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87 Revista de Educação Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 Flavio Marques Lopes Universidade Estadual de Goiás - UEG flaviomarx@hotmail.com Andréia Neves Nunes Faculdade Anhanguera de Anápolis andreia_nevesnunes@hotmail.com REUTILIZAÇÃO DE MATERIAIS RECICLÁVEIS PARA INCENTIVO À EDUCAÇÃO AMBIENTAL E AUXÍLIO AO ENSINO DIDÁTICO DE CIÊNCIAS EM UM COLÉGIO ESTADUAL DE ANÁPOLIS-GO RESUMO A forma como a sociedade se relaciona com o meio ambiente está diretamente ligada à qualidade de vida da mesma. Dessa forma, é função da escola usar intensamente o tema “meio ambiente” de forma transversal por meio de ações reflexivas e práticas como a reutilização de materiais. Uma problemática também conhecida pela grande maioria das escolas públicas é a dificuldade que as mesmas passam por falta de material didático para o melhoramento do ensino escolar. O presente trabalho foi realizado no Colégio Estadual Padre Fernando Gomes de Melo, que teve como principal objetivo a montagem de modelos didáticos reutilizando materiais recicláveis. Os resultados mostram que a maioria dos alunos aprovou a criação dos modelos didáticos, tanto pela importância dos mesmos para o auxílio no desempenho do conteúdo em sala de aula, quanto ao incentivo à preservação do meio ambiente. Palavras-Chave: educação ambiental; reutilização de materiais; materiais didáticos. ABSTRACT The way society relates to the environment is directly linked to quality of life the same. Thus, a function of school use intensively the theme "environment" transversely through reflexive actions and practices such as reusing materials. A problem also known by the vast majority of public schools is the difficulty that they are due to lack of teaching materials for the improvement of school education. This project was conducted in the Padre Fernando Gomes de Melo State College, which had as its main objective, the assembly of didactic models reusing recyclable materials. The results show that the vast majority of students endorsed the creation of didactic models, both for the importance of them for assistance in the performance of the content in the classroom, as to encourage the preservation of the environment. Keywords: environmental education; reuse of materials; teaching materials. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 7/6/2010 Avaliado em: 21/2/2011 Publicação: 15 de outubro de 2011 88 Reutilização de materiais recicláveis para incentivo à Educação Ambiental e auxílio ao ensino didático de ciências em um colégio estadual de Anápolis-GO Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 1. INTRODUÇÃO A partir da Revolução Industrial iniciou-se o processo de urbanização, provocando uma grande imigração do homem do campo para a cidade. Observou-se assim um grande crescimento populacional nas áreas urbanas. De acordo com Pontin (1998), as cidades são os maiores símbolos de longo processo do domínio do homem sobre as limitações impostas pela natureza, conhecida como progresso. A partir de então, os impactos ambientais passaram a ter um elevado grau de magnitude, devido aos mais diversos tipos de poluição, dentre eles a poluição gerada pelo lixo. O lixo é considerado como um dos maiores poluentes ambientais, tanto no que se refere aos impactos causados, quanto por aparecer como uma das agressões mais evidentes na cidade. A destinação inadequada ocasiona problemas relativos à saúde e à contaminação ambiental, além de referir-se às questões sociais, pois muitas pessoas sobrevivem direta ou indiretamente da renda advindo do lixo urbano (FIGUEIREDO, 1995; BERRIOS, 1996). A preocupação com o aumento dos resíduos gerados pela população, fez com que a sociedade mobilizasse, exigindo soluções e mudanças. Uma solução encontrada para esta questão é a reutilização desse lixo, por meio da reciclagem. De acordo com Kobarg (2004), a reciclagem ou reutilização é o resultado de uma série de atividades pelas quais materiais que se tornariam descartáveis são desviados, coletados, separados e processados para serem usados como matéria-prima na manufatura de novos produtos, trazendo-os de volta ao ciclo produtivo, dessa forma a reutilização é uma das formas mais viáveis para minimização dos problemas provenientes do lixo, além de contribuir para o desenvolvimento sustentável. Nos últimos tempos