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AN02FREV001/REV 4.0 136 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE ENFERMAGEM EM CARDIOLOGIA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 137 CURSO DE ENFERMAGEM EM CARDIOLOGIA MÓDULO III Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 138 MÓDULO III 4 DOENÇAS CARDÍACAS II 4.1 ENDOCARDITES Endocardite é o nome dado às afecções, infecciosas ou não, do endocárdio. A maioria das endocardites tem uma origem infecciosa e os micro-organismos mais frequentemente causadores dessa doença são: bactérias, fungos, microbactérias, riquetsias, clamídias, micoplasmas. Os agentes mais comuns são: estreptococos, estafilococos, enterococos, alguns germes gram-negativos. Também existem reações inflamatórias do endocárdio provocadas por doenças autoimunes, nas quais não encontramos um agente infeccioso na reação inflamatória do endocárdio. A endocardite localiza-se preferencialmente nas válvulas do coração, mas pode ser encontrada em qualquer parte do endocárdio, podendo ser classificada em aguda e subaguda. A aguda se caracteriza pela intensa toxicidade e rápida progressão, podendo evoluir em dias para a morte. Costuma provocar infecções a distância, como no cérebro, rins, pulmões, fígado, olhos. O agente etiológico mais comum é o estafilococos aureus. Já a subaguda tem a evolução mais lenta, persistindo por meses e, na maioria dos casos, é causada por Estreptococos viridans, enterococos, estafilococos coagulase negativos ou bacilos gram-negativos. A endocardite pode atingir as pessoas em qualquer idade e os sintomas e sinais principais são: febre de longa duração, suores noturnos persistentes, astenia, baço aumentado de volume, alterações cardíacas, como o agravamento súbito de uma doença cardíaca previamente existente. AN02FREV001/REV 4.0 139 O que favorece o aparecimento de endocardites As pessoas portadoras de lesões valvulares do coração, congênitas ou adquiridas são as mais propensas a apresentarem a doença. Contudo, a endocardite também ocorre em pessoas que não tenham lesões cardíacas. Surge principalmente depois de procedimentos invasivos, em que há a incursão do organismo, como cirurgias, extrações dentárias, colocação de sondas, manipulação de abscessos (espinhas ou furúnculos). Em alguns grupos, a metade dos casos encontrados de endocardite é em pessoas que fizeram ou fazem uso de drogas injetáveis. Outro grupo de pessoas seguidamente acometido de endocardite encontra-se entre os que foram submetidos à cirurgia cardíaca. Há trabalhos que relatam que até 30% das válvulas artificiais implantadas nos corações são atingidas por infecção. Diagnóstico O diagnóstico de endocardite é feito principalmente quando existe um alto índice de suspeita do médico naqueles pacientes que tenham febres prolongadas e sem outro diagnóstico que explique a elevação da temperatura. A história de procedimentos cirúrgicos, dentários e uso de drogas aumenta a suspeita. Para um diagnóstico de endocardite, o médico se vale de um bom exame clínico do sistema cardiovascular, no qual se destacam o surgimento ou a alteração em sopros anteriormente existentes, o aumento do baço, alterações ecocardiográficas e culturas do sangue. Atualmente, um dos exames que mais auxilia para o diagnóstico de endocardite é a ecografia transesofágica. Em um grande número de casos não se consegue obter uma cultura positiva do sangue para identificar o agente causador da endocardite. Nos melhores laboratórios, que tenham acesso às técnicas mais apuradas, em cerca de 70 a 80% dos casos em que se colhe o sangue dos pacientes se consegue obter culturas positivas que identifiquem o agente etiológico. Uma das razões para a falta de identificação está no fato da maioria dos pacientes AN02FREV001/REV 4.0 140 estarem recebendo antibióticos administrados às cegas, isto é, sem ter um diagnóstico etiológico confirmado. Tratamento O tratamento é feito com antibióticos em doses generosas e durante um tempo prolongado, em média 30 dias. Alguns pacientes, uma vez curada a infecção do coração, havendo alterações severas de válvulas, devem ser submetidos à troca cirúrgica dessa válvula. Denomina-se de endocardite hospitalar aquela que ocorre em pessoas tratadas em hospital, que não foram submetidas a procedimentos sobre o coração, e que tendo ou não uma lesão cardíaca ou uma válvula artificial, a desenvolve devido ao uso de agulhas ou cateteres infectados, instrumentação ou cirurgia de vias urinárias ou digestivas. Micro-organismos mais frequentemente envolvidos na endocardite Estreptococcus viridans De 30 a 65% dos casos de endocardite não relacionados ao uso de drogas ilícitas são causados por esse agente. Ele é um habitante normal das nossas vias aéreas e orofaringe. Essa infecção é muito encontrada em portadores de lesões valvulares que foram submetidos a tratamentos dentários nos dias precedentes à descoberta de endocardite. Estreptococcus bovis (e outros) É geralmente um habitante normal do trato digestivo, estando envolvido em aproximadamente 27% dos casos de endocardite. É mais frequente em pacientes portadores de câncer ou pólipos intestinais. AN02FREV001/REV 4.0 141 Estreptococcus pneumoniae Embora esse germe seja muito encontrado no sangue dos portadores de infecções causadas por ele, só em 1 a 3% ele atinge o coração. Ocorre em alcoolistas e costuma estar associado à meningite e pneumonia. Enterococcus Em 85% dos casos de endocardite provocada pelos enterococos os responsáveis são e E. faecalis ou o E. faecium. São habitantes normais do trato digestivo e urinário e os casos de endocardite por eles causados costumam ser em pessoas jovens, principalmente em mulheres e homens idosos, como consequência da manipulações do trato genitourinário. Estafilococos O E. aureus dos coagulase positivos e o E. epidermidis entre os coagulase negativos são os mais encontrados em casos de endocardite provocados pelo uso de sondas, drenos e próteses de uso hospitalar. Fungos Os fungos podem estar envolvidos em casos de endocardite, bacteriana ou não, que se caracterizam por lesões vegetantes de proporções maiores, causando embolias. São particularmente encontrados em pacientes que tiveram válvulas cardíacas trocadas e em usuários de drogas ilícitas injetáveis. Endocardite não bacteriana trombótica Pode surgir em pacientes que tenham sofrido uma lesão no endocárdio e em portadores de doenças que se acompanham de hipercoagulabilidade do sangue. É mais encontrada em pessoas idosas, em portadores de doenças malignas, lesões de válvulas, portadores de lupus eritematoso sistêmico e em pacientes que tiveram cateteres implantados em procedimentos hospitalares. AN02FREV001/REV 4.0 142 Esse tipo de endocardite chega a ser detectado em 1,3% das necropsias. Sintomas e sinais Sintomas de endocardite, mais frequentes: Calafrios - 40 a 70%; Suores, principalmente noturnos - 25%; Emagrecimento - 25 a 35%; Falta de ar - 20 a 40%; Tosse - 25%; Confusão mental - 10 a 20%; Dores diversas - 5 a 35%. Sinais de endocardite, os mais frequentes: Febre - 80 a 90%; Sopro no coração - 80 a 85%; Mudanças dos sopros cardíacos - 10 a 40%; Agravamento súbito de doençacardíaca preexistente - 30%; Alterações neurológicas - 30 a 40%; Embolias arteriais ou pulmonares - 20 a 40%; Aumento do baço - 15 a 50%; Manifestações periféricas - 5 a 40% (em pele, unhas, fundo do olho). AN02FREV001/REV 4.0 143 4.2 MIOCARDIOPATIAS A miocardiopatia é um distúrbio progressivo que altera a estrutura ou compromete a função da parede muscular das câmaras inferiores do coração (ventrículos). Pode ser causada por muitas doenças conhecidas ou pode não ter uma causa identificável. 