relação entre os textos que ela produz e a violência, afi rmando que gostaria de escrever conteúdos diferentes desse tema: “Quero escrever uma coluna otimista. Quero escrever poemas delicados, romances intensos, crônicas de amor pela cidade, pelas pessoas, pela natureza, quero tudo isso. Mas se tenho voz, e vez, não posso falar de fl ores enquanto o asfalto mostra manchas de sangue, famílias são destroçadas, ruas acossadas, casas ameaçadas, seres humanos feito coelhos amedrontados sem ter para onde correr, nem a quem recorrer, e não se vê nem uma luz no fi m desse túnel”. No texto, a autora posiciona-se de forma favorável à redução da maioridade penal, tendo como argumento o fato de serem assassinos apavorantes e seus atos rein- cidentes mesmo depois de passarem pela reeducação ou ressocialização proposta pelo sistema. Alternativa d 11 P R O D U Ç Ã O D E TE X TO O Discurso Argumentativo I fl exão da trajetória indica que fi cará mais dif ícil, se não in- viável, realizá-la. Cabe ao governo apresentar medidas para alcançar tal obje- tivo, e não produzir argumentos e números fantasiosos. De nada adianta chorar o carbono derramado. “Progresso da poluição”. Folha de S.Paulo, 21 nov. 2014. No trecho “Soa risível, assim, a alegação da ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) de que a piora das emissões era es- perada porque o país está em desenvolvimento”, a expressão destacada pode ser substituída, sem prejuízo na apresentação do argumento, por: a) é relevante. b) é digna de riso. c) é importante. d) é coerente. e) é intransferível. 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Como se não bastasse a safra de más notícias nos campos da economia e da política, o governo Dilma Rousseff (PT) colhe também na seara do ambiente frutos amargos semea- dos nos últimos anos. Sob sua direção, o país passou a poluir mais do que deveria. Em 2013, aumentaram 7,8% as emissões brasileiras de gases que agravam o efeito estufa. Como o PIB cresceu só 2,5%, no ano passado o Brasil passou a poluir mais a cada unidade de riqueza produzida. É mais um retrocesso da gestão da petista. Desde 2005 havia tendência de queda das emissões de carbono (termo genérico para vários gases do efeito estufa, dióxido de carbono — ou CO2 — à frente). […] Seu Sistema de Estimativa de Emissão de Gases de Efeito Estufa constatou incremento dessa forma de poluição em todos os setores da economia. Coube destaque para a mudança do uso do solo, categoria em que se encaixa o desmatamento na Amazônia e no cer- rado, com um disparo de 16,4%. Também sobressai o mau desempenho do setor de energia, com 7,3%. […] Soa risível, assim, a alegação da ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) de que a piora das emissões era esperada porque o país está em desenvolvimento. Faltou pouco para concluir que poluição é progresso, raciocínio tosco que norteou nossa diplomacia em negociações internacionais de outrora. O Brasil tem uma meta para cumprir: cortar de 36% a 39% as emissões nacionais até 2020. Faltam só seis anos, e a in- Em sua conclusão, ao constatar o descaso ou a incompetência com que a violên- cia é administrada em nosso país, a autora afi rma que pior que a banalização da vida seria a banalização da morte, isto é, quando não se tem mais respeito pela morte porque ela não tem importância. “Risível” segundo o dicionário Aurélio signifi ca “que faz rir, burlesco; digno de escárnio; ridículo”. A expressão no contexto pode ser substituída por “é digna de riso”, ou seja, a alegação da ministra de que o aumento da poluição se deu porque o país está em desenvolvimento merece riso. Alternativa b 12 O Discurso Argumentativo I mais rápido na educação. Atualmente, 12% das mulheres têm diploma universitário — ante 10% dos homens. Metade das garotas de 15 entrevistadas numa pesquisa da OCDE disse pretender fazer carreira em engenharia e ciências — áreas especialmente promissoras. […] Agora, a condição de minoria vai caindo por terra e os pa- drões de comportamento começam a mudar. Cada vez me- nos mulheres estão dispostas a abdicar de sua natureza em nome da carreira. Não se trata de mudar a essência do traba- lho e das obrigações que homens e mulheres têm de encarar. Não se trata de trabalhar menos ou ter menos ambição. É só uma questão de forma. É muito provável que legisladores e empresas tenham de ser mais fl exíveis para abrigar mulheres de talento que não desistiram do papel de mãe. Porque, de fato, essa é a grande e única questão de gênero que importa. Mais fortalecidas e mais preparadas, as mulheres terão um lugar ao sol nas empresas do jeito que são ou desistirão de- las, porque serão capazes de ganhar dinheiro de outra for- ma. Há 8,3 milhões de empresas lideradas por mulheres nos Estados Unidos — é o tipo de empreendedorismo que mais cresce no país. De acordo com um estudo da EY, o Brasil tem 10,4 milhões de empreendedoras, o maior índice entre as 20 maiores economias. Um número crescente delas tem migrado das grandes empresas para o próprio negócio. Os fatos mostram: as empresas em todo o mundo terão, mais cedo ou mais tarde, de decidir se querem ter metade da po- pulação como aliada ou como concorrente. Exame, out. 2013. OCDE: Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. EY: Organização global com o objetivo de auxiliar seus clientes a fortalecer seus negócios ao redor do mundo. 6 (Vunesp) Em sua argumentação, a autora revela que a impor- tância da presença das mulheres em atividades empresariais se deve, entre outros, a um motivo de ordem estatística: a) elas revelam maior sensibilidade e uma intuição aguçada para os negócios. b) elas representam um contingente considerável de metade da população do mundo. c) elas são capazes, em comparação com os homens, de acu- mular inúmeras tarefas. d) elas se formam em média com rendimento maior que os homens nas universidades. e) elas aumentam signifi cativamentea produção das empresas em que atuam. 7 (Vunesp) Desde o título do artigo, que é retomado no último parágrafo, os argumentos da autora são motivados por um fato não referido de modo ostensivo, ou seja: a) a boa empresária difi cilmente conseguirá se tornar uma boa mãe. b) as mulheres mostram melhor desempenho nas atividades domésticas. c) as atividades empresariais ainda são dominadas por homens. d) as empresas fazem grande esforço pela participação de mu- lheres. e) o mercado ainda trata as mulheres mais como consumidoras do que empreendedoras. 