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CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO RECURSO NA INCLUSÃO

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85 
 
 
ARTEREVISTA, n. 3, jan./jun. 2014, p. 85-98 
 
 
CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS COMO RECURSO NA INCLUSÃO 
SOCIAL E CULTURAL DO SURDO 
Sabrina Caires de Vasconcellos1 
 
 
RESUMO 
 
O papel da Contação de História como auxílio na inclusão cultural e social do surdo. A 
pesquisa busca aprofundar a Contação de História para contribuir com a imaginação, a 
criatividade e o autoconhecimento da criança surda e ouvinte. O desenvolvimento da 
pesquisa pretende tornar-se uma ferramenta para área artística tão carente de materiais 
no que diz respeito à inclusão bilíngue do surdo. 
 
Palavras-chave: Contação de Histórias.Surdo. LIBRAS. 
 
ABSTRACT 
 
The role that storytelling is to aid in the cultural and social inclusion of the deaf. The 
research seeks to enhance history of storytelling to contribute to the creativity, 
imagination and self-awareness of the deaf and Deaf child. The research and 
development of a tool for artistic area so lacking in materials with respect to inclusion 
of the deaf bilingual. 
 
Keywords: Deaf People ; LIBRAS; Narrator History. 
 
 
 
1
 Especialista. Faculdade Paulista de Artes. sabrinacaires@hotmail.com 
86 
 
 
ARTEREVISTA, n. 3, jan./jun. 2014, p. 85-98 
 
 
INTRODUÇÃO 
“Contar histórias é revelar segredos, é seduzir o ouvinte e 
convidá-lo a se apaixonar”… pelo livro… pela história… 
pela leitura. E tem gente que ainda duvida disso.” 
Celso Sisto2 
 
Recentemente a Contação de História era vista na sociedade como algo de 
importância irrelevante ao auxilio da leitura e escrita. O entretenimento das pessoas 
daquela época era sentar em volta da fogueira e contar lendas e contos do imaginário 
popular e disseminar sua cultura e seus costumes. 
Assim, por muito tempo, essas histórias eram vistas como atos sem sentido ou 
sem valor. Já na Idade Média o contador passou a ser respeitado em todos os lugares 
aonde ia, passava a vida em palácios e aldeias e contava histórias de gosto populares. 
Muito mais tarde, essas histórias orais passaram a ser escritas, e com elas surgiram 
muitas outras histórias passadas de geração em geração. As histórias infantis foram 
nomeadas de Literatura Infantil, e a Contação de História é a origem da literatura, que 
passou a ser contada novamente da forma oral, entretanto com mais valor. 
Para Ristum; Bastos (2001), no Brasil, os meios de comunicação assumem o 
papel de formadores de consciência, representados por recursos de audiovisual, como o 
cinema, a televisão, o computador e a multimídia. Desse modo, a Contação de História , 
antes baseada apenas e exclusivamente na forma oral ou escrita, adquiriu novos 
recursos. 
Nos tempos atuais, podemos assistir à Contação de História através de 
imagens, sons, músicas e efeitos especiais. 
A função do contador de histórias é transmitir a sua verdade, por meio de 
gestos, expressões e recursos como áudios ou instrumentos musicais, de forma que 
 
2
 SISTO, Celso, escritor, ilustrador, contador de histórias do grupo Morandubetá (RJ), especialista em 
literatura infantil e juvenil, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Literatura 
Brasileira pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Doutor em Teoria da Literatura pela 
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) 
87 
 
