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AN02FREV001/REV 4.0 175 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE ENFERMAGEM EM CARDIOLOGIA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 176 CURSO DE ENFERMAGEM EM CARDIOLOGIA MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 177 MÓDULO IV 5 CARDIOPATIAS CONGÊNITAS Cardiopatias congênitas são anomalias resultantes de defeitos anatômicos do coração que comprometem a sua função. Representam a categoria mais comum dos defeitos ao nascimento, abrangendo aproximadamente 25% de todas as más- formações congênitas e 50% das causas de óbitos. Ocorrem em aproximadamente 8 a 10 de cada 1.000 recém-nascidos. Essa incidência torna-se muito significativa em números absolutos, pois corresponde, na população brasileira, cerca de 20 a 30 mil crianças por ano. Entretanto, a falta de estudos epidemiológicos nem sempre refletem a mesma realidade, em razão do grande número de partos domiciliares e o sub-registro dos nascidos vivos, principalmente na população de baixa renda. As anomalias cardíacas foram divididas em duas categorias. Atualmente, uma característica física, a cianose, é usada como fator direcional, classificada como cardiopatia cianótica (alto risco) e cardiopatia acianótica (baixo risco). Etiologia e fatores desencadeantes A etiologia da maior parte dos defeitos cardíacos congênitos não é conhecida. Entretanto, vários fatores estão associados com uma incidência maior que o normal. Estão incluídos fatores pré-natais, como: Hereditariedade multifatorial, que é uma combinação de fatores genéticos, ambientais e intrauterinos, resultando no aumento do risco entre os lactentes com um dos gestores ou um irmão portador de anomalias cardíacas congênitas; Doenças maternas como rubéola adquirida durante as primeiras oito semanas da gravidez, diabetes mellitus e alcoolismo; Uso de fármacos como hidantoína, álcool e trimetadiona durante a gravidez. AN02FREV001/REV 4.0 178 5.1 CIRURGIA CARDÍACA INFANTIL Nas últimas décadas houve uma melhora significativa do prognóstico dos pacientes portadores de cardiopatias congênitas, devido aos grandes avanços nos cuidados clínicos e cirúrgicos, pelo aperfeiçoamento e melhor entendimento da fisiopatologia, disponibilidade de drogas inotrópicas e avanços no manejo da ventilação mecânica. Segundo Emmanouulides et al (2000), poucos foram os atributos médicos de impacto tão significativo quanto as cirurgias para correção dos defeitos cardíacos congênitos. Apesar dos sensíveis avanços no seu tratamento nos últimos 50 anos, os defeitos cardíacos representam uma alta proporção da mortalidade infantil. Além disso, muitos sobreviventes às cirurgias cardíacas não estão curados e continuam a apresentar morbidade e mortalidade originárias de seus problemas cardíacos. 5.2 ANOMALIAS CARDÍACAS CIANÓTICAS 5.2.1 Tetralogia de Fallot Descrição: Essa anomalia é a combinação de quatro anormalidades: do septoventricular, aorta cavalgada, estenose pulmonar e hipertrofia ventricular direita. O coração tem a forma de uma bota; Sangue desoxigenado é desviado pela anomalia do septoventricular e mistura-se com o sangue oxigenado do ventrículo esquerdo. O resultado disso é cianose. O fluxo sanguíneo pulmonar é dificultado pela estenose pulmonar, que aumenta a pressão e leva à hipertrofia do ventrículo direito, à medida que tenta fazer o shunt do sangue pela válvula pulmonar estenótica. AN02FREV001/REV 4.0 179 FIGURA 33 FONTE: Disponível em: < http://www.umm.edu/graphics/images/es/18088.jpg >. Acesso em: 21 mar. 2012. Manifestações clínicas Se for grave: Cianose com crise de hipóxia (aumenta depois do fechamento do PCA); Sopro associado ao fluxo sanguíneo pela válvula pulmonar; Estalido de ejeção aórtica com aorta mais larga; Dispneia ao esforço; Convulsões. Mais tarde: Baqueteamento dos dedos e dos artelhos; Taquipneia; Fadiga; Posição de cócoras (para aliviar a angústia respiratória); Retardo no crescimento; Sopro sistólico; AN02FREV001/REV 4.0 180 Segunda bulha cardíaca única à ausculta; Frêmitos palpáveis na região esquerda da borda esternal. FIGURA 34 FONTE: Disponível em: < http://www.nlm.nih.gov/medlineplus/spanish/ency/images/ency/fullsize/18134.jpg >. Acesso em: 21 mar. 2012. Tratamento cirúrgico: Derivação paliativa: O procedimento preferido é a derivação Blalock-Taussig modificada, a qual fornece fluxo sanguíneo para as artérias pulmonares pela artéria subclávia esquerda ou direita. Correção completa: É realizada no primeiro ano de vida. As indicações para a correção incluem cianose crescente e desenvolvimento de crises hipercianóticas. A correção completa envolve o fechamento da anomalia do septoventricular e a ressecção da estenose infundibular, com um retalho de pericárdio para aumentar a via de saída ventricular direita. O procedimento exige esternotomia mediana e uso de circulação extracorpórea. AN02FREV001/REV 4.0 181 Prognóstico: A mortalidade cirúrgica para correção total está abaixo de 5%. 5.2.2 Tronco Arterioso Descrição: Um único vaso cavalgado sobre os ventrículos (causado pela impossibilidade de haver separação da aorta e da artéria pulmonar) transporta sangue para a circulação pulmonar e sistêmica. Esse vaso pode estar acima ou abaixo do diafragma. Sua posição tem implicações prognósticas; Os dois ventrículos bombeiam sangue oxigenado e desoxigenado para a mesma artéria, causando cianose; Pode haver anormalidade do septoventricular. Manifestações clínicas: Cianose com aspecto acinzentado; Fadiga; Dispneia; Sopro sistólico da borda esternal inferior esquerda; Segunda bulha cardíaca única; Taquicardia; Estertores; Retardo no crescimento; Insuficiência cardíaca. Tratamento cirúrgico: Correção precoce nos primeiros poucos meses de vida. A correção cirúrgica envolve o fechamento da anomalia do septoventricular, de modo que o tronco arterioso receba o fluxo de saída do ventrículo esquerdo, retirada das artérias pulmonares da aorta e conexão delas ao ventrículo direito através de um homoenxerto. Atualmente as complicações pós-operatórias incluem insuficiência AN02FREV001/REV 4.0 182 cardíaca persistente, sangramento, hipertensão arterial pulmonar, arritmias e anomalia do septoventricular residual. Prognóstico: A mortalidade está acima de 10% 5.2.3 Atresia Tricúspide Descrição: A válvula tricúspide está ausente; O fluxo sanguíneo é desviado do átrio direito para o átrio esquerdo, resultando na mistura dos sangues arterial e venoso no ventrículo esquerdo. A entrada do sangue misturado na circulação causa cianose; Fluxo sanguíneo pulmonar pelo canal arterial patente, se houver. Manifestações clínicas: Dispneia; Crise de anóxia; Fadiga; Primeira e segunda bulhas sem dois componentes; Ausência de sopros; Insuficiência cardíaca. Tratamento cirúrgico O tratamento paliativo: criação de uma derivação (sistêmica para a artéria pulmonar) para aumentar o fluxo sanguíneo aos pulmões. Se o defeito septoatrial for pequeno, é feita uma septostomiaatrial durante o cateterismo cardíaco. Algumas crianças têm fluxo sanguíneo pulmonar aumentado e necessitam de bandeamento da artéria pulmonar para diminuir o volume de sangue nos pulmões. Uma derivação bidirecional de Glenn (anastomose cavopulmonar) pode ser realizada após 6 a 9 meses como um segundo estágio. AN02FREV001/REV 4.0 183 Fontan modificado – o retorno venoso sistêmico é direcionado para os pulmões sem uma bomba ventricular por meio da conexão cirúrgica entre o átrio direito e a artéria pulmonar. O procedimento de Fontan modificado separa o sangue oxigenado do não oxigenado, eliminando o excesso de sobrecarga de volume sobre o ventrículo, mas não restaura a anatomia ou a hemodinâmica ao normal. Prognóstico: A mortalidade cirúrgica é maior do que 10%. As complicações cirúrgicas incluem arritmias, hipertensão venosa sistêmica, derrame pericárdico e pleural, aumento da resistência vascular pulmonar e disfunção ventricular. 5.2.4 Transposição das Grandes Artérias Descrição: A aorta sai do ventrículo direito e a artéria pulmonar emerge do ventrículo esquerdo; A circulação sistêmica não passa pelos pulmões para ser oxigenada; o fluxo sanguíneo pulmonar passa pelo coração e volta aos pulmões sem entrar na circulação sistêmica; Antigamente essa anomalia era conhecida como transposição dos grandes vasos. Manifestações clínicas: Cianose, principalmente durante ou depois da amamentação ou choro; Taquipneia; Sopro sistólico ou insuficiência cardíaca com anomalia do septoventricular; Acidose metabólica devido à hipóxia; Bulhas cardíacas anormais, dependendo do tipo de anomalia. AN02FREV001/REV 4.0 184 Tratamento cirúrgico A correção cirúrgica é realizada por esternotomia mediana, com emprego de circulação extracorpórea. Existem duas técnicas distintas: - Cirurgia de Mustard: nesta técnica é utilizado um enxerto para a reconstrução das câmaras atriais, de modo que o fluxo venoso pulmonar retorne ao átrio direito e o sangue venoso sistêmico retorne ao átrio esquerdo. - Cirurgia de Jatene: esta técnica consiste ao nível arterial, transpondo-se os grandes vasos e reimplantando-se às artérias coronárias, sendo dita correção anatômica. Prognóstico: A mortalidade cirúrgica é de cerca de 5 a 10%. Com correções ao nível arterial existe um risco posterior de arritmias e disfunção ventricular. AN02FREV001/REV 4.0 185 5.2.5 Síndrome da hipoplasia do coração esquerdo Descrição: O ventrículo esquerdo não funciona normalmente; O sangue pulmonar volta ao átrio esquerdo e, por uma anomalia do septoatrial, chega ao átrio direito. O débito cardíaco, levado da direita para a esquerda pelo canal arterial patente, é restringido pelo fechamento normal do canal arterial patente depois do nascimento. Manifestações clínicas: Cianose grave; Angústia respiratória; Agravamento dos sintomas à medida que o canal arterial pertinente fecha; Insuficiência cardíaca; Morte dentro de uma semana, a menos que haja canal arterial patente e uma anomalia do septoatrial larga. Tratamento cirúrgico O primeiro estágio é o procedimento de Norwood: anastamose da artéria pulmonar principal à aorta para criar uma nova, derivação para ter fluxo sanguíneo pulmonar e criação de um grande defeito septoatrial. O segundo estágio muitas vezes é uma derivação bidirecional de Glenn, feita entre seis e nove meses de vida para aliviar a cianose e reduzir o volume de sobrecarga de volume sobre o ventrículo direito. A correção final é o procedimento de Fontan modificado. Alguns programas AN02FREV001/REV 4.0 186 acreditam que o transplante cardíaco no período neonatal seja a melhor opção para esses recém-nascidos. Prognóstico: O risco de mortalidade de mais de 25% tanto com a cirurgia como o transplante. 