8 (Vunesp) No último parágrafo, focalizando o mercado de traba- lho mundial, a autora sugere que as grandes empresas atuais: a) correm o risco de privilegiar o mercado feminino, se come- çarem a ser lideradas por mulheres. b) não admitem, em todo o mundo, a liderança de mulheres. c) precisam muito da liderança de mulheres, pois estas são atualmente mais capacitadas que os homens. d) não precisam se preocupar com as mulheres, pois o empreen- dedorismo destas é um fenômeno passageiro. e) poderão ter de enfrentar no futuro a concorrência de em- presas lideradas por mulheres. ANOTAÇÕES 13 P R O D U Ç Ã O D E TE X TO O Discurso Argumentativo I TAREFA PROPOSTA 1 Faça a associação correta. a) Descrição b) Narração c) Dissertação I. Chamar alguém de macaco, polaco, amarelão ou qual- quer outro termo pejorativo com a intenção de ofen- der a vítima baseado em sua raça, cor ou etnia não é racismo, mas injúria agravada pelo conteúdo racial. A diferença, do ponto de vista jurídico, é enorme. Em termos gerais, racismo ocorre quando alguém ten- ta impedir a vítima de exercer seus direitos devido à sua raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, ou tenta fazer com que outras pessoas ajam dessa for- ma. É um crime gravíssimo. Um dos poucos a serem mencionados especifi camente pela Constituição, que determina que ele é não só inafi ançável como também imprescritível. Ou seja, se você praticar racismo hoje, daqui a 80 anos ainda poderá ser processado. Compare isso com crimes como homicídio ou latrocínio, que prescrevem em 20 anos ou menos, e você terá ideia da gravidade do racismo. Já a injúria agravada pelo conteúdo racial é ofender a honra ou dignidade de alguém usando sua raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional como meio de ofensa. Disponível em: http://direito.folha.uol.com.br II. O lugar não era feio. Uma pequena cachoeira, de uns quinze metros de altura, despenhava-se em três partes, pelo fl anco da montanha abaixo. A água estremecia na queda, como que se enrodilha- va e vinha pulverizar-se numa grande bacia de pedra, mugindo e roncando. Havia muita verdura e, como que toda a cascata, vivia sob uma abóbada de árvores. O sol coava-se difi cilmente e vinha faiscar sobre a água ou sobre as pedras em pequenas manchas, redondas ou oblongas. Os periquitos de um verde mais claro, pou- sados nos galhos, eram como as incrustações daquele salão fantástico. Lima Barreto. Triste fi m de Policarpo Quaresma. III. Terminara a cerimônia da entrega dos diplomas. As úl- timas palavras do diretor da faculdade foram seguidas do estrépito dos aplausos que encheram o velho teatro. Quando a cortina desceu, Eugênio saiu do palco sufocado. Sentia muito calor e uma leve dor de cabeça. Um homem moreno, magro e alto abraçou-o com alguma intimidade. Deve ser engano — pensou Eugênio, pois não se lem- brava daquela cara. Agradeceu desajeitadamente e procurou a porta. Esbarrou num senhor vermelho e lustroso, que se desfez em desculpas e sorrisos. En- veredou pelo corredor, suando, pois o smoking e a ca- misa de peito engomado lhe causavam um mal-estar de sufocação. Abrindo caminho obstinada e quase cegamente por entre as pessoas que obstruíam o cor- redor, segurando o pergaminho com ambas as mãos, Eugênio teve consciência duma agradável sensa- ção de orgulho, de força, de confi ança em si mesmo. Estava formado! Erico Verissimo. Olhai os lírios do campo. Leia o texto para responder às questões 2 e 3. A infl uência africana na estrutura gramatical e no vocabu- lário é relevante na formação do português brasileiro para além da incorporação de palavras como “caçula”, “mole- que”, “cachaça”, “acarajé” e “axé”. Pesquisadores como Dante Lucchesi, da UFBA, acreditam que muitos preconceitos linguísticos contra o português brasileiro sejam dirigidos a contribuições africanas ao idioma. “A maior infl uência do processo de assimilação imposto pelos portugueses aos escravos negros está presente até hoje no português informal, na língua do dia a dia, quan- do dizemos, por exemplo, ‘Nós pega os peixe’. A variação na concordância nominal e verbal constitui um divisor de águas no cenário sociolinguístico brasileiro. Revela o peso que o contato entre línguas teve no Brasil” — explica Luc- chesi. Ter preconceito linguístico com esse tipo de ocorrência no idioma, segundo o pesquisador, seria a razão do menos- prezo do estudo da relevância africana no português. Com isso, “o estigma social recai sobre as variantes linguís- ticas mais notáveis da fala popular”, afi rma o professor em seu estudo. “Não precisa ter concordância para ter racio- cínio lógico. Essa é marca indelével das línguas africanas”. Adaptado de LAMAS, Julio. “África resiste”. Língua portuguesa, jul. 2013. 2 Identifi que a tese que o autor do texto defende. a) A infl uência africana na formação da língua portuguesa vai além da incorporação de palavras típicas dessa cultura. b) O preconceito linguístico é um fenômeno que compreende a importância da infl uência africana na língua portuguesa. c) Muitos fenômenos linguísticos do português se devem a contribuições da cultura brasileira ao idioma. d) A forma de assimilação da língua imposta pelos portugue- ses aos escravos negros foi responsável pela existência da variante informal. e) As variantes linguísticas mais notáveis da língua portuguesa As respostas encontram-se no portal, em Resoluções e Gabaritos. 14 O Discurso Argumentativo I são de infl uência indígena, pouco se sabe sobre a infl uência africana. 3 (UEA-AM) Pela leitura do texto, preconceito linguístico é: a) a contribuição de idiomas africanos para a ampliação do vocabulário da língua materna. b) a assimilação imediata pelos africanos da língua falada nos países para os quais emigraram. c) o estudo sociolinguístico dos eventos em que os indivíduos exercitam a língua falada. d) a valorização do padrão culto da língua e o desprestígio das variantes linguísticas populares. e) a sobrevivência das características da linguagem formal, graças à superioridade do padrão culto. Texto para as questões 4 e 5. Curto, logo existo Com a evolução e o aumento de usuários e da importância das redes sociais, o nome e a fotografi a de cada pessoa pas- saram a funcionar como o substituto do sujeito. O “eu” real se esvaziou para dar lugar ao “perfi l”. O fi lósofo francês René Descartes estabeleceu um novo modelo de pensamento no século XVII, ao formular em la- tim a seguinte proposição: “Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum). Era uma forma de demonstrar que aquele que existe raciocina e, por conseguinte, põe em xeque o mundo que o cerca. A dúvida científi ca substituía a certeza religiosa. Hoje, Descartes se reviraria no seu túmulo em Estocolmo, caso pudesse observar o que se passa na cabeça dos seres humanos. “Curto, logo existo” (Amo, ergo sum) parece ser a nova atitude lógica popularizada pelo Facebook. A dúvida científi