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MICROBIOLOGIA DA GENGIVITE / PERIODONTITE Uma placa em homeostase, é uma placa não associada a doenças e equilibradas por fatores de defesa do hospedeiro (qualidade de saliva e do fluido crevicular, linhas de defesa, controle do acumulo de placa -principalmente a subgengival- e medindo a quantidade e comportamento da placa, estão estáveis). Há então, por consequência de algum fator, um processo disbiótico (Disbiose: alteração na diversidade microbiana conduzindo a um consórcio microbiano em desequilíbrio com o hospedeiro), evocando um processo inflamatório, levando a um processo que pode abalar a estrutura dental e óssea. Isso pode levar a formação da placa cariogênica ou placa periodontopatogênica, porque há alteração qualitativa, quantitativa e comportamental das espécies que compõem a placa e há produção de vários fatores de virulência, que auxilia no crescimento, desenvolvimento e evasão da doença. Cerca de 2 mm do colo, há a placa subgengival e ela está em total associação com a placa supragengival, então o acumulo da placa supragengival levara um aumento da placa subgengival. Empilhamento: microorganismo colonizadores iniciais tem a capacidade de se ligar a superfície do dente e a película adquirida) nas placas subgengivais também há agregação com a gengiva adjacente. DOENÇA PERIODONTAL X PERIODONTO SAUDÁVEL: Quando saudável, do sulco gengival é de 2 a 3 mm. Alterações na placa gengival quando há instalação de uma bolsa periodontal começam com um processo inflamatório associado a um aumento significativo do componente microbiano que começa a levar uma perda óssea, formando um espaço, a bolsa periodontal e o aumento do espaço, será ocupado pelo componente microbiano (bolsas de até 8 mm de profundidade), havendo então um maior quantitativo bacteriano (indicador). Outro indicador é o aumento do fluido crevicular que tem como função levar a migração de células como os neutrófilos e posteriormente linfócitos, peptídeos antimicrobianos e complemento. Porem, esse fluido acaba por selecionar determinadas bactérias por disponibilizar substrato proteico. Então novas relações bacterianas são estabelecidas gerando um processo de desequilíbrio no hospedeiro (formando um consórcio microbiano disbiótico). Outro indicativo e um aumento da riqueza de diversidades bacterianas (mais bactérias anaeróbias e proteolíticas). PAPEIS DAS ESPÉCIES NA DOENÇA PERIODONTAL: Há patobiontes (ou patógenos acessórios), são microrganismos que não estão diretamente relacionados com a atividade patogênica (como produção de fatores de virulência e agressina) em si, mas dão suporte nutricional e coagregação para os patógenos chaves, isso é importante de se saber como estratégia de tratamento e para reconhecer o processo de encaminhamento para uma microbiota disbiótica. Patógenos chaves: são de fato os patógenos, com atividade agressiva. Inicialmente no empilhamento, há mais presença de actnomyces e streptococus que são os colonizadores iniciais, geralmente gram positivas. Como colonizadores secundários há associação de bactérias gram positivas e gram negativas e na colonização tardia há uma predominância de bactérias gram negativas. Nota-se a associação entre as bactérias na fase tardia, a F. nucleatum permite a presença de outras bactérias por auxiliarem na adesão delas. Há codependências nutricionais entre as bactérias mesmo entre os vários tipos de colonização. Chegando ao nível de placa subgengival, há maior predominância de bactérias gram-negativa que são mais proteolíticas e anaeróbias, que tem como fonte nutricional proteínas, hormônios entre outros substratos que chegam a partir do fluido crevicular. Quando o acúmulo da placa supra provoca uma resposta inflamatória local, gerando fluido inflamatório e fluido crevicular que aumentam os componentes proteicos e infiltrado linfocitário. Isso gera uma sucessão microbiana que vai ter como prioridade a presença de espécies proteolíticas anaeróbias, como