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LITERATURA INFANTIL POLÍTICAS E CONCEPÇÕES Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:341 www.cliqueapostilas.com.br Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:342 www.cliqueapostilas.com.br Aparecida Paiva Magda Soares (Orgs.) LITERATURA INFANTIL POLÍTICAS E CONCEPÇÕES Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:343 www.cliqueapostilas.com.br Copyright © 2008 by Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale/FaE/UFMG) PROJETO GRÁFICO DA CAPA Diogo Droschi CONSELHO EDITORIAL DA COLEÇÃO LITERATURA & EDUCAÇÃO Aparecida Paiva, Graça Paulino, Magda Soares, Regina Zilberman, Anne Marie-Chartier EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Tales Leon de Marco REVISÃO Ana Carolina Lins Brandão AUTÊNTICA EDITORA LTDA. Rua Aimorés, 981, 8º andar. Funcionários 30140-071. Belo Horizonte. MG Tel: (55 31) 3222 68 19 TELEVENDAS: 0800 283 13 22 www.autenticaeditora.com.br Todos os direitos reservados pela Autêntica Editora. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da editora. Literatura infantil : políticas e concepções /Aparecida Paiva, Magda Soares, (organizadoras). – Belo Horizonte : Autêntica Editora, 2008. – 136 p. (Coleção Literatura e Educação) Bibliografia. ISBN 978-85-7526-355-6 1. Literatura infanto-juvenil - História e crítica 2. Literatura infanto-juvenil brasileira - História e crítica 3. Livros e leitura para crianças I. Paiva, Aparecida. II. Soares, Magda. III. Série. 08-08629 CDD-809.89282 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infantil : História e crítica 809.89282 Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:344 www.cliqueapostilas.com.br SUMÁRIO Capítulo 1 O PNBE e o Ceale: de como semear leituras Francisca Isabel Pereira Maciel Capítulo 2 Livros para a educação infantil: a perspectiva editorial Magda Soares Capítulo 3 A produção literária para crianças: onipresença e ausência das temáticas Aparecida Paiva Capítulo 4 Representação e identidade: política e estética étnico-racial na literatura infantil e juvenil Aracy Martins e Rildo Cosson Capítulo 5 Para não aborrecer Alice: a ilustração no livro infantil Ligia Cademartori Capítulo 6 Qualidade estética em obras para crianças Hércules Tolêdo Corrêa Capítulo 7 Versos diversos da poesia para crianças Maria Zélia Versiani Machado Os autores 7 21 35 53 79 91 111 131 Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:345 www.cliqueapostilas.com.br 6 Literatura infantil: políticas e concepções Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:346 www.cliqueapostilas.com.br 7O PNBE e o Ceale: de como semear leituras Capítulo 1 O PNBE E O CEALE: DE COMO SEMEAR LEITURAS1 Francisca Izabel Pereira Maciel Leituras! Leituras! Como quem diz: Navios... sair pelo mundo vo- ando na capa vermelha de Júlio Verne. Mas por que me deram para livro escolar A Cultura dos Campos de Assis Brasil? O mundo é só fosfatos – lotes de 25 hectares – soja – fumo – alfafa – batata-doce – mandioca – pastos de cria – pastos de engorda. Se algum dia eu for rei, baixarei um decreto condenando este Assis a ler a sua obra Carlos Drummond de Andrade, “Iniciação literária” É ponto indiscutível que os livros de literatura, no espa- ço escolar, conferem à criança uma multifacetada forma de acesso ao saber. E todos sabemos, como o poeta de Itabira, como um livro mal indicado pode causar estragos numa criança em fase de partir para a encantadora aventura das páginas impressas. 1 Para a produção deste texto, utilizamos como referência Literatura na infân- cia: imagens e palavras, de Aparecida Paiva et al. (2008). Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:357 www.cliqueapostilas.com.br 8 Literatura infantil: políticas e concepções Para que a formação do pequeno leitor seja a mais demo- crática possível, as instituições devem contar com uma confiável estratégia de avaliação, compra e distribuição dos livros. A legitimidade dos critérios de escolha propicia uma forma mais segura da socialização e produção do conheci- mento. E é nessa seara que entra o Ceale, selecionando os acervos para a Educação Infantil, em prosa, em verso, em imagens ou quadrinhos, permitindo que chegue às crianças uma coleção de obras cuidadosamente analisadas e avalia- das por uma equipe de professores especialistas na área de alfabetização e letramento literário. Com este livro, concretiza-se a proposta de se descrever e analisar, sob diferentes pontos de vista de alguns pesquisa- dores, os múltiplos olhares sobre o acervo que compõe o PNBE/2008. A abordagem proposta para este texto é a de falar do lugar do Ceale e de seus pesquisadores, do trabalho que tem sido desenvolvido na análise e avaliação dos livros infanto-juvenis, em especial, sobre o Plano Nacional da Bi- blioteca Escolar – 2008. O Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) é um órgão complementar da Faculdade de Educação da UFMG criado, em 1990, com o objetivo de integrar grupos interins- titucionais de pesquisa, ação educacional e documentação na área da alfabetização e do ensino de Português. Para isso conta com a participação de professores de diferentes facul- dades da UFMG, de outras instituições de ensino superior e de diferentes redes de ensino. Análise dos livros e as políticas públicas de formação do leitor No cenário das políticas públicas educacionais, as avalia- ções sempre foram objeto de preocupação por parte dos go- vernantes. Sabe-se que, desde os meados do século XIX, os livros de uso escolar distribuídos nas escolas provinciais eram Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:358 www.cliqueapostilas.com.br 9O PNBE e o Ceale: de como semear leituras analisados, avaliados, e somente os aprovados eram adqui- ridos pelo Governo. As relações entre avaliação e livros de literatura destina- dos ao espaço escolar possuem uma longa história. Ainda antes mesmo da criação, no Brasil, dos grupos escolares – o ensino seriado – no final do século XIX, os livros literários já eram avaliados pelos membros do Conselho da Instrução Pública, órgão responsável pela análise dos livros e materiais didáti- cos, nas províncias-Estados. Caberia aos membros do Conse- lho indicar os livros que cada governo iria adquirir e distribuir para os alunos pobres das escolas públicas brasileiras. Com a expansão das escolas primárias, o crescimento editorial em torno dos livros de destinação escolar aumen- tou consideravelmente a partir de 1930, tanto nos títulos de manuais escolares como nos títulos de literatura infantil. Isso tornou mais expressivo o incentivo para a formação do leitor e a constituição de bibliotecas infantis no espaço escolar. Para que se tenha uma breve visão da inquietação com a leitura infantil entre as décadas de 20 a 40 do século XX, arrolamos aqui alguns títulos: O que as crianças preferem ler; Como se desenvolve, na criança, o gosto pela leitura; Como devem ser feitos os livros para crianças; Interesses infantis re- velados por catálogos de livros; Biblioteca infantil, alma da escola primária. Esses são apenas alguns títulos de artigos, publicados na Revista do Ensino de Minas Gerais, no perío- do de 1925-46. Nessa época, os Estados ainda mantinham autonomia na escolha e análise dos livros de destinação es- colar. E as atribuições dos membros do Conselho ao indicar ou recusar os livros eram norteadas por critérios de avalia- ção que se pautavam basicamente no uso do vocabulário adequado, ilustrações e qualidade do papel. Uma vez apro- vados, esses livros eram indicados para uso nas escolas pú- blicas e privadas. Ressalta-se que a lista dos livros aprovados era descrita no programa oficial como livros para serem usados para leitura, Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:359 www.cliqueapostilas.com.br 10 Literaturainfantil: políticas e concepções por conseguinte, não eram considerados como livros didáti- cos. Esses livros eram indicados para compor a biblioteca da classe, como indica o Programa de Ensino de Minas Gerais (1954-1961), deveriam ser usados nos períodos de leitura in- dependente e tinham como objetivos: enriquecimento de ex- periências e formação do interesse e permanente pela leitura. A lista com