 
ARTEREVISTA, n. 3, jan./jun. 2014, p. 85-98 
 
aproxime seu público faça-o desenvolver a imaginação para que a história torne-se real 
e encantadora, segundo Abramovich , escritora de literatura infantil e juvenil. Cabe ao 
contador transpassar a criança para um mundo de fantasia, sem distanciar-se por 
completo do real. 
Para contar uma história é necessário um roteiro. A pesquisa é muito 
importante, para que o contador consiga selecionar corretamente a história que melhor 
se adapte ao público. A escolha define que tipo de mensagem será transmitida para o 
receptor. A maneira como é contada também é um fator que define e dá emoção à 
história; então, cabe ao contador transmitir toda a emoção contida na história, da melhor 
maneira possível, para que o ouvinte possa sentir também. 
Atualmente, a Contação de História é apreciada pela maioria das pessoas, 
embora não seja acessível a todos os públicos, o que resulta na exclusão do deficiente 
auditivo. 
Depois do surgimento de diversos recursos para melhorar e tornar mais viva a 
Contação de História, a necessidade agora é em relação à inclusão cultural e como 
podemos ser ativos na construção de uma sociedade que abranja todas as pessoas e 
proporcione ao surdo a oportunidade de assistir a uma Contação de História e interagir 
diretamente com essa linguagem, em forma bilíngue. 
 
CONTAÇÃO DE HISTÓRIA COMO ARTE NO ÂMBITO EDUCACIONAL 
 
Se o aluno tivesse a oportunidade de realizar 
trabalhos artísticos, ele poderia desenvolver mais 
todas as suas funções: pensamentos, sensações, 
emoções e intuição. 
Jung (apud SILVEIRA, 1981). 
 
Falaremos de arte, aqui neste artigo representada pela Contação de História, 
como ferramenta na Educação sem antes trazer à tona uma problemática existente no 
88 
 
 
ARTEREVISTA, n. 3, jan./jun. 2014, p. 85-98 
 
pensamento das pessoas do mundo contemporâneo, que encaram a arte em geral como 
lazer ou somente como disciplina de segunda categoria. 
É essencial propor uma quebra de paradigma, de modo a interpretar a arte 
como importante ferramenta na Educação, uma vez que a invasão tecnológica tem 
redimensionado o fazer artístico, em todos os seus meios: poesia, música, cinema, 
literatura, fotografia. 
Nesta civilização virtual, devemos refletir sobre as relações humanas, as quais 
são os sustentáculos da arte, pois fornecem ao artista todo o conteúdo com o qual ele 
traz ao campo da sensibilidade questões do mundo, aproxima a arte do contato humano 
presencial. A tecnologia é válida para o desenvolvimento da humanidade, contudo é a 
palavra (verbal ou não verbal) que aproxima as pessoas, conforme afirma Bamberger 
(1995, página?): ”a leitura é um dos meios mais eficazes de desenvolvimento 
sistemático da linguagem e da personalidade. Trabalhar com a linguagem é trabalhar 
com o homem”. 
A arte tem, então, duas difíceis metas: avançar contra o conservadorismo e 
equilibrar-se ante as novas invasões tecnológicas. Afinal, sem desmerecer um nem 
outro, o conhecimento é um bem renovável e não ocorre sem que se estabeleça a relação 
humana. 
Por incrível que pareça, o principal representante do conservadorismo em 
nossa sociedade é a escola. É difícil entender uma escola que não valorize a arte em 
primeiro plano, que utilize ou não utilize das obras artísticas musicais, televisivas, 
teatrais como conteúdo pedagógico dentro e fora da sala de aula. 
Para compreender um pouco essa questão é preciso retomar a História da 
Educação Brasileira para entendermos quando a arte se tornou obrigatória ao currículo. 
A inserção da arte como disciplina obrigatória no currículo só aconteceu com a 
entrada em vigor da Lei 5692/71, que exigiu o ensino de Educação Artística da 5ª série 
do 1º grau, hoje chamado de 6º ano do Ensino Fundamental II à 3ª série do segundo 
grau, hoje chamado de 3º ano do Ensino Médio. 
89 
 
