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INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS E EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA- ISCED MANUAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM CONTABILIDADE E AUDITORIA 2º Ano Disciplina: DIREITO FISCAL Código: ISCED21-CJURCFE036 Total Horas/1o Semestre: 125 Créditos (SNATCA): 5 Número de Temas: INSTITUTO SUPER ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal i Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e contém reservados todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). A não observância do acima estipulado o infractor é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Direcção Académica Rua Dr. Almeida Lacerda, No 212 Ponta - Gêa Beira - Moçambique Telefone: +258 23 323501 Cel: +258 82 3055839 Fax: 23323501 E-mail: isced@isced.ac.mz Website: www.isced.ac.mz mailto:isced@isced.ac.mz http://www.isced.ac.mz/ ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal ii Agradecimentos O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Autor dr. Ésio Cebola Alguineiro Magaio, Mestre em Ciências Jurídicas Público Forense Coordenação Design Financiamento e Logística Ano de Publicação Local de Publicação Direcção Académica do ISCED Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED) 2016 ISCED – BEIRA ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal iii Índice VISÃO GERAL ....................................................................................................................... 1 BENVINDO À DISCIPLINA/MÓDULO DE DIREITO FISCAL .................................................................................1 OBJECTIVOS DO MÓDULO ...........................................................................................................................1 QUEM DEVERIA ESTUDAR ESTE MÓDULO ........................................................................................................1 COMO ESTÁ ESTRUTURADO ESTE MÓDULO ....................................................................................................2 ÍCONES DE ACTIVIDADE .................................................................................................................................4 HABILIDADES DE ESTUDO ...............................................................................................................................4 PRECISA DE APOIO? ......................................................................................................................................6 TAREFAS (AVALIAÇÃO E AUTO-AVALIAÇÃO) ..................................................................................................7 AVALIAÇÃO ..................................................................................................................................................8 TEMA I – INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 11 UNIDADE TEMÁTICA: 1.1 INTRODUÇÃO, ÂMBITO E CONTEÚDO DO DIREITO FISCAL ................................ 11 UNIDADE TEMÁTICA: 1.2. ACTIVIDADE FINANCEIRA DO ESTADO ............................................................. 12 UNIDADE TEMÁTICA: 1.3 NATUREZA E CARACTERÍSTICAS DO DIREITO FISCAL .......................................... 15 UNIDADE TEMÁTICA: 1.4 RELAÇÕES DO DIREITO FISCAL COM OUTROS RAMOS DO DIREITO ................... 17 UNIDADE TEMÁTICA: 1.5 ORGANIZAÇÃO DOS SERVIÇOS DA ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA .................... 21 TEMA II – PRINCIPAIS FIGURAS TRIBUTÁRIAS .................................................................. 26 UNIDADE TEMÁTICA: 2.1. O CONCEITO DE IMPOSTO, OBJECTIVOS E SUAS FASES ................................. 26 UNIDADE TEMÁTICA: 2.2. DISTINÇÃO ENTRE IMPOSTO E TAXA ................................................................ 31 UNIDADE TEMÁTICA: 2.3. CLASSIFICAÇÃO DOS IMPOSTOS ..................................................................... 32 UNIDADE TEMÁTICA: 2.4 NOÇÃO DO DIREITO FISCAL OU TRIBUTÁRIO ................................................... 36 TEMA III – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO FISCAL ........................................... 38 UNIDADE TEMÁTICA: 3.1 FONTES DO DIREITO FISCAL ............................................................................. 38 UNIDADE TEMÁTICA: 3.2 EVOLUÇÃO DO DIREITO FISCAL ....................................................................... 41 UNIDADE TEMÁTICA: 3.3 AUTONOMIA DO DIREITO FISCAL ..................................................................... 46 UNIDADE TEMÁTICA: 3.4. PRINCÍPIOS DO DIREITO FISCAL ....................................................................... 49 UNIDADE TEMÁTICA: 3.5 NORMAS FISCAIS ............................................................................................ 51 UNIDADE TEMÁTICA: 3.6 SOBERANIA DO DIREITO FISCAL ....................................................................... 54 TEMA IV – INTERPRETAÇÃO, INTEGRAÇÃO DO DIREITO FISCAL ..................................... 58 UNIDADE TEMÁTICA: 4.1 A INTERPRETAÇÃO DAS NORMAS JURÍDICO-FISCAIS .......................................... 58 ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal iv UNIDADE TEMÁTICA: 4.2 A INTEGRAÇÃO DAS LACUNAS DO DIREITO FISCAL .......................................... 61 UNIDADE TEMÁTICA: 4.3 APLICAÇÃO DA LEI FISCAL NO ESPAÇO E NO TEMPO ....................................... 62 TEMA V – A RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL .......................................................................... 66 UNIDADE TEMÁTICA: 5.1. PRESSUPOSTO DA RELAÇÃO DO IMPOSTO ...................................................... 66 UNIDADE TEMÁTICA: 5.2 OBJECTO DA RELAÇÃO JURÍDICA ..................................................................... 67 UNIDADE TEMÁTICA: 5.3 SUJEITOS DA RELAÇÃO JURÍDICA FISCAL .......................................................... 69 TEMA VI – FACTO EXTINTIVO DA RELAÇÃO JURÍDICA .................................................... 79 UNIDADE TEMÁTICA: 6.1. CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO FISCAL ......................................................... 79 UNIDADE TEMÁTICA: 6.2 DAÇÃO EM CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO FISCAL ........................................ 80 UNIDADE TEMÁTICA: 6.3 PRESCRIÇÃO DA OBRIGAÇÃO FISCAL .............................................................. 80 TEMA VII – GARANTIAS GERAIS E MEIOS DE DEFESA DO CONTRIBUINTE ...................... 82 UNIDADE TEMÁTICA:7.1. GARANTIAS DO CUMPRIMENTO DA OBRIGAÇÃO FISCAL ................................. 82 UNIDADE TEMÁTICA: 7.2. GARANTIAS DOS CONTRIBUINTES ................................................................... 83 TEMA VIII – IMPOSTOS DO SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL ......................................... 92 UNIDADE TEMÁTICA:8.1. IMPOSTOS NACIONAIS ................................................................................... 92 UNIDADE TEMÁTICA: 8.2. IMPOSTOS AUTÁRQUICOS ........................................................................... 105 UNIDADE TEMÁTICA: 8.3. OUTROS IMPOSTOS .................................................................................... 108 BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA ....................................................................................... 119 LISTA DA LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA RELEVANTE ............................................................ 121 GLOSSÁRIO ...................................................................................................................... 