os títulos dos livros sugeridos para a biblioteca da classe era elaborada levando-se em consideração as qua- tro primeiras séries, isto é, os livros eram listados e indica- dos seguindo o critério de seriação. Os textos escolhidos figuravam entre os clássicos da literatura infantil, que com- punham a coleção Historietas, as edições Melhoramentos e a coleção Biblioteca Infantil, de Arnaldo Barreto, devidamente adaptados e traduzidos, como os contos de Perrault e Ander- sen, assim como as traduções realizadas por Monteiro Lobato e, depois, os próprios textos de Lobato, como O Saci, História da Tia Anastácia e livros de Lúcia Machado de Almeida. A ação desses livros no imaginário da criança e sua po- tencialidade na formação de novos leitores nos levam a re- fletir sobre os lugares que a literatura vai ganhando dentro do espaço escolar. E uma preocupação se impõe: o que dis- tingue as atuais avaliações das avaliações anteriores? Con- textualizando-as, podemos dizer que todas foram importantes, e também é possível acompanhar o caráter evolutivo e de- mocrático com que as concepções dessas avaliações vêm se processando. Na década de 1980, houve um procedimento que merece destaque: precisamente a partir de 1984, no que tange às avaliações e indicações estaduais, é criado o Programa Nacional Sala de Leitura, que tinha como objetivo não ape- nas distribuir livros de literatura para os alunos, mas ainda distribuir também periódicos para alunos e professores. No período de vigência, até 1987, esse Programa foi realizado em parceria com as Secretarias Estaduais de Educação e com universidades. Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:3510 www.cliqueapostilas.com.br 11O PNBE e o Ceale: de como semear leituras Em 1997, num verdadeiro salto para um horizonte maior de escolhas, foi instituído o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), com o objetivo principal de democratizar o acesso a obras de literatura infanto-juvenis, nacionais e estrangeiras, bem como o acesso a materiais de pesquisa e de referência a professores e alunos das escolas públicas brasileiras. Dessa forma, hoje possuímos não somente a ava- liação, mas também a aquisição e distribuição dos títulos avaliados para todas as escolas do Brasil. O Programa é exe- cutado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educa- ção (FNDE) em parceria com a Secretaria de Educação Básica do Ministério da Educação (SEB/MEC). Ao longo da história do Programa, a distribuição dos li- vros de literatura tem sido realizada por meio de diferentes ações: em 1998, 1999 e 2000, os acervos foram enviados para as bibliotecas escolares; em 2001, 2002 e 2003, o objetivo era que os alunos tivessem acesso direto a coleções para uso pessoal e também levassem obras representativas da litera- tura para seus familiares – por isso essas edições do Progra- ma ficaram conhecidas como Literatura em Minha Casa. A partir de 2005, após inúmeras discussões coordenadas pela SEB/MEC, o PNBE retomou a distribuição de livros de literatura para as bibliotecas escolares, nesse ano, com foco nas bibliotecas de escolas públicas de 1ª a 4ª séries do Ensi- no Fundamental. Tal ação significou a retomada da valoriza- ção da biblioteca, como espaço promotor da universalização do conhecimento e, também, da universalização do acesso a acervos pelo coletivo da escola. Em 2007, dando prossegui- mento a essa ação, foram distribuídos livros de literatura para as escolas públicas de 5ª a 8ª séries. Em 2008, as escolas das séries/anos iniciais do Ensino Fundamental e instituições de Educação Infantil serão contempladas. Para que se tenha uma idéia da magnitude desse Progra- ma, apresentamos a seguir um quadro com os principais dados estatísticos do PNBE. Nele é possível observar a quan- Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:3511 www.cliqueapostilas.com.br 12 Literatura infantil: políticas e concepções tidade de acervos, obras e coleções que foram distribuídos no período de 1998 a 2006. É possível observar, também, o vo- lume de recursos que foram investidos. Como foi citado, desde que o