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Trabalhos 1 e 2 - Filosofia do Direito - Samuel

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FADECH - FACULDADE DE DESENVOLVIMENTO DAS CIÊNCIAS E HUMANIDADES 
Credenciada pela Portaria nº 424, de 03/09/2019 - DOU: 04/09/2019. 
 
TRABALHO 1 
Filosofia do Direito 
Valor: 5 pontos 
18/03/2021 Enviar até 18/04/2021 
 
Texto: 
A urgência do pensar: a inserção contextual da filosofia na sociedade contemporânea. In: 
BITTAR, E. C. B. & ALMEIDA, G. A. DE. Curso de Filosofia do Direito. São Paulo: Atlas, 
2015. 
 
Produção de textos sobre questões propostas. 
1- Qual a principal marca da sociedade contemporânea, segundo Bittar e Almeida? 
Explique, analisando este contexto com o retratado no filme/documentário Arquitetura da 
destruição. 
Segundo Bittar e Almeida, a principal marca da sociedade contemporânea é a ausência de 
reflexões sobre ela própria. Além disso, os indivíduos também se mostram apáticos e estagnados no 
que diz respeito aos temas políticos e ao futuro comum. Há inércia espectadora, aceitação do status 
quo e consumo compensador (indivíduos sem alegria buscando refúgio no consumo). A Filosofia se 
vê esquecida diante da enorme força do poder econômico, razão pela qual a busca pela produtividade 
e pela eficiência para o mercado faz com que os sujeitos aceitem as situações às quais são subjugados, 
não realizando reflexões, tampouco questionamentos. De forma evidente, há um controle, sendo 
predominante a razão instrumental. Até mesmo os intelectuais não se desenvolvem, pois pensam de 
maneira limitada, regrados por normas. 
Destaca-se que a razão instrumental prioriza si mesma e despreza todas as demais faculdades 
e emoções humanas, de maneira fria, técnica e operacional. A título de exemplo, cita-se o que ocorreu 
no início da pandemia no Brasil, quando o presidente disse que a economia não poderia parar, ou 
seja, percebe-se, claramente, a sobreposição da economia em detrimento da vida. 
 
Curso: Direito Tipo de atividade: Trabalhos 1 e 2 
Disciplina: Filosofia do Direito 
Professor: Abel Camilo de Oliveira Lage Filho 
Período/turma: 9º Data: 18/04/2021 
Aluno(a): Samuel Duarte Luciano 
 
 
Valor: 20 pontos Nota: 
 
 
 
No que concerne à força econômica, ressalta-se a determinação dos comportamentos, ou seja, 
o que a pessoa vai fazer é decidida fora dela. Atualmente, isso ocorre muito por meio da mídia. Nesse 
diapasão, o capitalismo impera com sua força econômica e, através do poder midiático, coopta as 
massas, fazendo com que os cidadãos coloquem a Filosofia e a reflexão no esquecimento, fato que, 
por óbvio, afasta a possibilidade de autonomia, de renovação, de mudança, acarretando a prolongada 
manutenção das estruturas que reinam em nossa sociedade. 
Os smarthpones, por exemplo, são um instrumento mitigador da capacidade de pensar, uma 
vez que tais aparelhos exercem, por meio de emojis e reações, muitas manifestações que deveriam 
ser exprimidas por nós, seres humanos, de forma autônoma. Em outras palavras, as máquinas pensam 
pelos indivíduos. 
Estabelecendo um comparativo entre o cenário visualizado pelos autores Bittar e Almeida e o 
filme/documentário Arquitetura da Destruição, pode-se ressaltar justamente o caráter influenciador 
da mídia no que tange à cooptação das massas. 
Ora, Hitler utilizava a força midiática para divulgar os judeus e demais minorias como sendo 
inimigos da nação, influenciando o comportamento dos alemães no sentido de impedir um 
pensamento reflexivo, criando indivíduos inertes do ponto de vista filosófico para, assim, impor uma 
estrutura dominante e mantê-la, permitindo as barbáries verificadas quando da busca pela raça ariana. 
A propaganda teve papel extremamente fundamental na criação da “medicina nazista” e na 
divulgação da “arte” que estabelecia padrões de beleza indispensáveis à manutenção da raça ariana 
pura. 
É justamente o que, na visão dos autores, ocorre atualmente, uma vez que, como salientado, 
os detentores do poder utilizam as mídias para treinar e cooptar as consciências, impedindo a 
formação de indivíduos questionadores, revolucionadores, ocasionando a ausência de mudança e, por 
conseguinte, manutenção da estrutura de poder atual. Ademais, os cidadãos que não se enquadram 
em determinados padrões são facilmente descartados, como se não fossem detentores de 
dignidade/sujeitos de direitos, assim como ocorria com os perseguidos pelo nazismo. 
Para fixação, releva-se que, com o treinamento e a cooptação, o cidadão aceita e se submete 
àquilo que lhe é imposto, o que, na visão dos autores, ocorre por meio da rapidez das imagens 
televisivas, da sobrecarga, dos meios de comunicação, da fluidez das relações humanas superficiais, 
entre outros motivos. 
Em síntese, uma das causas que permitiu a expansão do nazismo foi a ausência de pensar, isto 
é, abrir mão de pensar por si mesmo e aceitar o comando, característica presente na sociedade pós-
moderna. 
 
