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Patologia DEGENERAÇÃO POR LIPÍDEOS - LIPIDOSES ➢ Conceito: acúmulo anormal e reversível de lipídeos (colesterol e ésteres de colesterol). ARTERIOSCLEROSE: - Termo genérico que se refere ao endurecimento das artérias. Dentro desse termo genérico existem as seguintes classificações: ➢ Arteriolosclerose: - Ocorre nas arteríolas; - Arteriolosclerose hialina Deposição de lipoproteína na região subendotelial do vaso Associado ao diabetes (compromete a permeabilidade da membrana basal) e hipertensão arterial com níveis tensionais mais benignos. - Arteriolosclerose hiperplásica hiperplasia muscular que se deposita de forma concêntrica em direção à luz do vaso - “Aspecto de cebola”. Associado à HAS com altos níveis tensionais (240/120 mmHg). ➢ Mediosclerose / esclerose de Monckeberg: Ocorre nas artérias de médio calibre; Calcificação da túnica média, do tipo distrófica - não compromete a luz do vaso, está associada ao envelhecimento (não acarreta tanto problema como a metastática) Provoca o enrijecimento dos vasos. ➢ Hiperplasia miointimal reacional: Proliferação de células musculares e deposição de matriz extracelular na túnica íntima, principalmente em vasos de médio calibre. Principal causa: artrite cicatrizada arteriopatia associada ao transplante. ➢ Aterosclerose: Ocorre nas artérias de médio e grande calibre; lesão na túnica íntima. ATEROSCLEROSE ➢ Conceito - doença de artérias de grande e médio calibre caracterizada por alterações representada pela presença de lesão endotelial, junto ao acúmulo, na camada íntima, de lipídeos (colesterol, ésteres de colesterol, fosfolipídios e glicerídeos), carboidratos complexos, componentes do sangue (macrófagos, linfócitos e plaquetas), células e material extra celular. Histologia da artéria de médio calibre: 1- Túnica íntima 2- Lâmina elástica interna 3- Túnica média 4- Lâmina elástica externa 5- Túnica adventícia 6- Vaso vasorum Caroline Vasconcelos Histologia da artéria de grande calibre: - A túnica adventícia é menos significante. - A túnica média é maior, pois possui mais musculatura lisa devido à alta pressão sanguínea que ocorre nesses vasos. Fórmula de Hagen Poiseuille: - Avaliar a distribuição e oferta de um fluido. ΔP = diferença de pressão entre a artéria e a veia. R = raio L = comprimento N= viscosidade π = constante Áreas de bifurcação apresentam fluxo turbilhonar (alteração da hemodinâmica), o que predispõe à formação das placas. Principais sedes para as lesões: - Doenças Cardiovasculares: coronárias; - Doenças Cerebrovasculares: carótida, artéria cerebral anterior e média, artérias vertebrais e basilares; - Doenças Vasculares Periféricas: artéria ilíaca, femoral e poplítea; - Aorta abdominal (principalmente o segmento infra-renal) Nas áreas de tensão, provocadas pela bifurcação, gera-se pontos de baixa pressão e de alta pressão e, esses pontos são potenciais para a formação de lesões. O ponto de alta pressão gera o cisalhamento, modificando o endotélio, possibilitando que ele se torne mais ativo e expresse mais receptores que se ligam a células inflamatórias. O ponto de baixa pressão possibilita mais tempo de contato com os elementos que geram as placas. • FATORES DE RISCO ASSOCIADOS À ATEROSCLEROSE ➢ DISLIPDEMIA - Alteração na qualidade e na quantidade dos lipídios no organismo. - Pode ser primária (genéticas) ou secundária (adquiridas). * Primária: geralmente está associada à hipercolesterolemia familiar. * Secundária: causada por comorbidades (hipotireoidismo, obesidade central, sedentarismo, diabetes, doenças