4.2.1 Miocardiopatia Congestiva Dilatada O termo miocardiopatia congestiva dilatada refere-se a um grupo de distúrbios cardíacos nos quais os ventrículos dilatam, mas são incapazes de bombear um volume de sangue suficiente que supra as demandas do organismo e acarretam a insuficiência cardíaca. Nos Estados Unidos, a causa identificável mais comum da miocardiopatia congestiva dilatada é a doença arterial coronariana disseminada. Essa doença arterial coronariana acarreta uma irrigação sanguínea inadequada ao miocárdio, a qual pode levar a uma lesão permanente. Como consequência, a parte do miocárdio não lesada sofre um espessamento para compensar a perda da função de bomba. Quando esse espessamento não compensa adequadamente, ocorre a miocardiopatia congestiva dilatada. Uma inflamação aguda do miocárdio (miocardite) por uma infecção viral pode enfraquecer esse músculo e causar miocardiopatia congestiva dilatada (às vezes denominada miocardiopatia viral). Nos Estados Unidos, a infecção pelo coxsa- ckievírus B é a causa mais comum de miocardiopatia viral. Alguns distúrbios hormonais crônicos, como o diabetes e os distúrbios tireoideanos, podem produzir a miocardiopatia congestiva dilatada. O problema também pode ser causado por drogas, como o álcool e a cocaína, e por medicamentos, como os antidepressivos. A miocardiopatia alcoólica pode ocorrer após aproximadamente dez anos de consumo intenso de álcool. Raramente AN02FREV001/REV 4.0 144 gravidez ou doenças do tecido conjuntivo, como a artrite reumatoide, podem causar a miocardiopatia congestiva dilatada. Sintomas e diagnóstico Os primeiros sintomas usuais da miocardiopatia congestiva dilatada – dificuldade respiratória durante os exercícios e cansaço fácil – são decorrentes do enfraquecimento da função de bomba do coração (insuficiência cardíaca). Quando a miocardiopatia é proveniente de uma infecção, os primeiros sintomas podem ser uma febre súbita e sinais similares aos do resfriado. Qualquer que seja a causa, a frequência cardíaca aumenta, a pressão arterial é normal ou baixa, ocorre retenção de líquido nos membros inferiores e no abdômen e os pulmões apresentam congestão líquida. A dilatação do coração faz com que as válvulas cardíacas abram e fechem inadequadamente e aquelas que permitem a passagem do sangue aos ventrículos (as válvulas mitral e tricúspide), frequentemente, apresentam insuficiência. Um fechamento valvular inadequado produz sopro, o qual pode ser auscultado pelo médico com o auxílio de um estetoscópio. A lesão miocárdica e a dilatação podem aumentar ou diminuir anormalmente o ritmo cardíaco. Essas anormalidades interferem ainda mais na função de bomba do coração. O diagnóstico é baseado nos sintomas e no exame físico. A eletrocardiografia (procedimento que examina a atividade elétrica do coração) pode revelar alterações características. A ecocardiografia (exame que utiliza ondas ultrassônicas para gerar uma imagem das estruturas cardíacas) e a ressonância magnética (RM) podem ser utilizadas para a confirmação do diagnóstico. Se o diagnóstico permanecer duvidoso, um cateter destinado a mensurar a pressão é inserido no coração para uma avaliação mais precisa. Durante a cateterização, uma amostra de tecido pode ser removida para ser submetida a um exame microscópico (biópsia), para confirmar o diagnóstico e, frequentemente, para detectar a causa. AN02FREV001/REV 4.0 145 Prognóstico e tratamento Cerca de 70% das pessoas com miocardiopatia congestiva dilatada morre nos cinco anos subsequentes ao início dos sintomas e o prognóstico piora logo que as paredes cardíacas tornam-se mais delgadas e a função cardíaca diminui. As anomalias do ritmo cardíaco também indicam um prognóstico ruim. Em geral, a sobrevida dos homens equivale apenas à metade do tempo de sobrevida das mulheres e a sobrevida dos indivíduos da etnia negra equivale à metade do tempo de sobrevida dos brancos. Aproximadamente 50% das mortes são súbitas, provavelmente em razão de uma arritmia cardíaca. O tratamento das causas subjacentes específicas, como o consumo abusivo de álcool ou uma infecção, pode prolongar a vida do paciente. Se o uso abusivo de bebidas alcoólicas for a causa, o paciente deve abster-se da ingestão alcoólica. Se uma infecção bacteriana produzir uma inflamação aguda do miocárdio, essa deve ser tratada com antibiótico. No indivíduo com doença arterial coronariana, a irrigação sanguínea deficiente pode provocar angina (dor torácica causada por uma cardiopatia), impondo a necessidade de um tratamento com um nitrato, um betabloqueador ou um bloqueador dos canais de cálcio. Os betabloqueadores e os bloqueadores dos canais de cálcio podem reduzir a força das contrações cardíacas. Medidas que auxiliam a reduzir a tensão sobre o coração incluem o repouso e o sono suficientes e a redução do estresse. O acúmulo de sangue no coração dilatado pode acarretar a formação de coágulos nas paredes das câmaras cardíacas. Para prevenir a sua ocorrência, geralmente são utilizadas drogas anticoagulantes. Quase todas as drogas utilizadas na prevenção de arritmias cardíacas são prescritas em doses pequenas e essas são ajustadas por pequenos aumentos, pois esses agentes podem reduzir a força das contrações cardíacas. A insuficiência cardíaca também é tratada com drogas como, por exemplo, um inibidor da enzima conversora da angiotensina e, frequentemente, um diurético. No entanto, a menos que a causa da miocardiopatia congestiva dilatada possa ser tratada, é provável que a insuficiência cardíaca acarrete a morte do paciente. Devido a esse prognóstico AN02FREV001/REV 4.0 146 sombrio, a miocardiopatia congestiva dilatada é a indicação mais comum para a realização de um transplante cardíaco. 4.2.2 Miocardiopatia Hipertrófica A miocardiopatia hipertrófica é um grupo de distúrbios cardíacos caracterizados pelo espessamento das paredes ventriculares. A miocardiopatia hipertrófica pode ser um defeito congênito. Ela também pode ocorrer em adultos com acromegalia, um distúrbio resultante do excesso de hormônio do crescimento no sangue, ou em portadores de feocromocitoma, um tumor que produz adrenalina. Indivíduos com neurofibromatose, um distúrbio hereditário, também podem apresentar miocardiopatia hipertrófica. Geralmente, qualquer espessamento das paredes musculares do coração representa a reação muscular a um aumento da carga de trabalho. As causas típicas são a hipertensão arterial, o estreitamento da válvula aórtica (estenose aórtica) e outros distúrbios que aumentam a resistência à saída do coração. No entanto, os indivíduos com miocardiopatia hipertrófica não apresentam essas condições. Por outro lado, o espessamento produzido nos casos de miocardiopatia hipertrófica geralmente é resultante de um defeito genético hereditário. O coração aumenta de espessura e torna-se mais rígido do que o normal e apresenta uma maior resistência à entrada de sangue proveniente dos pulmões. Uma das consequências é a pressão retrógrada nas veias pulmonares, a qual pode acarretar acúmulo de líquido nos pulmões e, consequentemente, uma dificuldade respiratória crônica. Além disso, à medida que as paredes ventriculares aumentam de espessura, elas podem bloquear o fluxosanguíneo, impedindo o enchimento adequado do coração. AN02FREV001/REV 4.0 147 Sintomas e diagnóstico Os sintomas incluem desmaio, dor torácica, palpitações produzidas pelas arritmias cardíacas e insuficiência cardíaca acompanhada de dificuldade respiratória. Em decorrência dos batimentos cardíacos irregulares, pode ocorrer a morte súbita. Geralmente o médico consegue diagnosticar a miocardiopatia hipertrófica por meio