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RESUMO DE DIREITO AMBIENTAL NP1 FRANCISCA JERLANDIA CLARENTINO DA SILVA A CRISE ECOLÓGICA NO ANTROPOCENO: CONSIDERAÇÕES INICIAIS: O SER HUMANO COMO VETOR DA CRISE ECOLÓGICA CONTEMPORÂNEA. • A magnitude da intervenção do ser humano no Planeta Terra, culminando com o término do Período Geológico do Holoceno (ou Holocênico) e o início do novo Período Geológico do Antropoceno. O nome “Antropoceno”, como se pode presumir, é atribuído em razão do comportamento de uma única espécie (o “ser humano”), notadamente como decorrência da sua intervenção no Sistema do Planeta Terra (Earth System). • Eremoceno ou Era da Solidão (Age of Loneliness) para definir o atual Período Geológico. • “solidão” da espécie humana decorrente da dizimação da vida selvagem e da biodiversidade no Planeta Terra provocada pelo Homo sapiens rumo à sexta extinção em massa de espécies8 em pleno curso na atualidade. • O início do Antropoceno é identificado por alguns autores a partir do período que se seguiu após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) até os dias atuais, denominado como “A Grande Aceleração” (The Great Acceleration). • Somente 10.000 anos atrás, período que coincide aproximadamente com o início do Holoceno, a agricultura passou a ser desenvolvida em diferentes partes do mundo.11 No entanto, as “pegadas” humanas mais significativas somente começaram a ser emplacadas a partir da Revolução Industrial, ou seja, no início do século XIX, com o uso progressivo de combustíveis fósseis, consumo de recursos naturais e aumento populacional exponencial. A ideia de limites para o uso dos recursos naturais em termos planetários não é algo novo. Essa discussão já havia sido colocada de forma emblemática pelo Relatório do Clube de Roma sobre os Limites do Crescimento no início da década de 1970. A humanidade utilizando o seu poder tecnológico de forma cada vez mais imprudente, ressalvando-se, ademais, que ele só tem aumentado o nosso poder de intervenção na Natureza e desequilibrado cada vez mais a relação de força que travamos com o sistema planetário, a ponto, como referido anteriormente, de um novo período geológico – o Antropoceno – ter sido inaugurado como decorrência disso. A POLUIÇÃO, A DEGRADAÇÃO E O ESGOTAMENTO DOS RECURSOS NATURAIS: “Deve-se pôr fim à descarga de substâncias tóxicas ou de outros materiais que liberam calor, em quantidades ou concentrações tais que o meio ambiente não possa neutralizá-los, para que não se causem danos graves e irreparáveis aos ecossistemas. Deve-se apoiar a justa luta dos povos de todos os países contra a poluição” (Princípio 6 da Declaração de Estocolmo de 1972). ✓ A poluição dos recursos naturais é o exemplo mais expressivo das “pegadas” em termos ecológicos deixadas pelo ser humano na sua passagem pelo Planeta Terra. ✓ Foi justamente para combater determinadas práticas poluidoras levadas a efeito pela atividade privada – por exemplo, em razão da progressiva industrialização da economia, notadamente nos países desenvolvidos, e edificação de um modelo de sociedade de risco. ✓ À publicação, no ano de 1962, do livro Primavera silenciosa (Silent Spring), escrito pela bióloga marinha norte-americana Rachel Carson (1907-1964). O seu livro projetou para o espaço público o debate a respeito da poluição dos recursos naturais, inclusive no tocante à responsabilidade da ciência, aos limites do progresso tecnológico e à relação entre ser humano e a Natureza. ✓ A denominação correta para os pesticidas ou agrotóxicos deveria ser a de “biocidas”, ampliando o seu âmbito de eliminação para a vida como um todo. O incremento do uso de novas tecnologias e a maior mecanização e industrialização das práticas agrícolas, verificado de modo especial a partir das décadas de 1960 e 1970, foram denominados de Revolução Verde. O acidente de Bophal é considerado o pior desastre industrial ocorrido até hoje. No ano de 1986, verificou-se, na Cidade da Basileia, na Suíça, o incêndio no depósito de uma fábrica de produtos químicos, levando fumaça tóxica até a França e a Alemanha, além de lançar agentes químicos tóxicos no Rio Reno, causando a mortandade de peixes. Mobilizações sociais em prol da defesa ecológica, impulsionadas pelos exemplos emblemáticos da luta contra a poluição industrial e a poluição gerada pelo uso de agrotóxicos, alcançaram o espectro político-jurídico e tiveram como resultado, entre outras medidas legislativas, a edição da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81),44 a consagração constitucional da proteção ecológica (art. 225 da CF/1988) e, especificamente sobre o tema da poluição química, a promulgação da Lei de Agrotóxicos (Lei 7.802/89). • No Brasil, o exemplo mais emblemático de poluição dos recursos hídricos, tido por alguns especialistas como o maior desastre ambiental brasileiro de todos os tempos, ocorreu recentemente, no ano de 2015.48 Trata-se do rompimento da barragem de rejeitos de mineração da empresa Samarco (de propriedade da brasileira Vale do Rio Doce e da anglo-australiana BHP Billiton) no Município de Mariana. A Assembleia Geral da ONU, em 26 de julho de 2010, declarou o reconhecimento do “direito à água potável e ao saneamento como um direito humano essencial para o pleno desfrute da vida e de todos os direitos humanos”. Princípio 7 da Declaração de Estocolmo (1972), no sentido de que “os Estados deverão tomar todas as medidas possíveis para impedir a poluição dos mares por substâncias que possam pôr em perigo a saúde do homem, os recursos vivos e a vida marinha, menosprezar as possibilidades de derramamento ou impedir outras utilizações legítimas do mar”. A QUESTÃO NUCLEAR: “É preciso livrar o homem e seu meio ambiente dos efeitos das armas nucleares e de todos os demais meios de destruição em massa. Os Estados devem se esforçar para chegar logo a um acordo – nos órgãos internacionais pertinentes – sobre a eliminação e a destruição completa de tais armas” (Princípio 26 da Declaração de Estocolmo de 1972). Merece registro o caso de Fukushima, onde a usina nuclear situada em tal cidade, após tsunami que destruiu parte da costa japonesa e causou mais de 13 mil mortes no ano de 2011, teve seus reatores danificados e lançou enorme quantidade de substâncias radioativas na atmosfera. “toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos”. A DESTRUIÇÃO DAS FLORESTAS: A SEXTA EXTINÇÃO EM MASSA DA BIODIVERSIDADE E O COLAPSO DO(S) ECOSSISTEMA(S) PLANETÁRIO(S): ✓ O Princípio 4 da Declaração de Estocolmo de 1972 já tratava expressamente sobre a questão: “O homem tem a responsabilidade especial de preservar e administrar judiciosamente o patrimônio da flora e da fauna silvestres e seu habitat, que se encontram atualmente, em grave perigo, devido a uma combinação de fatores adversos. Consequentemente, ao planificar o desenvolvimento econômico, deve-se atribuir importância à conservação da Natureza, incluídas a flora e a fauna silvestres”. ✓ O tráfico de vida silvestre, no qual se incluem a flora, a fauna e seus produtos e subprodutos, é considerado a terceira maior atividade ilegal do mundo, apenas atrás do tráfico de armas e do tráfico de drogas. CRESCIMENTO POPULACIONAL E CONSUMO (INSUSTENTÁVEL) DE RECURSOS NATURAIS: “NÃO HÁ PLANETA B”! • “Se as atuais tendências de crescimento da população mundial – industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais – continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste Planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos”. • “limites planetários” associados ao crescimento populacional e o correlato aumento no uso e esgotamento dos recursos naturais planetários. Esse cenário nos leva a reconhecer a caracterização de uma “sociedade de hiperconsumo”. • “para alcançar o desenvolvimento sustentável e uma qualidade de vida mais elevada para todos, os Estados devem reduzir e eliminar os padrões insustentáveisde produção e consumo, e promover políticas demográficas adequadas”. • Outro aspecto particularmente relevante no cenário urbano-ambiental é a vinculação entre os problemas ambientais e os problemas sociais, revelando de forma bastante clara a faceta socioambiental que permeia os problemas ecológicos nas cidades. Mais recentemente, a ONU lançou em 2015, mesmo ano do Acordo de Paris, a Agenda 2030, com a consagração dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), ou seja, uma agenda de sustentabilidade adotada pelos países-membros da ONU para ser cumprida até 2030. O ODS 6, por sua vez, é justamente “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”. De 54% de acesso ao serviço de saneamento básico existente em 1992 passou-se, trinta anos após, apenas ao percentual de 61% em 2012.100 Pelo prisma de assegurar aos indivíduos condições de completo bem-estar (individual, social e ecológico), inclusive sob a ótica do próprio direito ao desenvolvimento, não há como dissociar o acesso ao saneamento básico da proteção ecológica. E, a nosso ver, tanto o Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001). MUDANÇAS CLIMÁTICAS E POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA: o O objetivo central do Acordo de Paris é manter o aumento da temperatura global neste século bem abaixo