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1 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia crônica Diarreia crônica Lembrar da definição clássica de diarreia: mais do que três dejeções ao dia. Mas é importante saber do padrão da criança, e lembrar que bebês, às vezes, fazem muito mais que três vezes ao dia, e isso é considerado normal. Então, definir: tem alteração de consistência? Tem alteração de frequência? E o tempo de diarreia? Portanto, lembrar: Definição • Quadro diarreico por um período superior a um mês OU; • Mais de três episódios diarreicos, em < dois meses; • Não são autolimitadas; • Não se origina do processo agudo; • Sem início bem definido; • Evolução progressiva e contínua ou com surtos frequentes, com ou sem recuperação clínica entre eles; • Etiologias e tratamento diferenciados. ❖ Diarreia aguda: até 14 dias; ❖ Diarreia persistente: 14 dias – 1mês; ❖ Diarreia crônica: Acima de 1 mês. Não pode ser tão rígido nessa questão, pois posso ter uma diarreia persistente que dura mais de 30d. O QUE LEVA UMA DIARREIA A TORNAR-SE PERSISTENTE? Geralmente é um quadro agudo, que leva a um quadro infeccioso, que leva à disbiose (alteração de flora intestinal), sendo que esta, além de alterar a motilidade, a sensibilidade visceral, pode também levar a um supercrescimento bacteriano no intestino delgado, que não é uma região de muita flora intestinal (é mais intestino grosso). Em uma situação de disbiose pode acontecer uma desconjugação de ácidos biliares, o que prejudica a absorção de gordura, levando a um quadro de má absorção, num período mais prolongado. Além da disbiose, o quadro infeccioso prévio, leva a uma alteração de enterócito, com inflamação e destruição de enterócito, comprometendo temporariamente a absorção de dissacarídeos, de lactose, isso pode ocorrer de uma diarreia persistente. Ou, às vezes, a criança tem um quadro infeccioso, um comprometimento nutricional associado ou porque já tem um comprometimento nutricional prévio, faz com que essa recuperação de mucosa não seja tão boa, o que leva a essa má absorção e, às vezes, deixa a criança mais susceptível a fazer novas infecções ou persistir com àquela infecção. Então, a criança entra num ciclo vicioso de infecção, má nutrição, destruição de enterócito, fazendo com que ela se prolongue, fazendo uma diarreia persistente, podendo ser até mais que 1 mês, apesar da fisiopatologia dela ainda ser de um quadro agudo. Então, o que diferencia uma diarreia crônica de uma aguda é que não se tem esse início no processo agudo, assim como na persistente. Esses pacientes às vezes entram num quadro de manutenção da diarreia após um quadro infeccioso por esses motivos já ditos. Alguns autores até já classificam persistente fazendo parte das crônicas. Aguda em até 14 dias e crônica acima de 14 dia. A professora prefere separar, pois a diarreia crônica não se origina, geralmente, de um quadro agudo, como a diarreia persistente. Normalmente nem se consegue identificar o início da diarreia crônica. E, não se deve esquecer também, que não é só 30 dias de diarreia → é mais de 30 dias de diarreia contínua pra classificar como crônica. Às vezes, a criança não faz os 30 dias seguidos, ela faz mais de 3 episódios de diarreia (os dias mais curtos), menos dias, num período inferior a 2 meses. Ex.: faz por 5 dias, dá um intervalo, faz por mais 7 dias...e por aí vai; pode ser considerada D. crônica. • Muitas vezes vem em surtos; por isso, essa classificação de mais de 3 episódios durante 2 meses é muito boa, porque nem sempre ele vai fazer os 30 dias contínuos. • Pode vir contínuo, progressivo, em surtos ou intercalados com período de acalmia ou com períodos sem acalmia. • Várias etiologias diferentes (não é o objetivo). É importante caracterizar: É diarreia? Parece mais persistente ou crônica? Se crônica, é distúrbio funcional ou orgânico? Etiologia FUNCIONAL: <5 anos ❖ 6m – 5 anos; ❖ 4 ou mais dejeções malformadas indolores (redução na consistência ao longo do dia); 2 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia crônica ❖ 4 semanas de duração; ❖ Sem déficit de crescimento; ❖ Pode ter muco/ restos alimentares; ❖ SII > 5 anos. Então, o que vai chamar a atenção? ❖ Se pensar em funcional → nenhum sinal de alarme, sem comprometimento pondero-estatural. Ex. clássicos: SII pra maiores de 5 anos, e pra menores, a diarreia funcional. ❖ Pode acometer crianças de 5 meses a 5 anos, geralmente ele tem mais de 4 dejeções ao dia, que pode ter muco, resto alimentar e que tem uma característica bem significativa que é reduzir a consistência ao longo do dia. Então, começa um pouco mais bem formada, de manhã, a primeira dejeção, e vai ficando mais mole conforme a criança vai se alimentando, principalmente crianças que ingerem uma boa quantidade de suco, de frutose ou come pouca gordura, porque a gordura retarda um pouco o esvaziamento gástrico, melhora um pouco, às vezes, a sintomatologia de diarreia funcional. ❖ O que chama a atenção: àquela criança que faz muito coco, que reduz a consistência