do exame físico. Por exemplo, os sons cardíacos auscultados por um estetoscópio costumam ser característicos. Em regra, o diagnóstico é confirmado por um ecocardiograma, eletrocardiograma (ECG) ou por radiografia torácica. No caso do médico aventar a possibilidade de uma cirurgia, pode haver necessidade de realizar um cateterismo cardíaco para a mensuração das pressões no interior do coração. Prognóstico e Tratamento Anualmente, cerca de 4% das pessoas com miocardiopatia hipertrófica morrem. Geralmente a morte é súbita. A morte por insuficiência cardíaca crônica é menos comum. Pode ser necessário o aconselhamento genético para os indivíduos que apresentam esse distúrbio de natureza congênita e que desejam ter filhos. O tratamento tem como objetivo principal a redução da resistência cardíaca à entrada de sangue entre os batimentos cardíacos. Administrados de forma isolada ou simultânea, os betabloqueadores e os bloqueadores dos canais de cálcio representam o principal tratamento. A cirurgia de remoção de parte do miocárdio melhora o refluxo do sangue do coração, mas essa operação é realizada apenas em indivíduos cujos sintomas são incapacitantes apesar da terapia medicamentosa. A cirurgia pode reduzir os sintomas, mas não diminui o risco de vida. Antes de qualquer tipo de tratamento odontológico ou qualquer procedimento cirúrgico devem ser administrados antibióticos para reduzir o risco de infecção do revestimento interno do coração (endocardite infecciosa). AN02FREV001/REV 4.0 148 4.2.3 Miocardiopatia Restritiva A miocardiopatia restritiva é um grupo de distúrbios do miocárdio nos quais as paredes ventriculares enrijecem, mas não necessariamente apresentam espessamento, produzindo uma resistência ao enchimento normal com sangue entre os batimentos cardíacos. Sendo a forma menos comum de miocardiopatia, a miocardiopatia restritiva apresenta muitas características da miocardiopatia hipertrófica. Comumente, a sua causa é desconhecida. Em um de seus dois tipos básicos, o miocárdio é substituído gradualmente por tecido cicatricial. No outro tipo, ocorre infiltração de um material anormal no miocárdio como, por exemplo, glóbulos brancos (leucócitos). Outras causas de infiltração são a amiloidose e a sarcoidose. Quando o organismo possui uma quantidade excessiva de ferro, esse metal pode acumular-se no miocárdio, como ocorre na hemocromatose (sobrecarga de ferro nos tecidos). A causa também pode ser um tumor que invade o tecido cardíaco, porque a resistência cardíaca ao enchimento com sangue e a quantidade de sangue bombeada para fora é adequada quando o indivíduo encontra-se em repouso, mas não quando ele está exercitando-se. Sintomas e diagnóstico A miocardiopatia restritiva causa insuficiência cardíaca acompanhada de dificuldade respiratória. O diagnóstico baseia-se, em grande parte, no exame físico, no eletrocardiograma (ECG) e no ecocardiograma. A ressonância magnética (RM) pode fornecer informações adicionais sobre a estrutura do coração. Geralmente, um diagnóstico preciso exige um cateterismo cardíaco, para a mensuração das pressões, e de uma biópsia do miocárdio (remoção e exame microscópico de uma amostra), a qual pode permitir a identificação da substância infiltrada. AN02FREV001/REV 4.0 149 Prognóstico e tratamento Cerca de 70% dos indivíduos com miocardiopatia restritiva morrem nos cinco anos que sucedem o início dos sintomas. Para a maioria das pessoas com esse distúrbio não existe uma terapia satisfatória. Por exemplo, os diuréticos, que normalmente são utilizados no tratamento da insuficiência cardíaca, podem reduzir o volume sanguíneo que chega ao coração, agravando o problema em vez de melhorá-lo. As drogas normalmente utilizadas em casos de insuficiência cardíaca que visam reduzir a carga de trabalho do coração, em geral, não ajudam, pois elas podem produzir uma redução excessiva da pressão arterial. Algumas vezes, a causa da miocardiopatia restritiva pode ser tratada para prevenir a piora da lesão cardíaca ou mesmo para reverter o quadro. Por exemplo, nos casos de sobrecarga de ferro, a remoção de sangue em intervalos regulares reduz a quantidade de ferro armazenado. Os indivíduos com sarcoidose podem utilizar corticosteroides. 4.3 VALVULOPATIAS O coração possui quatro câmaras: duas superiores e de pequenas dimensões (os átrios), e duas inferiores e maiores (os ventrículos). Cada ventrículo possui uma válvula de entrada e uma válvula de saída, ambas unidirecionais. A válvula tricúspide abre-se do átrio direito para o ventrículo direito e a válvula pulmonar abre-se do ventrículo direito para as artérias pulmonares. A válvula mitral abre-se do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo e a válvula aórtica abre-se do ventrículo esquerdo para a aorta. As válvulas cardíacas podem apresentar um funcionamento deficiente, permitindo um vazamento (insuficiência valvular) ou uma abertura não adequada (estenose valvular). Qualquer um desses problemas pode interferir gravemente na AN02FREV001/REV 4.0 150 capacidade de bombeamento de sangue do coração. Algumas vezes, uma válvula apresenta os dois problemas simultaneamente. Estenose e a Regurgitação (Insuficiência) As válvulas cardíacas podem funcionar mal, seja não abrindo adequadamente (estenose) seja permitindo o vazamento do sangue (regurgitação). Estas ilustrações apresentam os dois problemas na válvula mitral, embora eles também possam ocorrer nas demais válvulas cardíacas. FIGURA 29 FONTE: Disponível em: <li http://mmspf.msdonline.com.br/pacientes/manual_merck/secao_03/images/cap19_fig1.gif>. Acesso em: 21 mar. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 151 4.3.1 Insuficiência Mitral A insuficiência mitral (incompetência mitral, regurgitação mitral) consiste no fluxo retrógrado de sangue através dessa válvula ao átrio esquerdo cada vez que o ventrículo esquerdo se contrai. Quando o ventrículo esquerdo bombeia o sangue para fora do coração e para o interior da aorta, ocorre um fluxo retrógrado de certa quantidade de sangue ao átrio esquerdo, aumentando o volume e a pressão nessa câmara. Por sua vez, isso aumenta a pressão no interior dos vasos que levam o sangue dos pulmões ao coração, resultando em um acúmulo de líquido (congestão) no interior dos pulmões. A doença reumática costumava ser a causa mais comum de insuficiência mitral. Atualmente, ela é rara nos países que contam com uma medicina preventiva de boa qualidade. Na América do Norte e na Europa Ocidental, por exemplo, o uso de antibióticos contra a infecção de garganta por estreptococos impede, na maioria dos casos, a ocorrência da moléstia reumática. Nessas regiões, a insuficiência mitral causada pela moléstia reumática é comum apenas em pessoas idosas que não foram beneficiadas pelos antibióticos durante a juventude. Entretanto, nos países onde a medicina preventiva é de má qualidade, a moléstia reumática ainda está presente, sendo uma causa comum de insuficiência mitral. Na América do Norte e na Europa Ocidental, uma causa mais comum de insuficiência mitral é o infarto do miocárdio, o qual pode lesar as estruturas de sustentação da válvula mitral. Outra causa é a degeneração mixomatosa, um distúrbio no qual a válvula torna-se gradativamente mais flácida. SintomasUma insuficiência mitral leve pode não produzir qualquer sintoma. O problema, às vezes, é identificado apenas quando o médico, auscultando o paciente AN02FREV001/REV 4.0 152 com um estetoscópio, ouve um sopro cardíaco característico resultante do fluxo retrógrado do sangue que retorna ao átrio esquerdo após a contração do ventrículo esquerdo. Pelo fato de ser obrigado a bombear mais sangue para compensar