 
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A atividade de Educação Artística abordava os temas de teatro, dança, artes 
plásticas e musicais. E somente com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 
(Lei nº 9.394/96), no art. 26, dispôs-se “a obrigatoriedade do "ensino de arte" nos 
diversos níveis da educação básica”. 
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, 1998) dão à área de arte mais 
abrangência, e incluem as quatromodalidades artísticas: artes visuais, música, teatro e 
dança. 
Atualmente, podemos afirmar que a Arte-educação cresce após 12 anos dos 
Parâmetros Curriculares Nacionais, conforme citam Galvão e Pacheco (CGC Educação 
- 12.07.2008): 
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para a Educação Básica foram criados 
há 10 anos, incluindo a área de Arte, e desde então, o Brasil passa por um 
processo de evolução no ensino da disciplina nas escolas públicas do país. O 
ensino da Arte ganhou nova dimensão, novo olhar, modalidades específicas e 
adaptações que levaram em consideração as peculiaridades culturais de cada 
região. Mesmo assim, o MEC avalia a necessidade de aprofundar os estudos, 
as pesquisas e avaliações referentes ao ensino-aprendizagem da Arte nas 
escolas brasileiras. (GALVÃO; PACHECO, 2008) 
 
Essas adaptações ocorreram de maneira geral; entretanto houve ganho especial 
na Educação de Surdos, embora ainda inexistam publicações dedicadas à história da 
Educação para quaisquer deficiências,com a exceção do deficiente intelectual, 
publicado por Jannuzzi (1985) e o mais recente o livro de Mazzota (1996). 
No Brasil, a educação dos surdos teve início durante o Segundo Império, com a 
chegada do educador francês Hernest Huet. Em 1857, foi fundado o Instituto Nacional 
de Surdos-Mudos, atual Instituto Nacional de Educação dos Surdos (INES), que 
inicialmente utilizava a Língua dos Sinais; depois, em 1911, passou a adotar o oralismo 
puro. 
Na década de 1970, com a visita de Ivete Vasconcelos, educadora de surdos da 
Universidade Gallaudet, chegou ao Brasil a filosofia da Comunicação Total; e, na 
década seguinte, o Bilinguismo passou a ser difundido, a partir das pesquisas da 
Professora Linguista Lucinda Ferreira Brito sobre a Língua Brasileira de Sinais e da 
90 
 
 
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Professora Eulália Fernandes, sobre a educação dos surdos.. Atualmente, essas três 
filosofias educacionais coexistem paralelamente no Brasil. 
A LDB (Lei nº 9.394/96) definiu-a como modalidade de ensino e lhe dedicou 
um capítulo específico (Cap. V), fixou objetivos e metas a serem atingidos nos dez anos 
de vigência do plano para o atendimento inclusivo de alunos com necessidades 
educativas especiais (NEE) e a formação de professores para tal. 
Destaca-se que o contexto mundial sofreu modificações voltadas para a atenção 
a uma Educação Inclusiva, por exemplo: a Declaração Mundial sobre Educação para 
todos (1990), a Declaração de Salamanca (1994), considerada mundialmente um dos 
mais importantes documentos com foco na inclusão social e na consolidação da 
educação inclusiva – resolução das Nações Unidas que trata de princípios, política e 
prática em educação especial. 
A partir de então, com as políticas educacionais implementadas, outros 
paradigmas devem ser quebrados para alcançar o objetivo de levar à escola regular um 
currículo adaptado com o desafio de atender às necessidades educacionais de todos os 
alunos, dentre os quais se inclui o questionamento: Arte na Educação para quê? 
A arte é um meio de comunicação único e completo, capaz de derrubar as 
paredes existentes entre os sujeitos. Ao utilizar a arte como instrumento de interação 
permite-se socialização, inserção social e favorece a sua inclusão cultural. 
Uma vez quebrada essa barreira, acrescenta-se a Contação de História como 
mais uma forma de inclusão do surdo no Ensino Regular. 
Jean Piaget (1896-1980) acreditava que as estruturas cognitivas recebiam 
conteúdos que são somados às experiências já vivenciadas; Quando a criança escuta e 
repassa a história que acabou de ouvir, tem a liberdade de modificar trechos ao seu 
modo, estabelece laços entre a realidade e ficção,e exercita assim, a autoexpressão. 
Desse modo, quando conta, ouve ou executa uma história, o indivíduo 
compartilha a sua realidade com as outras pessoas e ainda traz à tona criatividade e 
imaginação. 
 