T. denticola, P. gengivalis, P. intermedia. Além disso há aumento dos mecanismos de expressão, modulação de comportamento e produção de agressinas a partir de mecanismo de condon-sense. Podendo haver supressão ou eliminação de determinadas espécies que poderiam ser moduladoras do equilíbrio dos periodontopatógenos inflamofilicos (patógenos que garantem o estado inflamatório), na placa subgengival. GENGIVITE INDUZIDA POR PLACA: Há presença de inflamação, edema e flacidez gengival. Hiperemia e consequente sangramento; aumento do exsudato gengiva; perda de fibras colágenas com redução do tono gengival (diferente da periodontite, onde há comprometimento ósseo); é reversível, voltando ao estado de homeostase sem grandes consequências; pode apresentar sangramento espontâneo ou induzido. Modelo de gengivite experimental: voluntários humanos que deixam a placa subgengival acumular devido a ausência de higiene oral durante 3 a 4 semanas. Estudos desta placa acumulada demonstram que o processo inflamatório está relacionado com o tipo de microorganismo presente na placa e não somente no acúmulo inespecífico da mesma. O controle restrito de placa funciona muito bem como tratamento. Pode-se utilizar clorexidina. E deve-se intensificar a higienização. *A periodontite não necessariamente está relacionada à um processo inflamatório inicial como a gengivite. DOENÇA PERIODONTAL: Processo inflamatório que ocorre no tecido que circunda o dente em resposta ao acúmulo de biofilme bacteriano (placa subgengival), que pode levar a perda progressiva de colágeno e aumento da reabsorção óssea e consequentemente a perda do dente. Clinicamente se trata de uma doença que evoluiu sem causar dor ao indivíduo o que contribuiu para a sua progressão até a perda do dente. Atualmente estudos indicam uma forte correlação entre doenças periodontais e aumento nos riscos de desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Além de poder auxiliar na progressão de doenças sistêmicas, como diabetes e aterosclerose. Tem-se estudado quais fatores são associados a periodontite e doença periodontal na tentativa de que no futuro o tratamento seja eficiente e não tenha a periodontite refrataria onde, apesar do tratamento, o indivíduo continua com o processo de doença periodontal, levando a perda óssea, por exemplo. PERIODONTITE: Progressão da reação inflamatória iniciada na gengivite (como periodontite crônica, mas lembre-se, nem sempre há uma gengivite precedente); perda acentuada do sulco gengival, exposição do cemento; aumento da bolsa periodontal: a resposta inflamatória local assim como enzimas produzidas por determinados MO’s levam a ativação de metaloproteases da matriz que são responsáveis pela perda do colágeno do tecido que circula o dente. A perda de colágeno leva a formação da depressão no contato do tecido gengival com o dente (placa subgengival) gerando a bolsa periodontal, que poderia ser considerado assim a conversão da gengivite para a periodontite. Há também reabsorção óssea e pode levar a perda do dente. É um quadro mais complicado de se reverter, podendo até durar por toda vida. Fatores associados a progressão da doença gravidez, diabetes e fumo. Tratamento com debridamento (expondo quase toda raiz do dente), uso de clorexidina no local (“Irrigante” local), uso de antimicrobianos sistêmicos ou locais que podem eliminar todas as bactérias, mesmo a da placa em homeostase, podendo então haver após essa eliminação, uma formação de uma placa disbiótica. HIPÓTESES: HIPÓTESE DA PLACA INESPECÍFICA: Nessa hipótese doença periodontal como resultado da resposta inflamatória elicitada a partir do acúmulo de placa subgengival (supercrescimento bacteriano). Tratamento baseado em debridamento (remoção de placa) e controle de acumulo de placa (higiene, visitas periódicas), intervenção cirúrgica para bolsas periodontaisprofundas. Problemática: uso de ATB de amplo espectro nos pacientes com periodontite refrataria: Nessa hipótese a periodontite não teria recidiva já que o acumulo de placa