o fluxo retrógrado de sangue ao átrio esquerdo, ocorre um aumento progressivo do ventrículo esquerdo para aumentar a força de cada batimento cardíaco. O ventrículo dilatado pode produzir palpitações (percepção de batimentos cardíacos vigorosos), particularmente quando a pessoa encontra-se em decúbito lateral esquerdo. O átrio esquerdo também tende a dilatar para acomodar o sangue adicional que retorna do ventrículo. Geralmente, um átrio muito dilatado bate rapidamente e com um padrão desorganizado e irregular (fibrilação atrial), o qual reduz a eficácia do bombeamento do coração. Na realidade, o átrio em fibrilação não bombeia, apenas tremula, e a ausência de um fluxo sanguíneo adequado permite a formação de coágulos. Se um desses coágulos se soltar, será bombeado para fora do coração e poderá obstruir uma artéria de menor calibre e pode provocar um acidente vascular cerebral ou outra lesão. A insuficiência grave reduz o fluxo sanguíneo anterógrado o suficiente para provocar uma insuficiência cardíaca, a qual pode produzir tosse, dificuldade respiratória durante o exercício ou esforço e edema nos membros inferiores. Diagnóstico Em geral pode-se diagnosticar uma insuficiência mitral através do sopro característico – um som auscultado por um estetoscópio quando o ventrículo esquerdo se contrai. O eletrocardiograma (ECG) e radiografias torácicas revelam se o ventrículo esquerdo encontra-se aumentado. O exame que fornece mais informações é a ecocardiografia, uma técnica de diagnóstico por imagem que utiliza ondas ultrassônicas. Esse exame pode gerar uma imagem de uma válvula defeituosa, indicando a gravidade do problema. Tratamento Se a insuficiência for grave, a válvula deverá ser reparada ou substituída antes que a anormalidade do ventrículo esquerdo torne-se muito importante e não possa ser corrigida. A cirurgia pode ter como objetivo a reparação da válvula AN02FREV001/REV 4.0 153 (valvuloplastia) ou a sua substituição por uma válvula mecânica ou por uma válvula feita parcialmente com uma válvula de porco. A reparação valvular elimina ou diminui a insuficiência o suficiente para que os sintomas se tornem toleráveis e não ocorra lesão cardíaca. Cada tipo de válvula substituta apresenta vantagens e desvantagens. Apesar de normalmente serem eficazes, as válvulas mecânicas aumentam o risco de formação de coágulos sanguíneos, obrigando o paciente a tomar anticoagulantes por um período indeterminado para que haja menor risco. As válvulas de porco funcionam bem e não acarretam o risco de formação de coágulos, mas a sua duração é menor do que a das válvulas mecânicas. Se uma válvula substituta apresentar defeito, ela deve ser imediatamente substituída. A fibrilação atrial também pode exigir tratamento medicamentoso. Drogas como os betabloqueadores, a digoxina e o verapamil podem reduzir a frequência cardíaca e ajudar no controle da fibrilação. As superfícies das válvulas cardíacas lesadas podem ser locais de graves infecções (endocardite infecciosa). Qualquer pessoa que apresente uma lesão valvular ou uma válvula artificial deve tomar antibióticos antes de ser submetida a tratamento odontológico ou procedimento cirúrgico, para evitar a ocorrência de processos infecciosos. 4.3.2 Prolapso da Válvula Mitral No prolapso da válvula mitral ocorre uma protrusão dos folhetos da válvula para o interior do átrio esquerdo durante a contração ventricular, a qual, algumas vezes, permite o fluxo retrógrado de pequenas quantidades de sangue para o átrio. Cerca de 2 a 5% da população apresentam prolapso da válvula mitral. Raramente, essa anomalia produz problemas cardíacos graves. AN02FREV001/REV 4.0 154 FIGURA 30 FONTE: Disponível em: < http://www.umm.edu/graphics/images/es/18148.jpg >. Acesso em: 21 mar. 2012. Sintomas e Diagnóstico A maioria dos indivíduos com prolapso da válvula mitral não apresenta sintomas. No entanto, alguns deles apresentam sintomas que são difíceis de serem explicados baseando-se apenas no problema mecânico. Esses sintomas incluem a dor torácica, palpitações, enxaqueca, fadiga e tontura. Em alguns indivíduos, a pressão arterial cai abaixo do normal quando eles assumem a posição ortostática e, em outros, batimentos cardíacos discretamente irregulares produzem palpitações (percepção dos batimentos cardíacos). Diagnostica-se o distúrbio através da ausculta de um som característico (“clique”) por meio do estetoscópio. A insuficiência é diagnosticada através da ausculta de um sopro durante a contração ventricular. A ecocardiografia, uma técnica de diagnóstico por imagens que utiliza ultrassom, permite a visualização do prolapso e a determinação da gravidade de qualquer insuficiência. AN02FREV001/REV 4.0 155 Tratamento A maioria dos indivíduos que apresenta prolapso da válvula mitral não necessita de tratamento. Se o coração bater em uma frequência excessivamente rápida, o paciente pode utilizar um betabloqueador para diminuir a frequência cardíaca, as palpitações e outros sintomas. Caso o indivíduo apresente insuficiência, ele deve tomar antibióticos antes de procedimentos cirúrgicos ou odontológicos devido ao pequeno risco de infecção valvular decorrente das bactérias liberadas durante os mesmos. 4.3.3. Estenose Mitral A estenose mitral é o estreitamento da abertura dessa válvula que aumenta a resistência ao fluxo sanguíneo do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo. Quase sempre a estenose mitral é resultante da moléstia reumática, afecção que atualmente é rara na América do Norte e na Europa Ocidental. Por essa razão, nessas partes do mundo a estenose mitral ocorre principalmente em pessoas idosas que apresentaram moléstia reumática durante a infância. No resto do mundo a moléstia reumática é comum, levando à estenose mitral em adultos, adolescentes e mesmo em crianças. Em geral, quando a moléstia reumática é a causa da estenose, os folhetos da válvula mitral tornam-se parcialmente fundidos. A estenose mitral também pode ser congênita. Lactentes que nascem com esse distúrbio raramente sobrevivem além dos dois anos de idade, exceto quando submetidos a uma cirurgia. Um mixoma (tumor não maligno localizado no átrio esquerdo) ou um coágulo sanguíneo podem obstruir o fluxo sanguíneo através da válvula mitral, produzindo o mesmo efeito que a estenose. AN02FREV001/REV 4.0 156 Sintomas e Diagnóstico Se a estenose for grave, a pressão arterial aumenta no átrio esquerdo e nas veias pulmonares, acarretando insuficiência cardíaca com acúmulo de líquido nos pulmões (edema pulmonar). Se uma mulher com estenose mitral grave engravidar pode ocorrer uma instalação rápida da insuficiência cardíaca. O indivíduo com insuficiência cardíaca apresenta cansaço fácil e dificuldade respiratória. Inicialmente ele pode mostrar dificuldade respiratória somente durante a atividade física. Posteriormente, os sintomas podem ocorrer mesmo durante o repouso. Alguns indivíduos respiram confortavelmente somente se ficarem recostados sobre travesseiros ou sentados eretos. Um rubor cor de ameixa nas regiões das bochechas é sugestivo de estenose mitral. A pressão elevada das veias pulmonares pode acarretar a ruptura venosa ou capilar, acarretando sangramento (discreto ou abundante) no interior dos pulmões. O aumento do átrio esquerdo pode levar à fibrilaçãoatrial, um batimento cardíaco irregular e rápido. Por meio de um estetoscópio, o médico ausculta um sopro cardíaco característico quando o sangue proveniente do átrio esquerdo passa através da válvula estenosada. Ao contrário de uma válvula normal, cuja abertura é silenciosa, a válvula estenosada frequentemente produz um estalido ao se abrir para permitir a entrada