91 
 
 
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A INCLUSÃO CULTURAL DO SURDO 
 
Segundo Edward Burnett Tylor, Cultura (do latim cultura, cultivar o solo, 
cuidar) consiste em práticas e ações sociais que seguem padrão determinado no espaço. 
Ao juntar a definição de inclusão com a de cultura chega-se a: Inclusão 
Cultural como o envolvimento de todos, numa prática ou ação social. 
Para isso, destacamos em especial a Contação de História como objeto deste 
estudo.cuja importância no nosso meio social, para todo e qualquer indivíduo, seja ele 
deficiente ou não, independentemente da classe social, garante o direito de expressão 
por meio das diversas expressões artísticas, que tanto auxiliam na fluência do pensar, 
criar, interagir, bem como facilitam a integração social. 
Existem muitas ações e movimentos, em busca dos direitos de expressão, 
movidos por diferentes grupos artísticos que lutam pela causa da inclusão em geral. 
Nesse quesito, a comunidade surda dispara na frente, pois muito engajada mobiliza-se 
há muito tempo, por meio de um movimento internacional pelos direitos das pessoas 
surdas. As origens desse movimento tiveram início com os artistas - os primeiros a 
desenvolverem ações despertadas pela nova consciência, derivada da obra de Stokoe 
(1960). 
Em 1967, esses artistas fundaram o Teatro Nacional dos Surdos que tem como 
missão produzir trabalhos desafiadores da mais alta qualidade, com vasta gama literária 
de todo o mundo, cujos originais eram produzidos em American Sign Language (Língua 
Americana de Sinal - ASL), palavra falada, e assim ser uma forma de empregar artistas 
surdos para oferecer à comunidade atividades para educar e esclarecer o público em 
geral, abrir olhos e ouvidos para a cultura surda, tendo como estilo de encenação o 
American Sign Language . 
Durante a longa história do Teatro Nacional dos Surdos ocorreram bem mais 
de dez mil performances que excursionaram por todo o mundo sempre com objetivo não 
só de entretenimento, mas de educar. 
92 
 
 
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Em 1989, Lewis Hartland, ex-membro do canadense Teatro de Surdos, funda o 
Teatro Surdo Canadiano, sediado atualmente em Cranbrook. Essa companhia tem como 
filosofia: "A crença no interesse e na inerente e natural capacidade da população surda, 
de representar e divertir num nível profissional e sério oferecendo algo diferente do 
meio teatral ouvinte/falante" (MARQUES; SOUZA, 2012). 
Diferente do estilo de encenação do Teatro Nacional dos Surdos, o Teatro 
Surdo Canadiano apresenta seus espetáculos em mímica, mímica sinalizada, 
pantomima, palhaços teatrais e Língua Gestual Americana; assim, as peças são 
encenadas tanto para ouvintes como para surdos. A companhia desenvolve cursos de 
técnicas teatrais, contação de história, dinâmica da comunicação da mímica, entre 
outros. Em suas oficinas para crianças surdas, o objetivo era instigar-lhes o poder de 
percepção, extrair-lhes talentos e habilidades, para que pudessem expressar-se 
criativamente e sentirem-se satisfeitos com o fazer teatral, plenamente incluídos. 
No Brasil o primeiro ator surdo a profissionalizar-se foi Nelson Pimenta, 
nascido em Brasília em 1963. Pimenta estudou no National Theatre of the Deaf (Teatro 
Nacional dos Surdos), de Nova York. É pesquisador de Língua de Sinais e já atuou 
como instrutor de Teatro e de Língua de Sinais Brasileira em diversas instituições de 
ensino, entre elas o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES) e a Federação 
Nacional de Educação e Integração de Surdos (FENEIS). Formou-se em Cinema pela 
Universidade Estácio de Sá e, atualmente, estuda Letras pela Universidade Santa 
Catarina, além de coordenar as ações de teatro e expressão corporal da Associação de 
Reabilitação e Pesquisa Fonoaudiológica (ARPEF), dirigir a empresa de educação LSB 
Vídeoe dar aulas de teatro no Centro Educacional Pilar Velazquez (CEPV). 
(PAULINAS) 
Destacamos também o trabalho realizado pelo Grupo Teatral Moitará que 
desde 1988 desenvolve pesquisa continuada sobre o trabalho do ator, busca 
compreender os princípios que fundamentam sua arte e têm nos estudos dos aspectos e 
funções da Máscara Teatral a base para a elaboração de metodologia própria, mais 
especificamente o projeto Palavras Visíveis: capacitação técnica para atores surdos com 
a linguagem da Máscara Teatral - Ponto de Cultura. Esseprojeto iniciou suas atividades 
93 
 