5.2.6 Anomalia do Septoventricular (Comunicação Interventricular – CIV) Descrição: O septoventricular tem uma comunicação anormal; O sangue oxigenado proveniente do ventrículo esquerdo é desviado pela comunicação anormal e, em seguida, mistura-se com o sangue desoxigenado no átrio direito. FIGURA 35 FONTE: Disponível em: < http://www.medicinapratica.com.br/wp-content/uploads/2011/06/CIV.jpg >. Acesso em: 21 mar. 2012. Manifestações clínicas: Sopro; AN02FREV001/REV 4.0 187 Taquicardia; Irritabilidade; Taquicardia; Dificuldade alimentar; Cianose branda causada por insuficiência cardíaca; Dispneia durante a amamentação; Retardo do crescimento. Tratamento cirúrgico: É realizada utilizando circulação extracorpórea e a abordagem cirúrgica é a esternotomia mediana. Os defeitos são suturados usando-se enxertos biológicos ou sintéticos. Prognóstico: Os riscos dependem da localização do defeito, do número de defeitos e de outros defeitos cardíacos associados. Defeitos membranosos isolados têm uma baixa mortalidade – menos de 5%. 5.2.7 Anomalia do Septoatrial (Comunicação Interatrial – CIA) Descrição: O septoatrial tem uma comunicação anormal (causada pelo fechamento parcial do forame oval ou da parede do septoatrial); O sangue passa do átrio esquerdo para o átrio direito pela comunicação anormal. Manifestações clínicas: Pode ser assintomática; Dispneia ao esforço; Fadiga; AN02FREV001/REV 4.0 188 Ortopneia; Cianose transitória; Sopro mesossistólico pulmonar suave; Retardo do crescimento. Tratamento cirúrgico: A idade ideal para a cirurgia eletiva é a pré-escolar. Para correção cirúrgica é necessário o emprego da circulação extracorpórea e a abordagem cirúrgica mais empregada é a esternotomia mediana. O defeito pode ser fechado com sutura contínua quando for pequeno e a aproximação das bordas for possível, ou então pode ser usado um enxerto biológico ou sintético, quando o defeito for maior. Prognóstico: Mortalidade cirúrgica muito baixa, menor do que 1%. 5.2.8 Persistência do canal arterial (PCA) Descrição: Essa anomalia se deve à falta de fechamento do conduto vascular entre a aorta descendente e a artéria pulmonar depois do nascimento; O sangue é desviado da aorta para a artéria pulmonar. Manifestações clínicas: Sopro contínuo no segundo e terceiro espaços intercostais esquerdos; Ampliação da pressão arterial e pulso; Taquicardia; Dificuldade alimentar; Fadiga; Choro débil; Dispneia. AN02FREV001/REV 4.0 189 Tratamento cirúrgico: A idade ideal para o fechamento cirúrgico do canal está entre os 12 e os 36 meses, sendo que abaixo dessa idade a cirurgia é indicada nos casos de insuficiência cardíaca com controle clínico difícil. A correção cirúrgica convencional é a realização de toracotomia posterolateral no quarto espaço intercostal esquerdo. É realizada a secção do canal, sendo suturadas as extremidades aórtica e pulmonar com fio adequado. Pode-se ainda proceder à ligadura dupla do canal ou à utilização de clipes metálicos, não sendo feita assim a secção do canal. Prognóstico: Mortalidade cirúrgica é abaixo de 1%. 5.2.9 Coarctação da aorta (CoAo) Descrição: A aorta mostra-se estreitada; Essa anomalia pode ser pré-ductal (antes da região do canal arterial) ou pós- ductal (depois da região do canal arterial). FIGURA 36 AN02FREV001/REV 4.0 190 FONTE: Disponível em: < http://www.medicinapratica.com.br/wp- content/uploads/2011/06/Coarctac%CC%A7a%CC%83o-da-aorta.jpg >. Acesso em: 21 mar. 2012. Manifestações clínicas: Aumento da pressão arterial e pulso forte na circulação proximal à anomalia; Redução da pressão arterial e pulso débil na circulação distal à anomalia; Vertigem; Cefaleia; Desmaio; Epistaxe; Escurecimento das pernas; Pés frios; Ganho ponderal reduzido; Dificuldade alimentar; Insuficiência cardíaca; Pode haver sopro na borda esternal. Tratamento cirúrgico: A abordagem cirúrgica é feita por toracotomia posterolateral esquerda, sem o emprego da circulação extracorpórea. Resseca-se a coarctação e realiza-se uma anastomose término-terminal, com ou sem enxerto para restabelecer a continuidade. Prognóstico: Menos de 5% de mortalidade em pacientes com coarctação isolada, maior risco em recém-nascidos com outros defeitos cardíacos complexos. 5.2.10 Estenose Pulmonar Descrição: AN02FREV001/REV 4.0 191 O fluxo sanguíneo que se dirige aos pulmões, proveniente do ventrículo direito, é obstruído; A obstrução pode estar situada acima ou abaixo da válvula pulmonar, ou a anomalia pode ocorrer em forma de estenose valvular; A resistência ao fluxo sanguíneo (causada pela estenose) leva à hipertrofia do ventrículo direito. Manifestações clínicas: Dispneia; Fadiga; Braços e pernas frias; Cianose periférica; Sopro de ejeção sistólica no segundo espaço intercostal esquerdo, acompanhado de frêmito sistólico com sopro irradiando-se para o precórdio e o dorso; Segunda bulha cardíaca menos nítida (pode desaparecer). Tratamento cirúrgico: A correção cirúrgica pode ser realizada através de valvulotomia pulmonar, por toracotomia anterior esquerda, sem o uso de circulação extracorpórea. Também pode ser realizada valvulotomia sob visão direta, com emprego de circulação extracorpórea ou por angioplastia por balão no laboratório de cateterismo para dilatar a valva. Prognóstico: Baixo risco menos de 2 % de mortalidade. 5.2.11 Estenose Aórtica Descrição: AN02FREV001/REV 4.0 192 A válvula aórtica mostra-se estreitada, levando à obstrução do fluxo sanguíneo proveniente do ventrículo esquerdo e à persistência da circulação fetal. Manifestações clínicas: Pulsos periféricos débeis; Taquicardia; Cansaço ao esforço; Palidez cutânea; Irritabilidade; Síncope; Angina do peito; Sudorese; Epistaxe. Tratamento cirúrgico: A abordagem cirúrgica é realizada pela esternotomia mediana. A correção cirúrgica se faz pela valvulotomia aórtica. Sob visão direta proporcionada pela circulação extracorpórea, deslocam-se as comissuras fundidas da válvula ou essa é ressecada e substituída por uma prótese. Prognóstico: Em recém-nascidos criticamente enfermos e crianças acarreta uma mortalidade de 10 a 20% nos grandes centros médicos. Os resultados da valvulotomia aórtica em crianças mais crescidas são muito bons, com uma taxa de mortalidade de 0%. Contudo, a valvulotomia aórtica permanece um procedimento paliativo, e aproximadamente 25% dos pacientes necessitam de uma cirurgia adicional dentro de 10 anos para recidiva de estenose. AN02FREV001/REV 4.0 193 5.3 PROCEDIMENTOS HEMODINÂMICOS EM CARDIOPATIAS CONGÊNITAS Atualmente, um grande número de defeitos cardíacos congênitos podem ser reparados em salas de cateterismo (ou hemodinâmica) ao invés de salas de operação em centros cirúrgicos. Atriosseptostomia com balão e valvuloplastia com balão são procedimentos efetuados por meio da cateterização cardíaca. Tais procedimentos podem salvar a vida de neonatos em situação crítica e em alguns casos poderão eliminar ou retardar procedimentos cirúrgicos mais invasivos. Espera-se que o cateterismo cardíaco continuará no futuro a substituir uma gama cada vez maior de procedimentos cirúrgicos para correção de defeitos congênitos do coração. O assim chamado cateter é um tubo fino que é inserido em uma artéria ou veia da perna, da virilha ou do braço, e conduzido até a área do coração que necessita de reparo. O paciente recebe anestesia no local do acesso e permanece acordado, mas sedado durante o procedimento. Atriosseptostomia com balão Este é o procedimento usual para a correção da transposição dos grandes vasos; às vezes é usado em pacientes com atresia (estreitamento) das válvulas mitral, pulmonar ou tricúspide. Um catéter especial provido com um balão inflável na extremidade é introduzido no átrio direito e com ele alarga-se a abertura do septoatrial. Valvuloplastia com balão O cateter balão é utilizado para abrir uma válvula cardíaca estreitada, melhorando o fluxo de sangue. É o procedimento de escolha na estenose pulmonar e às vezes é usado na estenose aórtica. Balões de polímeros plásticos são colocados na ponta do catéter e inflados para aliviar a obstrução da válvula cardíaca. Os resultados de longo prazo são excelentes na maioria dos casos. AN02FREV001/REV 4.0 194 FIGURA 37 FONTE: Arquivo Pessoal do Autor. 