ca cedeu espaço à presunção tecnológica. Melhor ainda é a formulação da jornalista americana Nancy Jo Sales, no livro Bling Ring — a gangue de Holly- wood. Para a autora, a dúvida sobre a existência do ego deu lugar, na cultura do ultraconsumismo e das celebridades, a um outro tipo de pergunta: “Se postei algo no Facebook e ninguém ‘curtiu’, eu existo?” A resposta é: provavelmen- te não. Eu existo se meus tuítes não são comentados nem retuitados? Claro que não. E se são curtidos ou retuitados,tampouco! Ninguém existe nas redes sociais senão como representações, que estão ali no lugar dos indivíduos. Não há uma transparência ou uma continuidade natural entre o que somos de fato e o que queremos ser nas redes sociais. Isso parece óbvio, mas não o é para muita gente. Agora as pessoas reais guardam uma alta concentração de nada nos cérebros, pois preferem jogar tudo o que pensam e sentem via suas representações nas redes sociais. É óbvio que os signos na internet podem enganar, mentir e insidiosamente simular um alter ego digital. Os vigaristas e falsários pululam alegremente com suas máscaras nas re- des sociais. Quando alguém me “curte” ou “não curte”, está agindo com sinceridade na mensagem ou quer agradar e parecer inteligente? Ou está ironizando? Nesse sentido, se o eu do Facebook quiser se sentir mais vivo com o número de pessoas que o curtiram, estará caindo em uma armadi- lha, pois ele não é o que é, nem quem curte é o que parece ser. Mesmo quando a boa-fé existe, ela deixa de o ser por- que nada se mantém estável no ambiente da “curtição” do Facebook. Até a morte está vulnerável a ataques e profanações nesse meio movediço e enganoso em que, como diz Manuel Cas- tells, a rede é a mensagem. Quando um indivíduo morre no mundo concreto, ele continua mais vivo do que nun- ca nas redes sociais online, pois seu perfi l e seu histórico continuam atuando como se substituíssem o ser humano que os gerou um dia. A sobrevida virtual se torna maior e mais signifi cativa que a vida real. É por isso que os robôs do Facebook geram mensagens aleatórias para que usuários vivos ou mortos “cutuquem” alguém que já está morto, ou “curtam” perfi s que já subiram aos céus. Isso não me causa calafrios. Ao contrário, pertence à na- tureza humana acreditar na vida após a morte — e a tec- nologia proporciona isso de uma forma concreta. Desse modo, ninguém mais morre totalmente. A vida se torna um prolongamento da morte, e vice-versa — o que não deixa de ser uma realidade. Também ninguém mais vive de fato por causa da tecnologia. Quando clicamos para dar sinal de vida, estamos vegetando na indeterminação. Ainda vivos, contemplamos a nossa própria atividade post-mortem. No que diz respeito a redes sociais, portanto, morrer ou não morrer, ser ou não ser, curtir ou não curtir, vodka ou água de coco, para elas tanto faz, não é uma questão. É, sim, uma tautologia, ou seja, signifi ca dizer a mesma coi- sa, ainda que sob formas aparentemente contraditórias. Os mecanismos de busca não se importam com quem morre ou vive, salvo para assinalar datas de nascimento e morte. O ato de “curtir” tem um poder ontológico: ele alterou irre- mediavelmente a nossa forma de encarar o mundo, os ou- tros e a nós mesmos, pois o “curtir” é a manifestação mais aguda da insistência do ego na cadeia da lógica binária do Facebook. Se eu “curto”, desejo afi rmar minha existência, mas eu menos existo do que penso que possa existir. Se al- guém me “curte”, posso adquirir certeza de que estou no mundo e me encher de felicidade com o elogio, mas não há como verifi car a veracidade dele e, assim, se eu pensar de- mais nisso, mergulho na frustração e na sensação de vazio existencial. E se o mundo existe só porque todos se “cur- tem” mutuamente, então ele virou um círculo vicioso de aprovações que o levarão inevitavelmente ao caos. Quem curte não curte algo, mas curte o próprio ato de curtir. Esse mundo paralelo peculiar se destruiria se houvesse contra- 15 P R O D U Ç Ã O D E TE X TO O Discurso Argumentativo I uma estética sexual e familiar. […] Quando a era moderna pareceu, enfi m, trazer a emancipa- ção da mulher, a conquista revelou-se contraditória. Estar na moda, ser magra, bem-sucedida e boa mãe tornou-se uma exigência. Com a ajuda do photoshop, top models, estrelas de televisão e cantoras exibem nos meios de co- municação o êxito que conquistaram em todos os aspec- tos do sucesso — o que, na prática, nem sempre é verdade. Elas, em geral, são tão “irreais” quanto a Vênus grega. A verdade é que a mídia veicula uma série de estereótipos sobre como agir que se tornam um peso para a mulher. Não devemos nos esquecer de que quem assume o coman- do é o mercado interessado em vender roupas, revistas e produtos destinados ao público feminino — e não propria- mente a mulher. Assim, mesmo no século 20, quando pare- ciam ganhar “autonomia”, elas passaram a ser atormentadas por padrões estabelecidos por outra base imaginária: a do consumo. O que muda no século 21 para as mulheres que utilizam as redes sociais? Quanto à importância da imagem, nada. […] Por outro lado, vivemos, sim, uma revolução: pela primeira vez a mulher passa a se autorrepresentar, a produzir repre- sentações de si publicamente. Essa produção não está mais sob o domínio exclusivo dos homens, nem restrita a um grupo de mulheres como as artistas (atrizes, fotógrafas, ci- neastas, pintoras, escultoras etc.) ou as modelos. As mulhe- res comuns tornam-se protagonistas de sua vida. Chegam a dispensar a ajuda de outra pessoa para tirar a própria foto: estendem o braço e miram em sua própria direção. […] A mulher “hipermoderna” reivindica algo novo: o seu pro- tagonismo público e sua “autenticidade”. O que se soma, agora, à revolução tecnológica da sociedade capitalista. Com acesso facilitado a câmeras digitais, a telefones móveis que dispõem desse equipamento e à rede, além da existên- cia de uma plataforma que dá suporte ao armazenamento e oferece possibilidades ao usuário para compartilhar essas imagens pela internet, a mulher passa a se autofotografar nas mais diversas ocasiões, de situações corriqueiras a via- gens. Nas palavras do fi lósofo Gilles Lipovetsky: “O retrato do indivíduo hipermoderno não é construído sob uma vi- são excepcional. Ele afi rma um estilo de vida cada vez mais comum, ‘com a compulsão de comunicação e conexão’, mas também como marketing de si, cada um lutando para ga- nhar novos ‘amigos’ para destacar seu ‘perfi l’ por meio de seus gostos, fotos e viagens. Uma espécie de autoestética, um espelho de Narciso na nova tela global”. Disponível em: www2.uol.com.br 6 (Insper-SP) De acordo com o texto, o Facebook: a) contribui com a