a Educação Ambiental deixou de ser uma preocupação de poucos e passou a ser uma abordagem dirigida a toda sociedade, pois toda população é afetada pelas conseqüências do desequilíbrio ambiental. Os problemas ambientais tornaram-se uma questão global, também por tentar levar à toda população uma consciência crítica sobre a conservação e melhoria do planeta por meio de um processo pedagógico participativo, que busca soluções para tentar amenizar os problemas ambientais e promover o desenvolvimento de habilidades, a formação de atitudes e uma conduta ética e condizente ao exercício da cidadania e conservação do meio ambiente (MACHADO, 2007). Segundo Dias, (1994) Educação Ambiental é: O resultado de uma reorientação e articulação de diversas disciplinas e experiências educativas que facilitam a percepção integrada do meio ambiente tornando possível Flavio Marques Lopes, Andréia Neves Nunes 89 Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 uma ação mais racional e capaz de responder às necessidades sociais. O conjunto de ações educativas voltadas para a compreensão da dinâmica dos ecossistemas, considerando os efeitos da relação do homem com o meio, a determinação social, a evolução histórica dessa relação. (DIAS, 1994). A escola é o espaço social e o local onde o aluno dará seqüência ao seu processo de socialização. Comportamentos ambientalmente corretos devem ser aprendidos na prática, por meio de conscientização ambiental no cotidiano da vida escolar, contribuindo para a formação de cidadãos responsáveis. A conscientização ambiental torna-se um processo pedagógico de educação, onde se visa à participação e compreensão dos alunos sobre os problemas ambientais. É indiscutível a necessidade de conservação e defesa do meio ambiente, para tanto, a escola precisa conscientizar seus alunos, para que esta tomada de consciência se perpetue para as futuras gerações, é importante que se trabalhe a educação ambiental dentro e fora da escola, elaborando e inserindo projetos que envolvam os alunos (SANTOS, 2007). Embora sabendo que todas as pessoas devem ser educadas e instruídas a participar da educação ambiental, as crianças formam um grupo de suma importância, por estarem em fase de desenvolvimento há uma maior chance de alcançar uma consciência ambiental. Um bom trabalho com as crianças nas escolas enfatizando a preservação do meio ambiente é um método educativo que contribui para construção da sociedade e para um trabalho de qualidade sobre Educação Ambiental (CARVALHO, 2001). De acordo com Silva (2000), “A escola, considerada como um espaço estruturado de produção e socialização de conhecimento e cotidianização de parte do pensar histórico/cultural é o lugar, onde o indivíduo pode se constituir como sujeito das relações sociais historicamente já admitidas, sistematizadas emergentes, e se desenvolver a medida que internaliza criticamente o seu meio social, fundamentalmente no domínio da cultura, como uma das formas de transformação social” O governo dispõe de programas educacionais para melhorar o ensino nas escolas públicas como implantação de internet nas escolas, programas de educação avançada e avaliação de livros didáticos. Contudo a falta de materiais didáticos voltados ao público escolar ainda é um grande problema apontado por professoresdo ensino básico. A maioria das escolas públicas não possuem materiais de auxilio na aprendizagem, como painéis, modelos de peças aplicadas às disciplinas ou outros meios didáticos. Segundo Schimitz (1993), o material didático pode ser considerado a conexão entre as palavras e a realidade concreta. Sua principal função é auxiliar o aluno a pensar, possibilitando o desenvolvimento de sua imaginação e de sua capacidade de estabelecer analogias. É aproximar o aluno da realidade e auxiliá-lo a tirar dela o que contribui para sua aprendizagem. Os alunos perdem muito por não poderem usufruir deste tipo de material, 90 Reutilização de materiais recicláveis para incentivo à Educação Ambiental e auxílio ao ensino didático de ciências em um colégio estadual de Anápolis-GO Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 pois muitas vezes o estudo e o desenvolvimento ficam voltados somente para as aulas teóricas devido à escassez de materiais didáticos (SANTOS et al., 2004). Para que possa funcionar a interação escola e Educação ambiental, juntamente com