120 ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 1 Visão geral Benvindo à Disciplina/Módulo de Direito Fiscal Objectivos do Módulo Ao terminar o estudo deste módulo de Direito Fiscal deverá ser capaz de: Conhecer a natureza do Direito Fiscal no Geral e em particular o Sistema Fiscal Moçambicano, o conceito do imposto e sua utilidade/contributo para as Finanças Públicas. Objectivos Específicos Definir Direito Fiscal e sua ligação com outros ramos da Ciência. Fazer um breve percurso histórico da disciplina. Conhecer as diferentes fases e classificação dos Impostos; Conhecer os processos de orientação do feedback. Saber Interpretar o Sistema Fiscal Moçambicano. Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para estudantes do 1º ano do curso de licenciatura em Direito Fiscal do ISCED e outros como Contabilidade e Finanças Públicas, etc. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem-vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 2 Como está estruturado este módulo Este módulo de Direito Fiscal, para estudantes do 1º ano do curso de licenciatura em Direito, à semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se segue: Páginas introdutórias Um índice completo. Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. Conteúdo desta Disciplina / módulo Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente unidades. Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os exercícios de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros exercícios teóricos/práticos. Problemas não resolvidos e actividades algumas práticas incluído estudo de caso. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 3 Outros recursos A equipa dos académico a e pedagogos do ISCED, pensando em si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para elem deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. Auto-avaliação e Tarefas de avaliação Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas respostas. Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante, fazer todos os exercícios de avaliação é uma grande vantagem. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 4 Comentários e sugestões Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didáctico- Pedagógica, etc., sobre como deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser melhorado. Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Habilidades de estudo O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 5 3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de estudo de caso se existir. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins-de-semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar,que saber tudo superficialmente. Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama- se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Porque o estudante acumula um elevado volume ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 6 de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre os conhecimentos, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar; Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, página trocada ou invertidas, etc.). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 7 apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigitada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa. O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite-lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. Tarefas (avaliação e auto-avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e autoavaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 8 conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo. Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plágio1 é uma violação do direito intelectual do (s) autor (és). Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do testo de um autor, sem o citar é considerada plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autorais devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). Avaliação Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/tutor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e consistente. Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de avaliação. Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 1 Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 9 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhos e 1 (um) (exame). Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 11 TEMA I – INTRODUÇÃO AO DIREITO FISCAL UNIDADE Temática: 1.1 Introdução,Âmbito e Conteúdo do Direito Fiscal UNIDADE Temática: 1.2 Actividade Financeira do Estado UNIDADE Temática 1.3 Natureza e Características do Direito Fiscal UNIDADE Temática 1.4 Relações do Direito Fiscal com os outros ramos do Direito UNIDADE Temática 1.5 Organização dos Serviços da Administração Tributária UNIDADE Temática: 1.1 Introdução, Âmbito e Conteúdo do Direito Fiscal 1. INTRODUÇÃO Para a satisfação das necessidades públicas, o Estado (representante de todo e qualquer cidadão) deve possuir uma fonte de financiamento sustentável das suas actividades, através de receitas, tradicionalmente provenientes da cobrança de impostos (prestações compulsivas, pecuniárias ou em espécie) que podem revestir a natureza de impostos ou de taxas, ou da venda e exploração de bens do património público (receitas patrimoniais). Dentre as necessidades publicas, destacam-se a construção de infra- estruturas imprescindíveis para a sobrevivência de todos nos, nomeadamente, estradas, pontes, escolas, pontes, escolas, hospitais, serviços básicos de electricidade, águas, saneamento básico a assistência medica e medicamentosa, edificando uma sociedade mais justa e solidaria, construída com base na contribuição de todos, e na qual, cada contribuição, por mínima que seja, desde que a medida da capacidade contributiva de cada um, é importante e concorre para o crescimento e desenvolvimento de Moçambique. Estas noções básicas de Direito Fiscal, como o direito dos impostos, são elaboradas no pressuposto de que há o ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 12 domínio de conhecimentos mínimos relativos a Finanças Públicas e Direito Financeiro. De todo o modo, por cautela, vale a pena recapitular algumas nações que são importantes para o melhor domínio desta cadeira. No Direito Fiscal, como já se disse, em termos largos, integram-se as normas relativas à incidência e ao procedimento fiscal, isto é, as que disciplinam organizacional e procedimentalmente o lançamento, a liquidação e a cobrança dos impostos. Não fica aqui esgotado o âmbito do Direito Fiscal, abrangendo-se nele as normas respeitantes aos recursos administrativos e as normas de fiscalização de que despontam as relativas à inspecção tributária e as que se integram no Direito Penal e Contra-Ordenacional Fiscal, no Direito Processual Penal e no Direito Processual Fiscal (normas relativas às garantias contenciosas dos contribuintes e de disciplina do processo de impugnação judicial) e no Direito Processual Executivo Fiscal que regula a execução fiscal, isto é, integra as normas relativas às garantias do Estado, enquanto credor do imposto. UNIDADE Temática: 1.2. Actividade Financeira do Estado A actividade financeira pode ser exercida por entres públicos ou privados. As entidades públicas, máxime Estado, autarquias ou pessoas colectivas de direito público, são as que exercem actividades tendentes a satisfazer as necessidades públicas. A satisfação de muitas outras necessidades humanas pertencentes à actividade económica privada. A actividade financeira pública é complexa, heterogenia e tem especificidades advindas da circunstância e das necessidades que visam suprir não se situarem no plano de livres opções, nem obedecem às pressões do mercado que requer o equilíbrio entre o custo e a utilidade económica dos bens e serviços. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 13 Tal actividade é constituída por fenómenos que se situam no plano da obtenção e emprego de meios económicos e determinada por uma vontade política legítima, para a prossecução de resultados políticos, é de natureza pública2. A actividade financeira, ou, dito doutro modo, as finanças públicas, são reguladas por um complexo de normas jurídicas que constituem um ramo de Direito – O Direito Financeiro. O Direito Financeiro, baseado numa ideia de limitação de poderes das entidades públicas, constituí uma ”definição jurídica dos poderes das entidades públicas na obtenção e no emprego dos meios económicos destinados à realização dos seus fins”3E define um equilíbrio entre os interesses patrimoniais do Estado e os dos particulares. O Direito Financeiro abrange as receitas públicas, as despesas públicas e a sua articulação, e dele são excluídas as receitas de origem privada, cujas relações jurídicas são de outros ramos de Direito. O Direito Financeiro ou, mais rigorosamente, o Direito Financeiro Público, que tem em vista também acautelar os interesses dos particulares por regular a obtenção, a gestão e o dispêndio dos meios financeiros públicos, com a sua heterogeneidade normativa compreende as seguintes áreas ou ramos: a) - O Direito das Receitas; b) - O Direito das Despesas; e c) - O Direito da Administração ou de Gestão Financeira ou da Administração Fazendária. O domínio mais unificado do Direito da Administração Financeira é constituído pelo Direito Orçamental ou Orçamentária ou Direito da Contabilidade Pública, que deve ser considerado um sub-ramo do Direito Administrativo. 2 SOARES MARTINEZ, Direito Fiscal, Almedina, Coimbra, 1993, p4 3 SOARES MARTINEZ, ob. Cit, p. 6. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 14 Estes ramos, por sua vez, admitem divisões, interessando mais para o nosso estudo as divisões relativas ao direito das receitas onde ganham espaço, o Direito dos Impostos, o Direito Tributário ou o Direito Fiscal. O Direito Tributário trata precisamente das receitas coactivas, na qual se destaca o Direito Fiscal, que é relativo ao mais importante sector das receitas coercivas, de carácter unilateral, que são os impostos. O Direito Fiscal seria, assim, um conjunto de normas que reflectem a incidência, o lançamento, a liquidação e a cobrança dos impostos. Vêm estas distinções a propósitos de que nesta disciplina não se cuida do direito dos outros tributos – os bilaterais, reconduzíveis a figuras da taxa, que encaixam em esquadria jurídica diferente dos impostos e, ainda, porque nela trataremos dos impostos ou outras figuras jurídicas que possam ser tratados como impostos, independentemente da norma ou configuração que tenham. Naturalmente que a fiscalidade pode ser entendida como conjunto de fenómenos económico-financeiros disciplinados por normas jurídicas que, como tal, seria objecto da Ciência das Finanças, por um lado, e do Direito Fiscal, por outro. Não há um conhecimento unitário do fenómeno fiscal participado dos métodos jurídico, económico-financeiro, sociológico e político que possa legitimar ou falar-se de ciência da fiscalidade4. De todo modo, antecipamo-nos, por economia de palavras e comodidade de exposição, a dizer que falar-se-á indistintamente de Direito Fiscal ou Direito Tributário ou simplesmente Fiscalidade para designar esta cadeira. Estamos a falar de pacto uma vez que é controvertida a semelhança entre o Direito Fiscal e o Direito Tributário. 4 Gomes, Nuno de Sá, Os sujeitos passivos da obrigação tributária, Revista de Ciência e Técnica Fiscal, nºs 196/198, Abril – Junho de 1975. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 15 UNIDADE Temática: 1.3 Natureza e Características do Direito Fiscal 1.3.1. Natureza do Direito FiscalO Direito Fiscal tem natureza institucional, as suas normas não se integram no Direito Comum, cuja disciplina é genérica, comum às mais diversas instituições. Visam, pelo contrário, disciplinar certos tipos de relações, constituídas na base das instituições tributárias, as quais encontram a sua origem na ideia-força, enraizada no seu meio social, da necessidade da contribuição dos patrimónios dos particulares para a sustentação da comunidade. Dir-se-á mesmo que essa raiz institucional dá unidade ao Direito Fiscal, através do sentido teleológico das suas normas, o qual provém daquela mesma raiz. No entanto, o Direito Fiscal, será o sistema de normas jurídicas que disciplinam as relações de imposto e definem os meios e os processos pelos quais se realizam os direitos emergentes daquelas relações. O Sistema Fiscal Moçambicano encontra sua constitucionalidade no art. 127º/1 Constituição da República de Moçambique (CRM), na qual visa a satisfação das necessidades financeiras do Estado, e demais entidades públicas, realizar os objectivos da política económica do Estado e garantir uma justa repartição dos rendimentos e da riqueza. Estabelecendo que os impostos são criados ou alterados por lei, que determina a incidência, a taxa, os benefícios fiscais e as garantias dos contribuintes. No mesmo artigo, se determina que, ninguém pode ser obrigado a pagar impostos que não tenham sido criados nos termos da Constituição e cuja liquidação e cobrança não se façam nos termos da lei. Ressalva também que, no mesmo exercício financeiro, não pode ser alargada a base de incidência nem agravadas as taxas de impostos e que a lei fiscal não tem efeito retroactivo, salvo se for de conteúdo mais favorável ao contribuinte. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 16 1.3.2. Características do Direito Fiscal O Direito Fiscal é uma ciência jurídica de normatividade que encerra o fenómeno fiscal como realidade social deontológica e não social fáctica. As regras do Direito Fiscal têm as características gerais das normas jurídicas, de generalidade, de abstracção, de hipoteticidade, de heteronomia e de imperatividade. A natureza institucional do Direito Fiscal leva a que as suas normas não se integrem do Direito Comum mas que disciplinem certos tipos de relações as quais encontram a sua origem, como atrás já dissemos, na ideia-força enraizada nas comunidades, da necessidade da contribuição dos patrimónios dos particulares para a sustentação da comunidade. O sentido teleológico das normas do Direito Fiscal leva a que, às vezes, pareça que este ramo se desvia dos restantes ramos do saber jurídico. Apesar de, como mais à frente se verá, estar numa relação forte com outras disciplinas jurídicas sem as quais seria penoso estudá-lo, não poucas vezes, desconsidera os conceitos já neles consagrados. O Direito Fiscal, como sub-ramo do Direito Financeiro e do Direito Tributário, adopta muitas das suas normas e conceitos. O Direito Fiscal absorve os conceitos com um sentido diferente do que tem em Direito Privado ou outros ramos de Direito e procede à sua reelaboração atribuindo-lhes sentido próprio ou específico com o qual melhor os adopta aos seus próprios interesse e objectivos; isto tudo é corolário, aliás, da ideia de que ao Direito Fiscal interessa sobretudo o aspecto económico das situações, independentemente da sua validade ou regularidade formal. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 17 Por estas razões também se chama a este Direito de Direito de sobreposição5. UNIDADE Temática: 1.4 Relações do Direito Fiscal com outros Ramos do Direito 1.4.1. Direito Fiscal, ciência fiscal e ciência técnica fiscal Segundo o prof. Nuno Sá Gomes, na sua obra Manual de Direito Fiscal – volume I-explica que “enquanto disciplina jurídica, o Direito Fiscal é uma ciência de normatividade pois o seu objecto está nas normas jurídico-fiscal, pelo que encara o fenómeno fiscal não como uma realidade social deontológica, mas sim como dever abstracto que tem o sentido de um dever efectivo”. Trata-se portanto, de um ramo de direito que integra regras que assumem todas as características das normas jurídicas em geral, isto é, generalidade, abstracção, hipoteticidade, heteronomia e imperatividade. Por sua vez, a ciência fiscal é um aspecto da ciência das finanças, que encara, portanto, o fenómeno fiscal, o imposto, numa óptica económica, como ingresso público, enquanto fenómeno social fáctico e não já normativo, procurando determinar regularidades económico- financeiras entre os fenómenos estudados de forma a poder enunciar as Leis que a eles presidem. Porém, a doutrina dos anos 50, em França começou a falar em Ciências e Técnica Fiscal, não como um ramo ou um aspecto das Finanças públicas, mas antes como nova estruturação do saber teórico da fiscalidade. 1.4.2. Direito Fiscal e o Direito Constitucional O Direito Fiscal subordina-se, tal como todas as normas de outros ramos de Direito, às regras constantes do direito constitucional e 5 Lopes Pereira, J. F. Lemos e Cardoso Mota, AM, Teoria e Técnica dos Impostos, 21ª edição, Rei dos Livros, Lisboa, 1997, pg. 14. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 18 inerente ao Estado de Direito e que são constituídas por princípios que se impõem ao próprio legislador. Trata-se de princípios da constituição matéria do Estado de Direito que estudaremos a propósito das fontes do Direito Fiscal. É o que sucede, por exemplo, com a igualdade jurídica dos cidadãos, de resto consagrado no artigo 35 da Constituição da República de Moçambique. Mas o próprio texto Constitucional conte normas de natureza fiscal que a doutrina designa de constituição fiscal, como sucede com as normas constantes do artigo 127 da CRM. 1.4.3. Direito Fiscal e o Direito Administrativo Ainda que se reconheça a autonomia destes dois ramos de Direito, as relações entre si são bem íntimas. De facto, todas as actividades de lançamento, liquidação e cobrança dos impostos seguem um processo administrativo, que é conduzido por órgãos da Administração Pública. 1.4.4. Direito Fiscal e o Direito Privado O Direito Fiscal, algumas das vezes, acolhe conceitos de direito privado, com o sentido técnico-jurídico que aí possuem. É o caso do conceito de obrigação: as regras da relação jurídica obrigacional do Estado-contribuinte, são as regras da obrigação do direito privado. Outras vezes, conceitos com um sentido próprio em direito privado são utilizados pelo direito fiscal noutro sentido. E no privado são utilizados pelo direito fiscal noutro sentido. É o que sucede por exemplo com o conceito de transmissão (da propriedade) de prédio, proprietário, comercio etc. 1.4.5. Direito Fiscal e o Direito Internacional A integração da economia numa zona mais vasta do que o território nacional, tem também incidências no ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 19 campo fiscal. Esta circunstância levou ao estabelecimento de relações jurídicas entre os Estados, para evitar nomeadamente que a mesma situação seja tributada em mais de um deles ou em nenhum. O Governo de Moçambique tem vindo a celebrar, com diversos países, convecções para evitar estesfenómenos da dupla tributação e evasão fiscal internacional. Fazendo uma análise breve do que seja a dupla tributação diríamos que, do ponto de vista relativo da carga fiscal, este fenómeno existe sempre que os impostos de dois ou vários países se sobrepõem, de tal maneira que a pessoa tributável em mais de um país tenha de suportar uma carga fiscal mais elevada do que aquela a que estaria sujeita apenas a uma jurisdição fiscal. Há também dupla tributação quando um mesmo rendimento é tributado em mais do que um país. Os objectivos dos acordos para evitar a dupla tributação consistem em servir interesses dos países outorgantes, não sendo, contudo, os mesmos nos países desenvolvidos e nos países em vias de desenvolvimento. Para os países desenvolvidos por exemplo, o acordo para evitar a dupla tributação serve para privilegiar as suas empresas e técnicas pelo facto de permitirem a aplicação dos seus capitais e da sua tecnologia em outros países. Por esta razão estes países defendem o princípio de que a tributação do rendimento deve ser feita prioritariamente no país de origem da empresa ou dos técnicos. Os países em via de desenvolvimento por seu lado vêem nos acordos de dupla tributação uma forma de incentivar o investimento estrangeiro na medida em que estes acordos permitem fazer com que o investidor seja tributado apenas num dos países. Contudo estes países em via de desenvolvimento defendem que a forma de evitar a dupla tributação é a de permitir a tributação prioritariamente no país onde estes rendimentos são produzidos, argumentando que o país exportador do capital e tecnologia beneficia já de importação dos dividendos e dos royalties. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 20 No caso particular do nosso país esta preocupação de dupla tributação internacional tem vindo a ser manifestada por diversas empresas pois apesar de alguns países, mesmo sem acordo, tomarem em consideração a carga fiscal nos países de origem do rendimento em consideração a carga fiscal suportada nos países de origem do rendimento outra há em que tal consideração não é feita sem os referidos acordos. Se uma dada empresa tiver uma mesma possibilidade de investimento em dois países e se houver com um desses países um acordo para evitar a dupla tributação, logicamente que a opção deste investidor será a de investir neste país. Ainda no nosso caso a ausência de um acordo para evitar a dupla tributação fiscal sobre o rendimento anula sobremaneira os incentivos fiscais concedido no quadro de investimento directo estrangeiro, pois a estes investidores e concedida uma isenção fiscal no nosso pais mas, o mesmo rendimento aqui isento de tributação e integralmente tributado no país de origem, o que significa na prática que, os recursos financeiros que o Tesouro Publico Moçambicano abdica pela via de isenção são transferidos para o tesouro daqueles países. 1.4.6. Direito Fiscal e o Direito Criminal O não cumprimento das obrigações fiscais esta sujeito a sanções. Em todos os códigos de impostos existe um capítulo relativo às penalidades no qual se estabelecem as respectivas punições e as regras de procedimentos. Em alguns países admitem-se penas de prisão nas transgressões fiscais e, quando tal acontece, a relação do Direito Fiscal com o Direito Criminal geralmente é bastante forte pois aplicam-se por remissão ou por transgressão, as mesmas regras. No nosso caso, as dívidas fiscais até Dezembro/2002 não são convertíveis em prisão. Contudo, a reforma fiscal introduzida pela Lei ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 21 15/20026, estabelece a possibilidade de certas infracções fiscais poderem vir a ser consideradas crimes puníveis com a pena de prisão. No entanto, as normas fiscais impõem, logicamente, o cumprimento de certos deveres. Tais deveres podem consistir: a) Numa acção (por exemplo a representação de uma declaração fiscal); b) Ou numa omissão (por exemplo a não escrituração de um livro obrigatório). Pelo incumprimento, as mesmas leis conferem à administração poderes para imporem sanções que tem por regra, carácter pecuniário. As referidas normas são aplicáveis subsidiariamente: As normas do Código Penal, do Código do Processo Penal e demais legislação complementar pertinente às infracções tributárias; As disposições do Código Civil e legislação complementar pertinente relativamente à responsabilidade civil; As normas previstas na legislação criminal e tributária na execução das multas. UNIDADE Temática: 1.5 Organização dos Serviços da Administração Tributária 1.5. Organização dos Serviços da Administração Tributária Pela Lei n.