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Julia Paris Malaco – ambulatório infectologia Ambulatório – Arboviroses Arboviroses são as doenças causadas pelos chamados arbovírus, que incluem o vírus da dengue, Zika vírus, febre chikungunya e febre amarela. A classificação "arbovírus" engloba todos aqueles transmitidos por artrópodes, ou seja, insetos e aracnídeos (como aranhas e carrapatos). Dengue A dengue é doença infecciosa causada por qualquer um dos vírus dengue transmitidos a indivíduos suscetíveis por meio da picada de fêmeas infectadas de mosquitos do gênero Aedes. Para completar o ciclo de transmissão da doença, a fêmea do mosquito deve ingerir o vírus encontrado no sangue de um paciente durante a fase aguda, e o vírus deve ser capaz de se replicar no organismo do mosquito e migrar para as glândulas salivares, para então ser inoculado em indivíduo suscetível e nele induzir a doença. Os vírus dengue (DENV) são transmitidos por mosquitos do gênero Aedes (principalmente o Aedes aegypti e o Aedes albopictus), sorologicamente classificados em quatro sorotipos: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Os DENV pertencem à família Flaviviridae e ao gênero Flavivirus. Assim, a maioria dos membros desse gênero são arbovírus (arthropod-borne virus), vírus que necessitam de artrópodes hematófagos para completar o seu ciclo biológico de transmissão. Os vírus pertencentes à família Flaviviridae são compostos por uma bicamada lipídica derivada da membrana do retículo endoplasmático da célula hospedeira. A superfície da partícula viral contém duas proteínas: A glicoproteína E – em geral glicosilada, representa o principal determinante antigênico do vírus e é responsável pela ligação e fusão à membrana plasmática da célula durante a infecção viral A proteína M – não glicosilada, é fragmento proteolítico constituído a partir de uma proteína precursora (prM) durante a maturação das progênies virais. Internamente, é constituído pelo nucleocapsídeo de simetria icosaédrica, composto pelas proteínas do core (C) que envolvem o genoma viral. Epidemiologia Doença viral sistêmica, ocorre em áreas tropicais e subtropicais em mais de 125 países (é a doença viral transmitida por mosquitos de mais rápida disseminação no globo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde – OMS). O principal vetor responsável pela transmissão viral são mosquitos do gênero Aedes, encontrados em ambientes urbanos e peridomiciliares. Até o momento, o Aedes aegypti é o principal transmissor do vírus dengue nas Américas – embora introduzido nas Américas, o Aedes albopictus, por motivos desconhecidos, mantém sua importância epidemiológica como transmissor da dengue restrita ao continente asiático. O padrão epidemiológico da doença no Brasil está relacionado à interação de fatores relacionados à dinâmica da população viral (distribuição, dispersão, densidade vetorial), da suscetibilidade individual ou coletiva dos hospedeiros (imunidade, fatores como etnia, estado nutricional, doenças preexistentes) e das cepas virais circulantes (sorotipo, virulência, diferenças genéticas). No entanto, os padrões das epidemias podem se repetir com a introdução de novo sorotipo viral em populações suscetíveis e com altas densidade do vetor Aedes aegypti. Ciclo viral 1. O vírus da dengue entra no organismo do hospedeiro. 2. Ocorre a ligação da proteína E aos receptores de superfície celular, e então a partícula viral é internalizada em um compartimento endossomal. 3. Ocorre a fusão das membranas endossomal e viral, possibilitando a penetração do nucleocapsídeo no citoplasma da célula hospedeira e o desnudamento do genoma viral. 4. O RNA viral exerce papel de RNAm, sendo traduzido em proteínas virais, produzindo uma longa poliproteína, que é clivada em três proteínas estruturais e sete proteínas não estruturais. 