o incentivo didático, várias técnicas de ensino podem ser aplicadas, como por exemplo a reutilização de materiais recicláveis na escola. Essa idéia fica ainda mais prática e interessante se houver uma junção de reutilização de materiais, criando modelos de estudo com material reciclado, que possa ser útil em sala de aula, ajudando no ensino e na didática dos alunos. A construção desses modelos com materiais recicláveis leva aos alunos a terem consciência da devasta degradação ambiental, além de levar o discente a um melhor desempenho em sala de aula, pois com os modelos eles podem analisar visualmente o que eles só possuem na teoria (FREITAS et al., 2008). Neste trabalho, o principal objetivo é de ensinar aos alunos de forma prática como reaproveitar materiais recicláveis, utilizando os mesmos no auxílio prático em sala de aula, conscientizando-os da importância deste projeto, tanto para escola, quanto para a sociedade e principalmente para o meio ambiente. O principal interesse é atingir a conscientização sobre quanto se economiza e deixa-se de poluir reutilizando os materiais e como é importante para a educação escolar o uso de materiais didáticos. 2. OBJETIVOS GERAIS Desenvolver materiais didáticos, utilizando materiais reciclados e avaliar a aceitabilidade do material e o nível de conscientização ambiental pelos alunos do 8° ano do ensino fundamental do Colégio Estadual Padre Fernando Gomes de Melo localizada na cidade de Anápolis – GO. 3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS • Montar modelos didáticos reutilizando materiais recicláveis, para auxílio nas aulas de ciências. • Verificar a importância da reutilização de materiais recicláveis para a preservação do meio ambiente por meio de Educação Ambiental. • Avaliar a aplicabilidade do material didático desenvolvido. 4. MATERIAIS E MÉTODOS O desenvolvimento dos modelos de célula vegetal, aparelho respiratório e aparelho urinário, foi realizado no Colégio Estadual Padre Fernando Gomes de Melo, no Bairro São Sebastião na cidade de Anápolis, GO. O projeto foi realizado com a turma de 8° ano Flavio Marques Lopes, Andréia Neves Nunes 91 Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 regular do ensino fundamental composta por 25 alunos. Os alunos foram divididos em três grupos, e cada grupo fabricou um modelo de célula vegetal, do aparelho respiratório e do aparelho urinário. Na montagem das células vegetais, foram utilizados vários materiais. A parede celular que é constituída por celulose e carboidrato que tem a função de conferir resistência e proteção para célula, foi confeccionada com papelão, jornais e cola. Tubetes de papel higiênico, tecidos, revistas e cola serviram para montagem das mitocôndrias, que é a organela responsável para produção de energia para o metabolismo celular. O núcleo, que é uma estrutura que abriga o material genético, foi representada por esferas feitas de papel crepom colorido. Os retículos endoplasmáticos que são formados por aglomerados de membranas, onde ocorrem síntese e transporte de proteínas, foram feitos de estruturas de tubetes de papel higiênico. As peças que representavam o complexo de Golgi, que se consiste em um sistema de membranas lisas que formam vesículas e sáculos achatados responsáveis pelo armazenamento de proteínas, sínteses de carboidratos e exportação de substâncias, foram confeccionadas utilizando papel branco. Os cloroplastos, que são plastos verdes responsáveis pela realização da fotossíntese foram confeccionados com recortes de garrafas PET (Politereftalato de etileno), juntamente com tampinhas. Os vacúolos, que são estruturas saculiformes, que promovem armazenamento de substâncias e a regulação osmótica das células, foram feitos de papelão. E para finalização espumas foram utilizadas na construção do citoplasma, que se consiste por um líquido gelatinoso onde estão inseridas todas as organelas da célula (PAULINO, 2005). Para montagem dos sistemas respiratórios, foram utilizadas garrafas PET, representando a caixa torácica, que é uma cavidade compreendida pela curvatura das costelas onde se encontram os pulmões e o coração. Canudinhos foram utilizados para representação dos brônquios, que são dois tubos curtos que são reforçados por anéis de cartilagem que tem a função de conduzir ar para os pulmões. Para representar os pulmões que são dois órgãos esponjosos que