º 1/2006, de 22 de Março, foi instituída a Autoridade Tributária de Moçambique (ATM), tendo por objectivos “assegurar a eficácia, a eficiência e a equidade na aplicação das políticas tributária e aduaneira do País, garantindo uma maior comodidade para os contribuintes no cumprimento das obrigações fiscais e criando 6 Aprovado pelo Decreto 46/2002, de 26 de Dezembro. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 22 uma maior capacidade de detecção sobre o incumprimento e evasão fiscal.” Nos termos do artigo 9 do respectivo Estatuto Orgânico, aprovado pelo Decreto n.º 29/2006, de 30 de Agosto, a Autoridade Tributária de Moçambique tem a seguinte estrutura orgânica: a) Direcção-Geral das Alfândegas; b) Direcção-Geral de Impostos; c) Direcção-Geral dos Serviços Comuns; d) Gabinete de Planeamento, Estudos e Cooperação Internacional; e) Gabinete de Controlo Interno; f) Gabinete de Comunicação e Imagem. O artigo 10 da Lei nº 1/2006, de 22 de Março, prevê também a existência de um Conselho da Fiscalidade, como órgão de consulta da ATM, com a missão de “analisar e acompanhar a evolução do sistema fiscal e das políticas tributárias, com vista a que se mantenham como instrumento decisivo de justiça social”. O Conselho da Fiscalidade é presidido pelo Presidente da ATM, integrando como membros permanentes: a) O Director-Geral das Alfândegas; b) O Director-Geral de Impostos; c) O Director-Geral dos Serviços Comuns; d) Os outros Directores-Gerais da Autoridade Tributária; e) Três representantes das associações empresariais; f) Peritos de reconhecido mérito, designados pelo Presidente da Autoridade Tributária. No que respeita especificamente à Direcção-Geral de Impostos (DGI), a mesma tem por função (artigo 15 do Estatuto Orgânico da ATM) a implementação da política e legislação tributária, e de todas as ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 23 acções de controlo e fiscalização necessárias à prossecução das suas competências, e integra as seguintes unidades orgânicas: a) Direcção de Controlo de Cobrança, Reembolsos e Benefícios Fiscais; b) Direcção de Auditoria, Fiscalização e Investigação; c) Direcção de Normação Tributária; d) Direcção do Contencioso Tributário. 1.5.1. São competências da DGI: Assegurar a arrecadação de impostos e de outras receitas do Estado cuja cobrança lhe seja cometida; Executar a política tributária e realizar uma avaliação contínua da sua repercussão na ordem financeira, económica e social; Controlar a aplicação das leis fiscaise a reintegração ou defesa dos respectivos interesses violados; Prevenir e combater a fraude e evasão fiscais; Assegurar o lançamento, a liquidação e a cobrança dos impostos cuja arrecadação esteja a seu cargo, e proceder à avaliação dos níveis de cobrança; Exercer a acção de informação pública no domínio tributário; Promover e realizar acções de auditoria e fiscalização tributária com vista à prevenção e combate à fraude e evasão fiscais; Acompanhar e monitorar a execução dos benefícios fiscais e proceder à determinação e controlo da respectiva despesa fiscal; Prestar esclarecimentos aos contribuintes acerca da interpretação das leis fiscais, suas obrigações e o modo mais cómodo e seguro de as cumprir; Colaborar na elaboração das propostas de medidas de política e alterações à legislação no âmbito da sua actividade; ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 24 Informar sobre os aspectos decorrentes da execução das leis fiscais; Manter o registo actualizado dos contribuintes. Territorialmente, e no que respeita à organização dos serviços da administração tributária, o País encontra-se dividido em áreas fiscais, agrupando em regra cada uma delas a área de diversos distritos, com excepção da cidade de Maputo, a qual se encontra dividida em duas áreas (designadas de Bairros Fiscais). A cada uma dessas áreas fiscais corresponde uma Direcção de Área Fiscal (antigas repartições de Finanças) e junto de cada uma destas funciona também o respectivo Juízo das Execuções Fiscais, com a excepção uma vez mais da Cidade de Maputo, na qual funciona um único Juízo, agrupando as áreas dos dois Bairros Fiscais. As Direcções de Área Fiscal representam o elo de ligação principal dos contribuintes com os serviços da administração tributária, junto delas tendo lugar o cumprimento das respectivas obrigações (declarativas e outras). De referir que os órgãos da Administração Tributaria têm as obrigações que abaixo se alistam: a) Observar a Constituição e demais normas tributárias; b) Participar na execução da política tributária nacional; c) Proceder ao registo tributário dos contribuintes e fiscalizar a liquidação e pagamento dos tributos; d) Organizar informações estatísticas respeitantes a receitas e despesas tributárias; e) Aplicar tempestivamente penas de juros, multas ou coimas; f) Realizar inspecções em consonância com as leis tributárias em vigor; e g) Emitir instruções e circulares em assuntos da sua competência. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 25 EXERCÍCIOS 1) Deia o conceito do Direito Fiscal e o diferencie do Direito Financeiro. 2) Que relação existe entre o direito fiscal e o direito tributário? 3) O direito fiscal é comummente designado por direito dos impostos. Qual é a razão desta designação? 4) Aborde de forma desenvolvida em torno da relação que se pode estabelecer entre o Direito Fiscal e o Direito Administrativo. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 26 TEMA II – PRINCIPAIS FIGURAS TRIBUTÁRIAS UNIDADE Temática: 2.1 O Conceito de Imposto, Objectivos e suas Fases UNIDADE Temática: 2.2 Distinção entre Impostos e Taxas UNIDADE Temática: 2.3 Classificação dos Impostos UNIDADE Temática: 2.4 Noção do Direito Fiscal ou Tributário UNIDADE Temática: 2.1. O Conceito de Imposto, Objectivos e suas Fases 2.1. Conceito do Imposto Imposto – Consiste numa prestação coactiva definida por lei, de carácter pecuniário, definitiva e unilateral, sem carácter de sanção, revertendo a favor do Estado, com vista à realização de fins públicos. Também se define Imposto como sendo uma quantia em dinheiro, legalmente exigida pelo poder público, que deverá ser paga pela pessoa singular ou colectiva a fim de atender às despesas públicas feitas em virtude do interesse comum, sem levar em conta vantagens de ordem pessoal ou particular. Encontramos na primeira definição os caracteres fundamentais do Imposto: a) Coactiva → porque o Estado exige ao contribuinte a prestação, mesmo que seja necessário o uso de meios coercivos; b) Segundo a lei → visto ser a lei que permite ao Estado exigir o imposto, por via do princípio da legalidade; c) Pecuniário → uma vez que o imposto é pago, na generalidade dos casos através de meios monetários; d) Definitiva → dado que o contribuinte nunca será reembolsado, restituído, retribuído ou indemnizado, excepto se o imposto for cobrado indevidamente; ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 27 e) Unilateral/Sinalagmática → pois o contribuinte não recebe directamente nada em troca, face ao pagamento que efectuou; f) Sem carácter de sanção → sem fins sancionatórios (ao contrário da multa e da coima); g) A favor do Estado → é este quem arrecada o imposto, origem maior das suas receitas; h) Para satisfazer fins públicos → porque permite realizar despesas públicas. 