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Kant e Hegel 1 Kant e HegEL Kant: é um dos filósofos que irá fundar a chamada filosofia moderna, ele é um jusnaturalista racionalista, pois, trabalha com a ideia de existência de um direito natural. Ele funda as bases da filosofia moderna, pois, constitui um sistema filosófico baseado na razão – seu pensamento tem começo, meio e fim. Kant é conhecido como filósofo de Konigsberg e segundo análises, a filosofia kantiana é um reflexo de quem era Kant – ele era extremamente metódico. A filosofia de Kant é formalista: ele procura dar formas e um dos principais conceitos da sua teoria é o imperativo categórico: conceito formal que serve para explicar aquilo que Kant entendia que deveria ser a razão. Aquilo que irá ser produzido a partir das obras de Kant fica conhecido como criticismo alemão: quando a filosofia na Alemanha se volta a construir uma crítica a correntes filosóficas existentes. Na crítica Kantiana aparecerão dois pontos relevantes 1- Dogmatismo de Wolf: Wolf constrói um sistema filosófico baseado na manutenção de dogmas – a filosofia nesse momento do séc XVIII estava toda se movimentando para superar as influencias da igreja. Wolf por sua vez, fará uma crítica à teologia, mas irá reafirmar a ideia do pensamento dogmático (verdades indiscutíveis) embora seu pensamento fosse racionalista. 2- Ceticismo de David Hume: Inglês extremamente importante e de grande representatividade. Kant chega a dizer que foi Hume que mobilizou ele para a filosofia. Hume trará uma afirmação de que a filosofia ela dá voltas, ou seja, a filosofia tende a fazer eternos retornos. Esse filósofo é cético, e não acredita na filosofia como um instrumento de mudança da sociedade. Kant ao contrário, acredita que a filosofia é essencial para o processo de superação da teologia e mudança social. Kant critica esse ceticismo de forma indireta, a partir do momento que ele forma um pensamento diferente do de Hume. “Império da Razão”: esse termo é utilizado, pois o pensamento de Kant apresenta muita centralidade na ideia de que o homem é dotado de razão e tudo o que ele desenvolve parte da premissa de que somos seres racionais. Em Kant não há nenhum resquício de conceitos teológicos. A nossa racionalidade é o que nos faz ter escolhas. Conseguimos perceber em Kant essa base da filosofia moderna, pois, ele também vai abandonar um conjunto de tradições filosóficas existentes até então. Ele se afasta da tradição grega e teológica. Dessa forma, para Kant nos somos dotados de uma razão pura prática: razão que antecede as nossas experiências. Na perspectiva kantiana, a moral humana deve ser pensada para sabermos se o ser humano é ou não honesto, por exemplo. ESSA RACIONALIDADE É PURA, POIS AINDA NÃO EXPERIMENTOU NADA DO MUNDO. Ex: estou em um ambiente, uma pessoa se levanta e o seu dinheiro cai no chão, obviamente eu pego e devolvo – isso seria ser honesto. Quando pegamos o retrato desse exemplo e pegamos a filosofia de Kant, para ele a moral do indivíduo será medida não pelo ato de pegar o dinheiro e devolver. Na verdade, a honestidade é medida naquilo que antecede a experiência, ou seja, que antecede a ação de devolver o dinheiro. Quando você pensa em devolver, você determina a sua moralidade. É a razão, que antecede a ação, que me torna ético, pois a devolução do dinheiro é uma simples consequência de uma moralidade que está determinada pela razão pura. “A moralidade está no foro íntimo, numa lei aprioristicamente definida, inerente à racionalidade humana universal”. Kant e Hegel 2 Kant e HegEL Imperativo categórico: todos nós devíamos, no nosso comportamento, ter uma espécie de lei própria que é o imperativo categórico, ou seja, ele é uma obrigação do indivíduo para com ele mesmo, pois, o modo como eu irei agir no mundo é uma decorrência prática daquilo que eu, com a minha racionalidade já determinei. Todavia, nem todos seguem esse imperativo categórico. Kant define o imperativo categórico como uma lei moral universal, ou seja, uma espécie de máxima que valeria para todos os indivíduos. Toda pessoa dotada de razão deveria assumir o imperativo categórico como sua lei moral interior. Com isso, Kant tinha a pretensão de garantir a igualdade dos seres racionais, pois, o que nos iguala enquanto ser humano é a nossa racionalidade que nos permite fazer ou não fazer algo. Todos têm o livre arbítrio em escolher viver ou não de acordo com o imperativo categórico. Kant trás a ideia de que não deveremos fazer com o outro aquilo que não queremos para nós mesmos. Kant ainda divide o imperativo entre: 1- Categórico: a razão pensada para ser, é o dever pelo dever, ou seja, o que vai ser consequência da minha ação já não é algo que define a minha moral (minha moral antecede a minha ação). Nós nos tornamos morais quando agimos em conformidade com o imperativo categórico. 