 
ARTEREVISTA, n. 3, jan./jun. 2014, p. 85-98 
 
em abril de 2008 com 12 atores surdos capacitados na prática teatral através da 
linguagem com a máscara teatral. 
Segundo o grupo, o projeto “A Máscara Teatral”, com a surdez, transmite as 
experiências de vida por um canal visual, sem se apoiar em bases de oralidade, mas em 
uma linguagem que é, antes de tudo, construída corporalmente. As afinidades entre 
essas duas naturezas de discurso (a Máscara e a expressão do Surdo) é um potencial 
importante a ser desenvolvido como estratégia para integração social e cultural que toda 
nação busca. Nesse sentido, acreditamos que o teatro e a arte em geral é importante 
veículo para que os surdos possam manifestar-se e ser incluídos na sociedade de forma 
igualitária. 
De grande valia também é o trabalho da Cia. Arte & Silêncio, fundada pelos 
irmãos Sueli Ramalho e Rimar Romano que iniciam sua jornada em 2003 com um 
grupo de atores surdos e ouvintes, com o objetivo de desenvolver pesquisa da arte e da 
cultura de surdos, utilizando as técnicas da mímica e da linguagem do clown, adaptadas 
à Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), segundo Rimar Romano fundador da Cia. Arte 
& Silêncio. 
Neste artigo busca-se abordar como é importante a inclusão cultural e social do 
surdo e a autora buscou o auxílio da arte, especificamente da Contação de História, 
como entrada para o mundo da imaginação e do sonho tão permitido para criança 
ouvinte e agora para criança surda também. 
Assim, a inclusão cultural do surdo é efetiva quando todos compartilham da 
mesma expressão artística, como protagonista ou espectadores, na medida em que se 
oferece uma contação de historia por meio de teatro para todos. 
 
CONTAÇÃO DE HISTÓRIA BILINGUE SURDOS E OUVINTES 
ESPECTADORES 
“Quero entender o que dizem. Estou enjoada de ser 
prisioneira desse silêncio que eles não procuram romper. 
Esforço-me o tempo todo, eles não muito. Os ouvintes não 
se esforçam. Queria que se esforçassem”. 
94 
 