do sangue para o interior do ventrículo esquerdo. Geralmente o diagnóstico é confirmado pelo eletrocardiograma, de uma radiografia torácica que revela a dilatação atrial ou de um ecocardiograma (técnica de diagnóstico por imagens que utiliza ondas ultrassônicas). Algumas vezes a realização de um cateterismo cardíaco é necessária para se determinar a extensão e as características da obstrução. Prevenção e Tratamento A estenose mitral pode ser evitada com a prevenção da moléstia reumática, uma doença infantil que, algumas vezes, ocorre após uma infecção estreptocóccica AN02FREV001/REV 4.0 157 da garganta. Drogas, como os betabloqueadores, a digoxina e o verapamil podem reduzir a frequência cardíaca e ajudar no controle da fibrilação atrial. No caso de insuficiência cardíaca, a digoxina também fortalece os batimentos cardíacos. Os diuréticos, através da redução do volume sanguíneo circulante, podem diminuir a pressão arterial nos pulmões. Se o tratamento medicamentoso não produzir redução dos sintomas de maneira satisfatória pode ser necessária a reparação ou a substituição da válvula. A abertura da válvula pode simplesmente ser aumentada através de um procedimento denominado valvuloplastia com cateter com balão. Nesse procedimento, um cateter que possui um balão na sua extremidade é introduzido através de uma veia e é dirigido ao coração. Quando o cateter estiver localizado na válvula, o balão é insuflado, afastando os folhetos valvulares nos locais de fusão. Opcionalmente o paciente é submetido a uma cirurgia de separação dos folhetos fundidos. Se a válvula apresentar uma lesão importante, ela poderá ser substituída cirurgicamente por uma válvula mecânica ou por uma válvula parcialmente produzida a partir de uma válvula de porco. Os indivíduos com estenose mitral são tratados com antibióticos antes de qualquer procedimento cirúrgico ou odontológico para reduzir o risco de infecção da válvula cardíaca. 4.3.4 Insuficiência Aórtica A insuficiência aórtica (incompetência ou regurgitação aórtica) é o refluxo de sangue através da válvula aórtica toda vez que o ventrículo esquerdo relaxa. Na América do Norte e na Europa Ocidental as causas mais comuns costumavam ser a moléstia reumática e a sífilis. Atualmente ambas são raras, graças ao uso disseminado de antibióticos. Em outras regiões, a lesão valvular causada pela moléstia reumática ainda é comum. Além dessas infecções, a causa mais comum de insuficiência aórtica é o enfraquecimento do material valvular, normalmente fibroso e resistente, devido a uma degeneração mixomatosa, a um defeito congênito ou a fatores desconhecidos. A degeneração mixomatosa é um distúrbio hereditário do tecido conjuntivo que AN02FREV001/REV 4.0 158 enfraquece o tecido valvular cardíaco, o que permite sua distensão anormal e, raramente, o seu rompimento. Outras causas são as infecções bacterianas ou uma lesão. Cerca de 2% dos meninos e 1% das meninas nasce com uma válvula aórtica contendo dois folhetos em vez dos três habituais, o que pode causar insuficiência leve. Sintomas e Diagnóstico Uma insuficiência aórtica leve não produz sintomas além de um sopro cardíaco característico, o qual pode ser auscultado por meio de um estetoscópio em cada relaxamento do ventrículo esquerdo. No caso de uma insuficiência grave, o ventrículo esquerdo recebe uma quantidade de sangue cada vez maior, o que acarreta a dilatação do ventrículo e, finalmente, a insuficiência cardíaca. A insuficiência cardíaca produz dificuldade respiratória ao esforço ou em decúbito dorsal, especialmente à noite. A posição sentada permite a drenagem do líquido da parte superior dos pulmões e restauração da respiração normal. O indivíduo também pode apresentar palpitações (percepção dos batimentos cardíacos vigorosos), as quais são causadas por contrações fortes do ventrículo aumentado. Podem ocorrer dores torácicas, especialmente durante a noite. Geralmente o diagnóstico é estabelecido após auscultar o sopro característico, além dos outros sinais de insuficiência aórtica observados durante o exame físico (como certas anormalidades do pulso) e da presença de dilatação cardíaca nas radiografias. Um eletrocardiograma (ECG) pode revelar alterações do ritmo cardíaco e sinais de dilatação do ventrículo esquerdo. A ecocardiografia pode gerar uma imagem da válvula defeituosa, indicando a gravidade do problema. Tratamento Antibióticos são administrados antes de procedimentos odontológicos ou cirúrgicos para impedir infecção da válvula cardíaca lesada. Essa precaução é tomada mesmo nos casos de insuficiência aórtica leve. O indivíduo que apresenta sintomas de insuficiência cardíaca deve ser submetido à cirurgia antes que ocorra uma lesão irreversível do ventrículo esquerdo. AN02FREV001/REV 4.0 159 Nas semanas que antecedem a cirurgia a insuficiência cardíaca é tratada com digoxina e inibidores da enzima conversora da angiotensina ou com outras drogas que produzem dilatação dos vasos sanguíneos e redução do trabalho cardíaco. Em geral a válvula é substituída por uma válvula mecânica ou por uma válvula parcialmente produzida a partir de uma válvula de porco. 4.3.5 Estenose Aórtica A estenose aórtica é o estreitamento da abertura dessa válvula que aumenta a resistência ao fluxo sanguíneo do ventrículo esquerdo para a aorta. Na América do Norte e na Europa Ocidental a estenose aórtica é uma doença típica de pessoas idosas – resultante da cicatrização e do acúmulo de cálcio nos folhetos da válvula. Por essa razão, a estenose aórtica inicia-se após os 60 anos de idade. No entanto, ela comumente não produz sintomas até os 70 ou 80 anos. A estenose aórtica também pode ser decorrente da moléstia reumática contraída na infância. Quando essa é a causa, a estenose aórtica geralmente é acompanhada por um distúrbio da válvula mitral, produzindo estenose, insuficiência ou ambas. FIGURA 31 FONTE: Disponível em: < http://www.cfcp.com.br/a/arquivos/Fotos/estenose_aortica.png >. Acesso em: 21 mar. 2012. AN02FREV001/REV 4.0 160 Em indivíduos jovens, a causa mais comum é um defeito congênito. A válvula aórtica estenosada pode não ser um problema durante a infância, tornando- se, no entanto, problemática na idade adulta. A válvula permanece do mesmo tamanho à medida que o coração aumenta e tenta bombear volumes maiores de sangue através da válvula pequena. A válvula pode apresentar apenas dois folhetos, em vez dos três habituais, ou uma forma anormal, em funil. Com o passar dos anos a abertura dessa válvula frequentemente torna-se rígida e estreitada devido ao acúmulo de depósitos de cálcio. Sintomas e Diagnóstico A parede do ventrículo esquerdo espessa à medida que o ventrículo tenta bombear um volume sanguíneo suficiente através da válvula aórtica estenosada e o miocárdio aumentado exige um maior suprimento sanguíneo das artérias coronárias. Finalmente, o suprimento sanguíneo torna-se insuficiente, produzindo dor torácica (angina) ao esforço. Essa irrigação insuficiente pode lesar o miocárdio e, consequentemente, o volume sanguíneo originário do coração torna-se inadequado para as necessidades do organismo. A insuficiência cardíaca resultante acarreta fadiga e dificuldade respiratória ao esforço. O indivíduo com estenose aórtica grave pode desmaiar durante o esforço, pois a válvula estenosada impede que o ventrículo bombeie sangue suficiente para as artériasdos músculos, os quais dilataram para receber mais sangue rico em oxigênio. Geralmente o médico baseia o diagnóstico em um sopro cardíaco característico (auscultado por um estetoscópio), em anormalidades do pulso, em anormalidades reveladas no eletrocardiograma (ECG) e no espessamento da parede