Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI HISTÓRIA MEDIEVAL GUARULHOS – SP SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 3 2 FEUDALISMO ......................................................................................................... 4 2.1 A interação entre Cidade e Feudalismo .............................................................. 5 2.2 Clero ................................................................................................................... 7 2.3 Nobreza .............................................................................................................. 8 2.4 Servos ............................................................................................................... 10 2.5 Economia Feudal .............................................................................................. 12 2.6 Educação, Artes e Cultura ................................................................................ 13 2.7 Guerras ............................................................................................................. 13 2.8 O fim do Feudalismo ......................................................................................... 14 3 HISTÓRIA MEDIEVAL: AS CRUZADAS ............................................................... 14 3.1 Motivações Materiais ........................................................................................ 15 3.2 Motivações Psicológicas ................................................................................... 17 3.3 As Cruzadas No Oriente E No Ocidente ........................................................... 17 3.4 O Movimento Das Cruzadas No Oriente Médio ................................................ 17 3.4.1 Primeiras Cruzadas (1095-1099) ........................................................... 18 3.4.2 A segunda Cruzada (1147-1149)........................................................... 19 3.4.3 Terceira Cruzada (1189-1192)............................................................... 20 3.4.4 Quarta Cruzada (1199 – 1204) .............................................................. 21 3.4.5 Quinta Cruzada (1217-1219) ................................................................. 21 3.4.6 Sexta Cruzada (1228-1229) .................................................................. 22 3.4.7 Sétima Cruzada (1248-1250) ................................................................ 23 3.4.8 Oitava Cruzada (1270) .......................................................................... 23 3.4.9 Nona Cruzada (1271 – 1272) ................................................................ 23 3.5 O Ocidente após as Cruzadas .......................................................................... 24 3.6 Principais consequências ................................................................................. 25 4 HISTÓRIA MEDIEVAL: PESTE BUBÔNICA ......................................................... 26 5 A ALTA IDADE MÉDIA E AS OFICINAS MEDIEVAIS .......................................... 28 5.1 Alta Idade Média: Aspectos Culturais e Educacionais ...................................... 30 6 BAIXA IDADE MÉDIA ........................................................................................... 31 7 CULTURA MEDIEVAL .......................................................................................... 33 7.1 Arquitetura Medieval ......................................................................................... 34 7.2 Música Medieval ............................................................................................... 34 8 LITERATURA ........................................................................................................ 35 8.1 A Arte dos Livros na História Medieval ............................................................. 35 8.2 Os Tradutores Medievais .................................................................................. 37 8.3 Rei Artur: A Literatura Do Mito .......................................................................... 38 9 A EDUCAÇÃO MEDIEVAL ................................................................................... 39 9.1 As Escolas ........................................................................................................ 40 9.2 As Universidades .............................................................................................. 42 9.3 Estudantes e professores ................................................................................. 43 9.4 Os Cursos ......................................................................................................... 44 10 CENTRALIZAÇÃO POLÍTICA ............................................................................. 45 11 HISTÓRIA DA ALIMENTAÇÃO MEDIEVAL........................................................ 46 12 O PRÉ-CAPITALISMO MEDIEVAL ..................................................................... 51 13 A DEPRESSÃO DE FINS DE IDADE MÉDIA ..................................................... 