do coco ao longo do dia, mas ganha peso bem, se alimenta bem; é uma criança que não tem nenhum déficit de crescimento ou sinal de alarme. ❖ Se tiver sinal de alarme: pensar em causas orgânicas. Procurei: é diarreia crônica → tem sinal de alarme? Tem alteração de comprometimento pondero- estatural? → SEMPRE pensar em causa orgânica. A depender da faixa etária, pensa-se numa etiologia ou não. ❖ Mais comuns: alergia alimentar, doença inflamatória, doença celíaca, parasitose, fibrose cística, imunodeficiências. Se tiver peso/estatura normal → pensar em distúrbios funcionais. Também tem as intolerâncias de carboidratos, como a de lactose, por exemplo – geralmente são pacientes com peso e estatura normais, a não ser que seja uma intolerância secundária a alguma doença que leve ao comprometimento. ORGÂNICO Sinais de alarme para causa orgânica Déficit ponderal estatural: isolado ou associado a outros sintomas; Anemia/ palidez: possibilidade de perdas gastrointestinais, má absorção de B12, folato e ferro; Edema: possibilidade - disabsorção, perda proteica. Eczema: pensando em deficiências vitamínicas, alergia alimentar... Linfonodomegalia ou Hepatoesplenomegalia: chama muita atenção pra doenças neoplásicas, infecciosas; Doença perianal: chama atenção pra doença inflamatória intestinal; Febre: pensar em DII, quadros infecciosos, quadros neoplásicos; Despertar noturno: bem sugestivo de doença inflamatória, infecciosas; Sangue nas fezes: DII, alergia alimentar... Massa abdominal: tumorações, DII em situações estenosantes. Infecções: pensar em FC, imunodeficiência, congênita ou adquirida. ETIOLOGIAS • Múltipla e extensa: Por isso pensar na faixa etária e no nível socioeconômico dessa população. Quanto mais pobre a população, mais as doenças infecto- parasitárias entram como causas de diarreia, assim como a desnutrição. A desnutrição causa atrofia de vilosidade, leva a má absorção, porque diminui tanto o processo de digestão quanto de absorção, então é causa comum de diarreia em populações mais pobres. Quanto mais rica, já entra as doenças com componente imune: alergia alimentar, doença celíaca, doença inflamatória, fibrose cística. • Prevalência: padrões geográficos e nível socioeconômico dos pacientes; • Causas mais comuns: 3 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia crônica ❖ Baixa renda: desnutrição, enteropatia ambiental, intolerância à lactose e alergia alimentar; ❖ Alta renda: alergia alimentar, síndrome pós- enterite, intolerância à lactose, doença celíaca, fibrose cística e doença inflamatória intestinal. • No Brasil (bem diversificado): diarreia inespecífica, enteropatia ambiental (incluindo parasitoses intestinais),alergia alimentar, doença celíaca e fibrose cística. IDADE DE INÍCIO ETIOLOGIA – IDADE DE INÍCIO Doenças congênitas • Má-absorção de glicose e galactose; • Deficiência sacarase-isomaltase; • Deficiência congênita de se lactase; • Cloridrorréia congênita. 1º ano • Alergia alimentar (LV, soja); • Intolerância secundária a HC; • Diarreia persistente; • Fibrose cística; • Doença celíaca: pacientes que já ingerem glúten. 1-4 anos • Parasitoses (giardíase): as crianças comem mais besteira que veem na frente. • Diarreias funcionais; • Fibrose cística; • Doença celíaca: ainda tem importância grande. >4anos • Hipolactasia tipo adulto; • Doença Intestinal Inflamatória; • Soiling. Puberdade • Síndrome do Intestino Irritável; • Tumores; • DII. De acordo com a faixa etária, você caracteriza um paciente com diarreia crônica; É importante ver se tem algum sinal de alarme para diarreia de causa orgânica e, a partir daí, pensar quais as possibilidades diagnósticas para cada faixa etária. Não vai pensar em doença celíaca para um bebê que nunca ingeriu glúten, não vai pensar numa alergia alimentar em um adolescente (menos comum ter alergia alimentar como manifestação intestinal nessa faixa etária, pode acontecer, mas é menos comum), não vai pensar em um intolerância à lactose primária em um bebê. A depender da faixa etária, pode ir fechando as possibilidades diagnósticas. Em bebê recém-nascido, sempre entra deficiências congênitas enzimáticas, doenças congênitas como possíveis causas, pois já dão sintomatologia nos primeiros dias de vida. Isso aqui geralmente não pega no ambulatório e consultório mais, porque já abriu um quadro desde bebê e já diagnosticou muito antes de ir para um consultório especializado; diagnostica na maternidade. Conforme vai crescendo, continua as possibilidades das faixas etárias anteriores e entram outras possibilidades mais fortes, como intolerância à lactose primária, acima de 4 anos, a doença inflamatória intestinal, SOILING (escape – importante no diagnóstico diferencial de diarreia crônica). Às vezes recebe a criança com suspeita de diarreia crônica, quando vai ver é constipada que está fazendo escape. Em adolescentes, intestino irritável vem crescendo muito, muitas crianças com crises de ansiedade, transtornos de humor. A doença inflamatória intestinal tem importância grande nessa faixa etária; tumores. Os