renais crônicas, etilismo) ou hábitos nutricionais. - A diabetes e obesidade está associada à hipertriacilgliceridemia e à diminuição dos níveis de HDL-c. - O hipotireoidismo aumenta a captação de colesterol no intestino, pela maior expressão de proteínas transportadoras de colesterol. Menor atividade da lipase lipoproteica, aumentando a quantidade de TAG que vai ser destinada para o fígado. No hepatócito, o receptor de LDL estará menos expresso, diminuindo sua remoção, o que ocasiona uma hipertriacilgliceridemia. - O etilismo proporciona uma maior síntese de ácidos graxos, maior liberação de VLDL (mas também acumula), diminuição do HDL. - A doença renal crônica ocasiona uma maior expressão da proteína Apo C3, contra regulando a Apo C2 (que é a proteína cofatora que ativa a lipase lipoproteica). A diminuição da Apo C2, diminui a ativação da lipase, favorecendo a elevação de colesterol na corrente sanguínea. - Colestase é a retenção de bile, que vai gerar uma retenção de sais biliares e colesterol. Comum em quadros de obstrução dos ductos da vesícula biliar, como coledocolitíase e colelitíase. ➢ DIABETES No caso da diabetes, tem-se a hipertriacilgliceridemia (aumento da quantidade de TAG – é um tipo de dislipidemia). - O VLDL vai ter maiores níveis de TAG em sua composição, e quando for doar esse TAG para o HDL, vai doar grande quantidade. Como consequência da maior quantidade de TAG no HDL, tem-se a diminuição da sua função e o aumento da remoção hepática (clearance hepática) de HDL. Além disso, o VLDL vai formar o IDL que pela ação da lipase hepática forma o LDL. Entretanto, o IDL formado vai possuir maior teor de TAG e isso vai provocar a maior atividade da lipase, retirando muito TAG. Assim, o LDL formado é pequeno e denso (tem menor quantidade de TAG). Esse LDL pequeno e denso tem maior poder de penetração entre as células endoteliais, se tornando mais aterogênico (imunogênico). Além disso, esse LDL é menos reconhecido pelo fígado e fica mais tempo na corrente sanguínea. - Com a diabetes ocorre também o aumento do LDL glicado, que é menos reconhecimento pelo fígado, ocasionando o maior acúmulo na corrente sanguínea. - Quando o LDL entra na túnica íntima, o ambiente de menor oxigenação favorece a sua oxidação (LDLox- modificação química do LDL tornando-o mais aterogênico). Caroline Vasconcelos ➢ HOMOCISTEÍNA - A hiper-homocisteinemia pode ser genética ou adquirida. - A homocisteína provoca a lipoperoxidação de membranas, favorece a oxidação do LDL (LDLox – mais aterogênica), e aumenta o recrutamento de células musculares para a túnica íntima (aterosclerose). GENÉTICA: Homocistinúria é erro inato em que há deficiência da enzima cistationina beta-sintetase (CbS – favorece a eliminação de homocisteína na urina) ou da enzima metioniona-tetra-hidro-folato- redutase (favorece a remetilação da homocisteína em metionina), e como consequência aumentam os níveis séricos. ADQUIRIDA: Deficiência alimentar de vitaminas do complemento B (B9-folato), que são cofatores de ativação das enzimas. Sem a ativação das enzimas a homocisteína vai se acumular. Fatores de risco associados à aterosclerose constitucionais (não modificáveis): ➢ GENÉTICA - Hipercolesterolemia familiar. - Geneticamente, pode ocorrer alteração na quantidade e/ou qualidade do receptor de LDL, dificultando o reconhecimento e a endocitose do LDL ou a fusão do receptor. ➢ SEXO - Homens têm maior taxa de doenças cardiovasculares que as mulheres, até a menopausa (o estrógeno tem atividade protetora). - Mulheres pós menopausa, devido à queda na produção de