dos 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais (ou seja, antes do ano 1900) e prosseguir os esforços para limitar ainda mais o aumento da temperatura a 1,5 grau Celsius. O NOVO PERÍODO GEOLÓGICO DO ANTROPOCENO E OS LIMITES PLANETÁRIOS (PLANETARY BOUNDARIES): LIMITES PLANETÁRIOS (Planetary Boundaries) : 1) Mudanças climáticas; 2) Acidificação dos oceanos; 3) Diminuição ou depleção da camada de ozônio estratosférico; 4) Carga atmosférica de aerossóis; 5) Interferência nos ciclos globais de fósforo e nitrogênio; 6) Taxa ou índice de perda de biodiversidade; 7) Uso global de água doce; 8) Mudança no Sistema do Solo (Land-System Chan ge); e 9) Poluição química. Em pelo menos três casos – mudanças climáticas, interferência nos ciclos globais de fósforo e nitrogênio e taxa ou índice de perda de biodiversidade –, os cientistas são assertivos em assinalar que os “limites” e margem de segurança já foram ultrapassados em escala global. ÉTICA ECOLÓGICA: CONSIDERAÇÕES INICIAIS: A AMPLIAÇÃO DO CÍRCULO MORAL E A EXPANSÃO DO RECONHECIMENTO DE DIREITOS PARA ALÉM DO ESPECTRO HUMANO: A “situação-limite” a que chegamos, no tocante à crise ecológica, está associada de forma direta à postura filosófica – incorporada nas nossas práticas cotidianas tanto na esfera privada quanto pública – de dominação do ser humano em face do mundo natural, consolidada pela ciência moderna de inspiração cartesiana. o É incomparável à força da “mão humana” potencializada pela técnica. O poder que hoje o ser humano (Homo faber) detém de transformação da Natureza não encontra limites. DIMENSÕES DA ÉTICA ECOLÓGICA: Dimensões da Ética Ecológica: • Intrageracional (entre a mesma geração ou gerações viventes) • Intergeracional (entre diferentes gerações) • Interespécies (entre diferentes espécies biológicas ou naturais) CORRENTES DA ÉTICA ECOLÓGICA : Correntes da Ética Ecológica: • Patocentrismo – do grego páthein, padecer – designa a concepção ética de que “todos os seres sencientes merecem consideração por si mesmos”. • Biocentrismo – do grego bíos, vida – caracteriza-se por defender que “todos os seres vivos merecem consideração por si mesmos”. • Ecocentrismo – também denominado por alguns de “ética holística” ou “fisiocentrismo”, do grego physis, ou seja, Natureza –, tem por premissa que “toda a Natureza (versão holística) ou tudo na Natureza (versão individualista) merece consideração por si mesmo”. A RAIZ FILOSÓFICA DO PROBLEMA: CRÍTICA AO PENSAMENTO CARTESIANO: ✓ Notáveis progressos que propiciaram, paralelamente serviram de instrumento de intervenção sem precedentes (em razão do novo arsenal tecnológico desenvolvido) no meio natural e, consequentemente, de degradação e esgotamento dos recursos naturais, na medida em que a Natureza passou a ser tratada – do ponto de vista filosófico e em contraposição ao pensamento clássico que tinha por premissa filosófica uma “cosmovisão”16 – como uma simples “máquina”, destituída de qualquer valor intrínseco. ✓ “o humanismo cartesiano é, sem dúvida alguma, a doutrina que mais longe chegou na desvalorização da Natureza em geral e na do animal em particular”.18 A perspectiva humanista liberal-individualista que caracterizou o pensamento moderno – e a obra de Descartes é o melhor exemplo disso – coloca o indivíduo como o centro e ponto de partida da sua edificação teórico-filosófica, ou seja, é a concepção antropocêntrico- humanista. ✓ “desnaturalização” do ser humano. A Natureza era tida como algo estranho ao ser humano e, portanto, não integrava o círculo moral de matriz humanista do pensamento cartesiano. ✓ O filósofo francês defendia o entendimento de que os animais poderiam ser equiparados a máquinas móveis ou autômatos, já que, diferentemente do homem – que seria composto de alma (res cogitans) e corpo (res extensa) e, portanto, nunca poderia ser identificado com uma simples máquina –, apenas possuíam corpo. ✓ Ao afirmar que os animais não possuem nenhuma razão, ou seja, não eram reconhecidos como “seres racionais” – portanto, tampouco possuidores de valor intrínseco, Descartes abriu caminho para a separação entre ser humano e Natureza que até hoje marca a abordagem científica. ✓ É também atribuída a Descartes a abordagem científica mecanicista, ou seja, de separação das partes com relação ao todo para a sua devida compreensão e estudo. A “crítica ao especialista” feita por Lutzenberger exemplifica bem a questão ora em análise. Segundo o autor, a crise ecológica e a dificuldade do seu devido entendimento (e mesmo solução dos problemas dela decorrentes) é resultado da “atitude do especialista que isola seu problema e se concentra completamente em um só aspecto de uma questão.” A contribuição mais “prejudicial à Natureza” do pensamento cartesiano para a abordagem da ética ecológica está na dicotomia rígida estabelecida entre ser humano e Natureza e a “objetificação” dos elementos naturais, não reconhecendo qualquer valor intrínseco inerente a eles. O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO-EVOLUTIVO DO DIREITO AMBIENTAL: INTRODUÇÃO: DA CONSCIÊNCIA E LEGITIMAÇÃO SOCIAL DOS VALORES ECOLÓGICOS AO DIREITO AMBIENTAL: A sua razão de ser reside justamente em tal legitimação político-comunitária antecedente, ou seja, há relação direta de causalidade entre a ocorrência da poluição e degradação ecológica, a mobilização social em prol da proteção da Natureza e a regulação normativa da matéria pelo Direito. Em outras palavras, o despertar da consciência ecológica mediante práticas sociais consolidou os valores ecológicos no espaço político, alcançando, posteriormente, também o universo jurídico. O “despertar” na esfera comunitária para os valores ecológicos e até mesmo para uma ética ecológica, em curso desde as décadas de 1960 e 1970 nos EUA e na Europa Ocidental, impulsionou, pouco tempo depois, a consagração de legislações nacionais com propósitos nitidamente ecológicos em tais países. O mesmo se verifica na perspectiva internacional, com a Conferência e a Declaração de Estocolmo sobre “Meio Ambiente Humano” (1972), organizada no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU). A “migração” dos valores ecológicos para o campo jurídico é fundamental para o devido enfrentamento da atual crise ecológica de magnitude global. A Declaração de Estocolmo (1972) estabeleceu, no seu Princípio 22, que “os Estados devem cooperar para continuar desenvolvendo o direito internacional no que se refere à responsabilidade e à indenização às vítimas da poluição e de outros danos ambientais que as atividades realizadas dentro da jurisdição ou sob o controle de tais Estados causem a zonas fora de sua jurisdição”.• O começo de tal “virada ecológica” do Direito brasileiro deu-se com a edição da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), consolidando-se com a consagração constitucional dos direitos e valores ecológicos na CF/1988 (art. 225) – como dever de proteção e objetivo do Estado e direito fundamental do indivíduo e da coletividade –, quando, então, a proteção ecológica sedimentou-se no “coração” do nosso ordenamento jurídico (inclusive como cláusula pétrea da CF/1988). A PROTEÇÃO JURÍDICA DOS RECURSOS NATURAIS ANTES DA DÉCADA DE 1970 E O SEU VIÉS PREPONDERANTEMENTE ECONÔMICO E EXPLORATÓRIO: ✓ Antes da década de 1970, conforme pontua Erasmo M. Ramos, “a proteção ambiental era justificada mais pelo prisma dos interesses econômicos do que sob o ângulo dos interesses ambientais propriamente ditos”. ✓ A partir da década de 1970, outros interesses (morais, culturais, sociais, ecológicos etc.) passam também a justificar a proteção jurídica dos recursos naturais, inclusive no sentido do reconhecimento de um novo bem jurídico autônomo e do próprio valor intrínseco da Natureza e da vida não humana. ✓ Direito Ambiental, que só teve o seu marco inaugural no início da década de 1970, tanto na perspectiva do direito nacional quanto internacional. ✓ Apenas com a edição da Lei 6.938/81 é que tal viés “instrumental” da Natureza resultou efetivamente superado, emergindo, a partir de então, um Direito Ambiental brasileiro propriamente. É possível identificar a passagem de uma fase para a outra, considerando as três fases ou períodos legislativos distintos que identificamos: 1) Fase legislativa fragmentária-instrumental da proteção ambiental; 2) Fase legislativa sistemático-valorativa da proteção ambiental; 3) Fase legislativa da “constitucionalização” da proteção ambiental. O SURGIMENTO DO DIREITO AMBIENTAL NO CENÁRIO JURÍDICO INTERNACIONAL: A DECLARAÇÃO DE ESTOCOLMO SOBRE O MEIO AMBIENTE HUMANO (1972): A Declaração de Estocolmo “pode ser considerada um documento com a mesma relevância para o Direito Internacional e para a Diplomacia dos Estados que teve a Declaração Universal dos Direitos do Homem (...). Na verdade, ambas as Declarações têm exercido o papel de verdadeiros guias e parâmetros na definição dos princípios mínimos que devem figurar tanto nas legislações domésticas dos Estados quanto na adoção dos grandes textos do Direito Internacional da atualidade”. • “embora tenham os domínios da proteção do ser humano e da proteção ambiental sido tratados até o presente separadamente, é necessário buscar maior aproximação entre eles, porquanto correspondem aos principais desafios de nosso tempo, a afetarem em última análise os rumos e destinos do gênero humano”. É possível identificar três fases no desenvolvimento do Direito Ambiental Internacional: 1) Fase Conservacionista – Centrada na proteção da vida selvagem, é identificada entre o final do século XIX até a primeira metade do século XX. 2) Fase da Prevenção da Poluição – Abrangendo a chamada revolução ambiental ou ecológica da década de 1960 e início da década de 1970, marcada pela Conferência de Estocolmo de 1972 e o estabelecimento da Programa das Nações Unidas de Meio Ambiente (também em 1972) e a negociação de numerosos tratados multilaterais, particularmente no campo da poluição marinha. 