2- Hipotético: eu dirijo a minha razão para buscar uma consequência, pois, existem mecanismos do uso da racionalidade que são necessariamente dirigidos a um fim, e a minha razão será apenas um meio para isso. Ex: eu estou fazendo um bolo – o bolo é um produto da minha razão -, porém, nesse contexto, a razão é apenas um meio de escolha entre: colocar dois ovos ou não, usar açúcar mascavo ou não (isso são meios para alcançar o produto final), diferentemente de quando eu faço uma escolha de mim para mim mesma. O imperativo categórico se desdobra em três interpretações. a) Age como se a máxima da sua ação devesse ser erigida em lei universal b) Age de forma que trate a humanidade, tanto na tua pessoa como na de outrem, sempre como um fim e não como um meio: Kant nos trás a ideia de que o homem não pode ser um meio para algo, ou seja, algo a ser manuseado e utilizado como um mecanismo para se alcançar algo. Essa fórmula nos trás a c) Centralidade da pessoa humana, pois o homem é o fim último da razão – ideia de Antropocentrismo. Além disso, essa fórmula será resgatada no contexto do pós-guerra, assim, há um resgate da noção de humanidade. d) Age como se a máxima da tua ação devesse servir de lei para todos os seres racionais. Kant ainda trás o conceito de boa vontade compreendida como uma vontade boa na sua essência. O que eu vou produzir de solidariedade é apenas consequência, pois, minha vontade é boa porque é. Se eu ajo de boa vontade, farei bem a alguém. A ideia de liberdade em Kant está ligada a noção de autonomia da vontade. Para ele, ser livre é escolher autonomamente aquilo que se faz. Se não for dessa forma, a liberdade não é racional. Para ele, no campo da moral o ser é livre quando ele é quem faz as suas escolhas – as escolhas são autônomas. Todavia, no campo do direito as escolhas são sempre heterônomas, ou seja, eu escolho porque existe uma norma que determina que eu tenha que fazer aquela escolha. Há uma força exterior que atua sobre os comportamentos. A sanção gera um receio da consequência da minha conduta, ex: se eu não parar no sinal vermelho levarei multa, portanto, é mais interessante pra eu parar no sinal do que sofrer a consequência. O direito exerce a ordem que torna possível coexistirmos em sociedade. Obs: nem sempre é possível distinguir se o comportamento é resultado de um mecanismo Kant e Hegel 3 Kant e HegEL autônomo ou heterônomo, como o próprio exemplo do sinal. O direito natural é tudo aquilo que é obrigatório independente da lei, pois, antecede a existência de uma norma. Esses direitos são imanentes à existência humana e nos obrigaram até mesmo antes da norma. Esses direitos são: liberdade, vida, igualdade, propriedade. A compreensão dos jusnaturalistas racionalistas é de que antes do direito positivo, isso já era o direito natural da pessoa humana. Dessa forma, o direito positivoserve para assegurar a coexistência desses direitos. O direito positivo na concepção kantiana é resultado da vontade do legislador, é expressão de um poder que se materializa na figura no legislador. Aqui, já vemos aparecer em Kant à ideia de existência de um poder legislativo. Kant fala da ideia desse poder positivo em assegurar a pacificidade do convívio, ou seja, assegurar a paz e o bem estar coletivo. - estamos falando de uma época em que os conflitos eram muito comuns. Por conseguinte, ele trás o papel do Estado que seria a realização dos direitos: Kant não é um positivista, mas quando ele faz essa afirmação, nos trás uma concepção mais próxima do estado moderno e daquilo que irá dialogar com o positivismo jurídico. Kant também trata do direito internacional. A paz era um tema da filosofia do direito e Kant trás a paz como