52 14 A IDADE MÉDIA PARA OS MEDIEVAIS ............................................................ 55 15 HISTÓRIA MEDIEVAL NO BRASIL .................................................................... 58 15.1 O Desenvolvimento da Disciplina e Políticas Nacionais ....................................... 59 16 O ENSINO DA HISTÓRIA MEDIEVAL ................................................................ 61 16.1 Os Professores, O Livro Didático e a História Medieval ........................................ 62 16.2 Proposta Metodológica Do Ensino De História Voltado Ao Medievo ................. 63 16.3 Distâncias E Aproximações Entre A Idade Média E O Presente ........................ 64 16.4 Recursos Didáticos Utilizados No Ensino Da Idade Média .................................. 65 17 LEGADO DOS TEMPOS MEDIEVAIS ................................................................ 66 18 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 69 3 1 INTRODUÇÃO Fonte: www.mythologica.com.br Se numa conversa com homens medievais utilizássemos a expressão “Idade Média”, eles não teriam ideia do que estaríamos falando. Como todos os homens de todos os períodos históricos, eles viam-se na época contemporânea. De fato, falarmos em Idade Antiga ou Média representa uma rotulação a posteriori, uma satisfação da necessidade de se dar nome aos momentos passados. No caso do que chamamos de Idade Média, foi o século XVI que elaborou tal conceito. Ou melhor, tal preconceito, pois, o termo expressava um desprezo indisfarçado em relação aos séculos localizados entre a Antiguidade Clássica e o próprio século XVI. Este se via como o renascimento da civilização greco-latina, e, portanto, tudo que estivera entre aqueles picos de criatividade artístico-literária (de seu próprio ponto de vista, é claro) não passara de um hiato, de um intervalo. Logo, de um tempo intermediário, de uma idade média. A História Medieval é identificada como o período entre a História Antiga e a História Moderna (séculos X e XV). O nascimento da Era Medieval aconteceu a partir da queda do Império Romano e com a invasão dos povos bárbaros (germânicos). A Idade Média funcionou, principalmente, com base na economia ruralista e enfraquecimento comercial. Além disso, a sociedade era dividida por https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/historia-antiga https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/historia-moderna 4 hierarquias e marcada pela supremacia da Igreja Católica. Por muito tempo a Idade Média foi definida como Idade das Trevas, umaépoca de pouco desenvolvimento científico e artístico, no qual as pesquisas perderam espaço para crenças religiosas. Apesar disso, o ciclo da Idade Média trouxe grandes avanços, sobretudo na produção agrícola: criação de moinhos, táticas de adubamento e rodízio de terras. Outro patrimônio medieval são as universidades, que começaram a aparecer no século XIII, fora os movimentos artísticos, como o gótico e românico. Na Idade Média destacam-se: o Feudalismo, as Cruzadas e a Peste Negra. 2 FEUDALISMO Fonte: www.educamaisbrasil.com.br Durante a História Medieval, o Feudalismo foi uma organização política, econômica e jurídica baseada na posse de terras, prevalecendo as relações de vassalagem e suserania. A sociedade feudal era composta por camadas sociais bem distintas (clero, nobreza e servos). Sendo assim, não existia mobilidade social, isto é, passagem de um patamar social para outro. Abordar o papel da Cidade dentro do mundo feudal, ou mais especificamente dentro do feudalismo enquanto um sistema socioeconômico específico, implica em definir de maneira mais precisa cada um destes campos. Temos aqui duas coisas 5 distintas. ‘Mundo feudal’, ou “sociedade feudal”, deve ser entendido em uma acepção mais ampla do que “feudalismo”, esta expressão que logo veremos referir-se mais propriamente a um aspecto econômico-social da sociedade feudal. O ‘modo de produção feudal’ incluía, desta forma, tanto um sistema senhorial de exploração econômico-social, como o conjunto de mecanismos feudo-vassálicos através do qual se organizava e se hierarquizava a parcelarização do poder. A própria realeza, situada no ápice da pirâmide feudal, seria um elemento a mais deste complexo sistema econômico-social. Cumpre notar que a ideia de ‘modo de produção’ pressupõe uma superestrutura na qual se situam, entre outros, os mecanismos ideológicos que dão suporte à exploração social. Desta forma, o papel da Igreja e da organização clerical pode ser considerado como parte integrante do sistema global. O conceito de ‘modo de produção’, às vezes camuflado em alguma outra noção substituta, expandiu-se logo para setores historiográficos não necessariamente marxistas. Jacques Le Goff e Georges Duby, medievalistas aliados à História Nova, não hesitam em empregá-lo (LE GOFF, 1992, p.55). Mas cedo surgiu, conforme o objeto historiográfico que se constituía nesta ou naquela investigação, a necessidade de separar mais claramente o que era sistema de exploração da propriedade e do trabalho e o que era sistema de suserania e vassalagem envolvendo os homens pertencentes à nobreza. Por isto, Georges Duby propõe, chamar ‘modo de produção senhorial’ a este sistema de exploração da terra que enquadra camponeses submetidos a um senhor que exerce sobre eles um conjunto de poderes e direitos, independente da questão feudal. Quanto às relações de suserania e vassalagem, ficam melhor enquadradas no conjunto de ‘instituições feudo-vassálicas’. Obviamente que os dois âmbitos continuam inter-relacionados, mas a utilização de expressões diferenciadas torna-se aqui uma questão de maior precisão metodológica. 