Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
BANALIZAÇÃO DOS CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ALGUMAS INSTITUIÇÕES NO BRASIL Helton Ferreira do Nascimento 1 ; Raimundo Nonato de Lima 2 1 Graduando em Licenciatura em Pedagogia pela ISEPRO. E-mail: hfdonas@hotmail.com 2 Graduado em Licenciatura em Pedagogia pela ISEPRO e em Serviço Social pela ULBRA e Especialista em Docência do Ensino Superior pelo Centro Universitário Barão de Mauá. E-mail: nonato.lima96@gmail.com RESUMO O presente estudo ocupa-se em fazer uma análise dos métodos de que se sevem algumas instituições fornecedoras de serviços educacionais, na área de especialização, para conquistar seus clientes, sob a hipótese de que esteja ocorrendo um processo de banalização dos referidos cursos. Na bibliografia consultada, pouco se encontrou sobre o assunto, demonstrando que o mesmo ainda não tem a atenção dos autores, o que não deve minimizar a importância da temática. Assim, este trabalho busca trazer elucidação para a problemática, e funcionar como alerta para estudantes que, em busca de crescimento rápido, tendem a correr para esses atalhos, esquecendo-se de que os caminhos mais curtos nem sempre são os melhores. Para levar a efeito a pesquisa, adotou-se o campo virtual, por meio das ofertas dos cursos feitas pelas instituições. A pesquisa permitiu notar que há empresas que trabalham, inclusive, com a venda de certificados de cursos não feitos. Palavras-chave: Banalização. Pós-graduação. Formação. ABSTRACT Banalization of lato post graduate courses in some institutions in Brazil. The present study focuses on making an analysis of the methods that some institutions providing educational services in the area of specialization use to win their clients, under the hypothesis that a process of trivialization of these courses is taking place. In the bibliography consulted, little was found on the subject, demonstrating that it still does not have the attention of the authors, which should not minimize the importance of the theme. Thus, this work seeks to bring clarity to the problem, and serve as an alert for students who, in search of rapid growth, tend to run for these shortcuts, forgetting that the shortest paths are not always the best. To carry out the research, the virtual field was adopted, through the offerings of the courses made by the institutions. The research showed that there are companies that work even selling certificates of courses not made. Keywords: Banalization. Postgraduate studies. Formation. 3 1 INTRODUÇÃO O presente trabalho teve a finalidade de encabeçar um estudo que foi desenvolvido entre instituições de ensino superior (IES), brasileiras, que ofertam cursos de pós-graduação, sobretudo a nível de especialização (lato sensu), a verificar o nível de qualidade e confiabilidade contidos nos mesmos. Dado a elevada importância atribuída a tais cursos, bem como o conseguinte crescimento da demanda por eles, têm igualmente crescido o número de instituições privadas que veem um mercado promissor nessa área, a tal ponto de se originar uma acirrada concorrência por alunos. Nessa disputa por clientes, algumas instituições apelam de modo doloso ao pragmatismo das pessoas, oferecendo cursos fáceis, rápidos e baratos. Em atenção a tal contexto, este projeto buscou trazer elucidação para a problemática, e funcionar como alerta para estudantes que, em busca de crescimento rápido e sem trabalho, tendem a migrar para esses atalhos, esquecendo-se de que os caminhos mais curtos nem sempre são os melhores ou os mais seguros, e que um crescimento saudável não se dá da noite para o dia. A eleição da temática decorreu ainda da observação feita ao oferecimento de muitos cursos de especialização que nos assediam quase diariamente, possibilitando-nos perceber um verdadeiro concurso, uma acirrada concorrência pela adesão dos estudantes. Nesse prospecto, diversas instituições oferecem muitas ‘facilidades’, ‘vantagens’, a ponto de o quesito qualidade da formação desses especialistas não receber a devida atenção, pondo, desta maneira, uma gigantesca quantidade de profissionais no mercado de trabalho que, em última análise podem não ser especialistas em coisa nenhuma, se olharmos para o sentido