5.4 PAPEL DO ENFERMEIRO NO PÓS-OPERATÓRIO DE CIRURGIA CARDÍACA INFANTIL A evolução na área cirúrgica exigiu que a assistência de enfermagem no pós-operatório infantil cardíaco fosse continuamente aperfeiçoada e atualizada nos aspectos técnicos e científicos, visto que o êxito no tratamento clínico pós-operatório está diretamente relacionado à qualificação da assistência de enfermagem aplicada. O pós-operatório das cardiopatias congênitas envolve grave gama de procedimentos realizados à beira do leito na Unidade de Terapia Intensiva Infantil, procedimentos esses que envolvem monitoração de dados vitais, dados hemodinâmicos, análises laboratoriais, ajustes ventilatórios, suporte nutricional, infusão de drogas e algumas vezes procedimentos específicos, como diálise peritoneal ou hemodiálise. AN02FREV001/REV 4.0 195 A adoção de uma estratégia específica para os cuidados pós-operatórios facilita o trabalho de equipe. As enfermeiras da unidade de pós-operatório de cirurgia cardíaca têm que ser capazes de efetuar esforços no sentido de que o paciente obtenha a recuperação em tempo hábil e, consequentemente, um nível elevado de saúde. 5.5 CIRURGIAS CARDÍACAS NO ADULTO 5.5.1 Pré-Operatório de Cirurgia Cardíaca – Cuidados de Enfermagem Uma sensata revisão da indicação cirúrgica e uma explicação dos procedimentos que serão realizados no pré-operatório ao paciente representam fator de relaxamento, reduzindo a ansiedade e as respostas psicológicas ao estresse antes e depois da cirurgia, o que se reflete em uma menor necessidade de sedativos e medicações anti-hipertensivas no transoperatório. Para isso, é importante uma assistência e acompanhamento ao paciente submetido à cirurgia cardíaca e aos seus familiares. É necessária a presença de uma equipe multidisciplinar cujo objetivo principal é personalizar os cuidados frente ao paciente e familiares no período intra- hospitalar. Enfermeiros, nutricionistas, psicólogos e fisioterapeutas, por meio de suas atividades, prestam ao paciente atenção individualizada relacionada às suas necessidades. Esses cuidados se estendem após a alta por meio de um acompanhamento para avaliar e colaborar com o período de adaptação do paciente ao retorno de suas atividades regulares. É imperativa uma detalhada avaliação pré-operatória com a finalidade de minimizar as complicações pré e pós-operatório. A coleta da história clínica e o exame físico devem ser os mais completos possíveis. O propósito dessa rotina é orientar de forma objetiva e dirigida a busca de dados que possam interferir nos AN02FREV001/REV 4.0 196 resultados e modificá-los antes mesmo da intervenção cirúrgica, se possível. 5.5.2 Revascularização Miocárdica A doença da artéria coronária é das maiores causas de morte no mundo. As medidas preventivas não conseguiram ainda erradicá-la, uma vez que há apenas 40 ou 50 anos vem sendo compreendido o papel de fatores como a ingestão de alimentosricos em gordura e colesterol no desencadeamento da doença. A cirurgia de revascularização do miocárdio é, por isso, um recurso terapêutico importante a ser utilizado quando necessário. O coração é um músculo que se contrai sob condições adequadas, tal como os músculos do braço ou da perna. As células que formam o coração, os miócitos, ao se contraírem forçam o sangue a percorrer todo o corpo através de uma espécie de “árvore circulatória” ou rede de vasos sanguíneos. Para esta tarefa, o coração requer grande quantidade de energia e nutrientes, que é suprida por vasos sanguíneos próprios, as artérias coronárias. Na doença da artéria coronária a luz destes vasos encontra-se obstruída por placas de material carreado pelo sangue, denominando-se este processo aterosclerose. A obstrução das artérias resulta em insuficiência de nutrientes e oxigênio, o que provoca sintomas como dores no peito e baixa resistência ao esforço físico. Se a obstrução é total, o músculo cardíaco pode sofrer um dano irreversível e este é o chamado ataque cardíaco ou infarto do miocárdio. Alguns pacientes podem se beneficiar do tratamento cirúrgico para prevenir ataques cardíacos ou para corrigir a insuficiência na quantidade de sangue nutrindo o músculo cardíaco. História A reconstrução cirúrgica de artérias obstruídas iniciou-se por volta de 1960. A finalidade da operação de revascularização do miocárdio é restaurar o suprimento de sangue ao músculo cardíaco, criando uma nova rota que contorna a área bloqueada da artéria coronária doente. Desde o início do século XX técnicas de sutura de pequenos vasos vêm sendo desenvolvidas, ao lado de métodos e AN02FREV001/REV 4.0 197 diagnósticos de manuseio da coagulação sanguínea. Também foram criados artefatos que permitem manter a circulação sanguínea pelo corpo enquanto o coração encontra-se temporariamente parado para a intervenção cirúrgica, a máquina de circulação extracorpórea. Saiba mais sobre Circulação Extracorpórea no subitem 5.6. Além disso, o aperfeiçoamento das técnicas anestésicas que permitiu a respiração controlada do paciente com o tórax aberto foi fundamental para o aprimoramento da cirurgia cardíaca até o ponto atualmente alcançado. Saiba mais sobre anestesia. Em 1966, em Leningrado (atual São Petersburgo), na União Soviética, o Dr. Kolessov reportou o uso de artéria mamária interna para criar um desvio (“bypass”) para a artéria coronária em 6 pacientes, dos quais 5 sobreviveram. Em 1967, o médico argentino Renée Favalaro publicou os resultados iniciais de uma pequena série de pacientes que receberam enxertos coronarianos de veia safena. A partir desses importantes marcos muitos investigadores começaram a expandir o conceito de reconstrução do suprimento de sangue ao coração com enxertos de vias alternativas ao percurso coronariano. A reconstrução cirúrgica do suprimento sanguíneo foi a partir de então rapidamente reconhecida como altamente efetiva em várias doenças, como a angina e atualmente permanece como principal recurso terapêutico para grande grupo de pacientes. Como funciona A cirurgia de revascularização do miocárdio cria um novo percurso para o fluxo sanguíneo. Frequentemente o bloqueio da artéria ocorre nos primeiros dois centímetros dos ramos maiores que suprem o coração. Os menores ramos usualmente não estão comprometidos até uma idade mais avançada. Assim, torna- se possível introduzir uma fonte nova de sangue na artéria logo adiante do bloqueio. O fluxo sanguíneo vai percorrer um caminho alternativo até atingir o tecido muscular cardíaco ali onde é requerido. Uma vez que o volume e a pressão do sangue são restaurados pelo procedimento cirúrgico, aliviam-se os sintomas decorrentes da má nutrição e hipóxia (falta de oxigênio) do músculo cardíaco. A veia safena é o mais comum material utilizado para a construção desse novo percurso. Também se usa a artéria mamária interna esquerda, que é até mais AN02FREV001/REV 4.0 198 resistente à deposição aterosclerótica que as próprias coronárias. Ambos os enxertos cumprem a função de fornecer ao músculo o suprimento de sangue necessário à função contrátil. Aspectos técnicos É difícil, embora não impossível, costurarem-se finas artérias e veias umas nas outras com o coração batendo. A introdução de dispositivos de circulação extracorpórea – máquina coração-pulmão – permitiu aos cirurgiões suspender temporariamente os movimentos cardíacos enquanto essas delicadas ligações são executadas. Durante a operação as funções de órgãos como cérebro, rins e fígado são plenamente mantidos por esta circulação artificial. Após completar o enxerto, as contrações cardíacas são restauradas e as tarefas da circulação são devolvidas ao coração e aos pulmões. A bomba extracorpórea é removida do sistema vascular do paciente, a anticoagulação é revertida e a cirurgia está terminada. Uma típica cirurgia de revascularização do miocárdio começa com uma incisão vertical no peito. O osso frontal do tórax (esterno) é cortado com uma serra especialmente desenhada para tal e é separado com um artefato apropriado. Com a abertura do esterno e o afastamento dos tecidos moles permite-se o acesso à membrana que envolve o coração, o pericárdio, que recebe uma incisão. Em seguida o cirurgião remove a artéria mamária interna da parede do tórax, de modo a obter uma artéria doadora para o enxerto. Simultaneamente, um cirurgião assistente provê um vaso doador adicional, normalmente a grande veia safena, a partir da coxa ou da panturrilha. Como a perna contém muitas veias redundantes, a circulação de retorno não será comprometida. Após a coleta dos vasos doadores, o sangue do paciente recebe substâncias para que não venha a coagular em contato com o equipamento de circulação extracorpórea. São feitas as conexões desse equipamento com a circulação do paciente, que tem então a temperatura corporal reduzida por meio da refrigeração do sangue que circula pela máquina. Além disso, os fluxos sanguíneos do coração e do resto do corpo são separados por meio de um grampo vascular (“clamp”) aplicado à aorta logo abaixo da inserção da cânula de retorno arterial. As artérias coronárias são então perfundidas com uma solução de potássio a baixa AN02FREV001/REV 4.0 199 temperatura. Imediatamente o coração para, resfria e relaxa-se. O corpo é preservado pelo fluxo de nutrientes advindo do circuito coração-pulmão, enquanto o coração é preservado pela baixa temperatura e por outras condições manejadas pela equipe cirúrgica. Em seguida, cada vaso-alvo é identificado e para cada enxerto a coronária- alvo recebe uma pequena incisão feita com um fino bisturi. A incisão é expandida com tesouras