2.1 A interação entre Cidade e Feudalismo1 Jacques Le Goff, em O Apogeu da Cidade Medieval (1980), assim resume as quatro posições fundamentais relativas à questão do relacionamento entre Cidade e Feudalismo. Uma primeira posição assimila a cidade diretamente a uma senhoria, ou 1 Extraído de https://www.revistas2.uepg.br/index.php/humanas/article/download/644/626 6 a um poder feudal. No polo oposto, existem os que veem na cidade um fenômeno essencialmente “anti-feudal”. Mais interessante, embora também rejeitada pelo autor, é a posição que considera a cidade como um “enclave territorial” no sistema feudal e o “sistema urbano como sistema aliado ao feudalismo”. Por fim, há os que consideram, como o próprio Le Goff, que Cidade e Feudalismo formam um ‘sistema integrado’, ou o que José Luís Romero denominou “sistema feudo-burguês” (LE GOFF, 1992, p.57). As duas primeiras posições quase já não são defendidas pela historiografia moderna. A ideia de uma cidade medieval linearmente assimilada a um poder feudal esteve bastante em voga no século XIX e no princípio do século XX, e isto de diversas maneiras. A cidade, pode possuir senhores urbanos (nobres ou eclesiásticos) a que se sujeita a sua burguesia, havendo inclusive um certo número de terras enfeudadas em solo urbano (Reims). Os próprios burgueses ricos podem, em alguns destes casos, conseguir adquirir terras urbanas enfeudadas e reverter elementos do feudalismo a seu favor (Metz, século XIII). Até aqui, o solo urbano foi visto como objeto de feudalização ou de senhoria. Neste último caso, a comunidade urbana de burgueses torna-se agente de um processo de domínio senhorial sobre o campo a ela adstrito, em situação inversa às anteriormente descritas. Por fim, e isto já constitui um terceiro caso, são conhecidas também as assimilações do vocabulário vassálico ao vínculo contratual entre um senhor e uma cidade. Os reis utilizaram frequentemente estes contratos vassálicos com concelhos urbanos no seu caminho para o fortalecimento das monarquias feudais. Fonte: www.conhecimentocientifico.r7.com 7 2.2 Clero Fonte: www.cultura.culturamix.com A Igreja Católica era a instituição mais poderosa da história medieval, dona de inúmeras extensões de terra. Para ela, cada integrante da sociedade tinha uma função específica a cumprir durante estadia na terra. A missão do nobre era proteger militarmente o corpo social, a do clero rezar e a do servo trabalhar. Com o desenvolvimento da fé cristã pela Europa, a Igreja passou a ter um papel de ação social e político cada vez mais amplo nos tempos medievais. Desde sua conjunção com o Estado Romano, os membros eclesiásticos dispensavam esforços para organizar a sua própria hierarquia, determinar as crenças e realizar a conversão dos pagãos. No século IV, o Concílio de Niceia definiu as bases doutrinárias da religião e o combate às dissidências interpretativas. No século seguinte, a hierarquia da Igreja se mostrava organizada em uma complexa estrutura. Na base estavam os padres, responsáveis pela condução das paróquias espalhadas em uma mesma diocese. Logo em seguida, os bispos tomavam conta de uma província e os arcebispos das capitais das províncias. No topo se encontravam os patriarcas, que tomavam conta das mais importantes cidades; e o papa, líder máximo que determinava as ações de todos aqueles que ocupavam os escalões inferiores. 8 Com o passar do tempo, observamos que essas ações de organização religiosa e administrativa passaram a conviver com outra situação. A doação de feudos como sinal de devoção acabou fazendo com que a Igreja se transformasse em uma grande proprietária de terras. Nesse novo contexto, a influência exercida no campo da fé passou a se estender para o campo político e econômico. Em pouco tempo, o celibato entre os clérigos apareceu como uma medida que conservava as propriedades eclesiásticas. O constante envolvimento da Igreja com questões políticas e econômicas acabou abrindo portas para outra divisão no interior da instituição religiosa. Já na Baixa Idade Média surgiram ordens interessadas em se abster das questões materiais e viver somente em função do plano da espiritualidade. Através de votos de castidade, pobreza e silêncio, estes clérigos buscavam uma experiência espiritual mais elevada e afastada das tentações do mundo material. Nasceu assim o movimento monástico, onde os cenobitas, mais conhecidos como monges, habitavam o interior dos mosteiros em busca do cumprimento dessa vida de resignação espiritual. No século VI, o