semântico da palavra, e as elevadas competências que se espera de alguém com semelhante formação. Até aqui tratando daquilo que se faz “dentro da legalidade”. Há, todavia, casos em que pessoas ou institutos evoluem (ou regridem) para o nível da delinquência ao forjar, comprar, ou vender certificações de cursos não realizados, no intuito de adquirir/fornecer títulos de maneira rápida e sem muito trabalho e não são poucos os que recorrem a esses métodos. Por conseguinte, estamos tratando de algo chocante, vergonhoso, profundamente injusto e, como já foi dito, em alguns casos, criminoso. Enquanto algumas pessoas e 4 instituições fazem verdadeiros sacrifícios para oferecer ou obter uma formação de alto nível, outras preferem fingir que fazem ou sabem alguma coisa, mas com formação de nível baixíssimo, ou mesmo com títulos conquistados simplesmente por dinheiro, sem qualquer labor acadêmico. Indubitavelmente, as consequências provenientes de tal conduta são, previsivelmente danosas, o que pode ser constatado na existência de muitos profissionais falsos ou desqualificados no mercado, que maleficiam a população de diversas maneiras. O sobredito poderia ser largamente acrescido sem qualquer injustiça ou exagero. Entretanto, parece ser o suficiente para entendermos que o assunto é digno da atenção de todos que pretendem trabalhar na construção de um Brasil e de um mundo melhor e mais justo para todos, principalmente para os menos favorecidos que, no final das contas, tendem a ser também os mais afetados pelas atividades de empresas e pessoas mercenárias. De modo simples, uma questão que pode ser levantada está relacionada com a inquirição sobre em que estágio se encontraria o processo de banalização dos cursos de pós- graduação lato sensu em algumas instituições no contexto educacional brasileiro, trazendo, assim, luz para a problemática descrita. Esta investigação parte do pressuposto que existe de fato um real e flagrante processo de vulgarização, empobrecimento e, em alguns casos, de corrupção, ligados a sistemas ou redes de cursos de pós-graduação. Nessa perspectiva, tencionamos pesquisar o pretenso processo de banalização em que podem se encontrar muitos cursos de pós-graduação lato sensu no Brasil; traçar um panorama histórico e evolutivo dos cursos de pós-graduação; compreender a gravidade que há em se abrir mão da qualidade dos cursos de especialização; e, alertar estudantes quanto ao erro e ao perigo de se obter títulos sem respaldo e sem a sólida fundamentação requerida de um “especialista”. Em virtude da gravidade do tema, foi tido como adequado não pesquisar direta e pessoalmente as instituições, a fim de que não se incorra no risco de adquirir dados inverídicos, ou mesmo a recusa, por parte de algumas, em participar da pesquisa, pelo receio de uma exposição desagradável, negativa ou vexatória, mesmo sabendo que a pesquisa se propõe a manter sob total sigilo as identidade dos pesquisados. Em virtude disso, optou-se por delinear uma busca na internet, a partir de anúncios, tendo sempre a cautela de guardar silêncio sobre informações de identificação de sujeitos e/ou instituições objeto da pesquisa, já que o propósito aqui é trabalhar uma situação e não 5 indivíduos. Quanto à base teórica, pouco se achou sobre o assunto nas literaturas disponíveis, dando a impressão de que o mesmo ainda não chegou a ser uma preocupação para muitos autores. Dessa forma, a saída foi recorrer à internet. Alguns autores, todavia, estão citados no texto, tais como Almeida (2017), Borba (2011), Freire (1996), Moraes (2018), dentre outros, que deram alguma fundamentação para que o tema pudesse ser trabalhado. 