formação de uma imagem negativa da mulher, devido à futilidade dos conteúdos postados. dições, confrontos e refutações. As redes sociais deram ori- gem a universos de consenso absoluto. De minha parte, não curto, logo desisto. Luís Antônio Giron. Disponível em: epoca.globo.com 4 (I. F. Sul-rio-grandense) Analise as afi rmativas a seguir sobre o texto e julgue-as (V ou F). I. O título do texto estabelece uma relação de intertextuali- dade com a famosa frase de Descartes, “Penso, logo existo”, a partir da qual o autor pretende chamar a atenção para uma mudança nada consciente de como as pessoas passa- ram a usar a internet ao longo do tempo. II. O período “O ‘eu’ real se esvaziou para dar lugar ao ‘perfi l’” apresenta a tese, isto é, o ponto central a ser debatido e defendido pelo autor ao longo do texto. III. O autor utiliza, em seu texto, linguagem subjetiva, dado o emprego de termos e expressões que indicam o envolvi- mento afetivo diante da temática abordada. IV. Em termos argumentativos, o uso dos substantivos “vigaris- tas”, “falsários” e “máscaras” marca a posição do autor em criticar o comportamento dissimulado de todos os usuários da internet, chamando a atenção, desse modo, para os pe- rigos do mundo virtual. 5 (I. F. Sul-rio-grandense) Segundo o texto, nas redes sociais: a) confi rma-se a existência do “eu” pela criação de perfi s. b) encontra-se o correlato do que as pessoas são, verdadeira- mente, na vida real. c) busca-se revelar aquilo que, por vergonha, não se mostraria fora do ambiente virtual. d) vive-se sob efeitos de ilusão, pois não há como atestar a legitimidade das informações. Texto para as questões 6 e 7. As mulheres gastam mais do que o dobro do tempo dos homens no Facebook: três horas por dia,enquanto eles gas- tam uma hora, em média. […] Elas são a maioria não só no Facebook (onde representam 57% dos usuários); também têm mais contas do que os homens em 84% dos 19 princi- pais sites de relacionamentos. […] cabe, antes, compreender por que a autorrepresenta- ção é mais importante para as mulheres que para os ho- mens. Historicamente as representações femininas foram fabricadas por motivações sociais diversas: míticas, religio- sas, políticas, patriarcais, estéticas, sexuais e econômicas. E, há mais de vinte séculos, essa fabricação esteve sob o po- der masculino. As mulheres não produziam suas próprias imagens, eram retratadas. […] O pano de fundo dessas produções artísticas era uma tentativa masculina de “gerenciar” o imaginário feminino, transmitindo sugestões sobre a conduta social desejada até 16 O Discurso Argumentativo I b) constitui-se como ferramenta indispensável para os movi- mentos que combatem a exploração da imagem feminina. c) refl ete a banalidade da sociedade por meio da publicação constante de fotos do cotidiano. d) é o melhor suporte para a arte da contemporaneidade, devido ao seu caráter democrático e tecnológico. e) registra uma mudança histórica em relação à imagem social atribuída às mulheres. 7 (Insper-SP) No texto lido, destaque a introdução, o desenvolvi- mento e a conclusão, justifi cando o que representa cada uma dessas partes. 8 +Enem [H23] Leia o texto e responda ao que se pede. Faz semanas que temos falado do Dia das Crianças, come- morado em 12 de outubro. Escolas realizam eventos para seus alunos, a mídia faz reportagens sobre o assunto, famí- lias agendam idas a lojas para comprar brinquedos para os fi lhos, que fi cam ansiosos com o que vão ganhar. Todo esse barulho em torno da data está relacionado a uma valorização da infância e das crianças em nossa sociedade? Não. Valorizamos o consumo que nessa época explode por- que ninguém quer ver o fi lho com carinha triste por não ter ganhado o que esperava. O único que ganha com essa data é o mercado que trabalha com produtos destinados às crianças. […] Rosely Sayão. Gerações. In: Folha de S.Paulo, 7 out. 2014. Sobre a temática apresentada, a autora defende o ponto de vista de que: a) as crianças são valorizadas no Dia das Crianças. b) o consumo é valorizado no Dia das Crianças. c) os pais não sabem educar os fi lhos. d) as crianças são valorizadas quando ganham presentes. e) a escola e a mídia contribuem para a valorização da criança. PARA PRATICARCONSTRUINDO O TEXTO 1 (Fatec-SP) Texto I Uma pesquisa da União Europeia, realizada com países que lideram as maiores economias do mundo, colocou o Brasil como um dos países com maior tendência para o empreen- dedorismo. A pesquisa, de julho de 2012, apontou que 63% dos brasi- leiros preferem trabalhar em um negócio próprio. O índice dos que preferem trabalhar como empregados fi cou em 33%. O resultado deixou o Brasil em segundo lugar entre as nações pesquisadas. Renato Fonseca, gerente do Sebrae-SP, afi rma que nosso país passou por uma mudança na motivação dos empreen- dedores, indo da necessidade de sobrevivência para a iden- tifi cação de uma oportunidade. “O que norteia a abertura de empresa no Brasil hoje é a oportunidade. O empreende- dorismo por necessidade é frágil”, afi rma. Adaptado de Daniel Tremel. In: Folha de S.Paulo, 14 jan. 2013. Texto II Quantas vezes alguém teve vontade de largar seu emprego? Nestes momentos, a primeira coisa que vem à mente dessa pessoa é: “vou deixar o emprego nessa empresa e vou partir para o meu negócio próprio, daí não precisarei mais dar sa- tisfação para ninguém e serei dono do meu próprio nariz”. Porém, uma decisão por impulso leva o indivíduo a descon- siderar vários aspectos importantes, que podem fazer com que se tome uma decisão errada. Muitos erram já em um primeiro momento, quando deci- dem investir em algo para o qual não estão preparados e que pode exigir muito mais de sua capacidade. Na sequên- cia, onde ele irá se instalar, qual estrutura terá, com quem irá se associar, onde captar recursos fi nanceiros adicionais etc. E com o negócio já em andamento, surgem outras di- fi culdades… Aí bate a saudade dos tempos em que essa pessoa trabalha- va para uma empresa. Lá o seu salário era depositado todo fi nal de mês, tinha plano de saúde, férias, bonifi cações e nem precisava trabalhar tanto. “Eu era feliz e não sabia…” Portanto, se alguém estiver pensando em se tornar um em- preendedor, deve avaliar com cuidado todos os detalhes e exigências do novo empreendimento. Só valerá a pena se essa pessoa se sentir muito preparada para enfrentar todas as situações que poderão surgir no seu caminho. Adaptado de Nelson Fukuyama. Disponível em: www.catho.com.br Após a leitura dos textos, elabore uma dissertação, de acor- do com as normas gramaticais da língua portuguesa, sobre o tema: “Vida profi ssional: ter um negócio próprio ou trabalhar como empregado de uma empresa?” 