cardíaca, desvendado por meio da radiografia torácica. Para a identificação da causa e a de terminação da gravidade da estenose em indivíduos que apresentam angina, dificuldade respiratória ou desmaios, a ecocardiografia (técnica de diagnóstico por imagem utilizando ondas ultrassônicas) e, possivelmente, o cateterismo cardíaco podem ser utilizados. AN02FREV001/REV 4.0 161 Tratamento Em qualquer adulto que apresente desmaios, angina e dificuldade respiratória ao esforço provocado por uma estenose aórtica é realizada a substituição cirúrgica da mesma, de preferência antes que ocorra uma lesão irreparável do ventrículo esquerdo. A válvula substituta pode ser uma válvula mecânica ou uma válvula parcialmente produzida a partir de uma válvula de porco. Qualquer indivíduo com implante valvular deve tomar antibióticos antes de ser submetido a procedimentos odontológicos ou cirúrgicos para evitar uma infecção da válvula cardíaca. Em crianças, caso a estenose seja grave, a cirurgia pode ser realizada mesmo antes que haja manifestação dos sintomas. O tratamento precoce é importante porque a morte súbita pode ocorrer antes do surgimento dos sintomas. Para crianças, as alterações efetivas e seguras à cirurgia de substituição da válvula são a reparação cirúrgica da válvula e a valvuloplastia com cateter com balão, na qual um cateter é inserido na válvula e o balão localizado em sua extremidade é insuflado para expandir a abertura valvular. A valvuloplastia é também utilizada em pacientes idosos e frágeis, os quais não suportariam uma cirurgia, embora exista a tendência de reincidência da estenose. No entanto, geralmente a substituição da válvula lesada é o melhor tratamento para adultos de todas as idades e seu prognóstico é excelente. 4.3.6 Insuficiência Tricúspide A insuficiência tricúspide (incompetência ou regurgitação da válvula tricúspide) consiste no refluxo sanguíneo através da válvula tricúspide em cada contração do ventrículo direito. No caso da insuficiência tricúspide, o ventrículo direito ao contrair não apenas bombeia o sangue para os pulmões, mas também envia certa quantidade de sangue de volta ao átrio direito. A insuficiência valvular AN02FREV001/REV 4.0 162 aumenta a pressão no átrio direito, fazendo com que ele dilate. Essa pressão elevada é transmitida para as veias que desembocam no átrio, produzindo uma resistência ao fluxo sanguíneo proveniente do corpo em direção ao coração. A causa mais usual da insuficiência tricúspide é a resistência ao efluxo do sangue proveniente do ventrículo direito, a qual é produzida por uma doença pulmonar grave ou por um estreitamento da válvula pulmonar (estenose pulmonar). Como mecanismo de compensação, o ventrículo direito aumenta para bombear com mais força e ocorre uma dilatação da abertura valvular. Sintomas e Diagnóstico Além dos sintomas vagos, como a fraqueza e a fadiga decorrentes de um baixo débito sanguíneo do coração, os únicos sintomas geralmente são um desconforto na região superior direita do abdômen, em virtude do aumento do fígado, e pulsações na região do pescoço. Esses sintomas são decorrentes do fluxo retrógrado do sangue para as veias. A dilatação do átrio direito pode acarretar fibrilação atrial – batimentos cardíacos rápidos e irregulares. Finalmente ocorre a insuficiência cardíaca e a retenção líquida, principalmente nos membros inferiores. O diagnóstico é baseado no histórico clínico do indivíduo e no exame físico, no eletrocardiograma (ECG) e na radiografia torácica. A insuficiência valvular produz um sopro que pode ser auscultado pelo médico por meio de um estetoscópio. A ecocardiografia pode gerar uma imagem do refluxo, indicando sua gravidade. Tratamento Geralmente a insuficiência tricúspide em si requer pouco ou nenhum tratamento. No entanto, a doença pulmonar ou a valvulopatia pulmonar subjacente pode exigir tratamento. Problemas como as arritmias cardíacas e a insuficiência cardíaca comumente são tratadas sem que haja necessidade de cirurgia da válvula tricúspide. AN02FREV001/REV 4.0 163 4.3.7 Estenose Tricúspide A estenose tricúspide é um estreitamento da abertura dessa válvula, o qual aumenta a resistência ao fluxo sanguíneo proveniente do átrio direito em direção ao ventrículo direito. No decorrer do tempo a estenose tricúspide produz dilatação do átrio direito e diminuição do ventrículo direito. O volume de sangue que retorna ao coração diminui e a pressão sobre as veias que conduzem o sangue de volta ao coração aumenta. Praticamente todos os casos são causados pela moléstia reumática, a qual se tornou rara na América do Norte e na Europa Ocidental. Raramente, a causa é um tumor no átrio direito, uma doença do tecido conjuntivo ou, ainda mais raramente, um defeito congênito. Sintomas, Diagnóstico e Tratamento Geralmente os sintomas são leves. O indivíduo pode apresentar palpitações (percepção dos batimentos cardíacos), uma tremulação desconfortável no pescoço e apresentar fadiga. Ele pode apresentar um desconforto abdominal se o aumento da pressão venosa acarretar aumento do fígado. Com o auxílio de um estetoscópio pode-se auscultar o sopro da estenose tricúspide. A radiografia torácica pode revelar dilatação do átrio direito e o ecocardiograma revela uma imagem da estenose, indicando sua gravidade. Eletrocardiograma (ECG) mostra alterações sugestivas de sobrecarga do átrio direito. Raramente a estenose tricúspide é suficientemente grave a ponto de exigir uma reparação cirúrgica. 4.3.8 Estenose Pulmonar A estenose pulmonar é o estreitamento da abertura dessa válvula, o qual aumenta a resistência ao fluxo sanguíneo proveniente do ventrículo direito para as AN02FREV001/REV 4.0 164 artérias pulmonares. A estenose pulmonar, a qual é rara em adultos, geralmente é um defeito congênito. 4.4 FEBRE REUMÁTICA Doença inflamatória que ocorre após um episódio de amigdalite bacteriana tratada inadequadamente – pode atingir as articulações, o coração e o cérebro, deixando sequelas cardíacas graves, com consequências por toda a vida e podendo levar à morte. A doença ocorre em surtos, se não for prevenida, e a cada surto aumenta a chance de ocorrerem lesões cardíacas graves. Continua sendo a principal causa de doença cardíaca adquirida em crianças e adultos jovens em todo o mundo, mas é também a cardiopatia de mais fácil prevenção. É uma doença que acomete principalmente crianças de 5 a 15 anos, de baixo nível socioeconômico, que vivem em aglomerações urbanas. Embora seja uma doença de ocorrência universal, a distribuição da febre reumática no mundo reflete o padrão da desigualdade social, com manutenção de índices elevados em países em desenvolvimento, chegando a atingir 1% das crianças em idade escolar, e redução progressiva em países desenvolvidos, onde a incidência é mínima, ocorrendo por vezes em surtos isolados. Principais Sintomas da Infecção na Garganta (Amigdalite) Bacteriana Não é toda Infecção na garganta que pode causar a febre reumática, somente aquelas causadas por uma bactéria chamada Streptococcus Beta hemolítico do grupo A (ou Streptococcus pyogenes). Os sintomas desse tipo de amigdalite são os seguintes: Febre alta; Dor de garganta muito forte; Placas de pus nas amígdalas; Caroço inchado e dolorido no pescoço (Gânglio). AN02FREV001/REV 4.0 165 Tratamento da Amigdalite Bacteriana O tratamento mais indicado é o uso da penicilina benzatina injetávelem dose única ou antibiótico oral, por 10 dias, de acordo com o critério do médico. Se a amigdalite bacteriana for bem tratada, a criança não terá febre reumática. Principais sintomas da Febre Reumática - Os primeiros sintomas em geral são febre, edema e dores nas articulações (principalmente joelhos, cotovelos e tornozelos) cerca de duas semanas após uma infecção de garganta mal curada; - Muitas vezes a criança não consegue andar por causa da dor; - Quando atinge o coração, o paciente, em geral, sente cansaço constante, falta de ar e a sensação de coração disparado. Tratamento da Febre Reumática A partir do diagnóstico da doença é necessário usar anti-inflamatórios e tomar uma injeção intramuscular de penicilina benzatina em intervalos de até 21 dias, de acordo com o critério do seu médico para evitar novos episódios de amidalite bacteriana. A duração da profilaxia (tratamento com a penicilina) depende da gravidade da lesão cardíaca, e deve ser realizada no mínimo até os 25 anos. Interrompê-lo poderá ocasionar danos irreversíveis ao coração. 