2 CONTEXTUALIZAÇÃO Pelo fato de a temática trabalhada nessa pesquisa não ser ainda abordada com frequência, são poucos os autores da literatura educacional brasileira que tratam da mesma de modo específico. Em decorrência disso, não são muitos os livros encontrados em nossas bibliotecas que tratem do assunto direta e exaustivamente. Tal fato não apequena a relevância da pesquisa, uma vez que se tornou comum sermos abordados por propostas de nos tornarmos especialistas em muitas áreas, em pouco tempo, e a baixos custos, o que deve acionar o sinal de alerta, levando-nos a ser mais criteriosos na hora de iniciarmos um curso dessa natureza. De acordo com Borba (2011, p. 158), banalizar significa “tornar banal ou comum, vulgarizar” e, a atitude de banalizar pode ser denominada de banalização. À primeira vista, não parece haver nenhum problema em que o título e a formação de especialista esteja comunalizada e acessível a todas as pessoas. Do ponto vista da democratização do acesso a esse nível de ensino pode até ser considerado muito bom. A questão, nesse caso, são os meios empregados para que isso aconteça, uma vez que, no final das contas, muitas instituições não manifestam nenhuma preocupação concernente à qualidade dos cursos, ou da formação por eles propostas, deixando prevalecer o desejo de auferir lucros e conquistar clientes. Quando se fala em educação, o fator qualidade não deve passar despercebido, pois a educação visa formar um cidadão capaz de atuar em meio à sociedade de maneira autônoma e eficiente, tanto no exercício da cidadania como para mercado de trabalho, conforme se pode deduzir da Constituição de 1988 no Art. 205, que diz: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua 6 qualificação para o trabalho.” A mesma proposição está tipificada na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9.394/96), com uma sensível distinção no concerne à ordem de prescindibilidade sobre a educação do indivíduo. Se a CF traz que a educação e dever primeiramente do Estado e, depois, da família, a LDB investe essa ordem, reconhecendo a família como primeira responsável pela educação. A história da pós-graduação no Brasil tem características que lhe são próprias, que respondem a um momento concreto da história do ensino superior universitário no país, que se constituiu no processo da Reforma Universitária da década de 1960, já no contexto da Ditadura Militar. (ALMEIDA, 2017) A constatação de que esses cursos ganharam notabilidade no contexto do Regime Militar traz consigo a ideia que ainda hoje se tem, que os mesmos possuem a finalidade de qualificar pessoas para trabalhar em determinadas áreas de atuação, o que confere grande relevância a essa modalidade de ensino, visto que os profissionais, assim especializados, atuarão em setores importantes como Saúde e Educação. Tal fato eleva também a responsabilidade das instituições que formam esses profissionais. Entretanto, o que se percebe é que o elevado padrão de qualidade que se espera das escolas ofertantes de cursos de especialização, está em um processo de relativização, principalmente em algumas instituições da iniciativa privada, e em nome da conquista de um número maior de clientes. Devido à concorrência, muitas escolas procuram apresentar facilidades e vantagens aos alunos/clientes que envolvem redução dos preços das mensalidades, diminuição do período para se concluir o curso, bem como o baixíssimo grau de dificuldade imposto aos estudantes. Nas palavras de Cordeiro (2009, SN) O grande problema da pós-graduação no Brasil nos dias de hoje é sua banalização decorrente da mediocridade e corporativismo existentes no cerne da universidade brasileira, salvo algumas exceções. Além da mediocridade existe outro fator deletério: a desonestidade. Os benefícios advindos de uma certificação a nível de especialização são atraentes aos estudantes. É um requisito para lecionar na educação superior, como determina o art. 66 da LDB: “A preparação para o exercício do magistério superior far-se-á em nível de pós- graduação, prioritariamente em programas de mestrado e doutorado.” Além do que, traz a possibilidade de melhoramento salarial, de acordo com o Plano de Cargos e Salários da instituição à qual se presta serviço; soma pontos numa prova de títulos, o que pode ser visto em todos os editais de concursos e testes seletivos; e, já não é tanto, mas, noutro tempo, dava 7 bastante status. Devido à decadência qualitativa, o autor deste estudo já ouviu, em uma discussão, mesmo numa turma de pós-graduação, que os especialistas de hoje bem podem equiparar-se, ou até inferiorizarem-se aos técnicos do passado. Em grande parte, tal afirmação se deve exatamente ao que se pressupõe de um fatídico processo de banalização. É bem verdade que semelhante situação decorre, em grande parte, do não cumprimento das prescrições legais, pois, de conformidade com a própria LDB, em seu Art. 62-A e parágrafo único: LDB Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se refere o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo habilitações tecnológicas. Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou em instituições de educação básica e superior, incluindo cursos de educação profissional, cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação. Olhando com atenção, é possível perceber que esse trecho da Lei não se refere diretamente a pessoas desvinculadas dos sistemas ou redes de ensino, mas àquelas que já estão inseridas nos mesmos, mas, pensando de outra maneira, os indivíduos que estão em processo de formação magisterial, muito embora não façam parte, pelo menos ainda, das redes de ensino, ainda assim podem ser vistos com profissionais da educação, cuja formação está em processo, como sempre estará. “Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele.” (FREIRE, 1996, p. 29) Inegavelmente, a democratização do acesso aos níveis de ensino mais elevados tem sido um objetivo buscado com afinco pelos governos e instituições, pois, de acordo com Moraes (2018), há hoje, no Brasil mais de 4.000 programas de pós-graduação, de sorte que, segundo ele, a preocupação do Ministério da Educação já não é com a quantidade, mas com a qualidade dos cursos oferecidos no que veio a ser o ‘mercado educacional’. E é exatamente com essa preocupação que lida este trabalho, para que a quantidade não venha a sobrepujar a qualidade nos cursos de especialização. 3 A EXPERIÊNCIA DA PESQUISA 8 Como já foi dito, em decorrência do agravamento do tema, foi tido como adequado não pesquisar direta e presencialmente às instituições, a fim de que não se incorresse no risco de adquirir dados camuflados, ou mesmo a desistência, por parte de algumas, em participar da pesquisa, pelo receio de uma exposição desagradável, negativa ou vexatória, mesmo sabendo que a pesquisa se propunha a manter sob total sigilo as identidade dos pesquisados. Em virtude disso, optou-se por delinear uma busca na internet, através de anúncios, tendo sempre a cautela de guardar silêncio sobre informações de identificação de sujeitos e/ou instituições objeto da pesquisa, já que o propósito aqui é trabalhar uma situação e não pessoas. A pesquisa é bibliográfica e de campo (campo virtual), e descritiva e levou em conta, sobretudo, aspectos qualitativos. 3.1 Levantamento de bibliografia Nessa parte da pesquisa, procuramos primar pela comprobabilidade das informações coletadas, a fidedignidade das fontes, ainda que, em sua maior parte, extraídas da internet. Para tanto foram lidos quantos textos tornaram-se possíveis, mas citamos no referencial somente os que fizeram jus a isso. Os posicionamentos dos autores foram ordenados da maneira mais coerente e linear possível, a ver se os objetivos para essa fase poderiam ser alcançados, no que diz respeito ao processo de banalização dos cursos de pós-graduação lato sensu dentro de algumas instituições. 3.2 Trabalho de campo A atividade campal (ainda que o campo aqui foi virtual), constou da seleção de algumas instituições ofertantes de cursos de especialização, as quais receberam nomes de pesquisa tais como ‘pesquisado(a)’ ou ‘participante’, o que propõe resguardar o identidade do ente pesquisado, bem como foi também mantido em sigilo a localização exata do pesquisado, fazendo-se alusão somente ao país em o mesmo se encontra, no caso, o Brasil. 9 É oportuno esclarecer também que foram analisadas propagandas de instituições oriundas de vários estados da Federação, mas que somente foram selecionadas algumas, as quais serviram como amostra da situação em que as mesmas se encontram em relação ao tema proposto. 