estrógeno, possuem menor atividade da lipase lipoproteica. - Com a menor atividade dessa enzima ocorre o acumulo de triglicerídeos. - Além disso, ocorre a diminuição da produção de ácidos biliares -> aumento do colesterol. - Por fim, mulheres em menopausa, possuem menor reconhecimento hepático (menor expressão de ApoB e ApoE), o que provoca a diminuição da remoção do LDL pelo fígado (aumento do LDL sanguíneo). ➢ IDADE - Quanto mais anos de vida, maiora chance de desenvolver placas ateromatosas (acumulo ao longo do tempo). ➢ ETNIA - Afrodescendentes têm menores valores de triacilglicerol e maiores níveis de HDL, mas em contrapartida possui maiores níveis de pressão arterial que os caucasianos (tendem a ter mais hipertensão, que pode favorecer a aterosclerose). Fatores de risco associados à aterosclerose adquiridos (modificáveis): ➢ TABAGISMO - Causa a menor expressão da enzima óxido nítrico sintase endotelial -> menor produção de NO. - A menor produção de NO provoca a maior vasoconstrição e maior adesão plaquetária, potencializando o processo inflamatório. - Provoca a diminui da produção de glutationas (ação antioxidante), que permite a presença de EROS (espécie reativa de oxigênio), tornado o ambiente mais oxidativo -> possibilita a maior oxidação do LDL (LDLox é mais aterogênico) - Além disso, o tabagismo também provoca a destruição direta das células endoteliais. ➢ HIPERTENSÃO ARTERIAL SISTÊMICA - A força de cisalhamento (força tangencial) gera a modificação do fenótipo celular do vaso e gera uma lesão direta à célula endotelial devido à raspagem. • HISTOLOGIA DA TÚNICA ÍNTIMA - Classificação do endotélio presente na túnica íntima: Tecido epitelial de revestimento simples pavimentoso. A função desse epitélio é revestir e proteger (não está associado a absorção de substâncias), mas como consequência da aterosclerose, essa célula começa a ficar mais globosa, sendo mais permissiva à passagem de elementos presentes no sangue (inclusive LDL) pela a túnica íntima, o que gera um processo inflamatório. Os LDL modificados possuem maior poder de penetração entre as células da túnica. Caroline Vasconcelos O LDLox e outras versões modificadas são reconhecidas pelos receptores de remoção/limpeza dos macrófagos Kvengers, proporcionando uma inflamação pela secreção de citocinas pró- inflamatória e quimiocinas, que atraem leucócitos e outros macrófagos. Ocorre também o recrutando fibroblastos e células musculares lisas e produzindo leucotrienos, proteases e elastases. Resumindo: O acúmulo de lipídeos na parede arterial, junto à disfunção endotelial (causada por diversas comorbidades), provocam a penetração de macrófagos que vão fagocitar o LDL. Isso vai gerar a Lesão do tipo I e posteriormente a lesão do tipo II (estria lipídica). Nesse ambiente da placa, tem-se a liberação de citocinas, quimiocinas, recrutamento de fibroblastos e etc. Na imagem percebemos a presença do LDLox, que no endotélio vai ser reconhecido por macrófagos, que possuem o aspecto espumoso (ou xantomizado), que quando repletos de LDLox vão liberar citocinas pro-inflamatórias, quimiocinas, espécies reativas e etc., gerando o desenvolvimento do processo. CONCLUINDO Pode-se concluir então, que a aterosclerose é uma resposta inflamatória crônica, pois há a presença de macrófagos e linfócitos, ocorre a deposição de matriz extracelular e ocorre, também, necrose do tecido, como demonstra a imagem a seguir. • TIPOS DE LESÕES DA ATEROSCLEROSE ➢ LESÃO TIPO I - Visão apenas microscópica. - Observa-se a presença de macrófagos espumosos /xantomizados/ foam cells na