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Fiscalidade Manual do Curso de Licenciatura de Gestão de Recursos Humanos ENSINO ONLINE. ENSINO COM FUTURO ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade i Direitos de autor (copyright) Este manual é propriedade do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED), e contém reservado todos os direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão expressa de entidade editora (Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED). A não observância do acima estipulado infractor é passível a aplicação de processos judiciais em vigor no País. Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Direcção Académica Rua Dr. Almeida Lacerda, No212 Ponta - Gêa Beira - Moçambique Telefone: +258 23323501 Cel: +258 823055839 Fax:23323501 E-mail: isced@isced.ac.mz Website: www.isced.ac.mz http://www.isced.ac.mz/ http://www.isced.ac.mz/ http://www.isced.ac.mz/ ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade ii Agradecimentos O Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) agradece a colaboração dos seguintes indivíduos e instituições na elaboração deste manual: Autores Fonseca Aguilar Viegas, Licenciado em Direito pela Universidade Zambeze e em ensino de Filosofia pela Universidade Pedagógica delegação da Beira Constantino José Cossa, Licenciado em Direito pela Universidade Zambeze e em ensino de Filosofia pela Universidade Pedagógica delegação da Beira Coordenação Design Financiamento e Logística Revisão Científica e Linguística Ano de Publicação Local de Publicação Direcção Académ ica do ISCED Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância (ISCED) Instituto Africano de Promoção da Educação a Distancia (IAPED) Estrela Eduardo Soda Charles 20 16 ISCED - BEIRA ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade iii Índice Direitos de autor (copyright) i PREFÁCIO viii ABREVIATURAS ix VISÃO GERAL 11 Benvindo à Disciplina/Módulo de Fiscalidade ................................................................ 11 Objectivos do Módulo..................................................................................................... 11 Quem deveria estudar este módulo ............................................................................... 12 Como está estruturado este módulo .............................................................................. 12 Ícones de actividade ....................................................................................................... 14 Habilidades de estudo .................................................................................................... 14 Precisa de apoio? ............................................................................................................ 16 Tarefas (avaliação e auto-avaliação) .............................................................................. 17 Avaliação ......................................................................................................................... 17 TEMA – I: O DIREITO FISCAL E SEU ENQUADRAMENTO NO UNIVERSO DA CIÊNCIA JURÍDICA. 18 Contextualização do tema ............................................................................................ 18 UNIDADE Temática 1.1 Actividade Financeira e Direito Fiscal ...................................... 19 1-Actividade financeira ......................................................................................... 19 1.1-Noções fundamentais ...................................................................................... 19 1.2-Direito Financeiro, Direito Tributário e Direito Fiscal ................................... 21 2- Natureza e Âmbito do Direito fiscal ................................................................. 22 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................... 23 Unidade Temática n° 2 - A Relações do Direito fiscal com Outros Ramos do Direito .... 25 1 - Direito fiscal e direito constitucional ............................................................... 25 2 - Direito fiscal e direito administrativo .............................................................. 26 3 - Direito fiscal e direito processual ..................................................................... 26 4 - Direito fiscal e direito penal ............................................................................. 26 5 - Direito fiscal e direito internacional ................................................................. 26 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................... 27 ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade iv Unidade Temática n° 3: Fontes do direito fiscal ............................................................. 28 1.1 -Constituição e princípios constitucionais em matéria de tributação .............. 28 1.2-Lei no sentido restrito ..................................................................................... 31 1.3-Decreto-lei ....................................................................................................... 31 1.4-Regulamento (Decreto, Diplomas Ministeriais, o Regulamento das Autarquias Locais) ................................................................................................................... 31 1.5-Contractos Fiscais ........................................................................................... 32 1.6- Convenções internacionais ............................................................................. 32 1.7- Sobre o valor das Ordens Internas da Administração, Jurisprudência, Doutrina e Costume ............................................................................................... 34 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................... 34 Unidade Temática n° 4 – A Interpretação e Aplicação das Normas Fiscais ................... 36 1 - A Interpretação e Aplicação das Normas Fiscais ............................................. 36 2- Aplicação das Leis Fiscais no Tempo ............................................................... 38 3- Aplicação da Lei no Espaço .............................................................................. 39 4 – O conceito de dupla tributação .....................................................................40 4.1. O Problema da Dupla Tributação Internacional ............................................. 46 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................... 47 TEMA – II: TEORIA GERAL DO IMPOSTO 49 Contextualização ................................................................................................... 49 Unidade Temática n° 1: Conceito do imposto, distinção do imposto e figuras afins e a classificação dos impostos .............................................................................................. 50 1.1 Aspectos gerais ................................................................................................ 50 1.2 - O imposto e as figuras afins .......................................................................... 50 1.3 Objectivos do imposto .....................................................................................52 1.4 - Classificação dos impostos ........................................................................... 53 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................... 55 Unidade Temática n° 2: Fases do imposto ..................................................................... 57 1 - Fases do imposto ................................................................................................. 57 1– A incidência .................................................................................................. 57 1.2 - A fase administrativa .................................................................................... 57 1.2.1 - Lançamento ................................................................................................ 58 1.2.2 - Liquidação .................................................................................................. 58 1.2.3 - Cobrança ou Pagamento ............................................................................. 58 1.3 - O processo de execução fiscal ...................................................................... 59 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................... 60 TEMA – III: GARANTIAS 62 ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade v Contextualização do tema ..................................................................................... 62 Unidade Temática n° 1 - Garantias .................................................................................63 1 - Garantias do sujeito activo ............................................................................... 64 1.1 - Garantias especiais ........................................................................................ 64 2 - Garantias do sujeito passivo ............................................................................. 