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2017 ALTAS HABILIDADES Altas Habilidades Equipe de Elaboração Instituto Mineiro de Formação Continuada Coordenação Geral Ana Lúcia Moreira de Jesus Gerência Administrativa Marco Antônio Gonçalves Professor-autor Kênia Missuti Coordenação de Design Instrucional do Material Didático Eliana Antônia de Marques Diagramação e Projeto Gráfico Cláudio Henrique Gonçalves Revisão Ana Lúcia Moreira de Jesus Organização do conteúdo: Profº Me. Márcio Antônio Rodrigues ZAYN –Instituto Mineiro de Formação Continuada Travessa Antônio Olinto, 33 – Centro Carmópolis de Minas – MG CEP: 35.534-000 TEL: (31) 9 8844-2523 Altas Habilidades Apresentação Caro aluno! O modo como a sociedade tem olhado a superdotação tem sido sempre numa perspectiva de privilégio e, invariavelmente, associando-a exclusivamente à competência acadêmica. Se você escolheu esse curso, parabéns! Aproveite bem o conteúdo e deixe dentro das suas possibilidades continuar se capacitando conosco. Os alunos com essas características dispensariam qualquer tipo específico de atendimento. Esta leitura tem gerado situações de segregação e/ou evasão escolar, inclusive com o encaminhamento desses alunos para os serviços voltados à deficiência cognitiva ou problemas comportamentais. Os Parâmetros Curriculares Nacionais, ao enfatizar a necessidade de respeito à diversidade, fazem-no para evidenciar que as políticas públicas têm de se opor frontalmente àquelas posturas. Nesse contexto, em relação aos alunos que apresentam altas habilidades/superdotação, o respeito à diversidade deve se concretizar em medidas que levem em conta não só suas capacidades intelectuais, mas também os seus interesses e motivações. Esperamos que este material contribua no desenvolvimento da formação docente a partir dos conhecimentos e temas abordados e desta forma, sejam elaborados projetos pedagógicos que contemplem conceitos, princípios e estratégias educacionais inclusivas que respondam às necessidades educacionais especiais dos alunos e propiciem seu desenvolvimento social, afetivo e cognitivo. Bons estudos! Altas Habilidades “Cuidar e assistir o superdotado é de certo modo predestinar os rumos da sociedade futura”. Helena Antipof – 1971 Altas Habilidades EMENTA A educação e os cuidados são amplamente reconhecidos como fatores fundamentais do desenvolvimento global da criança, o que coloca para os sistemas de ensino o desafio de organizar projetos pedagógicos que promovam a inclusão de todas as crianças. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional impulsionou o desenvolvimento da educação e o compromisso com uma educação de qualidade, introduzindo um material específico que orienta para o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, que deve ter início na educação infantil. CONTEÚDO PROGRAMÁTICO • UNIDADE I: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E POLÍTICAS. • UNIDADE II: COMO IDENTIFICAR A CRIANÇA COM ALTAS HABILIDADES/ SUPERDOTAÇÃO EM IDADE PRÉ-ESCOLAR. • UNIDADE III: O QUE É INTELIGÊNCIA? Altas Habilidades SUMÁRIO UNIDADE I: CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E POLÍTICAS.................................................................................................................7 Mitos sobre superdotação.............................................................................................................11 Terminologia..............................................................................................................11 Definição de superdotado...............................................................................................................11 Características intelectual..................................................................................................................12 UNIDADE II: COMO SE MOSTRA A ASSINCRONIA CARACTERÍSTICA DAS ALTAS HABILIDADES?............................................................................................13 Como identificar a criança com altas habilidades/ superdotação em idade pré- escolar.......................................................................................................................18 UNIDADE III: O QUE É INTELIGÊNCIA?..................................................................20 O que medem os testes de inteligência?...................................................................21 Expectativas de aprendizagem..................................................................................22 Material pedagógico e recursos tecnológicos............................................................22 Atividades a serem desenvolvidas ............................................................................22 Quem pode fazer a identificação?..............................................................................22 Que cuidados são necessários na identificação e no encaminhamento da pessoa com altas habilidades ................................................................................................24 O que fazer com o aluno que tem altas habilidades?................................................25 Referências bibliográficas .........................................................................................27 Atividades complementares ......................................................................................28 Altas Habilidades UNIDADE I CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS E POLÍTICAS A educação e os cuidados na infância são amplamente reconhecidos como fatores fundamentais do desenvolvimento global da criança, o que coloca para os sistemas de ensino o desafio de organizar projetos pedagógicos que promovam a inclusão de todas as crianças. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional impulsionou o desenvolvimento da educação e o compromisso com uma educação de qualidade, introduzindo um capítulo específico que orienta para o atendimento às necessidades educacionais especiais dos alunos, que deve ter início na educação infantil. Uma educação democrática deve levar em consideração as diferenças individuais e, portanto, oferecer oportunidades de aprendizagem conforme as habilidades, interesses, estilos de aprendizagem e potencialidades dos alunos. Nesse sentido, alunos com altas habilidades/superdotados merecem ter acesso a práticas educacionais que atendam às suas necessidades, possibilitando um melhor desenvolvimento de suas habilidades. Segundo Renzulli (1986), o propósito da educação dos indivíduos superdotados é fornecer aos jovens oportunidades máximas de auto realização por meio do desenvolvimento e expressão de uma ou mais áreas de desempenho onde o potencial superior esteja presente (p. 5) Várias são as razões para justificar a necessidade de uma atenção diferenciada ao superdotado. Uma delas é por ser o potencial superior um dos recursos naturais mais preciosos, responsável pelas contribuições mais significativas ao desenvolvimento de uma civilização. Com relação a esse aspecto, Sternberg & Davidson (1986) lembram, por exemplo, que, quando se volta à história e se buscam os pilares das grandes civilizações, invariavelmente