2 A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redi- ja texto dissertativo-argumentativo, em norma padrão da língua portuguesa, sobre o tema: “A crise da água pode ser evitada?” É necessário apresentar proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coe- rente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista. Texto I Tudo é água Com os reservatórios em seus patamares historicamente mais baixos, o Brasil começa a conviver com a assustado- ra sombra da escassez do líquido insubstituível, sem o qual 17 P R O D U Ç Ã O D E TE X TO O Discurso Argumentativo I não há vida e a economia para O Brasil tem a maior reserva de água doce do planeta. Concentram-se aqui 12% de todos os recursos hídricos glo- bais. O que explica, então, a crise de abastecimento pela qual passa o Estado de São Paulo, o mais populoso e rico do país? A seca histórica que atinge o Sudeste há dois anos, a maior dos últimos 84 anos, efeito contínuo de uma massa de ar quente que estacionou na região, justifi ca parte do problema. Mas não é prudente atribuir o baixo nível de água apenas às mudanças climáticas pelas quais passa a Terra, e que fazem proliferar climas extremos. O Brasil é exemplo de descaso na administração de seus recursos hí- dricos. Em todo o país, desperdiçam-se 40% da água capta- da, que vaza por encanamentos precários, de manutenção quase inexistente. Em São Paulo, a perda é de 31,2%. É falha que poderia ser corrigida com melhorias anunciadas desde 2004, quando o estado passou por crise similar. Muito pou- co foi feito. Sem o desperdício, haveria água de sobra. […] Com isso, o planeta vê dezenas de trilhões de litros indo pelo ralo. É assustador observar como tratamos o elemen- to essencial à vida, limitado e insubstituível. Se gastarmos todo o petróleo que existe, teremos outras fontes energéti- cas, como a solar e a eólica. Vivemos dezenas de milhares de anos sem combustíveis fósseis. Sobrevivemos, e sobre- viveríamos sem eles. Mas, se dermos cabo dos estoques de água, não haverá alternativa. Água é tudo. Na capital paulista, pesquisa Datafolha divulgada na sema- na passada revelou que 60% dos moradores fi caram sem água nos últimos trinta dias. No interior, o cenário se agra- va. Alguns municípios, a exemplo de Cristais Paulista, mul- tam quem desperdiça água. Em Itu, há protestos de rua, e caminhões-pipa precisam de escolta para não ser atacados. Ao prejudicar a economia e o abastecimento, a seca dá iní- cio a perigosos confl itos. Desde 1990, a disputa por água foi motivo de 2.200 confl i- tos diplomáticos, econômicos ou militares pelo planeta. A tensão deve se intensifi car. A ONU calcula que faltará água limpa para 47% da população global até 2030. […] A resposta para a crise hídrica parece simples: temos de con- sumir menos e diminuir drasticamente o desperdício. Mas são atitudes dif íceis de ser implantadas, já que dependemde uma mudança radical de costumes. A demanda de água per capita nos Estados Unidos ultrapassa os 500 litros, dez vezes o recomendado pela ONU. Enquanto isso, áreas pobres quase não têm acesso ao recurso. Moçambique é dono de um dos piores cenários, onde há apenas 4 litros de água limpa por morador. Para controlar o gasto, todo cidadão precisa rever seus hábitos cotidianos, como deixar a torneira aberta en- quanto escova os dentes ou tomar longos banhos. Mas soa injusto cobrar exclusivamente uma nova postura in- dividual. São essenciais também políticas públicas que repreendam o desperdício. A Califórnia é exemplo mun- dial nesse aspecto. São Paulo vê secar seu principal re- servatório, o da Cantareira, cujo nível está em 3%. Seu primeiro estoque de volume morto, cota que repousa no fundo das represas, abaixo do túnel que costuma dre- nar a água, e, por isso, mais suja que o usual, deve desa- parecer no próximo mês. A segunda parcela segurará o abastecimento por poucos meses. Enquanto isso, o gover- no promete entregar obras que aumentarão a captação de água, e já se cogitou importar recursos hídricos de outros estados. São apenas paliativos, que em nada ajudarão a lon- go prazo se o desperdício não for controlado. Para o Brasil e para o mundo, a crise da água serve como alerta. Se não cuidarmos dos escassos recursos que temos, desenharemos um futuro cada vez mais árido. Gabriel Neri. In: Veja, 24 out. 2014. Texto II Sabesp aprova novas faixas de bônus para quem economiza água O Conselho de Administração da Sabesp aprovou, nesta terça-feira (21 de outubro de 2014), duas novas faixas no bônus para quem economizar água. Desde fevereiro, quem reduz seu consumo em 20% ou mais recebe um desconto de 30% na fatura. Pela proposta aprovada, o imóvel que tiver redução de 10% a 15% no consumo terá economia adicional de 10%; já quem baixar o gasto de água entre 15% e 20% terá uma redução na conta de 20%. O cálculo é feito em relação à média de consumo dos 12 meses que vão de fevereiro de 2013 a janeiro de 2014. A proposta foi aprovada pela Arsesp (Agência Regulado- ra de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo) e as novas faixas do Programa de Bônus terão como referência consumos a partir de 1º de novembro de 2014. O balanço mais recente aponta que 49% dos clientes da Sa- besp obtiveram o bônus porque reduziram em pelo menos 20% seu consumo. Outros 26% baixaram o consumo, mas sem obter a bonifi cação. E 25% gastaram mais água do que a média. Disponível em: http://site.sabesp.com.br DEFINIÇÃO Sabesp: empresa responsável pelo fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos de 364 municípios do Estado de São Paulo. 18 O Discurso Argumentativo I Texto III F olha de S.Paulo, 2 nov. 2014. VÁ EM FRENTE Assista Crash — no limite, de Paul Haggis (EUA, 2005). O fi lme é um drama que mostra um casal de estadu- nidense; um persa, dono de comércio; dois policiais e amantes latinos; um negro, diretor de TV, e sua mulher e um casal coreano de meia-idade. Essas e outras pessoas vivem em Los Angeles e, juntas, serão vítimas de grave acidente. Assim começa uma complexa análise do confl ito racial na América. Oscar de melhor fi lme em 2006. CR AS H . D IR EÇ ÃO : P AU L H AG GI S. E U A; A LE M AN H A: IM AG EM F IL M ES , 2 00 4. ANOTAÇÕES AD ÃO IT U RR U SG AR AI Objetivos: c Persuadir o interlocutor por meio da apresentação de argumentos fortes, sejam eles dados estatísticos, vozes de autoridade, consenso, provas concretas ou raciocínio lógico, que embasem o ponto de vista em defesa da tese proposta. c Produzir textos com adequação formal e linguística de acordo com o contexto enunciativo e o gênero, de forma a garantir coesão textual. 