5. Após a tradução, começa a replicação do RNA viral de polaridade positiva, que envolve a síntese de fita de RNA negativa intermediária, a qual serve de molde para a síntese de novas fitas de RNA genômico de polaridade positiva. Julia Paris Malaco – ambulatório infectologia 6. O genoma viral é envolto por proteínas virais para compor a partícula viral. A montagem das partículas virais ocorre em associação com o RER da célula hospedeira. O envelope viral amadurece no complexo de Golgi e é liberado da célula hospedeira por exocitose. Transmissão A transmissão se faz pela picada do Aedes aegypti, no ciclo homem - Aedes aegypti - homem. Após um repasto de sangue infectado, o mosquito fica apto a transmitir o vírus, depois de 8 a 12 dias de incubação. A transmissão mecânica também é possível, quando o repasto é interrompido e o mosquito, imediatamente, se alimenta num hospedeiro suscetível próximo. Não há transmissão por contato direto de um doente ou de suas secreções com uma pessoa sadia, nem de fontes de água ou alimento. Período de incubação: Varia de 3 a 15 dias, sendo, em média, de 5 a 6 dias A transmissão ocorre enquanto houver presença de vírus no sangue do homem (período de viremia). Este período começa um dia antes do aparecimento da febre e vai até o 6º dia da doença. Patogênese Após a inoculação do vírus da dengue através da picada do mosquito, este faz a sua primeira replicação em linfonodos locais e outras células. Produz-se viremia e dissemina-se o vírus por todo organismo. Com a repetição da infecção por outros sorotipos aumenta o risco de formas mais graves da doença (dengue hemorrágica e síndrome do choque da dengue). Depois de inoculado, o vírus entra nas células humanas e estimula monócitos e linfócitos a produzirem citocinas, como TNF-alfa e IL-6. Essas citocinas terão efeito pró-inflamatório e serão responsáveis pelo aparecimento da febre. Outras estimulam a produção de anticorpos, que se ligam aos antígenos virais formando imunocomplexos. Os anticorpos IgM anti dengue começam a ser produzidos a partir do quinto e sexto dia. Eles são capazes de neutralizar o vírus de forma que seu aparecimento marque o declínio da viremia. Quadro clinico Dengue clássica: Início abrupto Temperaturas de 39 a 40°C Cefaleia intensa Dor retro-ocular Mialgias, artralgias Manifestações gastrintestinais, como vômito e anorexia. Pode surgir exantema intenso no terceiro ou quarto dia de doença, no qual se salientam pequenas áreas de pele sã (para alguns autores, “ilhas brancas em um mar vermelho”). O aparecimento do exantema é geralmente acompanhado de prurido. Quanto ao exame hematológico, observa-se leucopenia com neutropenia após o segundo dia de doença. O número de plaquetas é normal ou, em alguns casos, diminuído. Há elevação discreta nos teores séricos de aminotransferases. Nas crianças, a dengue pode ser assintomática ou se manifestar como febre indiferenciada, comumente acompanhada de exantema maculopapular. Febre e outros sintomas persistem por 48 a 96 h, seguidos por defervescência rápida com sudorese profusa. Os pacientes, então, sentem-se bem por cerca de 24 h, após as quais normalmente a febre ressurge (padrão bifásico), geralmente com uma temperatura mais baixa que a da primeira vez. Ao mesmo tempo, um exantema maculopapular esbranquiçado se dissemina a partir do tronco para os membros e a face. Os sinais de alerta/alarme mais frequentemente observados na dengue são: Dor abdominal, vômitos persistentes Evidência clínica de acúmulo de fluidos Letargia/irritabilidade, Sangramento de mucosas, Hepatomegalia maior do que 2 cm e aumento do hematócrito associado a trombocitopenia. Febre Hemorrágica da Dengue (FHD): Início abrupto Febre alta Náuseas e vômitos Mialgias e artralgias. Por voltado quarto ou quinto dia, aparecem petéquias na face, véu palatino, axilas e extremidades. O quadro pode evoluir para o aparecimento de púrpuras e grandes equimoses na pele, epistaxes, gengivorragias, metrorragias e hemorragias digestivas moderadas. Ao exame físico, observa-se fígado palpável e doloroso, e em alguns casos, esplenomegalia. Julia Paris Malaco – ambulatório infectologia Hepatomegalia, hematêmese e dor abdominal indicam mau prognóstico, com provável evolução para choque. A SCD costuma surgir entre o quinto e o sétimo dia de doença, quando a plaquetopenia também tende a ser mais acentuada, mantendo-se este estado crítico por 12 a 24 h. Os pacientes se mostram agitados e em alguns casos referem dor abdominal. Posteriormente, tornam-se letárgicos, afebris e com sinais de insuficiência circulatória: pele fria e pegajosa, cianose perioral, pulso rápido e sudorese fria. A pressão arterial se mostra convergente, baixa