2.1.1. Objectivos do Imposto Como já sabemos, os impostos são criados para a satisfação dos fins públicos, expressão ampla que engloba objectivos fiscais (obtenção de receitas publicas) e extrafiscais (sociais, económicas etc.). Assim podemos distinguir os seguintes objectivos: a) Objectivos Fiscais Aqui os impostos visam a obtenção de receitas para financiamento das despesas pública, isto e, “a satisfação das necessidades financeiras do Estado”. b) Objectivos Sociais Os impostos visam a “repartição justa da riqueza e dos rendimentos”, a “dimensão das desigualdades”, tendo em conta as necessidades e os rendimentos do agregado social, operando-se assim uma verdadeira redistribuição da riqueza. Por outro lado, os impostos podem adaptar a estrutura do consumo à evolução das necessidades de justiça social (onerando os consumes de luxo, por exemplo). c) Objectivos Económicos Além do mais, os impostos podem combater a inflação (reduzindo o rendimento disponível e, ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 28 consequentemente, o consumo), obter a selectividade do consumo (tributando mais pesadamente os consumos nocivos e supérfluos, como o tabaco, o jogo, certas bebidas, as antiguidades, etc.), proteger as indústrias nacionais (estabelecendo direitos aduaneiros protectores durante um certo período), incentivar a poupança e o investimento (indirectamente através de desagravamentos fiscais). 2.1.2. Fases do Imposto O processo do imposto compreende as seguintes fases: 1ª. Incidência Sabemos já que o imposto nasce quando surge uma norma legal que confere ao Estado a posição de credor do imposto e ao cidadão a situação de devedor do mesmo. Compete a Lei definir, embora de modo genérico e abstracto, o que e passível de imposto e quem é que fica sujeito a imposto. Esta fase, consiste em definir o campo de acção a nível dos sujeitos, actos bens e situações que ficarão sobre a alçada da figura de determinado imposto. Exemplo o IRPS incide sobre o rendimento das pessoas singulares. Temos, assim, dois aspectos sobre os quais pode ser encarada a incidência: o que esta sujeito a imposto (incidência real ou incidências material)e quem esta sujeito a imposto (incidência pessoal ou subjectiva). Haverá sempre lugar a imposto quando se mostrem reunidos todos os pressupostos de incidência referidos na lei. Pode, no entanto, o legislador abrir, por vezes, excepções as regras de incidência. Isto é, pode acontecer que estando reunidos os pressupostos de incidência, a própria lei, determine que determinados sujeitos ou certa material colectável não seja tributada. Estas excepções as regras de incidência chamam-se isenção. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 29 A isenção fiscal pode ser objectiva (no caso de ser em função do objecto) ou subjectiva (se for em função dos sujeito. A isenção pode ser ainda total ou parcial. 2ª. Lançamento Corresponde ao momento do início da aplicação da lei. É a fase em que, do geral e abstracto da incidência, se passa ao individual e concreto; é a fase em que se processam as operações conducentes à identificação particular dos sujeitos passivos e à determinação concreta da matéria colectável sobre que vai incidir o imposto. A fase de lançamento encerra dentro de si, um conjunto de operações conducentes a identificar, por um lado o contribuinte devedor do imposto e por outro, a matéria colectável ou objecto do imposto, isto é, o bem, acto ou situação pela qual vai incidir o imposto, e destacam- se dois grandes momentos nesta fase: a) A identificação do contribuinte que se pode fazer com base na declaração do próprio (que é a forma mais comum), por declaração de terceiros, por simples actividade do fisco ou mesmo por indicação de certos serviços públicos; e b) A fixação da material colectável, que pode ser feita também com base na declaração do contribuinte, por fixação directa pela administração fiscal, por fixação feita por comissões específicas estabelecidas na lei e, algumas vezes, por acordo. Nos principais impostos que compõem actualmente o sistema fiscal (IRPS, IRPC, IVA), as operações de lançamento são efectuadas pelo próprio contribuinte, por isso se fala, a este propósito, em auto lançamento do imposto. 3ª. Liquidação Esta é a fase que se determina o montante de imposto – a colectar – a imputar ao contribuinte. É a operação aritmética de aplicação de uma taxa à matéria colectável apurada na fase do lançamento, para ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 30 determinação do montante exacto de imposto devido pelo sujeito passivo (colecta). Naqueles impostos em que a lei prevê a possibilidade de deduções à colecta, a liquidação abrange também os cálculos decorrentes destas deduções. Hoje generaliza-se a tendência para agrupar sob a mesma designação "liquidação", quer as operações de liquidação propriamente ditas que acabámos de referir, quer as operações de lançamento mencionadas no ponto anterior. Ao usarmos agora a expressão "liquidação", temos, pois, que distinguir entre uma liquidação em sentido estrito (a operação aritmética de aplicação de uma taxa à matéria colectável) e uma liquidação em sentido amplo, que abarca tanto a dita operação aritmética, a liquidação em sentido estrito, como todas as outras operações de lançamento. Em regra a liquidação é feita, nos impostos directos pela administração fiscal, e nos impostos indirectos pelo contribuinte. Importa realçar que a liquidação esta sujeita a caducidade. Ocorrido o facto gerador do imposto, ela só poderá ter lugar dentro de um prazo de cinco anos, para o caso dos impostos sobre o Rendimento ou, no caso do sisa e do imposto sucessório, dentro dum prazo de vinte anos. Estes prazos não são de prescrição, mas de caducidade, como se acentuou. Daí que, extinto o direito a liquidação, não se encontre necessariamente prescrito o direito a cobrança dos impostos, cujo prazo é de vinte anos. 4ª. Cobrança Cobrança e pagamento são expressões que traduzem a mesma realidade jurídica. A primeira assumida do ponto de vista da administração fiscal, que cobra o imposto; a segunda encarada do ponto de vista do contribuinte, que o paga. É a fase final da vida do imposto, para que tende toda a relação jurídica fiscal. Com a cobrança (pagamento) os valores correspondentes ao imposto vão dar entrada nos cofres do Estado e com isso a relação jurídica fiscal, normalmente, extinguir-se-á. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 31 UNIDADE Temática: 2.2. Distinção entre Imposto e Taxa O Imposto, é uma prestação obrigatória estabelecida pela lei a favor de entidades que exerçam funções públicas e para satisfação de fins públicos que não constituam sanção de actos ilícitos. Taxa, é uma prestação avaliável em dinheiro, exigida por uma entidade pública, como contrapartida individualizada pela utilização de um bem de domínio público, ou de um serviço público. Elas são devidas pela utilização individual de serviços públicos ou de bens de domínio publico, de que todos necessitam abstractamente, mas que só alguns procuram activamente, ou pela remoção de um limite jurídico à actividade dos particulares mediante a concessão de autorizações administrativas. No plano da economia financeira a separação entre imposto e taxa pode estabelecer-se com relativa facilidade, na base do critério da divisibilidade ou indivisibilidade dos serviços públicos. As taxas, são progressivas porque aumentam mais que proporcionalmente, há medida que o rendimento aumenta, taxa progressiva, é a taxa que varia mais que proporcionalmente à variação do rendimento. O Estado e as outras entidades públicas prestam serviços cuja utilidade não é divisível pelos cidadãos. A defesa nacional e a diplomacia constituem exemplos nítidos de serviços públicos indivisíveis e, consequentemente, suportados pelo imposto. De outros serviços públicos, porém, extraem os particulares utilidades individualizáveis. É o caso dos serviços de instrução, de justiça e de muitos outros, ora quando através dos serviços públicos se prestam utilidades particulares, individualizáveis, quando esses serviços são divisíveis, em suma, há a possibilidade de realizar a sua cobertura financeira, ou parte dela, através do pagamento de prestações exigíveis dos particulares que utilizam