especiais. Um vaso doador – veia ou artérias – é anexado a esta incisão com delicados fios de sutura, em geral feitos de polipropileno, mais finos que um fio de cabelo. Depois que todos os enxertos já estão ligados às artérias do coração, o “clamp” vascular é liberado, restabelecendo o fluxo de sangue para as artérias cardíacas. FIGURA 38 FONTE: Disponível em: < http://4.bp.blogspot.com/_RsgEoFgT0xc/TJqXq0ZoW3I/AAAAAAAAAFA/Z_iyS6nS5uU/s1600/pontem amaria.jpg>. Acesso em: 21 mar. 2012. Quando o coração afinal se recupera de seu repouso temporário a circulação extracorpórea pode ser gradualmente retirada. Só após estar o coração batendo perfeita e vigorosamente o equipamento é removido. O anticoagulante é revertido quimicamente e o cirurgião inspeciona, controla sangramentos restantes e AN02FREV001/REV 4.0 200 fecha as incisões. Por fim o paciente é enviado à unidade de cuidados intensivos para recuperação. Pacientes que não apresentam problemas maiores no pós- operatório podem sair do hospital em cerca de seis dias depois da cirurgia. Após duas ou três semanas a maioria dos pacientes recuperaseu vigor físico e suas rotinas corporais, o apetite, sono e funcionamento intestinal. Pacientes cuja atividade profissional não exige esforços físicos podem retomá-la em 4 a 6 semanas ou até antes, dependendo de seu nível de energia. Normalmente não serão mais necessários medicamentos antianginosos. Mas medicamentos para controle de pressão arterial e do diabetes continuam sendo necessários. Após a completa recuperação da cirurgia, a vasta maioria de pacientes pode retomar suas atividades de vida diária, inclusive exercícios, viagens e trabalho. 5.5.3 Substituição Valvar Histórico As primeiras intervenções realizadas sobre as válvulas cardíacas após o advento da circulação extracorpórea foram procedimentos reconstrutivos. Os resultados iniciais foram animadores, especialmente nas estenoses, possibilitando o tratamento de inúmeros pacientes, até então condenados à evolução natural da doença. Nas insuficiências valvulares, entretanto, os resultados não foram consistentes. Talvez devido ao pouco conhecimento da anatomia patológica da época, certamente aliada a pouca experiência cirúrgica, os procedimentos reconstrutivos nas insuficiências valvulares eram realizadas com maior índice de insucesso. Além disso, não puderam ser reproduzidos em todos os centros de cirurgia, consequentemente não se tornaram difundidos a ponto de beneficiar número significativo de pacientes. Com a criação das próteses valvulares artificiais, na década de 60, houve nítido retrocesso na popularidade dos procedimentos reconstrutivos. Tornou-se muito mais padronizado e reprodutível de maneira uniforme o tratamento das lesões valvulares pela substituição protética, pelo menos na fase hospitalar e em curto AN02FREV001/REV 4.0 201 prazo. As próteses, entretanto, apresentam problemas e complicações próprias e, embora propiciando excelente melhora funcional cardiovascular, estavam então, como ainda hoje, longe de ser um tratamento ideal e definitivo. Procedimento Operatório Depois da instituição da circulação extracorpórea, um cateter de esvaziamento é introduzido através de uma incisão na veia pulmonar direita e a sua extremidade é avançada até o interior do ventrículo esquerdo; A aorta é clampeada. Se estiver presente uma insuficiência aórtica, uma dose única inicial de solução cardioplégica é infundida retrogradamente. Na presença de estenose aórtica, a dose inicial da solução cardioplégica pode ser infundida na raiz da aorta. Uma vez parado o coração, a aorta é aberta; A valva nativa é inspecionada e é confirmada a extensão do defeito patológico. Se existirem depósitos de cálcio, eles devem ser debridados com tesouras ou ruginas. A valva deve ser retirada cuidadosamente para evitar danificar o anel e as estruturas subjacentes. Pode-se usar pequena quantidade de gaze dentro do ventrículo esquerdo para reter fragmentos pequenos, soltos, de cálcio que poderiam subsequentemente embolizar. Os instrumentos devem ser bem limpos e enxugados frequentemente; Anel é medido, é escolhida a prótese adequada, e é conectado o fixador da prótese; Se for escolhida uma prótese biológica, ela é colocada no campo e lavada com banhos de soro fisiológico: Se for escolhido um aloenxerto, ele é colocado no campo e descongelado com banhos de soro fisiológico de acordo com o protocolo; e Se for escolhida uma prótese mecânica, ela pode ser colocada dentro de um banho de solução antibiótica até ser usada (soluções antibióticas não devem ser despejadas diretamente sobre as valvas biológicas). As valvas biológicas devem ser mantidas úmidas através de irrigação frequente com soro fisiológico; A valva nova é implantada de acordo com uma técnica semelhante àquela descrita para a substituição da valva mitral; AN02FREV001/REV 4.0 202 Se o anel aórtico for demasiadamente pequeno para aceitar uma prótese de tamanho adequado, pode ser efetuado o procedimento de Konno para aumentar o anel, bem como a porção inicial da aorta ascendente (Waldhausert e Pierce, 1985). Um retalho losangular de pericárdio bovino ou de Dacrort é colocado longitudinalmente na aorta ascendente anterior proximal onde foi cortado o anel aórtico. A prótese valvar desejada é suturada ao anel natural e depois ao retalho. O retalho é suturado às bordas restantes da aortotomia; A aorta é fechada com suturas não absorvíveis e é removido o clampeamento; Ar no lado esquerdo do coração é esvaziado (por catéter de esvaziamento, movimentando-se a mesa de cirurgia de um lado para o outro ou por meio de outras manobras escolhidas pelo cirurgião). O paciente é colocado em posição de Trendelenburg e os pulmões são inflados. Não se permite que o coração volte a bater e ejete sangue até que o cirurgião se certifique de que não existe mais ar dentro do ventrículo esquerdo. O coração é desfibrilado se não retomar espontaneamente os seus batimentos; É mantido o reaquecimento do coração, os cateteres de esvaziamento são removidos e o tórax é fechado da maneira rotineira. Substitutos Valvulares A substituição valvar cardíaca protética representou um importante avanço no tratamento de pacientes com patologia orovalvar. O desenvolvimento de diferentes substitutos valvares e a evolução na técnica cirúrgica e no manejo perioperatório resultaram no implante de próteses com: Reduzido risco operatório; Substancial melhora na qualidade e duração de vida dos pacientes quando a indicação cirúrgica é correta; e Pequeno risco adicional na substituição de próteses com disfunção ou se o procedimento cirúrgico associado é necessário (implante de enxertos tubulares, revascularização miocárdica, valvoplastia, etc.). A cirurgia de substituição valvar apresenta ainda aspectos desfavoráveis, que devem ser considerados quando da indicação cirúrgica: o risco operatório, que AN02FREV001/REV 4.0 203 subsiste, embora venha sendo progressivamente reduzido, a variável incidência de complicações tardias relativas à prótese (tais como tromboembolismo, degeneração, infecção, hemólise), a manutenção de um gradiente transvalvular e outros. O Substituto Valvar Ideal A efetividade de qualquer substituto valvar usualmente é obtida da comparação com o desempenho de um modelo ideal, cujas características foram delineadas por Harken em 1962: Não deve propagar êmbolos; Deve ser quimicamente inerte e não danificar elementos sanguíneos; Não deve oferecer resistência aos fluxos fisiológicos; Deve fechar prontamente (menos do que 0,05 segundos); Deve permanecer fechado durante a fase apropriada do ciclo cardíaco; Deve manter suas características físicas e geométricas; Deve ser inserido em posição fisiológica, usualmente no local anatômico normal; Deve ter fixação permanente; Não deve incomodar o paciente; e Deve ser tecnicamente prático para implante. O crescente número de cirurgias que requerem implante de válvulas cardíacas artificiais obriga-nos à adição de novos critérios: Facilidade de obtenção e conservação; e Pronta disponibilidade em diversos tamanhos. Evidentemente nenhum dispositivo valvar artificial disponível preenche integralmente esses critérios e não existe ainda um acordo universal sobre qual a melhor prótese cardíaca; a extensão em que cada um dos modelos existentes se enquadra nessas características determina sua aceitação entre os cirurgiões cardiovasculares. AN02FREV001/REV 4.0 204 Classificação dos Substitutos Valvulares Os substitutos valvares cardíacos são classificados usualmente de acordo com a composição do material constituinte e forma de funcionamento, conforme expresso na tabela abaixo: CLASSIFICAÇÃO DOS SUBSTITUTOS VALVARES PRESENTEMENTE UTILIZADOS PARA IMPLANTE CIRÚRGICO Mecânicos Fluxo lateral Bola Disco Fluxo centralDisco basculante Duplo folheto Biológicos Autrólogos Válvula pulmonar Homólogos Válvula aórtica Heterólogos Válvula aórtica do porco Pericárdio bovino Substitutos Valvares Mecânicos Os substitutos valvares mecânicos apresentam como características favoráveis a disponibilidade em diversos tamanhos e modelos, a facilidade de inserção por técnicas reproduzíveis, um adequado desempenho hemodinâmico (favorável nos modelos de diâmetro reduzido, se comparado às biopróteses) e a inquestionável durabilidade. Contudo, podem resultar em complicações tromboembólicas, requerendo o uso de anticoagulantes, um tratamento por si só não desprovido de risco. AN02FREV001/REV 4.0 205 Substitutos Valvares Biológicos Próteses biológicas foram desenvolvidas visando minimizar ou mesmo eliminar a incidência de tromboembolismo e a necessidade do emprego de anticoagulantes associados ao implante de próteses metálicas e a dispor de uma prótese que mostrasse características de fluxo semelhante ao das valvas cardíacas. Embora os episódios tromboembólicos tenham sido reduzidos desde os primeiros modelos, outros problemas como a seleção do enxerto biológico, o desenvolvimento de técnica de preparo, esterilização e preservação, a disponibilidade em diferentes tamanhos e para implante em diferentes posições e a incidência relativamente alta de falência tardia devido a alterações teciduais foram uma constante até o desenvolvimento de próteses biológicas aceitáveis para utilização clínica difundida. 