PNBE foi instituído, coube à Secretaria de Educação Básica (SEB), do Ministério da Edu- cação, a coordenação do processo de avaliação das obras e composição dos acervos de todas as suas edições, num tra- balho conjunto com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). No ano de 2005, a SEB/MEC passou a realizar esse trabalho em parceria com universidades públicas PNBE/98 (Acervos) PNBE/99 (Acervos) PNBE/2000 (Obras) PNBE/2001 (Coleções) PNBE/2002 (Coleções) PNBE/2003 (Coleções) PNBE/2003 (Acervos – Casa de Leitura) PNBE/2003 (Acervos – Biblioteca Escolar) PNBE/2003 (Obras – Para professores) PNBE/2005 (Acervos) PNBE/2006 (Acervos) TOTAL DO PERÍODO 1999 2000 2001 2002 2003 2003 2004 2004 2004 2005/2006 2007 20.000 36.000 577.400 12.184.787 4.216.576 8.169.082 41.608 22.219 1.448.475 306.078 96.440 acervos/ 7.233.075 livros 17.447.760,00 23.422.678,99 15.179.101,00 50.302.864,88 19.523.388,68 36.208.019,30 6.246.212,00 44.619.529,00 13.769.873,00 47.273.736,61 46.300.000,00 319.993.163,46 QUANTIDADE (ACERVOS, OBRAS E COLEÇÕES) PROGRAMA / ANO DISTRIBUIÇÃO VALORES Dados estatísticos do PNBE no período de 1998 a 2006 Fonte: FNDE <http://www.fnde.gov.br/home/index.jsp?arquivo=/ biblioteca_escola/biblioteca.html> Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:3512 www.cliqueapostilas.com.br 13O PNBE e o Ceale: de como semear leituras federais e, para tanto, desde o PNBE/2005 vem selecionan- do instituições que, sob sua coordenação, executam a avalia- ção. As instituições interessadas, de posse de edital público divulgado na página do FNDE – que estabelece as normas e procedimentos a serem seguidos – candidatam-se a institui- ção parceira na execução desse Programa por meio do enca- minhamento de suas propostas, nas quais é exposto de modo minucioso o processo de avaliação a ser utilizado. Além disso, podemos dizer que, em nossos dias, a incor- poração de um seleto e diversificado repertório cultural é mais do que nunca precioso fundamento para formação de crianças e jovens em um mundo globalizado. Mais do que conhecer as obras valorizadas do passado, é essencial que o estudante saiba como se localizar em um universo letrado, com fluxos de informações cada vez mais acessíveis e velo- zes. A leitura do texto literário, em seus diferentes gêneros, proporciona ao aluno essa localização cultural, contribuin- do de maneira única para a formação de um leitor crítico e capaz de articular o mundo das palavras com o seu eu mais profundo e a comunidade onde ele se insere. É o reconheci- mento dessa singularidade da literatura na formação de qual- quer leitor que tem levado os professores, a escola e o governo a se preocuparem com a constituição de bibliotecas escolares. No escopo dessa preocupação, uma das contri- buições mais relevantes tem sido a aquisição de obras literá- rias pelo Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) do Governo Federal. Para a consolidação de uma política de ampliação e im- plementação de bibliotecas escolares, o PNBE foi criado em 1997 com o objetivo de auxiliar as escolas públicas na com- posição de um acervo de obras de qualidade tanto literárias quanto de referência. Nessa década de funcionamento, o Programa já distribuiu para professores, alunos e escolas mais de 150 milhões de livros. Em 2007, o PNBE dispôs de um orçamento de mais de 35 milhões de reais para comprar livros Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:3513 www.cliqueapostilas.com.br 14 Literaturainfantil: políticas e concepções que serão enviados em 2008 para cerca de 200 escolas, deven- do atingir mais de 20 milhões de alunos em todo o País. Especificamente, foram constituídos dois grupos de acer- vos para serem distribuídos às instituições de Educação In- fantil e escolas das séries iniciais do Ensino Fundamental, respectivamente, com obras que vão de histórias em quadri- nhos a adaptações de clássicos universais, passando por li- vros de imagens, parlendas, poemas e pequenas histórias. O primeiro grupo foi composto de três acervos, com 20 obras cada um, devendo receber um acervo instituições com 150 