3) Fase do Desenvolvimento Sustentável – Iniciada na metade da década de 1980 com o trabalho da Comissão Brundtland (e relatório Nosso Futuro Comum, publicado em 1987), continuando com a Conferência do Rio de 1992, a Conferência de Joanesburgo de 2002 e a Conferência do Rio de 2012 (Rio+20), todas versando em torno do eixo temático do desenvolvimento sustentável, seguindo até os dias atuais. ❖ A Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia consagrada à proteção ecológica no seu corpo normativo, inclusive no sentido de estabelecer um nível elevado de proteção do meio ambiente e a melhoria da sua qualidade, de acordo com o princípio do desenvolvimento sustentável. PRINCIPAIS CONFERÊNCIAS, DOCUMENTOS E TRATADOS INTERNACIONAIS EM MATÉRIA AMBIENTAL : 1972 – Conferência e Declaração de Estocolmo das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano – Criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) 1982 – Carta Mundial da Natureza, adotada pela Assembleia Geral da ONU 1987 – Publicação do Relatório Nosso Futuro Comum (Relatório Bruntland), elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) do PNUMA 1988 – Consagração do direito humano ao ambiente adequado (art. 11) pelo Protocolo de San Salvador Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em Matéria de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 1992 – Conferência e Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (ONU) – Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima – Convenção sobre Diversidade Biológica – Agenda 21 1993 – Declaração e Programa de Ação de Viena, promulgada na 2ª Conferência Mundial sobre Direitos Humanos 1997 – Protocolo de Quioto, adicional à Convenção-Quadro sobre Mudança do Clima 1998 – Convenção de Aarhus sobre Acesso à Informação, Participação Pública na Tomada de Decisões e Acesso à Justiça em Matéria Ambiental 2000 – Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança 2001 – Convenção de Estocolmo sobre Poluentes Orgânicos Persistentes 2002 – Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (ou Rio+10), realizada em Johanesburgo, na África do Sul 2007 – Declaração sobre os Direitos dos Povos Indígenas 2012 – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), realizada no Rio de Janeiro 2014 – Declaração de Nova Iorque sobre Florestas 2015 – Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas (COP 21) – Aprovação pela Assembleia Geral da ONU dos “Objetivos do Desenvolvimento Sustentável”, por meio do documento “Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” – Encíclica “Laudato si: sobre o cuidado da casa comum”, do Papa Francisco 2017 – Opinião Consultiva n. 23/2017 da Corte Interamericana de Direitos Humanos sobre “Meio Ambiente e Direitos Humanos” 2018 – Acordo Regional de Escazú para América Latina e Caribe sobre Acesso a Informação, Participação Pública e Acesso a Justiça em Matéria Ambiental 2019 – Sínodo da Amazônia no Vaticano A AGENDA 2030 PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA ONU E OS SEUS 17 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS) : A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU,24 como o próprio Preâmbulo enunciam, é um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade, agindo de forma colaborativa e com o propósito de tomar as medidas ousadas e transformadoras que são urgentemente necessárias para direcionar o mundo para um caminho sustentável e resiliente. A Agenda 2030 também busca fortalecer a paz universal com mais liberdade, e reconhecemos, ademais, que a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, especialmente a pobreza extrema, é o maior desafio global e um requisito indispensável para o desenvolvimento sustentável, de modo a compatibilizar os eixos social, econômico e ecológico no contexto do desenvolvimento sustentável. Os Objetivos e metas estimularão a ação para os próximos 15 anos em áreas de importância crucial para a humanidade e para o Planeta: pessoas, Planeta, prosperidade, paz e parceria: Pessoas: Estamos determinados a acabar com a pobreza e a fome, em todas as suas formas e dimensões, e garantir que todos os seres humanos possam realizar o seu potencial em dignidade e igualdade, em um ambiente saudável. Planeta: Estamos determinados a proteger o Planeta da degradação, sobretudo por meio do consumo e da produção sustentáveis, da gestão sustentável dos seus recursos naturais e tomando medidas urgentes sobre a mudança climática, para que ele possa suportar as necessidades das gerações presentes e futuras. Prosperidade: Estamosdeterminados a assegurar que todos os seres humanos possam desfrutar de uma vida próspera e de plena realização pessoal, e que o progresso econômico, social e tecnológico ocorra em harmonia com a Natureza. Paz: Estamos determinados a promover sociedades pacíficas, justas e inclusivas que estão livres do medo e da violência. Não pode haver desenvolvimento sustentável sem paz e não há paz sem desenvolvimento sustentável. Parceria: Estamos determinados a mobilizar os meios necessários para implementar esta Agenda por meio de uma Parceria Global para o Desenvolvimento Sustentável revitalizada, com base num espírito de solidariedade global reforçada, concentrada em especial nas necessidades dos mais pobres e mais vulneráveis e com a participação de todos os países, todas as partes interessadas e todas as pessoas. 17 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL (ODS): Objetivo 1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares. Objetivo 2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável. Objetivo 3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades. Objetivo 4. Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos. Objetivo 5. Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas. Objetivo 6. Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos. Objetivo 7. Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todos. Objetivo 8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos. Objetivo 9. Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação. Objetivo 10. Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles. Objetivo 11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis. Objetivo 12. Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis. Objetivo 13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos. Objetivo 14. Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável. Objetivo 15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade. Objetivo 16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis. Objetivo 17. Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável. BREVE HISTÓRIA DO DIREITO AMBIENTAL BRASILEIRO: DO INÍCIO DO SÉCULO XX AOS DIAS ATUAIS: As três fases legislativas na perspectiva do surgimento e evolução do Direito Ambiental brasileiro: ❖ O período legislativo que antecedeu a edição da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), no ano de 1981, foi marcado por uma positivação legislativa em matéria ambiental de caráter fragmentário e disperso, ou seja, as legislações desse período, em sua grande maioria, regulam matérias específicas concernentes ao uso e proteção dos recursos naturais, mas sem alçar em suas razões a proteção ecológica propriamente dita. ❖ Uma visão ainda meramente instrumental ou utilitarista dos recursos naturais, sob uma matriz dicotômica homem-Natureza de inspiração cartesiana. ❖ Três fases ou momentos na evolução legislativa em matéria ambiental, a primeira fase, denominada fase da exploração desregrada ou do laissez-faire ambiental, que vai do período da chegada dos portugueses (1500) até aproximadamente o início da segunda metade do século XX, foi marcada pela quase ausência de regulamentação legislativa sobre o uso de recursos naturais. ❖ O segundo momento legislativo destacado por Benjamin, designado como fase fragmentária, conforme pontuamos anteriormente, iria da década de 1960 até a edição da Lei 6.938/81, quando, então, já no terceiro período legislativo-ambiental intitulado pelo autor como fase holística, o meio ambiente passa a ser protegido de forma integral e com autonomia valorativa, ou seja, como bem jurídico autônomo. ❖ A nossa proposta de análise da evolução da legislação ambiental brasileira também comporta três fases legislativas: 1) Fase fragmentária-instrumental; 2) Fase sistemático-valorativa; e 3) Fase da “constitucionalização” da proteção ambiental. Hoje, por certo, também acrescentamos uma 4ª fase, ainda em construção, de desenvolvimento da legislação ambiental