tem a função de fazer as trocas gasosas e abastecer o sangue do corpo com oxigênio, foram utilizadas bexigas de látex pequenas. Foi utilizada uma bexiga grande de látex para representar o diafragma, que é um músculo extenso que separa a cavidade torácica da abdominal, que tem a função dedurante a inspiração se contrair e ao distender-se aumentar a cavidade do tórax auxiliando no processo da respiração (AMABIS; MARTHO, 2004). No processo de montagem do aparelho urinário foram utilizados papelão para montagem da estrutura, tubetes de papel higiênico para esquematizaram os rins que são órgãos de cor avermelhada, com forma de grão de feijão, que tem a função de filtrar o 92 Reutilização de materiais recicláveis para incentivo à Educação Ambiental e auxílio ao ensino didático de ciências em um colégio estadual de Anápolis-GO Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 sangue removendo os resíduos tóxicos produzidos nos tecidos. Canudos plásticos simbolizaram os ureteres, que são tubos que conduzem a urina da pelve à bexiga urinária, e também a uretra que é um tubo que comunica a bexiga urinária ao meio externo. A bexiga urinária, que se consiste em uma bolsa de parede muscular com função de armazenamento da urina, foi representada por uma bexiga de látex (AMABIS; MARTHO, 2004). 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO A confecção dos materiais didáticos promoveu o desenvolvimento dos alunos de maneira responsável e coletiva, levando-os a se conscientizarem sobre a importância da reciclagem e do uso dos materiais desenvolvidos no aprendizado complementar. Durante o processo da confecção dos modelos didáticos os alunos se mostraram bastante envolvidos na atividade e os mesmos se interagiam, fazendo questionamentos de como funcionava cada peça montada e de quanto a mesma era importante para o ensino e para preservação do meio ambiente. Cada pergunta era respondida de forma que o aluno esclarecesse todas suas dúvidas em relação ao modelo e aplicabilidade do mesmo. Concluídas as atividades, foi discutido em sala de aula por meio de uma conscientização, a ligação que o havia entre a elaboração daquele projeto com a preservação ao meio ambiente. Durante a conversa com os alunos foi explicado para os mesmos o quanto era importante aquele tipo de ação, pois a cada modelo confeccionado havia uma quantidade de lixo que não estava sendo depositada no meio ambiente, que todos os alunos em conjuntoestavam cooperando para um ambiente mais limpo e menos poluído, concluindo para os mesmos a importância da Educação Ambiental no espaço escolar. A importância do projeto para o desenvolvimento escolar durante as aulas de ciências também foi abordada durante a conversa com os alunos, foi colocado aos mesmos o quanto os modelos confeccionados poderia ajudá-los na compreensão do conteúdo em sala de aula. Ao final de todo processo foi distribuído aos alunos um questionário, com perguntas avaliativas com o intuito de captar o conhecimento e o desenvolvimento que os mesmos obtiveram após a confecção dos materiais didáticos. Os modelos desenvolvidos a partir de materiais recicláveis foram agrupados de acordo com a aplicação do conteúdo da disciplina de ciências, aplicado pela professora regente da sala de aula. Flavio Marques Lopes, Andréia Neves Nunes 93 Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 No desenvolvimento dos modelos das células vegetais (Figura 1) pode ser observado como os alunos encontram dificuldades até mesmo em relação aos nomes das organelas, pois os mesmos não possuem visão sobre formas e funcionamento celular. As células por terem características mais complexas estimularam bastante os alunos durante a confecção dos modelos, pois a cada organela confeccionada os mesmos conseguiam ter uma melhor visão de como é a fisiologia humana, já que a escola não disponibiliza de aparelhos como microscópios e modelos prontos como relatado pelos alunos e professores da escola. • Aluno 1: Não conseguimos entender muito bem o que a professora explica, porque não temos nenhum material de demonstração. • Aluno 2: Foi muito bom aprender a montar a célula vegetal, agora dá para saber o nome de cada uma das organelas e entender melhor como elas funcionam. • Aluno 3: É muito interessante e importante poder entender melhor como funciona o corpo humano. Segundo Ribeiro (2004), a ausência