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1 GESTÃO DE ESTOQUES NA MANUTENÇÃO - UM ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA DO RAMO METRO FERROVIÁRIO FURLAN, Tiago Augusto1 FERNANDES, Ederson Carvalhar2 1 INTRODUÇÃO A gestão de estoques, atualmente, tomou um lugar de destaque em todas as empresas, indiferente de seu segmento de atuação. Muitas vezes os estoques foram tratados como um desperdício de dinheiro para a empresa, por concentrar um grande percentual do valor dela. Numa empresa típica industrial os estoques podem chegar até a 15% do valor dos ativos, segundo Christopher (2002). Na administração pública, segundo o Decreto nº 99.658/1990 art. 3º, materiais são tratados de uma forma mais ampla, onde se referem à equipamentos, componentes, sobressalentes e outros itens empregados ou possíveis de serem empregados as atividades das empresas públicas (Fenili, 2013). Na área de manutenção se torna extremamente complexo o controle de estoques, pois estes diferem muito dos estoques de produção, mas são necessários para o andamento das atividades cotidianas, contudo, o grande desafio é definir com clareza e exatidão quais os materiais, as quantidades e periodicidade de compra. Desta forma, o objetivo geral será analisar um modelo para aquisição de materiais da área de manutenção de trens de uma empresa pública de transporte no ramo metro ferroviário na região metropolitana de Porto Alegre. Esta oportunidade se deu por meio da experiência de trabalho mantida na empresa. Para atingir este objetivo, serão necessários alguns objetivos específicos: a) levantamento quantitativo dos dados de consumo dos materiais, b) análise qualitativa dos dados e c) elaboração do cálculo de lote econômico. 1 Aluno do curso de Bacharel em Engenharia de Produção pela UNINTER 2 Mestre em Engenharia Mecânica pela UTFPR e Professor Orientador no Centro Universitário Internacional UNINTER 2 Portanto, o estudo elaborado neste trabalho, vem de encontro a solucionar um grande problema que perdura dentro desta área. Justificado também, segundo Fenili (2013), para suprir a organização dos materiais necessários, no momento certo, com a qualidade requerida e com preços econômicos. O trabalho está estruturado em cinco seções, inclusa a seção de introdução, já apresentada. A seção 2 que contém os fundamentos da gestão de estoques. A seção 3 com a metodologia empregada no desenvolvimento do projeto. A seção 4 com o cronograma de todo o projeto. E por fim a seção 5 com as referências bibliográficas que embasaram o trabalho. 2 FUNDAMENTOS DA GESTÃO DE ESTOQUES A fim de obter definições adequadas, dos diversos temas que são envolvidos no assunto de gestão de estoques, é necessária uma revisão literária destes conceitos que serão abordados, e embasarão toda elaboração desta pesquisa. Os assuntos que serão tratados dentro da fundamentação são a gestão de estoques, as técnicas de gestão de estoques e o estoque da manutenção. 2.1 GESTÃO DE ESTOQUES Os estoques dentro das organizações são grandes desafios aos gestores, pois há uma necessidade real de mantê-los, mas a principal preocupação é fazer uma gestão racional, que não implique em grandes investimentos em recursos que possam ficar por longos períodos paralisados. Segundo Ballou (2006), se a demanda for conhecida e com possibilidade de previsão, não há necessidade de estoques. Segundo Szabo 2015, onde não há clareza exata nas demandas dos materiais, é utilizado o princípio da incerteza para os estoques. Diante deste cenário de incerteza, manter estoques é necessário, porém é imprescindível ter uma boa gestão, e para isto é importante levar em consideração alguns custos, que podem assim ser classificados (ROSS; WESTERFIELD; JORDAN, (2002)): 3 a) Custo de ressuprimento (CR): custos fixos administrativos vinculados ao processo de aquisição. Supondo que Ra seja a demanda, e S seja o custo individual. A empresa faz Q encomendas de unidades cada vez, precisará fazer Ra/Q ordens de compras, então temos, conforme a equação (1) o custo de ressuprimento: 𝐶𝑅 = 𝑆 𝑥 (𝑅𝑎 𝑄)⁄ (1) b) Custo de manter estoque (CM): são todos os custos necessários para manter certa quantidade de estoque por certo determinado período de tempo. Se Q é a quantidade encomendada, então o estoque médio seria Q/2. Onde Ca é o custo de aquisição por unidade por ano, e H o custo de armazenagem por unidade por ano, na equação (2) é apresentado o custo para manter o estoque: 𝐶𝑀 = (𝑄 2⁄ )𝑥 𝐻 𝑥 𝐶𝑎 (2) c) Custo total (CT): o custo total se dá pela soma do custo de ressuprimento e do custo de manter o estoque, conforme equação (3): 𝐶𝑇 = 𝐶𝑅 + 𝐶𝑀 = 𝑆 𝑥 (𝑅𝑎 𝑄)⁄ + (𝑄 2⁄ )𝑥 𝐻 𝑥 𝐶𝑎 (3) Há uma relação de benefício versus o custo da gestão de estoque, pois em dado momento o custo de manter o estoque e o de fazer o ressuprimento são iguais, o qual é denominado de lote econômico. O princípio básico deste lote econômico é comprar a quantidade certa, no tempo certo, que mantenha o estoque em condições e com o menor custo possível. Mas para que isto seja possível é necessário a aplicação de técnicas de controle e gestão de estoques. 