65 2.1 - Garantia geral ................................................................................................ 65 2.2 - Garantias impugnatórias ............................................................................... 66 2.3 - Garantias não impugnatórias ......................................................................... 66 2.4 - Garantias impugnatórias administrativas (graciosas) ................................... 66 2.4.1. Reclamação graciosa ................................................................................... 66 2.4.2 - Recurso hierárquico ................................................................................... 68 Unidade Temática n°2: Garantias (Continuação.) ......................................................... 68 2.5 - Garantias impugnatórias contenciosas .......................................................... 68 ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade vi 2.5.1 - Tutela jurisdicional .................................................................................... 68 2.5.2 - Conceito de Garantias Contenciosas .......................................................... 70 2.5.3 - Recurso Contencioso .................................................................................. 70 2.5.4 - As acções .................................................................................................... 71 2.5.4.1 - Acção para reconhecimento de um direito ou interesse legalmente protegido ................................................................................................................71 2.5.4.2 - Acção para intimação para prática de um comportamento ..................... 71 3 - Princípios do contencioso fiscal ....................................................................... 71 3.1 - Princípio da tutela jurisdicional efectiva ......................................................71 3.2 - Principio do inquisitório e da verdade material ............................................ 72 3.3 - Princípio da celeridade .................................................................................. 72 3.4 - Princípio da cooperação ................................................................................ 73 4 - Infracções fiscais ..............................................................................................73 4.1 - Competência para julgamento das transgressões fiscais ...................................... 74 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO ........................................................................... 75 TEMA – IV: O SISTEMA FISCAL MOÇAMBICANO 78 Contextualização do tema ............................................................................................ 78 Unidade Temática n° 1 - A Origem Histórica do Direito Tributário Moçambicano ........ 78 1.1 - As formas iniciais do imposto em Moçambique ........................................... 78 1.2 - O Mussoco e o imposto de palhota ............................................................... 78 2 - Os impostos Directos ....................................................................................... 82 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................... 83 Unidade Temática n°2: A fiscalidade em Moçambique após a independência. ............ 85 1 - O sistema tributário vigente à data da independência ...................................... 85 1.1 - Características do sistema ............................................................................. 85 1.2 - Principais impostos em vigor ........................................................................ 86 2 - Reforma Iniciada em 1978 ............................................................................... 87 3 - O PRE e a reforma fiscal de 1987 .................................................................... 88 4 - A reforma fiscal de 2002 e os novos impostos do Sistema fiscal moçambicano ........................................................................................................ 88 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................... 89 Unidade Temática n°: 3Tributação em IRPS ...................................................................91 1 - Incidência objectiva .........................................................................................91 1.1 - Rendimentos de trabalho dependente .......................................................... 91 ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade vii 1.1.1 - Rendimentos de trabalho dependente não sujeitos ao IRPS ......................92 1.1.2 - Rendimentos de trabalho dependente isentos ............................................93 1.2 - Rendimentos empresariais e profissionais – 2ª categoria .............................93 1.3 - Rendimentos de capitais – 3ª categoria (art. 9 do CIRPS) ............................ 93 1.4 - Mais-valias – 3ª categoria ............................................................................. 93 1.5 - Rendimentos 4ª categoria .............................................................................. 94 1.6 - Ganhos em numerário e incrementos patrimoniais – 5ª categoria ................ 94 2 - Incidência subjectiva ........................................................................................ 95 Unidade Temática n°4: Pagamento do IRPS (continuação) ............................................ 96 1 - Retenção na fonte ............................................................................................. 96 1.1 - Retenções na fonte com natureza de pagamento antecipado ........................ 96 1.2 - Retenção na fonte com naturezade pagamento definitivo ........................... 97 1.3 - Pagamento por conta ..................................................................................... 97 1.4 - Pagamento final ............................................................................................. 98 2 - Apuramentos .................................................................................................... 98 2.1 - Apuramento dos rendimentos líquidos de trabalho dependente (1ª categoria) ............................................................................................................... 98 2.2 - Apuramento dos rendimentos líquidos da 2ª categoria ................................. 98 2.3 - Apuramento dos rendimentos líquidos da 3ª categoria ................................. 99 2.4 - Apuramento dos rendimentos líquidos da 4ª categoria ............................... 101 2.5 - Apuramento dos rendimentos líquidos da 5ª categoria ............................... 101 3 - Rendimentos líquidos das categorias ao apuramento do IRPS final .............. 101 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................. 102 Unidade Temática n°5: Tributação em IRPC ................................................................. 104 1 - Aspectos gerais .............................................................................................. 104 2 - Isenções .......................................................................................................... 105 3 - Período de tributação ..................................................................................... 106 Unidade Temática n°6: II – Determinação do IRPC (continuação) ............................... 106 Esquema .............................................................................................................. 108 Esquema .............................................................................................................. 109 Esquema .............................................................................................................. 110 Unidade Temática n°7: (Continuação) .......................................................................... 110 1 - Sujeitos passivos residentes que não exerçam, a título principal, actividades de natureza comercial, industrial ou agrícola. .......................................................... 110 2 - Sujeitos passivos não residentes com estabelecimento estável ...................... 112 3 - Sujeitos passivos não residentes sem estabelecimento estável ...................... 112 4 - Aplicação de métodos indirectos ................................................................... 113 5 - Pagamentos antecipados ..............................................................................113 5.1 - Pagamento por conta ......................................................................... ……113 5.2 - Pagamento especial por conta ..................................................................... 114 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................. 114 ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade viii Unidade Temática n°8: Imposto Simplificado de Pequenos Contribuintes (ISPC) ....... 116 1. Definição e contribuintes ........................................................................... 