e do Direito Ambiental: Fase legislativa “Ecocêntrica” ou dos “Direitos dos Animais e dos Direitos da Natureza” (ou do “Direito Ecológico”). Denominada fase fragmentária-instrumental – caracteriza o período anterior à Lei 6.938/81. Tal compreensão tem sua razão de ser no fato de não identificarmos, antes de tal diploma legislativo, amparo normativo. Com a edição da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente no ano de 1981. Para nós, é nesse exato momento que nasce o Direito Ambiental brasileiro, ou seja, a sua “certidão de nascimento”. Soma-se também a esse cenário, no contexto internacional, a Conferência e Declaração de Estocolmo sobre Meio Ambiente Humano (1972). Antes desse período, no entanto, não há como falar em Direito Ambiental propriamente, com a devida consagração jurídica dos valores e direitos ecológicos de forma autônoma e sistemática. A Lei 6.938/81 é o “divisor de águas” que determina a “transição” da primeira para a segunda fase legislativa – que denominamos de fase sistemático-valorativa. Somente após a sua edição e, por consequência, o reconhecimento da autonomia normativa dos valores ecológicos e do bem jurídico ambiental é que se poderia falar de um Direito Ambiental brasileiro com real expressão e suporte normativo. • Num momento legislativo posterior, tem-se a terceira fase legislativa que inicia com a consagração constitucional da proteção ambiental levada a efeito pela CF/1988 (art.225). • A inovação trazida pela “constitucionalização” do Direito Ambiental diz respeito justamente à centralidade que os valores e direitos ecológicos passaram a ocupar no ordenamento jurídico brasileiro. • Tal período legislativo inaugurado em 1988 – e vigente desde então – batizamos de fase da “constitucionalização” da proteção ambiental. A fase legislativa fragmentária-instrumental da proteção ambiental: Considerações iniciais: a proteção jurídica fragmentada (e com viés preponderantemente econômico) dos recursos naturais no período anterior à Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81): • Espírito normativo fragmentário, assistemático e com nítido caráter utilitarista e exploratório na regulação dos recursos naturais. • Não há que se falar em “Direito Ambiental” antes da década de 1970. Os “códigos” e a legislação protetiva dos recursos naturais (e, em especial, dos animais) da década de 1930: ➢ Após a Revolução de 1930 e durante o “Governo Provisório” – com Getúlio Vargas como seu “Chefe” –, editou-se uma série de “Códigos”, hoje, todos revogados, que regulamentaram o uso dos recursos naturais, como é o caso do Código Florestal. ➢ A Constituição de 1934, por sua vez, no tocante ao meio ambiente, limitava-se, no seu art. 10, a atribuir competência privativa à União e supletiva ou complementar aos Estados, para legislar sobre “riquezas do subsolo, mineração, metalurgia, águas, energia hidrelétrica, florestas, caça e pesca e a sua exploração” ➢ A Constituição de 1937, de modo similar à de 1934, atribuiu competência legislativa privativa à União para dispor sobre os bens do domínio federal, minas, metalurgia, energiahidráulica, águas, florestas, caça e pesca e sua exploração. A Constituição de 1946 e o dever do Estado de proteger “os monumentos naturais, as paisagens e os locais dotados de particular beleza”: ➢ Durante a sua vigência, ocorreu o Golpe Militar de 1964, quando governava o Presidente João Goulart. A partir de então, o seu texto passou a receber uma série de emendas, que a descaracterizaram. Foi suspensa por seis meses pelo Ato Institucional n. 1 e, finalmente, substituída pela Constituição de 1967 (proposta oficialmente pelo Ato Institucional n. 4). Adotando conteúdo praticamente idêntico às Constituições de 1934 e de 1937, analisadas anteriormente, a Constituição de 1946 não inovou no tocante à proteção ambiental. A legislação editada na década de 1960 sob a égide do regime militar: o Os diplomas da década de 1960 carregavam ainda, de modo geral, forte conteúdo exploratório e instrumental dos recursos naturais. As Constituições de 1967 e de 1969 (Emenda n. 1, de 17 de outubro de 1969): o A Constituição de 1967, no tocante à proteção dos recursos naturais, reproduziu o conteúdo dos textos constitucionais precedentes, limitando-se a atribuir competência à União para legislar sobre jazidas, minas e outros recursos minerais, metalurgia, florestas, caça e pesca e águas. o A Constituição de 1969 (Emenda n. 1, de 17 de outubro de 1969), por sua vez, também não avança em nada em termos ecológicos e apenas confirma o perfil conservacionista da época. A fase legislativa sistemático-valorativa da proteção ambiental: A Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81) como o marco normativo inaugural do Direito Ambiental brasileiro moderno: o A década de 1980 foi, nesse caminhar evolutivo, o período legislativo do surgimento e, ao mesmo tempo, da “codificação” do Direito Ambiental brasileiro. o Nesse cenário, a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (LPNMA) – Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, representa o marco inicial do Direito Ambiental brasileiro. o A Lei 6.938/81 alinhou-se com inovações legislativas antecedentes verificadas em outros países e no cenário internacional, como ocorreu, neste último caso, por meio da Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano (1972). o A Lei 6.938/81 identificou, de forma até mesmo surpreendente, a importância da qualidade, do equilíbrio e da segurança ambiental para assegurar proteção adequada à dignidade e à vida humanas. A legislação ambiental do período compreendido entre a Lei 6.938/81 e a CF/1988: A Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) e a criação do microssistema processual coletivo brasileiro: Pouco tempo depois da Lei 6.938/81, a Lei da Ação Civil Pública (Lei 7.347/85) contemplou no seu objeto de tutela a responsabilidade por danos causados ao meio ambiente (art. 1º, I), Reconhecendo o protagonismo da sociedade civil nessa seara. A LACP, em sintonia com a Lei 6.938/81, surgiu num cenário jurídico em que despontava a consagração de “novos” direitos de natureza coletiva, objetivando a apuração da responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. A fase da “constitucionalização” da proteção ambiental (e do Direito Ambiental): A consagração “constitucional” da proteção ecológica na Constituição Federal de 1988 (art. 225) como objetivo e dever do Estado e direito-dever fundamental do indivíduo e da coletividade: • Após a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81), o marco normativo mais significativo para a consolidação do Direito Ambiental e afirmação dos valores ecológicos no sistema jurídico brasileiro foi, sem dúvida, a consagração da proteção constitucional do meio ambiente no âmbito da Constituição Federal de 1988 e do seu paradigmático art. 225. Esse período legislativo (terceira fase legislativa), inaugurado em 1988, é designado por nós de fase da “constitucionalização” da proteção ambiental e do Direito Ambiental. A grande “inovação” trazida por tal período diz respeito à centralidade que os valores e direitos ecológicos passaram a ocupar no ordenamento jurídico brasileiro, o que representa uma “virada ecológica” de índole jurídico- constitucional. • Sobretudo, a atribuição do status jurídico-constitucional de direito-dever fundamental ao direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Fase legislativa “Ecocêntrica” ou dos “Direitos dos Animais e dos Direitos da Natureza” (ou do “Direito Ecológico”): ▪ A discussão em torno de uma nova (quarta) fase do Direito Ambiental, inclusive no sentido de uma transição para um “Direito Ecológico” no Antropoceno, impulsionada pelo reconhecimento dos direitos da Natureza e dos animais não humanos. Entre as principais características dessa nova fase de desenvolvimento do Direito Ambiental, mais alinhado, aliás, com a concepção de um Direito Ecológico, podemos destacar: –novo paradigma jurídico-constitucional biocêntrico ou ecocêntrico; –reconhecimento do valor intrínseco dos animais não humanos e da Natureza (e dos elementos naturais); –atribuição de dignidade aos animais não humanos e à Natureza; –atribuição pela legislação civil do status jurídico “seres sencientes” (e, portanto, não mais “coisas”) dos animais não humanos; –atribuição de direitos aos animais não humanos e à Natureza, inclusive em relação aos elementos naturais (ex.: rios, florestas etc.); –atribuição de personalidade jurídica aos animais não humanos e à Natureza, com o estabelecimento de formas e procedimentos de representação adequada dos seus interesses e direitos, de modo similar ao tratamento jurídico dispensado há séculos às pessoas jurídicas não naturais, como empresas, corporações, instituições públicas. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DE CADA FASE LEGISLATIVA: 1) Fase Fragmentário-Instrumental da Legislação Ambiental –legislação fragmentária e assistemática; –ausência de reconhecimento da autonomia do bem jurídico ambiental; –visão meramente instrumental/utilitarista da proteção dos recursos naturais (ex.: interesses econômicos e saúde pública). 