19 P R O D U Ç Ã O D E TE X TO O Discurso Argumentativo I CAPÍTULO 2 Dissertação II COM VISÃO AMPLIADA, UM FATO PODE SER MODIFICADO Você é contra o aborto ou a favor dele? E da união entre os homossexuais? Você concorda com o sistema de cotas em vestibulares? Ou discorda da diferença qualitativa que existe entre as escolas públicas e particulares? Estas defi nições: preservação ou não da vida (aborto) e igualdade ou não de condições educa- cionais (cotas em vestibulares e desigualdade entre sistemas público e privado de ensino) analisam a realidade com termos abstratos, num relacionamento lógico. Exemplo: se os casais heterossexuais têm direitos sociais (causa), os homossexuais poderão ter os mesmos direitos (consequência). Ou não? Com clareza de ideias, o comunicador precisa persuadir seus interlocutores com argumentos fortes: dados estatísticos, citações de especialistas no assunto, raciocínio lógico, conduzindo seu leitor e/ou espectador a acreditar nos argumentos dele, como verdadeiros. ANÁLISE DE UM TEXTO DISSERTATIVO Leia o fragmento de um texto de dois economistas: Otávio Camargo e Rogério Araújo. A PNAD e o avanço na inclusão social A propósito da recente divulgação dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Do- micílios (PNAD) de 2013, é necessário analisar os processos de desconcentração da renda e de inclusão social ocorridos no país nos últimos anos no Brasil. AD AM G RE GO R/ SH U TT ER ST O CK 20 O Discurso Argumentativo I É preciso dizer que o processo de desconcentração de renda vivido desde 2003 foi resultado de decisões políticas implementadas de maneira explícita e assertiva com a finali- dade da incluir socialmente as classes historicamente menos favorecidas. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) destaca que, entre os países emergentes mais dinâmicos, o Brasil apresentou uma das mais fortes reduções de desigualdade nesse período. Essa análise da OCDE é confirmada pelo dinamismo do mercado de trabalho da economia brasileira associado à política de valorização do salário mínimo em termos reais, o que contribuiu para elevar a base da estrutura salarial no país e do consumo. A política de valorização do salário mínimo foi elogiada também pelo Programa das Na- ções Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) como fator fundamental para a redução da desigualdade. De fato, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o salário mínimo real passou de R$ 422,85 em agosto de 2003, para R$ 724,00 em agosto de 2014, um aumento de 71%. De maneira convergente, recentemente, a FAO destacou o sucesso dos programas gover- namentais brasileiros, como Fome Zero, que contribuíram para uma sensível redução da po- breza e da fome. O percentual de pessoas pobres caiu de 24,3% em 2001 para 8,4% em 2012. No mesmo sentido, o percentual de pessoas na extrema pobreza passou de 14,0% em 2001 para apenas 3,5% em 2012. Finalmente, destaca-se o aumento da renda dos 20% mais pobres da população, que cres- ceu 3 vezes mais que a renda dos 20% mais ricos entre 2001 e 2012, o que é convergente com os resultados apresentados pela PNAD. […] Outro indicador relevante é o percentual de pessoas com 11 anos ou mais de estudo, que teve um salto de 29% em 2002 para 49% em 2013. Com 15 anos ou mais de estudo, houve também um avanço, de 7% em 2002 para 13% em 2013. Esses aumentos significativos são fruto, por exemplo, das políticas de universalização do ensino superior, cujos efeitos são duradou- ros e sistêmicos. É preciso, no entanto, admitir que, desde 2010, tem havido uma arrefecimento no ritmo da redução da desconcentração, explicado em parte pela crise internacional e em parte pelo esgotamento do ciclo de expansão da primeira década dos anos 2000. Além disso, é preciso considerar um fator estrutural que é tratado pela literatura sobre a pobreza. Este fator diz respeito à lógica dos “rendimentos decrescentes” em situações de redução na desigualdade. Quando o nível de desconcentração chega próximo a 0,50, novas reduções incrementais requerem um crescimento ainda maior da renda, o que significa aprofundar as políticas que visam à redução da desigualdade. As perspectivas de expansão econômicasão positivas na medida em que os investimentos em infraestrutura estão em maturação e a ampliação de fontes de recursos para alavancar a inovação acelerou-se nos últimos anos, o que, certamente, terá reflexos positivos nos próxi- mos anos, resultando em aumento da produtividade, da competitividade e da taxa de cresci- mento da economia brasileira. A inclusão social dos últimos anos, consolidada pela geração de empregos de me- lhor qualidade, pelo aumento da renda e pela crescente formalização no mercado de trabalho, será reforçada com a ampliação dos recursos para educação, proveniente dos royalties do pré-sal. Isso permitirá um novo avanço no processo de desconcentração de renda, assim como de melhoria na qualidade de vida da população. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2014/11/1546536-otavio-camargo-e-rogerio-arauj-a- -pnad-e-o-avanco-na-inclusao-social.shtml Logo nos dois primeiros parágrafos do texto lido, notamos o ponto de vista dos autores: é digno de análise o processo de desconcentração de renda implementado pelo governo com a finalidade da incluir socialmente as classes menos favorecidas. Nos parágrafos seguintes, surgem argumentos de dados estatísticos que fundamentam aspectos 21 P R O D U Ç Ã O D E TE X TO O Discurso Argumentativo I da tese apresentada: “o salário mínimo real passou de R$ 422,85 em agosto de 2003, para R$ 724,00 em agosto de 2014, um aumento de 71%”; “o aumento da renda dos 20% mais pobres da popu- lação, que cresceu 3 vezes mais que a renda dos 20% mais ricos entre 2001 e 2012”; “o percentual de pessoas com 11 anos ou mais de estudo… teve um salto de 29% em 2002 para 49% em 2013. Com 15 anos ou mais de estudo, houve também um avanço, de 7% em 2002 para 13% em 2013”. Dando sequência ao texto, o enunciador apresenta argumento que compara duas épocas, o pe- ríodo inicial da implementação do projeto e os resultados dos últimos anos: “É preciso, no entanto, admitir que, desde 2010, tem havido uma arrefecimento no ritmo da redução da desconcentração, explicado em parte pela crise internacional e em parte pelo esgotamento do ciclo de expansão da primeira década dos anos 2000”. Conclui, reforçando a justifi cativa identifi cada na tese: a inclusão social dos últimos anos já consolidada pela implementação de alguns projetos será reforçada com a ampliação dos recursos para a educação, o que permitirá um novo avanço no processo de desconcentração de renda, as- sim como de melhoria na qualidade de vida da população. O título, “O PNAD e o avanço na inclusão social”, sintetiza a visão de