algo que deveria servir como imperativo universal: tentativa de convivência pacífica entre sujeitos/indivíduos. Essa ideia de paz para ele dialoga muito com a ideia de paz no continente Europeu, pois, enquanto Kant está escrevendo isso, o momento que se vivia era esse. Ele fala também do cosmopolitismo: imperativo da razão para a ordem internacional, ou seja, cada estado deveria tomar como seu imperativo categórico, constituir uma convivência cosmopolita. Esse conceito é de interesse até mesmo na contemporaneidade, pois, nos trás a noção de convivência de sujeitos de realidades totalmente distintas. Ele fala do cosmopolitismo nesse contexto da Europa, pois, é um momento em que ela está transcendendo suas fronteiras ao colonizar povos e expandir rotas. O tratado já era um mecanismo jurídico que de materializava esse direito entre estados e países, contudo, não havia um direito voltado aos povos desses diferentes países. Habermas comenta Kant, ao expor que ainda não conseguimos conviver pacificamente com outras nações e culturas. Junto com Kant constitui a filosofia moderna. Hegel servirá de premissa filosófica para o pensamento de Marx e uma das suas principais obras será a “fenomenologia do Espírito” e essa obra é fruto das aulas que ele dava na universidade. Contexto Histórico: Quando Hegel escreve as suas obras, estamos falando de uma Alemanha ainda não unificada, nesse momento haviam cidades estados e o modelo político era totalmente ultrapassado. A filosofia foi um vetor para o desenvolvimento da Alemanha. O pensamento de Hegel passa da premissa da consciência da modernidade – transformação profunda que estava se estabelecendo naquele contexto da Europa. Como Hegel estará um pouco mais a frente, seu pensamento é todo firmado na ideia de que a modernidade chegou, ou seja, vivemos um novo tempo. Em virtude dessa consciência moderna, Hegel procura romper com toda a tradição filosófica que lhe antecede e que viria desde a antiguidade clássica: nesse momento a filosofia se estabelecia entre a separação do pensar e o existir. Para Hegel, isso faz parte do pensamento filosófico Kant e Hegel 4 Kant e HegEL desde a Grécia, e não é possível, que a gente se mantenha a essa mesma referencia filosófica. Hegel pretende com o seu pensamento, trazer uma leitura e uma visão da existência humana totalmente diferente de tudo que já havia tido. Para Hegel, não há uma separação entre pensamento e existência, entre sujeito e objeto. Ele vai sugerir que o objeto é uma consequência do sujeito e vice versa. Hegel não se entendia como um jusnaturalista e não trabalha o conceito de direito natural como algo plausível. Todavia, não se sabe onde encaixa-lo, pois ele também não é positivista. Não encontramos no pensamento dele, elementos típicos de um positivismo como a ideia de monismo jurídico. Ele propõe como consciência moderna, essa ruptura com a tradição da antiguidade clássica para uma unidade entre o pensar e o existir. A partir disso, se desenvolve o chamado racionalismo hegeliano que é dialético, portanto, o modo como Hegel nos propõe essa unidade entre pensamento e existência é porque ele entende que entre esses dois eixos há um movimento contínuo de troca. Dialética é = tese, antítese e síntese. A dialética é o movimento entre contrários onde à existência gera a síntese. Para Hegel, o conhecimento é processual, constituído ao longo desse movimento entre pensamento e existência. Essa unidade entre pensamento e existência, é traduzida pelo movimento entre consciência e experiência. Ele parte da ideia de que somos dotados de uma racionalidade que está permanentemente suscetível a transformações à medida que nós vamos experimentando o mundo. “Tudo que é real, é racional; tudo que é racional é real” = Tudo que existe é passível de ser racionalizado e de ser experimentado pela nossa consciência, e tudo que é racionalizado detém uma realidade e adquire uma materialidade mesmo podendo não existir concretamente. Ex: música é uma realidade, mas não tem existência concreta. Esse movimento entre consciência é experiência para Hegel pode chegar a pontos finitos para determinadas coisas. Esse movimento dialético nunca deixa de existir, mas, no processo de formação do conhecimento pode chegar o momento onde alcancemos a ideia essencial de cada coisa. Ele denomina isso de estudo dos espíritos: ao final desse movimento estaria o espírito que se traduz como ideia essencial. Ele distingue esses espíritos entre 1- Subjetivo: aquilo que pertence única e exclusivamente ao sujeito (alma, razão e consciência). 