4.5 PERICARDITES O pericárdio é composto de duas camadas de um tecido fibroso pouco distensível. Dessas camadas, a interna, denominada de visceral está aderida e praticamente fazendo parte do coração. A outra, a externa, denominada parietal, está em volta dessa primeira. Elas estão separadas por um espaço virtual que contém uma pequena quantidade de líquido. Essa segunda camada mantém o AN02FREV001/REV 4.0 166 coração fixado no seu lugar dentro do tórax e evita o contato direto do coração com as estruturas vizinhas. Quando o pericárdio está inflamado ou infectado dizemos haver uma pericardite que pode ser um dos tipos de pericardite abaixo descritos. FIGURA 32 FONTE: Disponível em: < http://www.cfcp.com.br/a/arquivos/Fotos/pericardite.bmp >. Acesso em: 21 mar. 2012. 4.5.1 Pericardite Aguda A pericardite aguda é uma inflamação do pericárdio que apresenta um início súbito e que é frequentemente dolorosa. A inflamação faz com que o líquido (plasma) e os produtos do sangue (como fibrina, eritrócitos e leucócitos) depositem- se no espaço pericárdico. A pericardite aguda possui muitas causas, desde infecções virais (as quais podem ser dolorosas, mas de breve duração e, em geral, não produzem efeitos duradouros) até o câncer, o qual é potencialmente letal. Outras causas incluem a AIDS, infarto do miocárdio, cirurgia cardíaca, lúpus eritematoso sistêmico, doença reumatoide, insuficiência renal, lesões, radioterapia e escape de sangue de um aneurisma da aorta (dilatação da aorta com enfraquecimento de sua parede). A pericardite aguda também pode ser um efeito colateral de certas drogas, como anticoagulantes, penicilina, procainamida, fenitoína e fenilbutazona. AN02FREV001/REV 4.0 167 4.5.2 Pericardite Viral Pode ser causada por diversos vírus, as coxsaquieviroses, os ecovírus e os vírus da gripe, da varicela, hepatite, caxumba e HIV, são os mais frequentes. A doença atinge mais a homens com menos de 50 anos, principalmente depois de doenças infecciosas das vias aéreas superiores. O diagnóstico geralmente é feito em bases clínicas. Em alguns casos o derrame entre as duas camadas do pericárdio pode ser de proporções maiores, provocando o tamponamento cardíaco. Em raros casos a doença torna-se crônica, podendo resultar em pericardite constritiva, que pela retração cicatricial do pericárdio provoca o encarceramento do coração. Nessa situação há necessidade de operar, retirando-se o pericárdio em torno do coração. Os casos mais benignos são tratados com aspirina ou outro anti-inflamatório. Em raros pacientes, que não respondem ao tratamento, os corticosteroides podem ser usados. 4.5.3 Pericardite Tuberculosa É rara nos países desenvolvidos e comum em outras áreas. Atinge o pericárdio diretamente via linfática ou por disseminação hematógena. Pode haver comprometimento ou não do pulmão, contudo o derrame pleural frequentemente acompanha a pericardite. O desenvolvimento da doença costuma ser subagudo, com o paciente apresentando cansaço, febre e suores noturnos. O diagnóstico não é fácil, havendo suspeita de evidência do bacilo álcool- ácido resistente (BAAR) em outras partes do doente. A positividade do BAAR no líquido retirado do saco pericárdico é muito baixa, do mesmo modo que o é no tecido biopsiado. Alguns pacientes que não respondem bem ao tratamento conservador antituberculose necessitam ser operados para retirarem o pericárdio. AN02FREV001/REV 4.0 168 4.5.4 Pericardite Urêmica Pacientes com insuficiência renal podem apresentar pericardite. Os sintomas são semelhantes às outras pericardites, mas geralmente se acompanham das manifestações metabólicas decorrentes da uremia. Muitas vezes, a pericardite urêmica é diagnosticada pela dor pré-cordial apresentada pelos pacientes. O tratamento é o da doença básica que levou a pessoa à insuficiência renal ou a terapêutica da remissão isoladamente. 4.5.5 Pericardite Neoplásica A disseminação de um câncer adjacente de pulmão ou de mama, a disseminação de um carcinoma de rim, linfomas que envolvem o pericárdio e outros cânceres podem causar um derrame pericárdico e tamponamento do coração. Em geral não há muitos sintomas e os que existem podem ser atribuídos à doença básica com suas repercussões hemodinâmicas. O diagnóstico pode ser particularmente difícil se o paciente foi submetido a radioterapia em uma área que abrangeu o pericárdio. O prognóstico para pericardite neoplásica é mau, geralmente o paciente morre antes de um ano. Do tratamento cirúrgico faz parte a abertura de uma janela no pericárdio para drenar o líquido ou a pericardiectomia. Também se tenta a instilação de tetraciclina no saco pericárdico, o que em alguns casos evita a recidiva do derrame. AN02FREV001/REV 4.0 169 4.5.6 Pericardite Pós-radiação A irradiação que atinge a área cardíaca pode desencadear uma reação fibrótica que se apresenta com uma pericardite subaguda ou constritiva. Ela pode aparecer dentro de um ano depois da irradiação, mas há casos em que surgiu anos depois. A solução muitas vezes é cirúrgica. 4.5.7 Pericardite Pós-infarto do Miocárdio É uma complicação do infarto agudo do miocárdio que aparece de 3 a 5 dias depois de um infarto transmural. O sintoma é de dor pré-cordial recorrente, geralmente atribuída ao próprio infarto. No eletrocardiograma aparecem mudanças confundíveis com alterações isquêmicas. Grandes derrames são raros. Muitas vezes, pode-se auscultar um atrito pericárdico. A síndrome de Dressler (SD) é uma pericardite que ocorre semanas ou meses depois do infarto ou depois de cirurgias cardíacas. Pode ser recorrente e é provavelmente uma resposta autoimune. Manifesta-se por febre, dor, mal-estar leucocitose e hemossedimentação elevada. O derrame pericárdico pode ser grande na síndrome de Dressler que ocorre depois de infarto e não depois de cirurgias cardíacas. Pode haver resposta terapêutica com o uso de anti-inflamatórios. 