ou imensurável. Instalam-se acidose metabólica e coagulação intravascular disseminada (CIVD). Mecanismo dos sintomas Febre, adinamia e prostração: relaciona-se à presença, em níveis elevados, de citocinas séricas, como TNF, IL-6 e IFN. Mialgia: multiplicação viral no próprio tecido muscular, inclusive o oculomotor, produzindo cefaléia/dor retrorbitária. Fenômenos hemorrágicos: a resposta imune envolve leucócitos, citocinas e imunocomplexos, causando aumento da permeabilidade por má função vascular plaquetária, resultando em queda da PA e manifestações hemorrágicas, associadas à trombocitopenia e disfunção plaquetária. Desidratação: ocorre devido ao extravasamento vascular de líquidos, secundário ao aumento da permeabilidade vascular em decorrência do processo inflamatório. Petéquias: processo inflamatório causa lesão endotelial resultando em fragilidade capilar, aumentando a ocorrência de petéquias. Exantema: liberação de histamina pelos basófilos, estimulada pela IL-8. Diagnostico Os parâmetros clínicos da FHD são doença febril com sintomas característicos da dengue e duração de aproximadamente 1 semana, e manifestações hemorrágicas, sejam elas provocadas, como no caso da prova do laço, ou espontâneas, como as petéquias, equimoses ou hemorragias de grande monta. Como critério laboratorial de FHD/SCD utilizam-se dois importantes parâmetros: Hematócrito deve estar 20% ou mais acima do nível habitual do paciente ou diminuir em 20% ou mais após hidratação vigorosa, plaquetopenia (observada em 70 a 80% dos casos) deve apresentar níveis abaixo de 100.000/mm3. Outras alterações laboratoriais incluem hipoproteinemia, elevação dos níveis séricos de transaminases e ureia, hiponatremia e redução da fração C3 do complemento. Nos casos com CIVD, reduzem-se os fatores V, VII, IX e X, prolongam-se os tempos de protrombina e tromboplastina parcial, e elevam-se os produtos de degradação da fibrina. Diagnóstico virológico Deve-se realizar o diagnóstico virológico da dengue na fase aguda das infecções, enquanto ocorre viremia, embora a RT-PCR possa ser usada até o início da fase de convalescença. O período virêmico costuma durar até o sexto dia após. Diagnóstico sorológico Os métodos sorológicos indiretos se baseiam na pesquisa de anticorpos específicos contra o vírus dengue infectante. Os testes mais utilizados são os imunoenzimáticos, principalmente o de captura de IgM (MAC-ELISA). Deve-se considerar o fato de que essa técnica permite o diagnóstico da dengue apenas na fase de convalescença, pois esses testes devem ser realizados após o sexto dia de doença, para assegurar a certeza do resultado. Tratamento Estadiamento clinico Grupo A Sem sinais de alarme Sem comorbidades ou situações de risco Prova do laço negativa o Solicitar exames laboratoriais complementares o Analgésico e antitérmico se necessário o Orientar repouso e prescrever dieta e hidratação oral o Orientar o paciente para procurar imediatamente o serviço de urgência em caso de sangramentos ou sinais/sintomas de alarme. o Agendar o retorno para reavaliação clínica no dia de melhora da febre (possível início da fase crítica). Grupo B Sem sinais de alarme Prova do laço positiva Condições clínicas especiais e/ou comorbidades Julia Paris Malaco – ambulatório infectologia o Solicitar exames laboratoriais: hemograma completo (obrigatório) o Paciente deve permanecer em observação até o resultado dos exames o Prescrever hidratação oral até o resultado dos exames o Analgésico e antitérmico se necessário Reavaliação clínica: o Paciente com hematócrito normal: regime ambulatorial o Sinais de alarme: grupo C Grupo C Paciente com algum sinal de alarme o Reposição volêmica imediata o Permanecer em acompanhamento em leito de internação até estabilização o Realizar exames laboratoriais obrigatórios: hemograma completo, dosagem de albumina sérica e transaminases. o Reavaliação clínica (sinais vitais, PA, avaliar diurese) a cada hora e avaliação do hematócrito a cada duas horas. o Exames para confirmação de dengue são obrigatórios, mas não são essenciais para a conduta clínica. o Analgésico e antitérmico se necessário o Notificar o caso o Retorno para reavaliação clínica e laboratorial Grupo D Presença de sinais de choque, sangramento grave ou disfunção grave de