2.2 TÉCNICA DE GESTÃO DE ESTOQUE Para que a gestão do estoque seja eficiente, e realmente encontre o ponto em que o custo de manter o estoque e seu reabastecimento sejam os menores possíveis, existem algumas técnicas, como a análise ABC e o modelo de lote econômico, que permitem a realização deste gerenciamento bem como o controle dos níveis dos estoques. 4 2.2.1 Análise ABC Segundo Ross et al. (2013), a abordagem da curva ABC é relativamente simples, com uma ideia básica de dividir o estoque em três grupos. Com o intuito de que uma fração pequena do estoque, em termos de quantidade, poderia representar uma grande parte em relação a valor financeiro do estoque todo. Na Figura 1, é possível observar uma ilustração da comparação da representação de valor de estoque entre os grupos, versus o percentual de quantidade em estoque de cada grupo. Figura 1 – Análise ABC de estoque Fonte: ROSS; WESTERFIELD; JORDAN; LAMB, 2013 Nesta disposição os grupos são classificados da seguinte forma: a) Grupo A: aqui estão os itens de maior valor, com baixa representatividade no quantitativo do estoque e alta importância no processo produtivo, por este fato requerem maior investimento e controle muito rigoroso. b) Grupo B: itens de valor intermediário. Exige um controle rigoroso. c) Grupo C: aqui neste grupo estão os itens de menor valor, que representam uma quantidade maior do estoque, porém requerem um controle mais corriqueiro. 2.2.2 O modelo de lote econômico Segundo Szabo (2015), com as informações de custos totais, é possível fazer uma modelagem matemática para determinar o tamanho do lote econômico. Há uma condição de compra em que o custo de estoque total é mínima, e como existe uma relação do tamanho do lote a ser adquirido com o custo total, por meio de um processo matemático simples de derivação da equação de custo total (1), é possível encontrar a 5 fórmula (2) que vai determinar qual será o tamanho exato deste lote econômico que irá minimizar o custo total. 𝐶𝑇 = 𝐶𝑅 + 𝐶𝑀 = 𝑆 𝑥 (𝑅𝑎 𝑄)⁄ + (𝑄 2⁄ )𝑥 𝐻 𝑥 𝐶𝑎 (1) 𝑑𝐶𝑇 𝑑𝑄 = (−𝑆 𝑥 𝑅𝑎 𝑄²) + (𝐻 𝑥 𝐶𝑎 2)⁄⁄⁄ = 0 𝑄∗ = 𝐿𝐸𝐶 = (2 𝑥 𝑅𝑎 𝑥 𝑆) (𝐶𝑎 𝑥 𝐻)⁄ (2) Conforme Ross et al. (2013), o modelo de lote econômico é a abordagem mais conhecida para estabelecer explicitamente um ótimo nível de estoque. A ideia básica é encontrar o ponto 𝑄∗ ou 𝐿𝐸𝐶, conforme ilustra a Figura 2, que é onde se encontra o menor custo total de estoque. Figura 2 – Quantidade do lote econômico Fonte: ROSS; WESTERFIELD; JORDAN, 2002 Existem, ainda, duas extensões do modelo de lote econômico, o estoque de segurança e os pontos de renovação de pedidos, e há, ainda, a combinação destasduas extensões. Segundo Ross et al. (2013) as empresas não deixam os estoques chegar a zero, por dois motivos: primeiro, ao manter sempre um estoque mínimo, minimiza o risco da falta e, o segundo, é de após fazer um novo pedido, é preciso algum tempo até que o estoque chegue. O modelo de lote econômico, e suas variações, é amplamente utilizado em empresas e organizações públicas, devido ao fato de trabalharem com orçamentos restritos. 2.3 ESTOQUE DA MANUTENÇÃO Apesar de ser um tema de grande importância, os estudos, normalmente, tratam de estoques de itens que tem um padrão de demanda, mais constante e previsível. Para que a gestão de estoque de manutenção seja eficiente, é necessário o uso de algumas técnicas, tais como: inventário de estoque, fazer a análise ABC e fazer uma 6 análise de consumo dos últimos 36 meses para que seja possível encontrar dados relevantes a segregação dos itens em três categorias básicas, itens estocáveis, itens que podem ser adquiridos conforme demanda e itens que não necessitam estar no estoque. Para que seja possível esta segregação é utilizada o intervalo médio entre demanda (IMD), que é calculado conforme fórmula (1). 