2) Fase Sistemático-Valorativa da Legislação Ambiental –microssistema legislativo ambiental (objetivos, princípios e instrumentos jurídicos especializados); –autonomia do bem jurídico ambiental; –reconhecimento do Direito Ambiental como nova disciplina jurídica; – institucionalização de uma política pública ambiental de expressão nacional. 3) Fase da “Constitucionalização” da Legislação Ambiental (e do Direito Ambiental) – “constitucionalização” do Direito Ambien tal e da proteção ecológica; –novo direito-dever fundamental ao ambiente (art. 225 da CF/1988); –posição de centralidade assumida pela proteção ecológica no nosso sistema jurídico; –clausula pétrea do sistema constitucional; – primeiros sinais de ruptura com a tradição jurídica antropocêntrica clássica (ex. vedação de práticas cruéis contra os animais, proteção de espécies da fauna e da flora ameaçadas de extinção e dos processos ecológicos essenciais). 4) Fase “Ecocêntrica” ou dos “Direitos da Natureza” (e dos Animais Não Humanos) ou do Direito Ecológico? –novo paradigma jurídico-constitucional biocêntrico ou ecocêntrico; - reconhecimento do valor intrínseco dos animais não humanos e da Natureza (e dos elementos naturais); - atribuição de dignidade aos animais não humanos e à Natureza; - atribuição pela legislação civil do status jurídico “seres sencientes” (e, portanto, não mais “coisas”) dos animais não humanos; - atribuição de direitos aos animais não humanos e à Natureza, inclusive com relação aos elementos naturais (ex.: rios, florestas etc.); - atribuição de personalidade jurídica aos animais não humanos e à Natureza, com o estabelecimento de formas e procedimentos de representação adequada dos seus interesses e direitos, de modo similar ao tratamento jurídico dispensado há séculos às pessoas jurídicas não naturais, como empresas, corporações,instituições públicas. OBJETO DO DIREITO AMBIENTAL E O CONCEITO JURÍDICO DE MEIO AMBIENTE: CONCEITO JURÍDICO DE MEIO AMBIENTE; As concepções “restritiva” e “ampla” do bem jurídico ambiental: ▪ Conceito jurídico de meio ambiente, ou seja, os elementos propriamente naturais e os elementos humanos (ou artificiais). ▪ Conceito jurídico de meio ambiente, oscilando entre uma concepção restritiva e outra concepção ampla do bem jurídico em questão. ▪ Tende a separar os componentes ambientais “naturais” e os componentes ambientais “humanos” (sociais, culturais, artificiais etc.). Essa dicotomia pode ser identificada, a título ilustrativo, a partir da comparação entre os conceitos de ambiente vigentes no Direito Ambiental alemão e no Direito Ambiental norte-americano. ▪ Para a concepção restritiva, muito embora os elementos sociais, culturais, artificiais etc. que permeiam a questão ambiental sejam também importantes para a compreensão do fenômeno ambiental, eles não integram o “núcleo” ou essência do Direito Ambiental. ▪ Concepção ampla também é incluída no conceito de meio ambiente, além dos elementos naturais em sentido estrito (fauna, flora, solo, águas, ar, clima etc.), os aspectos paisagísticos e o meio ambiente criado pelo ser humano em âmbito cultural, econômico e social. Componentes ambientais naturais (art. 6º do Capítulo II) – ar, luz, água, solo vivo e o subsolo, flora e fauna – e componentes ambientais humanos (art. 17, “3”, do Capítulo III) – paisagem, patrimônio natural e construído e poluição. A adoção de um conceito amplo de meio ambiente possibilita “exprimir a globalidade das condições envolventes da vida que atuam sobre uma unidade vital”. A opção do legislador (constitucional e infraconstitucional) brasileiro: ▪ O Direito Ambiental brasileiro, por sua vez, acolheu, na regulação jurídica do meio ambiente, um conceito amplo. Conforme pontua Erasmo Ramos, “a definição legal brasileira de meio ambiente foi fortemente influenciada pelo direito anglo-saxônico, precisamente pelo direito norte-americano. Trata-se de uma definição geral que goza de uma abrangência excepcional, englobando, além da fauna, flora e solo, águas, ar, clima, também os aspectos paisagísticos e o meio ambiente criado pelo ser humano em âmbito cultural, econômico e social”. ▪ A poluição: “a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos”. ▪ A consagração no nosso ordenamento constitucional de forte relação entre a proteção ecológica e a proteção social, inclusive sob um marco jurídico socioambiental. ▪ Na doutrina, José Afonso da Silva expressa entendimento no sentido de conferir uma compreensão globalizante ao conceito de meio ambiente, o qual abrangeria toda a Natureza artificial e original, bem como os bens culturais, ou seja, entre outros, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arqueológico. ▪ “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas. A integração busca assumir uma concepção unitária do ambiente, compreensiva dos recursos naturais e culturais”. As dimensões (natural e humana) do bem jurídico ambiental ou ecológico: No Direito Ambiental brasileiro, conforme destacamos no tópico anterior, verifica-se a adoção de uma concepção ampla do bem jurídico ambiental, de modo que a conformação do seu conteúdo se dá a partir da integração entre o meio ambiente natural e o meio ambiente humano (ou social). Meio ambiente natural: ❖ O meio ambiente natural é composto por todos os elementos bióticos (fauna, flora etc.) e abióticos (ar, terra, água, minerais etc.)16 que se encontram originalmente na Natureza, ou seja, independentemente de qualquer intervenção humana no meio ambiente natural. ❖ De tal sorte, seguindo o tema, podemos citar como elementos que integram o meio ambiente natural, entre inúmeros outros: a fauna, a flora, a água, o ar, o solo, os recursos minerais, as florestas, os mares e o patrimônio genético. E, sob tal ótica, podemos considerar como elementos integrantes do meio ambiente natural tanto os diversos componentes da Natureza de forma individualizada (o mico-leão-dourado, a baleia-franca, a areia da praia, a açaizeiro, o açude, os fragmentos de manganês, a pepita de ouro etc.) quanto os ecossistemas ou biomas que o integram (a Floresta Amazônica, o Rio Paraná, o Pantanal Mato-Grossense, a Praia do Rosa etc.). Meio ambiente humano (ou social): Meio ambiente urbano (ou construído): o O meio ambiente urbano (ou construído), por sua vez, é uma dimensão do meio ambiente humano (ou social). O meio ambiente urbano é talvez o melhor exemplo para caracterizar a intervenção humana no meio natural.17 Todo o cenário urbano, independentemente de qualquer juízo de valor sobre a sua beleza arquitetônica ou não, é resultado da construção humana. o Elementos artificiais, que caracterizam a paisagem urbana e são, acima de tudo, resultado na intervenção humana, ou seja, são os elementos artificiais criados ou construídos pelo ser humano, em contraste com os elementos originalmente naturais. o O Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001), de modo similar, veicula fundamentos importantes para a configuração dos contornos normativos do meio ambiente urbano, uma vez que consagra como objetivo da política urbana, ao regulamentar os arts. 182 e 183 da CF/1988, a construção de cidades sustentáveis. Meio ambiente cultural (patrimônio histórico, cultural, turístico, arqueológico e paisagístico): ➢ O meio ambiente cultural, como dimensão do meio ambiente humano, alberga todo o patrimônio histórico, artístico, paisagístico e arqueológico. Os bens ambientais culturais, conforme assinala José de S. Cunhal Sendim, não constituem “realidades sistêmicas integrantes da Natureza, mas sim de realidades culturais”. Meio ambiente do trabalho: ➢ O meio ambiente do trabalho é outra dimensão do meio ambiente humano (ou social). Em regra, podem ser reconduzidas a tal conceito as condições ambientais dos locais de trabalho, especialmente em vista de assegurar aos trabalhadores condições de qualidade, salubridade e segurança ambiental. ➢ O ambiente do trabalho como o “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química, biológica e social que afetam o trabalhador no exercício de sua atividade laboral”. DIMENSÕES DO CONCEITO JURÍDICO DE MEIO AMBIENTE: 1) Meio ambiente natural: – todos os elementos bióticos (fauna, flora etc.) e abióticos (ar, terra, água, minerais etc.) que se encontram originalmente na Natureza, ou seja, independentemente de qualquer intervenção humana; 2) Meio ambiente humano (ou social): a) Meio ambiente urbano (ou construído): prédios, ruas, equipamentos públicos, pontes, projetos arquitetônicos, entre outros elementos artificiais, que caracterizam a paisagem urbana e são, acima de tudo, resultado na intervenção humana, em contraste com os elementos originalmente naturais. b) Meio ambiente cultural: patrimônio histórico, cultural, turístico, arqueológico e paisagístico. c) Meio ambiente do trabalho: as condições ambientais dos locais de trabalho, especialmente em vista de assegurar aos trabalhadores condições de qualidade, salubridade e segurança ambiental. A AUTONOMIA DO DIREITO AMBIENTAL: O RECONHECIMENTO DE UMA NOVA DISCIPLINA JURÍDICA: ➢ A natureza (pública) do Direito Ambiental O Direito Ambiental, no regime das disciplinas jurídicas, situa-se no campo do Direito Público. ➢ “bem de uso comum do povo”. Também consagra o papeldeterminante do Estado, sob a forma de deveres de proteção, na tutela e promoção do bem