5.6 CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA A ideia de perfundir os órgãos com finalidade de mantê-los em condições de vitalidade tem origem no século passado, Gilbon, em Boston, a partir de 1937, foi quem primeiro demonstrou com sucesso a utilização da circulação extracorpórea (C. E. C.) para realização de cirurgias cardíacas. Na década de 50 houve um acentuado avanço em relação à utilização dos oxigenadores artificiais, das bombas de fluxo, do manuseio de heparina e do aprimoramento da hemostasia. Novas tecnologias e o maior conhecimento da fisiologia e da fisiopatologia possibilitaram realizar a circulação extracorpórea com morbidade reduzida. A circulação extracorpórea é um recurso conceitualmente simples, seguro e de fácil manuseio. Ela é utilizada na cirurgia cardíaca para desviar o sangue não oxigenado do paciente e devolver sangue reoxigenado para a sua circulação. Essa técnica é feita por uma bomba oxigenadora (máquina coração – pulmão). O desvio do sangue permite ao cirurgião visualizar o coração diretamente durante a operação. A bomba oxigenadora, mais que qualquer outro dispositivo, tornou possível a mais sofisticada cirurgia cardíaca. AN02FREV001/REV 4.0 206 As quatro finalidades da bomba oxigenadora são: Desviar a circulação do coração e dos pulmões, oferecendo ao cirurgião um campo sem sangue; Realizar todas as trocas gasosas para o corpo enquanto o sistema cardiopulmonar do paciente está em repouso; Filtrar, reaquecer e resfriar o sangue; e Circular o sangue filtrado e oxigenado de volta para o sistema arterial. O procedimento da circulação extracorpórea é o seguinte: a máquina tem de ser ativada (cheia) antes de o procedimento começar. No passado, isso era feito com três a quatro litros de sangue heparinizado, mas hoje em dia geralmente é feito com solução fisiológica cristaloide (por exemplo, lactato de Ringer). Após a abertura do tórax do paciente o cirurgião introduz duas cânulas de largo calibre no átrio direito e, em seguida, nas veias cavas inferior e superior e cateteres de sucção dentro da cavidade torácica e dentro dos ventrículos. Antes do início da circulação extracorpórea, o paciente necessita ser anticoagulado para neutralizar a cascata da coagulação pelo contato sanguíneo com tubos e circuitos não endotelizados. Isso é possível por meio da administração intravenosa de heparina, geralmente na dose de 300 a 400 U/kg (3 a 4 ml/kg). Em seguida, o sangue é bombeado das veias cavas, da cavidade torácica e dos ventrículos para dentro da bomba oxigenadora. Na máquina, o trocador de calor reaquece (ou esfria o sangue, se o cirurgião desejar hipotermia). Um oxigenador em seguida remove o dióxido de carbono do sangue e adiciona oxigênio. Finalmente o sangue passa por meio de um filtro que remove as bolhas de ar e outros êmbolos antes de retornar esse sangue para o corpo através da aorta. Procedimento para finalização da circulação extracorpórea: Depois de o procedimento intracardíaco ter sido completado, todo o ar deve ser evacuado do ventrículo esquerdo. Uma dose aquecida de solução cardioplégica pode ser dada, depois da qual a pinça de clampeamento é removida; Muitas vezes, a desfibrilação é espontânea com a remoção do clampeamento aórtico e entrada de sangue quente dentro da circulação coronária. Se não AN02FREV001/REV 4.0 207 ocorrer, torna-se necessária a desfibrilação elétrica. Cabos de marca-passo temporário são conectados ao átrio e ao ventrículo; É reduzido o fluxo de sangue venoso à bomba. O fluxo arterial também é reduzido para igualar o retorno venoso. Quando o funcionamento cardíaco for suficiente e a pressão sanguínea sistêmica tiver se estabilizado, o retorno venoso é reduzido ainda mais e o paciente é desligado da circulação extracorpórea, pinçando-se todas as vias de acesso e parando a bomba; À medida que são removidos os cateteres de canulação, as suturas em bolsas são apertadas e cortadas. Suturas adicionais podem ser necessárias para hemostase; Os tubos torácicos devem ser introduzidos dentro do pericárdio (e da cavidade pleural, caso a pleura tenha sido aberta); É administrado sulfato de protamina, um antagonista da heparina; e Usualmente o pericárdio é deixado aberto, de modo que o acúmulo de secreções não produza tamponamento cardíaco. Equipamentos Utilizados na Circulação Extracorpórea Oxigenador O oxigenador é um dispositivo mecânico que possibilita as trocas de oxigênio, dióxido de carbono, vapor de água e gases anestésicos entre o sangue e a atmosfera adjacente. O termo “oxigenador” é inadequado, porque se refere apenas à propriedade da oxigenação e não à da remoção do gás carbônico. No entanto, é uma referência consagrada na literatura. Nos primórdios da circulação extracorpórea foram feitas tentativas para se utilizar o pulmão humano como órgão oxigenador para os pacientes, na chamada circulação cruzada. Uma vez estabelecido o cruzamento temporário entre a circulação do paciente e a de um “doador” temporário (usualmente a mãe do doente), era possível realizar a cirurgia intracardíaca. Foram ainda testados o pulmão de animais e o pulmão do próprio paciente. Entretanto, as dificuldades, limitações e complicações inerentes a estes métodos levaram ao seu total abandono. AN02FREV001/REV 4.0 208 Existem dois tipos de oxigenadores de sangue – o de membrana e o de bolha. As mais das vezes o método de membrana é usado para a troca gasosa (ou seja, remoção do dióxido de carbono e subsequente oxigenação). Com o método de membrana o oxigênio é difundido através de uma membrana permeável ao gás que o separa do sangue venoso. Menos comumente, o método de bolha é empregado, com o qual o oxigênio é borbulhado através de uma coluna de sangue venoso. Os oxigenadores de membrana são preferidos aos oxigenadores de bolha por causa de uma melhor preservação das plaquetas, menos uso de sangue do banco de sangue, melhor função renal pós-operatória e porque não empregam uma interface direta sangue – gás, que é inerentemente destrutiva para os elementos formados do sangue. Bomba Arterial A perfusão do paciente é assegurada por pelo menos uma bomba de sangue que é incorporada ao sistema de circulação extracorpórea. Essa bomba tem como características principais: Capacidade de bombear até seis litros de sangue por minuto, independente da pressão na linha de saída; Não ocasionar danos aos componentes celulares e acelulares do sangue; Todas as partes em contato com o sangue devem ter superfície lisa e contínua, sem espaços ou áreas mortas que possam produzir estagnação ou turbulência desnecessária; Calibração do fluxo exata e reproduzível, de forma que o fluxo sanguíneo possa ser monitorizado precisamente; Capacidade de operação manual em situações de emergência; e Partes que conduzem o sangue descartáveis, não contaminando as partes permanentes da bomba. AN02FREV001/REV 4.0 209 As bombas podem ser classificadas como pulsáteis (de baixa ou de ampla amplitude) ou não pulsáteis, conforme as características de deslocamento que apresentam. Bombas de fluxo pulsátil são atraentes pelo fato de apresentarem contornos de pulso razoavelmente fisiológicos e foram inicialmente projetadas por Hooker em 1911; diversos tipos surgiram posteriormente: diafragma, pneumática, pistão, fole e compressão. Dispositivos especiais podem também ser colocados entre uma bomba de fluxo não pulsátil e o paciente, visando obter-se um fluxo pulsátil. Embora considerado essencial para perfusões prolongadas em órgãos isolados e diversos trabalhos tenham demonstrado suas vantagens sobre o fluxo não pulsátil, limitações práticas impedem o uso difundido do fluxo pulsátil: o reduzido diâmetro de conectores e cânulas arteriais usados em circulação extracorpórea (com relação ao diâmetro aórtico e à magnitude do fluxo) tende a amortecer os contornos do pulso e torná-lo menos fisiológico o aumento do gradiente pressórico entre a linha arterial e a aorta, e a força de aceleração aguda do jato sanguíneo durante o período do pico pressórico resulta em turbulência, podendo induzir cavitação e formação de microbolhas. A bomba arterial mais empregada atualmente é a de roletes, introduzida por De Bakey em 1934. É simples, segura e mais acessível em termos de custos. Nela, o fluxo arterial sistêmico é modificado, com o transcorrer da circulação extracorpórea, de acordo com a idade, a superfície corpórea e a temperatura do momento. Condutores Sanguíneos A condução do sangue entre o oxigenador e o paciente é feita por tubos, usualmente confeccionados com cloreto de polivinila (P. V. C.). Entre as características desejáveis destes condutores destacam-se: Transparência, não umidificação e baixa tensão superficial; Inércia química e tromborresistência; Superfície