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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS FLÁVIA SILVA BORGES DE SIQUEIRA BEATRIZ SILVA LOURENÇO DAYANE BEZERRA DOS SANTOS DIÓGENES DE OLIVEIRA ALMEIDA LAURA CAMPOS PEREIRA DOS SANTOS MICHELLE SANTANA DE ALMEIDA INTERVENÇÕES PSICOLÓGICAS EM SAÚDE MENTAL I TERAPIA FAMILIAR - ABORDAGEM DE VIRGINIA SATIR Santos 2021 SUMÁRIO 1 VIRGINIA SATIR - BIOGRAFIA ................................................................ 2 2 ABORDAGEM........................................................................................... 4 3 CONCEITOS E TÉCNICAS ...................................................................... 5 4 ILUSTRAÇÃO DE CASO .......................................................................... 7 5 CONCLUSÃO ........................................................................................... 8 REFERÊNCIAS ......................................................................................... 9 2 1 VIRGINIA SATIR - BIOGRAFIA Vírginia Satir nasceu em 26 de junho de 1916 em Neillsville, Wisconsin EUA e faleceu em 1988 vítima de câncer pancreático. Em sua carreira como terapeuta foi pioneira na abordagem simbólico – experiencial e também considerada mãe da “terapia familiar”. Filha mais velha de Oscar Alfred Reinnard Pagenkopf e Minnie Happe Pagenkopf, teve uma infância simples e voltada para os estudos, sempre muito dedicada e curiosa. Em 1929 a família se mudou para Milwaukee, para que Satir continuasse seus estudos, nesta época culminou com a grande depressão e fez com que Virginia tivesse que dividir os estudos com o trabalho de babá para ajudar no sustento da família. Depois do ensino médio se formou como pedagoga e trabalhou na área da educação e continuou seus estudos para a formação de assistente social. Satir foi professora no Ensino Primário e Secundário , assistente social, terapeuta familiar, formadora de terapeutas familiares e autora de livros nesse campo. Em seu trabalho, defendia ser mais prática e professora que pesquisadora e teórica e que todo processo terapêutico é um processo educacional. (KASSIS, 2017). Em 1951 Virginia começou a atender famílias em prática privada em Chicago, logo depois em 1955 foi convidada a montar um programa de formação para residentes no Illinois State Psychiatric Institute. Satir foi uma figura importante do Metal Resarch Instutite (MRI) e destacou a importância da comunicação e a experiência emocional na terapia, tornando-se em 1959 a primeira diretora de treinamento do instituto e permaneceu até 1966. Virginia foi uma das primeiras a atender famílias no processo terapêutico fugindo do modelo clínico difundido até então, buscando entender as disfuncionalidades na comunicação nas inter relações. Segundo Nichols(2007 p. 213), Virginia Satir estava mais interessada em ajudar os membros da família a se conectarem do que nas forças psicológicas e sistêmicas que os mantinham separados. Em 1964 publicou o livro “Terapia do grupo familiar” que foi muito marcante para o desenvolvimento da terapia familiar sistêmica e que ela apresenta suas vivências nos atendimentos e suas práticas, juntamente com o livro Pragmatics of human communication (Watzlawick, Beavin e Jackson, 1967), ajudou a tornar o pensamento sistêmico do grupo de Palo Alto o modelo orientador da década de 1960. 3 Em sua trajetória viajou pelo país inteiro fazendo diversas oficinas e demonstrações em que encantava o público com sua cordialidade e honestidade, trazendo uma visão mais humanista em seus atendimentos. A terapia familiar tem suas raízes vinculadas a métodos expressivos e técnicas ligadas à terapia individual, em sua abordagem Satir revoluciona esse ideal e evidencia a importância de se focar mais na experiência emocional dos indivíduos do que nas dinâmicas de interação. Esse pensamento compartilhado também por outros profissionais, como por exemplo Carl Whitaker, deu início ao denominou-se como terapia familiar experiencial. 4 2 ABORDAGEM A proposta da terapia familiar experiencial tem como princípio a ideia de que a principal causa dos problemas familiares é a supressão emocional, remetendo-se à teoria freudiana, buscando assim trabalhar os sentimentos de cada indivíduo do grupo familiar para posteriormente estabelecer os laços familiares, que após este processo se darão de forma mais autêntica e genuína. A principal diferença entre a teoria sistêmica e a teoria experiencial é que, a primeira enxerga o comportamento sintomático nas interações familiares, e a segunda percebe essas interações como resultado de uma superficialidade dos membros da família e as projeções das defesas dos outros. Partindo desse pressuposto, as chances de melhoras positivas nessa família são maiores quando cada indivíduo entra em contato com seus reais sentimentos, sejam eles positivos ou negativos, criando assim um movimento evertido, isto é, de dentro para fora. A teoria experiencial acredita que, abrir os indivíduos para novas experiências concede ao grupo familiar novas possibilidades de interação, buscando promover a coesão familiar através da