4 RESULTADOS Os dados desta investigação foram extraídos basicamente da internet, das divulgações feitas pelas próprias instituições e que são veiculadas na grande rede, sendo, portanto, procedente de fontes públicas que evidenciam apenas as atividades que são feitas publicamente, ainda que se presuma que os acordos que mais evidenciam o processo de vulgarização, de que trata estre trabalho, são feitos nos bastidores, não vindo a público, pelo menos não normalmente. Na busca por informações nos deparamos também com muitos anúncios de compra e venda de certificados. Houve uma dificuldade adicional para a pesquisa, visto que as instituições, sentindo, talvez, a incompatibilidade de suas ações, não estão mais expondo suas ‘vantagens’ de forma explicita, mas pedem os dados e contato dos interessados, para que então, procedam uma possível negociação dos cursos ou dos certificado, o que nos constrangeu a fazer alguns ajustes na metodologia, inclusive no que concerne à apresentação destes resultados. A IP1 (instituição pesquisada 1), apresenta a proposta de que se curse uma especialização em apenas 3 meses, se o pagamento for feito à vista, e 4 meses ou mais com outras formas de pagamento. A referida instituição apresenta outras ‘vantagens’: Além de concluir a Pós ou MBA do ‘IP1’ em um curtíssimo espaço de tempo e não precisar comprometer os demais meses do ano com o estudo, a vantagem é a possibilidade de conquistar uma promoção no trabalho e/ou ganhar um aumento de salário em menor prazo. Outra situação é que muitos órgãos públicos concedem adicional ao salário ou classificam melhor o candidato que possui curso de pós- graduação no currículo. Principalmente certos cargos da área de Educação que exigem do candidato a especialização para o candidato tomar posse. Por isso, a Pós intensiva é a melhor resposta para quem necessita rapidamente da titulação, de um aumento de salário ou de um melhor posicionamento no mercado. (dados da pesquisa) Na prática, o que pode ocorrer é que essas instituições oferecem os cursos com tão pequena duração, sob a alegação que a complementação das horas/aula são completadas ou 10 totalmente cumpridas em atividades realizadas exclusivamente pelos alunos, o que permite aos mesmos se valer de quaisquer meios para fazer as tarefas propostas, como ‘cola da internet’ ou a contratação de trabalhos prontos. Entretanto, existe uma quantidade mínima de horas estabelecida por lei e que devem ser utilizadas com os estudos. De acordo com o Ministério da Educação: Os cursos devem ter duração mínima de 360 (trezentos e sessenta) horas, nestas não computado o tempo de estudo individual ou em grupo, sem assistência docente, e o reservado, obrigatoriamente, para elaboração de monografia ou trabalho de conclusão de curso. A duração poderá ser ampliada de acordo com o projeto pedagógico do curso e o seu objeto específico. O interessado deve sempre solicitar o projeto pedagógico do curso; (Portal do MEC) O que está sendo observado aqui não é apenas a questão da legalidade ou não das atividades da empresa, mas que tipo de especialista se pode preparar, usando as próprias palavras da IP1, “em um curtíssimo espaço de tempo”. Ainda mais com as vantagens que se buscam, onde nada se fala de aumento na qualidade do serviço prestado por esse profissional. Na IP2, as propostas são semelhantes: conclusão em até 3 meses, prestações a partir de R$ 89,00 (a IP anterior não apresentou o valor do curso), certificado reconhecido pelo MEC (Dados da pesquisa). As motivações para se fazer os cursos são basicamente as mesmas para todas as instituições, sempre algo relacionado aquisição de títulos, promoções no trabalho, gratificação salarial, o que menos importa é a qualificação profissional. Sem dúvidas, tudo isso que é apresentado como incentivo a cursar uma pós é muito proveitoso. Porém, seria o pragmatismo e conveniência financeira as únicas razões pelas quais alguém poderia aderir a uma especialização? Em atmosfera de intenso debate quanto ao papel e às finalidades da pós-graduação e da qualidade de suas propostas acadêmicas, num tempo em que se demanda desses cursos que respondam à grande variedade de desafios sociais, tecnológicos, políticos e ecológicos, é de grande importância refletir sobre as condições atuais e o futuro desejável para os mesmos. (GATTI, 2001, p. 110,111) Em semelhante contexto, como se pode notar, começa-se até a cogitar sobre a finalidade dos cursos de pós-graduação, visto que são grandes as exigências sobre os mesmos em diversos aspectos. É evidente que os referidos cursos têm a sua relevância, o que está em debate não é isso, mas os rumos que estão tomando diante da mercantilização exacerbada desses bens educacionais. 