as contribuições artísticas, filosóficas e científicas, frutos da inteligência, talento e criatividade de alguns indivíduos ou grupos de indivíduos, são apontadas ou enaltecidas. Com relação à educação infantil, sabe-se que o período que antecede a educação fundamental é da maior importância para o desenvolvimento cognitivo e psicossocial. Nesse período, as influências do ambiente desempenham um papel fundamental para o desenvolvimento do potencial decada criança. Altas Habilidades Propiciar condições que permitam a ela expressar seus interesses e desenvolver possíveis talentos deveria ser o ponto de partida de uma educação diferenciada. Observa-se, entretanto, que poucas são as oportunidades educacionais oferecidas ao aluno com altas habilidades/superdotado para desenvolver de forma mais plena as suas habilidades. Uma possível explicação para este cenário são os vários mitos sobre o superdotado, frequentes em nossa sociedade, que constituem entrave à provisão de condições favoráveis à sua educação. Predomina, por exemplo, a ideia de que esse indivíduo tem recursos suficientes para desenvolver suas habilidades por si só, não sendo necessária a intervenção do ambiente. No entanto, é preciso salientar e divulgar entre educadores que o aluno com altas habilidades/superdotado necessita de uma variedade de experiências de aprendizagem enriquecedoras, que estimulem seu potencial. Outro mito é que essa criança apresenta necessariamente um bom rendimento escolar. Porém, o que se tem observado é que indivíduos superdotados podem apresentar um rendimento aquém de seu potencial, revelando uma discrepância entre seu potencial e seu desempenho real (Alencar & Fleith, 2001; Alencar & Virgolim, 1999). Muitas vezes, o aluno com altas habilidades/superdotado pode ficar desmotivado com as atividades implementadas em sala de aula, com o currículo ou métodos de ensino utilizados (especialmente a excessiva repetição do conteúdo, aulas monótonas e pouco estimuladoras, e ritmo mais lento da classe). Acredita-se, ainda, que superdotação é um fenômeno raro e que são poucas as crianças e jovens de nossas escolas que poderiam ser considerados superdotados. O que pode ser salientado é que se realmente as condições forem inadequadas, dificilmente o indivíduo com um potencial maior terá condições de desenvolvê-lo. Assim, da mesma forma que uma boa semente necessita de condições adequadas de solo, luz e umidade para desenvolver-se, também o aluno com altas habilidades/superdotado necessita de um ambiente adequado estimulador e rico em experiências. Observa-se, também, uma tendência no sentido de se acreditar que os superdotados estariam concentrados em apenas uma parcela da população, que seria entre indivíduos do sexo masculino, de nível socioeconômico médio. De modo geral, tanto a mulher como o indivíduo proveniente de um meio pobre que apresentem uma habilidade ou um talento especial tendem não apenas a passar despercebidos, mas também a sofrer uma pressão no sentido de um desempenho mais baixo (Alencar & Fleith, 2001). Altas Habilidades Superdotação tem sido vista, erroneamente, como genialidade. Esses termos, entretanto, não são sinônimos. O gênio seria aquele indivíduo reconhecido por ter dado uma contribuição original e de grande valor para a sociedade (por exemplo, Einstein, Darwin, Picasso). No âmbito das políticas educacionais, inicialmente, as diretrizes básicas da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e do Desporto (Brasil, 1995) consideravam superdotados (ou portadores de altas habilidades) aqueles alunos que apresentavam notável desempenho e/ou elevada potencialidade em qualquer dos seguintes aspectos, isolados ou combinados: capacidade intelectual, aptidão acadêmica ou específica (por exemplo, aptidão matemática), pensamento criativo e produtivo, capacidade de liderança, talento para artes visuais, artes dramáticas e música e capacidade psicomotora. Atualmente, segundo o artigo 5º, parágrafo III, da Resolução CNE/CEB Nº 2, de 2001, que instituiu as Diretrizes nacionais para a educação especial na educação básica (Brasil 2001d), educandos com altas habilidades/superdotação são aqueles que apresentam grande facilidade de aprendizagem, levando-os a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. Como consequência, estes alunos apresentam condições de aprofundar e enriquecer conteúdos escolares. Considerando as políticas educacionais inclusivas, o aluno deve ser cada vez mais atendido em seus interesses, necessidades e potencialidades, cabendo à escola ousar, rever suas concepções e paradigmas educacionais, lidando com as evidências que o desenvolvimento humano oferece. Uma criança pré-escolar que apresente um desenvolvimento cognitivo, socioafetivo e/ ou psicomotor diferenciado e avançado para a idade não pode ser desconsiderada e/ou desqualificada no âmbito escolar. Nesse sentido, é importante atender os alunos de altas habilidades/superdotados, considerando seu desenvolvimento real, evitando contemplar níveis de desenvolvimento padronizados, conforme os apresentados em escalas de desenvolvimento. Cabe, portanto, à escola definir no projeto pedagógico seu compromisso com uma educação de qualidade para todos seus alunos, inclusive o de altas habilidades/superdotados, respeitando e valorizando essa diversidade, e definindo sua responsabilidade na criação de novos espaços inclusivos. Além disso, é na educação infantil que se aponta para a possibilidade de realização de novas interações sociais por meio dos reagrupamentos escolares, conforme preconizam os artigos 23 e 24 da nova LDBEN e que buscam, em última instância, não que o aluno se amolde ou se adapte à escola, mas que a escola se Altas Habilidades coloque à disposição do aluno, como um espaço inclusivo. Na educação infantil se inicia a construção de um processo escolar que poderá ser concluído em menor tempo quanto à série em que o aluno esteja cursando, etapa escolar em que o aluno esteja inserido ou mesmo em relação a toda a sua escolarização. Dessa forma, é fundamental oferecer desafios suplementares aos alunos de altas habilidades/superdotados. Para isso é importante a definição de um projeto pedagógico que inclua a modalidade de ensino educação especial no cotidiano escolar, oferecendo aos alunos de altas habilidades/ superdotados alternativas motivadoras e criativas de aprendizagem que possam garantir o seu sucesso escolar. Mitos sobre o Superdotado • Superdotação é um fenômeno raro, sendo muitas vezes associado à genialidade. • Supervalorização de fatores genéticos, subestimando o papel do ambiente para o desenvolvimento de habilidades e competências. • O potencial superior desenvolver-se-á apenas em contextos de nível socioeconômico médio ou elevado. • Superdotação é sinônimo de hiperatividade. • Superdotados constituem um grupo homogêneo em termos cognitivos e afetivos. • Superdotados sempre apresentam um excelente rendimento escolar em todas as áreas. Terminologia • Criança Prodígio: realizam algo fora do comum para sua idade sem que tenham tido um treinamento nessas competências. Geralmente identificadas em idade pré- escolar. • Criança Precoce: antecipa determinados comportamentos relativamente à idade em que são esperados, nem toda criança precoce é superdotada. Definição de Superdotação Altas Habilidades • Indivíduo que se sai bem nos testes de inteligência, ou que apresenta um desempenho intelectual superior. • QI alto. • Potencial superior: Habilidade geral intelectual, aptidão acadêmica específica, criatividade, liderança, artes e/ou habilidade psicomotora. • Aqueles que apresentam grande facilidade de aprendizagem, levando-os a dominar rapidamente conceitos, procedimentos e atitudes. (Resolução CNE/CEB no. 2/2001 das Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica) Características Intelectuais: • Curiosidade. • Ritmo de aprendizagem rápido. • Vocabulário avançado. • Fluência de ideias. • Originalidade de ideias. • Paixão por aprender. • Grande concentração. • Boa memória Características Intelectuais. • Preferência pelo trabalho independente. • Interesses diversos. • Grande bagagem de informações sobre temas de seu interesse. • Habilidades de leiturae escrita em tenra idade. • Linguagem precoce. • Interesse por atividades de resolução de problemas. • Grande atividade imaginativa. • Associação rica de imagens. • Uso frequente de imagens e metáforas. • Pensamento lógico. Ver vídeo: Altas Habilidades/Superdotação: Um Guia Animado Para Professores. https://www.youtube.com/watch?v=PcS3dLBs1Dw UNIDADE II Altas Habilidades COMO IDENTIFICAR A CRIANÇA COM ALTAS HABILIDADES/ SUPERDOTAÇÃO EM IDADE PRÉ-ESCOLAR É importante ressaltar que crianças superdotadas em idade pré-escolar constituem um grupo heterogêneo em termos de interesses, níveis de habilidades, desenvolvimento emocional, social e físico (Cline & Schwartz, 1999). Nesse sentido, podemos nos deparar com uma criança avançada do ponto de vista intelectual, mas imatura emocionalmente. O professor deve estar atento a essa possível falta de sincronia entre desenvolvimento intelectual e afetivo ou físico. Por exemplo, uma criança superdotada pode apresentar leitura precoce, porém ter dificuldade em manipular um lápis, pois suas habilidades motoras não estão totalmente desenvolvidas. Além disso, a habilidade superior demonstrada por essa criança pode ser resultado de uma estimulação intensa por parte das pessoas significativas de seu ambiente. Ao atingir a idade escolar, o desenvolvimento dessa criança pode se normalizar e ela passar a apresentar um desempenho semelhante aos alunos de sua idade. Por isso, nem sempre uma criança precoce poderá ser caracterizada como superdotada. É essencial, portanto, acompanhar o desempenho dessa criança, registrando habilidades e interesses demonstrados ao longo dos primeiros anos de escolarização, oferecendo várias oportunidades estimuladoras e enriquecedoras ao seu potencial. Dentre as características mais comumente encontradas em crianças superdotadas em idade pré-escolar destacam-se (Cline & Schwartz, 1999; Lewis & Louis, 1991): • Alto grau de curiosidade. • Boa memória. • Atenção concentrada. • Persistência. • Independência e autonomia. • Interesse por áreas e tópicos diversos. • Aprendizagem rápida. • Criatividade e imaginação. • Iniciativa. • Liderança. • Vocabulário avançado para a sua idade cronológica. • Riqueza de expressão verbal (elaboração e fluência de ideias). Altas Habilidades • Habilidade para considerar pontos de vistas de outras pessoas. • Facilidade de interagir com crianças mais velhas ou com adultos. • Habilidade para lidar com ideias abstratas. • Habilidade para perceber discrepâncias entre ideias e pontos de vista. • Interesse por livros e outras fontes de conhecimento. • Alto nível de energia. • Preferência por situações/objetos novos. • Senso de humor. • Originalidade para resolver problemas. A aparentemente sutil mudança nas definições reflete a evolução do pensamento sobre o tema, assim como as alterações na terminologia. Partindo, inicialmente, de um quadro mais engessado, passamos a considerar as altas habilidades como um fenômeno multidimensional e complexo, que agrega o desenvolvimento cognitivo, afetivo, neuropsicomotor e de personalidade. O que complica as coisas para quem procura fórmulas ou receitas: nesse caso, cada caso é um caso! Alguns exemplos trazidos pelas equipes de Educação Especial das Diretorias de Ensino aos encontros de capacitação oferecidos no CAPE em 2007 podem mostrar essa complexidade: R., 17 anos, cursando a 2a série do ensino médio. Nasceu em 1990 e residiu em fazenda, onde passou a infância até 2007. Durante a infância e adolescência trabalhou com o pai na zona rural cuidando da terra. Vivenciou os cuidados com as máquinas agrícolas, tratores, material orgânico, colheita e transporte. Desde a 3a série do Ensino Fundamental passou a aperfeiçoar seu desenho. Desenhava e pintava seus desenhos à noite, após um dia de trabalho exaustivo no campo, registrando o que havia visto e feito durante o dia. Com espírito criativo e amor pela arte, faz-nos lembrar de nossos grandes artistas que retratavam a vida simples, o cotidiano. O enfoque da obra de R. é o amor à vida no campo, à família, às coisas simples da vida rural. Podemos comparar suas obras às de Cândido Portinari, que também demonstrava seu amor às crianças, à família, à natureza e às coisas simples da vida de Brodowski. R. apresenta rendimento escolar satisfatório, mas seu comportamento em sala de aula é imaturo, com atitudes infantis, comentários inoportunos, inconstância, inclusive atrapalhando os colegas e o professor. Tem potencial para se esforçar mais e melhorar seu desempenho. A Altas Habilidades aluna foi matriculada pela primeira vez em uma instituição de ensino aos cinco anos, cursou o Jardim II – Educação Infantil. Cursou o ensino Fundamental sempre recebendo notas altas em todas as matérias. Matriculou-se em escola estadual e se destacou em todas as disciplinas. Hoje está na segunda série do ensino médio e mantém o mesmo desempenho dos anos anteriores. Em entrevista com a mãe, a mesma nos informou que R. lê muito, está sempre à procura de livros em casa e frequenta com assiduidade a biblioteca municipal, assim como a biblioteca da escola. Nas atividades de lazer gosta de assistir a filmes de ação e romance. Não tem hábito de sair de casa, algumas vezes vai ao shopping com as colegas de classe. A aluna se concentra durante a explicação dos professores, ajuda seus colegas nas atividades de sala de aula. Frequenta o curso de Espanhol no CEL – Centro de Estudos de Línguas e também tem ótimas notas. É tímida, fala baixo e mesmo na sala de aula não tece comentários sobre a aula, no entanto presta muita atenção em tudo que é dito pelos professores e consegue se concentrar mesmo quando a classe não está em silêncio. Não tem certeza sobre o que vai cursar na universidade, mas tem muita vontade de ingressar em uma universidade pública, na área de desenho gráfico. Recebeu proposta de bolsa de estudo em um colégio particular, muito conceituado, mas recusou, pois quer ser contemplada pela política de cotas para se beneficiar de Programas, tais como Escola da Família, PROUNI ou outros. Apesar de seu ótimo desempenho em todas as disciplinas, verbalizou que tem preferência por