seria combatido, o que não acontece, porque com a eliminação das bactérias da microbiota oral, há formação da placa posteriormente que ainda pode ser disbiótica e o quadro da periodontite pode continuar. Outro problema é que existe indivíduos sem esse aumento de placa subgengival com periodontite agressiva. HIPÓTESE DA PLACA ESPECÍFICA: lançada após a supracitada. Indica que a doença periodontal ocorre devido a presença de determinados tipos de espécies bacterianas, que deveriam ser levadas em consideração no esquema de tratamento. Então observou-se que a quantidade da placa era importante, mas havia uma questão de qualidade, no que concerne aos tipos de bactérias estariam presentes. Ex: Aggregatibacter actinomycetemcomitans como principal agente da periodontite agressiva, a eliminação desses MO’s com ATB leva a cura. Pode-se utilizar os microrganismos como indicadores da doença. A partir daí, começaram a ser indicados os periodontopatógenos. HIPÓTESE ECOLÓGICA DA PLACA ESPECÍFICA: periodontopatógenos também foram observados em placas em homeostase e então foram observadas a associação de fatores extrínsecos (como o fumo) e intrínsecos (imunidade e fatores genéticos) com o surgimento da periodontite. Há então uma associação ecológica com a microbiota. fatores ecológicos permitem a entrada de potenciais patógenos que desencadeariam então a disbiose. Como tratamento, além do debridamento e controle do acúmulo de placa , deve-se lembrar que se o combate é contra determinados MO’s, deve-se trabalhar com substancias antagônicas, exemplo, se não é bom a proliferação em massa de Streptococcus mutans, pode-se inserir pro-bióticos que antagonizam ele ou se utilizar adesinas (existe uma goma de mascar impregnada de adesinas de uma das espécies de streptococcus) e isso vai preenchendo o espaço que seria utilizado para o Streptococcus mutans se estabelecer. Os potenciais patógenos podem já estar presentes na microbiota oral ou ele pode ser inserido (possibilitado por fatores ecológicos). Espécies periodontopatogênicas: Fusobacterium nucleatum, Treponema deticola, Porphyromonas gingivalis, Tanerella forsythia, Prevotella intermedia, entre outras. CLASSIFICAÇÃO DAS DOENCAS PERIODONTAIS: A academia americana de periodontologia com o passar dos anos, tem reconhecido várias doenças e atualmente consideram até mesmo fatores ecológicos em sua classificação (devido a progressão das hipóteses anteriormente mencionadas), como doenças sistêmicas. O próprio consórcio microbiano nessas doenças será diferenciado já que depende de fatores intrínsecos da doença. A atual classificação: MICROBIOTA ASSOCIADA COM PERIODONTO SAUDAVEL, GENGIVITE E PERIODONTITE. Na gengiva saudável há predominância de bacilos gram-positivos (rods) e coccus gram-positivos. A placa apresenta- se em homeostase, geralmente os colonizadores iniciais. A progressão patológica diminui significativamente as gram-positivas e gera uma maior proliferação de gram- negativas (por serem predominantemente proteolíticas e anaeróbicas), isso altera o comportamento das bactérias gram-negativa, uma das causas, é a redução das bactérias gram positivas que poderiam modular ou reduzir algum efeito das gram negativas. CLASSIFICAÇÃO ANTIGA QUANTO AS BACTÉRICAS ENCONTRADAS NAS PLACAS PERIODONTAIS Agrupamento dos MO’s frequentemente encontrados em placas subgengivais em 5 complexos microbianos (com cores diferentes). No vermelho, há 3 espécies consideradas periodontopatogênicas, alguns autores consideram elas uma tríade que sempre estava relacionado com a periodontite. Azul, violeta e amarelo são considerados os colonizadores iniciais capazes de se aderirem ao dente e gengica do hospedeiro e formar biofilme, não albergam espécies patogênicas. O complexo laranja e o vermelho apresentam os colonizadores tardios e periodontopatogênicas. POSSIVEIS PERIODONTOPATÓGENOS: Top 5: Aggregatibacter actinomycetemcomitans (mais presente em periodontite agressiva), Porphyromonas gengivalis (Considerada uma das mais importantes); Tannerella