 
 
 
Outro aspecto semelhante a ser destacado é o fato de que, assim como Hitler se inspirava na 
arte para disseminar seus ideais, os detentores do poder utilizam a mídia para espalhar aquilo que, 
hoje, é considerado arte pelos indivíduos incapazes de pensar racionalmente. O controle estava 
presente naquela época e está presente atualmente. 
Outrossim, Hitler buscava concluir um “embelezamento” do mundo, nem que para isso tivesse 
que destruir o próprio mundo. Da mesma forma, os detentores do poder fazem de tudo para 
manutenção do status quo e do consumo compensador, o que lhes oferece lucro e deleite. 
Portanto, pode-se dizer que, tanto à época retratada no filme/documentário Arquitetura da 
Destruição, quanto no momento hodierno, há uma patente preterição da filosofia e do pensamento 
reflexivo, o que é fomentado pelas estruturas detentoras do poder, às quais utilizam-se da força 
midiática para treinar e cooptar as consciências, evitando a formação de indivíduos questionadores 
capazes de promover revoluções e alterar a estrutura dominante. Tudo isso, sem sombra de dúvidas, 
leva à conclusão no sentido de que a grande urgência da sociedade contemporânea reside na 
necessidade de se pensar. 
 
 
2- Segundo os autores, “apesar da impressão de aumento de liberdade, o homem pós-moderno 
vive o paradoxo do adensamento da opressão e da fragilidade pessoal.” Vive submetido a um 
crescente “poder de determinação do comportamento”. (p. 12) 
a) Como os autores fundamentam esta afirmação? 
Os autores fundamentam esta afirmação no fato de que, atualmente, há uma sociedade de 
controle, denominada por eles “sociedade big brother”, pois as técnicas e formas de controle estão 
cada vez mais otimizadas e crescem a cada dia que passa, o que permite a maior determinação do 
comportamento e, por conseguinte, diminui a subjetividade. 
A mitigação do caráter subjetivo é concretizada por meio das mídias, das normas de conduta, 
pelos padrões estéticos impostos, pela globalização, fluidez das informações, busca por status, entre 
outros motivos que fazem com que o indivíduo perca sua essência e seja controlado, o que é 
visualizado mais facilmente nas grandes capitais, haja vista o trânsito, o fluxo de pessoas, o consumo 
de massa e o anonimato. 
Ademais, não há visualização da face do outro, uma vez que, como mencionado na questão 
“1”, há cooptação das massas, reduzindo os indivíduos ao patamar de coisas, já que o subconsciente 
é controlado. 
 