Arte e tem habilidade para desenho. Por dois anos consecutivos recebeu menção honrosa por participar das Olimpíadas de Matemática e ser bem classificada em nível nacional. Nesse ano participou da primeira fase e foi classificada para a segunda, que será dentro em breve. Na escola, é evidente a facilidade que a aluna apresenta ao redigir textos. Sua competência leitora é de alunos de faixa etária e escolaridade superior. Quanto às atividades propostas pelos professores, a aluna termina antes dos demais colegas e geralmente procura desenhar ou fazer trabalhos de origami. Tem prazer em realizar atividades diversas (desafio); excelente atenção e concentração; facilidade em aplicar o conhecimento teórico nas situações diárias; vocabulário avançado, grande bagagem de informações das mais variadas áreas e facilidade para lembrar informações (memória fotográfica); perspicácia para estabelecer relações de causa e efeito; necessidade de pouca intervenção dos docentes. Altas Habilidades k., cursando a 1a série do ensino médio, 15 anos. Dados Familiares: É muito pobre, tem a mãe como exemplo de vida. É amoroso e ajuda muito nos afazeres da casa, no dia-a-dia, desde pequeno, sempre foi muito inteligente. Dados escolares: Desde a 5a série está na escola que o identificou e sempre se destacou entre os demais colegas de classe. Habilidades: É autodidata, busca instrução sem o auxílio dos professores. É apaixonado por leitura de todos os tipos, destacou-se em um concurso de Poesia em 2006, em 2o lugar, na categoria de 9 anos, resolve os exercícios de matemática, física e química mentalmente e explica claramente o desenvolvimentopara chegar à resposta correta. Quase sempre descobre novos caminhos para resolver o mesmo exercício, estratégias avançadas para resolução de problemas. Tem raciocínio rápido, é inteligente, participa ativamente de todas as aulas. Dá opiniões, questiona e complementa os assuntos tratados em sala de aula pelos colegas e professores, tem iniciativa, interesse e concentração. É disciplinado, criativo e responsável, chegando até a reproduzir um comportamento mais adulto. Dificuldades: Não tem cadernos em ordem, tem letra feia e dificuldade de escrita, só copia matéria nas disciplinas que interessam. Não se relaciona muito com os colegas, vive meio isolado. É desleixado com a aparência física e muito pessimista. O que não podemos perder de vista é que essa definição é uma construção, baseada na relatividade dos eventos, ou seja, sempre coloca duas ou mais coisas em relação: a criança e os colegas de classe e/ou crianças da mesma idade; o desempenho, as oportunidades e as necessidades sociais; os recursos educativos e as necessidades especiais; e assim por diante. O conceito é influenciado pelo contexto histórico e cultural: varia em cada cultura e momento social. Então, ninguém tem altas habilidades no abstrato. Detalhando um pouco esse raciocínio, podemos partir do dito popular que diz “em terra de cego, quem tem olho é rei”. Potenciais diferenciados não são feitos das habilidades estereotipadas que imaginamos que constituem o “gênio nota 10”, são, ao contrário, fruto de capacidades e necessidades individuais, constituídos de múltiplas habilidades articuladas diferentemente em cada indivíduo. Além de ter que partir de uma contextualização, como acabamos de ver, a identificação das altas habilidades é, mais que tudo, a identificação de uma assincronia, quer dizer, de uma ou mais funções que se desenvolvem primeiro ou Altas Habilidades mais que as outras que, por sua vez, permanecem no seu nível normal de desenvolvimento ou até abaixo dele. Podemos afirmar, com Ourofi no e Guimarães (2007), que as altas habilidades podem ser definidas, exatamente, por essa assincronia: a pessoa com altas habilidades tem um desenvolvimento desigual nos diferentes aspectos que a constituem. Isso vem apenas confirmar o que foi dito acima, que o estabelecimento dessas definições implica relatividade, mais que dados precisos e absolutos. COMO SE MOSTRA A ASSINCRONIA CARACTERÍSTICA DAS ALTAS HABILIDADES? Ela aparece quando alguma das capacidades humanas se desenvolve mais que as outras. Está presente em crianças que não parecem brilhantes, mas se destacam jogando bola, por exemplo. Naquelas que têm um raciocínio muito rápido, mas são lentas ao expressá-lo, em crianças que apresentam dificuldades na alfabetização, mas são destacadamente rápidas e fluentes administrando pequenas vendas e lidando com dinheiro. Às vezes são pessoas que, mesmo adultas, desenvolveram seu potencial intelectual e/ ou motor, mas com um desenvolvimento emocional que parece não ter seguido no mesmo ritmo. Ou seja, exceto os raríssimos casos de pessoas com múltiplas capacidades, há uma habilidade predominante que se destaca das demais, num sentido positivo: a pessoa faz aquelas coisas mais, melhor que os outros, e melhor que as outras coisas que ela mesma faz, porém é muito provável que essa posição de frente esteja mais evidente no aspecto intelectual e a criança encontre-se emocionalmente solitária. (Landau, 2002) Em alguns casos, essa assincronia é tão forte que aparece na mesma pessoa, por um lado, através de desempenhos excepcionais, e, por outro, em déficits de algumas funções. São os casos que denominamos como dupla excepcionalidade. Isso quer dizer que uma pessoa pode ser surda, por exemplo, e muito inteligente; ou ter sérias dificuldades na área social (como nos casos de Síndrome de Asperger, por exemplo), associadas a um excelente desempenho acadêmico em alguma área específica. Significa, também, que temos de estar atentos para essa possibilidade, de não estarmos percebendo uma alta habilidade Altas Habilidades oculta pelo que já classificamos como deficiência ou, como vem sendo cada vez mais comum, transtorno de comportamento. Como se mostra a assincronia característica das altas habilidades? Podemos comparar a criança superdotada ao fundista – o atleta que corre longas distâncias – porque está adiante da maioria. R., 5a série, tem altas habilidades e síndrome de Asperger. É muito inteligente, gosta de ciências, política. Fala bem, mas não encara ninguém, por causa da síndrome, fica nervoso, o que o coloca distante do grupo. O que fazer para que pudesse se integrar? Ele se dá bem com os adultos, se deu bem com a coordenadora, que tem bases na Psicanálise, ela, então, criou um trabalho de monitoria, na área de ciências. Foi legal porque a professora topou, uma vez que, se o professor não topa, não tem o trabalho. R. não tem computador em casa, usa o da escola para pesquisar. O objetivo não é ir além do que pode ser oferecido para ele? Fazia a pesquisa sobre o assunto que a professora ia trabalhar, e a partir dessa pesquisa apresentava o trabalho junto com a professora. Ele se sentiu muito bem. Ele se integrou, entrar em contato com o computador foi uma coisa fantástica, e ele realmente aproveitou, e fez o trabalho. Ele já está olhando para as pessoas. O olhar dele já mudou, você sente uma confiança, e os colegas também, olhando já diferente, porque ele sabe mais que todo mundo, mas não usa essa sabedoria para se impor. J., de 16 anos, frequentou a APAE até os 