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AULA NÚMERO 12 – JEAN PAUL SARTRE Em síntese, o homem possui a capacidade de transcender os fatos, tendo em vista que a sua existência precede a essência. Por exemplo, um indivíduo ao nascer no Brasil não possui condições de alterar essa determinação, contudo, poderá decidir se permanecerá vivendo aqui ou não, poderá escolher sua profissão, poderá optar por tais estilos musicais...; Um lápis (uma coisa), por exemplo, ao surgir, já apresenta a finalidade pré-determinada de servir como ferramenta para a escrita humana; Contexto histórico: Jean- Paul Sartre (1905-1980) escreveu O ser e o nada, sua principal obra filosófica em 1943; Sua produção intelectual foi fortemente marcada pela Segunda Guerra Mundial e pela ocupação nazista da França. Daí questões como: liberdade e engajamento estão presente em suas obras; Engajamento significa a necessidade do pensador estar voltado para a análise da situação concreta em que vive, tornando-se solidário nos acontecimentos sociais e políticos de seu tempo; A título exemplificativo, esse engajamento encontra-se evidente em situações corriqueiras do nosso dia-dia como no ficar triste pela tristeza do outro, comemorar a felicidade alheia, etc; Essência e existência: A existência precede a essência. Essa é a frase fundamental do existencialismo sartriano voltada para a análise do ser humano. Entretanto, analisando as coisas, para essas, a essência precede a existência; A essência é o que faz com que uma coisa seja o que é, se não outra coisa. Por exemplo, a essência de uma mesa é o ser mesmo da mesa, aquilo que faz com aquela seja mesa e não cadeira – a sua finalidade. Não interessa, nessa análise, características secundárias como tamanho, cor, rigidez, etc. Esses objetos seriam, portanto, ser-em-si; A tese de que a essência precede a existência dialoga com uma perspectiva determinista; Natureza humana: Da mesma forma, quando uma pessoa que crê em Deus, supõe que ele seja o artífice superior que criou segundo um modelo, tal qual o artesão faz qualquer objeto; Dessa concepção de Deus como criador do destino humano deriva a noção de que o homem teria uma natureza humana, encontrada igualmente em todos os homens. Portanto, segundo essa concepção, a essência do homem precede a existência – visão totalmente refutada pelo filósofo Jean Paul Sartre; De acordo com o pensamento sartriano, o homem, diferentemente das coisas, é detentor da liberdade de escolher aquilo que será. Nesse sentido, o homem, na visão sartriana seria um ser- para-si; OBS: Apesar de abrir margem para a observação de uma relação com o pensamento de Nietzsche, Sartre não realiza uma crítica direta à moral religiosa mas foca, sobretudo, na questão da perda da liberdade do homem quando este se submete a tais valores. Liberdade e angústia: A diferença entre o homem e as coisas, conforme já citada anteriormente encontra-se na liberdade inerente ao primeiro. O homem nada mais é do que o seu projeto; A palavra projeto significa, etimologicamente, “ser lançado adiante”, assim como o sufixo “ex” da palavra existir significa “fora”; Nesse sentido, sendo consciente, só o homem existe uma vez que é um ser-pra-si. A consciência seria auto-reflexiva pois assim o homem pensa sobre si mesmo e é capaz de sair de si; Condenado a ser livre: O homem sartriano descobre que, não havendo essência ou modelo para lhe orientar o caminho, seu futuro se encontra disponível e aberto, estando, portanto, irremediavelmente “condenado a ser livre”; O homem, sendo livre, é o único responsável por tudo aquilo que escolhe e faz. A liberdade somente possui significado na ação, na capacidade do homem de operar modificações no real; A má-fé: De acordo com Sartre, o homem, ao experimentar a liberdade e ao sentir-se como um vazio, vive a angústia da escolha. Muitas pessoas não suportam essa angústia, fogem dela, aninhando-se na má-fé; A má-fé seria a transferência da responsabilidade do sujeito livre para terceiros. A má-fé é a atitude característica do homem que finge escolher, sem na verdade escolher; Por exemplo, um aluno que tirou uma nota baixa em determinada avaliação e não assume os seus erros cometidos durante o período de estudo, transfere a culpa para o professor ou para uma divindade. Esses indivíduos, portanto, apresentam uma certa dificuldade de assumir a culpa e reconhecer os seus próprios erros; O indivíduo quando age em má-fé, para Sartre, dissimula para si mesmo com o objetivo de evitar fazer uma escolha da qual possa se responsabilizar; O que recusa a si mesmo aquilo que o fundamentalmente caracteriza como homem, ou seja, a liberdade, recusa dimensão do para-si e torna-se em-si; A título exemplificativo, Sartre ilustra no caso do ser de garçom de café – o garçom acredita ser garçom como uma coisa garçom, representa para ele, negando sua possibilidade transcendência e afirmando como pura facticidade; Outro exemplo seria o da mulher, que estando com um homem, deixa-se seduzir por ele, dissimulando para si mesma, desde o início, o caráter sexual do encontro; Responsabilidade: Escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para nós sem que o seja para todos; Assim, a nossa responsabilidade é muito maior do que poderíamos supor, porque ela envolve toda a humanidade; O absurdo: Sartre também discute a questão da morte. Ele retira qualquer sentido da existência. A morte é a nadificação dos nossos projetos, ou seja, a certeza de que um nada total nos espera – infere-se uma relação com o pensamento heideggeriano; Por isso, Sartre conclui pelo absurdo da morte e, simultaneamente da vida, que é uma “paixão inútil”, pois se nós temos de morrer, a nossa vida não tem sentido porque os seus problemas não recebem qualquer solução e porque até a significação dos problemas permanece indeterminada; O conceito de náusea, usado no romance de mesmo nome, refere-se justamente ao sentimento experimentado diante do real, quando se toma consciência de que ele é desprovido de razão de ser, absurdo; Sartre oferece com o personagem Roquentin, contido na sua obra Náusea, uma imagem da situação humana em geral, de como o homem vive sem saber qual a razão da sua existência; O que Sartre quer expor com a náusea consiste na concepção de que o homem, constantemente, encontra-se abdicando de sua liberdade, por ter medo de escolher e de assumir a responsabilidade proveniente das consequências de suas escolhas. Assim, constantemente, o homem se transforma em coisa, sendo essa transformação simbolizada na sensação de uma náusea;
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