𝐼𝑀𝐷 = 𝑄𝑀𝐷𝑁 𝑄𝑀𝑆𝐷⁄ (1) a) QMDN: Quantidade de meses com demanda nula – situação em que não foi necessário reabastecer o estoque. b) QMSD: Quantidade de meses sem demanda – meses em que não houve consumo do item. Caso o resultado desta divisão seja maior do que cinco, o item é considerado estocável, caso o resultado fique maior do que dois e menor do que cinco, então o item será adquirido conforme necessidade e caso o resultado fique abaixo de dois, o item deve ser considerado como obsoleto. 3 METODOLOGIA Neste presente trabalho, será desenvolvida uma pesquisa em formato de estudo de caso, na gestão de estoques, da área de manutenção de trens de uma empresa do ramo metro ferroviário. Pelo fato de que a área de manutenção tem a execução de suas atividades totalmente terceirizada, a aquisição e gestão dos materiais é feita por uma empresa prestadora de serviço de manutenção, portanto existem defasagens neste controle de materiais e insumos. Diante deste problema, este estudo de caso irá aprofundar a análise de um modelo de gestão de estoques, que contemple sanar as defasagens de materiais e insumos nos estoques da manutenção, para que não haja desperdícios e alocação excessiva de recursos financeiros. Para tanto são necessárias informações que permeiam este estudo de caso, com o aprofundamento em referências literárias na gestão de estoques e as diversas técnicas que auxiliam na gestão destes estoques. Para atingir o objetivo principal do trabalho o mesmo terá objetivos específicos que serão divididos e implantados dentro 7 da seguinte cronologia: a) levantamento quantitativo dos dados de consumo de materiais, b) análise qualitativa dos dados e c) elaboração do cálculo de lote econômico. Mas para que estes objetivos específicos sejam atingidos eles serão fragmentados em etapas, com pequenos objetivos, para facilitar a pesquisa. Etapa 1 – levantamento quantitativo dos dados consumos de materiais. I. Levantamento dos dados históricos de consumo de materiais e insumos; II. Cálculo de média anual de consumos de consumo total; III. Levantamento do preço unitário de cada item; IV. Levantamento do tempo de reposição de cada item; V. Levantamento do número de meses em que não houve consumo para cada item e; VI. Levantamento do número de meses que não houve necessidade de reposição de estoque. Etapa 2 – Análise qualitativa dos dados. I. Elaboração da curva ABC; II. Elaboração do cálculo do IMD e; III. Elaboração da relação de itens por ordem de priorização; Etapa 3 – Elaboração do cálculo de lote econômico. I. Cálculo do custo de ressuprimento; II. Cálculo do custo de manter o estoque; III. Cálculo do custo total e; IV. Cálculo do lote econômico. Ao término de todas as etapas será possível determinar o modelo de gestão de estoques da área de manutenção de trens, independente se esta gestão será por empresa terceirizada ou pela própria empresa pública. 4 CRONOGRAMA Ações que serão realizadas para elaboração deste trabalho, cronologicamente, estão descritas no Quadro 1. 8 Quadro 1: Cronograma Fonte: Autoria própria (2020) REFERÊNCIAS BALLOU, Ronald H. Gerenciamento de cadeia de suprimentos/logística empresarial; tradução Raul Rubenich. – 5. ed. – Porto Alegre: Bookman, 2006. CAMPI, Márcio. A importância do Supply Chain Management SCM, 31 de setembro de 2010. Disponível em < https://administradores.com.br/artigos/a-importancia-do- supply-chain-management-scm >. Acesso em 07 de maio de 2020, 22:45:58. CHRISTOPHER, M. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimento: estratégias para a redução de custos e melhoria dos serviços. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. ENGETELS, Engenharia de manutenção. Gestão de estoques para manutenção. Águas Claras, Distrito Federal. Disponível em < https://engeteles.com.br/gestao-de- estoque-para-manutencao/ >. Acesso em 07 de maio de 2020, 22:39:57. FENILI, Renato R. Gestão de materiais. Brasília, 2013 – ENAP: Escola Nacional de Administração Pública. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JORDAN, B. D. Princípios de administração financeira. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. ROSS, S. A.; WESTERFIELD, R. W.; JORDAN, B. D.; LAMB, R. Fundamentos de administração financeira. 9. ed. Porto Alegre: AMGH Editora LTDA, 2013. SZABO, Viviane [organizadora] Gestão de estoques. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2015 – (Série Bibliografia Universitária Pearson).
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