de material didático especializado torna limitante o aprendizado em geral, principalmente na área morfológica. Célula Vegetal - Na Figura 1 pode ser visualizado a célula vegetal desenvolvida pelos alunos, vários ângulos das organelas e células completas podem ser observadas. Figura 1. Célula Vegetal. Visão frontal (A) e (D) de uma célula vegetal; (B) cloroplasto de uma célula vegetal fabricado com garrafa PET e tampinhas; (C) núcleo e retículo endoplasmático, construído com papel A C D E F B 94 Reutilização de materiais recicláveis para incentivo à Educação Ambiental e auxílio ao ensino didático de ciências em um colégio estadual de Anápolis-GO Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 e tubete de papel higiênico; (E) vacúolo celular confeccionado com tubetes de papel higiênico; (F) mitocôndria construída com tubetes de papel higiênico, recorte de revistas e retalhos de pano. Sistema Respiratório - Na Figura 2, pode-se observar as fotografias do parelho respiratório, criados a partir de garrafas pet, bexigas e canudos, exemplificando assim, o funcionamento dos pulmões e do diafragma. Figura 2. Aparelho respiratório. A) Modelo representando os pulmões em expiração, pulmões vazios; B) Bexiga grande branca representando o diafragma; C) Pulmões realizando inspiração; D) modelo demonstrando o auxilio do diafragma na inspiração. Ao confeccionar os modelos pulmonares, os alunos demonstraram bastante interesse, pois os mesmos tiveram uma visão mais real de como ocorre o funcionamento do sistema respiratório. Os professores da disciplina de ciências alegaram que o conteúdo passa por muitas vezes um tanto quanto vago no que se diz respeito ao entendimento dos alunos para com o mesmo, e com a confecção de modelos como os desenvolvidos para demonstração do sistema respiratório, os alunos conseguiram assimilar melhor o conteúdo. Relato da professora: Realmente é muito difícil fazer com que os alunos assimilem o conteúdo baseado somente em figuras do livro didático. Com os modelos os alunos conseguem visualizar como ocorre o funcionamento do sistema respiratório. A B C D Flavio Marques Lopes, Andréia Neves Nunes 95 Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 Sistema Urinário - O sistema urinário pode ser observado através das fotografias da Figura 3, o mesmo foi representado por papelão, tubetes de papel, canudos e bexigas. Figura 3. Aparelho Urinário. A) Modelo demonstrando todo conjunto do parelho urinário composto pelos os rins, ureteres, bexiga urinária e uretra; B) Rins e ureteres; C) Ureteres, bexiga urinária e uretra. Durante a montagem dos modelos dos aparelhos urinários os alunos demonstraram grande desenvoltura, pois os mesmos relataram a facilidade de desenvolver e compreender a estrutura e funcionamento de todo o sistema urinário. Os alunos relataram que a aprendizagem mediante esse tipo de metodologia consegue estimular e alcançar um entendimento muito avançado em relação às formas habituais de aprendizagem da escola. • Aluno 1: Esse modelo é fácil de fazer e compreender, nos tira bastante dúvidas em relação ao funcionamento do sistema urinário. • Aluno 2: modelos favorecem a visão de toda anatomia dos órgãos, que não conseguimos visualizar nas figuras do livro. • Aluno 3: Dessa forma é até divertido estudar. A B C 96 Reutilização de materiais recicláveis para incentivo à Educação Ambiental e auxílio ao ensino didático de ciências em um colégio estadual de Anápolis-GO Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 6. AVALIAÇÃO DO TRABALHO Os resultados sobre a opinião e o interesse dos alunos sobre as atividades desenvolvidas também foram questionadas. O desenvolvimento deste trabalho feito em sala de aula foi aceito pela maioria da turma, que se mostrou bastante satisfeita com os resultados adquiridos. Dos 25 alunos da sala de aula 92% deles acharam o projeto proveitoso, e 8% destes alunos não demonstraram interesse pelo trabalho, como se observa na Figura 4. Figura 4. Aceitação do projeto de reutilização de materiais em sala de aula. A grande maioria dos integrantes aprovou o projeto, e um grande fator que favoreceu para essa aceitação foi o fato de que estavam habituados a estudar o conteúdo somente com leituras no livro didático e demonstrações na lousa. Durante o desenvolvimento do projeto os alunos se mostraram bastante envolvidos com a nova forma de poder