tais serviços. Atendendo à diversidade de estruturação legal, o vínculo jurídico de taxa tem por causa a prestação por uma entidade pública de ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 32 utilidades individualizadas. Quer dizer que a taxa, como aliás o preço também apresenta origem sinalagmática. É este aspecto precisamente que separa com nitidez a taxa de imposto. Porque a taxa tem por causa a realização de uma utilidade individualizada, ela depende de outro vínculo jurídico, o que não acontece com o imposto. Deste modo, a diferença fundamental entre o imposto e a taxa reside no facto de aquele ser uma prestação unilateral e a taxa ser uma prestação bilateral ou sinalagmática, isto é, com uma contraprestação específica, individual, imediata e directa (serviço prestado). A verdade é que a distinção entre imposto e taxa assume especial relevância no que se refere ao princípio da legalidade: o imposto só pode ser criado por lei da Assembleia da República, enquanto que a taxa, nem sempre é assim. UNIDADE Temática: 2.3. Classificação dos Impostos Os Impostos têm a classificação que abaixo sealista: a) Impostos directos e indirectos Os impostos directos, visam atingir faculdades contributivas permanentes, estáveis, enquanto os indirectos, visam atingir faculdades contributivas intermitentes, instáveis, passageiras, é aquele que geralmente tem inspirado as leis e contabilidade pública. São impostos directos, aqueles cujo lançamento se baseia na elaboração prévia de um rol nominativo de contribuintes (ex.: IRPPS, IRPC e ISPC); e indirectos os outros (ex.: IVA, ICE e Direitos Aduaneiros). Quanto ao sujeito activo: b) Impostos Estaduais e não Estaduais: Nem sempre o Estado é credor do imposto, o sujeito activo da relação jurídico-tributária. Esta constitui-se, muitas vezes, em benefício de uma ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 33 Autarquia Local ou de um Instituto Público. Daí a separação dos impostos estaduais e não estaduais. A origem de uns e de outros é legal e, portanto, estadual; mas só em relação aos primeiros o Estado se apresenta como credor (ex.: IRPS, IRPC e IVA). Note-se que os impostos não estaduais são os estruturados no sentido da sua atribuição a uma entidade diversa do Estado. Mas acontece frequentemente que a receita de um imposto estadual seja cedida pelo Estado a outra entidade pública (ex. As Autarquias). Quanto ao período de tempo em que ocorrem: Impostos Periódicos - quando os factos ou situações que dão origem ao imposto se repetem, no tempo, com carácter de continuidade (IRPS,IRPC e IVA); Impostos de Obrigação única - quando os factos ou situações não se repetem com carácter de periodicidade, mas ocasional ou esporadicamente. c) Impostos reais e pessoais: Os impostos reais, visam a atribuição de bens económicos, de riqueza, em termos objectivos, sem que nessa tributação se vão reflectir as condições pessoais do contribuinte, os impostos pessoais, pelo contrário, procuram atingir certos bens por pertencerem, ou respeitarem a determinadas pessoas, cuja capacidade contributiva e outras circunstâncias pessoais, são tidas em conta, através de alguns aspectos da tributação. Raramente se encontrarão impostos que visem apenas aspectos pessoais. Mas pode admitir-se a classificação na base do maior ou menor relevo desses aspectos. Assim, segundo o critério da predominância, serão reais, além de todos os impostos de consumo, do selo e aduaneiros, os impostos prediais. Segundo este mesmo critério de predominância, de aspectos objectivos ou subjectivos, serão pessoais o imposto sucessório e o IRPS, ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 34 cujas taxas e outros elementos variam, não apenas em função da capacidade contributiva mas também em função de outros factores respeitantes à pessoa do contribuinte. Tendo de reconhecer-se que os impostos indirectos são sempre reais, ou objectivos, nota-se facilmente que a destrinça oferece interesse escasso, do ponto de vista jurídico, porquanto no campo dos impostos directos é fácil distinguir diversidade de tratamento quanto ao nascimento e à estrutura da obrigação de imposto entre reais e os pessoais. Em função do tipo de taxas aplicáveis, os impostos (em particular os impostos directos) classificam-se ainda em: a) Proporcionais – quando a respectiva taxa permanece fixa, qualquer que seja o montante da matéria colectável (é exemplo o IRPC); b) Progressivos – quando a respectiva taxa é tanto mais elevada quanto maior seja o montante da matéria colectável (é exemplo o IRPS); c) Degressivos – quando o imposto é essencialmente de taxa proporcional, mas se estabelecem taxas mais suaves aplicáveis no patamar inferior da pirâmide dos rendimentos colectáveis (constituiu exemplo em Moçambique o antigo Imposto Profissional); d) Regressivos – quando a respectiva taxa varia em função inversa do rendimento colectável (o Imposto Pessoal Autárquico e o Imposto de Reconstrução Nacional, com as suas taxas de quantitativo fixo. Durante muito tempo a doutrina clássica considerou os impostos directos e, em particular, o imposto progressivo, como os mais adequados à aplicação e realização de critérios e objectivos de justiça social. E se examinado a esta luz, o actual sistema tributário moçambicano teria de classificar-se como profundamente injusto, pois que cerca de 75% das receitas fiscais totais do Estado ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 35 provêm dos impostos indirectos (IVA, ICE, direitos de importação, etc.), representando o imposto progressivo (IRPS) pouco mais de 10% das mesmas receitas. Esta doutrina vem porém a ser progressivamente questionada desde ainda os anos 80, designadamente à luz de critérios de eficácia fiscal, apontando-se a grande ineficiência na aplicação do princípio do imposto progressivo (em particular no que respeita à tributação dos rendimentos de capital, pela progressiva sofisticação que os mesmos podem revestir), a crescente mobilidade dos capitais no quadro da globalização da economia, a debilidade dos serviços de administração tributária face aos níveis de evasão verificados em todos os casos em que não tem aplicabilidade o princípio da retenção na fonte, entre outros factores. Por outro lado, sublinha-se a maior eficácia de formas de tributação tipo IVA, bem como as virtualidades da tributação selectiva de certo tipo de consumos, indiciadores de determinadas formas de riqueza. De referir ainda que, embora a obtenção de recursos financeiros pelo Estado seja a razão de ser do imposto, através do mesmo podem ser prosseguidos importantes objectivos extrafiscais, como por exemplo: Objectivos de redistribuição do rendimento e da riqueza nacional, através do imposto progressivo (apesar dos factores negativos que acima apontados); Orientação de consumos, através de formas de tributação selectiva tipo ICE; Penalização e desencorajamento de consumos socialmente nocivos (tributação fortemente gravosa do tabaco e do álcool); Incentivo de determinadas actividades económicas, sujeitando a taxas efectivas mais favoráveis os correspondentes rendimentos, e bem assim a orientação de investimentos para zonas menos desenvolvidas do território nacional. Um outro objectivo extra-fiscal tradicionalmente associado aos direitos de importação (que em muito ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 36 justificava a própria razão de ser dos mesmos) era a protecção da indústria nacional. As políticas de progressiva liberalização das trocas comerciais e de “desarmamento” aduaneiro afectam de forma irreversível a realização de tal objectivo. UNIDADE Temática: 2.4 Noção do Direito Fiscal ou Tributário Ao debruçarmos sobre a doutrina do Direito Fiscal ou Tributário há que realçar que na prática não existem diferenças