imunossuprimidos têm grande risco para diarreia. • Imunossupressão congênita ou adquirida (drogas, doença subjacente, quimioterapia ou AIDS). Esses pacientes tem um risco de fazer diarreia crônica por infecção. Às vezes bactérias que não provocam um quadro crônico podem levar a diarreia crônica infecciosa nesses pacientes. • Agentes: Salmonella, Shigella, Campylobacter, Clostridium difficile, Cryptosporidium, Isospora, Entamoeba hystolytica, microsporida, Strongyloides, Cyclospora, Mycobacterium avium, mycobacterium tuberculosiis, Cytomegalovirus, herpes simples, adenovírus, caliciíirus, astovírus e HIV. Localização Então classifiquei como diarreia crônica, vi se tinha características disfuncional ou de orgânica; pode tentar a partir da faixa etária, buscar a possibilidade diagnóstica a partir das características da diarreia, para poder ver se aquela característica é compatível com aquela faixa etária. Então pode caracterizar de acordo com o padrão de acometimento, se é mais alta ou baixa. INTESTINO DELGADO Característica de fezes mais volumosas, com menor frequência, com resto alimentar. Tem que ver que nessa localização geralmente, pode ter problemas na digestão, ou seja, algo que leva a deficiência de enzimas 4 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia crônica luminais, ou até defeitos/lesões nos enterócitos, que vão levar a uma má absorção de nutrientes/água. Ex: celíaca que lesiona o enterócito, leva a síndrome disabsortiva. Insuficiência pancreática exócrina, não vai ter lesão no enterócito, mas vai ter deficiência da enzima luminal, presente na digestão de algumas substâncias. ❖ Má absorção de nutrientes e de água; ❖ Lesão ou defeito no enterócito/ deficiência de enzimas luminais. INTESTINO GROSSO Pode ser acometido por processos que só alteram a motilidade, exemplo distúrbios funcionais. Pode ser acometido por processos inflamatórios, que levam sangue e muco, com alterações de motilidade também. Ou às vezes pode ter no intestino delgado e grosso enteropatias perdedoras de proteínas. ❖ Processo inflamatório com aumento de motilidade (colites ou retocolites); ❖ Perda intestinal de proteínas; ❖ Alteração funcional de motilidade colônica. MISTA Acometimento misto, tanto componentes de má absorção quanto componentes inflamatórios ou com alterações de motilidade. Ex: alergia alimentar, pode pegar delgado e grosso e doença inflamatória intestinal. Além de tentar localizar o provável local da doença pela característica do padrão de dejeção (pensar numa possibilidade diagnóstica), pode ver se aquela suspeita leva ou não à má absorção. Se a criança tem síndrome disabsortiva não vai pensar numa doença que não leva à má absorção. A localização também é importante para estreitar a suspeita diagnóstica. Se tem um paciente com diarreia com sangue, jamais pensar numa doença celíaca (intestino delgado – não tem como dar sangramento). Se tem um paciente com síndrome disabsortiva, não vai pensar em retocolite ulcerativa (acometimento de cólon – não dá má- absorção). Então, a localização, assim como a faixa etária, é importante para estreitar. Assim como saber se uma determinada doença leva a má absorção ou não. Classificação: grupos ❖ Doenças que levam a má absorção importante: celíaca (atrofia de vilosidade intestinal), insuficiência pancreática exócrina, fibrose cística. ❖ Doenças que podem ou não levar à má absorção – má absorção de intensidade variável: intolerância aos carboidratos/lactose tipo adulto - absorção de densidade variável; Tem paciente que tem absorção de carboidrato importante, de lactose importante. Tem outros que tem um quadro mais leve. Parasitoses intestinais. Intolerância à sacarose/isomaltose. ❖ Doenças que nunca comprometem a absorção: diarreias funcionais, como síndrome do intestino irritável; diarreia crônica inespecífica. ❖ Causas de diarreia crônica com associação de fatores: altera motilidade, altera delgado; alergia alimentar e doença inflamatória intestinal (má- absorção de nutrientes – ID; má absorção de água – processos baixos e/ou processo inflamatório); Linfanfiectasia intestinal (má-absorção de gorduras e perda proteica intestinal). Classificação: aspecto das fezes Diarreia com fezes gordurosas A. PRÉ-ENTEROCITÁRIA: ❖ Insuficiência gástrica – Aquilia; ❖ Insuficiência biliar. • Hepatopatias crônicas; • Icterícias obstrutivas. ❖ Supercrescimento bacteriano; ❖ Desnutrição; ❖ Insuficiência pancreática. • Insuficiência pancreática primária; • Pancreatites; • Fibrose cística; • Pancreatite hereditária; • Síndrome de Shwachman-Diamond; • Aplasia congênita; • Deficiência congênita de lipase; • Pancreatectomia. Identificou se era diarreia crônica, presença de sinal de alarme, doença orgânica, classificação de acordo com faixa etária, possibilidades prováveis para diarreia, características das dejeções, provável local de acometimento → olhar o aspecto das fezes. 