jurídico ambiental, além, é claro, de reconhecer a natureza de direito fundamental ao direito ao meio ambiente. ➢ O bem jurídico ambiental, conforme tratado em tópico antecedente, caracteriza interesse e direito difuso de titularidade de toda a coletividade, a que todos os indivíduos devem ter acesso, inclusive sob pena de violação ao princípio do acesso equânime aos recursos naturais, bem como que qualquer lesão ou ameaça de lesão a tal bem jurídico repercute na esfera do interesse público (interesse público primário28) e social em termos gerais. ➢ A respeito da natureza difusa do bem jurídico ambiental, como reiterado de forma pacífica pela doutrina e jurisprudência,31 ele assume o status de um bem jurídico indisponível, tendo em vista que a qualidade e o equilíbrio ecológico não se encontram na esfera de disponibilidade de nenhum indivíduo, grupo social ou mesmo do Estado. ➢ Ademais, a relação jurídica ambiental não se trata de uma relação privada entre particulares (pessoas físicas ou jurídicas). Muito embora se admita até mesmo a eficácia do direito fundamental ao meio ambiente nas relações entre particulares, a ponto inclusive de estabelecer deveres jurídicos aos particulares e limitar os seus direitos, a gênese de tal relação está sempre permeada e dirigida pelo interesse público e social. A autonomia do Direito Ambiental: o reconhecimento de uma nova disciplina jurídica: A partir de tal diploma legislativo, a proteção jurídica do bem ambiental passou a receber contornos próprios, desvinculando a tutela ecológica da proteção de outros bens jurídicos que também impunham a proteção de recursos naturais – por exemplo, a propriedade privada, o interesse econômico em geral, a saúde (em especial, pelo prisma da saúde pública). Permitiu que a doutrina38 passasse a estabelecer conceitos próprios para os novos institutos jurídicos de matriz ambiental, edificando uma nova disciplina jurídica com um regime jurídico altamente especializado e diferenciado em relação às demais disciplinas jurídicas até então existentes. A especialização científica da matéria. Isso, por sua vez, levou ao reconhecimento e à consagração de um novo “(micro) sistema legislativo” ecológico. “o Direito Ambiental é um Direito sistematizador, que faz a articulação da legislação, da doutrina e da jurisprudência concernentes aos elementos que integram o ambiente”. Parte da doutrina especializada defende o rompimento com paradigma antropocêntrico empregado pelo Direito Ambiental, em favor de um princípio biocêntrico ou ecocêntrico na regulamentação jurídica do ambiente. A doutrina a questionar a nomenclatura “Direito Ambiental” em favor do nome “Direito Ecológico” para a disciplina jurídica. Em razão do seu objeto e da dimensão dos interesses que visa proteger, o Direito “Verde” difere-se dos demais ramos, militando em defesa da vida no sentido mais amplo possível, inclusive em termos planetários e até mesmo para além do espectro estritamente humano ante os desafios existenciais posto no Antropoceno. A natureza transdisciplinar do Direito Ambiental: ➢ A transversalidade inerente ao Direito Ambiental significa que ele “penetra os diferentes ramos do direito positivo fazendo com que todos, indiferentemente de suas bases teleológicas, assumam a preocupação com a proteção do meio ambiente”. ➢ O Direito Ambiental, nesse cenário, deve ser tomado como um instrumento de ruptura com a abordagem jurídica tradicional, denunciando as limitações metodológicas do sistema científico moderno e apontando para o horizonte da complexidade e da transdisciplinaridade do “novo” pensamento jurídico, notadamente no sentido de resgatar a “concepção holística da Natureza” em substituição à “metáfora moderna do mundo como máquina”. ➢ O Direito Ecológico deve necessariamente fazer as “leis dos homens” dialogar com as “leis da Natureza”. POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (LEI 6.938/81): ▪ A década de 1980 foi, sem dúvida, o período legislativo do surgimento e, ao mesmo tempo, da busca de uma “codificação” do Direito Ambiental brasileiro,1 precisamente com a edição da Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/81). ▪ O bem jurídico ambiental, conforme tratado anteriormente, caracteriza interesse e direito difuso de titularidade de toda a coletividade. ▪ O Direito Ambiental, no regime das disciplinas jurídicas, situa-se no campo do Direito Público. ▪ A Lei da Política Nacional de Gerenciamento Costeiro (Lei 7.661/88) também é bastante elucidativa a respeito do conceito de “bem de uso comum do povo” ao tratar do acesso às praias e a vedação de “privatização” e limitação do uso destas por particulares. Dentre as inúmeras inovações trazidas pela Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (LPNMA) merece destaque a criação do Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA (arts. 6º e 8º). O SISNAMA, com forte repercussão na estrutura do Poder Executivo (federal, estadual e municipal), estabeleceu um novo parâmetro administrativo-organizacional, antes inexistente, para todos os entes federativos que compõem o Estado brasileiro. ✓ Tais inovações legislativas amarraram a proteção ecológica à atuação do Estado, criando novos deveres e obrigações para os entes públicos em matéria ambiental. ✓ No bojo da estrutura do SISNAMA, deu-se também a criação do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA (arts. 6º, II, e 8º, da Lei 6.938/81). Muito embora a atuação do CONAMA tenha sido relativamente tímida nos seus primeiros anos, a sua importância institucional foi ganhando cada vez mais relevância ao longo dos anos, tornando-se órgão da mais alta importância na estrutura do SISNAMA, em especial no tocante ao seu poder regulamentar. ✓ Exigência de licença ambiental e de estudo de impacto ambiental para atividades efetiva ou potencialmente poluidoras (arts. 9º, III e IV, e 10). Na mesma trilha normativa, tem-se, de modo emblemático, a consagração da responsabilidade objetiva do poluidor pela reparação e indenização do dano ecológico causado. ✓ Reconhecimento da legitimidade do Ministério Público para propor ação de responsabilidade civil e criminal em decorrência de danos causados ao meio ambiente. Princípios da PNMA: De modo precursor, a Lei 6.938/81 estabeleceu, no seu art. 2º, o primeiro rol de princípios do Direito Ambiental na legislação brasileira: Princípios da PNMA (art. 2º): I – ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; II – racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; III – planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; IV – proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; V – controle e zoneamento das atividades para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; potencial ou efetivamente poluidoras; VI – incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas; VII – acompanhamento do estado da qualidade ambiental; VIII – recuperação de áreas degradadas; IX – proteção de áreas ameaçadas de degradação; X – educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente. Objetivos da PNMA: A Lei 6.938/81 objetiva, em linhas gerais, estabelecer a Política Nacional do Meio Ambiente, dispondo sobre os seus fins e mecanismos de formulação e aplicação. • Segundo a previsão do art. 2º da Lei 6.938/81, a PNMA tem por objetivo geral “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana”. Objetivos da PNMA (art. 4º): Art. 4º A Política Nacionaldo Meio Ambiente visará: I – à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; II – à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; III – ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; IV – ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; V – à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico; VI – à preservação e restauração dos recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para a manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida; VII – à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. “as atividades empresariais públicas ou privadas serão exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente”. CONCEITOS JURÍDICOS NA LEI 6.938/81 (ART. 3º): Conceitos jurídicos de meio ambiente, recursos naturais, poluição e degradação da qualidade ambiental: Meio ambiente, o qual, segundo disposição expressa do inciso I do dispositivo citado, seria: “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”. Recursos naturais, os quais, segundo o inciso V do art. 3º, compreenderia: “a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora”. O meio ambiente natural, conforme se pode apreender do conceito de recursos naturais consagrado pela Lei 6.938/81, é composto por todos os elementos bióticos (fauna, flora etc.) e abióticos (ar, terra, água, minerais etc.) A degradação da qualidade ambiental, de modo complementar, conforme dispõe o inciso II do art. 3º, corresponderia à “alteração adversa das características do meio ambiente”. Poluição, a qual seria, segundo inciso III do dispositivo citado: “a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos”. Há, nesse contexto, dois grandes subgrupos definidores do bem jurídico ambiental. São eles os elementos naturais e os elementos humanos (sociais, culturais ou artificiais), ou