mundo do enunciador. Já o tema desperta polêmica, pois o processo de desconcentração de renda para o avanço da inclusão social implica crescimento maior de renda dos mais pobres e rendimento menor para os ricos. Sendo assim, a primeira característica do texto é ser temático, uma vez que analisa a reali- dade com termos abstratos: inclusão, desconcentração, decisões, reduções, desigualdade e outros. A segunda característica está vinculada à transformação causal: a) o que tem contribuído para desconcentração de renda e avanço na inclusão social; b) coexistência de três causas para uma mesma consequência: aumento do salário mínimo, sucesso dos programas governamentais para a redução da pobreza e políticas que valorizam a educação. O texto analisa, explica e avalia os dados da realidade. O tempo verbal empregado é o presente atemporal, isto é, quando se diz: “Esses aumentos signifi cativos são fruto, por exemplo, das políticas de universalização do ensino superior, cujos efei- tos são duradouros e sistêmicos”, o tempo não está sendo particularizado (neste momento), mas generalizado (continuamente, em processo). Pode-se dizer, então, que, se o texto é temático, se constrói sua progressão nas relações lógicas e se usa o presente com valor atemporal, então ele é um texto dissertativo. Quem produz um texto dissertativo tem um ponto de vista sobre determinado assunto e usa argumentos convincentes para que o leitor acredite neles como verdadeiros. O processo da comunicação vai muito além de enviar, receber e compreender uma mensagem; é preciso que o emissor e o receptor creiam nela e que estes acatem o que nela se propõe. E isso não é somente um fazer saber, mas um fazer crer, um persuadir. A persuasão é, assim, o ato de levar o outro a aceitar o que lhe está sendo proposto. TIPOS DE ARGUMENTOS Argumento de autoridade A citação de autores renomados para se sustentar uma tese sobre determinado assunto pro- voca dois efeitos: a imagem de que o redator conhece bem aquilo que afi rma porque já leu sobre o que especia- listas pensaram e refl etiu sobre o assunto; torna os autores citados fi adores da veracidade de seu ponto de vista. Entretanto, o uso de citações desconectadas do contexto provoca efeito contrário, isto é, não convence e demonstra que o produtor do texto não domina o assunto. 22 O Discurso Argumentativo I Argumento por consenso Como, na matemática, existem conceitos que não mais precisam ser o tempo todo demons- trados, por exemplo: o teorema de Pitágoras — “o quadrado do comprimento da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos comprimentos dos catetos” —, assim também é possível usar, na argumentação, proposições evidentes e aceitas por consenso, sem necessidade de demonstrações. “A educação é a base do desenvolvimento” é uma dessas proposições. É preciso, porém, cuidado para não citar enunciados que contenham afirmações preconceituosas ou extremamente pessoais como: “a aids é um castigo de Deus”. Argumento baseado em provas concretas Quando um fato é empregado como argumento para defender um ponto de vista, é preciso estar bem seguro de que os dados apresentados são pertinentes, suficientes, adequados, fidedignos. No texto “A PNAD e o avanço na inclusão social”, existem dados estatísticos sobre o aumento do salário mínimo. Como o enunciador apresenta dados do Instituto de Pesquisa Econômica Apli- cada (Ipea), estes são confiáveis. O importante é não generalizar, sem segurança. Por exemplo, se uma autoescola fornece ha- bilitação para motoristas, sem exames exigidos pela legislação, isso não quer dizer que todas as autoescolas agem dessa maneira. A generalização é indevida porque trata o acessório, o ocasional, como se fosse essencial. Argumento com base no raciocínio lógico Leia o fragmento de um texto sobre a falta de água e o desperdício. Por entender a água como um recurso potencialmente infinito, ainda que na vida real estejamos bem distantes disso, muitos indivíduos passam a usá-la de forma indiscriminada, sem se preocupar com a sua escassez. Um exemplo muito comum está nos condomínios nos quais a conta é partilhada entre todos os moradores: pode existir pouca preocupação individual para poupar água, uma vez que o custo é rateado entre todos e ninguém é responsabilizado individualmente caso haja um desperdício. Folha de S.Paulo, 21 nov. 2014. Os dois parágrafos apresentam argumentos baseados no raciocínio lógico. Observe o quadro: Parágrafo Causa Consequência Primeiro parágrafo As pessoas entendem que a água é um recurso potencialmente infinito. As pessoas passam a usá-la de forma indiscriminada, sem se preocupar com a sua escassez. Segundo parágrafo Há condomínios nos quais a conta de água é partilhada entre todos os moradores. Ninguém é responsabilizado individualmente caso haja desperdício. A proposta de solução para esse problema também pode ser baseada no raciocínio lógico. Primeiramente, as pessoas precisam tomar consciência de que a água não é um bem infinito. Para resolver o segundo problema, os condomínios podem pensar em instalar medidores por apartamento para que cada morador se responsabilize pelo próprio desperdício. Observe outro exemplo: Indecisão do Méier Teus dois cinemas, um ao pé do outro, por que não se afastam para não criar, todas as noites, o problema da opção e evitar a humilde perplexidade dos moradores? Ambos com a melhor artistae a bilheteira mais bela, 23 P R O D U Ç Ã O D E TE X TO O Discurso Argumentativo I que tortura lançam no Méier! ANDRADE, Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. São Paulo. Companhia das Letras, 2012. O confl ito presente no texto está na existência de dois cinemas no mesmo bairro, o Méier, no Rio de Janeiro. O eu poético quer ir ao cinema (causa), mas é tomado pela indecisão (consequência). Qual ci- nema deve escolher? Uma vez que os dois têm a melhor artista e a bilheteira mais bela? Ter de escolher uma opção (causa) lhe causa tortura (consequência). Se os cinemas se afastas- sem (causa), não haveria tortura (consequência). Tanto na realidade como na possibilidade existe pertinência lógica. Um argumento não é necessariamente uma prova de verdade. Ele é um recurso linguístico para induzir o interlocutor a acreditar no ponto de vista do emissor. Uma mulher, por exemplo, mata a amiga por ciúme. Seu advogado inicia sua defesa, exaltando as qualidades da ré como esposa, mãe, profi ssional, cidadã. Do ponto de vista lógico, os argumentos do advogado podem ser caracterizados como variáveis não verdadeiras, entretanto eles podem ser importantes para convencer os jurados a relacionar aquilo que não possui relação verdadeira. 