 
 
 
Outras características que demonstram o afastamento da subjetividade são: ansiedade, 
inconsistência de valores, ausência de pensamento crítico e reflexivo, pressões de mercadurização e 
fácil substituição. 
Diversamente da idade média (violência) e da modernidade (alienação externa sem 
violência/sociedade industrial), atualmente, na era pós-moderna, vivemos diante de um cenário no 
qual a liberdade é mais valorizada que a segurança. Porém, é apenas uma falsa impressão de liberdade, 
pois o sujeito faz de tudo para tentar realizar um projeto de vida criadopor ele mesmo. Ou seja, não 
há um terceiro dominante, uma vez que o indivíduo é seu próprio dominador, ao mesmo tempo em 
que é dominado, tornando-se refém de um projeto criado por ele mesmo no exercício de sua liberdade. 
É justamente aí que reside o problema, já que não há contra quem se rebelar. Dessa forma, o sujeito 
acaba chegando a um ponto de extrema ansiedade e exaustão, o que, muitas vezes, o leva ao suicídio. 
Os cidadãos estão sempre cansados, posto que exigem de si mesmo a superação diária de seus 
próprios feitos. 
Logo, tem-se um paradoxo, uma vez que, apesar da impressão no sentido de que há liberdade, 
o que se tem, em verdade, é o afastamento da subjetividade e o tratamento dos indivíduos como 
marionetes que buscam se enquadrar nos padrões opressores e, para isso, criam projetos de vida, bem 
como se matam para realizar tais projetos. Trata-se de uma subjetividade fungível, quase nula, não 
autônoma, atrofiada, fragmentada, inflacionada, amorfa. 
 
 
b) Guardadas as diferenças no tempo e contexto histórico, avalie se há semelhanças quanto à 
indução de comportamentos (hoje) com o que apresentou o filme Arquitetura da destruição, e 
a relação com o clamor dos autores pela “urgência do pensar”. 
Após uma análise, pode-se afirmar que há semelhanças entre a indução do comportamento 
(hoje) e o modo de agir da sociedade alemã durante o período Totalitarista, 
Em ambos os casos, constata-se a inexistência da capacidade de reflexão, causada pela 
ausência de autonomia (indivíduo autônomo é autor de si mesmo, definidor de sua própria condição, 
pautado na racionalidade). Assim, considerando a ausência de autonomia, que causa a incapacidade 
para reflexão, temos que o indivíduo é impedido de pensar. 
Com já mencionado na questão “1”, uma das causas que permitiu a expansão do nazismo foi 
a ausência de pensar, isto é, abrir mão de pensar por si mesmo e aceitar o comando, sendo que tal 
característica também está presente na sociedade pós-moderna. 
 
 
 
 
Isso permitiu a utilização da mídia e a disseminação do pensamento nazista à época e, da 
mesma forma, viabiliza a ausência de pensamento reflexivo e questionamento, bem como mantém a 
estrutura social atualmente. 
 
 
3- Analise a abordagem dos autores sobre o “fortalecimento da autonomia”. Que, “no lugar de 
promover a adaptação, a reação somente pode vir das mentes capazes de veicular a resistência”. 
Nas palavras de Adorno: “Eu diria que hoje o indivíduo só sobrevive enquanto núcleo 
impulsionador da resistência”. p.11 
Os autores asseveram que a retomada da subjetividade perpassa pelo fortalecimento da 
autonomia dos sujeitos, o que permitiria a criação de pensamentos reflexivos, passíveis de gerar 
mudanças. Porém, diante do cenário vivenciado, isso se torna algo difícil, visto que, citando Kant, 
Bittar e Almeida entendem que, hodiernamente, o que se tem é uma conjuntura de heteronomia, posto 
que os indivíduos são extremamente influenciados por influxos estrangeiros. 
Os sujeitos são governados por influências externas e buscam se encaixar nas molduras que 
representam os desejos de terceiros. Há ausência de indivíduos autônomos, pois não conseguem 
pensar por si mesmo e, assim, são usados como mercadorias. Nesse sentido, acabam se caracterizando 
como preguiçosos ou covardes, já que, segundo Kant, aquele que não passa da menoridade intelectual 
para a maioridade intelectual é preguiçoso ou covarde, salvo casos em que a pessoa realmente não 
pode, como, por exemplo, impossibilidade em razão da ausência de potencial ou de uma deficiência. 
Nesta linha, as pessoas são cada vez mais frágeis, pois o domínio por si mesmo vem de forma 
sutil, através da tecnologia, da informação, da comunicação, entre outros aspectos. Se a pessoa não 
for capaz de refletir, ela não entenderá o que está acontecendo consigo e, assim, chegará ao ponto da 
exaustão. 
Conclui-se que, conforme entendimento dos autores, a reação só pode vir de quem pensa, 
reflete e oferece resistência. O sujeito tem que ser capaz de se fortalecer enquanto indivíduo, para 
criar resistência por intermédio de um pensar autônomo. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
TRABALHO 2 
Filosofia do Direito 
Valor: 5 pontos 
18/03/2021 Enviar até 18/04/2021 
 
Texto: 
Direito, História e Valor. In: BITTAR, E. C. B. & ALMEIDA, G. A. DE. Curso de Filosofia 
do Direito. São Paulo: Atlas, 2015. 
Produção de textos sobre questões propostas. 
 