116 2. Benefícios .................................................................................................. 117 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................. 118 Unidade Temática n°9: O Imposto sobre o Valor Acrescentado (IVA) ......................... 120 1 - Incidência ....................................................................................................... 120 2 - Isenção ........................................................................................................... 120 3 - Regimes de tributação .................................................................................. 121 3.1 - Regime Normal ....................................................................................... 121 3.2 - Regime simplificado ................................................................................... 122 3.3 - Regime de isenção ...................................................................................... 122 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................. 123 Unidade Temática n°10: Outros impostos .................................................................... 124 1 - Imposto sobre consumos específicos ICE .................................................... 124 2 - Direitos aduaneiros .......................................................................................124 3 - Imposto do selo .............................................................................................124 4 - Imposto sobre as sucessões e doações ...........................................................125 5 - SISA ..............................................................................................................126 6 - Imposto Especial Sobre o Jogo ..................................................................... 127 7 - Imposto de reconstrução nacional IRN ..........................................................127 8 - Imposto sobre veículos ................................................................................. 128 9 - Imposto sobre a Produção Mineira ................................................................128 10 - Imposto sobre a superfície ........................................................................... 128 11 - Imposto Específico da actividade petrolífera ............................................... 129 12 - Imposto pessoal Autárquico ......................................................................... 129 13 - Imposto predial autárquico ........................................................................... 129 14 - Imposto autárquico da Sisa .......................................................................... 129 15 - Imposto autárquico de veículos .................................................................... 129 Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO .................................................................. 130 ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade ix PREFÁCIO É com grande prazer que acolhemos o convite que a direcção do Instituto Superior de Ciências e Educação a Distância formulou no sentido de elaboração do módulo de Fiscalidade. Porém, no momento de organizar o conteúdo em observância ao programa facultado pela instituição tomamos consciência do compromisso que havíamos assumido. Como elaborar um módulo com uma bibliografia moçambicana deficiente, só colmatável através do recurso a obras estrangeiras. Assim, este módulo pretende motivar e auxiliar os estudantes para as problemáticas das diversas teorias relativas e subjacentes a Fiscalidade, ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade x mas, também naquilo que ela tem de inédito, que é o de trazer para o domínio público de uma forma sistemática, os fundamentos e a razão de ser das diversas transformações que o sistema tributário moçambicano se tem verificado. Longe de ser estático, este modulo exige uma permanente reedição para fazer face aos desafios da fiscalidade que esta em continuo processo de mudança na sociedade Moçambicana.ABREVIATURAS Al. Alínea ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade xi AR – Assembleia da república Art.º – Artigo AT – Administração tributária CC – Código Civil CIR – Código do Imposto Sobre rendimento CIRPC – Código do Imposto sobre Rendimento de Pessoas Colectivas CIRPS - Código do Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares CIS – Código do Imposto de Selo CISD – código do imposto sobre as Sucessões e Doações CISPC – Código do Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes CIVA – Código do Imposto Sobre valor Acrescentado CRM – Constituição da República de Moçambique CRPM – Constituição da República popular de Moçambique CS – Código do Sisa Dec. – Decreto ICE – Imposto sobre Consumos Específicos IPA – Imposto Pessoal Autárquico IPRA – Imposto Predial Autárquico IRN – Imposto de Reconstrução Nacional IRPC - Imposto sobre Rendimento de Pessoas Colectivas IRPS - Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares ISPC – Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes ISSD – Imposto sobre as Sucessões e Doações ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade xii IVA – Imposto sobre Valor Acrescentado LGT – Lei Geral Tributária (Lei 15/2002 de 26 de Junho) N° - Número OGE – Orçamento Geral do Estado PRE – Programa de Reabilitação Económica RCCI – Regulamento do Contencioso das Contribuições e Impostos RCIRPC – Regulamento do Código do Imposto sobre Rendimento de Pessoas Colectivas RCIRPS – Regulamento do Código do Imposto sobre Rendimento de Pessoas Singulares RGIT – Regimento Geral da Infracções Tributárias ss - Seguintes ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade xiii ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 14 VISÃO GERAL Benvindo à Disciplina/Módulo de Fiscalidade O mais importante em um Instituto Superior são as pessoas. Tudo o mais, a qualidade do ensino e da pesquisa, o respeito pela diversidade. Entre as pessoas que formam esta comunidade, destacam-se os estudantes. Assim, este módulo pretende motivar os estudantes para as problemáticas das relações fiscais na perspectiva de que esse fenómeno ocorre no jogo de mercado global, regional e nacional. Objectivos do Módulo Quando terminar o estudo, você será capaz de: a) Dominar a fiscalidade e o Direito Fiscal Moçambicano; b) Conhecer o Direito Fiscal e as normas que disciplinam a Fiscalidade; c) Conhecer a teoria geral do Direito Fiscal; No final deste modulo esperamos que tenha capacidade de: a) Compreender as garantias dos Contribuintes; b) Especificar os crimes fiscais. Objectivos Específicos d) Conhecer a relação jurídica Fiscal; ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 15 Quem deveria estudar este módulo Este Módulo foi concebido para estudantes do 2º ano do curso de licenciatura em Gestão de Recursos Humanos do ISCED. Poderá ocorrer, contudo, que haja leitores que queiram se actualizar e consolidar seus conhecimentos nessa disciplina, esses serão bem vindos, não sendo necessário para tal se inscrever. Mas poderá adquirir o manual. Como está estruturado este módulo Este módulo de Fiscalidade, para estudantes do 2º ano do curso de licenciatura Gestão de Recursos Humanos, à semelhança dos restantes do ISCED, está estruturado como se segue: Páginas introdutórias ▪ Um índice completo. ▪ Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-chave que você precisa conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que leia esta secção com atenção antes de começar o seu estudo, como componente de habilidades de estudos. Conteúdo desta Disciplina / módulo Este módulo está estruturado em Temas. Cada tema, por sua vez comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente unidades . Cada unidade temática se caracteriza por conter uma introdução, objectivos, conteúdos. No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem os exercícios de avaliação. Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: Puros exercícios teóricos/Práticos, Problemas não ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 16 resolvidos e actividades práticas, algumas incluindo estudo de caso. Outros recursos A equipa dos académicos e pedagogos do ISCED, pensando em si, num cantinho, recôndito deste nosso vasto Moçambique e cheio de dúvidas e limitações no seu processo de aprendizagem, apresenta uma lista de recursos didácticos adicionais ao seu módulo para você explorar. Para tal o ISCED disponibiliza na biblioteca do seu centro de recursos mais material de estudos relacionado com o seu curso como: Livros e/ou módulos, CD, CD-ROOM, DVD. Para além deste material físico ou electrónico disponível na biblioteca, pode ter acesso a Plataforma digital moodle para alargar mais ainda as possibilidades dos seus estudos. Auto-avaliação e Tarefas de avaliação Tarefas de auto-avaliação para este módulo encontram-se no final de cada unidade temática e de cada tema. As tarefas dos exercícios de auto-avaliação apresentam duas características: primeiro apresentam exercícios resolvidos com detalhes. Segundo, exercícios que mostram apenas respostas. Tarefas de avaliação devem ser semelhantes às de auto-avaliação mas sem mostrar os passos e devem obedecer o grau crescente de dificuldades do processo de aprendizagem, umas a seguir a outras. Parte das tarefas de avaliação será objecto dos trabalhos de campo a serem entregues aos tutores/docentes para efeitos de correcção e subsequentemente nota. Também constará do exame do fim do módulo. Pelo que, caro estudante fazer todos os exercícios de avaliação é uma grande vantagem. ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 17 Comentários e sugestões Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer de natureza científica, quer de natureza didácticoPedagógico, etc., sobre como deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que graças as suas observações que, em gozo de confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser melhorado. . Ícones de actividade Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc. Habilidades de estudo O principal objectivo deste campo é o de ensinar aprender a aprender. Aprender aprende-se. Durante a formação e desenvolvimento de competências, para facilitar a aprendizagem e alcançar melhores resultados, implicará empenho, dedicação e disciplina no estudo. Isto é, os bons resultados apenas se conseguem com estratégias eficientes e eficazes. Por isso é importante saber como, onde e quando estudar. Apresentamos algumas sugestões com as quais esperamos que caro estudante possa rentabilizar o tempo dedicado aos estudos, procedendo como se segue: 1º Praticar a leitura. Aprender a Distância exige alto domínio de leitura. 2º Fazer leitura diagonal aos conteúdos (leitura corrida). 3º Voltara fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos conteúdos (ESTUDAR). ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 18 4º Fazer seminário (debate em grupos), para comprovar se a sua aprendizagem confere ou não com a dos colegas e com o padrão. 5º Fazer TC (Trabalho de Campo), algumas actividades práticas ou as de estudo de caso se existir. IMPORTANTE: Em observância ao triângulo modo-espaço-tempo, respectivamente como, onde e quando...estudar, como foi referido no início deste item, antes de organizar os seus momentos de estudo reflicta sobre o ambiente de estudo que seria ideal para si: Estudo melhor em casa/biblioteca/café/outro lugar? Estudo melhor à noite/de manhã/de tarde/fins de semana/ao longo da semana? Estudo melhor com música/num sítio sossegado/num sítio barulhento!? Preciso de intervalo em cada 30 minutos, em cada hora, etc. É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o anterior. Privilegia-se saber bem (com profundidade) o pouco que puder ler e estudar, que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao agradável: Saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no módulo. Dica importante: não recomendamos estudar seguidamente por tempo superior a uma hora. Estudar por tempo de uma hora intercalado por 10 (dez) a 15 (quinze) minutos de descanso (chama-se descanso à mudança de actividades). Ou seja que durante o intervalo não se continuar a tratar dos mesmos assuntos das actividades obrigatórias. Uma longa exposição aos estudos ou ao trabalho intelectual obrigatório, pode conduzir ao efeito contrário: baixar o rendimento da aprendizagem. Por que o estudante acumula um elevado volume de trabalho, em termos de estudos, em pouco tempo, criando interferência entre o conhecimento, perde sequência lógica, por fim ao perceber que estuda tanto mas não aprende, cai em insegurança, depressão e desespero, por se achar injustamente incapaz! Não estude na última da hora; quando se trate de fazer alguma avaliação. Aprenda a ser estudante de facto (aquele que estuda sistematicamente), não estudar apenas para responder a questões de alguma avaliação, mas sim estude para a vida, sobre tudo, estude ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 19 pensando na sua utilidade como futuro profissional, na área em que está a se formar. Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao estudo e a outras actividades. É importante identificar as ideias principais de um texto, pois será uma necessidade para o estudo das diversas matérias que compõem o curso: A colocação de notas nas margens pode ajudar a estruturar a matéria de modo que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e Pode escrever conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar; Precisa de apoio? Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza, alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza, fraca visibilidade, páginas trocadas ou invertidas, etc). Nestes casos, contacte os serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos (CR), via telefone, sms, Email, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta participando a preocupação. Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância (EAD), onde o recurso as TIC se torna incontornável: entre estudantes, estudante – Tutor, estudante – CR, etc. As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou com parte da equipa central do ISCED indigetada para acompanhar as sua sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos de natureza pedagógica e/ou administrativa. O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite lhe situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas. Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 20 relacionados com os conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade temática, no módulo. Tarefas (avaliação e auto-avaliação) O estudante deve realizar todas as tarefas (exercícios, actividades e auto-avaliação), contudo nem todas deverão ser entregues, mas é importante que sejam realizadas. As tarefas devem ser entregues duas semanas antes das sessões presenciais seguintes. Para cada tarefa serão estabelecidos prazos de entrega, e o não cumprimento dos prazos de entrega, implica a não classificação do estudante. Tenha sempre presente que a nota dos trabalhos de campo conta e é decisiva para ser admitido ao exame final da disciplina/módulo. Os trabalhos devem ser entregues ao Centro de Recursos (CR) e os mesmos devem ser dirigidos ao tutor/docente. Podem ser utilizadas diferentes fontes e materiais de pesquisa, contudo os mesmos devem ser devidamente referenciados, respeitando os direitos do autor. O plágio 1 é uma violação do direito intelectual do(s) autor(es).Uma transcrição à letra de mais de 8 (oito) palavras do texto de um autor, sem o citar é considerado plágio. A honestidade, humildade científica e o respeito pelos direitos autorias devem caracterizar a realização dos trabalhos e seu autor (estudante do ISCED). Avaliação Muitos perguntam: Com é possível avaliar estudantes à distância, estando eles fisicamente separados e muito distantes do docente/turor!? Nós dissemos: Sim é muito possível, talvez seja uma avaliação mais fiável e consistente. Você será avaliado durante os estudos à distância que contam com um mínimo de 90% do total de tempo que precisa de estudar os conteúdos do seu módulo. Quando o tempo de contacto presencial conta com um máximo de 10%) do total de tempo do módulo. A avaliação do estudante consta detalhada do regulamentado de avaliação. Os trabalhos de campo por si realizados, durante estudos e aprendizagem no campo, pesam 25% e servem para a nota de frequência para ir aos exames. 1 Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem prévia autorização. ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 21 Os exames são realizados no final da cadeira disciplina ou modulo e decorrem durante as sessões presenciais. Os exames pesam no mínimo 75%, o que adicionado aos 25% da média de frequência, determinam a nota final com a qual o estudante conclui a cadeira. A nota de 10 (dez) valores é a nota mínima de conclusão da cadeira. Nesta cadeira o estudante deverá realizar pelo menos 2 (dois) trabalhose 1 (um) (exame). Algumas actividades práticas, relatórios e reflexões serão utilizados como ferramentas de avaliação formativa. Durante a realização das avaliações, os estudantes devem ter em consideração a apresentação, a coerência textual, o grau de cientificidade, a forma de conclusão dos assuntos, as recomendações, a identificação das referências bibliográficas utilizadas, o respeito pelos direitos do autor, entre outros. Os objectivos e critérios de avaliação constam do Regulamento de Avaliação. TEMA – I: O DIREITO FISCAL E SEU ENQUADRAMENTO NO UNIVERSO DA CIÊNCIA JURÍDICA. Contextualização do tema Neste primeiro tema apresentamos a actividade financeira do estado, dentro da qual se enquadra o fenómeno fiscal. Apresentamos igualmente a noção do Direito fiscal, seu enquadramento no âmbito dos ramos de direito e as relações que este ramo autónomo mantém com os outros ramos de direito. Estrutura Este tema compreende 4 unidades temáticas. Tópicos das Unidades Temáticas Unidade Temática 1.1: Trata da actividade financeira do Estado, do fenómeno fiscal, do direito fiscal e seu enquadramento na ciência jurídica: São aspectos iniciais do nosso estudo; ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 22 Unidade Temática Unidade Temática 1.2: Apresenta-mos e discutimos as relações de subordinação, coordenação e complementaridade estabelecidas entre o direito fiscal e outros ramos de direito; Unidade Temática 1.3: apresentamos as diversas fontes do direito fiscal, ou seja, as várias formas de manifestação e revelação das normas jurídico-fiscais; Unidade Temática 1.4 – Interpretação e aplicação das normas fiscais, aonde falamos de tópicos como os âmbitos territorial e temporal da vigência das normas fiscais e a admissibilidade ou não da integração das lacunas. Objectivos: Resultados esperados neste tema: Ao terminar o estudo deste tema, você será capaz de: • Dominar os conceitos chaves conexos ao Direito Fiscal; • Relacionar o direito fiscal com outros ramos; • Explicar a teia de relações que o Direito fiscal estabelece com outros Objectivos Específicos ramos de Direito; • Aprofundar as regras que regem a interpretação das normas do Direito Fiscal UNIDADE Temática 1.1 Actividade Financeira e Direito Fiscal 1-Actividade financeira ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 23 1.1-Noções fundamentais As necessidades sentidas pelos indivíduos, quanto ao modo de satisfação, podem ser de satisfação activa ou satisfação passiva. As necessidades de satisfação activa exigem, para que sejam satisfeitas, uma certa actividade do necessitado, ou seja, só são satisfeitas mediante uma acção de quem as sente. As necessidades de satisfação passiva são satisfeitas pela acção de outrem ou então pela simples existência do bem. De acordo com Teixeira Ribeiro (1997), desta circunstância de existirem necessidades que se satisfazem activamente e necessidades que se satisfazem passivamente, decorre as seguintes consequências: ➢ Se a necessidade é de satisfação activa, o produtor dos bens pode exigir um preço pela utilização deles. Vigora aqui, o princípio de exclusão já que o preço exclui o acesso ao bem todas aquelas pessoas que não podem ou não querem pagar pelo produto; ➢ Mas se a necessidade é de satisfação passiva, o produtor dos bens já não pode exigir pela utilização deles preço algum. É neste sentido que Waty (2004) enfatiza que enquanto as “necessidades de satisfação activa exigem, como a denominação sugere, uma actividade do consumidor, as necessidades do segundo tipo, as de satisfação passiva, não exigem qualquer tipo de actividade do consumidor, bastando, para a sua satisfação, a existência dos bens”, que são por natureza indivisíveis e de consumo irrival e inexclusível. Como o consumo dos bens de satisfação passiva não acarreta, por parte do consumidor, o pagamento de qualquer valor pelo seu uso, o produtor deles tem que arcar com a totalidade da factura. Neste caso, para a existência desses bens, das duas, uma: ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 24 ➢ Ou as despesas provenientes são arcadas por filantropos, beneméritos ou quaisquer outros particulares de boa vontade; ➢ Ou terá que existir um ente cuja função é oferecer esses bens e serviços necessários à cobertura das necessidades de satisfação passiva. Ora, como a primeira solução não é de todo confiável, a segunda, apesar de poder ser complementada pela primeira, é a ideal pois dada a essencialidade de alguns desses serviços ou bens 2 seria de todo indesejável sujeitar os seus utentes à boa vontade dos beneméritos. É por isso que, como ensina Pene (2013) a produção desses bens deve estar, a cargo de uma entidade pública, pois por vezes só esta entidade pública detêm os meios de produção, ou esta entidade sendo detentora do jus imperii pode obrigar os indivíduos a suportar os custos inerentes a produção do bem, por exemplo por via de imposição da obrigação de pagar impostos e taxas. Em regra as necessidades de satisfação passiva são satisfeitas pela acção de um ente público, e designam-se necessidades públicas ou colectivas e os bens que as satisfazem designam-se necessidades públicas. 1.2-Direito Financeiro, Direito Tributário e Direito Fiscal Devido à carência de satisfação daquelas necessidades de satisfação passiva, existe a actividade financeira do Estado. Esta actividade financeira consiste na realização das despesas e arrecadação de receitas com vista a satisfação daquelas necessidades, nomeadamente através da produção de bens ou prestação de serviços. Entretanto, sendo o nosso estado um estado de direito, a manifestação da sua vontade colectiva não se dá de uma forma arbitrária. Por essa 2 Como é o caso da segurança, saúde, educação, justiça, etc. ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 25 razão, a disciplina financeira não se subordina às vontades dos agentes e órgãos públicos: subordina-se sim ao direito, a um conjunto de normas jurídicas. É este conjunto de normas jurídicas que regulam a actividade financeira dos entes públicos que designa-se direito financeiro ou direito financeiro público. A actividade financeira compreende operações relativas à aquisição e gestão das receitas e à realização das despesas3. No direito financeiro de receitas encontramos os seguintes subsectores: o direito patrimonial, que é relativo as receitas patrimoniais, o direito do crédito publico, que regula o recurso ao crédito por parte das entidades publicas e a gestão da divida publica, e o direito tributário ou das receitas coactivas do estado. Já no que toca ao direito tributário, Ibrahimo (2002:16) reconhece o facto de a generalidade da doutrina usar indistintamente os termos direito fiscal e direito tributário. No entanto, o mesmo autor reconhece maior amplitude ao direito tributário, pois enquanto o direito fiscal se circunscreve ao estrito âmbito das receitas coactivas, máxime o imposto, já o direito tributário inclui, para além do imposto, outras cobranças como as taxas e outras categorias de receitas públicas. O direito tributário é o direito relativo aos tributos ou receitas coactivas, abrangendo quer os impostos quer as taxas. Portanto, o direito fiscal é o conjunto de normas que disciplinam as relações que se estabelecem entre o Estado e os outros entes públicos, por um lado, e os particulares, por outro, por via do imposto, ou seja, 3 Neste aspecto vale a posição de Waty para quem “o direito financeiroabrange as receitas públicas, as despesas públicas e a sua articulação e dele são excluídas as receitas de origem privada cujas relações jurídicas são de outros ramos de direito (Waty, op.cit: 17) ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 26 conjunto de normas que regulam o imposto desde a incidência, lançamento, liquidação e cobrança. (Ibrahimo, op. Cit: 17) 2- Natureza e Âmbito do Direito fiscal Quanto à natureza, o Direito fiscal é um ramo do direito público. De facto, aplicando qualquer tipo de critério a solução é mesma. Assim: pelo critério dos interesses, o Direito Fiscal destina-se à satisfação de necessidades da comunidade; pelo critério dos sujeitos, um deles é necessariamente o Estado, o credor e, pelo critério da posição dos sujeitos, na relação fiscal o estado se apresenta revestido de poder de mando, do ius imperii. Portanto, qualquer que seja o critério perfilhado, desagua-se na mesma posição, a de que o direito fiscal é um ramo do direito público. No que tange ao âmbito do direito fiscal, ele se adscreve apenas às receitas coactivas unilaterais, sem nenhuma contrapartida directa, específica e imediata, ou seja, o direito fiscal disciplina os impostos. Estes possuem “uma suficiente dimensão para suscitar uma construção dogmática com alguma autonomia” (Sanches 2007: 65). O direito fiscal integra as normas de soberania fiscal, as normas de incidência, lançamento, liquidação e cobrança dos impostos, as normas relativas as garantias do sujeito activo e do sujeito passivo, as normas de procedimento, as normas de sancionamento, as normas de contencioso fiscal ou de processo, as normas relativas a cada imposto ou tipo de imposto. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO Chegado ao fim desta Unidade Temática, faça a recapitulação e responda as seguintes questões: ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 27 1 – O fale da relação entre as necessidades de satisfação passiva e a actividade financeira do Estado? 2 - Apresente o principal ponto que radica na distinção entre direito tributário e direito fiscal. 3 – Certo dia, Ângelo que é estudante de Gestão afirmou que o direito tributário é ramo do direito fiscal e que ambos fazem parte do direito privado. Concorda? Justifique a tua posição. Tópicos das respostas: 1 – É para satisfação das necessidades de satisfação passiva que existe a actividade financeira do estado pois, havendo que fazer gastos em ordem a disponibilizar os respectivos bens e serviços, deve o Estado, com seu imperium, arrecadar receitas e fazer despesas. Por isso, são aquelas necessidades que ditam a actividade financeira do estado. 2 – O direito tributário é mais extenso e inclui taxas e outras receitas além do imposto, ao passo que o direito fiscal se circunscreve ao imposto. 