articular suas dúvidas e assim podendo ter uma maior visão das respostas adquiridas, pois a nova forma de aprender o conteúdo era totalmente nova para os mesmos, o que fez com que eles se interessassem mais pela disciplina. Segundo Freire (1996), o educador que 'castra' a curiosidade do educando em nome da eficácia da memorização mecânica do ensino dos conteúdos, tira a liberdade do educando e a sua capacidade de aventurar-se. A autonomia, a dignidade e a identidade do educando têm de ser respeitada, caso contrário, o ensino tornar-se-á inautêntico, palavreado vazio e inoperante". A pequena minoria, (8%) não se interessou pelo projeto, não se interagiu em nenhum momento com o restante da sala, pois realmente não demonstravam interesse pela atividade. Os jovens da atualidade têm um pensamento multidirecional devido aos multimeios que estão expostos segundo Morin (2000), isto é uma característica planetária92% 8% 0 5 10 15 20 25 Sim Não Fonte da autora, 2010. Flavio Marques Lopes, Andréia Neves Nunes 97 Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 e os jovens necessitam, em consequência, de uma educação que refira-se ao complexo, ao contexto, de forma multidimensional. A aplicação da disciplina de forma fechada em si mesma, aliada a uma metodologia de ensino única e monótona provoca a dispersão e causa o desinteresse. A preferência dos alunos por um modelo específico foi bastante variada, pois a turma se dividiu no interesse por cada um dos modelos. O resultado apresentou que dos 25 alunos, 44% deram preferência ao modelo do aparelho respiratório, 28% optaram pelo modelo de célula vegetal, 20% deram preferência ao aparelho urinário e 7% destes alunos não gostaram de nenhum dos modelos confeccionados. Alguns acharam um modelo mais interessante que o outro, alguns alunos optaram pela facilidade na confecção dos mesmos, outros foram pela importância do material, e outros já diziam que eram mais fáceis de compreender como mostra a Figura 5. Figura 5. Preferência por modelos. Durante a montagem dos modelos os alunos se interagiam constantemente, tirando dúvidas, pesquisando sobre os modelos confeccionados, cada um se identificando por um modelo preferencial. A cada modelo montado uma nova experiência era passada aos alunos e cada uma captada de uma maneira peculiar por cada um dos mesmos. Os 7% dos alunos que não optaram por nenhum modelo não se interessaram em confeccionar os mesmos, pois estavam acostumados ao método rotineiro de ensino da escola, fazendo com que perdessem a motivação em fazer a confecção dos modelos. Em comparação aos resultados Freitas et al. (2008), relatam que os modelos aqui evidenciados, tanto pelo seu modo de produção, quanto por seu teor didático podem e devem ser produzidos por discentes em aluas práticas, com o intuito de aproximá-los da realidade microscópica. 44% 28% 20% 7% 0 2 4 6 8 10 12 Aparelho Respiratório Célula Aparelho Urinário Nenhum Fonte da autora, 2010. 98 Reutilização de materiais recicláveis para incentivo à Educação Ambiental e auxílio ao ensino didático de ciências em um colégio estadual de Anápolis-GO Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 Quando se ressaltou o auxílio das peças quanto à ajuda na compreensão ao conteúdo, 92 % dos alunos acharam que os modelos ajudaram muito na compreensão do conteúdo, e 8% dos alunos não perceberam diferença no entendimento ao conteúdo, observado na Figura 6. Figura 6. Auxílio na compreensão dos conteúdos. A grande parte dos integrantes conseguiu esclarecer muitas dúvidas mediante a confecção dos modelos. A cada modelo construído os alunos conseguiam captar com maior clareza o que se era passado durante o cotidiano escolar, naquele momento se tornava mais simples e mais divertido o “aprender”. A utilização de projetos educativos traz inúmeras vantagens à aprendizagem dos alunos, pois aprendem brincando. Cada professor tira proveito desse tipo de atividade como ferramenta de apoio ao processo de ensino e aprendizagem, tornando o aprendizado uma experiência mais agradável (SILVEIRA, 1998). Ao colocar a questão da importância da reutilização de materiais para o meio ambiente, 92% dos alunos, disseram que a reutilização é de grande valor para preservação ambiental e 8% destes alunos disseram que não vêem nenhum beneficio para o meio ambiente na reutilização de materiais, como colocado na figura 