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Resenha Crítica do Filme Capitão Fantástico – Por Braz Luiz Marino de Abreu, Aluno de Psicologia da Universidade Veiga de Almeida, para a Disciplina de Psicologia da Infância e Adolescência. O filme “Capitão Fantástico”, do diretor Matt Ross, de 2016, conta a história de um pai e uma mãe que se isolam completamente da aglomeração da cidade, junto com os seis filhos, para educá-los conforme os ideários da sociedade perfeita de Noam Chomsky. A mãe está presente no filme, principalmente, através de lembranças do marido, pois, logo no início, é tratado o suicídio dela. Aliás, a trama maior acontece por uma empreitada da família em fazer o funeral conforme desejo da mãe e não dos avós maternos. A família Cash procura viver apenas com o que é necessário, está ausente das redes sociais e sequer utiliza aparelhos eletrônicos. Os integrantes possuem uma rotina fora dos padrões convencionais dos centros urbanos: caçam, cozinham e plantam somente o suficiente para a sobrevivência. O cuidado com a saúde física também é algo muito marcante nos hábitos familiares, mas com escaladas em penhascos ou colinas, corrida ao topo do monte, lutas e técnicas de defesa pessoal. Buscam uma vida contemplativa, com meditação para manter a saúde emocional e mental também. O pesquisador americano Richard Louv reuniu argumentos sobre a necessidade de o ser humano estreitar seus laços com a natureza, reforçando que crianças melhoram e muito o desempenho escolar e suas vivências em família quando entram em contato com as áreas verdes urbanas, reduzindo inclusive sintomas de déficit de atenção. Segundo ele, precisaríamos modernizar o conceito de urbanismo, mantendo o meio ambiente mais próximo de nós para compensar os efeitos mentais e físicos das inovações tecnológicas. À medida que as crianças passam menos tempo em áreas naturais, seus sentidos ficam limitados, no sentido fisiológico e psicológico. Acrescente a isso uma infância exageradamente organizada e a desvalorização das brincadeiras espontâneas. Isso tem enormes consequências para as capacidades de a criança se autorregular. Isso reduz a riqueza das experiências humanas e contribui para uma condição que chamo de “transtorno de déficit de natureza”. Criei esse termo como uma expressão forte para descrever o que muitos de nós acreditam que sejam os custos da alienação da natureza. Entre esses prejuízos estão um menor uso dos sentidos, dificuldades de atenção, índices elevados de doenças mentais, maior taxa de miopia, obesidade adulta e infantil, deficiência de vitamina D e outros problemas.(LOUV, 2016) O filme nos leva ao questionamento dos hábitos da sociedade contemporânea: bombardeada por anúncios publicitários, altamente consumista, pautada na intensa descartabilidade de produtos, na superficialidade do conhecimento, totalmente ligada ao mundo virtual/digital sem priorizar as relações, os sentimentos e o diálogo e com um nível de agressividade que não é tão consciente assim. Interessante que esse último ponto me chamou muita atenção porque a família Cash é formada por pessoas libertárias e não revoltadas, sem espaço para ódio. O espaço para o amor e o respeito a opinião do outro estão presentes, mesmo com a austeridade de Ben em conduzir a vida dos filhos. O choque cultural é muito claro no filme com as diferenças de condutas entre os primos, por exemplo, e o espanto das crianças ao observar pessoas obesas nas ruas. Para Vigotsky, precisamos lidar com as funções superiores humanas pelas vivências culturais e sociais também. A linguagem e o pensamento têm origem social e a cultura faz parte do desenvolvimento humano (BOCK, 2001). Pode-se refletir, nesse sentido, as condutas distintas das crianças entre si. A educação doméstica versus a escolar ganha notoriedade e, mesmo com as críticas que os próprios filhos de Ben fazem, não há como negar que o conhecimento foi transmitido e também refletido com base crítica. Nesse aspecto, o personagem principal ganhou muitos pontos na minha concepção quando reflete sobre a educação dada aos filhos e a segurança deles. Chegar ao equilíbrio de se estabelecer numa casa e levar as crianças à escola, mantendo os princípios que acreditava, foi uma surpresa muito feliz para mim. Nossas atitudes podem ser modificadas a partir de novas informações, novos afetos ou novos comportamentos ou situações. Assim, podemos mudar nossa atitude em relação a um determinado objeto porque descobrimos que ele faz bem à saúde ou nos ajuda de alguma forma. (BOCK et al., 2001, pag. 180) Refletindo o filme a partir Jean Piaget, ressalto que a educação de Ben não privilegiava diferentes estratégias para os filhos diante das faixas etárias distintas. Obviamente, sabemos que cada criança irá lidar com tal perspectiva em conformidade com o que consegue ou não alcançar e elaborar. Além disso, destaco o seguinte: Segundo Piaget, cada período é caracterizado por aquilo que de melhor o indivíduo consegue fazer nessas faixas etárias. Todos os indivíduos passam por todas essas fases ou períodos, nessa sequência, porém o início e o término de cada uma delas dependem das características biológicas do indivíduo e de fatores educacionais, sociais. Portanto, a divisão nessas faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida. (BOCK et al., 2001, pag. 131) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LOUV, Richard. Estamos sofrendo o transtorno de déficit de natureza. Entrevista concedida à Alexandre Mansur. Revista Época, Blog do Planeta, 2016. Disponível em: https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2016/06/estamos- sofrendo-o-transtorno-de-deficit-de-natureza.html. Acesso em 11 de abril de 2020. BOCK, a. m. et al. Psicologias: uma introdução ao estudo da psicologia. são Paulo: saraiva, 2001. Disponível em: https://petpedufba.files.wordpress.com/2016/02/bock_psicologias- umaintroduc3a7c3a3o-p.pdf (Links para um site externo.) Acesso em 10 de abril de 2020. https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2016/06/estamos-sofrendo-o-transtorno-de-deficit-de-natureza.html https://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/blog-do-planeta/noticia/2016/06/estamos-sofrendo-o-transtorno-de-deficit-de-natureza.html https://petpedufba.files.wordpress.com/2016/02/bock_psicologias-umaintroduc3a7c3a3o-p.pdf https://petpedufba.files.wordpress.com/2016/02/bock_psicologias-umaintroduc3a7c3a3o-p.pdf