3 – Não concordar com a afirmação. Porque é o direito fiscal que é ramo do direito tributário e ainda porque qualquer que seja o critério perfilhado (interesse, sujeitos e posição dos sujeitos) as duas áreas do direito se enquadram no âmbito do direito público. NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim, sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja os manuais indicados e consulte o tutor. Leituras aconselhadas: ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 28 IBRAHIMO, Ibrahimo, O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora, Maputo, 2002 MARTINEZ, Soares, Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra, 2000 NABAIS, José Casalta, direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra, 2009 PENE, Cláudio, apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano, Escolar Editora, Maputo, 2013 SALDANHA SANCHES, J. L, Manual de Direito Fiscal, 3ª ed. Coimbra editora, Coimbra, 2007 WATY, Teodoro Andrade, Introdução ao direito fiscal, W &W editora, Maputo, 2004 WATY, Teodoro Andrade, Introdução à Finanças Públicas e Direito Financeiro, W & W editora, Maputo, 2004 Unidade Temática n° 2 - A Relações do Direito fiscal com Outros Ramos do Direito O ordenamento jurídico como um espaço jurídico onde são criadas e aplicadas normas jurídicas é constituído por normas de várias espécies e graus diferentes. Essa variedade de normas coabita ora de forma passiva, ora de forma conflituosa, ora de forma paritária e ainda mais de forma hierárquica. Por essa razão é de grande importância, sempre que se estuda um ramo de direito, situá-lo no universo dos outros ramos e determinar o tipo de relações específicas que estabelece com os outros ramos. Nesta esteira, relacionaremos, nesta Unidade Temática, o direito fiscal e outros ramos como o direito constitucional; o direito administrativo; o direito processual; o direito penal e o direito internacional. 1 - Direito fiscal e direito constitucional A constituição é aquele manancial inesgotável do qual brotam os princípios fundamentais que alicerçam todo o ordenamento jurídico e ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 29 que materializam ou devam materializar toda aspiração de um povo. Neste prisma, o direito fiscal como outro e qualquer ramo de direito infraconstitucional mantém relações estreitas com a fonte, da qual se deve alimentar continuamente. De facto, é na constituição que o direito fiscal busca os seus princípios directores respeitantes à disciplina jurídica dos impostos. Destarte, o conjunto de normas constitucionais que estabelecem as balizas norteadoras do regime do imposto designase por constituição fiscal. No nosso ordenamento são de grande importância os arts. 45 al. c), 100, 127, 179, n˚2 al. o), todos da CRM. Portanto, o direito fiscal é subordina-se às regras e princípios de natureza constitucional, os quais não pode viola-los sob pena de inconstitucionalidade. 2 - Direito fiscal e direito administrativo Estes dois ramos de direito mantêm relações estreitas de coordenação. De facto, os órgãos responsáveis pela colecta e administração dos impostos pertencem à administração, e justifica-se que sejam também regidos pelo direito administrativo. Mas além disso, é de extrema importância o facto de alguns institutos estudados nos cursos de direito fiscal, como por exemplo as normas de organização dos serviços administrativos e as competências dos funcionários que lançam, liquidam e cobram impostos, serem disciplinados pelo direito administrativo. 3 - Direito fiscal e direito processual O direito processual como direito instrumental também mantém relações estreitas com o direito fiscal na medida em que podem surgir, no âmbito das relações fiscais, quaisquer matérias controvertidas que careçam de ser dirimidos. Neste caso, recorrer-se-á ao processo fiscal. ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 30 4 - Direito fiscal e direito penal O direito fiscal estabelece relações com o direito penal na medida em que existe um direito fiscal penal, constituído por um conjunto de normas que prevêem a violação de preceitos tributários e estatuem as respectivas sanções. Mas também as normas do direito penal são subsidiariamente aplicáveis ao direito fiscal penal, sobre tudo nos casos em que a infracção fiscal constitui crime fiscal a que corresponda pena de prisão ou multa convertida em prisão. 5 - Direito fiscal e direito internacional Nas convenções internacionais encontramos normas fiscais de fonte internacional relativas a dupla tributação internacional ou que estabelecem regimes fiscais específicos em matéria diplomática, religiosa, militar e económica. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃOChegado ao fim desta Unidade Temática, faça a recapitulação e responda as seguintes questões: 1 – Que entendes por relação entre o direito fiscal e outros ramos de direito? 2 – Diga a palavra-chave que caracteriza a relação entre o direito fiscal e o direito constitucional 3 – Que relação existe entre direito fiscal e direito administrativo? Tópicos das respostas: 1- Conjunto de elos de subordinação, coordenação ou complementaridade que mantém o Direito Fiscal em contacto com os outros ramos de direito 2- A palavra-chave é subordinação, já que as normas do direito fiscal devem obedecer os princípios constitucionais. ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 31 3- Complementaridade. O direito fiscal socorre-se sempre das normas do direito administrativo para prosseguir seus fins. NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim, sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja os manuais indicados e consulte o tutor. Leituras aconselhadas: IBRAHIMO, Ibrahimo, O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora, Maputo, 2002 MARTINEZ, Soares, Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra, 2000 NABAIS, José Casalta, direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra, 2009 PENE, Cláudio, apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano, Escolar Editora, Maputo, 2013 SALDANHA SANCHES, J. L, Manual de Direito Fiscal, 3ª ed. Coimbra editora, Coimbra, 2007 WATY, Teodoro Andrade, Introdução ao direito fiscal, W &W editora, Maputo, 2004 WATY, Teodoro Andrade, Introdução à Finanças Públicas e Direito Financeiro, W & W editora, Maputo, 2004 Unidade Temática n° 3: Fontes do direito fiscal 1- Fontes do direito fiscal A expressão fonte de direito é polissémica e admite vários entendimentos. Entretanto o sentido que nos interessa para efeitos da nossa cadeira é o técnico jurídico pelo qual fontes de direito são os revestimentos pelos quais os preceitos jurídicos se revelam, são anunciados, se apresentam, isto é, os modos de formação e de ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 32 revelação das normas jurídicas4. É em conformidade com este sentido que o art. 7 n° 1 da LGT advoga serem fontes normativas dos impostos a CRM, a lei, o decreto-lei, o decreto, os diplomas ministeriais, os regulamentos das autarquias locais, o contracto fiscal e as convenções internacionais. Examinaremos sucessivamente as fontes enunciadas neste preceito legal. 1.1 -Constituição e princípios constitucionais em matéria de tributação A primeira e mais importante fonte do direito fiscal é a constituição da república, lei fundamental que contém de uma forma genérica os princípios gerais que norteiam todo o ordenamento jurídico. É nela onde encontramos princípios respeitantes a disciplina jurídica dos impostos e que estabelecem limites ao poder tributário. Neste caso e à luz da CRM, podemos distinguir os seguintes princípios: princípio da legalidade tributária, princípio da igualdade tributária, princípio da eficiência funcional, princípio de não retroactividade e princípio de não aplicação analógica. Segundo o Pene (2013) o princípio de legalidade5 tem por base a ideia de auto-contribuição, isto é, à definição dos impostos pelos próprios cidadãos ou através dos seus representantes. Este princípio visa fundamentalmente a tutela dos valores de segurança jurídica e de protecção de confiança nas leis fiscais assegurando especialmente a cognoscibilidade, a previsibilidade e a calculabilidade dos impostos. 4 Pene, 2013: 25 5 Que teve a primeira consagração na lei n˚15/2002, de 26 de Junho e posteriormente na constituição de 2004. O art.3 da lei 15/2002, de 26 de Junho, sujeita ao princípio de legalidade fiscal o estabelecimento dos impostos, bem com a incidência, a taxa, os benefícios fiscais, as garantias e as obrigações dos contribuintes e administração tributaria e o regime das infracções tributarias. ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 33 Este princípio tem consagração constitucional nomeadamente através dos arts. 100 e 127 n° 2 que dispõe que os impostos são criados e alterados por lei. Este entendimento é reforçado pelo art. 179 n°2 al. o) que confere à Assembleia da República a competência exclusiva em matéria da definição das bases da política de impostos e o sistema fiscal. Com este último preceito constitucional fica mais do que claro que apenas por lei ordinária, isto é, aquela que promana do órgão legislativo por excelência, é que pode criar, alterar ou extinguir o imposto. Notase pois que estamos perante o princípio da legalidade na vertente da reserva da lei material pelo que o princípio de legalidade fiscal implica que o parlamento estabelecerá os elementos essenciais dos impostos de forma tão completa quanto possível. Entretanto, a mesma CRM, no n˚3 do art.127 determina que “ninguém deve ser obrigado a pagar impostos cuja liquidação e cobrança não se façam nos termos da lei”. Ora, como não há nenhum outro dispositivo constitucional que sujeita esta matéria à lei strito senso, como acontece no caso da criação do imposto e, ainda tendo em contas que o art. 143 da CRM considera actos legislativos as leis e os decretos-leis, é de entender na mesma senda que Pene (2013) que a lei ai referida será tal como no art. 100 e n˚2 do art.127, lei parlamentar. Atendendo e considerando que a liquidação e a cobrança não constituem matérias de competências exclusivamente do parlamento, por não se encontrarem abrangidas nas expressões “políticas dos impostos” e “sistema fiscal”, poderão ser legisladas apenas por via de uma lei ou de um decreto-lei autorizado. O princípio de igualdade fiscal sempre se reconduziu ao princípio geral da igualdade no seu sentido material, e teve ideias de generalidade ou universalidade, segundo a qual todos devem pagar impostos, e uniformidade, ao exigir que o dever de pagar impostos seja sempre ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 34 aferido pelo mesmo critério, da capacidade contributiva. Alem disso, na selecção e articulação dos factos tributários, o legislador tem de tomar em consideração factos reveladores de capacidade contributiva, definindo como objecto (matéria colectável) de cada imposto um determinado pressuposto económico (rendimento, património ou consumo) que seja manifestado dessa capacidade. O princípio da eficiência tutela o valor do bem comum, promovendo a prossecução dos interesses públicos extra-fiscais constitucionalmente relevantes que devem ser prosseguidos pelo Estado e outros entes públicos. É por esta razão que Wagner (apud Pene, op cit:30-31) advoga que o imposto deveria assumir uma função político-social dirigida a correcção da repartição dos rendimentos e do património resultante dos mecanismos de mercado operando em livre concorrência. Por essa razão, o princípio da eficiência funcional, que tem consagração constitucional no n˚1 do art.127, legitima o uso do sistema fiscal para a prossecução de fins extra-fiscais relevantes, como por exemplo a redistribuição do rendimento. Outro princípio constitucional é o da anualidade do imposto. Este princípio preconiza que a cobrança dos impostos deve ser previamente autorizada anualmente, e esta autorização é da competência da AR nomeadamente através da aprovação do OGE6. Aliás, a este respeito o art. 130 n˚2 da CRM determina que o OGE deve especificar as receitas e as despesas. De salientar que o princípio de anualidade também se aplica aos beneficiários fiscais, já que estes são verdadeiras despesas que devem ser orçamentadasanualmente. 6 Aprovação essa que faz parte do rol das actividades da exclusiva competência da AR: art. 179 n˚2 al. M) da CRM ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 35 1.2-Lei no sentido restrito Lei parlamentar ou lei no sentido restrito resulta do princípio da legalidade tributária, na vertente da reserva da lei formal, relativamente a criação e alteração de impostos e estabelecimento dos seus elementos essenciais. 1.3-Decreto-lei É fonte de direito fiscal, embora não se possa de forma inovadora, determinar os elementos essenciais dos impostos, pois por imperativos do princípio de legalidade tributária a criação dos impostos e a normatividade dos elementos essenciais dos impostos é matéria da lei da AR. 1.4-Regulamento (Decreto, Diplomas Ministeriais, o Regulamento das Autarquias Locais) São três tipos essências de regulamentos fiscais: os regulamentos aprovados pelo Governo por via de decretos; os actos de competências dos Ministros, aprovados através de diplomas ministeriais e as deliberações de certas entidades públicas menores (autarquias locais). Face ao princípio de legalidade fiscal, os regulamentos, tal como os decretos-leis, não podem de forma inovadora criar impostos, altera-los ou determinar os seus elementos essenciais. Os regulamentos devem apenas ser normas meramente complementares ou de execução, visando apenas determinar os aspectos técnicos que dêem desenvolvimento à legislação tributária (art 11 da LGT). 1.5-Contractos Fiscais Segundo al. g) do art.7 da LGT os contratos fiscais fazem parte do leque de fontes normativas dos tributos. Estes contratos fiscais são celebrados entre administração e o seu sujeito passivo, e visam a atribuição de benefícios ou incentivos fiscais, podendo por vezes revestir a forma de lei-contratos ou leis pacteadas. Através deles, a administração se obriga ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 36 para com os particulares a não lhes aplicar o regime tributário normal ou a conceder-lhes determinados desagravamentos fiscais. Parte da doutrina defende, e com alguma legitimidade, que os contractos fiscais não são admissíveis porque, face ao princípio da legalidade, os elementos essenciais dos impostos encontram-se abrangidos pela reserva da lei e, face ao princípio de igualdade, todos que dispõe de capacidade contributiva devem suportar o imposto, não sendo admissíveis favores individuais. Mas outra doutrina há que entende que o fundamento para a celebração de contractos fiscais em matérias dos beneficiários fiscais é o princípio de eficiência funcional, implícito na parte final do n˚1 do art.127 da CRM. Em todo o caso e seguindo a ideia de Nuno Gomes (Apud Pene, op. Cit: 37), os contractos fiscais em matéria dos beneficiários fiscais só serão constitucionalmente legítimos, quando autorizados por leis fiscal formal que defina os beneficiários a conceder e os pressupostos objectivos e subjectivos da respectiva concessão ao menos em termos genéricos. 1.6- Convenções internacionais Conforme referido no n˚1 do art.18 da CRM as normas constantes dos tratados e acordos internacionais, validamente aprovados e ratificados, vigoram na ordem interna após a sua publicação no boletim da república e enquanto vincularem internacionalmente o Estado Moçambicano. Estas normas tem na ordem jurídica interna o mesmo valor que os actos normativos infraconstitucionais da Assembleia da República e do Governo, consoante a forma de recepção, isto por forca do disposto no n˚2 da disposição retro referida. Considera-se inconstitucional o n˚1 dot.7 da lei n˚15/2002, de 26 de Junho que prescreve que as normas do direito internacional que vigoram directamente na ordem interna prevalecem sobre a lei ordinária. Em matéria fiscal assume relevância as convenções bilaterais ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 37 para evitar ou eliminar a dupla tributação internacional, e estas convenções estabelecem regras de tributação de competências para tributar e regras de repartição de poder de tributar entre os Estados celebrantes. Porem, tratando-se de convenções que versem sobre matérias da competência da AR, como é o caso de taxas, benefícios fiscais e garantias dos contribuintes, deverão ser ratificados pela AR, isto por forca do disposto na al. f) do n˚2 do art.179 da CRM. Assim, as convenções que versem sobre matérias da competência do Governo são nos termos da al. g) do n˚1 do art.204 da CRM, tendo o mesmo valor que os decretos, donde resulta que as norma da convenção ratificada pela AR podem ser revogadas ou derrogadas por lei da AR e as normas de convenção ratificada pelo Governo podem ser revogadas ou derrogadas por decreto, só assim faz sentido o n˚2 do art.65 do CIRPC que dispõe que quando existe convenção para evitar a dupla tributação internacional celebrada por Moçambique, a dedução por dupla tributação internacional a efectuar nos termos do CIRPC, não pode ultrapassar o imposto pago no estrangeiro nos termos previstos pela convenção. 