seja, que têm na sua formação a intervenção humana, por exemplo, o patrimônio histórico e cultural, a ordem urbanística, o ambiente laboral, entre outros. Conceito jurídico de poluidor (e o princípio do poluidor-pagador): ▪ O conceito de poluidor compreende: “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”. ▪ O dispositivo citado também assinalou expressamente não apenas a responsabilidade do poluidor direto, mas também do poluidor indireto, ou seja, aquele que indiretamente contribui para a ocorrência do dano ambiental, seja com a sua ação, seja com a sua omissão. ▪ Como objetivo da PNMA “a imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados, e ao usuário, de contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos”. ▪ O princípio em questão objetiva justamente “internalizar” nas práticas produtivas (em última instância, no preço dos produtos e serviços) os custos ecológicos, evitando-se que estes sejam suportados de modo indiscriminado (e, portanto, injustamente) por toda a sociedade. O princípio busca vincular juridicamente o gerador de tais custos ambientais (ou seja, o poluidor), independentemente de ser ele o fornecedor (ou produtor) ou mesmo o consumidor, com o propósito de ele ser responsabilizado e, consequentemente, arcar com tais custos ecológicos, exonerando-se a sociedade, por uma questão de justiça social e ecológica, desse encargo. SISTEMA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (SISNAMA): • Criar um microssistema legislativo voltado à proteção ambiental (que antes não existia). • A criação e adequada estruturação dos órgãos administrativas especializados na matéria ambiental por meio do SISNAMA é uma questão central para o exercício da competência executiva comum dos entes federativos em matéria ambiental (art. 23, III, VI e VII, da CF/1988), conformando um sistema administrativo nacional de proteção ecológica, com o objetivo último de dar efetividade à legislação ambiental. • As políticas públicas ambientais, nesse contexto, expressam a execução das leis e, portanto, estão atreladas à atividade administrativa e ao exercício da competência executiva prevista no art. 23 da CF/1988, inclusive por meio de um dever de cooperação de todos os entes federativos em matéria ambiental, como estabelecido na Lei Complementar 140/2011. O exercício do poder de polícia ambiental, atribuído a todos os entes federativos. Órgão Superior: O Conselho de Governo O Conselho de Governo, conforme dispõe o art. 6º, I, da Lei 6.938/81, possui o status de órgão superior do SISNAMA, com a função de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais. Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA): Atribuições do CONAMA: Como referido anteriormente, a Lei 6.938/81, diferentemente do que fez com os demais órgãos do SISNAMA, consagrou dispositivo específico para tratar da competência e atribuições do CONAMA. ART, 8 – Compete ao CONAMA. Poder normativo do CONAMA: O CONAMA é o órgão colegiado de caráter deliberativo e consultivo do SISNAMA, cabendo a ele regulamentar a legislação ambiental visando à sua execução. ➢ Com a finalidade de “assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida”. Limites ao poder normativo do CONAMA: Há forte limitação no sentido de as resoluções do CONAMA não extrapolarem os limites ditados pela legislação, em especial por se tratar de órgão vinculado à estrutura do Poder Executivo (no caso, ao Ministério do Meio Ambiente). Em outras palavras, o papel do CONAMA não é o de legislar em sentido estrito, mas apenas preencher o espaço regulatório necessário para a mediação entre a lei e a sua execução. Composição do CONAMA: o O CONAMA, segundo estabelece o art. 4º do Decreto 99.274/90, conforme redação dada pelo Decreto nº 6.792/2009, é composto pelo: Plenário, Comitê de Integração de Políticas Ambientais, Câmaras Técnicas, Grupos de Trabalho e Grupos Assessores. o O dispositivo prevê, como mencionado anteriormente, o estabelecimento de uma espécie de “loteria” para a escolha das entidades ambientalistas, o que permite, por exemplo, que entidades ambientalistas inexperientes e sem representatividade em âmbito nacional venham a ocupar tais vagas. o A limitação ao mandato de um ano e a vedação expressa de recondução previstos no mesmo dispositivo também reforçam esse cenário, impedindo um trabalho contínuo e articuladodas entidades ambientalistas no CONAMA. Presidência do CONAMA: • É exercida hoje pelo Ministro do Meio Ambiente. Participação e controle social no âmbito do CONAMA: • O CONAMA constitui importante instância de participação social e de cooperação entre governo e sociedade, propiciando o debate de temas ambientais relevantes entre representantes da União, dos Estados e Municípios, da iniciativa privada e de organizações da sociedade civil. • O CONAMA é constituído de representantes de cinco segmentos diretamente interessados na temática ambiental: governo federal, governos estaduais, governos municipais, setor empresarial e sociedade civil. Órgãos executores: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – Instituto Chico Mendes (ICMBio): Histórico da criação do IBAMA: O Governo Federal lançou o chamado “Programa Nossa Natureza”, por meio do Decreto 96.944/88, com a criação de seis Grupos de Trabalho Interministeriais, os quais tinham como função fazer uma reforma administrativa com o objetivo de aprimorar a gestão em matéria ambiental. O IBAMA foi criado a partir da fusão da SEMA com outros órgãos administrativos federais. A legislação em questão passou a denominar o IBAMA como “órgão executor” (e não mais “órgão central”) do SISNAMA, com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente. Papel e atribuições do IBAMA no âmbito do SISNAMA: O IBAMA configura-se, sem dúvida, como o órgão ambiental, na estrutura administrativa federal, mais importante de todos os tempos e com mais poder de enfrentamento da degradação e poluição ambiental, inclusive em moldes similares à Agência de Proteção Ambiental norte-americana criada em 1970. O IBAMA constitui-se de autarquia federal dotada de personalidade jurídica de direito público, autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de: Atribuições do IBAMA: I – exercer o poder de polícia ambiental; II – executar ações das políticas nacionais de meio ambiente, referentes às atribuições federais, relativas ao licenciamento ambiental, ao controle da qualidade ambiental, à autorização de uso dos recursos naturais e à fiscalização, monitoramento e controle ambiental, observadas as diretrizes emanadas do Ministério do Meio Ambiente; III – executar as ações supletivas de competência da União, de conformidade com a legislação ambiental vigente. IBAMA e poder de polícia ambiental: Exercer, entre outras atribuições relevantes, o poder de polícia ambiental, ou seja, realizar a fiscalização do cumprimento da legislação ambiental e, quando for o caso, estabelecer sanções administrativas aos poluidores (públicos e privados). ✓ De modo complementar, notadamente com relação à autoexecutoriedade no exercício do poder de polícia pelo IBAMA, registra-se que Instrução Normativa 03/2018 do IBA MA, a qual estabelece os procedimentos para a aplicação da medida cautelar de destruição ou inutilização de produtos, subprodutos ou instrumentos utilizados na prática da infração ambiental, no âmbito das ações de fiscalização ambiental. IBAMA e licenciamento ambiental: ✓ O licenciamento ambiental apresenta-se como atribuição fundamental do IBAMA, o qual é o órgão administrativo federal mais importante na implementação da legislação ambiental, inclusive servindo de parâmetro e modelo administrativo organizacional e procedimental para os órgãos ambientais estaduais e municipais. A criação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio): Instituto Chico Mendes (ICMBio), como autarquia federal dotada de personalidade jurídica de direito público, autonomia administrativa e financeira, vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de: Atribuições do ICMBio (art. 1º da Lei 11.516/2007): I – executar ações da Política Nacional de Unidades de Conservação da Natureza, referentes às atribuições federais relativas à proposição, implantação, gestão, proteção, fiscalização e monitoramento das unidades de conservação instituídas pela União; II – executar as políticas relativas ao uso sustentável dos recursos naturais renováveis e ao apoio ao extrativismo e às populações tradicionais nas unidades de conservação de uso sustentável instituídas pela União; III – fomentar e executar programas de pesquisa, proteção, preservação e conservação da biodiversidade e de educação ambiental; IV – exercer o poder de polícia ambiental para a proteção das unidades de conservação instituídas pela União; V – promover e executar, em articulação com os demais órgãos e entidades envolvidos, programas recreacionais, de uso público e de ecoturismo nas unidades de conservação, onde estas atividades sejam permitidas. “não exclui o exercício supletivo do poder de polícia ambiental pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA” Será administrado por um Presidente e quatro Diretores. Diferença de atribuições entre IBAMA e Instituto Chico Mendes: A criação do Instituto Chico