 
ARTEREVISTA, n. 3, jan./jun. 2014, p. 85-98 
 
Emanuelle Labourit 3 
 
A contação de histórias é um instrumento muito importante no estímulo à 
criatividade, pois desenvolve a Linguagem, seja ela qual for; é um passaporte para 
despertar o senso crítico e principalmente fazer sonhar. As histórias têm a função de 
transmitir conhecimento, educar, instruir, avisar - com o intuito de preparar e também 
promover a inclusão. 
Dentro desse estímulo do desenvolvimento encontra-se principalmente o 
estímulo à imaginação, uma vez que – tanto ao assistir, quanto ao reproduzir uma 
história – a imaginação é a principal ferramenta condutora. O contador transfere para o 
público todas as possibilidades gestuais e de expressão para demonstrar aquilo que é 
contado; utiliza-se do desenvolvimento do imaginário para ajudar a quem presencia a 
construção verdadeira. Segundo Abramovich (1989: 17): ‘é ouvir, sentir e enxergar com 
os olhos do imaginário’. 
A arte é um direito de todos, arte que pode ser universal, que possa ser vista, 
tocada, ouvida, sentida por qualquer ser, independentemente de raça, cor e credo. A 
inclusão é um desafio à sociedade, e como é grande o desamparo e a dificuldade de 
todos quando falamos sobre a inclusão de pessoas com deficiência. Aa barreiras 
humanas e sociais mantêm-nas seres segregados e impossibilitados de participarem 
ativamente da vida e exercerem dignamente sua cidadania. 
Desse processo de exclusão social resulta a exclusão cultural e o não acesso à 
cultura. Por isso é tão essencial refletir sobre a inclusão cultural para tornar acessível a 
arte ao deficiente auditivo, de tal modo que ele possa participar de uma contação de 
história e conviver com os ouvintes. O foco central deste artigo é mostrar que é possível 
proporcionar a vivência entre ouvintes e surdos. 
É fato que, no início, há dificuldade de expressar-se; na medida em que 
conhecem um ao outro percebem a relação com o mundo que os cerca, a relação entre o 
português e a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). Somente assim acontecerá o 
 
3 LABOURIT, Emanuelle E. O vôo da gaivota. 1994, p.39. 
95 
 
 
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estreitamento de linguagem, entre o surdo e o ouvinte, conscientizando-os do seu papel 
e valorizando os elementos humanos e a inclusão cultural de todos. 
Ao utilizar Libras, busca-se reduzir as dificuldades de exprimir em linguagens gestuais 
sentimentos, emoções e sensações. Ao conhecer o próprio corpo, relacionam 
movimento, espaço e ritmo e, pouco a pouco, expressam-se naturalmente. Em síntese, 
cada aluno situa-se no seu mundo. 
 
RELATO REAL, CONTAÇÃO DE HISTÓRIA BILÍNGUE. 
 
Por fim esta pesquisa traz o relato de vivência da autora com o grupodo qual 
faz parte: Rendeiros Contadores de Histórias. 
Grupo, formado em 2011, desenvolve pesquisa em contação de história, cujo 
amadurecimento decorreu da abordagem de temas a respeito da falta de disponibilidade 
cultural para as minorias - entendida aqui como determinado grupo humano que esteja 
em número inferior em uma determinada situação de subordinação. Essa minoria pode 
ser linguística, relacionada a condição física, cultural ou étnica. Em 2014, teve como 
tema central a Surdez e o desenvolvimento da arte inclusiva, Bilíngue – Libras e 
Português - A possibilidade de histórias para todos. 
O grupo refletiu a respeito do surdo como espectador, encontraram enorme 
barreira de acessibilidade, por isso o ponto de partida foi discutir as diferenças, as 
desigualdades e a segregação de minorias. 
Assim, o teatro inclusivo vem para questionar e buscar estratégias para levar ao 
surdo participação real, e não apenas colocar intérprete do lado dos atores, como 
convencionalmente existe hoje no âmbito cultural brasileiro, mas inseri-lo totalmente no 
contexto teatral, de modo que as personagens do espetáculo se comuniquem, em 
Português e em Libras. 
Para tanto, buscamos colocar o intérprete no espaço cênico, para além da sua 
função de intérprete de Libras, é ele também integrante do espetáculo. Assim, nas 
Contações de Historias ter a história falada, a cantada e a história em Libras. Isso tudo 
96 
 