órgãos. O tratamento da dengue consiste na hidratação precoce. Como o aumento da permeabilidade capilar, com consequente extravasamento de plasma para o interstício e as cavidades, é o principal evento fisiopatológico da dengue, a hidratação é o único tratamento disponível, pois até o momento não há fármacos antivirais que tenham ação específica e efetiva contra os vírus dengue. Nos casos benignos de febre indiferenciada e da DC, além da hidratação, o tratamento sintomático de febre, cefaleia, mialgias e artralgias é suficiente. (Exemplos: Paracetamol, dipirona, ibuprofeno, anti-inflamatórios) Entretanto, o uso de salicilatos deve ser evitado, pois esses fármacos podem causar hemorragias digestivas altas e acidose, além de atuarem sobre a agregação plaquetária, podendo agravar ainda mais os quadros graves da dengue. Febre amarela Doença infecciosa aguda, causada pelo vírus amarílico e considerada a doença prototípica das febres hemorrágicas virais, com as quais compartilha vários aspectos em comum, mas caracterizada por comprometimento hepático mais significativo. O vírus amarílico é vírus RNA de fita única, sentido positivo, pertencente à família Flaviviridae, gênero Flavivirus, sendo considerado o vírus prototípico do gênero. Epidemiologia A febre amarela é enzootia que acomete humanos por acidente. Periodicamente, podem ocorrer surtos epidêmicos de transmissão inter- humana em cidades, mediada pelo Aedes aegypti, denominada ciclo urbano. A transmissão vertical (ou transovariana) do vírus nos vetores também é importante fator na manutenção da infecção no ambiente natural. Silvestre: transmitido por mosquitos Haemagogus ou Sabethes. O hospedeiro é o macaco. Urbano: não existe no Brasil. Transmitido por mosquitos Aedes aegypti. O hospedeiro é o homem. Fisiopatologia Após a inoculação pelo vetor, as partículas virais são fagocitadas pelas células dendríticas da pele e transportadas pelo sistema linfático até o linfonodo adjacente, onde se multiplica inicialmente e ganha acesso à corrente sanguínea. O fígado é o órgão primariamente afetado na febre amarela. O vírus chega às células de Kupffer em menos de 24 h após a infecção original, lá se multiplicando e voltando à corrente sanguínea, através da qual infecta e afeta também o baço,o coração e os rins, principalmente. O vírus amarílico, à semelhança do vírus da dengue, provoca intensa vasculite infecciosa, caracterizada por dano na microcirculação, que resulta em lesão tecidual por hipoxia de baixo fluxo, agravada pelas alterações hemodinâmicas e extravasamento de plasma observados. A lesão hepatocítica propriamente dita ocorre apenas mais tardiamente e se caracteriza por Julia Paris Malaco – ambulatório infectologia necrose eosinofílica, mediozonal, poupando relativamente as regiões centrolobular e periportal, com significativa degeneração gordurosa, caracterizando micro e macroesteatose e apoptose. Os corpúsculos de Councilman, característicos da febre amarela, correspondem à apoptose de hepatócitos. A lesão por apoptose é mais importante que a necrose de liquefação dos hepatócitos, também encontrada na febre amarela. Ocorre moderado infiltrado inflamatório, constituído por linfócitos T CD4+ e CD8+, células natural killer (NK), com raros plasmócitos e neutrófilos. O infiltrado é mais intenso na região periportal, porém desproporcional à intensidade da lesão centroacinar. A patologia renal também se caracteriza por necrose eosinofílica, apoptose, degeneração gordurosa das células do epitélio tubular renal e relativa ausência de infiltrado inflamatório. A imuno-histoquímica demonstra a existência de antígenos virais nas células epiteliais afetadas. Oligúria secundária à necrose tubular aguda pré- renal é achado terminal. Ocorre albuminúria significativa, provavelmente secundária a alteração da função glomerular. Hipotensão e choque são eventos tardios e provavelmente relacionados à desregulação da resposta inflamatória humoral, também vista em sepse, leptospirose, malária grave e outras condições. Na febre amarela, as citocinas pró- inflamatórias – como interleucinas 2 e 6 (IL-2, IL-6), interferonas α e γ (IFN-α e IFN-γ), fator de necrose tumoral α e β (TNF-α e TNF-β) e fator de transformação do crescimento β (TGF-β) – contribuem com as lesões