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Síndrome compartimental

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Síndrome Compartimental – prof Robson Otino 
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Síndrome compartimental 
A síndrome compartimental é uma complicação por aumento da 
pressão no interior de um espaço osteofascial fechado, que 
reduz a perfusão capilar até um nível inferior ao necessário para 
que seja mantida a viabilidade dos tecidos – é a falência da 
circulação intersticial por conflito de espaço. Um compartimento 
é um espaço bem delimitado, em que suas paredes são 
formadas por ossos e estruturas osteofasciais, fato que confere 
características relativamente inelásticas. Desse modo, pode-se 
ter comprometimento de vasos, músculos e terminações 
nervosas, com lesão tecidual no compartimento afetado. 
A incidência da síndrome compartimental é de 3,1 por 100.000 habitantes por ano, sendo mais frequente 
em homens e após traumas de alta energia, tendo como causa mais comum as fraturas de diáfise de tíbia, 
lesão de tecidos moles, fratura de rádio distal, esmagamentos e também queimaduras, uso de imobilizações 
e acidentes ofídicos. A etiologia do aumento da pressão pode ser explicada por expansão do conteúdo do 
compartimento (edema) ou pela redução da complacência do compartimento (pressão externa). 
Fisiopatologia: o aumento da pressão dentro do compartimento não pode ser dissipado, em decorrência 
das propriedades inelásticas. Desse modo, ocorre comprometimento do fluxo sanguíneo local e o endotélio 
não consegue se manter como uma membrana semipermeável a solutos, fato que gera extravasamento de 
fluidos para o compartimento, causando edema e aumentando ainda mais a pressão – capaz de causar 
isquemia muscular e lesão nervosa irreversível. 
Uma das teorias mais aceitas para explicar a redução do fluxo sanguíneo é a do gradiente de pressão 
arteriovenosa, em que o aumento da pressão no compartimento gera elevação da resistência vascular e 
redução do fluxo (FSL = PArterial – PVenosa/Resistência vascular). Além dessa, a teoria da oclusão 
microvascular explica que, a oclusão capilar promove um aumento da pressão no compartimento em valores 
próximos a 25mmHg (pressão normal nos tecidos), fato que levaria a uma redução do fluxo sanguíneo na 
síndrome compartimental. 
Quadro clínico: pode-se ter sintomas de 4 a 6h após a lesão ou mais tardios, depois de 2 a 4 dias. A dor é 
o primeiro sintoma, sendo de grande intensidade, desproporcional à lesão e com aumento após extensão 
passiva. As parestesias e hipoestesias podem ocorrer no trajeto dos nervos que passam no local da 
síndrome compartimental. A paralisia muscular é considerada um sinal tardio, essa que pode estar 
associada a palidez e ausência de pulso, sinais que caracterizam danos nervosos, vasculares e musculares. 
Diagnóstico: o diagnóstico precoce é a chave para um bom prognóstico, sendo que a demora pode levar a 
perdas sensitivas, motoras, contraturas, infecção e até amputação. Na avaliação deve-se levar em conta os 
4Ps – dor, parestesia, paralisia e palidez. O diagnóstico é clínico e ao exame físico observa-se aumento 
severo do volume, pele brilhante e edemaciada, diminuição da mobilidade, cianose distal e pulsos distais 
presentes (podem estar diminuídos). 
Pode ser feita a mensuração compartimental, essa que é normal de 0 a 8 mmHg, sendo zona crítica de 20 
a 30 mmHg e indicação de fasciotomia a partir de 30 mmHg. No diagnóstico diferencial deve-se pensar em 
aprisionamento da artéria poplítea, miosites, tendinites, fraturas, claudicação intermitente e neuropatias. 
Laboratorialmente pode-se ter aumento de CPK num valor de 1000-5000 U/mL, além de mioglobinúria. 
Tratamento: a fasciotomia é o único tratamento efetivo para síndrome compartimental, tendo algumas 
medidas auxiliares como retirada de talas, gessos ou enfaixamentos apertados, elevação do membro ao 
nível cardíaco, controle da hipotensão e otimização da saturação de oxigênio. A fasciotomia consiste na 
descompressão completa e adequada do compartimento, sendo uma emergência cirúrgica, já que após 2h 
de perfusão inadequada inicia-se o processo de necrose tecidual, esse que se torna extenso e irreversível 
após acerca de 6 a 8h. 
A fasciotomia da perna deve ser feita pela descompressão dos 4 compartimentos: anterior, lateral, posterior 
superficial e posterior profundo – um corte anterolateral e outro posteromedial. Na coxa tem-se 3 
compartimentos: anterior, posterior e medial, devendo realizar duas incisões (lateral e medial). No pé tem-
se 9 compartimentos, fazendo liberação com duas incisões dorsais. No braço tem-se dois compartimentos: 
anterior e posterior, devendo realizar duas incisões. No antebraço também se tem dois compartimentos, 
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devendo realizar uma incisão ventral e uma dorsal. Na mão tem-se 10 compartimentos, exigindo no mínimo 
quatro incisões (tenar, hipotenar e dorsais). As feridas devem ser mantidas abertas por 48h ou até ter certeza 
da viabilidade tecidual, podendo ser fechadas por fechamento primário retardado, se possível, sem tensão 
nas bordas da pele. 
Complicações: demora de mais de 6h para fasciotomia podem causar 
sequelas como contraturas, fraquezas, perda de sensibilidade, 
infecções e pseudoartrose. Como exemplo tem-se a contratura de 
Volkman com perda completa da musculatura afetada com substituição 
por tecido cicatricial, o que gera deformidade distal. Para prevenção 
das complicações pode-se adotar uma posição neutra do membro para 
manter a perfusão adequada. Além disso, o manitol pode ser usado 
para reduzir a pressão do compartimento e diminuir o prejuízo da 
reperfusão.

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