túnica íntima. - Lesão reversível. - Pode se iniciar aos 8 anos de idade. ➢ LESÃO TIPO II - Alteração macroscópica: presença de estrias gordurosas, alongadas, dispostas ao longo do eixo do vaso (principalmente de vasos próximo a óstios vasculares). Caroline Vasconcelos - Essas estrias são não coalescentes (uma lesão não se une à outra) – individualizadas. Alteração microscópica: presença de macrófagos espumosos e lipídeos extracelulares. Lesão reversível (pode regredir, estabilizar ou progredir), com a mudança na alimentação e com o aumento dos níveis de HDL. ➢ LESÃO TIPO III - Placa pré-ateromatosa; - Lesão em centímetros, mais extensa que a do tipo II. - Lesão intermediária; - Irreversível. ➢ LESÃO TIPO IV - Placa ateromatosa (placa verdadeira). - Alterações microscopicamente: há a presença de macrófagos espumosos, linfócitos, deposição de tecido conjuntivo (matriz extracelular). - Alteração macroscópica: lesão excêntrica na luz do vaso, (não circunscrita - ocupa um segmento do vaso e não a circunferência completa), amarelada, de consistência friável, coalescente. - Presença de vasos neoformados e núcleos lipídicos com cristais de colesterol (formato de fendas - aspecto de vidro quebrado). ➢ LESÃO TIPO V - Placa fibroateromatosa: possui maior proporção de tecido conjuntivo. - Menos inflamada pois possui menos núcleos lipídicos (o lipídeo - LDL modificado- é imunogênico), e com isso mais estável. - Irreversível. ➢ LESÃO TIPO VI - Placa complicada. - Gera trombo, erosão, formação de embolo (ateroembolia), IAM, aneurisma, hemorragia intraplaca. - Pode evoluir a partir da lesão tipo IV ou tipo V. - Irreversível. COMPLICAÇÕES DA LESÃO: 1) Trombo: solidificação do sangue no interior do sistema cardiovascular no indivíduo vivo. É um agregado fibrino- plaquetário que gera um tampão na área de lesão ou de disfunção endotelial. Pode ocorrer uma tromboembolia pela ruptura de uma parte da placa; - Erosão: pode gerar um trombo; 2) Êmbolo: presença de substâncias no sangue que não fazem parte de seus constituintes normais. Pode ocorrer uma ateroembolia pela ruptura de uma parte da placa; 3) Aneurisma: dilatação permanente da parede vascular, que fica mais frágil, aumentando em 50% do seu volume original, podendo causar rompimento. A área de ombro é mais suscetível ao rompimento, pois é mais inflamada; 4) Hemorragia intraplaca: uma hemorragia dentro da placa que pode gerar rompimento, erosão, formação de trombos; 5) Isquemia (consequência do trombo ou da hemorragia): diminuição ou falta de suprimento sanguíneo para um órgão ou tecido; 6) Estenose: diminuição da luz do vaso. Dependendo do grau, pode haver isquemia absoluta persistente; 7) Calcificação: distrófica. Na imagem acima percebe-se a presença de estrias lipídicas (traçados amarelos). Nessa imagem tem-se uma lesão mais desenvolvida, com áreas de erosão que provavelmente geraram trombos. Imagem de macrófagos xantomizados com a presença de LDL modificado. Caroline Vasconcelos Percebe-se a grande extensão da túnica íntima e a presença de tecido conjuntivo (marcado na estrela). Presença de células inflamatórias (estrela branca). Placa complicada com a presença de trombo. 1- Núcleo necrótico, trombo e capa fibrosa rompida 2- Também possui área de necrose e de hemorragia, e grande obstrução da luz, mas não é uma lesão complicada. 3- Deposição de tecido conjuntivo e placa mais estável, mas como a luz está muito menor, vai provocar um caso de isquemia. - Núcleo lipídico (parte amarelada) e capa fibrosa. Caroline Vasconcelos
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