alunos, dois acervos aquelas que tenham de 151 a 300 alu- nos e três acervos aquelas com mais de 301 alunos matricu- lados. O segundo grupo foi constituído por cinco acervos, com igualmente 20 títulos cada um, sendo encaminhado um acervo para as escolas com até 250 alunos, dois acervos para escolas com 251 a 500 matrículas, três para aquelas com 501 a 750 estudantes, quatro para aquelas com 751 a mil alunos e cinco acervos para as escolas que possuírem mais 1.001 alunos matriculados. O Ceale e a avaliação do PNBE O Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita da Faculdade de Educação da UFMG (Ceale/FaE/UFMG) foi instituído em 1990 com o objetivo de promover pesquisas e ações educacio- nais na área da alfabetização e do ensino de Português. Ao longo de sua história, o Ceale tem desenvolvido uma série de projetos integrados de pesquisa, relacionados à análise do es- tado do conhecimento sobre a alfabetização e o letramento, assim como das práticas de leitura e escrita e dos problemas relacionados à sua difusão, apropriação e avaliação. O Centro tem elaborado, junto às redes públicas, projetos de formação de professores, de desenvolvimento curricular e de avaliação do ensino e de materiais didáticos, a exemplo da participação na Rede Nacional de Centros de Formação Continuada e Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:3514 www.cliqueapostilas.com.br 15O PNBE e o Ceale: de como semear leituras Desenvolvimento da Educação, criada pelo MEC, para apri- morar a formação continuada de professores no Brasil. O Centro vem desenvolvendo, desde a sua criação, proje- tos que buscam integrar a pesquisa, a extensão e a publica- ção. E assume, ao participar de projetos governamentais, o seu compromisso, como instituição pública, de colaborar nas políticas públicas que venham a subsidiar o trabalho de pro- fessores e alunos das escolas brasileiras. Esses trabalhos não terminam com o projeto inicial, pois ele se estende para ou- tras frentes de pesquisa, produção e extensão. A integração dos alunos de graduação e pós-graduação também tem se revelado um aspecto importante na definição das temáticas dos projetos de pesquisas de monografias de graduação, mestrado e doutorado. Pesquisar sobre os im- pactos e usos dos livros de literatura distribuídos pelo go- verno e a formação de leitores são temas de pesquisas de mestrandos e doutorandos da linha Educação e Linguagem. Dentre as atividades educacionais realizadas pelo Ceale, destaca-se a participação, desde 1997, no Programa Nacio- nal do Livro Didático (PNLD). Foi com base na experiência acumulada, tanto no campo da avaliação de livros didáticos para aquisição governamental quanto na produção de co- nhecimento na área da alfabetização, leitura e escrita, mais especificamente, da educação literária, que o Ceale candida- tou-se, em 2006, para realizar o processo de seleção das obras de literatura que iriam compor o acervo do PNBE/2007. Os resultados exitosos dessa primeira empreitada levaram o Centro a renovar sua candidatura, em 2007, quando do lan- çamento do PNBE/2008. Novamente selecionado pelo MEC, o Ceale propôs-se, dessa vez, não só a realizar a análise das obras, como também a aliar a assessoria técnica com pesqui- sas e socialização das produções. A preocupação recorrente do Ceale é com os critérios de análise, que estão sendo apurados a cada avaliação e com Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:3515 www.cliqueapostilas.com.br 16 Literatura infantil: políticas e concepções maior rigor na qualidade textual, temática e gráfica, não des- cuidando de propiciar às crianças o acesso a diferentes gêne- ros textuais. Foi ainda critério para constituição dos acervos a seleção, entre as obras consideradas de qualidade, nas três categorias (prosa, verso e imagem) daquelas que representas- sem diferentes níveis de dificuldade, de modo a atender a crianças em diferentes estágios de compreensão dos usos e funções da escrita e de aprendizagem da língua escrita, possi- bilitando formas diferentes de interação com o livro: a leitura autônoma pela criança (de livros só de