5 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia crônica • São fezes gordurosas? Aspecto sanguinolento? Pensar em acometimento inflamatório. • São fezes com aspecto aquoso? Para pensar em distúrbio secretor ou um distúrbio osmótico. Se classifica dessas 3 maneiras: gordurosa, sanguinolenta ou aquosa. Utilizada para tentar estreitar as possibilidades diagnósticas. Se tiver umadiarreia com fezes mais gordurosas, boia no vaso, brilha, com mau cheiro, com aspecto de fezes de esteatorreia, vai tentar caracterizar onde está o problema da absorção de gordura. Lembrar que absorção de gordura não envolve só o enterócito, envolve estômago, bile e enzima pancreática. Então qualquer problema nesses locais, nessas vias de absorção de gordura, pode dar uma diarreia crônica com esteatorreia. Então pode ter diarreia com aspecto gorduroso por acometimento pré-enterocitário (antes do enterócito), ou seja, no estômago, pâncreas e bile. Então qualquer doença do estômago que leva a diminuição da produção do quilo, insuficiência biliares, seja no fígado ou nas icterícias obstrutivas, podem levar a fezes mais gordurosas, porque não digere e não vai absorver bem a gordura. A desnutrição porque reduz a produção de enzima pancreática, reduz produção do quilo, dessa via de absorção, também pode levar a fezes gordurosas. Supercrescimento bacteriano, porque desconjuga o sal biliar, dificultando a absorção de gordura. Uma bem clássica é a insuficiência pancreática por fibrose cística, que dá esse aspecto de fezes gordurosas por um acometimento pré-enterocitário. B. ENTEROCITÁRIA: • Doença celíaca: esse é o exemplo clássico; • Desnutrição: pode levar a uma atrofia de vilosidades e causar a má absorção; • Síndrome do intestino curto; • Abetalipoproteinemia. C. PÓS-ENTEROCITÁRIA: • Pode ser causada por alguma inflamação ou alteração de permeabilidade, que afeta a absorção. • Linfangiectasia: defeito no sistema linfático; não consegue absorver a gordura; • Ileomesenterites; • Doença de crohn: altera a permeabilidade de mucosa pelo processo inflamatório. • Linfomas; • Linfagiomas; • Doença de whipple. Diarreia de fezes aquosas (secreção/osmolaridade) Pode ser causada ou por aumento da osmolaridade ou pelo aumento da secreção. A. PRÉ-ENTEROCITÁRIAS: • Síndrome do cólon irritável: que é um distúrbio de motilidade. • Deficiência congênita de tripsina. B. PÓS-ENTEROCITÁRIAS; • Alergia alimentar: comprometendo a permeabilidade e levando a uma má absorção do açúcar. C. ENTEROCITÁRIAS: mais comuns Vão estar presentes as deficiências enzimáticas, intolerância a lactose, deficiência de sacarase, defeitos de transportador, levando a aumento de secreção. • Deficiência congênita/secundária da lactase; • Intolerância tardia a lactose; • Deficiência de sacarase-isomaltase; • Má absorção congênita/secundária de glicose- galactose; • Má absorção de glicose-galactose; • Má absorção congênita de frutose; • Imunodeficiência; • Desnutrição: afeta quase todas as vias de absorção; não vai dar apenas sangue nas fezes, mas pode dar fezes esteatorreicas por comprometimento pré enterocitário, pode dar fezes mais aquosas por comprometimento de absorção; • Acrodermatite enteropática; • Cloridrorreia congênita; • Deficiência de enteroquinase: • Doença de inclusão microvilositária; • Defeito na troca de Na/H; • Síndrome do intestino curto. • Hiperplasia congênita de criptas; • Diarreias hormonais; • AIDS. Obs. Então é visto que uma mesma coisa pode dar vários tipos de diarreia. 6 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia crônica Diarreia com fezes sanguinolentas • Retocolite ulcerativa; • Doença de crohn; • Colite alérgica; • Infecções intestinais; • Parasitoses intestinais; • Hiperplasia nodular linfoide: nódulos linfoides que são vistos numa colonoscopia; esses nódulos não são patognomônicos de nada, mas pode encontrar eles aumentados em caso de infecções; • Pólipos e polipose; • Tuberculose intestinal; Obs: lembrar sempre de parasitose e em particular a amebíase; lembrar também das DII (crohn e RCU). Classificação da diarreia pela causa • Infecção: Bactéria, vírus e parasitas. • Parenteral: Ostomastoidite/ITU. • Dietética: Superalimentação; alergia a leite de vaca/soja; desnutrição. • Diarreia crônica inespecífica ou cólon irritável: • Tumores secretores de hormônios: APUDoma; gastrinoma. • Má-absorção de carboidratos: Congênita ou adquirida: deficiência de lactase, sacarase, isomaltase, má absorção de glicose-galactose. • Defeitos imunológicos: agamaglobulinemia; deficiência de IgA secretória; imunidade celular alterada; imunodeficiência combinada. • Endocrinopatias: hipertireoidismo; insuficiência adrenal; hipoparatireoidismo; diabetes mellitus. • Anormalidades metabólicas: cloridrorreia familiar; abeta e hipobetalipoproteinemia; má-absorção de ácido fólico; má-absorção seletiva de vit.B12; galactosemia; tirosinose; doença de Wolman; acrodermatite enteropática. • Doenças pancreáticas: Fibrose cística; pancreatite crônica; deficiência de lipase; deficiência de tripsinogênio. • Hepatopatias: hepatites crônicas; atresia biliar; má absorção de ácidos biliares. • Anormalidade no intestino delgado: doença celíaca, esprutropical, doença