1- Interprete e explique a afirmação dos autores que “as forças históricas são um imperativo 
para a condição humana”. E que “não há como enxergar os indivíduos fora da história”. 
Em primeiro lugar, necessário entender as palavras-chaves da afirmação acima. 
Nesse sentido, as forças históricas são os seres humanos existindo e vivendo suas 
experiências, bem como impactando sobre o mundo e o transformando. Em outras palavras, são as 
ações de cada um e de todos os seres humanos, sendo que estas são forças em confronto constante, 
como, por exemplo, força política, econômica, entre outras. 
Por sua vez, vale destacar que a condição humana é construída socialmente, pois não 
nascemos com ela. Inclusive, em razão disso não é adequado se falar em “natureza humana”. 
Conforme entendimento exposto pelos autores, a afirmação encontra se fundamentada na 
revaloração do sentido da história, que deixa de ser um conjunto de fatos pretéritos e passa a ser 
entendida como uma conjuntura que determina as condições nas quais os homens criam e recriam 
seus destinos. 
As ações humanas impactam e alteram o mundo, modificando a realidade e determinando o 
que ocorrerá no presente e no futuro. Ou seja, o homem age sobre o mundo, influenciando tal mundo 
e, por consequência, determinando seu presente e seu futuro por meio das condições históricas, 
causadas por suas ações. 
A interação das forças históricas resulta na nossa realidade. Estas são tão poderosas que 
influenciam nossa vida a ponto de se tornarem um imperativo. Ou seja, independentemente da nossa 
escolha, não conseguiremos escapar, ainda que não estejamos gostando. 
Assim, é impossível enxergar o indivíduo fora da história, pois somos resultado do momento 
histórico que estamos vivenciando. Aliás, até mesmos os nossos sentidos são condicionados 
historicamente. Toda vez que agimos e transformamos o mundo, este mundo transformado nos 
transforma. 
 
 
 
 
Em outros termos, as ações do passado condicionam a coexistência humana no presente e no 
futuro. 
Esse entrelaçamento umbilical - consistente na ação humana alterando o mundo, 
determinando por suas ações e sendo determinado pela história ocasionada por suas ações – torna 
impossível a visualização do homem fora da história e, assim, as forças históricas são um imperativo 
para a condição humana. 
 
 
2- “Sendo a experiência jurídica uma das modalidades da experiência histórico-cultural, 
compreende-se que a implicação polar FATO-VALOR se resolve, a meu ver, num processo 
normativo de natureza integrante, cada norma ou conjunto de normas representando, em dado 
momento histórico e em função de dadas circunstâncias, a compreensão operacional compatível 
com a incidência de certos valores sobre os fatos múltiplos que condicionam a formação dos 
modelos jurídicos e a sua aplicação” (Reale, 1999, p 220) 
“Desta forma, conclui-se que as normas jurídicas são o resultado de uma relação tensional entre 
fato e valor.” p. 564 
Por que, segundo os autores, podemos concluir “que as normas jurídicas são o resultado de 
uma relação tensional entre fato e valor.” 
Consoante entendimento dos autores, as normas jurídicas são resultado da tensão entre fato e 
valor, pois há um movimento dinâmico entre fatos, valores e normas, movimento este que se dá no 
espaço e no tempo. 
Nesse sentido, tanto o fato, quanto o valor e a norma são dimensões da experiência jurídica. 
Quando ocorre um fato, é inevitávelque haja uma valoração sobre ele e, após essa valoração 
(fundamentada em valores que norteiam a vida da sociedade onde ocorre o fato), pode haver a criação 
de uma norma para versar sobre aspectos deste fato valorado. Vale ressaltar que sempre acontecerá 
desta forma, pois, reitera-se, a norma é resultado da valoração de um fato. 
Assim, a partir deste tensionamento que dá origem à norma, o Direito aparece na vida social, 
incidindo sobre os fatos impactantes desta, ou seja, é desta maneira que ocorre a formação dos 
modelos jurídicos, bem como sua aplicação. Um exemplo é a criação do feminicídio no Brasil, norma 
jurídica criada após a valoração do fato impactante consistente no patriarcalismo extremo que 
ensejava e enseja a ocorrência de violências e mortes de mulheres pelo simples fato de serem 
mulheres. 
 