11 Por semelhante modo às IPs anteriores, ocorre com a IP3 que apresenta como vantagens: “Conclua seu curso a partir de 4 meses; Pós-Graduação 100% online; cursos a partir de 89 R$/mês; Faculdade reconhecida pelo MEC” (Dados da pesquisa). Em muitos casos, há a possibilidade de supor que tais empresas tem uma proposta para conseguir a aprovação e reconhecimento do MEC e outra para atrair a adesão dos clientes, o que confirma a hipótese desta pesquisa, que assevera a desvenciliação do controle de qualidade em nome da obtenção de lucros. Em algumas a opcionalidade ou a desnecessidade da produção de um TCC é uma das atrações para os estudantes. Devido ao fato de as instituições apresentarem basicamente as mesmas propostas, com poucas diferenças, julgou-se suficiente que apenas três fossem tomadas como amostra. Reafirmando em todo caso, que essa não é a situação de todas as instituições localizadas, mas sim daquelas que, no afã de ganhar mais, financeiramente falado, flexibilizam as regras de modo exorbitante para atrair os que buscam algo mais fácil e efetivo. E, como já mencionado, nos deparamos com muitas organizações que, de modo aberto, extrapolam todos os limites de facilitação para os clientes, oferecendo certificados prontos e sem a necessidade de assistir sequer uma aula, o que se constitui crime, visto que a lei não permite esse tipo de comercio, que aqui poderia ser denominado de “tráfico de certificados”. A seguir temos a propaganda de uma dessas entidades virtuais: Você está com dificuldade de concluir seus estudos, devido aos inúmeros problemas e contratempos causados pela sua faculdade ou Escola? Entre em contato conosco para solucionarmos seus problemas! Oferecemos a venda de diplomas Ensino Superior ou Pós-Graduação em mais de 500 áreas para atuação profissional! Cursos através de instituições conceituadas positivamente pelo ENADE/MEC e resultados finais de conclusão do curso devidamente publicados no Diário Oficial da União (D.O.U). Escolha a data retroativa ou atual de conclusão do seu curso e desfrute de todos os benefícios e prerrogativas de um formado. (Dados da pesquisa) É evidente, todavia, que tal prática não possui amparo jurídico, sendo, portanto, ilegal. Assim, as pessoas ou empresas que incorrerem em semelhantes atos estão passíveis de sofrer sanções legais, o que, de acordo com Martins (2018), está tipificado no Código Penal, inclusive com reclusão, e também multa. Nas palavras desse articulista: Entretanto, comprar um diploma falso, além de representar um problema moral, também é crime e está tipificado nos artigos 297 e 304 do Código Penal Brasileiro, de modo que, responde pela mesma pena tanto aquele que fabrica o diploma falso, quanto aquele que faz uso do documento. (MARTINS, 2018, SN) https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10600423/artigo-297-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10599626/artigo-304-do-decreto-lei-n-2848-de-07-de-dezembro-de-1940 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/1033702/c%C3%B3digo-penal-decreto-lei-2848-40 12 No ‘trabalho de campo’, também foram encontrados mandados de prisões expedidos a desfavor de pessoas que compunham empresas de comercialização de certificados falsificados, por crimes como estelionato e formação de quadrilha. Tal conjuntura mostra a possibilidade de que haja uma grande quantidade de indivíduos gozando de títulos e prerrogativas, e mesmo exercendo mandatos com base e documentos falsos e formação que não obteve, o que, dependendo da área de atuação, pode pôr em risco até a integridade física das pessoas. (Dados da pesquisa) 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Na realização deste trabalho, as atividades de campo não foram como se projetou, com a fluidez que se esperava, visto que as empresas, objeto da pesquisa, não estão mais dispondo muitos dados na internet, talvez por admitir que suas propostas são incompatíveis com a seriedade e rigor que se espera de uma IES, frente à responsabilidade que assumem para com a população e a sociedade como um todo. Seria necessário fazer um cadastro em cada uma, nos fazendo passar por clientes, ação que poderia ser realizada, mas que optamos por evitar. Mesmo assim, algumas mantiveram suas propostas à