13 anos, quando foi matriculado numa classe especial, foi inserido no ensino comum em 2005, numa escola que não conta com Serviço de Apoio Pedagógico Especializado, em 2007 foi matriculado na 5a série de uma escola que possui uma Sala de Recursos, onde o aluno é atendido por uma professora especialista. Tem dificuldades em fornecer dados básicos, como nome próprio, idade, rua, bairro; demonstra a compreensão razoável para ordens simples, transmite apenas recados simples. Interage satisfatoriamente com adultos e colegas. Apresenta razoável nível de atenção e concentração para execução de tarefas, e demonstra interesse em realizar as tarefas com capricho, mas em ritmo lento. Reconhece semelhanças e diferenças entre figuras, percebe detalhes simples, apresenta boa coordenação. Altas Habilidades Unidade III O QUE É INTELIGÊNCIA? Inteligência é entendida, na maior parte das vezes, como a capacidade mental de raciocinar. Classicamente, a inteligência é equivalente à racionalidade, manifestação humana que nos diferencia dos demais entes do mundo. Racionalidade, por sua vez, é identificada como a capacidade de raciocinar, de usar a razão. E razão é a potencialidade humana de estabelecer relações lógicas, processo tradicionalmente identificado com o de conhecer. As capacidades humanas priorizadas no estudo da inteligência até agora, portanto, foram predominantemente aquelas que permitem que o sujeito possa, usando seu pensamento e a partir das observações que efetua, estabelecer relações lógicas, deduzir acontecimentos possíveis, abstrair conceitos, organizando-os e sistematizando-os de forma clara e unívoca. As explicações para a existência e o funcionamento da inteligência vão desde o dom divino até a bioquímica do cérebro. Passam pela herança genética, pela análise dos comportamentos e da influência do meio ambiente. Compreendem também o estudo da linguagem humana, a mais complexa entre as espécies, origem ou manifestação da inteligência. Tantos estudos acabaram por relativizar o conceito de inteligência, que todos ainda usam como se estivessem falando da mesma coisa. Alguns consideram-na uma capacidade única: uma inteligência geral. Outros falam em fatores separados, relativos a maneiras diferentes de abordagem de campos da realidade.E há ainda os que definem a inteligência como as duas coisas: um fator geral e alguns específicos, sobre os quais há discordâncias. Alguns comportamentos são considerados manifestações de inteligência, e são considerados o caminho para medir a inteligência de uma pessoa. Temos que considerar, nesse caso, se existem ou não, e em que medida são eficientes na relação do indivíduo com o mundo que o cerca. O QUE MEDEM OS TESTES DE INTELIGÊNCIA? Altas Habilidades Os testes medem, como foi dito acima, algumas habilidades definidas de antemão como componentes da inteligência. O teste, portanto, depende da concepção de inteligência de seu criador. 1. Há testes que avaliam apenas a inteligência geral. Normalmente são testes não-verbais, isto é, compostos apenas por figuras, e não por palavras. Neles, o sujeito deve estabelecer relações lógicas cada vez mais complexas. Por serem não- verbais, considera-se que superem as fronteiras culturais, podendo ser aplicados a qualquer população. Neste grupo encontramos testes como o Equicultural de Inteligência, desenvolvido no Brasil, e o reconhecido Teste de Matrizes Progressivas de Raven, normalmente considerado o mais eficaz na identificação das altas habilidades. 2. Há testes que consideram aspectos gerais da inteligência, como a capacidade de desenvolver raciocínio abstrato, e aspectos específicos. Neste grupo encontram-se os instrumentos mais usados: a Escala Wechsler de Inteligência e a Escala Terman-Merrill. São testes complexos, que avaliam aspectos como memória, habilidade verbal, raciocínio matemático, manejo de situações da vida prática, organização no tempo e no espaço, habilidade motora, entre outras coisas. Essa forma de identificação tem, entretanto, limites. As classificações numéricas de nível mental têm poucas aplicações práticas, a principal delas é a separação de diferentes grupos com fins educacionais. Essa foi a origem dos testes de inteligência, e a intenção nessa separação era incentivar o uso de recursos pedagógicos diferenciados conforme as necessidades das pessoas. Sabemos, no entanto, os resultados dessa medida, com relação à sua consequência mais indesejável: a discriminação. Além disso, a redução da pessoa a um número não é eficiente quanto aos procedimentos educacionais, uma vez que não há duas pessoas com um mesmo Q.I. que sejam iguais. Assim, podemos concluir que essa modalidade de avaliação, quando usada exclusivamente, tira de contexto os diferentes modos de “ser inteligente”, que são infinitas formas de arranjo de comportamentos inteligentes. EXPECTATIVAS DE APRENDIZAGEM Crianças com altas habilidades/superdotadas em idade pré-escolar devem vivenciar diversas situações de aprendizagem de forma a desenvolver suas habilidades e talentos, isso significa implementar atividades que envolvam o Altas Habilidades pensamento criativo (produção de muitas ideias originais e variadas) e crítico, e que levem a criança a fazer conexões entre ideias, resolver problemas e levantar questionamentos. É importante, ainda, proporcionar à criança oportunidades para explorar mais amplamente um tema de seu interesse. Sob uma perspectiva efetiva, espera-se que a criança com altas habilidades/superdotada desenvolva suas habilidades interpessoais e de comunicação, autonomia, iniciativa, um autoconceito positivo, e uma compreensão do outro e seu ponto de vista. MATERIAL PEDAGÓGICO E RECURSOS TECNOLÓGICOS Embora estejamos cônscios dos recursos limitados em muitas escolas, em termos ideais um ambiente estimulador deve incluir material de consulta diversificado impresso ou eletrônico (por exemplo, livros, revistas, jornais, enciclopédias, dicionário, programas de computador), materiais para manipulação e exploração (brinquedos, bolas, blocos e jogos pedagógicos, objetos com sons e formatos diferentes, lupas e lentes de aumento), equipamentos (vídeo, globo terrestre, aparelho de som e, se possível, computador). Além disso, seria altamente desejável que o aluno tivesse oportunidade de conhecer e frequentar bibliotecas, de participar de atividades (na escola ou em outros locais da comunidade), conforme seu interesse e área de habilidade. Na área artística, materiais de consumo como tintas, lápis, pincéis, canetas, massinha, argila, telas, bem como instrumentos musicais (flauta, por exemplo) devem, também, ser disponibilizados aos alunos. É relevante ressaltar a necessidade não apenas de recursos materiais, como também de recursos humanos diversos (por exemplo, bibliotecário, professores bem qualificados de música, educação física, educação artística, etc.). ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS Um projeto pedagógico inclusivo para alunos de altas habilidades na pré- escola não pode deixar de considerar as atividades que favoreçam o saber- aprender, o saber-fazer e o saber-ser, favorecendo aprendizagens para toda a vida. Seeley (1998) sugere o desenvolvimento de atividades que envolvam o uso da linguagem, a representação de experiências e ideias, o raciocínio lógico e criativo, a Altas Habilidades compreensão de tempo e espaço e uma aprendizagem ativa por parte do aluno com altas habilidades/superdotado. Exemplos de atividades são: • Descrição de objetos, eventos e relações. • Conversa com colegas acerca de experiências importantes. • Expressão de sentimentos em palavras. • Ouvir e criar ou completar histórias. • Ouvir, criar ou recriar canções. • Imitações ou criações de sons. • Sonorizar poemas (por meio de sons do corpo, objetos ou instrumentos musicais). • Dramatizações. • Reconhecimento de objetos pelo som, cheiro e formato. • Identificação de diferenças e semelhanças entre objetos. • Descrição de objetos de várias maneiras. • Comparação de tamanho, peso, texturas, comprimento, etc. • Observação de objetos sob diferentes perspectivas. • Representação de seu corpo. • Descrição de relações espaciais presentes em desenhos e figuras. Alencar & Fleith (2001) sugerem outras atividades a serem implementadas com alunos superdotados: • Atividades que levem o aluno a produzir muitas ideias. • Atividades que levem o aluno a brincar com ideias, situações e objetos (ex.: brincadeiras de faz-de-conta: casinha, supermercado, etc.). • Atividades que envolvam análise crítica de um acontecimento. • Atividades que estimulem o aluno a levantar questões. • Atividades que levem o aluno gerar múltiplas hipóteses. • Atividades que desenvolvam no aluno a habilidade de explorar consequências para acontecimentos que poderão ocorrer no futuro. • Atividades que envolvam a discussão de problemas do mundo real. • Atividades que estimulem o aluno a definir e solucionar problemas. • Atividades de pesquisa sobre tópicos do interesse do aluno. • Atividades que estimulem a imaginação dos alunos. • Atividades que possibilitem ao aluno explorar e conhecer diferentes áreas do conhecimento. Altas Habilidades QUEM PODE FAZER A IDENTIFICAÇÃO? Qualquer pessoa pode identificar talentos. O problema é conferir credibilidade a essa identificação, num mundo onde fórmulas e medidas exatas são tão valorizadas. Quem ainda não ouviu dizer que “para todas as mães, seus filhos são talentosos”? Essa frase traduz nosso medo de fazer identificações enviesadas ou pouco confiáveis, sentimento que é complementado pelo preconceito de que chamar alguém de “superdotado” implica rotular essa pessoa para o resto da vida, atribuindo a ela uma posição vista como “superior”. Tais atitudes podem comprometer uma espontaneidade valiosa, que está contida na afirmação que fazemos de vez em quando: “Nossa, Fulano é mesmo bom nisso que faz!”. Aí está: acabamos de identificar uma habilidade. Essa capacidade de discernimento está em nós, e acontece através da observação direta dos outros (crianças, adultos, alunos, filhos, o que for),em sala de aula, em casa, nas situações diversas de todos os dias. Uma forma de ter um pouco mais de garantia quanto a essas impressões é o entrecruzamento de diferentes opiniões sobre a mesma pessoa. Trocar ideias sobre ela e, acima de tudo, com ela, pode ajudar a identificar uma alta habilidade. Assim, se professores e orientadores perceberem que uma criança apresenta indicadores de altas habilidades, podem consultar colegas, ou a família do aluno. O mesmo pode acontecer em sentido inverso: se a família de um aluno considerar que ele apresenta necessidades educativas especiais em virtude de algum talento ou habilidade, pode também solicitar atenção especial dos profissionais da escola, para que, juntos, cheguem a uma conclusão – que não precisa ter um caráter definitivo, já que outras vivências podem mudar, com o tempo, essa avaliação. QUE CUIDADOS SÃO NECESSÁRIOS NA IDENTIFICAÇÃO E NO ENCAMINHAMENTO DA PESSOA COM ALTAS HABILIDADES? Os já mencionados Fletcher-Janzen e Ortiz (2006, pp. 143-147) discutem o papel da cultura nos atributos que são valorizados nas avaliações das altas habilidades, apontando alguns cuidados que têm que ter as pessoas envolvidas com a identificação das altas habilidades: Altas Habilidades 1. Desenvolver a autoconsciência: “Em qualquer processo de avaliação, o maior viés está no avaliador.” Temos que ser capazes de mudar de perspectiva, para compreender o que é valorizado no contexto da pessoa avaliada. 2. Estabelecer um bom contato e uma relação de confiança, por meio de informações e de uma boa comunicação. A confiança da família em quem avalia reflete diretamente no desempenho da criança. 3. Compreender a dinâmica da família e da cultura, de forma que identifique o que é valorizado ali como talento. 4. Repensar o que é inteligência, revendo e ampliando suas noções sobre ela. 5. Modificar os indicadores de referência: os profissionais do ambiente educacional devem oferecer uma gama variada de atividades, de forma que as crianças possam demonstrar suas habilidades de maneiras diversas das habituais. 6. Avaliar de forma justa, respeitando o contexto de onde vem cada criança, e não usando critérios iguais para todas. 7. Interpretar os dados de avaliação de modo equitativo, e não de acordo com matrizes fixas. 8. Planejar intervenções apropriadas para cada conjunto de habilidades, de acordo com cada contexto O QUE FAZER COM O ALUNO QUE TEM ALTAS HABILIDADES? Ao final da identificação, temos diante de nós uma pessoa única, complexa, na qual as altas habilidades se configuram e articulam de forma particular. E como a identificação é o passo inicial de um processo, passamos a ter que definir o que fazer, qual o encaminhamento adequado para desenvolver as habilidades encontradas e oferecer uma formação ampla ao indivíduo, de acordo com suas potencialidades. Para isso, há várias coisas a considerar. Uma delas, que vem sendo bastante enfatizada ao longo desse texto, é a impossibilidade da aplicação de fórmulas, uma vez que qualquer grupo de pessoas com altas habilidades é heterogêneo. Nunca é demais retomar o fato de que não é porque separamos as pessoas em grupos que, dentro desses grupos, elas são todas iguais. Dois indivíduos podem, por exemplo, ter a mesma pontuação num teste, como já foi dito, mas suas habilidades se articulam sempre de modo único. Se, por um lado, isso Altas Habilidades implica ter que oferecer condições diferenciadas para cada um, por outro traz o benefício de que, num grupo, as capacidades podem complementar-se. Os vários participantes de um grupo em um projeto, que é uma das modalidades possíveis de atendimento, terão potenciais para contribuir, cada um na sua medida, permitindo que se atinja um bom nível de produção. É viável, assim, combinar ritmos e habilidades diversas, bem como estilos de aprendizagem e interesses pessoais de cada indivíduo identificado. Outro aspecto importante a se levar em conta quanto ao encaminhamento dos altamente habilidosos é o fato de que os modelos existentes são sugestões de alternativas. A experiência alheia pode servir de base ou inspiração para a criação de estratégias, e não como regra, porque não existe uma escola ou procedimento ideal. Muitas vezes sentimo-nos desencorajados ao compartilhar relatos de pessoas ou instituições que