 
 
 
 
 
 
3- “Reale não poderia desprezar, na constituição de sua teoria tridimensional, a ideia 
primordial de que os valores operam inevitavelmente na órbita da definição do direito. Isso 
porque ‘Só o homem é capaz de valores, e somente em razão do homem a realidade axiológica 
é possível’.”(p. 566) 
Interprete e explique os argumentos dos autores quanto a esta afirmação. 
Na visão dos autores, esta afirmação é corroborada, pois, para Reale, o Direito planta suas 
raízes no mundo da vida, acompanhando o dinamismo da sociedade. Além disso, a norma é um fato 
da própria experiência dos seres humanos. Ademais, segundo a concepção de Reale, o Direito não 
pode ser tido como puro fato, nem puro ideal, nem pura forma de contemplar. Nesse sentido, a 
observação de Reale acerca da teoria do conhecimento e acerca da teoria do valor lhe permite se opor 
a concepções consolidadas. 
Conforme explanam Bittar e Almeida, os valores determinam as condutas dos indivíduos e, 
além disso, nem sempre são formados por atitudes virtuosas. Outrossim, os valores exercem um papel 
de ideologia, concedendo visões de mundo aos sujeitos. Reale é um seguidor crítico desses legados. 
Segundo os autores, Reale entende que os valores são um dever-ser e possuem diversas 
características, como, por exemplo, bipolaridade, incomensurabilidade, referibilidade, entre outras. 
Há um círculo no qual o homem culturaliza o mundo, é atingido pelos fenômenos e, após, 
reabsorve o valor quando passa a ter uma nova visão sobre o mundo. Isso implica na valoração de 
fatos que dão origem às novas normas e definem o próprio Direito. Em razão disso os valores operam 
inevitavelmente na órbita da definição do Direito, sendo que apenas o homem é capaz de valorar 
determinado fato, com base na cultura por ele criada. 
A axiologia, em conjunto com o humanismo histórico dialético moldam as concepções de 
mundo e guiam a busca pelo entendimento do formato do Direito, ciência social aplicada. 
 
 
4- Utilize a concepção realiana do fato, valor e norma para interpretar a ruptura provocada 
pelo totalitarismo. 
Na visão dos autores, a Era nuclear e a ruptura provocada pelo totalitarismo exemplificam 
bem a concepção realiana de fato, valor e norma. 
 
 
 
 
Em primeiro lugar, tem-se o fato principal para a criação do DIDH, qual seja, a Segunda 
Guerra Mundial, marcada pelos campos de concentração e pelas bombas atômicas de Hiroshima e 
Nagasaki. 
Neste ponto, destaca-se que o Totalitarismo se configurou como um evento de ruptura, haja 
vista o fato de inaugurar uma forma inédita de governo, reduzindo as pessoas ao status de coisa, 
desprezando qualquer cogitação de atribuição de dignidade aos indivíduos mortos nos campos de 
concentração. A ruptura se deu justamente pela eliminação de todo e qualquer aspecto relacionado à 
noção de cidadania, não havendo governantes e governados, tampouco direitos e deveres de uns para 
com os outros. Houve, então, o predomínio do arbítrio absoluto. 
No âmbito do regime totalitário, os mandantes da barbárie valoraram os fatos ocorrentes à 
época da forma que lhes cabia, criando normas de terror pautadas em seus interesses perversos. A 
valoração no sentido de desconsiderar a dignidade da pessoa humana permitiu a criação da até então 
inédita forma de governo. 
Inclusive, pode-se afirmar que o Direito foi uma das primeiras vítimas do Nazismo quando 
este estava surgindo, trabalhando para chegar ao poder. Isso porque os nazistas transformaram o 
Direito Alemão em um Direito nazista, uma vítima institucional que permitiu o extermínio em massa, 
legitimando a barbárie. 
A própria ruptura também representa uma valoração dos fatos ocorridos, uma vez que torna 
impossível raciocinar sobre o futuro com a concepção teórica do passado, já que o evento histórico 
ocorreu e separou o passado do futuro. Ou seja, a valoração dos fatos ocorridos (tensão entre fato e 
valor) exige a criação de um novo arcabouço teórico para que o futuro possa ser pensado a partir do 
mencionado arcabouço. 
Vale ressaltar, ainda à luz da teoria tridimensional, que, após, ocorreu a valoração deste fato 
(totalitarismo como evento de ruptura) em conjunto com a valoração do fato era nuclear. 
Por fim, a valoração dos mencionados fatos, fez exsurgir a necessidade de criação de normas 
de caráter humanístico, a exemplo do DIDH, as quais se prestaram a atribuir dignidade às pessoas, 
protegendo este valor e evitando a destruição do mundo. 
 