de Whipple; linfagiectasia intestinal; gastroenterite eosinofílica; deficiência de enteroquinase. • Lesões vasculares: isquemia intestinal; enterocololite necrotizante. • Lesões anatômicas: Doença de hirschsprung; má rotação; obstrução parcial do intestino delgado; síndrome da alça cega; síndrome do intestino curto; linfosarcoma; polipose. • Doença inflamatória intestinal: Crohn; RCU. • Enterocolite: • Diarreia tóxica: quimioterapia; enterite por radiação; drogas. • Diarreia intratável: defeitos epiteliais primários: doença de inclusão em microvilos (atrofia de microvilosidades, enteropatia em ¨tufos¨ (displasia epitelial primária, deficiência de integrina), deficiência de heparan sulfato em enterócitos; enteropatia autoimune. ❖ Com antígeno identificado: enteropatia autoimune com nefropatia; ❖ Mutação de gene imunoregulador conhecido – desregulação imune, poliendocrinopatia, enteropatia, síndrome ligada ao X 28 (IPEX), distrofia ectodérmica autoimune com poliendocrinopatia e candidíase (APCED). Falha da seleção negativa de linfócitos – deficiência da ativação da célula T (mutação CD3); Enteropatia autoimune não classificada; Diarreia intratável idiopática ou sindrômica. Anamnese • Definir o primeiro episódio da diarreia: saber quando começou, se teve febre, se teve algum fator de infecção associado, se teve vômitos ou não, se foi insidioso ou abrupto; • Fazer diário das fezes. • Número de dejeções e frequência máxima, período do dia: quantas vezes ao dia, qual período que tem mais coco; • Despertar noturno para evacuações; • Ritmo intestinal no período sem diarreia: pode ser uma diarreia de caráter intermitente; • Aspecto das fezes: cor, aspecto, odor volume (proporcional ao que a criança come), consistência (altera ao longo do dia), muco, pus, gordura, parasita, alimentos mal digeridos. • Presença de sangue: caracterizar como o sangue aparece. Se o sangue vem isolado, se é vivo ou 7 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia crônica sangue escuro, sangue misturado nas fezes, sangue após as fezes (sugere pólipos); • Piora com alimentos; • Mudanças na dieta; • Sintomas associados: sinais de alarme como febre, dor abdominal, distensão abdominal, vômitos, lesões perianais, manifestações respiratórias, convulsões, hepatopatia, anemia e perda de peso; • Uso de medicamentos antes ou durante a diarreia; • Sinais: exantema, edema, assadura, distensão abdominal, halitose, dor abdominal, ritmo do sono, escape fecal e irritabilidade; • Antecedentes obstétricos: condições de nascimento, peso ao nascer, icterícia neonatal e eliminação de mecônio; • Antecedentes médicos: infecções respiratórias repetidas, história pessoal ou familiar, hospitalização, cirurgia prévia; transfusão de sangue, perguntar sobre doenças hepáticas, doenças do TGI. • Antecedentes alimentares: época de aleitamentomaterno, introdução do leite de vaca, trigo, ovos, frutas, carnes soja, peixe; saber quando ele introduziu o glúten. • Desenvolvimento psicomotor e controle esfincteriano. • Animal doméstico, viagem recente, banhos de rio, moradia, saneamento básico e abastecimento de água. Exame físico • Avaliação antropométrica; • Anormalidades cutâneas: sempre olhar pioderma ganglioso, enfisema (pensar em deficiência nutricional ou alergia); • Gânglio: palpar; lembrar de tumores, infecções; • Artrite: associado a doença inflamatória intestinal; • Exame físico completo para abdômen: massas, hepatopatia, circulação colateral, equimose, cirurgia bariátrica, fissuras; • Inspeção e toque retal (obrigatório): todos os pacientes com diarreia crônica ... será buscado sangue, fissura, fístula; avaliar o esfíncter. É importante fazer o exame físico completo, principalmente do abdômen (inspeção, ausculta, palpação e percussão). Associações ❖ Variável: existência ou não de má absorção, duração da doença, segmento do trato acometido e gravidade ... através de algumas variáveis, boa anamnese e exame físico, existem algumas possíveis associações a serem feitas. ❖ Abdômen distendido: pensar em doença de hirschsprung, celíaca e intolerância alimentar; ❖ Cicatriz cirúrgica abdominal: ressecção maciça com intestino curto, alça cega; ❖ Estomatite: crohn, alergia ao leite de vaca; ❖ Artrite e artralgia: doença inflamatória, doença de whipple; ❖ Lesão perianal e perioral: candidíase, crohn, acrodermatite enteropática; ❖ Neuropatia: DM, amiloidose; ❖ Prolapso retal: fibrose cística, tricocefalíase; ❖ Prurido: colestase, dermatite herpertiforme; ❖ Pólipo nasal: fibrose cística; ❖ Infecção generalizada ou de repetição: imunodeficiências. ❖ Hiperpigmentação: celíaca, whipple, addison, acrodermatite enteropática; ❖ Hepatomegalia: hepatopatias, metástase; ❖ Hipotrofia muscular: celíaca, desnutrição; ❖ Odor característico: doença de xarope de bordo, absorção de metionina; ❖ Macha pelagroide: desnutrição; ❖ Exantema: carcinoide, acrodermatite enteropática; ❖ Vômitos: intolerância alimentar, infecção, obstrução intestinal. É importante investigar o que pode ser aquela lesão de pele. A partir disso, procura-se qual tipo de doença essa lesão pele está associada. Aquela doença pode cursar com diarreia crônica? Ex: Está rodando em otorrino e encontra polipose nasal. A polipose nasal pode estar associada a que patologia? O paciente referiu diarreia? Será que é fibrose cística? Avaliação laboratorial Exame macroscópico das fezes: sangue, muco, pus, alimentos mal digeridos, parasitas, aspecto, consistência e composição; Exame parasitológico de fezes: giárdia, ameba e estrongiloidíase. 