imagens, de livros em que a imagem predomina sobre o texto verbal, quando este é reduzido a poucas palavras) e a leitura mediada pelo professor. Todo esse esforço governamental envolve centenas de pes- soas e diversas instituições, entre elas o Ceale, que se respon- sabiliza pela avaliação e seleção das obras. O Ceale, na constituição do grupo de avaliação e demais projetos em que vem atuando, tem promovido não só a participação de profes- sores pesquisadores da Faculdade de Educação e de outras unidades da UFMG, como conta com a participação efetiva de professores das redes públicas, alunos integrantes da linha educação e linguagem, do programa de Pós-Graduação da FaE/ UFMG e professores pesquisadores de diversas instituições públicas e privadas do país. O Ceale, atualmente, integra pes- quisadores de 22 instituições brasileiras2. É com esse espírito corporativo que foi desenvolvido o projeto de avaliação do PNBE 2008, contando com a partici- pação de integrantes de 17 instituições de sete estados brasi- leiros. O esforço do Ceale em integrar pesquisadores de outras instituições tem se revelado profícuo não só no de- senvolvimento dos projetos, mas também nas publicações que objetivam socializar a produção do conhecimento ad- vindo desses projetos e intercâmbios interinstitucionais. Uma das características fundamentais do Ceale é a busca, sempre 2 Veja portal do Ceale: http://www.ceale.fae.ufmg.br/. Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:3516 www.cliqueapostilas.com.br 17O PNBE e o Ceale: de como semear leituras que possível, de um trabalho descentralizado, envolvendo o maior número de pesquisadores de diferentes pontos do País, especialmente em trabalhos de avaliação como esse do PNBE, que resulta em aquisição, por parte do governo, de livros que serão utilizados em todas as escolas públicas brasileiras. Razão pela qual o Centro, ao definir a equipe de avaliadores que trabalhariam no PNBE/2008, envolveu pesquisadores de diferentes estados brasileiros: Espírito Santo, Mato Grosso, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Distrito Federal. Acreditamos que é compromisso das universidades públi- cas não somente produzir, mas também socializar e avaliar as suas produções acadêmicas. Os encontros de discussão du- rante a execução dos projetos e os seminários de avaliação são momentos de reflexão e análise do processo, o que é imprescindível para o crescimento e fortalecimento do grupo de pesquisadores envolvidos nesses trabalhos. Um desses espaços privilegiados tem sido o evento bianual coordena- do pelo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre o Letramento Literário (GPELL/Ceale), que é o Jogo do Livro, cuja temática do VII Jogo do Livro, realizado no ano de 2007, foi As esco- lhas em Jogo. Ciente de sua tarefa cultural, social e pedagógica, o Ceale se empenha na tarefa de poder possibilitar a elaboração de políticas e a execução de ações sistemáticas e eficazes de fortalecimento do PNBE, das bibliotecas escolares e da for- mação de leitores no Brasil. O Ceale, ao assumir mais uma vez a coordenação da ava- liação, espera que este trabalho possa ampliar ainda mais o acesso das crianças ao impresso; espera que suas atividades possam permitir também aos professores oacesso aos novos títulos; espera que esses professores, em contato com novos textos, rememorem textos idos e vividos, se projetem no tem- po e no espaço e também se renovem como leitores fazedo- res de novos leitores. Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:3517 www.cliqueapostilas.com.br 18 Literatura infantil: políticas e concepções É com esse intuito que o grupo de avaliadores do Ceale produziu o livro Literatura na infância: imagens e palavras, que consiste num catálogo com as resenhas dos livros desti- nados aos professores da Educação Infantil. Aí se lê como os avaliadores descrevem “a conquista de agora”, ou seja, como estão sendo organizados os acervos especiais para a Educa- ção Infantil. Por essa razão, independentemente de o Centro assumir a coordenação de futuras avaliações do PNBE, insiste-se for- temente