 
5-“Miguel Reale usa três conceitos: pessoa, valor e liberdade.” p. 573 
a) Como estes três conceitos estão relacionados no pensamento realiano? 
Os conceitos de pessoa, valor e liberdade estão relacionados no pensamento realiano na 
medida em que a existência de um deles depende da existência do outro. 
 
 
 
Vale ressaltar que, para Reale, “o homem é o valor-fonte de todos os valores”, pois são 
imanentes à sua própria essência os atos de valorar, criticar e julgar aquilo que lhe é apresentado. 
Ademais, além de atreladas aos valores, as pessoas também se relacionam com a liberdade, 
uma vez que esta permite a escolha, sendo que a valoração integra o próprio exercício da liberdade. 
Dessa forma, à luz do pensamento realiano, o exercício da liberdade implica a concretização 
da escolha entre diversos valores existentes. A valoração prévia possibilita a consumação da 
liberdade, razão que justifica a ligação entre os três conceitos. 
 
 
b) “É importante deixar claro que não é a pessoa o valor a ser preservado, mas a dignidade que 
lhe é inerente” p. 572 
Justifique essa afirmação dos autores. 
Na concepção de Reale, os valores possuem diversas características, como, por exemplo, 
bipolaridade, implicação recíproca, referibilidade, entre outros. Nesse sentido, destaca-se que a 
bipolaridade consiste na existência de um desvalor para cada valor. 
A Segunda Guerra Mundial foi o fato perante o qual o DIDH tomou posição, sendo que o 
mencionado evento fez surgir um desvalor, concretizado por meio da transformação de pessoas em 
coisas, em objetos descartáveis, o que foi revelado, principalmente, pelas ações nazistas. Nesta linha, 
o desvalor presente neste contexto é a indignidade da pessoa humana. 
Considerando a bipolaridade dos valores, necessária a existência de um valor para o desvalor 
acima citado. Assim, torna-se necessária a especificação no sentido de que não é a pessoa o valor a 
ser preservado, mas, sim, a dignidade que lhe é inerente, haja vista a existência de um desvalor, qual 
seja, a indignidade. 
Ora, a afirmação dos autores é justificada pelo fato de o DIDH não ter se inspirado no valor 
“pessoa”, mas, sim, no valor “dignidade da pessoa humana”, uma vez que, atendendo ao caráter 
bipolar dos valores, a dignidade se contrapõe ao desvalor manifestado na Segunda Guerra Mundial, 
qual seja, a “indignidade da pessoa humana”. 
Além disso, outras características fundamentam a asseveração dos autores, a saber: 
preferibilidade, que explica a escolha de um valor; e implicação, segundo a qual sempre há uma 
implicação recíproca entre os valores, mostrando, ainda, a relação entre valore liberdade, pois o 
exercício da liberdade permite escolher um valor preferido. 
 
 
 
 
 
Por fim, o homem é a fonte dos valores, pois é inerente à sua essência realizar valorações, 
julgamentos e críticas sobre aquilo que lhe é apresentado, o que é feito no exercício da sua liberdade, 
tal como ocorreu quando da escolha da dignidade como valor. 
Todo o exposto se presta a justificar a afirmativa dos autores.

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