Mendes (ICMBio) ocasionou o “desmembramento” de atribuições antes conferidas ao IBAMA, apenas com a ressalva feita pelo parágrafo único do art. 1º referido anteriormente no sentido de assegurar o exercício do poder de polícia ambiental “supletivo” do IBAMA com relação às unidades de conservação instituídas pela União poderá ser realizado. ❖ O Instituto Chico Mendes passa, portanto, a cumprir papel que antes era reservado ao IBAMA – fiscalização e exercício do poder de polícia ambiental – em matéria de conservação da biodiversidade, especialmente no tocante à Política Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Lei 9.985/2000). Legitimidade do IBAMA e do ICMBio para propor ação civil pública: O IBAMA encontra-se legitimado a propor ação civil pública, integrando o rol de legitimados ativos do art. 5º da Lei da Ação Civil Pública. Órgãos locais: ▪ Os órgãos ou entidades ambientais municipais Como decorrência lógica da estrutura federativa do Estado brasileiro adotado em sede constitucional, a Lei 6.938/81 também se encarregou de assegurar na estrutura do SISNAMA a existência de órgãos ambientais no âmbito municipal, inclusive com o propósito de assegurarem, por exemplo, tanto o exercício do poder de política ambiental quanto o licenciamento ambiental de empreendimentos na esfera local. INSTRUMENTOS DA POLÍTICA NACIONAL DO MEIO AMBIENTE: Art. 9º São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; II – o zoneamento ambiental; (Regulamento) III – a avaliação de impactos ambientais; IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras; V – os incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental; VI – a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas; (Redação dada pela Lei nº 7.804/89.) VII – o sistema nacional de informações sobre o meio ambiente; VIII – o Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumentos de Defesa Ambiental; IX – as penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental; X – a instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA; (Incluído pela Lei nº 7.804/89.) XI – a garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes; (Incluído pela Lei nº 7.804/89.) XII – o Cadastro TécnicoFederal de Atividades Potencialmente Poluidoras e/ou Utilizadoras dos Recursos Ambientais; (Incluído pela Lei nº 7.804/89.) XIII – instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros. Zoneamento ambiental (ou zoneamento ecológico-econômico) : ▪ O zoneamento ambiental estabelecido no art. 9º, II, como instrumento da PNMA, foi regulamentado por meio do Decreto 4.297/2002, o qual estabeleceu os critérios para o Zoneamento Ecológico-Econômico do Brasil (ZEE) ▪ Instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas, estabelece medidas e padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a conservação da biodiversidade, garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população”. ▪ “o ZEE tem por objetivo geral organizar, de forma vinculada, as decisões dos agentes públicos e privados quanto a planos, programas, projetos e atividades que, direta ou indiretamente, utilizem recursos naturais, assegurando a plena manutenção do capital e dos serviços ambientais dos ecossistemas. Parágrafo único. O ZEE, na distribuição espacial das atividades econômicas, levará em conta a importância ecológica, as limitações e as fragilidades dos ecossistemas, estabelecendo vedações, restrições e alternativas de exploração do território e determinando, quando for o caso, inclusive a relocalização de atividades incompatíveis com suas diretrizes gerais”. Licenciamento e revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras: ❖ “A construção, instalação, ampliação e funcionamento de estabelecimentos e atividades utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes, sob qualquer forma, de causar degradação ambiental dependerão de prévio licenciamento ambiental”. ❖ De modo complementar, o § 1º do art. 10 assinala que “os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão publicados no jornal oficial, bem como em periódico regional ou local de grande circulação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental competente”. ❖ “compete ao IBAMA propor ao CONAMA normas e padrões para implantação, acompanhamento e fiscalização do licenciamento previsto no artigo anterior, além das que forem oriundas do próprio CONAMA”. ❖ “compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada”. Incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção de tecnologia, voltados para a melhoria da qualidade ambiental: Assim como a evolução tecnológica e científica está na base da crise ecológica contemporânea, não há dúvida de que ela também está na sua resolução e superação, por exemplo, com o desenvolvimento e a adoção de tecnologias limpas e não poluentes. O Poder Executivo incentivará as atividades voltadas ao meio ambiente, visando: I – ao desenvolvimento, no País, de pesquisas e processos tecnológicos destinados a reduzir a degradação da qualidade ambiental; II – à fabricação de equipamentos antipoluidores; III – a outras iniciativas que propiciem a racionalização do uso de recursos ambientais. O dever do Estado de priorizar o investimento científico em áreas capazes de contribuir com a produção de novas técnicas “limpas” ou “amigas do ambiente”. A criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público federal, estadual e municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de relevante interesse ecológico e reservas extrativistas: ✓ Dever do Estado, “definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção”. Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente (SINIMA) O inciso VII do art. 9º estabelece o Sistema Nacional de Informações sobre o Meio Ambiente (SINIMA). A criação do SINIMA é expressão tanto do dever de informação ambiental do Estado quanto do direito à informação ambiental titularizado pelos cidadãos. Cadastro Técnico Federal de Atividades e Instrumento de Defesa Ambiental: ❖ “(...) registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a consultoria técnica sobre problemas ecológicos e ambientais e à indústria e comércio de equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados ao controle de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras”. Instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA): o É um instrumento extremamente relevante não somente como subsídio para as políticas públicas ambientais em todos os planos federativos, mas também como expressão do direito à informação ambiental de titularidade dos cidadãos. Garantia da prestação de informações relativas ao Meio Ambiente, obrigando-se o Poder Público a produzi-las, quando inexistentes: ➢ Trata do direito de acesso à informação ambiental titularidade tanto pelo indivíduo quanto coletivamente. ➢ Incumbe ao poder público assegurar a publicidade do estudo prévio de impacto ambiental para as instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente (IV), bem como “promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente”. Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e/ou Utilizadoras dos Recursos Ambientais: ✓ “(...) registro obrigatório de pessoas físicas ou jurídicas que se dedicam a atividades potencialmente poluidoras e/ou à extração, produção, transporte e comercialização de produtos potencialmente perigosos ao meio ambiente, assim como de produtos e subprodutos da fauna e flora”. https://jigsaw.minhabiblioteca.com.br/books/9788530991197/epub/OEBPS/Text/09_toc.xhtml#rch09-h1-4-7 Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA): ▪ A Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental (TCFA), cujo fato gerador é o exercício regular do poder de polícia conferido ao IBAMA para controle e fiscalização das atividades potencialmente poluidoras e utilizadoras de recursos naturais. ▪ É devida por estabelecimento. ▪ Caso o estabelecimento exerça mais de uma atividade sujeita à fiscalização, pagará a taxa relativamente a apenas uma delas, pelo valor mais elevado (§ 3º). São isentas do pagamento da TCFA, segundo o art. 17-F, as entidades públicas federais, distritais, estaduais e municipais, as entidades filantrópicas, aqueles que praticam agricultura de subsistência e as populações tradicionais. ▪ Os recursos arrecadados com a TCFA, por sua vez, terão utilização restrita em atividades de controle e fiscalização ambiental. ▪ As ações de licenciamento, registro, autorizações, concessões e permissões relacionadas à fauna, à flora e ao controle ambiental são de competência exclusiva dos órgãos integrantes do Sistema Nacional do Meio Ambiente. ▪ O IBAMA a celebrar convênios com os Estados, os Municípios e o Distrito Federal para desempenharem atividades de fiscalização ambiental, podendo repassar-lhes parcela da receita obtida com a TCFA. ▪ Constitui crédito para compensação com o valor devido a título de TCFA, até o limite de sessenta por cento e relativamente ao mesmo ano, o montante efetivamente pago pelo estabelecimento ao Estado, ao Município e ao Distrito Federal em razão de taxa de fiscalização ambiental. Instrumentos econômicos, como concessão florestal, servidão ambiental, seguro ambiental e outros:
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