7. Figura 7. Importância da reutilização de materiais para o meio ambiente. Durante a confecção dos modelos ficou bem claro para os alunos o quanto a reutilização de materiais influencia na preservação ao meio ambiente. Todos os alunos Sim 92% Não 8% Fonte da autora, 2010. Sim 92% Não 8% Fonte da autora, 2010. Flavio Marques Lopes, Andréia Neves Nunes 99 Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 conseguiram assimilar o quanto o reaproveitamento pode diminuir a degradação ambiental, pois cada material utilizado na atividade poderia esta sendo depositado em qualquer local e de qualquer maneira, contribuindo para o desequilíbrio do meio ambiente. A pequena minoria da sala que representava os 8% dos alunos não demonstrou nenhum tipo de aptidão pelo projeto, concluindo assim que o mesmo não possuía nenhuma importância para o meio ambiente. Os alunos demonstravam desmotivação durante a atividade, pois por não ser um programa corriqueiro no cotidiano da escola não apostavam que teria algum valor e muito menos que diminuiria a degradação do meio ambiente. Ao perguntar aos alunos como a reutilização de materiais ou reciclagem poderia ajudar na preservação do meio ambiente, a grande maioria, ou seja, 52% desses alunos disseram que diminuiria a quantidade de lixo jogado em rios, 20% deles alegaram que se reutilizando materiais como papeis se pouparia o corte de muitas árvores, 20% deles afirmaram que a cidade ficaria mais limpa e 8% dos alunos não opinaram, como observado na Figura 8. Figura 8. Como a reutilização de materiais pode contribuir para a preservação do meio ambiente. A questão proposta foi de um resultado bastante satisfatório, pois os alunos conseguiram assimilar com consciência como e o projeto beneficiava o meio ambiente. Cada aluno relatava com clareza, como e onde cada material que estava sendo reutilizado afetaria no desequilíbrio ambiental e o melhor é que os mesmos tomaram consciência de quanto e como estavam ajudando na preservação do ambiente. Ao perguntar aos alunos se os mesmos achariam coerente integrar a Educação Ambiental no cotidiano escolar, 92% desses acham de suma importância a junção Educação Ambiental e escola, e 8% destes alunos não acham que a Educação Ambiental seja importante para o ensino escolar, como se pode observar na figura 9. 52% 20% 20% 8% 0 2 4 6 8 10 12 14 Diminuição do lixo em rios Diminuição no corte de árvores Limpeza da cidade Não opinaram Fonte da autora, 2010. 100 Reutilização de materiais recicláveis para incentivo à Educação Ambiental e auxílio ao ensino didático de ciências em um colégio estadual de Anápolis-GO Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 Figura 9. Importância da Educação Ambiental no cotidiano escolar. Ao fim do trabalho realizado na escola, os alunos tomaram consciência do quanto é importante a participação da Educação Ambiental na escola. Os alunos juntamente com os professores, apostam que com a conscientização ambiental iniciada no cotidiano escolar novas mentalidades voltadas à preservação e até mesmo projetos nesta escala podem surgir com grandes resultados. O âmbito escolar é bastante propício para o trabalho da Educação Ambiental, principalmente nas turmas do ensino fundamental, pois nesse segmento do ensino os alunos estão em processo de mudança, de transformação, e nós como educadores podemos estar introduzindo a questão ambiental sensibilizando-os e motivando-os a conservação ao meio ambiente e com isso, formaremos cidadãos mais conscientes (MARÇAL, 2007). A sugestão da continuidade do projeto foi avaliada pela turma, e 92% dos alunos aprovaram a continuação das atividades e apenas 8% dos alunos não viram vantagens na seqüência do projeto, como podemos visualizar na Figura 10. Figura 10. Indicação à continuidade do projeto na escola. A grande maioria dos participantes da sala não só aceitou a continuidade do projeto na escola, como apoiaram a continuidade do mesmo na própria sala. Os alunos queriam montar novos e diferentes modelos, pois queriam abranger seus conhecimentos 92% 8% 0 5 10 15 20 25 Sim Não Fonte da autora, 2010. 92% 8% Sim Não Fonte da autora, 2010 Flavio Marques Lopes, Andréia Neves Nunes101 Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 de uma forma mais estimulante e inovadora como a que foi proposta a eles com o desenvolvimento desse projeto. No cotidiano escolar, há indicadores de que a motivação facilita a aprendizagem e o desempenho dos estudantes. O aluno que é motivado por algum tipo de atividade, consegue se desenvolver e favorecer o aprimoramento de seus conhecimentos e de suas habilidades (NEVES et al., 2004). 