celulares, a formação de radicais livres de oxigênio, as alterações hemodinâmicas, com o dano endotelial e com microtromboses, levando a hipoxia tecidual ou agravando-a e promovendo coagulação intravascular disseminada, oligúria e choque. É digno de nota que essas lesões aparecem predominantemente no momento em que o sistema imune consegue o clareamento da viremia. Finalmente, lesão direta da célula miocárdica, dependente do vírus, e caracterizada por apoptose com imuno-histoquímica positiva para antígenos virais também parece contribuir para o choque e a falência dos múltiplos órgãos e sistemas. A resposta imune humoral (RIH) parece ser a mais importante para a proteção. Anticorpos neutralizantes específicos desenvolvem-se rapidamente, encontrando-se anticorpos da classe IgM já na primeira semana após a infecção. A resposta imune protetora é permanente, e a infecção prévia por alguns flavivírus, como dengue, Zika e Wesselsbron, parece conferir proteção parcial contra a febre amarela. Quadro clinico Fase de infecção ou virêmica: surge após período de incubação de 3 a 6 dias, que pode eventualmente se estender para até 10 dias, é a primeira fase da doença Febre alta, de início súbito Cefaleia Mal-estar geral Tonturas, prostração e mialgia, principalmente lombossacral. Após algumas horas, podem aparecer náuseas, vômitos e hiperemia conjuntival com taquipneia, porém com frequência cardíaca baixa, caracterizando sinal de Faget, ou seja, a dissociação pulso-temperatura. As alterações laboratoriais também são inespecíficas, com leucopenia, neutropenia, aumento de transaminases, proteinúria e viremia positiva (técnicas moleculares ou de isolamento viral positivas). Após 2 a 3 dias, ocorre regressão espontânea dos sintomas na maioria dos pacientes. Fase de intoxicação, toxemia ou de localização: após período de 2 a 48 h de remissão ou melhora parcial do quadro inicial, ocorre recrudescimento dos sintomas, rapidamente progressivo, Retorno da febre ainda mais elevada, Toxemia Cefaleia e prostração intensas, acompanhadas por icterícia e vômitos, em geral, incoercíveis. Não se detecta o vírus amarílico no sangue periférico. A seguir, ocorre oligúria-anúria, com insuficiência pré-renal e manifestações hemorrágicas, principalmente do trato gastrintestinal, como hematêmese e melena, que denotam o aparecimento de coagulação intravascular disseminada. Julia Paris Malaco – ambulatório infectologia Choque, rebaixamento do nível de consciência, com evolução para coma profundo, advém a seguir em até 50 a 70% dos casos que evoluem para essas formas graves da doença. Diagnostico Diagnóstico clínico O diagnóstico clínico deve ser sempre suspeitado quando os quadros descritos anteriormente envolverem paciente que esteve em área endêmica ou com sinais de circulação ativa do vírus amarílico. Para fins de vigilância epidemiológica, o Ministério da Saúde adota as seguintes definições de casos de febre amarela: Caso humano suspeito: Indivíduo com quadro febril agudo (até 7 dias), de início súbito, acompanhado de icterícia e/ou manifestações hemorrágicas, residente ou procedente de área de risco para febre amarela ou de locais com ocorrência de epizootias em primatas não humanos ou isolamento de vírus em vetores nos últimos 15 dias, não vacinado ou com estado vacinal ignorado para febre amarela Caso humano provável: “Indivíduo com critério de caso suspeito e com exame laboratorial preliminar reagente, aguardando conclusão da investigação e contraprova laboratorial.” Diagnóstico laboratorial Inespecífico Leucopenia com neutropenia, eosinopenia e linfocitose. Nas formas graves, no período de intoxicação observam-se leucocitose, trombocitopenia, aumento de transaminases, da ureia e creatinina plasmáticas, hiperbilirrubinemia, hipoglicemia e acidose. A trombocitopenia ocorre principalmente após alguns dias, com aumento do tempo de protrombina e diminuição do fibrinogênio sérico, que sugerem coagulação intravascular disseminada. O exame de urina do tipo I mostra proteinúria importante, que pode chegar a 40 g/ℓ em amostra isolada, hematúria e cilindrúria. Específico Os principais exames para a confirmação da febre amarela são: Isolamento do vírus Reação em cadeia da polimerase por transcrição reversa (RT-PCR): a mais utilizada. MAC-ELISA: Teste padrão para a demonstração da infecção atual Reações de ELISA para classe IgG e de inibição da hemaglutinação. Histopatologia: a biopsia post mortem das vísceras ou necropsia são importantes recursos diagnósticos. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial das formas leves ou benignas da febre amarela inclui qualquer processo infeccioso agudo inespecífico, como infecções respiratórias agudas, infecções intestinais de etiologia viral, hepatites virais, além de outras viroses como dengue, Zika, enteroviroses ou outras arboviroses. Tratamento Não existe tratamento antiviral específico para febre amarela ou outros flavivírus, à exceção do vírus da hepatite C (VHC). Assim, o tratamento é sintomático e de suporte geral, dependendo da gravidade do quadro clínico e das disfunções ou insuficiências orgânicas encontradas (podem ser usados, dipirona, metoclopramida) Também se devem monitorar cuidadosamente as condições de hidratação, diurese, equilíbrio hidreletrolítico e os gases arteriais. Vacina – esquema vacinal febre amarela (imagens) http://www.contag.org.br/indexdet2.php?modulo=portal&ac ao=interna2&codpag=101&id=11976&mt=1&nw=1&ano=&me s= Febre chikungunya A febre chikungunya é uma doençaprovocada por um vírus, que apresenta sintomas semelhantes aos da dengue, tais como febre alta, dores pelo corpo, dor de cabeça, cansaço e manchas avermelhadas pelo corpo Felizmente, a febre chicungunha não provoca complicações hemorrágicas, sendo, portanto, uma infecção menos fatal que a dengue. A febre chicungunha é uma infecção transmitida pelo vírus Chikungunya (CHIKV). No caso específico da febre chicungunha, o artrópode que transmite o vírus são os mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. http://www.contag.org.br/indexdet2.php?modulo=portal&acao=interna2&codpag=101&id=11976&mt=1&nw=1&ano=&mes http://www.contag.org.br/indexdet2.php?modulo=portal&acao=interna2&codpag=101&id=11976&mt=1&nw=1&ano=&mes http://www.contag.org.br/indexdet2.php?modulo=portal&acao=interna2&codpag=101&id=11976&mt=1&nw=1&ano=&mes Julia Paris Malaco – ambulatório infectologia Etiologia Assim como o ocorre na dengue, o Aedes aegypti e o Aedes albopictus não conseguem transmitir o vírus Chikungunya imediatamente após a sua contaminação. Quando o mosquito pica alguém infectado pela febre chicungunha, o sangue contaminado entra pelo seu sistema digestivo e é absorvido. A partir daí, o vírus passa a se replicar dentro do organismo do inseto, só indo aparecer nas glândulas salivares após alguns dias. Esse intervalo de tempo necessário para o mosquito contaminado tornar-se um mosquito contaminante é chamado de período de incubação extrínseco. O período de incubação da febre chicungunha no ser humano pode ser de até 2 semanas, mas, na maioria dos casos, a doença surge entre 3 a 7 dias após o indivíduo ter sido picado pelo mosquito. Em geral, quanto mais quente for a temperatura do ambiente, mais curto é o período de incubação extrínseco. Em locais onde a temperatura ambiente é baixa, o mosquito pode morrer antes que o período de incubação extrínseco esteja completo, o que justifica a maior incidência da doença em áreas tropicais. Os recém-nascidos contaminados costumam desenvolver a doença entre 3 a 7 dias, e o quadro clínico costuma ser bem mais grave que nos adultos. Não há evidências de que o CHIKV possa ser transmitido pelo aleitamento materno. Após a picada do mosquito infectado, existe um período de incubação que se estende por 2 a 12 dias (comumente entre 4 e 7 dias). Quadro clinico A chamada fase aguda da febre chicungunha começa com uma febre alta de início súbito, geralmente ao redor do 40ºC, associada à mal- estar e intensa poliartralgia (dor em várias articulações). Início da doença costuma ser abrupto Temperatura elevada Dor lombar Cefaleia, fadiga, mialgia e poliartralgia Diarreia, vômitos podem ocorrer em alguns casos Pode ocorrer ainda acometimento cutâneo, com rash macular ou maculopapular (membros superiores e inferiores, tronco e face - pequenos pontos avermelhados e agrupados, que podem ou não ter algum relevo) Prurido e descamação. A fase inicial ou aguda dura aproximadamente 1 semana. A partir desse momento, a doença pode evoluir para fase de convalescença ou mesmo