4.5.8 Pericardites Mais Raras São as atribuídas ao uso de medicamentos como o minoxidil e a penicilina. Podem ocorrer também nos pacientes com mixedema (Hipotireoidismo), lúpus eritematoso e artrite reumatoide. AN02FREV001/REV 4.0 170 4.5.9 Pericardite Constritiva A inflamação do pericárdio pode levar ao seu espessamento e diminuição da distensibilidade por fibrose e por aderência ao coração, dificultando o enchimento do coração durante a diástole. Isso dificulta o retorno do sangue ao coração. Pode seguir-se a uma pericardite de qualquer etiologia. Atualmente é mais frequente nas pericardites pós-irradiação e depois de cirurgias cardíacas. Os principaissintomas são fadiga progressiva, falta de ar, fraqueza, edema, congestão do fígado e ascite. O que chama mais a atenção nesses pacientes é a distensão persistente das veias do pescoço, mesmo com a pessoa em pé ou inspirando fundo. Para confirmarmos o diagnóstico, o Raio-X geralmente mostra um coração de tamanho normal e só é útil se mostrar calcificações. O ecocardiograma pode indicar o pericárdio espessado e cavidades cardíacas pequenas. A tomografia e a ressonância magnética podem expor melhor as alterações já mostradas no ecocardiograma. O tratamento inclui o uso de diuréticos e a remoção cirúrgica do pericárdio. A mortalidade dessa operação é alta. 4.5.10 Tamponamento Cardíaco: a Complicação Mais Grave da Pericardite Em geral, o tamponamento é decorrente do acúmulo de líquido ou do sangramento no pericárdio, como consequência de um tumor, de uma lesão ou de uma cirurgia. Infecções virais e bacterianas e a insuficiência renal são outras causas comuns. A pressão arterial pode cair bruscamente, atingindo níveis anormalmente baixos durante a inspiração. Para confirmar o diagnóstico, o médico utiliza a ecocardiografia (procedimento que utiliza ondas ultrassônicas para gerar uma imagem do coração). Frequentemente o tamponamento cardíaco representa uma emergência médica. O distúrbio é imediatamente tratado por meio da drenagem AN02FREV001/REV 4.0 171 cirúrgica ou da punção do pericárdio com uma agulha longa para remoção de líquido e redução da pressão. O médico utiliza um anestésico local para impedir que o paciente sinta dor durante a introdução da agulha através da parede torácica. Quando possível, a remoção do líquido é realizada com monitorização ecocardiográfica. No caso de uma pericardite de origem desconhecida pode-se drenar cirurgicamente o pericárdio, coletando uma amostra para auxiliar na determinação do diagnóstico. Depois de a pressão ser aliviada, o paciente comumente é mantido hospitalizado como medida de prevenção da recorrência do tamponamento. 4.6 TUMORES CARDÍACOS É denominado tumor qualquer tipo de crescimento anormal, seja ele canceroso (maligno) ou não canceroso (benigno). Os tumores originários do coração são denominados tumores primários e podem ocorrer em qualquer um de seus tecidos. Eles podem ser cancerosos ou não cancerosos e são raros. Os tumores secundários originam- se em alguma outra parte do corpo – geralmente no pulmão, na mama, no sangue ou na pele – e, em seguida, disseminam-se (produzem metástases) ao coração. Eles sempre são cancerosos. Os tumores secundários são 34 vezes mais comuns que os primários, mas, ainda assim, são considerados incomuns. Os tumores cardíacos podem não provocar sintomas ou podem produzir uma disfunção cardíaca potencialmente letal, simulando outras cardiopatias. Exemplos de tais disfunções incluem a insuficiência cardíaca súbita, o surgimento abrupto de arritmias e uma queda súbita da pressão arterial decorrente do sangramento no pericárdio (a membrana que envolve o coração). Os tumores cardíacos são de difícil diagnóstico, tanto por serem relativamente incomuns, quanto pelo fato de seus sintomas serem semelhantes aos de muitos outros distúrbios. Para chegar ao diagnóstico é necessário que o médico tenha indícios de sua presença. Por exemplo, se um indivíduo apresenta um câncer em qualquer outra região do corpo, mas procura auxílio médico por causa de AN02FREV001/REV 4.0 172 sintomas relacionados à disfunção cardíaca, o profissional pode suspeitar da presença de um tumor cardíaco. 4.6.1 Mixomas O mixoma é um tumor não canceroso e, geralmente, apresenta uma forma irregular e uma consistência gelatinosa. Metade de todos os tumores cardíacos primários são mixomas. Três quartos dos mixomas localizam-se no átrio esquerdo, a câmara do coração que recebe o sangue rico em oxigênio proveniente dos pulmões. Geralmente os mixomas do átrio esquerdo originam-se de um pedículo e podem oscilar livremente com o fluxo sanguíneo, igual a uma bola fixada a um fio. Ao oscilarem, os mixomas podem mover-se para dentro e para fora da válvula mitral próxima – a via entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo. Essa oscilação pode obstruir e desobstruir a válvula continuamente, de modo que o fluxo sanguíneo é interrompido e reiniciado de forma intermitente. Na posição ortostática o indivíduo pode apresentar desmaios ou episódios de congestão pulmonar e de dificuldade respiratória, pois a força da gravidade faz com que o tumor se mova para baixo, até a abertura da válvula. O decúbito diminui os sintomas. O tumor pode lesar a válvula mitral e, consequentemente, ocorre um refluxo de sangue por essa abertura, com a produção de um sopro cardíaco que o médico ausculta com o auxílio de um estetoscópio. Baseando-se nas características do sopro cardíaco, o médico considera se o sopro é resultante de um refluxo causado por uma lesão decorrente do tumor, de uma causa rara ou de uma causa mais comum como, por exemplo, a cardiopatia reumática. Fragmentos de um mixoma ou coágulos sanguíneos que se formam na superfície do mixoma podem soltar-se, circularem até outros órgãos e obstruir os vasos sanguíneos nesses locais. Os sintomas dependem do vaso obstruído: a obstrução de um vaso sanguíneo cerebral pode causar um acidente vascular cerebral; a obstrução de um vaso pulmonar pode acarretar dor e expectoração sanguinolenta. Outros sintomas de mixomas incluem a febre, perda de peso, dedos das mãos e dos pés frios e doloridos ao serem expostos à baixa temperatura AN02FREV001/REV 4.0 173 (fenômeno de Raynaud), anemia, contagem baixa de plaquetas (pois as plaquetas estão envolvidas na coagulação sanguínea) e sintomas sugestivos de infecção grave. Um mixoma no átrio esquerdo pode crescer a partir de um pedículo, oscilando livremente com o fluxo sanguíneo. Ao oscilar, o mixoma pode entrar e sair da válvula mitral próxima – a via de passagem entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo obstruindo o fluxo sanguíneo do coração. 4.6.2 Outros Tumores Primários Os tumores cardíacos não cancerosos menos comuns, como os fibromas e os rabdomiomas, podem crescer diretamente a partir das células do tecido fibroso do coração e das células do miocárdio. Os rabdomiomas, o segundo tipo mais comum de tumor primário, desenvolvem-se na infância ou na pré-adolescência, geralmente associados a uma rara doença infantil denominada esclerose tuberosa. Outros tumores cardíacos primários, como os cancerosos primários, são extremamente raros e, para eles, não existe um tratamento satisfatório. As crianças que apresentam esses tumores apresentam uma expectativa de vida inferior a um ano. Vários exames são utilizados no diagnóstico dos tumores cardíacos. Com frequência, para o delineamento dos tumores usa-se a ecocardiografia (exame que utiliza ondas ultrassônicas para investigar as estruturas internas do coração). As ondas ultrassônicas podem atravessar a parede torácica ou o lado interno do esôfago (procedimento chamado ecocardiografia transesofagiana). Um cateter inserido por uma veia até o coração pode ser utilizado para injetar substâncias que delineiem um tumor cardíaco nas radiografias; mas esse procedimento é menos frequentemente necessário. A tomografia computadorizada (TC) e imagens por ressonância magnética (RM) também são utilizadas. Se for detectado um tumor, uma pequena amostra poderá ser removida por meio de um cateter especial; a amostra será, então, utilizada para identificar o tipo de tumor, o que ajudará na seleção do tratamento adequado. AN02FREV001/REV 4.0 174 Um tumor cardíaco primário não canceroso isolado pode ser removido por cirurgia, o que, em geral, cura o paciente. Os médicos não costumam tratar tumores primários quando existem diversos presentes, nem tratam de tumores que sãotão grandes a ponto de impossibilitar a remoção. Tumores cancerosos primários e secundários são incuráveis; apenas seus sintomas podem ser tratados. FIM DO MÓDULO III
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