8 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia crônica ❖ Aspirado duodenal e biópsias de intestino delgado: estrongiloidíase, giardíase, criptosporidíase. ❖ Biópsia retal: S. Mansoni e na E. Histolytica. ELEMENTOS ANORMAIS NAS FEZES: ❖ Leucócitos e sangue vivo ou oculto: inflamação e destruição da mucosa intestinal: colites e diarreias infecciosas invasivas; ❖ Neutrófilos, monócitos e eosinófilos: Doenças alérgicas e inflamatórias. É necessário criar hipóteses diagnósticas e, a partir disso, avaliar o que precisa ser pedido. Não é para pegar um paciente com diarreia crônica e solicitar todos os tipos de exame. A depender da hipótese, se individualiza o que se pede. Está pensando em esteatorreia? → exame para avaliar gordura nas fezes. Está pensando em uma síndrome de má absorção de açúcar? Solicita um exame para isso. Porém, existem exames que podem ser exames gerais. Por exemplo, na diarreia crônica se pede parasitológico de fezes para todos os pacientes, por ser causa comum no nosso meio. Uma avaliação macroscópica das fezes (coprológico funcional) deve ser pedida, para ver se há resto alimentar, sangue, pus, leucócitos ou neutrófilos nas fezes (processo inflamatório, alérgico). Às vezes pode ser necessário fazer biópsia retal, aspirado duodenal (pensar em parasitoses), etc. O que é básico: no mínimo um parasitológico de fezes e um hemograma. Nos pacientes que tem imunossupressão ou que se tem quadros infecciosos como suspeita, se faz necessária a pesquisa de bactérias enteropatogênicas, que é a coprocultura. Está pensando em C.difficile por uso recente de antibióticos? Faz toxina A e B para clostridium. IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS ENTEROPATOGÊNICAS: ❖ Coprocultura: diarreia por Shigella, quadros graves e arrastados em crianças de baixa idade, disseminação extraintestinal e quadros prolongados ou cronificados; ❖ Gram: Campylobacter, o C. Difficili e o S. Aureus; ❖ PCR. PESQUISA DE VÍRUS NAS FEZES: rotavírus e adenovírus; Está pensando em uma característica mais osmótica, por má absorção de açúcar? Paciente com assadura, fezes explosivas, flatulência e distensão → pH fecal e substâncias redutoras (exceto sacarose): intolerância aos carboidratos – diarreia osmótica e avaliação da resposta à dieta. ❖ pH <6 → má-absorção de açúcar; Outra opção: Será que esse paciente tem uma insuficiência pancreática exócrina? A mãe não caracterizou o cocô dele, se é gorduroso ou não, porém está com distensão, ganho de peso baixo e infecções respiratórias. O que fazer? Pesquisar o teor de gordura nas fezes. TEOR DE GORDURA NAS FEZES: ❖ Quantitativo: Método de Van der Kamer: Material de 24h (VR: 3g de gordura/24 horas) → O melhor para confirmação. O paciente ingere por 5 dias uma dieta com mais gordura e, aí no terceiro a quinto dia da dieta, o paciente faz a dosagem das 72 horas, fazendo uma média de 24 horas; ❖ Semiquantitativo: estatócrito → triagem; ❖ Qualitativo: Sudam III em esfregaço de fezes → não vai quantificar, vai mostrar apenas a presença de triglicérides e ácidos graxos livres nas fezes. Agora, se o paciente está com hipoalbuminemia, edema, em que se pensa em uma perda de proteína, em uma síndrome disabsortiva, pode-se dosar proteínas nas fezes: Dosagem de alfa-1-antitripsina nas fezes (aumentada): perda proteica nas fezes – enteropatias perdedoras de proteínas, fibrose cística, doenças inflamatórias intestinais, doença celíaca, linfangiectasia, gastroenteropatia alérgica. Caso esteja-se pensando em uma característica de diarreia aquosa, mas não por componente osmótico e sim, por componente secretor: Dosagem de eletrólitos nas fezes: diarreia aquosa secretora. Caso se mantenha a suspeita de má absorção de açúcar: Teste de hidrogênio expirado ou teste de tolerância oral a lactose. Esses testes avaliam se há realmente a presença da lactase na borda em escova. Teste de hidrogênio expirado: detecta o hidrogênio no ar expirado após a fermentação de carboidratos na 9 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia crônica luz intestinal e sua absorção pela mucosa (VR: <20 ppm) → esses gases são formados devido à ausência da lactase e consequente passagem da lactose não quebrada para o intestino grosso, sofrendo fermentação. ❖ Má absorção de carboidratos (lactose, sacarose, maltose, frutose ou glicose) ou supercrescimento bacteriano; ❖ Avaliação diagnóstica da deficiência de dissacaridases e acompanhamento da terapêutica dietética; ❖ Falso positivo: crescimento bacteriano no intestino delgado e retardo no esvaziamento gástrico; ❖ Vantagens: boa sensibilidade e não invasivo. Teste de tolerância oral a carboidratos: lactose, maltose e sacarose → Ex: se houver lactase, ela será capaz de quebrar a lactose, em glicose e galactose, e você verá um aumento de pelo menos 20mg/dl na glicemia em comparação a de jejum. ❖ Diarreia crônica e persistente; ❖ Deficiência transitória de lactose: patologias do intestino delgado; ❖ VR: normal: dosagens subsequentes superiores a 20 mg/Dl; ❖ Observar alteraçõesnas 24 horas: distensão abdominal, cólicas e diarreia. Está suspeitando de má absorção de gorduras? Pode- se fazer o teste de absorção de triglicérides, mas isso não é muito utilizado na prática hoje em dia; triagem de má absorção e rastreamento para biópsia de duodeno. VN: aumento nos triglicerídeos sanguíneos > 50-65 mg após 2g/kg de margarina por via oral; Suspeita de má absorção de gordura e não sabe se é alteração pancreática ou por alteração de enterócito? Pode-se fazer o teste de absorção de D-xilose, em que o paciente ingere a d-xilose, que não precisa de enzima pancreática para ser absorvida. Logo, se não tiver lesão de enterócito, a D-xilose sairá normal. Se houver lesão enterocitária, dará resultado baixo da D-xilose. Absorção de xilose → avaliar lesão do intestino delgado alto (extensas do duodeno e jejuno proximal); ❖ Rastreamento para biópsia de intestino; ❖ Níveis sanguíneos após uma hora de ingestão (0,5g/kg) de D-xilose: VN>25-30 mg%; ❖ Valores abaixo de 25 mg%: Lesão de mucosa duodenal. • Suspeita de fibrose cística? Dosagem de eletrólitos no suor. • O componente é mais sugestivo de diarreia sanguinolenta, com um diagnóstico diferencial de doença inflamatória? Pode-se pedir provas inflamatórias, como VHS, PCR e Hemograma; processos infecciosos ou inflamatórios; • Leucocitose, plaquetose, anemia, eosinofilia (parasitoses, alergias); • Calprotectina fecal, p-ANCA, ASCA; • Nessas síndromes absortivas, sempre tem que checar o estado nutricional; Avaliação do estado nutricional: hemograma, cálcio, fósforo, ferro, magnésio, proteínas totais e frações e imunoglobulinas. • Ex: Doenças que acometem o íleo como a DII, pode causar deficiência de vitamina B12. • Caso esteja pensando em doença celíaca: Testes sorológicos para doença celíaca: anticorpos antitransglutaminase, anti-endomísio, antigliadina deaminada; • Pensou em alergia alimentar, com lesões de pele associadas ao trato respiratório? Pesquisa de IgE para leite de vaca, soja e alimentos se atopia; • Pensando em alguma hepatopatia? Provas de função hepática e albumina, amilase, bicarbonato, lipase, antígenos HLA; • Infecções de repetição? Imunoglobulinas: imunodeficiências/sorologia HIV; • Se houver sintomas urinários, essa diarreia pode ser também por conta de acometimento urinário: Urocultura quantitativa e qualitativa: ITU. Exames iniciais em má absorção A tabela a seguir tem algumas sugestões de exames, porém, às vezes se pedem menos ou mais. ❖ Má absorção: Hemograma, perfil lipídico (doenças que levam a má absorção de gordura), albumina, eletrólitos (quadro muito profuso de diarreia, com comprometimento do estado geral grande), ferritina e fezes com pesquisa direta para giardia e ameba. ❖ Sangue oculto: controverso, tem baixa sensibilidade no exame, não sendo obrigatório. ❖ Está pensando em má absorção de açúcar: pH fecal ou os próprios testes de intolerância a lactose. 10 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia crônica Exames secundários na má absorção Para ver se há realmente alguma má absorção associada (os exames são pedidos a depender da suspeita, sendo individualizados para cada paciente): Testes sorológicos na má absorção Ainda dependendo da suspeita, pode-se pedir testes sorológicos. Segue a tabela. • *Paciente com diarreia crônica, muita história de infecção de repetição ... é obrigatório fazer sorologia para HIV, assim como, investigar as imunodeficiências por imunoglobulina. • *ASCA e pANCA pode pedir, porém não é critério diagnóstico para doença inflamatória intestinal. • Nos pacientes em que foram feitas as triagens iniciais através dos exames laboratoriais, com confirmação da má absorção, pedindo exames básicos, muitas vezes se faz necessária a confirmação do diagnóstico de doença celíaca com endoscopia ou outros diagnósticos diferenciais, através da endoscopia. Avaliação endoscópica Biópsia de duodeno – endoscopia alta (junção duodeno – jejunal): • Fundamental para diagnóstico de: doença celíaca, abetalipoproteinemia, doença de Whipple, amiloidose, enterite eosinofílica e linfoma. • Útil no diagnóstico de: giardíase, criptococose, isosporíase, estrongiloidíase, esquistossomose, capilaríase, lingangiectasia e hiperplasia linfoide. • Achados não específicos, mas podem contribuir para diagnóstico: alergia alimentar, intestino contaminado, espru tropical e desnutrição. Caso tenha sangue nas fezes → colonoscopia. A não ser que consiga se identificar o foco de sangramento, como uma fissura/lesão anal, ou tem uma ameba no parasitológico de fezes com melhora após o antiparasitário. Colonoscopia