forsythia; Treponema denticola; Prevotella intermedia (aparece mais em casos de gengivite agressiva, conhecida como GUN-gengivite ulcerativa necrosante, que dá necrose gengiva, papilas gengivais de aspecto invertido, sangramento gengival espontâneo, sintomatologia dolorosa, hálito fétido e formação de pseudomembrana). FATORES DE VIRULENCIA DOS PRINCIPAIS PERIODONTOPATÓGENOS: Porphyromonas gingivalis e Prevotella intermedia: -Apresenta fimbrias capazes de ligarem a película adquirida, células epiteliais e agregação ao Fusobacterium nucleatum. Proteínas de superfície que coagrega com Actinomyces naeslundii e S. gordonii; -Colagenases, cisteina-proteases, enzimas com ação similar a tripsina (>destruição do colágeno após ação das colagenases). Fosfolipase A, fosfatases alcalina e ácida; -Hemolisinas, Epiteliotoxina e Fator de inibição de fibroblastos, LPS; -Proteína indutora de reabsorção óssea; -Proteases- GINGIPAPAÍNAS; -Produção de fibrolisina, localização intracelular e inibição da atividade de LPMN. Agregatinobacter actinomycetemcomitans (ex. actinobacillus) sorotipos de A-E (clone B é mais agressivo). -Adesina em fimbrias e na PC para cel epiteliais e película adquirida; - Localização intracelular, indução de fagocitose; - Bacteriocinas que agem sobre algumas especies colonizadoras iniciais; - Hemolisinas; - Proteína indutora de reabsorção óssea; - Proteases (IgAses ou IgGases, sistema complemento); - Fator de depressão imunológica, proteínas capazes de inibir a síntese de RNA e DNA dos linfócitos T eB; -Toxina distensora citoletal; -Leucotoxina que atua sobre PMN e monócitos. (Clone B que produz, inibindo a quimiotaxia e inibição do mecanismo imunológico). GUN-gengivite ulcerativa necrosante. Fatores que promovem a disbiose: Uma exposição que gera alteração ecológica (uso de ATB de amplo espectro, dano tecidual, mudança de dieta) provocara a disbiose que provocará a inflamação do local (por patógenos inflamofílicos) que por sua vez auxiliara ainda mais a disbiose por feedback positivo. Há um sinergismo entre o patógeno- chave e os patógenos inflamofílicos, para auxílio na progressão da lesão. Explicando a imagem: Numa comunidade simbiótica há interações cooperativas na microbiota. A partir daí, chega a Pseudomonas gingivalis (que também pode viver em microbiota simbiótica sem causar dano) e, com a associação da sua colonização com fatores imunológicos (subversão imune) e desaparecimento de determinadas espécies que não sobrevivem nessa microbiota (pois antagonizam o patógenos, são as bactérias comensais), há na produção de fatores de virulência pelo patógeno-chave e então uma perda óssea contínua, por exemplo. Microorganismos que não sobrevivem numa microbiota disbiótica podem ser bons indicadores de saúde ou possíveis pro-bióticos a serem introduzidos como forma de tratamento. Eliminação de patógenos acessórios também pode ser uma boa via de tentativa de tratamento. **A microbiota disbiótica apresenta sim simbiose entre os MO’s presentes nela, porém possui desequilíbrio em relação ao hospedeiro. TRATAMENTOS Tratamento convencional: debridamento, limpeza e remoção da placa subgengival e controle da higiene oral do paciente, possível uso de antissépticos bucais como clorexidina. Cirurgias para remoção do conteúdo da bolsa periodontal profunda (acima de 6 mm). Antimicrobianos sistêmicos: para pacientes que não responderam ao tratamento mecânico convencional (periodontite refratária) ou que apresentem infecções periodontais severa como abscesso e GUNA. Necessidade do conhecimento dos periodontopatógenos envolvidos na patologiae seu perfil de sensibilidade aos antimicrobianos. Análise microbiológica através de cultura ou método de biologia molecular. Antimicrobianos mais utilizados no tratamento das periodontites: metronidazol, clindamicina, doxiciclina ou minociclina, ciprofloxacina, azitromicina, metronidazol + amoxacilina e metronidazol + ciprofloxacina. Uso de pro-bióticos.
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