interna lisa e baixa resistência ao fluxo; Flexibilidade, de modo a retornar à forma original após remoção de pinça ou uso em bomba rotatória; AN02FREV001/REV 4.0 210 Resistência angular ou colapsar se a pressão negativa é aplicada; e Capacidade de tolerar sem dano estrutural a esterilização em altas temperaturas. Termopermutadores As funções comumente desempenhadas são a redução da temperatura do sangue para indução de hipotermia sistêmica, seu aquecimento após realização da cirurgia, bem como a manutenção da temperatura do sangue em cirurgias normotérmicas, pois ocorre perda de calor pelo oxigenador. Entre as características ideais de um termopermutador, considerando-se a alta efetividade (capacidade de modificar a temperatura do sangue), baixo volume de perfusato, baixa resistência ao fluxo, mínimo dano aos componentes sanguíneos e simplicidade de manutenção limpeza e esterilização se a unidade não for descartável. Usualmente a água é o meio utilizado para esfriamento e aquecimento do sangue, pela facilidade de bombeamento e esfriamento, disponibilidade e baixa resistência à transferência de calor em condições de fluxo turbulento. Em condições operacionais a temperatura da água não deve exceder 42ºC, pela indução de hemólise significativa, ou ser inferior a 0ºC, pois o congelamento da água no permutador irá determinar destruição celular. A temperatura do sangue não deverá exceder 39ºC. Um gradiente máximo de 14ºC deve ser respeitado entre a temperatura da água e a do perfusato, especialmente no aquecimento do sangue que foi oxigenado à baixa temperatura, pelo aumento da solubilidade de oxigênio e eventual formação de bolhas. Visando diminuir este risco, um filtro cata-bolha deve ser colocado distalmente ao permutador, na linha arterial. Este cuidado é dispensável na maioria dos oxigenadores descartáveis com termopermutador incorporado, que é posicionado previamente ao desborbulhador e ao filtro. Filtros A identificação de um nível aumentado de partículas circulantes durante a circulação extracorpórea, tais como fragmentos teciduais e de células vermelhas, AN02FREV001/REV 4.0 211 agregados de plaquetas e leucócitos, microbolhas gasosas, silicone e gordura, e a incidência de complicações pós-operatórias envolvendo sistema nervoso central, pulmão, rim, coração e fígado permitem concluir que a circulação extracorpórea e o trauma cirúrgico podem alterar componentes sanguíneos e determinar a formação de microêmbolos, que ocasionam oclusão microvascular e resultam em dano a órgãos vitais. Embora eventos microembólicos sejam preferentemente subclínicos e transitórios, algumas vezes podem deixar sequelas permanentes. As condições que propiciam a formação de agregados são: Trauma sanguíneo na sucção, oxigenação e bombeamento; Uso de sangue estocado, que contém aproximadamente 100 agregados de diâmetro entre 10 e 300 µ por mm3; Mistura entre o sangue do paciente e o do doador, que resulta em certo grau de reação sanguínea e grumos; Hipotensão e trauma, que causam a liberação de substâncias teciduais (exemplo serotonina), contribuindo para a agregação plaquetária; e Contato do sangue com substâncias estranhas. Para tornar a circulação extracorpórea, um procedimento fisiológico – a formação de êmbolos – deve ser prevenido e o material embólico removido com auxílio de filtros. O filtro deve extrair todas as partículas estranhas ao sangue sem causar resistência ao fluxo sanguíneo, trauma adicional ao sangue ou ter seu desempenho diminuído por obstrução parcial do sistema de filtragem, o que pode ocorrer no transcorrer da circulação extracorpórea. Os êmbolos grandes (maiores do que 200 µ), como coágulos sanguíneos, partículas teciduais, fragmentos de cálcio ou bolhas de gás, são usualmente removidos no oxigenador ou no reservatório de cardiotomia, que possui um filtro de malha capaz de bloquear as partículas antes que estas ingressem no reservatório arterial. Contudo, partículas pequenas (50 a 200 µ), como glóbulos de gordura e agregados de eritrócitos, não são inteiramente bloqueadas, exceto se microfiltros são incorporados ao sistema de circulação extracorpórea. Atualmente a maioria dos filtros é do tipo malha e fabricada em nylon ou poliéster, com poros entre 20 e 40 µ. Seu projeto não apenas possibilita aprisionar as partículas de matéria como servir como cata-bolhas. AN02FREV001/REV 4.0 212 Sistema de Aspiração O sistema de aspiração durante circulação extracorpórea visa ao aproveitamento de sangue extravasado no campo cirúrgico ou que se acumula no interior do coração. Como o trauma sanguíneo está diretamente ligado à aspiração, deve-se atentar para a correta oclusividade das bombas, manutenção da aspiração em velocidade suficiente apenas para remover o sangue do campo cirúrgico e confecção das linhas em tubo de PVC com diâmetro de 3/8, com o menor comprimento possível. Eventualmente a força de sucção pode ser obtida de uma fonte de vácuo. Contudo, se resultar pressão negativa excessiva, hemólise significativa poderá ocorrer. Como a aspiração do sangue do campo cirúrgico é indiscriminada, está indicada a interposição do filtro entre os aspiradores e o oxigenador. Cânula Arterial A reentradade sangue arterial no paciente é um aspecto crítico em circulação extracorpórea, pois a quantidade máxima de sangue a ser infundida não é determinada pela capacidade da bomba arterial, mas pela estenose relativa existente no local da canulação; se essa estenose for excessiva, resultando em elevada velocidade do fluxo sanguíneo, podem ocorrer turbulência, dano aos elementos sanguíneos ou mesmo o fenômeno da cavitação. Para que o gradiente de pressão seja mantido em um valor seguro (o gradiente aceitável é menor do que 100 mmHg), a cânula selecionada deve ter um diâmetro apropriado em relação ao fluxo de sangue, conforme demonstrado no anexo 1. As cânulas arteriais são confeccionadas em metal, como aço inox, ou plástico, como o cloreto de polivinila. Quando a canulação é feita na aorta AN02FREV001/REV 4.0 213 ascendente, cânulas de PVC são satisfatórias, pois a espessura aumentada da parede da cânula não dificulta a manobra de canulação. Cânula Venosa As cânulas venosas são o local de maior estreitamento no sistema de drenagem de sangue do paciente ao oxigenador e podem representar importante fonte de resistência ao fluxo sanguíneo no sistema de circulação extracorpórea. A drenagem venosa pode ser assegurada por bomba ou por gravidade, sendo essa última o processo habitualmente utilizado pela simplicidade, menor risco e necessidade de menor volume de perfusato. Um retorno venoso adequado ao oxigenador pode ser assegurado por: Seleção de cânulas com diâmetro adequado; Elevação da mesa de cirurgia quando é empregada drenagem por gravidade; Modo do volume circulante pela adição de perfusato sempre que necessário; e Aumento do tônus venoso pelo uso de catecolaminas. Estas medidas usualmente concorrem para retorno venoso superior ao fluxo sanguíneo calculado, permitindo-se que o sangue se acumule no reservatório arterial ou oclui-se a pinça da linha do retorno venoso (o que pode determinar acúmulo de sangue no coração se torniquetes não são aplicados nas veias cavas canuladas). Para introdução de cânulas venosas (após canulação arterial do paciente), uma incisão simples é feita no centro da bolsa e a cânula introduzida. Pinçamento parcial do átrio pode ser utilizado para canulação, visando à redução da perda de sangue. A canulação das veias cavas é feita pela tração da parede com uma pinça, um corte longitudinal e introdução da cânula metálica angulada, iniciando-se pela veia cava superior. Por vezes, circulação extracorpórea pode ser estabelecida apenas com a cânula de veia cava superior posicionada, visando facilitar a introdução da cânula da veia cava inferior e evitar hipotensão secundária ao manuseio do coração. AN02FREV001/REV 4.0 214 Parada Cardioplégica Os melhores resultados na cirurgia cardíaca se devem em grande parte ao progresso feito na proteção do miocárdio. As interrupções circulatórias, isquemia e hipotermia que acompanham a parada cardíaca são necessárias para permitir que o cirurgião tenha tempo suficiente para fazer a correção das lesões cardíacas sob visão direta. A não ser que sejam tomadas medidas para proteger o miocárdio durante esses períodos, pode haver lesão irreversível. A proteção é feita resfriando o coração (e o restante do corpo) para reduzir as necessidades metabólicas e parando o coração rapidamente, de modo que os recursos energéticos miocárdicos sejam preservados. A rápida parada do coração durante a diástole é benéfica porque o coração parado usa menos energia do que o coração fibrilando ou batendo. A parada cardioplégica fria é obtida pela infusão das artérias coronárias com uma solução a 4º a 10ºC (39,2º a 50ºF) contendo potássio (2 a 50 mEq/l) e várias soluções-tampão para combater a acidose isquêmica. O uso de tampões para minimizar os efeitos da acidose durante a isquemia é fundamental na manutenção do metabolismo aeróbico, anaeróbico às bombas de sódio, potássio, cálcio e à integridade da membrana. É importante lembrar que quanto mais baixa for a temperatura, maior deverá ser o pH. Têm sido usados os mais diferentes tampões, como o bicarbonato de sódio, os tampões fosfato, o THAM, o imidazol, a histidina ou o próprio sangue. Deve-se selecionar o tampão que tiver o maior poder na temperatura desejada, embora o tampão mais fácil de ser conseguido em nosso meio seja o próprio