parecem ter tudo o que desejamos e não temos, e isso pode paralisar as ações. É necessário, portanto, considerar que qualquer programação especial assumirá a configuração viável e necessária a cada instituição, que vai ater- se ao que dá para fazer em cada situação específica, começando de onde for possível. O que permanecer descoberto na instituição de ensino pode ser complementado, entre outras coisas, por parcerias com outras instituições ou pessoas da comunidade, como veremos. A E. E. está desenvolvendo um projeto de atendimento a alunos com Altas Habilidades/Superdotação, este projeto atende às crianças de primeira à quarta série do Ensino Fundamental, portanto, de idades e classes diversas, mas com uma área de interesse comum: Arte. O projeto é simples, mas temos em mente que devemos começar de onde é possível, e o nosso principal objetivo é que o aluno atinja seu maior aproveitamento em um ambiente estimulante. Ao finalizar o processo de identificação de portadores de altas habilidades, o grupo de professores e coordenadores optou pela realização da formação de um grupo de enriquecimento. O tipo de agrupamento é interclasse, ou seja, envolve a participação de alunos de salas diferentes num mesmo grupo, com finalidade e objetivos pedagógicos específicos. Programas específicos tem a função de suprir e complementar as necessidades apresentadas, abrindo espaço para o amplo desenvolvimento pessoal e criando oportunidades para que seus participantes encontrem desafios compatíveis com suas capacidades. De acordo com o que vem sendo dito, sabemos, então, que a pessoa com altas habilidades apresenta interesses variados, Altas Habilidades tem diferentes aptidões, tem necessidade de convivência, e atinge seu maior aproveitamento em ambientes estimulantes. E é disso, então, que os diferentes modos de intervenção tem que cuidar. A melhor escola é a que acolhe, que apresenta flexibilidade suficiente para atender às necessidades especiais, e que tem um bom diálogo com a família. Referências bibliográficas ALENCAR, E.M.L.S. & FLEITH, D.S. (2001). Superdotação: determinantes, educação e ajustamento. São Paulo: EPU. Altas Habilidades _____ & VIRGOLIM, A.M.R. (1999). Dificuldades emocionais e sociais do superdotado. In: F.P.N. Sobrinho & A.C.B. Cunha (Orgs.) Dos problemas disciplinares aos distúrbios de conduta (pp. 89-114). Rio de Janeiro: Dunya. BRASIL. (1995). Diretrizes gerais para o atendimento educacional aos alunos portadores de altas habilidades/superdotação e talentos. Brasília: MEC/Secretaria de Educação Especial. CLINE, S. & SCHWARTZ, D. (1999). Diverse populations of gifted children. Upper Saddle River, NJ: Merrill. FELDHUSEN, J.F. (1994). Learning and cognition of talented youth. In: J. Van Tassel-Baska (Org.) Comprehensive curriculum for gifted learners (pp. 17-28). Needham Heights, MA: Allyn and Bacon. LEWIS, M. & LOUIS, B. (1991). Young gifted children. In: N. Colangelo & G.A. Davis (Eds.), Handbook of gifted education (pp. 365-381). Boston: Allyn and Bacon. PURCELL, J.H. & RENZULLI, J.S. (1998). Total talent portfolio. Mansfield Center, CT: Creative Learning Press. ATIVIDADES COMPLEMENTARES Caro Aluno, para essas questões você deverá consultar o seu material de apoio e/ou outros materiais, inclusive a internet. Altas Habilidades Bom trabalho! 1-Observa-se, nocenário nacional e internacional, uma maior conscientização da necessidade de se investir em programas para alunos com potencial elevado. Para isso, é essencial o investimento na formação de professores; o estabelecimento de uma parceria produtiva entre família e escola; a oferta de uma variedade de modalidades de atendimento a este aluno; o reconhecimento de que as necessidades do superdotado, a serem levadas em conta nas propostas educacionais, passam pelas áreas: A) cognitiva, acadêmica, afetiva e social. B) familiar, escolar, cognitiva e social. C) emocional, acadêmica, familiar e social. D) cognitiva, psicológica, afetiva e familiar. E) comportamental, cognitiva, afetiva e social. 2-Um aspecto bastante ressaltado na atualidade, é que os indivíduos com altas habilidades/superdotação não constituem um grupo homogêneo, variando tanto em suas habilidades cognitivas, como em termos de atributos de personalidade e nível de desempenho. Assim, com relação à inteligência, aspecto central nas discussões relativas à superdotação, é importante lembrar a mudança que ocorreu em sua concepção, agora, uma visão: A) unidimensional. B) global. C) multidimensional. D) holística. E) pluridimensional. 3- Quando a escola já optou por uma educação inclusiva e dispõe de programa para alunos com altas habilidades/superdotação, as questões administrativas demandam menor empenho dos pais que, via de regra, podem apoiar integralmente o que já existe ou solicitar apenas pequenos ajustes. Os direitos de alunos com altas habilidades/superdotação passam, sobretudo pelos: A) conteúdos programáticos; processo de aceleração do ensino; organização e desenvolvimento curricular; gestão escolar. B) objetivos da educação escolar; processo de avaliação; organização e desenvolvimento do ensino; organização da vida escolar. C) parâmetros curriculares nacionais; processo de avaliação; organização e adaptação curricular; organização da vida escolar. D) objetivos da educação escolar; processo de aceleração do ensino; organização e enriquecimento curricular; organização das atividades da vida diária. E) conteúdos programáticos; processo de aceleração do ensino; ajustes atitudinais e relacionais; organização do atendimento educacional especializado. 4-Ainscow (1997), Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial (2005), “[...] em cada sala, os alunos representam uma fonte rica de experiências, de inspiração, de desafio e de apoio que, se for utilizada, pode insuflar uma imensa energia adicional às tarefas e atividades Altas Habilidades em curso. No entanto, tudo isto depende da capacidade do professor em aproveitar essa energia. [...] os alunos têm a capacidade para contribuir para a própria aprendizagem [...].” A aprendizagem é, em grande medida, um processo: A) intencional. B) cognitivo. C) histórico. D) cultural. E) social. 