acentuadas entre o âmbito das matérias dadas nos manuais de direito fiscal e o âmbito das matérias dadas nos manuais de direito tributário. Tradicionalmente as doutrinas portuguesas, francesa, alemã, austríaca e suíça, etc., preferem a terminologia de “direito dos impostos ou direito fiscal”, ao passo que as doutrinas italiana, espanhola e brasileira têm optado pela terminologia de ”direito dos tributos ou direito tributário“7. O Direito dos Impostos, Direito Tributário, ou Direito Fiscal, é o ramo de Direito Financeiro que corresponde á insuficiênciado património e do domínio para suportarem as despesas crescentes das comunidades políticas. É assim logicamente supletório, no sentido de que visa a preencher aquela insuficiência. A doutrina moçambicana tem perfilhado a primeira orientação terminológica, uma vez que a Constituição em vigor, prevê um sistema fiscal, em que se impõe o princípio de legalidade dos impostos e das respectivas taxas nos termos dos nºs. 2 e 4 do artigo 127 da CRM. Apesar de que actualmente o legislador ordinário tem preferido a segunda orientação, com aprovação das Leis nºs. 1/2006 e 2/2006, ambas de 22 de Março, que cria a Autoridade Tributaria de Moçambique e estabelece os princípios gerais do ordenamento jurídico tributário moçambicano e aplicável a todos os tributos nacionais e autárquicos, respectivamente. 7 Cfr. NABAIS, José Casalta, Direito Fiscal, 4ª edição, Almedina, Coimbra, Maio de 2007; págs. 6 e ss. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 37 EXERCÍCIOS 1. Os impostos enquanto receitas públicas visam certos objectivos económicos, sociais e jurídicos. a) O que entendes por imposto? b) Enuncie os objectivos do imposto. c) Porquê razão os impostos são receitas coactivas? 2. Quanto ao sujeito activo, os impostos podem classificar-se em Estaduais e não Estaduais. Sustente a afirmação com argumentos convincentes. 3. Distinga o Imposto da Taxa. 4. Coloque Verdadeiro (V) ou Falso (F) as questões que se seguem: a) O imposto é uma prestação sinalagmática, não correspondendo assim à prestação de imposto qualquer contraprestação específica a favor do contribuinte. A prestação de imposto confere ao contribuinte o direito de exigir qualquer contraprestação específica, directa e imediata; b) Desde que haja necessidade de aumentar o nível de arrecadação de receitas para fazer face as despesas públicas, o Governo pode decidir agravar as taxas dos impostos durante o exercício económico; c) Os impostos só são exigidos a favor de entidades públicas, como também podem sê-lo a favor de entes que não sendo públicas; d) Num Estado de Direito, ao contrário da anterior prática do Estado absoluto, a actividade financeira se exerce de forma arbitrária, ou seja, se subordina às conveniências ou vontades dos agentes e órgão público; ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 38 TEMA III – PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO DIREITO FISCAL UNIDADE Temática: 3.1 Fontes do Direito Fiscal UNIDADE Temática: 3.2 Evolução do Direito Fiscal UNIDADE Temática: 3.3 Autonomia do Direito Fiscal UNIDADE Temática: 3.4 Princípios do Direito Fiscal UNIDADE Temática: 3.5 Normas Fiscais UNIDADE Temática: 3.6 Soberania do Direito Fiscal UNIDADE Temática: 3.1 Fontes do Direito Fiscal Não se estuda nenhuma disciplina da enciclopédia jurídica sem se conhecer e discutir as respectivas fontes. Elas podem ser do conhecimento, genéticas (materiais ou reais que são as fontes de origem – causa de Direito), de validade e de juridicidade. A expressão “fonte de direito”, numa acepção técnico-jurídica, refere- se aos modos de formação e de revelação das regras jurídicas, ou seja, às formas do seu aparecimento e manifestação. De referir que, a mesma expressão admite diversos entendimentos, ou conteúdos. Um substancial respeita à origem e à razão vinculativa das normas; outro formal, abrange os revestimentos pelos quais os preceitos jurídicos se revelam, são enunciados, se apresentam aos seus destinatários. O entendimento consagrado é o de que as fontes de Direito, na acepção tecnico-juridica ou formal, são modos de formação e revelação das regras jurídicas, ou seja, as formas do seu aparecimento e manifestação. Esta acepção é a que interessa à ciência do Direito e, obviamente, ao Direito Fiscal. ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 39 No entanto, destacam-se as seguintes as fontes de direito: 3.1.1. A Lei Normas jurídica criada e imposta por uma autoridade com poder para o fazer (poder legislativo); Embora juridicamente a palavra ”Lei” possa ser utilizada numa acepção extremamente ampla, equivalente a direito (quando, por exemplo, dizemos que a lei proíbe ou impõe), aquela palavra, com sentido de fonte de direito, ainda pode ter significados diversos: Um significado lato, para designar toda e qualquer norma jurídica criada por decisão e imposição de uma autoridade competente para tal, distinguindo-se por isso do costume; Um significado restrito, para designar apenas os diplomas emanados da Assembleia da República. Assim, naturalmente perante a palavra» lei» não podemos deixar de determinar, por interpretação, qual a extensão do sentido em que é utilizada. De acordo com sua hierarquia, vamos considerar a lei constitucional, as leis da Assembleia da República e os Decretos do Conselho de Ministro e os regulamentos (que podem ser Decretos do Conselho de Ministro ou Diplomas Ministeriais). 3.1.2. O Costume Norma jurídica resultante da prática repetida e habitual de uma conduta encarada como obrigatória. “Tacitus consensuspopuli longa cosutudineinveteratus” (prática reiterada e constante com convicção de obrigatoriedade), há-de afirmar-se como fonte de Direito. Mas não parece que tal aconteça no campo tributário, onde as normas não são criadas espontaneamente pelos destinatários. Não é o princípio da legalidade do imposto que leva a afastar o costume daquele campo. Porquanto como se sabe, esse princípio domina apenas alguns aspectos da tributação, especialmente o ISCED CURSO: DIREITO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Direito Fiscal 40 da incidência fiscal. Mesmo assim, é difícil admitir que outros aspectos, como o lançamento, o da liquidação ou da cobrança, possam conformar-se com a disciplina de normas consuetudinárias. O costume não pode ser fonte de direito fiscal, no domínio dos elementos essenciais dos impostos, como decorre do princípio da legalidade. Mesmo quanto aos restantes aspectos, apenas existem certas praxes burocráticas, donde seguramente não brotam normas jurídicas vinculativas. 3.1.3. A Jurisprudência Nem a jurisprudência nem a doutrina constituem fontes imediatas de Direito Fiscal, salvo, quanto à primeira. Os Tribunais, normalmente, não criam normas jurídicas através das suas sentenças e dos seus acórdãos. Convém salientar que a lei e o costume são fundamentalmente modos de formação das normas (fontes directas ou imediatas), enquanto a jurisprudência e a doutrina são modos de revelação (fontes indirectas ou mediatas) daquelas normas, pois não criam normas jurídicas. No caso da jurisprudência, os assentos vinculam os tribunais a uma determinada interpretação da Lei. No entanto, a jurisprudência e a doutrina desempenham um papel do maior relevo como fontes mediatas de Direito Fiscal, pela influência que exercem na evolução dos sistemas de Direito Positivo. E esta influência é ainda mais marcada no campo do Direito Fiscal, por se tratar de um ramo de Direito que tem sofrido ultimamente e está sofrendo, grandes e profundas alterações, as quais são muito frequentemente influenciadas pela opinião dos doutrinadores e pelas orientações jurisprudenciais. 3.1.4. Doutrina A doutrina não é fonte do direito fiscal. Apesar de largo desenvolvimento aos cultores