bicarbonato de sódio, utilizado na concentração de 5 mEq/l de cardioplegia. A solução de cardioplegia é dada sob pressão à circulação coronária a intervalos frequentes para manter a parada hipotérmica. O potássio é usado rotineiramente como agente cardioplégico, ou agente paralisante, para causar parada cardíaca por despolarizar a membrana celular miocárdica. Quando o coração está suficientemente parado, o eletrocardiograma mostra uma linha reta; quando se observa uma atividade elétrica no monitor (fibrilação fina), a solução cardioplégica é reinfundida quando se deseja um resfriamento contínuo (aproximadamente a cada 15 a 20 minutos). Durante este período, é completada a correção cirúrgica. AN02FREV001/REV 4.0 215 5.7 COMPLICAÇÕES NO PÓS-OPERATÓRIO Os pacientes apresentam riscos de complicações pós-operatórias devido às doenças associadas ao tratamento e aos traumatismos cirúrgicos. Além disso, existe uma série de fatores agravantes desencadeados pelo desvio cardiopulmonar (quando presente), produzindo profundos efeitos fisiológicos. Tamponamento Cardíaco no Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca O derrame pericárdico ocorre comumente após cirurgias cardíacas, entretanto apenas alguns casos desenvolverão tamponamento cardíaco, sendo cruciais o diagnóstico e o tratamento precoces, pois ele se associa à alta morbidade e à alta mortalidade. A apresentação clínica pode ser de maneira insidiosa, com sintomas inespecíficos, incluindo mal-estar, fraqueza, dor torácica e anorexia. As manifestações do comprometimento cardíaco como dispneia, hipotensão, taquicardia, diaforese e hepatomegalia em geral aparecem tardiamente no curso clínico. Quando não diagnosticado e previamente tratado, evoluem rapidamente as manifestações clínicas de choque. Complicações Digestivas em Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca (hemorragia digestiva alta, complicações isquêmicas, complicações medicamentosas) Poucos trabalhos relatam as intercorrências digestivas no pós-operatório de cirurgia cardíaca; sabe-se, porém, que estas são acompanhadas de elevado índice de morbidade e mortalidade, uma vez que estes pacientes são portadores de múltiplas doenças. Além disso, muitas vezes os pacientes encontram-se impossibilitados de fornecer história clínica adequada e sinais de doença intestinal podem estar mascarados pelas drogas usadas e pela doença cardíaca. Estes pacientes recebem inúmeras terapias medicamentosas, que não somente podem desencadear as intercorrências digestivas, mas também dificultar AN02FREV001/REV 4.0 216 seu diagnóstico. A observação precoce dessas complicações, com pronta abordagem terapêutica específica, permitirá, sem dúvida, a redução dos índices desses agravantes. Apesar de pouco estudadas, as complicações digestivas ocorrem em torno de 2% no pós-operatório de Cirurgia Cardíaca, sendo a hemorragia digestiva alta a mais comum dentre elas. As ulcerações são responsáveis por cerca de 60% das hemorragias digestivas, tendo resolução espontânea em 80% dos casos, conferindo maior morbidade ao POI. As causas principais de hemorragias digestivas são varizes do esôfago ou do fundo gástrico, síndrome de Mallory-Weiss, úlcera do esôfago ou esofagite, gastrite erosiva, neoplasias de esôfago e estômago, úlceras isquêmicas e hipertensão portal. Na vigência do sangramento, além de suporte e reposição volêmica, uma das primeiras medidas de urgência seria o tamponamento com balão esofágico. A endoscopiadigestiva deverá ser realizada o mais rápido possível, não apenas pelo sentido de localizar o sangramento, mas, principalmente, pela sua ação terapêutica por meio de esclerose e/ou ligadura elástica da veia sangrante. Infecção em Pós- Operatório de Cirurgia Cardíaca A partir do momento em que o paciente entra em cirurgia cardíaca, com circulação extracorpórea ou não, uma série de eventos pode ocorrer. A síndrome de resposta inflamatória sistêmica é o mais importante deles, pois há a liberação de citocinas pelo músculo cardíaco e pulmões. Essas alterações sistêmicas muitas vezes podem ser confundidas com quadro séptico ou pulmão de choque. A febre, quando no pós-operatório, nem sempre é decorrente de quadro infeccioso, podendo ser atribuída à própria circulação extracorpórea. As principais complicações infecciosas que podem ocorrer são as do sítio cirúrgico, seguidas por pneumonia, sepse, infecções relacionadas a cateteres e infecções do trato urinário. Medidas preventivas devem ser instituídas pelas comissões de controle de infecção hospitalar e seguidas pela comunidade hospitalar com o objetivo de diminuir o risco de o paciente adquirir uma infecção pós- operatória. Deve-se também conhecer a flora bacteriana predominante no hospital, AN02FREV001/REV 4.0 217 conforme o tipo de infecção, com a finalidade de se introduzir corretamente a terapia empírica inicial. Sabe-se que, mesmo que as técnicas de assepsia, antissepsia e antibioticoprofilaxia sejam seguidas rigorosamente, a grande maioria das infecções pós-cirúrgicas é de origem endógena. A infecção em pós-operatório de maneira geral é um sério problema, pois pode aumentar o tempo de internação, majorando a letalidade, a mortalidade e os custos hospitalares. Dentre as infecções hospitalares, a infecção do sítio cirúrgico é a segunda causa mais frequente, sendo suplantada somente pela infecção urinária. Existem vários fatores que podem favorecer o aparecimento de infecção no sítio cirúrgico: fatores relacionados ao hospedeiro (obesidade, extremos de idade, duração do tempo de hospitalização pré-operatória, presença de infecção em outros sítios, índice de gravidade da doença) e fatores relacionados ao procedimento (má vascularização, má aproximação das bordas, presença de tecido necrótico, corpo estranho, tempo cirúrgico, além de outros problemas técnicos referentes ao ato cirúrgico). O Center for Diseases Control (1999) lançou algumas recomendações para a prevenção da infecção de sítio cirúrgico: tratar todas as infecções preexistentes antes da cirurgia; não realizar tricotomia pré-operatória, a não ser que os pelos atrapalhem a técnica cirúrgica; e utilizar antibioticoprofilaxia endovenosa durante todo o procedimento e algumas horas após. Outras infecções que podem acometer os pacientes em pós-operatório de cirurgia cardíaca são relacionadas aos procedimentos de terapia intensiva, principalmente quando o paciente permanece por um tempo maior na Unidade de Terapia Intensiva, em decorrência de complicações clínicas e/ou cirúrgica. Temos, nesses casos, pneumonias relacionadas à ventilação mecânica, infecções urinárias, infecções relacionadas a cateteres e sepse. AN02FREV001/REV 4.0 218 Avaliação Renal em Cirurgia Cardíaca Tanto os rins quanto o coração fazem parte do sistema circulatório, onde este é responsável pelo transporte de nutrientes e oxigênio aos tecidos e aquele é responsável pela remoção de substâncias produzidas pelo metabolismo celular. Os rins participam ativamente do controle da pressão arterial e sua função é regulada por diversos mecanismos intrínsecos e extrínsecos, que se alteram quando o paciente é submetido à cirurgia cardíaca, principalmente com circulação extracorpórea. É fundamental, portanto, que se efetue controle rigoroso da função renal do paciente operado, uma vez que causas pré, intra e pós-operatórias podem causar insuficiência renal, que se acompanha de maior risco cirúrgico. Frente à disfunção renal, deve-se agir prontamente, até com a instalação de diálise. A circulação extracorpórea, muito utilizada em cirurgia cardíaca, determina uma série de modificações fisiológicas. O contato do sangue com a superfície da membrana do filtro da circulação extracorpórea leva a uma resposta inflamatória generalizada, por meio de um sistema de cascata com a participação de uma série de enzimas proteolíticas, que promovem modificações hemodinâmicas importantes, podendo chegar até aos quadros graves de vasoplegia. Durante a circulação extracorpórea o fluxo sanguíneo renal diminui aproximadamente 25% a 75%, onde leva a uma redução da reserva funcional renal, que chega a demorar até seis meses para retornar ao normal após a cirurgia cardíaca. A disfunção renal em cirurgia cardíaca tem prevalência de aproximadamente 35% após circulação extracorpórea. Insuficiência renal aguda que necessita de suporte dialítico acontece em aproximadamente 1,5% dos pacientes submetidos a este procedimento. AN02FREV001/REV 4.0 219 Infecção Respiratória no Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca A insuficiência respiratória é definida como a incapacidade do sistema respiratório em manter as necessidades metabólicas do organismo, resultando em hipóxia e/ou hipercarbia. A insuficiência respiratória é uma complicação frequente, sendo a causa mais significativa de morbidade no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Interferem em sua instalação: condições do sistema respiratório prévias à cirurgia (pacientes portadores de pneumonia, em vigência de descompensação cardíaca, ou com doenças que interfiram no funcionamento respiratório ou em seu estado nutricional); fatores intraoperatórios, tendo importância particular a anestesia e a circulação extracorpórea; e fatores pós-operatórios, representados particularmente pela assistência ventilatória mecânica, com potencial para causar lesões pulmonares e torná-las críticas. Os cuidados iniciais com o paciente sob assistência ventilatória mecânica, a programação ventilatória adequada e o