crônica, que pode se estender por anos. Em crianças, as manifestações clínicas podem ser um pouco distintas, com menor incidência de manifestações reumatológicas e maior ocorrência de manifestações cutâneas (hiperpigmentação, eritema, rash, lesões vesicobolhosas), e há maior incidência de manifestações neurológicas (encefalite, convulsões e síndromes meníngeas). Em gestantes, embora não sejam descritos efeitos teratogênicos, a transmissão materno-fetal foi descrita em mães ao final da gestação, com graves consequências para o recém-nascido A fase aguda dura de 3 a 7 dias, período no qual os sintomas começam a desaparecer. Diagnóstico O diagnóstico é laboratorial. Inicialmente, é feita avaliação com exames gerais, mais inespecíficos. O hemograma com linfopenia e contagem normal de plaquetas. (Inespecifico) Detecção do RNA viral, em plasma ou soro, onde se encontra em níveis bastante elevados na primeira semana da doença, caindo ao longo do tempo, quando passa a ser possível detectar anticorpos, inicialmente da classe IgM e, a seguir, da classe IgG. Tratamento Sintomático: paracetamol, anti-inflamatorios Julia Paris Malaco – ambulatório infectologia Especifio: Ribavirina (doses e o tempo de tratamento ainda não definidos). Zika vírus O Zika virus (ZIKV) é um arbovírus (arthropod borne virus) do gênero Flavivirus, família Flaviviridae. Filogeneticamente relacionado aos vírus de Spondweni, febre amarela, dengue e encefalites japonesa e do Nilo ocidental. Fisiopatologia Primeiro o vírion se liga à célula hospedeira através da glicoproteína E, o que induz a endocitose da partícula viral. A seguir, a membrana viral se funde com a membrana do endossoma e o ssRNA do genoma viral é liberado no citoplasma da célula hospedeira. Inicia-se então a translação da poliproteína viral que é subsequentemente quebrada nas proteínas estruturais e não estruturais. A replicação inicia-se então no retículo endoplásmatico, em compartimentos intracelulares conhecidos como “fábricas virais citoplasmáticas”, resultando em um genoma dsRNA. O genoma dsRNA é então transcrito em novas cópias do genoma ssRNA. A assembleia final (organização e montagem do vírion com o genoma ssRNA e suas proteínas estruturais) ocorre no retículo endoplasmático e os novos vírions são então transportados para o complexo de Golgi, de onde são excretados para o meio intracelular, onde podem infectar novas células. A viremia está presente entre os dias 1 a 4 e a RT- PCR pode ser positiva até o 11o dia, porém mais frequentemente apenas entre os dias 3 a 7. O vírus é encontrado na urina e no líquido seminal, podendo ser detectado na primeira por até 3 semanas e no último por até 6 meses. Quadro clínico A infecção por ZIKV tem um período de incubação de 3 a 12 dias, após o qual iniciam-se as manifestações clínicas. Acredita-se que aproximadamente 80% das infecções sejam assintomáticas. Os achados clínicos principais são Febre baixa e de curta duração erupção cutânea maculopapular e pruriginosa conjuntivite não purulenta artralgia e edema de pequenas articulações de pés e mãos cefaleia, mialgia, astenia. Sintomas menos frequentes incluem anorexia, náuseas e vômitos, dores abdominais, diarreia, vertigem sensação de queimação nas regiões palmo- plantares. Raramente podem ocorrer dor retro-orbital, surdez transitória e zumbidos, além de sangramento subcutâneo. Também raramente pode ocorrer hematospermia, que quando presente está positivamente associada à transmissão sexual do ZIKV. Sintoma principal Erupção cutânea intensamente pruriginoso, de distribuição centrifuga, originando-se em geral na face e atingindo todo o corpo em poucos dias. Sinal característico Presença de áreas epiteliais preservadas, sem exantema, que aparecem como zonas esbranquiçadas ao exame. Manifestações neurológicas no adulto incluem um caso descrito de meningoencefalite aguda em adulto idoso e casos da síndrome de Guillain- Barré. A última é uma condição aguda, caracterizada por polirradiculoneuropatia imunomediada, que ocorre tipicamente após infecções virais ou bacterianas brandas. A função motora é afetada, iniciando-se nas extremidades e progredindo proximalmente em até 4 semanas. Os pacientes apresentam fraqueza generalizada, arreflexia e alterações neurossensoriais e envolvimento