para que ele continue recebendo os acervos, por meio de doação, para que o fluxo da pesquisa não se inter- rompa, como de resto tem acontecido com o PNLD de Língua Portuguesa há muitos anos. O Ceale mantém e precisa estar sempre abastecido de novos materiais para que possa garan- tir sua base de dados. Esse acervo tem servido não só aos pesquisadores envolvidos no processo e seus respectivos orientandos, como também o disponibiliza para pesquisa- dores de todos os pontos do País. O Ceale possui vasto material de teses e dissertações so- bre alfabetização no Brasil; oferece ao estudioso diversifica- dos artigos para o conhecimento do acervo de livros didáticos de alfabetização e língua portuguesa – acervo da Fundação Nacional Infanto-Juvenil – e, mais recentemente, o acervo de obras literárias destinada a Educação Infantil, que todos os membros desse grupo realizam como votante institucional da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). O Ceale, em seu compromisso junto ao PNBE, procura diminuir cada vez mais o abismo que, infelizmente, ainda ocorre neste País entre o livro e o estudante. Criar uma biblioteca, alimentá-la freqüentemente, nutri-la com as obras significativas, tanto nacionais quanto estrangeiras, exercer um controle de qualidade na aquisição desses livros, possibi- litar que o estudante tenha sempre ao seu alcance um univer- so de opções que possa ser lido, compreendido e assimilado, tudo isso representa, em verdade, recriar um país, redescobrir Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:3518 www.cliqueapostilas.com.br 19O PNBE e o Ceale: de como semear leituras suas potencialidades. Assim, o que o Ceale anseia, ao se- mear livros e fecundar mentes, é investir num processo con- tínuo de letramento e de fundamento de cidadania. Para aqueles que não tiveram no lar as condições favoráveis para ler, que tenham, enfim, nas bibliotecas escolares, a mais do que legítima oportunidade para que se faça a leitura pro- priamente dita do mundo. E que o mais breve possível aque- las dolorosas palavras de Magda Soares (2004) nos soem como página virada da história. Eis o que disse a educado- ra mineira: Este é um país de raras e precárias bibliotecas: raras e precá- rias bibliotecas públicas, raras e precárias bibliotecas escola- res. [...] Este é também um país de poucas, pouquíssimas livrarias. [...] Este é um país de livros caros para uma popula- ção em sua maioria pobre. O Ceale busca ratificar o desejo de dois poetas: o de Cas- tro Alves, que abençoa aquele que “semeia livros a manche- ia e faz o povo pensar”, e o de Carlos Drummond de Andrade, expresso na epígrafe, que via os livros como navios que sa- íam para o mundo. O menino Carlos, obrigado a digerir obras intragáveis como a de Assis Brasil, ainda teve imaginação para outras leituras dirigíveis que o fizeram voar longe. Mas imaginem quantos meninos tiveram sufocadas as potencia- lidades de novas leituras em razão de culturas de campos com insípidas searas... Se pelo menos o Assis fosse o Ma- chado... É o que Ceale e seus pesquisadores procuram fa- zer, na avaliação dos lotes de livros que lhes competem: ajudar a levantar âncoras e não confinar o leitor em fosfa- tos e pastos de engorda. Referências ANDRADE, Carlos Drummond de. Menino antigo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1973. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Fundo Nacional de Desen- volvimento da Educação. Disponível em <http://www.fnde.gov.br>. Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:3519 www.cliqueapostilas.com.br 20 Literatura infantil: políticas e concepções PAIVA, Aparecida et al. Literatura na infância: imagens e palavras. Acervos do PNBE 2008 para a Educação Infantil. Brasília, Ministério da Educação, 2008. v. 1. p. 51. SOARES, Magda. A leitura e democracia cultural. In: PAIVA, Aparecida et al. (Org.). Democratizando a leitura: pesquisas e práticas. Belo Horizonte: Ceale/Autêntica, 2004. Literatura infantil170908FINALGRAFICA.pmd 17/9/2008, 12:3520 www.cliqueapostilas.com.br
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