1.7- Sobre o valor das Ordens Internas da Administração, Jurisprudência, Doutrina e Costume As ordens internas (despachos interpretativos, as instruções e as circulares) emanadas pela Administração Fiscal para esclarecer ou uniformizar o entendimento da lei e o procedimento dos serviços desenvolvem a sua eficácia exclusivamente na ordem interna da administração de onde provem. Elas não constituem fontes do direito fiscal, porquanto a sua força vinculativa se acha circunscrita ou limitada a um sector da ordem administrativa, não vinculam nem o contribuinte, nem os tribunais. Entretanto, as ordens internas têm o mérito de uniformizar a aplicação ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 38 do direito pelos agentes da administração e reduzir as demandas entre estes e os sujeitos passivos. A jurisprudência e a doutrina têm sido apresentadas como fontes mediatas do direito fiscal, pois a jurisprudência, apesar de não ser fonte do direito permite um prognóstico sobre como o direito será aplicado. Neste sentido, os acórdãos de uniformização da jurisprudência pelo Tribunal Supremo ou Tribunal Administrativo e as declarações de inconstitucionalidade e ilegalidade pelo Conselho Constitucional, constituem fontes imediatas do direito fiscal. O costume é fonte autónoma de produção jurídica no direito internacional. No âmbito fiscal, o único costume ou prática reiterada com convicção de obrigatoriedade aceite é a isenção fiscal atribuída aos representantes do corpo diplomático. Exercícios de AUTO-AVALIAÇÃO Chegado ao fim desta Unidade Temática, faça a recapitulação e responda as seguintes questões: 1 - Debruce sobre os princípios constitucionais respeitantes à disciplina jurídica do imposto 2 – Fale da admissibilidade dos contratos fiscais como fontes do direito fiscal Tópicos das respostas: 1 - É nela onde encontramos princípios respeitantes a disciplina jurídica dos impostos e que estabelecem limites ao poder tributário. Neste caso e à luz da CRM, podemos distinguir os seguintes princípios: princípio da legalidade tributária, princípio da igualdade tributária, princípio da eficiência funcional, princípio de não retroactividade e princípio de não aplicação analógica. ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 39 2 – Apresentar o facto de parte da doutrina entender que esses contratos violam os princípios da legalidade e igualdade que presidem o direito fiscal e a existência de outradoutrina que fundamenta a necessidade dos mesmos contratos, socorrendo-se do princípio de eficiência funcional, implícito na parte final do n˚1 do art.127 da CRM. Concluir com o entendimento contemporâneo de que os contractos fiscais em matéria dos beneficiários fiscais só serão constitucionalmente legítimos, quando autorizados por leis fiscal formal que defina os beneficiários a conceder e os pressupostos objectivos e subjectivos da respectiva concessão ao menos em termos genéricos. NB: Certamente que conseguiu responder as perguntas. Mesmo assim, sugerimos que volte a ler os apontamentos e no caso de dificuldade veja os manuais indicados e consulte o tutor. Leituras aconselhadas: IBRAHIMO, Ibrahimo, O Direito e a Fiscalidade, ARTC Editora, Maputo, 2002 MARTINEZ, Soares, Direito Fiscal, 10. Ed, Almedina, Coimbra, 2000 NABAIS, José Casalta, direito Fiscal, 5ª ed. Almedina, Coimbra, 2009 PENE, Cláudio, apontamentos de Direito Fiscal Moçambicano, Escolar Editora, Maputo, 2013 SALDANHA SANCHES, J. L, Manual de Direito Fiscal, 3ª ed. Coimbra editora, Coimbra, 2007 WATY, Teodoro Andrade, Introdução ao direito fiscal, W &W editora, Maputo, 2004 WATY, Teodoro Andrade, Introdução à Finanças Públicas e Direito Financeiro, W & W editora, Maputo, 2004 ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 40 Unidade Temática n° 4 – A Interpretação e Aplicação das Normas Fiscais 1 - A Interpretação e Aplicação das Normas Fiscais As posições a favor da existência das regras especiais da interpretação das normas são expressas através de dos princípios, designadamente: “in dúbio contra fiscum e odiosa restringenda” e “in dúbio pró fisco”. Sobre os fundamentos do princípio “in dúbio contra fiscum e odiosa restringenda” Vasco Guimarães refere que a visão de então considerava o imposto como algo excepcional e atentatório da dignidade dos cidadãos, só admissível em casos excepcionais e perfeitamente limitados pelo que em caso de dúvida a solução seria de ser contra o fisco. A “in dúbio pró fisco” baseia-se na convicção de que o poder não se exerce arbitrariamente, nem violentamente e nem em beneficio de um só individuo, ou voluntariamente prestado, pelos contribuintes através dos votos dos seus representantes no parlamento, pelo que em casos de duvidas, para os defensores deste principio, prevalece o interesse geral (a tributação), pelo que as normas fiscais devem ser interpretadas a favor do fisco. As normas fiscais em regra são interpretadas como quaisquer outras normas jurídicas, de acordo com os princípios gerais da hermenêutica jurídica, salvo quando se trate de normas de incidência, taxas, garantias dos contribuintes, benefícios fiscais, bem como as normas físicas sancionatórias. Neste prisma, dispõe o n˚1 do art.10 da LGT que “na determinação do sentido das normas tributárias e na qualificação dos factos a que as mesmas se aplicam são observadas as regras e princípios gerais de interpretação e aplicação das leis”. Assim na interpretação das normas tributárias deve tomar-se em consideração os critérios consagrados no art.9 do Código Civil (CC). ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 41 Nos termos do código civil a interpretação não deve cingir-se a letra da lei, mas reconstruir a partir dos textos o pensamento legislativo, tendo em conta a unidade do sistema jurídico, as circunstâncias em que a lei foi elaborada e as condições específicas do tempo em que é aplicada, devendo ter o mínimo de correspondência verbal, com a letra da lei, presumindo o intérprete que o legislador consagrou as soluções mais acertadas e soube exprimir os seus pensamentos em termos adequados. Um aspecto importante é o facto de não ser admissível a integrações analógicas das lacunas referentes às normas abrangidas pelo princípio da legalidade. (art. 10 N° 5 da LGT) Portanto, quanto a interrogação de lacunas, dispõe o n˚5 do art.10 da LGT que as normas abrangidas pelo princípio da legalidade não são susceptíveis de integração analógica7. Em reforço, vem o art. 5 n˚6 da lei n˚15/2002 de 26 de Junho, referir que as normas que determinam a incidência e as isenções não são susceptíveis de interpretação extensiva nem analógica. 2- Aplicação das Leis Fiscais no Tempo A aplicação das normas fiscais no tempo reduz-se a três problemas: o da entrada em vigor das normas fiscais, a cessação da vigência das normas fiscais e a sucessão das normas fiscais no tempo. Às leis fiscais aplica-se a norma geral sobre a entrada em vigor da lei, se não contiverem outra disposição, e cessam a sua vigência no prazo nelas fixado (caducidade) ou quando revogadas. Porem, atendendo e considerando que a entrada em vigor e a cessação de vigência das 7 O mesmo se diz das normas fiscais sancionatórias em virtude da conjugação dos arts. 60 da CRM, 9 do Código Penal e n˚2 do art.3 da lei n˚15/2002,de 26 de Junho. ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 42 normas fiscais não assume no direito fiscal qualquer especificidade, vamos limitar-nos a sucessão das normas fiscais no tempo, ou seja, o problema de retroactividade das normas fiscais. Uma norma é retroactiva quando se refere na sua previsão a factos ocorridos anteriormente a sua entrada em vigor, tenham tais factores o valor de factos tributários ou de factos impeditivos. Relativamente a sucessão das normas fiscais no tempo, o n˚5 do art.127 da CRM dispõe nos seguintes termos: a lei fiscal não tem efeito retroactivo salvo se for de conteúdo mais favorável ao contribuinte. E conforme o número acima, quando a norma fiscal se mostra mais favorável para o contribuinte a retroactividade não esta afastada, salvo se puser em causa o caso julgado. Observa-se que este princípio da aplicação retroactiva da lei mais favorável aplica-se as contravenções e transgressões fiscais apesar de estas não terem natureza criminal, isto por força do art.57 da CRM que estabelece que, na República de Moçambique as leis só podem ter efeitos retroactivos quando beneficiarem os cidadãos e outras pessoas jurídicas, bem como do já referido no n˚5 do art.127 da CRM. A nível legal, o art.12 da LGT prescreve que as normas fiscais ordenadoras do sujeito passivo aplicam-se, somente, aos factos posteriores a sua entrada em vigor e, quanto as normas sobre procedimento e processo, dispõe o n˚3 do mesmo art.12 que as mesmas são de aplicação imediata, sem prejuízo das garantias, direitos e interesses legítimos anteriormente constituídos pelos sujeitos passivos e salvo disposição legal em sentido contrário. ISCED CURSO: GESTÃO DE RECURSOS HUMANO; 20 Ano Disciplina/Módulo: Fiscalidade 43 3- Aplicação da Lei no Espaço Da territorialidade do imposto resulta a delimitação do âmbito de aplicação no espaço das normas fiscais. Numa concepção material e moderna do princípio da territorialidade, a lei fiscal de um determinado Estado pode aplicar-se para além das suas fronteiras, desde que a lei desse Estado estabeleça elementos de conexão (subjectiva ou objectiva) que coloque uma determinada situação tributária internacional na esfera das leis fiscais internas, de modo a que a lei fiscal desse estado seja aplicável aquela situação ocorrida naquele estado. Sobre esta matéria Alberto Xavier salienta que o elemento de conexão é o elemento da previsão normativa que, fixando a localização de uma situação da vida num certo ordenamento tributário, tem como efeito determinar o âmbito de aplicação as leis desse ordenamento a essa mesma situação. Esses elementos de conexão visam superar as deficiências que
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