 
ARTEREVISTA, n. 3, jan./jun. 2014, p. 85-98 
 
no mesmo cenário, mesmo tempo e mesmo espaço. Isso sim é ter arte acessível para 
todos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CONCLUSÃO 
 
A Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), língua gestual referenciada na Lei 
n°10.436, de 24 de abril de 2002, possibilitou a quebra de barreiras entre ouvintes e 
surdos, pois trouxe relevância ao tema. 
Ao mesmo tempo em que é uma língua viva e autônoma, reconhecida pela 
linguística, devemos prestar muita atenção à comunicação surda, e nas outras maneiras 
como surdos também se expressam. 
A educação escolar é oferecida na rede regular de ensino, para pessoas com 
necessidades educacionais especiais. Assim, a Lei 9394/96, a partir da lei e do 
fechamento das escolas com salas especiais para os alunos com deficiência e a inclusão 
deles em salas de aula regulares. Essa alteração foi mais uma oportunidade de estreitar 
relações entre alunos, professorese comunidade para o conhecimento da Língua 
Brasileira de Sinais (LIBRAS), e mesmo antes do aprendizado da nova língua deu-se 
97 
 
 
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mais atenção ao modo como o surdo utiliza o corpo para se expressar, porque muitas 
vezes pode comunicar através de gestos corporais. 
Interagir com a comunidade surda, conhecer sua cultura, eliminar estereótipos 
sobre o tema e facilitar a comunicação entre profissionais e surdos tornou-se uma 
conduta regular de pessoas, profissionais de educação e famílias. 
Para atingirmos os objetivos que propugnamos neste estudo destacamos o 
enfoque na Contação de Histórias como uma pertinente oportunidade de inclusão para 
os surdos. 
Após questionário aplicado à comunidade surda: 10 surdos de idade de 10 a 14 
anos, do sexo masculino e feminino, verificou-se que a contação de história bilíngue é a 
forma que mais atinge o surdo no que diz respeito à inclusão cultural. 
Assim, pela tabulação das respostas, observou-seque, quando o surdo depara 
com uma ação cultural que o envolve e os ouvintes, eles se sentem mais inclusos na 
sociedade. 
A Contação de História reforça a expressão da criatividade e aumenta a 
comunicação e interação entre surdos e ouvintes, mesmo sendo uma comunicação pela 
linguagem de sinais ou não. 
Conclui-se que a Contação de História torna-se facilitador na inclusão cultural 
e social do surdo quando a pesquisa da autora torna-se viável, pois a Contação bilíngue 
(Libras /Português) propicia que todos compartilhem da mesma contação, sejam 
protagonistas ou espectadores, uma vez que o campo de visão, tanto do surdo como do 
ouvinte, é o mesmo, sem distinção e com participação simultânea. 
 
 
REFERÊNCIAS 
ABRAMOVICH, Fanny. Literatura infantil: Gostosuras e bobices. 2.ed. São Paulo: 
Scipione; 1991. 
98 
 
 
ARTEREVISTA, n. 3, jan./jun. 2014, p. 85-98 
 
BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da 
educação nacional. Diário Oficial da União, Brasília, 23 dez. 1996. 
DANESI, Marlene Canarim. O admirável mundo dos surdos. PUCMG: Edipuc, MG. 
2007 Porto Alegre, RS. 
DECLARAÇÃO DE SALAMANCA. Necessidades Educativas Especiais – NEE In: 
Conferência Mundial sobre NEE: Acesso em: Qualidade – UNESCO. 
Salamanca/Espanha: UNESCO 1994. 
HOLLANDA, Aurélio B. Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 3. ed., revista 
e ampliada, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993. 
QUADROS, Ronice Müller (Org): Estudos surdos I e III. Santa Catarina: Petrópolis: 
Editora Arara Azul, 2008. 
RISTUM, M; BASTOS, A. C. A violência urbana e o papel da mídia na concepção de 
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