5-Do ponto de vista da política de inclusão defendida pelo Ministério da Educação, fundamentada nos princípios de atenção à diversidade e direito de todos à educação de qualidade, se faz necessário criar um ambiente educacional que acolha e estimule o potencial promissor com alunos com altas habilidades/superdotação. As propostas pedagógicas devem ser pensadas com base em cada situação particular, sujeitas a: A) flexibilizações curriculares e instrucionais. B) adaptações curriculares e avaliativas. C) adaptações curriculares e aceleração. D) flexibilizações curriculares e tecnológicas. E) flexibilizações curriculares e avaliativas 6-São muitos os desafios enfrentados pelas famílias de superdotados, entre esses a falta de sincronia que caracteriza o seu desenvolvimento, ou seja: são crianças com habilidades intelectuais avançadas, enquanto as habilidades emocionais, motoras e sociais são, geralmente, apropriadas para a sua idade cronológica. O funcionamento de uma família com criança superdotada torna-se diferente em virtude de características apresentadas pela criança, tais como: A) perfeccionismo, criatividade e agitação. B) individualismo, sensibilidade e compreensão. C) perfeccionismo, sensibilidade e argumentação. D) estrelismo, curiosidade e agitação. E) individualismo, sensibilidade e argumentação 7-A Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação implantou os Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação em todos os estados brasileiros. Assinale a opção que NÃO corresponde aos objetivos desses núcleos. A) Contribuir para a formação de professores e de outros profissionais na área de altas habilidades/superdotação, especialmente no que diz respeito a planejamento de ações, estratégias de ensino, métodos de pesquisa e recursos necessários para o atendimento de alunos com superdotação. B) Oferecer, ao aluno com altas habilidades/superdotação, oportunidades educacionais que atendam às suas necessidades acadêmicas, intelectuais, emocionais e sociais. C) Acelerar o processo educativo de forma a satisfazer as exigências cognitivas dos alunos com altas habilidades/superdotação. Altas Habilidades D) Promover o desenvolvimento de habilidades de pensamento crítico, criativo e de pesquisa e cultivar seus interesses e habilidades. E) Fornecer à família do aluno informação e orientação sobre altas habilidades/superdotação e formas de estimulação do potencial superior. 8-Um dos aspectos que têm consistentemente chamado a atenção de pesquisadores diz respeito ao autoconceito das crianças com altas habilidades/superdotação. Os educadores recomendam que a educação da criança que apresenta um potencial promissor deva se iniciar cedo, num ambiente de aprendizagem criativo, que a encoraje a explorar seus talentos, exercitar sua capacidade de aprender e entender suas habilidades especiais. Da mesma forma, registram que, para a efetiva realização do potencial dessas crianças, é necessária uma especial atenção aos fatores: A) afetivos e interativos. B) emocionais e sociais. C) familiares e escolares. D) psicológicos e neurológicos. E) ambientais e interacionais. 9-Os comportamentos ou manifestações inteligentes estarão sempre presentes na produção de qualquer pessoa e também na dos portadores de altas habilidades, seja produção intelectual, artística, científica, tecnológica, educacional ou outra. Comportamentos ou manifestações inteligentes revelados em seus aspectos: A) cognitivos, criativos e afetivos. B) linguísticos, emocionais e sociais. C) cognitivos, psicológicos e sociais. D) atitudinais, relacionais e cognitivos. E) criativos, comunicativos e afetivos. 10-Segundo Renzulli, (1986), Rosana Glat, (2009), a alta habilidade consiste na interação de determinados traços humanos, sendo que, nenhum desses traços isoladamente garante a alta habilidade, somente a complexa interação entre eles. A teoria desenvolvida por esse pesquisador para o reconhecimento da alta habilidade é conhecida como: A) Inteligências Múltiplas. B) Modelo dos Três Anéis. C) Modelo Interacional. D) Modelo da Complexidade. E) Modelo do Quociente de Inteligência (QI). 11- De modo geral, a superdotação se caracteriza pela elevada potencialidade de aptidões, talentos e habilidades, evidenciada no alto desempenho nas diversas áreas de atividade do educando e/ou a ser evidenciada no desenvolvimento, se manifestando em áreas de atividade isoladas ou em combinações entre elas, entendidas como tipos de superdotação. “Apresenta flexibilidade e fluência de pensamento, capacidade de pensamento abstrato para fazer Altas Habilidades associações, produção ideativa, rapidez do pensamento, compreensão e memória elevada, capacidade de resolver e lidar com problemas”. Tal definição corresponde, na classificação da superdotação, ao tipo: A) acadêmico. B) social. C) psicomotor. D) intelectual. E) criativo. 12- Da mesma forma que uma boa semente necessita de condições adequadas de solo, luz e umidadepara desenvolver-se, também o aluno com altas habilidades/superdotado, desde a Educação Infantil necessita de um ambiente adequado, estimulador e propício a experiências. Considerando as políticas educacionais inclusivas, o aluno deve ser cada vez mais atendido em seus interesses, necessidades e potencialidades, cabendo à escola ousar, rever suas concepções e paradigmas educacionais, lidando com as evidências que o desenvolvimento humano oferece. Portanto, uma criança no pré-escolar não pode ser desconsiderada e/ou desqualificada no âmbito escolar por apresentar um desenvolvimento diferenciado e avançado para a idade, nos aspectos: A) linguístico, motor e/ou atitudinal. B) cognitivo, linguístico e/ou comportamental. C) psicológico, motor e/ou social. D) linguístico, imagético e/ou psicomotor. E) cognitivo, socioafetivo e/ou psicomotor. 13-A criatividade é uma das funções psicológicas originadas nas interações sociais presentes na sala de aula e a elas submetida. Formar profissionais para desenvolver criatividade no contexto escolar consiste, portanto, em uma ação que pertence a um âmbito maior do que o simples preparo instrumental. Consiste em uma ação diretamente vinculada ao contexto sociocultural que permeia a escola e seus agentes e que exige, para que o sucesso seja alcançado, um esforço: A) interdisciplinar. B) sistêmico. C) multidisciplinar. D) holístico. E) transdisciplinar. 14- As áreas do conhecimento em que o ser humano pode desenvolver altas habilidades não se restringem ao aspecto lógico-matemático e linguístico, como nas avaliações tradicionais que se baseavam unicamente nos testes de QI. Ao contrário, tais habilidades podem se manifestar em diferentes áreas da experiência humana. Teorias mais recentes se dedicam a explicar a inteligência e as altas habilidades de maneira mais dinâmica e plural como a Teoria de: A) Piaget. Altas Habilidades B) Gardner. C) Vygotsky. D) Wallon. E) Skinner. 15- O portfólio do talento total foi desenvolvido para identificar e maximizar o potencial de cada aluno. Trata-se de um processo sistemático por meio do qual inventários de interesse, estilo de aprendizagem e de expressão, e produtos elaborados pelo aluno são coletados, ajudando aluno e professor a tomarem decisões a respeito de seus trabalhos. Assinale a opção que NÃO é meta do portfólio do talento total. A) Coletar e registrar informações sobre habilidades, pontos fortes, características, atividades escolares ou extraescolares realizadas pelo aluno. B) Organizar dados do aluno referentes ao estilo de aprendizagem, preferências por áreas do conhecimento, habilidades sociais e pessoais, interesses, necessidades específicas e desafios pessoais a serem superados. C) Fornecer subsídios para a elaboração de planejamentos educacionais e o estabelecimento de condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento da aprendizagem do aluno. D) Destacar estilos de expressão e de pensamento dos alunos. E) Acelerar o processo de aprendizagem, promovendo intercâmbios cultura. GABARITO 1. 2. Altas Habilidades 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. A B C E A C C B A B D E C B E 5
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