7. CONCLUSÃO A utilização de modelos didáticos como os confeccionados em sala de aula, traz inúmeras vantagens à aprendizagem dos alunos principalmente pelo fato de que os mesmos “aprendem brincando”. A visão do grau de aceitação dos alunos pelo projeto no que se referia a ligação direta dos modelos com a disciplina de ciências foi de grande desenvolvimento, pois a criação dos modelos podem estimular a criatividade, atenção, memória e também ensinar de maneira prática e criativa os conteúdos. Finalizando os resultados é bastante notável como a intervenção da escola no ensino às práticas ambientalistas é de suma importância para formação de uma sociedade consciente. A grande maioria dos alunos conseguiu captar de maneira satisfatória o quanto se é necessário que se preserve o meio ambiente, e de como se pode tentar amenizar os problemas ambientais. A questão ambiental não é somente a relação do homem com o meio em que vive, vai muito além, refletir sobre a relação entre o meio ambiente e os nossos hábitos e costumes é decisivo para a nossa qualidade de vida, no presente e no futuro, e praticar a conscientização é a certeza do futuro de novas gerações. AGRADECIMENTO Agradecemos a todos que auxiliaram na realização do trabalho de forma direta ou indireta, à Deus por nos proporcionar saúde e sabedoria para realização deste trabalho, à direção da escola por ter nos propiciado a autorização e consentimento para a desenvolvimento do mesmo. Enfim agradecemos a todos que colaboraram para a concretização desta obra. 102 Reutilização de materiais recicláveis para incentivo à Educação Ambiental e auxílio ao ensino didático de ciências em um colégio estadual de Anápolis-GO Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 REFERÊNCIAS AMABIS, José Mariano; MARTHO, Gilberto Rodrigues. Biologia dos organismos. 2.ed. São Paulo: Ed. Moderna, 2004. BERRIOS, M.R. Deficiências no manejo dos resíduos sólidos no Brasil. O lixo urbano problemas derivados. In: CONGRESSO DE ECOLOGIA DO BRASIL,1996, Brasília. CARVALHO, Isabel Cristina de Moura. Qual Educação Ambiental? Elementos para um debate sobre Educação Ambiental popular e extensão rural. Revista Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, Porto Alegre, abr./jun. 2001. DIAS, G.F. Atividades Interdisciplinares de educação ambiental: manual do professor. São Paulo, ed. Global/Gaia 1994. FIGUEIREDO, P.J.M. 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SANTOS, S.H.P.D.; FIEDLER, P.T.; PEROTTA, B.; HIROSE, T.E.; RODRIGUES, A.L.M.; OLIVEIRA, S.A.D.; SATO, M.H.; ÁVILA, H.S.; MORAES, T.C.D.; FERREIRA, F.D.F.I. Estudo dodesenvolvimento ósseo humano intra-uterino através de um museu de ossos. Arq. Apadec, Maringá, 2004. SILVA, R.M.G. Ensino de ciências e cidadania. fundamentos e abordagens. Ed Ltda, 2000. SILVEIRA, Sidey Renato. Jogos educativos computadorizados a abordagem de algoritmos genéticos. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1998. SCHMITZ, E. Fundamentos da Didática. 7.ed. São Leopoldo: UNISINOS, 1993. Flavio Marques Lopes, Andréia Neves Nunes 103 Revista de Educação • Vol. 13, Nº. 15, Ano 2010 • p. 87-103 Flavio Marques Lopes Graduação em Farmácia Habilitação Bioquímica pelo Instituto Unificado de Ensino Superior Objetivo (2000), mestrado em Biologia pela Universidade Federal de Goiás (2003) e doutorado em Biologia pela Universidade Federal de Goiás (2008). Andréia Neves Nunes Bióloga - Faculdade Anhanguera de Anápolis. ANEXO: QUESTIONÁRIO APLICADO 1. Você gostou do trabalho de montagem dos modelos realizado em sala de aula? 2. Qual dos modelos confeccionados em sala você mais gostou? 3. Os modelos confeccionados ajudaram você a compreender melhor o conteúdo aplicado pela professora? 4. Você acha que esse tipo de trabalho de reutilização de materiais contribui para preservação do meio ambiente? 5. De que forma a reutilização de materiais pode ajudar na preservação do meio ambiente? 6. Você acha importante integrar a Educação Ambiental no cotidiano escolar? 7. Você gostaria que o trabalho tivesse continuidade em sua sala?
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