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Sendo a sociedade civil, a esfera da produção e reprodução da vida material e o Estado, produto desta, não é possível afirmar que ele transcenda a sociedade, como postulava Hegel. Em verdade, ele expressa as suas contradições e os interesses da estrutura de classe inerentes às relações de produção. A burguesia, como detentora dos meios de produção, estende seu poder sobre o Estado, que apenas aparenta ser universal, mas, na verdade, representa os interesses da classe dominante, promovendo meios para a manutenção do status quo. “São as relações de produção de uma sociedade, os interesses de classes daí oriundos, sua correlação de forças, que determinam o Estado (suas normas, leis, autoridades, instituições) e não o contrário.” (DURIGUETTO; MONTAÑO, 2010, p. 37) O Estado expressa as relações sociais existentes no capitalismo, garantindo a propriedade privada e legitimando a dominação e a exploração do proletariado pela burguesia, de tal maneira que não é possível crer em um Estado imparcial. Sua função é justamente conter e conservar os conflitos nos limites da ordem. Analisando as particularidades do Estado no capitalismo dependente, vemos que na América Latina e, mais especificamente, no Brasil, o Estado como características a subsoberania e a superexploração. Não há um projeto político autônomo e nacional de desenvolvimento, ao mesmo tempo, em que os processos produtivos não estão voltados a garantir as necessidades da classe trabalhadora. Outra característica importante da estrutura estatal no contexto capitalista dependente é seu caráter coercitivo. Como vemos em Osório (2019, p. 17), o “Estado é muito mais que coerção, mas é principalmente violência concentrada.” Em síntese, o Estado não ocupa um papel mediador nas relações sociais da sociedade capitalista, mas sim de legitimador dos interesses da burguesia. Em tempo, cabe refletir sobre os aspectos históricos que nos levaram a ser quem somos enquanto sociedade. Nosso tempo presente foi construído com ações e omissões realizadas no passado, da mesma maneira que estamos hoje construindo nosso futuro, ao reproduzir essas mesmas ações e omissões. O não-conhecimento da nossa história é projeto (RAMPINELLI, 2014). Um projeto burguês impossível de ser levado a cabo sem o Estado. DURIGUETTO, Maria Lúcia; MONTAÑO, Carlos. Estado, classe e movimento social. São Paulo: Cortez, 2010. (Coleção Biblioteca Básica do Serviço Social, n. 5). OSORIO, Jaime. O Estado no capitalismo dependente. In: OSORIO, Jaime. O Estado no centro da mundialização: a sociedade civil e o tema do poder. 2ªed. São Paulo: Expressão Popular, 2019, p. 205-238 [cap. 7]. RAMPINELLI, Waldir José. Um genocídio, um etnocídio e um memoricídio praticados contra os povos latino-americanos (Resenha de: BAEZ, Fernando. A história da destruição cultural da América Latina: da conquista à globalização). In: REBELA, v.4, n.3. set./dez. 2014. Disponível em: <http://www.iela.ufsc.br/rebela/revista/volume-4-numero-3-2014/rebela/revista/resenha/historia-da-destruicao-cultural-da> Acesso em 15 de agosto.2020.
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