de pares cranianos em graus variados. Existem dois subtipos principais, o envolvimento agudo do neurônio motor periférico (AMAN) e a polineuropatia inflamatória desmielinizanteaguda (AIDP). Na infecção por ZIKV é de aparecimento rápido, frequentemente em até 7 dias do início dos sintomas. A progressão também é rápida, sendo de 6 dias a mediana entre o início dos sintomas neurológicos e o quadro plenamente instalado. Também a duração da fase de estado é curta, com mediana de 4 dias até o início da recuperação. Na infecção por ZIKV a apresentação clínica foi diferente entre os quadros descritos inicialmente na Polinésia Francesa e aqueles que ocorreram posteriormente na Colômbia, as duas situações Julia Paris Malaco – ambulatório infectologia epidêmicas em que mais se descreveram quadros de Guillain-Barré pós-infecção pelo ZIKV. Em relação ao comprometimento fetal, o risco de desenvolver microcefalia é maior no primeiro trimestre gestacional, apesar de presente por toda a gestação. Os achados característicos da infecção congênita por ZIKV incluem dobras cutâneas no crânio, baixo peso ao nascer, poli- hidrâmnio, anasarca e artrogripose. Clinicamente, todos os recém-nascidos apresentam sequelas neurológicas, com retardo mental, sequelas motoras ou alterações auditivas ou visuais. Os achados de imagem intrauterinos indicam microcefalia com redução do volume cerebral, agiria, dilatação ventricular sem hidrocefalia, hipoplasia do verme cerebelar e do cerebelo, lissencefalia e artrogripose. Hipoplasia ou agenesia do corpo caloso e do tálamo também podem estar presentes. Calcificações corticais e periventriculares grosseiras e confluentes são comuns. Também são frequentes os achados de retardo de crescimento fetal com poli ou hipoidrâmnio. Alterações oculares foram encontradas em 40% dos recém-nascidos com ou sem microcefalia. As mais frequentes foram pigmento moteado focal, atrofia coriorretiniana, hipoplasia do nervo óptico, perda do reflexo foveal, atrofia neurorretinal da mácula, subluxação do cristalino e da coloboma íris. Diagnostico O diagnóstico clínico deve ser sempre suspeitado na presença dos quadros descritos anteriormente se o paciente esteve em área endêmica ou com evidência de circulação ativa do vírus. Para fins de vigilância epidemiológica, o Ministério da Saúde adota as seguintes definições de casos: Caso humano suspeito: pacientes que apresentem exantema maculopapular pruriginoso acompanhado de dois ou mais dos seguintes sinais e sintomas: o Febre o Hiperemia conjuntival sem secreção e prurido o Poliartralgia o Edema periarticular Caso humano confirmado: caso suspeito com um dos seguintes testes positivos/reagentes específicos para diagnóstico de Zika: o Isolamento viral o Detecção de RNA viral por reação da transcriptase reversa (RT-PCR) o Sorologia IgM. Diagnóstico laboratorial Inespecífico Alguns pacientes podem apresentar leucopenia com neutropenia, linfocitose com atipias e monocitose transientes. A velocidade de hemossedimentação pode estar aumentada e pode também ocorrer elevação dos níveis de gamaglutamil transferase, desidrogenase láctica, aspartato aminotransferase, ferritina, fibrinogênio e proteína C reativa durante a fase de viremia. Específico Isolamento do vírus: em amostras de sangue ou soro nos primeiros 3 a 5 dias de doença. Reação em cadeia da polimerase por transcrição reversa em tempo real (RT- PCR: A coleta do sangue deve ser feita preferencialmente entre os dias 3 a 5 após o início dos sintomas, mas aceita-se materiais colhidos até 7 dias após o início dos sintomas MAC-ELISA: teste padrão para a demonstração da infecção atual é o Os anticorpos da classe IgG em geral aparecem na 2a semana de infecção e atingem seu valor máximo em 1 a 2 meses. Tratamento O tratamento é sintomático e de suporte geral, dependendo da gravidade do quadro clínico. Profilaxia, controle e vacinação As medidas profiláticas baseiam-se no combate ao vetor e na proteção da transmissão sexual para as mulheres (particularmente gestantes) pela prática de sexo protegido por pelo menos 28 dias com parceiro que teve a infecção ou esteve em área com circulação ativa do vírus, uma vez que 80% das infecções em adultos podem ser assintomáticas.
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