amostra, pelo menos em parte, o que possibilitou a realização da pesquisa, de modo que os objetivos da mesma foram atingidos e a hipótese levantada achou-se verdadeira, pois as empresas IPs (instituições pesquisadas) demonstraram disposição para fazer muitas concessões sob a necessidade de conquistar clientes. Daí, como pode ser percebido, a tais instituições convém rever suas políticas e valores, a saber até que ponto se deve facilitar a aquisição de um título de especialista e, como se sabe que a tendência do erro e crescer, compete as autoridades do campo educacional aumentar a vigilância sobre as empresas credenciadas, a fim de que possa haver consonância entre o compromisso assumido com a lei e as propostas apresentadas aos estudantes/clientes. Em todo caso, verificou-se a existência fatídica de um processo de banalização dos cursos de pós-graduação em algumas instituições e que, se não houver um reencaminhamento, a tendência é que o número das mesmas aumente, levando inclusive outras a fazer adesão a tal atitude como uma maneira de manter-se no mercado, o que, no final das contas, seria mais 13 golpe na qualidade do sistema educacional brasileiro. Sendo um estudo bastante importante e polemico no meio acadêmico, se faz necessário novos estudos mais aprofundados para uma maior analise da temática em questão, para que se possa dar maior visibilidade a essa problemática educacional no Brasil. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Karla Nazareth Corrêa de. A pós-graduação no Brasil: história de uma tradição inventada. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação - Campinas, 2017. BRASIL. Código Penal Brasileiro. DECRETO-LEI No 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Disponível em: < www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm > Acesso em: 12/11/2019. ______. Constituição Federal de 1988. Promulgada em 5 de outubro de 1988. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm. Consulta em 07/09/2019. ______. Lato-Sensu - Saiba Mais. Portal de MEC – Ministério da Educação. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/32116 . Acesso em 11/11/2019. ______. Ministério de Educação e Cultura. LDB - Lei nº 9394/96, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional. Brasília - DF: MEC, 1996. Disponível em www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm Consulta em 07/09/2019. BORBA, Francisco S. Dicionário UNESP do Português Contemporâneo. Curitiba: Piá, 2011 CORDEIRO, Gauss. Banalização da Pós! Texto publicado na internet em 05/05/2009. Disponível em < https://www.ime.usp.br/~abe/lista/msg03645.html> Consulta em 30/08/2019. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. GATTI, Bernardete Angelina. Reflexão sobre os desafios da pós-graduação: novas perspectivas sociais, conhecimento e poder. Revista Brasileira de Educação - Set/Out/Nov/Dez, 2001, Nº 18. MARTINS, Fillipe da Silva. É crime comprar diploma universitário ou de Pós-graduação? Jusbrasil – Artigo – site: publicação. 2018. Disponível em < https://magalhaesmartins.jusbrasil.com.br/artigos/608964482/e-crime-comprar-diploma-universitario- ou-de-pos-graduacao > Acesso em: 10/11/2019. MORAES, Fernando Tadeu. Por que morre um curso de pós-graduação na melhor universidade do país? Folha de São Paulo (site), 2018. Disponível em < https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/03/por-que-morre-um-curso-de-pos-graduacao-na- melhor-universidade-do-pais.shtml> Consulta em 30/08/2019. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituição.htm http://portal.mec.gov.br/pos-graduacao http://portal.mec.gov.br/component/tags/tag/32116 http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L9394.htm https://www.ime.usp.br/~abe/lista/msg03645.html https://magalhaesmartins.jusbrasil.com.br/artigos/608964482/e-crime-comprar-diploma-universitario-ou-de-pos-graduacao https://magalhaesmartins.jusbrasil.com.br/artigos/608964482/e-crime-comprar-diploma-universitario-ou-de-pos-graduacao https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/03/por-que-morre-um-curso-de-pos-graduacao-na-melhor-universidade-do-pais.shtml https://www1.folha.uol.com.br/ciencia/2018/03/por-que-morre-um-curso-de-pos-graduacao-na-melhor-universidade-do-pais.shtml