1 Argumento da competência linguística Conforme a situação, há exigência de um tipo de linguagem. E para que isso ocorra, existem vários discursos linguísticos: religiosos, pedagógicos, científi cos, políticos etc. E esse é um aspecto importante da linguagem: a sua adequação, pois um vocabulário que está ajustado à situação dá credibilidade às informações veiculadas. Leia agora este texto, adaptado de um editorial da Folha de S.Paulo, e observe os argumentos nele empregados. Jogos de guerra “As guerras odiadas pelas mães.” O verso de Horácio descreve de maneira sutil e sensível os horrores das guerras. Paradoxalmente, porém, guerras são momentos em que se materia- lizam notáveis avanços científi cos que mais tarde acabam benefi ciando toda a humanidade. As propriedades antibióticas do Penicillium notatum (penicilina), por exemplo, haviam sido descobertas em 1928 por sir Alexander Fleming, mas foi só em 1940, na Segunda Guerra, que pesquisadores desenvolveram uma droga injetável e com valor terapêutico. Analogamente, foi graças aos esforços para construir a bomba atômica que o homem passou a conhecer melhor e usar a energia nuclear, tanto para a geração de energia elétrica como para a medicina. No trecho lido, notamos que, na tese, existe argumento de autoridade — citação de verso de Ho- rácio — e, em oposição, as consequências positivas da guerra, segundo o ponto de vista do redator. Com a citação de fatos, surgem argumentos baseados em provas concretas, como as desco- bertas do antibiótico e da bomba atômica, que abriram possibilidades à medicina, durante a Se- gunda Guerra. O argumento com base no raciocínio lógico do último parágrafo do texto revela causalidade entre a guerra e as descobertas de processos vitais. Observe ainda este poema, em que alguns argumentos estão presentes. Poema brasileiro No Piauí de cada 100 crianças que nascem 78 morrem antes de completar 8 anos de idade. No Piauí de cada 100 crianças que nascem 78 morrem antes de completar 8 anos de idade. No Piauí OBSERVAÇÃO 1 Quando o produtor de um texto enumera causas desconectadas das consequências, ele gera in- coerência no desenvolvimento das ideias, e todo o texto fica comprometido. 24 O Discurso Argumentativo I de cada 100 crianças que nascem 78 morrem antes de completar 8 anos de idade Antes de completar 8 anos de idade Antes de completar 8 anos de idade Antes de completar 8 anos de idade Antes de completar 8 anos de idade Ferreira Gullar Existe modificação apenas na estrutura do poema, mas os dados estatísticos não se alteram, revelando que 78% (bem mais que a metade) das crianças nascidas no Piauí morrem precocemente. Ainda existe o subentendido — e qual será o número de abortos? No lugar de os números serem escritos por extenso, eles aparecem registrados em algarismos, como se fossem elementos estatísticos. A mesma repetição acontece incessantemente para enfatizar a gravidade do assunto. “Poema brasileiro” é, então, um texto dissertativo, em versos, porque expõe, interpreta e ava- lia dados da realidade, em termos abstratos — nascimentos e mortes prematuras de crianças no Piauí. Para isso, apresenta argumentos baseados em provas concretas, estatísticas, que compro- vam sua tese — a extrema gravidade de uma situação, que ceifa a vida de crianças que apenas começaram a viver. Não existe esperança de modifi cação, por isso a conclusão é a mesma da tese e do desenvol- vimento. O tempo verbal é o presente (nascem, morrem), caracterizando-se como presente atempo- ral, em processo, reforçando-se a ideia de que a situação não é passageira, mas contínua. 1 BR AS IL IM AG EN S/ AR AQ U ÉM A LC ÂN TA RA OBSERVAÇÃO 1 Além dos tipos de argumentos que vimos até aqui, outros recursos linguísticos também são usados com a fi nalidade de persuadir. São eles: exemplifi cações; alusões históricas; conceituações; comparações entre fatos, situações, épocas ou lugares distintos etc. 25 P R O D U Ç Ã O D E TE X TO O Discurso Argumentativo I ATIVIDADES Leia o texto para responder às questões 1 e 2. Dieta mediterrânea é melhor “antídoto” contra obesidade Uma dieta mediterrânea é mais efi ciente para combater a obesidade do que a simples contagem de calorias, afi rmam cientistas. Eles acrescentam que esse tipo de dieta reduz o risco de ataques cardíacos e derrames. Além disso, na opinião desses especialistas, uma alimen- tação baseada em frutas, legumes, verduras e cereais seria mais efi ciente para a perda de peso do que dietas com baixa ingestão de gordura. A recomendação foi feita por meio de uma declaração conjunta publicada na revista científi ca PMJ (Postgradua- te Medical Journal, na sigla em inglês) e assinada por no- mes de peso como o presidente da Academy of Medical Royal Colleges do Reino Unido, Terence Stephenson, e Mahiben Mara, alto funcionário do NHS (National Health Service, o SUS britânico). […] Segundo eles, pesquisas indicam que a dieta mediterrâ- nea, incluindo frutas, legumes e verduras, cereais e azeite de oliva, reduz rapidamente o risco de ataques cardíacos e derrames e permitem uma perda de peso mais gradativa a longo prazo. […] Inspirada pela cozinha tradicional de países como Grécia, Espanha e Itália, a dieta mediterrânea sempre esteve asso- ciada à boa saúde e a corações sadios. Essa dieta consiste ti- picamente em comer várias porções de legumes e verduras, frutas frescas, cereais integrais, azeite de oliva e sementes oleaginosas, além de frango, peixe, carne vermelha, manteiga e gordura animal. “O impacto desse tipo de alimentação na saúde do pa- ciente se dá de forma muito rápida. Sabemos que a tra- dicional dieta mediterrânea que é rica em gordura — por meio de testes controlados em grupos aleatórios — reduz o risco de ataque cardíaco e derrames pouco tempo de- pois de colocada em prática”. No artigo, os médicos também dizem que a dieta mediter- rânea é três vezes mais efi ciente para a redução da mortali- dade em pacientes que já tenham sofrido ataques cardíacos do que medicamentos para baixar o colesterol. […] Adaptado de http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ bbc/2014/11/18/dieta-mediterranea-e-melhor-antidoto-contra-obesidade- -dizem-cientistas.htm 1 Por que podemos afi rmar que esse texto é dissertativo? 2 Releia o terceiro e o quarto parágrafos do texto e explique de que forma o autor constrói seus argumentos. Texto para as questões 3 e 4. A cultura não existe em seres humanos genéricos, em situa- ções abstratas, mas em homens e mulheres concretos, per- tencentes a este ou àquele povo, a esta ou àquela classe, em determinado território, num regime político A ou B, dentro desta ou daquela realidade econômica. Somente se poderá conceituar
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