liberação dos impulsos e afetos dos indivíduos, além de afrouxar os medos defensivos dando espaço para que emoções e sentimentos genuínos possam exteriorizar-se. Apesar de focar na experiência individual dos membros, Satir ressalta a importância da boa comunicação entre a família, construindo a ideia de que esta é uma organização democrática e flexível. Satir descreve a família como um lugar para compartilhar experiências, sentimentos, aprendizados etc, ela especifica também a diferença entre família funcional, que em suma seria a família que oferece a seus membros a liberdade de serem eles mesmos, fornecendo subsídios como segurança e apoio para a vivência da variedade de experiências, e a família disfuncional que, em contrapartida são temerosas e severas, não concedendo o espaço necessário para o compartilhar. Analisando esta distinção, Satir concluiu que a raiz dos problemas das famílias disfuncionais é a negação e a repressão dos sentimentos, estas ficam cativas na autoproteção e evitação de mostrar suas emoções e desejos, buscam sempre a segurança no lugar da satisfação, resultando em famílias “frias” que vivem uma rotina desprovida de afeto e interações 5 3 CONCEITOS E TÉCNICAS Na terapia familiar sistêmica/experimental, o objetivo de Virginia Satir era focar nos sentimentos de afeto e aceitação do indivíduo através da comunicação. Era uma profissional amorosa que defendia a autoestima de todos os membros da família. Envolvia os clientes através de sua personalidade dinâmica, onde os faziam buscar por soluções ativas ao invés de somente se queixarem sobre o problema/conflito. Trabalhava diretamente na percepção do indivíduo sobre si mesmo, suas vivências, significados e postura diante do passado, sem descartar a roupagem familiar adquirida, ou seja, o papel daquele indivíduo na estrutura familiar. Além disso, Satir analisava tais papéis familiares (desafiador/vítima/conciliador/salvador) e identificava se eram limitadores a fim de liberar aquele indivíduo de um papel que poderia não fazer sentido para ele. Abaixo, alguns conceitos utilizados por Satir: ● Repressão emocional como principal causa de problemas familiares; ● Elaboração dos sentimentos de cada indivíduo para posteriormente estabelecer vínculos familiares; ● Comportamento sintomático analisado antes do problema relatado; ● Movimento de dentro para fora: cada indivíduo lida diretamente com seus sentimentos (positivos e negativos) para que haja melhora efetiva na estrutura familiar; ● Processo de construção da auto estima; ● Memória corporal / posturas / gestos; ● Interação familiar - como as vivências eram internalizadas no grupo familiar; Para Satir, as mudanças no sistema familiarestão ligadas ao ressignificado de traumas do passado ou aprendizagem de crenças adquiridas. A ressignificação se dá através de mudanças individuais capazes de fomentar o crescimento e empoderamento do indivíduo, mantendo assim, a saúde de todo o sistema familiar. Abaixo, algumas técnicas utilizadas por Satir: ● Modelo Satir / Validação Humana: Focado nas singularidades de cada indivíduo. Modelo terapêutico desenvolvido para potencializar recursos próprios a fim de gerar o crescimento e a mudança no sistema familiar. 6 ● Técnica centralizada nas “cinco liberdades”: Dizer o que pensa, ao invés do que deveria dizer. Ouvir e ver o que está presente, ao invés do que se deveria ouvir e ver. Sentir o que sente, ao invés do que deveria sentir. Pedir o que deseja, ao invés de pedir permissão. Correr riscos, ao invés de escolher estar em segurança. ● Técnica “festa das partes”: Na Terapia de Grupo Familiar criado por Satir, uma das técnicas realizadas era a “festa das partes”, onde os membros da família eram treinados para interagir e “trocar de lugar” com um dos membros, a fim de sentir o que o papel do outro representava no sistema familiar. ● Os 5 papéis familiares Assim como no teatro, Satir criou a teoria dos 5 papéis. Esta técnica era utilizada como auxílio quando os membros da família tinham dificuldades para interpretar as partes de outro membro, identificar de forma clara quais eram as ideias, afetos, pensamentos etc. Chamados também de “posturas” de Satir, (Acusador, Apaziguador, Congruente e Evasivo), estes papéis estão ligados diretamente ao comportamento dos indivíduos. Deste modo, cada postura possui seu significado, tais como: o indivíduo que acusa e aponta falhas, o indivíduo que apenas têm o desejo de manter a situação “sob controle”, sem se comprometer em entender a situação e de fato resolvê-la, o indivíduo que não olha para a dificuldade, o indivíduo fechado em seu mundo intelectual e por fim, o indivíduo que de fato têm uma visão ampla e busca de forma aberta e compreensiva entender e resolver a situação. “Nós somos manifestações da vida, puros em essência e contendo o mais poderoso ingrediente que existe no mundo: o poder de crescer.” (Vírginia Satir). 