2- Objetivo: formas de expressão de liberdade que se traduzem no direito, na moral e nos costumes. 3- Absoluto: espíritos conscientes e conhecedores de si: arte – Hegel escreve sobre a ideia de belo e da estética -, religião e filosofia (formas de expressão de si mesmos). Hegel coloca o direito como expressão máxima da liberdade; a moral como liberdade do sujeito para com ele – quem desenha a nossa moral, somos nós; os costumes como uma liberdade social construída a partir da moral. Para ele, todos os três são formas da expressão de liberdade. O que produz o costume é a existência de um comportamento relativizado e repetitivo – o fato de geração para geração repetir um hábito. Hegel associa o comportamento individual com o coletivo. O direito para ele, o direito é a expressão máxima da liberdade, pois, cabe a ele limitar as liberdades, e ao fazer isso, ele garante a possibilidade de convivência em sociedade. O direito garante a liberdade de expressão, mas subentende que essa liberdade tem um limite que é a coexistência entre outras liberdades. Se a partir do meu exercício de liberdade de expressão eu atinjo a Kant e Hegel 5 Kant e HegEL liberdade ou a dignidade do outro, por exemplo, eu estou automaticamente limitado por esse direito: por isso ele é a expressão máxima da liberdade. Em Kant, vimos que a liberdade é formalista, a liberdade é igual à autonomia da vontade e esta significa agir ou não de acordo com o imperativo categórico – o sujeito moral é aquele que autonomamente opta por agir conforme o imperativo, dessa forma, ele está exercendo a liberdade. Para Hegel o direito garante a liberdade e ao mesmo tempo limita o exercício dessa liberdade – que é o exercício da vontade, para que não se caia na arbitrariedade. Aqui a liberdade numa perspectiva dialética – se constitui ao longo da história entre consciência e experiência. Hegel se coloca como um crítico tanto do historicismo como do jusnaturalismo – ele enxerga nessa corrente uma abstração muito grande, então, ele entende que a definição do direito natural é abstrata, e também dirige a crítica ao formalismo kantiano. Posteriormente, Hegel vai criticar o historicismo jurídico – linha teórica que sugere que o direito é fruto da convicção comum do povo. SE HEGEL DIZ QUEA DIALÉTICA É HISTÓRICA, COMO PODE ELE CRITICAR O HISTORICISMO? Ele critica o historicismo jurídico, pois, enxerga nele uma linha de pensamento que explica a história como algo contingencial – o historicismo busca definir o direito como convicção comum do povo a partir de fatos históricos. Ele critica não porque ele é contrário a história, mas porque o historicismo jurídico explica a história a partir de fatos pontuais, e Hegel vê o fato histórico a partir do seu movimento. Hegel ao tratar do direito e da justiça, ele dirá que estes são elementos racionalizados – uma razão concreta. A justiça não é dado axiológico, mas aquilo que norteia a formação do direito. – a justiça não pode ficar no campo da abstração, mas deve se objetivar na lei. A LEI É CONCREÇÃO DO DIREITO. Hegel ainda nos trás o conceito de ordem jurídica – algo necessário para o funcionamento do Estado que para concretizar os seus objetivos depende da existência de uma estrutura jurídica. Hegel esteve preocupado em pensar no Estado num plano internacional é o resultado da trajetória histórica de seu povo e de consciência e experiências da população. – é o resultado da dialética de vários indivíduos. O que faz o Estado ser ético é a capacidade de compatibilizar ordem e liberdade – liberdade tem que ser exercida sem que a ordem seja quebrada. O papel do Estado na política externa é manter a possibilidade de dialogar com diferentes nações e povos – esse diálogo deve ser mantido desde que não haja conflito dos interesses da nação com os interesses de outra nação. Na eventualidade dos interesses internos conflitarem com os interesses de outra nação, o Estado deve garantir os interesses da sua nação.
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