manejo apropriado das complicações tanto da disfunção ventilatória como cardiovascular são primordiais para a melhora do prognóstico ou, no mínimo, para se evitar a geração de lesões pulmonares adicionais. Os principais objetivos da abordagem terapêutica são, portanto, a correção do processo fisiopatológico, a atenuação dos efeitos da incapacidade temporária do sistema respiratório e a adequação do transporte periférico de oxigênio, além de evitar ou minimizar as possíveis complicações, como desnutrição, infecção e cronicidade do processo. AN02FREV001/REV 4.0 220 Arritmias no Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca As arritmias cardíacas são achados comuns no pós-operatório de cirurgias cardíacas, acometendo entre 20% e 40% dos pacientes. São causas de retardo na evolução clínica em decorrência dos distúrbios hemodinâmicos que acarretam. Taquicardias rápidas aumentam o consumo de oxigênio miocárdico e provocam baixo débito, cuja gravidade dependerá do grau de disfunção ventricular. A fibrilação atrial e a taquirritimia são mais comuns e suas consequências se dão por elevação da frequência cardíaca e os fenômenos tromboembólicos A falta de estudos prospectivos impede a instalação de uma conduta definitiva como tratamento. Ou faz-se a prevenção medicamentosa, ou a utilização de marca-passo para a estimulação atrial contínua. O risco de tromboembolismo deve ser considerado e a tendência atual é que os pacientes sejam anticoagulados quando a arritmia tem a duração igual ou maior que 48 horas. Infarto Agudo do Miocárdio no Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca O Infarto Agudo do Miocárdio no pós-operatório de revascularização do miocárdio é considerado de difícil diagnóstico, poisos sintomas como a dor torácica e a dispneia são comuns nesta população, limitando a avaliação clínica ou tornando- a impossível na maioria dos casos. A dor torácica que envolve as regiões, anterior do tórax e epigástrio é comum no pós-operatório decorrente da esternotomia mediana, drenos mediastinais e pleurais, e pericardite. A mobilização prolongada pode causar dor em região dorsal e cervical e a intubação ortraqueal pode causar dor em região mandibular. A dispneia pode ser decorrente da congestão venocapilar, secreções em vias aéreas superiores, atelectasias pulmonares, derrame pleural, pneumotórax e presença de drenos pleurais e mediastinais. A diaforese ocorre secundária à hipoglicemia, à hipóxia, à hipotensão arterial, à dor intensa e às náuseas e vômitos. AN02FREV001/REV 4.0 221 Nas primeiras horas após o término da cirurgia a avaliação clínica fica prejudicada pelos efeitos anestésicos, associado à dificuldade de comunicação pela entubação orotraqueal. As alterações clínicas mais comuns do infarto perioperatório são a instabilidade hemodinâmica e/ou a presença de arritmia ventricular grave. Na presença dessas alterações deve-se avaliar cuidadosamente o paciente para excluir esse diagnóstico. Alterações no Sistema Nervoso e Periférico As complicações que ocorrem no sistema nervoso central e periférico continuam presentes mesmo com os avanços tecnológicos nesta área. Com o aumento da média de idade dos pacientes, essas complicações tornam-se mais frequentes. As encefalopatias tóxicas e metabólicas são comuns, porém de controle clínico satisfatório na maioria das vezes. As alterações comportamentais agudas e crônicas estão amplamente demonstradas. O acidente vascular cerebral isquêmico é complicação de alta morbidade, sendo mais comum em cirurgias intracardíacas. As artérias aorta e carótida também têm papel importante na causa do acidente vascular cerebral. O acidente vascular cerebral hemorrágico é menos frequente. O diagnóstico e tratamento são específicos para cada tipo. A encefalopatia anóxia pode levar ao coma transitório, com recuperação ou estado vegetativo permanente. As convulsões podem ter manifestações isoladas ou associadas a outras complicações. As lesões do sistema nervoso mais comuns são as do plexo braquial. Vasoplegia em Cirurgia Cardíaca A vasoplegia é uma antiga causa de instabilidade hemodinâmica em cirurgia cardíaca. Estatísticas baseadas na estratificação de risco utilizando marcadores da inflamação evidenciam incidência precoce de 2% a 10% associadas à maior AN02FREV001/REV 4.0 222 morbidade e maior mortalidade. A situação de instabilidade hemodinâmica após cirurgias cardíacas tem sido descrita como síndrome pós-perfusional, síndrome vasoplégica e síndrome de baixa resistência vascular periférica, todas podendo ser enquadradas na terminologia geral de síndrome da resposta inflamatória sistêmica. Essa situação vem sendo responsável por mortes em cirurgia cardíaca, muitas vezes em casos cuja indicação cirúrgica não está associada a grandes riscos, o que acarreta uma situação extremamente dramática. Ela é desencadeada, em parte, pela circulação extracorpórea e contribui fortemente para a morbidade, por exemplo, depressão do miocárdio, e com a mortalidade em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca. Parada Cardíaca no Pós-Operatório de Cirurgia Cardíaca A parada cardíaca caracteriza-se pela ausência da atividade mecânica miocárdica eficaz e, em qualquer ocasião, representa um acontecimento grave e potencialmente fatal, com riscos de sequelas futuras, principalmente neurológicas. Durante o pós-operatório da cirurgia cardíaca, esta se torna ainda mais grave, pois apresenta aspectos particulares, sendo este um coração com sofrimento miocárdico previamente estabelecido. A melhor forma de tratamento da parada cardíaca é o reconhecimento precoce e a correção desses fatores desencadeantes. Uma vez instalada, a parada cardíaca exige abordagem rápida, coordenada e eficaz, fatores de fundamental importância para a obtenção do sucesso em sua reversão e para minimizar a ocorrência de sequelas. 5.8 TRANSPLANTE CARDÍACO O transplante de órgãos permite que indivíduos seriamente incapacitados ou com a vida em risco possam conduzi-la de forma mais funcional e confortável. O rim foi o primeiro órgão a ser transplantado com sucesso em humanos e hoje são AN02FREV001/REV 4.0 223 transplantados também fígado, pâncreas, pulmões, coração, intestinos, medula óssea, ossos, córnea, pele, veias safenas e válvulas do coração. Transplante cardíaco é a colocação de um coração saudável de doador humano em uma pessoa cujo órgão está gravemente comprometido. Indica-se o transplante quando falência cardíaca congestiva ou grave dano ao músculo cardíaco não podem ser tratados por outro meio clínico ou cirúrgico. Reserva-se o procedimento àqueles indivíduos com alto risco de falecer de doença cardíaca em menos de um ou dois anos. A maioria dos pacientes que recebe um transplante de coração teve uma das duas condições a seguir: lesão irreversível no coração causada por doenças das artérias coronárias com múltiplos ataques cardíacos; ou miocardiopatias, isto é, doença do músculo cardíaco. Nessa última situação o coração não se contrai normalmente em razão de lesões nas células musculares resultantes de infecções bacterianas ou virais, ou ainda por fatores hereditários. Indicações do Transplante A indicação principal do transplante cardíaco é a insuficiência cardíaca irreversível, com importante dispneia e fadiga extrema, resistente a tratamentos clínicos. O ventrículo esquerdo apresenta-se muito debilitado e a fração de ejeção (proporção de sangue que sai do coração) é frequentemente inferior a 25%. O débito cardíaco está igualmente diminuído, com aumento da pressão pulmonar. O método mais sensível de avaliação da insuficiência cardíaca é a medida das trocas gasosas após esforço e em particular a medida do volume de oxigênio (VO² max). Uma VO² max inferior a 14 ml/min/Kg é indicação obrigatória de transplante cardíaco. Esses são alguns dos mecanismos da grave insuficiência cardíaca: o coração pode estar dilatado (caso das cardiopatias dilatadas primárias ou secundárias a um infarto do miocárdio); o coração pode estar hipertrofiado (paredes muito aumentadas) e não consegue receber quantidade suficiente de sangue; ou o coração pode ainda apresentar doenças específicas do músculo cardíaco, como as miocardites, que são inflamações devidas a um agente infeccioso. Em certos casos, cardiopatias congênitas também exigem transplante cardíaco. AN02FREV001/REV 4.0 224 As principais contraindicações para o transplante são as seguintes: - hipertensão pulmonar com resistência pulmonar elevada; - curta esperança de vida; - câncer em evolução; - infecções graves; - flebites e embolia pulmonar repetidas; - toxicomania; - aterosclerose; - diabetes insulinodependente, com frequentes complicações; - insuficiência hepática; - insuficiência renal avançada; - distúrbios psíquicos, instabilidade psicossocial; - úlcera digestiva não controlada; - soropositividade para HIV; - osteoporose severa; - obesidade severa; - doença imunológica com possível agressão ao coração. A contraindicação mais importante é a existência de hipertensão da circulação pulmonar, traduzida pela elevação da resistência pulmonar. No caso de lesão pulmonar, torna-se então necessário um transplante coração-pulmão. A Técnica de Transplante Um transplante cardíaco exige duas equipes cirúrgicas envolvidas: uma para retirar o coração do doador e a outra para implantá-lo no receptor. Uma equipe coordena as diferentes intervenções e assegura que o coração do doador é compatível com o receptor.
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