7 4 ILUSTRAÇÃO DE CASO Com base na obra Terapia familiar - conceitos e métodos, Virginia Satir exemplifica um caso que denominou de "Das pedras e flores". Neste caso ela atende um casal que é composto por um alcoólatra, uma mãe que sofria com problemas psiquiátricos, e os filhos deste casal que sofreram maus tratos pela mãe. O pai das crianças, já em outro casamento, luta pra ter de volta o afeto das crianças. A madrasta sentia medo do convívio com as elas, pois apresentavam alguns comportamentos agressivos, e ela, por estar gestante sentia medo de que o seu bebê sofresse algum dano. Satir demonstra no texto, através de entrevistas com o pai, a importância do contato físico com os filhos, levando em consideração toda a dinâmica familiar, a falta desse contato e consequente ausência troca de afeto. Satir explica para o pai, no aperto de mão, como a criança precisa ser tocada pois estas não sentiam mais o afeto devido a todos os acontecimentos que as haviam acometido. Segundo a ilustração de Satir, que ocorreu através da terapia familiar onde o foco principal eram as duas crianças e os seus comportamentos diante do ambiente, esta concedeu uma análise mediante as falas verbais do pai e madrasta ao tratamento com as crianças por meio da reeducação de suas condutas. Para Satir era crucial que se houvesse o contato físico com os filhos, pois pode perceber a falta de afeto nas crianças, já que este era demonstrado pela mãe através da agressão física. Durante a sessão Satir demonstrava para os pais alternativas de estimulação por meio do toque, adquirindo assim aproximação entre eles. Para Satir, a aproximação era o maior afeto que a criança precisava, pois sem ele, estaria perdida. Quando ela começa a falar com os pais pra que tenham um convívio físico com elas, o objetivo é que as crianças possam observar e sentir que não estão sozinhas, desprezando o fato do que a mãe fez com elas e também o abandono do pai. Satir faz uma explicação do afeto pelo toque da mão no momento em que ela pede para o pai segurar sua mão de duas maneiras diferentes, uma que expresse contenção e outra que expresse proteção. Nesta condição ela quer dizer que pelo contato físico a criança aprende mais que pelo trato verbal. Isto é, a criança não concede sua total atenção às palavras, e sim aos exemplos concedidos pela vivência e toque físico. 8 5 CONCLUSÃO Na medida em que a terapia funciona de forma sistêmica, diversos fatores que haviam sido “negligenciados” aparecem como causadores dos sintomas relatados, e esses sintomas que eram trazidos vinham de forma superficial (problema superfície), na verdade era a forma como o indivíduo lidava com o problema real. O objetivo de Satir era focar nas emoções pessoais e na aceitação por meio da comunicação. Ela estudou diretamente as visões, experiências, significados e atitudes do indivíduo em relação ao passado, sem descartar a vestimenta familiar que obteve, ou seja, o papel do indivíduo na estrutura familiar. Além disso, Satir analisou tais papéis familiares (provocação / vítima / reconciliação / salvador) e determinou se eles eram restritos a fim de libertar a pessoa de papéis que podem não fazer sentido para ela. Atualmente o modelo criado por Virginia Satir reúne inúmeros seguidores, inclusive conta com um programa de Formação Sistêmica Generativa – Modelo Satir, na cidade de Pinheiros-SP. Segundo o site, o programa de treinamento Practitioner da Formação Sistêmica Generativa – Modelo Satir se destina a profissionais de suporte humano, como psicoterapeutas, terapeutas, consteladores, terapeutas de família e casal, coaches, líderes e a todos os profissionais e pessoas que necessitam de habilidades de comunicação na sua prática. Na medida em que os terapeutas começaram a lidar com a família como unidade terapêutica, afloraram outros aspectos inerentes à vida familiar, aspectos causadores de sintomas e que tinham sido negligenciados. Virgínia Satir (1980). 9 REFERÊNCIAS CANAL DESENV.VC: “Principais Fundamentos da Terapia Familiar com Vírginia Satir”, 2015, Youtube. Disponível em <https://www.youtube.com/watch?v=- QFhiyDy1IA> GOMES, Heloisa Szymanski Ribeiro. Terapia de família. Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 6, n. 2, p. 29-32, 1986 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414- 98931986000200011&lng=en&nrm=iso>. https://doi.org/10.1590/S1414- 98931986000200011. KASSIS, Alexandre, Virginia Satir: “A mãe da terapia familiar”, 2017, Revista Digital da Editora Enredos Especial Virginia Satir. Disponível em <https://editoraenredos.com.br/wp- content/uploads/2018/06/REVISTAENREDOSZERO.pdf> NICHOLS, Michael P, SCHWARTZ, Richard C.,Terapia familiar conceitos e métodos. – 7. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre, Artmed, 2007. O PROGRAMA: PROGRAMA GENERATIVO SISTÊMICO DO MODELO SATIR. In: O Programa: PROGRAMA GENERATIVO SISTÊMICO DO MODELO SATIR. Site, 11 jul. 2017. Disponível em: http://virginiasatir.com.br/programacao/. Acesso em: 4 abr. 2021. SATIR, V. Terapia do Grupo Familiar. 2ª ed. Trad. A. Nolli. Rio de Janeiro, Livraria Francisco Alves, 1980. SZYMANSK, Heloísa: Artigo: “Terapia de Família”, Revista Psicologia, Ciência & Profissão. Disponível em <http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98931986000200011>
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