ou retossigmoidoscopia com biópsia (independente do achado macroscópico, para afastar DII e colites) – importante em casos de sangramento. • Doenças inflamatórias, amebíase, esquistossomose, pólipos ou polipose, shigelose, hiperplasia nodular linfoide, neoplasia; 11 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia crônica • Identificação de agentes infecciosos e fragmentos de tecido. Alguns pacientes às vezes necessitam fazer exames de imagem também, particularmente para avaliar o delgado, porque a endoscopia só pega o duodeno e a colonoscopia, o cólon. A área de jejuno e íleo é endoscopicamente cega, até porque a cápsula endoscópica não é muito utilizada na pediatria. Como avaliar o delgado então? Faz-se uma (entero)tomografia ou uma (entero)ressonância. Avaliação por imagem Trânsito intestinal, enema baritado, a ultrassonografia (dá sinais indiretos de processo inflamatório); Cintilografia, (entero)tomografia e (entero)ressonância magnética → Diferenciam da ressonância e tomografia comuns porque toma contraste oral e venoso, vendo parede, espessamento, se há alguma alteração digestiva de processo inflamatório, etc. Investigação de doenças inflamatórias, divertículos, tuberculose, patologias disabsortivas ou tumores. Exames da terceira fase má absorção Exames feitos após todos os exames iniciais Tratamento • Específico para cada patologia; • Controlar diarreia para diminuir perdas fecais e espoliação nutricional. Geralmente, não se sai com o diagnóstico na primeira consulta, logo, o que fazer com esse paciente? Só vai se poder tratar adequadamente após saber a causa da diarreia e para cada patologia há um tratamento. No primeiro momento, sem diagnóstico, tem que se orientar algumas coisas para evitar desnutrição, espoliação nutricional e para tentar diminuir a perda fecal que incomoda a vida desse paciente. Tratamento dietético Terapêutica de exclusão ou redução de nutrientes: avaliar e evitar desequilíbrios dietéticos. 1. Exclusão ou redução de lactose: intolerância congênita e na hipolactasia do tipo adulto 2. 2. Exclusão da sacarose e isomaltose: déficit congênito de sacarose-isolmaltase 3. 3. Exclusão de monossacarídeos na má absorção primária de glicose-galactose; 4. Exclusão do glúten da dieta: não usar como critério diagnóstico e nem antes do diagnóstico (jamais excluir glúten antes do diagnóstico de doença celíaca); 5. Exclusão de proteínas heterólogas: alergia alimentar; 6. Redução de ácidos gordurosos de cadeia longa: linfangiectasia intestinal primária ou secundária. Às vezes, você pode pedir para o paciente aumentar a quantidade de gorduras boas na alimentação, principalmente nos distúrbios funcionais porque aumenta o esvaziamento gástrico. Ou então, alterar o teor de gordura, o tipo de gordura. O paciente com linfangiectasia, modifica-se o tipo de gordura para ácidos graxos de cadeia média; Substitutos: gordura de coco (rica em ácidos graxos de cadeia média); Fonte calórica e nutritiva temporária ou por tempo prolongado em todas as situações de má absorção de gorduras como: obstrução das vias biliares, síndromedo intestino curto, síndrome de alça cega ... Não fazer restrição absoluta dos triglicérides desde cadeia média por tempo prolongado pelo aspecto nutritivo: deficiência de ácidos graxos essenciais nestes casos. TERAPÊUTICA DE MODIFICAÇÕES DIETÉTICAS SEM EXCLUSÃO OU REDUÇÃO 1. Correção de erros alimentares (não é para excluir fibra da dieta, pois ela é importante para o desenvolvimento de flora intestinal ou até para reduzir os distúrbios funcionais); 2. Aumento de gordura na dieta; 12 Beatriz Machado de Almeida Gastropediatria – Diarreia crônica Síndrome do cólon irritável: controle da diarreia em 30% dos casos com normalização ou aumento do conteúdo de gorduras da dieta; Diminuição do reflexo gastrocólico. Tratamento medicamentoso 1. Reposição enzimática: insuficiência pancreática, má absorção de açúcares; 2. Reposição de zinco: acrodermatite enteropática; 3. Outros: • Drogas anti-inflamatórias: doença inflamatória intestinal; • Anti-parasitários nas parasitoses (a professora sinaliza que passa antiparasitário para seus pacientes já na primeira consulta, independente); • Tratamento de doenças associadas como infecções, hipovitaminoses, anemias. Probiótico pode em diarreia crônica? Não há evidência alguma de melhora. Na diarreia persistente, o lactobacillus gg (culturelle) mostrou benefícios, mas só ele. Zinco, preciso fazer igual a uma diarreia aguda? Não, só se houver deficiência de zinco comprovada em exame laboratorial. Antidiarreico faz? De maneira alguma. Primeiramente, por conta do efeito colateral, por estar usando por muito tempo e segundamente, da predisposição a formar megacólon tóxico. É corrigir os erros alimentares, diminuir os níveis de lactose (se identificou que há característica de má absorção de lactose na dieta), tentar ver a ingesta de gordura nos distúrbios funcionais e encaminhar ao nutricionista, para evitar a espoliação nutricional.
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