monge Bento de Núrsia fundou a ordem monástica beneditina, considerado o primeiro grupo de monges de toda a Idade Média.Logo em seguida, as outras ordens monásticas da Igreja foram inspiradas pelas orientações fundadas pela “Regra de São Bento”. Na Idade Média, houve um período em que o clero foi dividido em dois: o clero regular e o clero secular. Esses membros envolvidos restritamente com a questão espiritual seriam reconhecidos como os integrantes do clero regular, ou seja, aqueles que viviam em acordo com as regras dos mosteiros. Por outro lado, os dirigentes religiosos ligados às questões políticas e econômicas, passaram a incorporar o clero secular. Nesta subdivisão, os representantes da Igreja se envolviam na administração das riquezas e interferiam ativamente nas questões políticas da época. 2.3 Nobreza No topo da hierarquia estava o rei, que acumulava pouco poder político, já que medidas jurídicas também eram decididas pelos senhores feudais. A nobreza era proprietária de terras e exercia pleno poder em seus territórios, aplicando leis, liberando privilégios e administrando a justiça. A aristocracia, ou a nobreza, da época medieval era constituída precisamente por indivíduos que possuíam detenção de 9 terras e algum tipo de influência ou poder político. O título nobiliárquico para cada indivíduo era outorgado por reis e senhores feudais segundo uma hierarquia, que se dividia, esquematicamente, entre alta nobreza e pequena (ou baixa nobreza). Na alta nobreza figuravam aqueles poucos que detinham títulos como os de príncipes, arquiduques, duques, marqueses e condes. Já a baixa nobreza contava com um número mais elevado de nobiliárquicos, cujos títulos eram os de viscondes, barões e cavaleiros. Fonte: https://www.infoescola.com Aquele que recebia o título de cavaleiro geralmente se caracterizava por ser especialista em armas, isto é, destacava-se por ter habilidade com lança, espada, escudo e dedicar-se a atividades como a guerra e a caçada, que marcavam o seu modo de vida. Ademais, os cavaleiros viviam do trabalho dos camponeses que ficavam sob seu domínio nas terras que lhe pertenciam. Isso lhes garantia a estabilidade para dedicar-se à atividade militar. Em alguns casos, os rendimentos do cavaleiro também vinham de algum suserano, ou senhor, a quem devia fidelidade. As vitórias em combates davam aos nobres cavaleiros, além de prestígio, prêmios e recompensas que eram recebidos de seus senhores. A moral do nobre assentava-se exatamente na fidelidade ao senhor por meio de juramento, que, se quebrado, figurava entre a maior das ofensas da classe aristocrática. Outras características dos nobres eram o seu orgulho e a sua coragem. O historiador 10 especialista em história medieval, Marc Bloch, assim se referiu ao orgulho do nobre medieval: Uma teoria então muito difundida representava a comunidade humana como dividida em três «ordens»: aqueles que oram, aqueles que lutam e aqueles que trabalham. E isto, de acordo unânime, pondo o segundo muito acima do terceiro. Mas o testemunho da epopeia vai ainda mais longe; o soldado não hesitava em considerar a sua missão superior até à do especialista da oração. O orgulho é um dos ingredientes essenciais de toda a consciência de classe. O dos «nobres» da era feudal foi, acima de tudo, um orgulho de guerreiro. ” (Bloch, Marc. A sociedade feudal. Edições 70, Lisboa. 1987, p. 324). Esse orgulho guerreiro tornou-se fonte para vários romances épicos e canções de gesta. Muitas histórias de cavalaria, como os contos e lendas do Rei Arthur, inspiraram-se no universo da nobreza medieval. O romance considerado fundador da narrativa moderna também teve como base esse tipo de história, trata-se de Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes. 2.4 Servos A servidão era o principal método de trabalho da conjuntura feudal. Os trabalhadores viviam presos a terra e submissos a uma série de obrigações, como impostos e serviços. Fora os servos, haviam os vilões – homens livres que moravam nas vilas e prestavam serviços ao senhor feudal em troca de propriedades – os ministeriais, que administravam os feudos e podiam até ser membros da pequena nobreza, e os escravos. Além disso, prevaleceu na sociedade feudal as relações de fidelidade entre o suserano e seu vassalo. O suserano, normalmente um senhor feudal, doava terras e até castelos ao vassalo, um nobre que recebia as terras e, em troca, oferecia trabalho e proteção militar, caso ocorresse alguma guerra. Um vassalo também podia torna-se suserano no instante em que cedesse parte de suas terras a outro nobre e assim sucessivamente. As redes de vassalagem, muitas vezes, se estendiam por várias regiões, sendo o rei o suserano mais poderoso. Os camponeses eram os constituintes da base da sociedade feudal. Mesmo compondo a expressa maioria da população medieval, esses eram subordinados à autoridade dos grandes proprietários de terra pelo sistema de servidão. Na condição de servos, esta classe de camponeses devia realizar todo o trabalho agrícola responsável pelo sustento de todas as ordens feudais. 11 Do ponto de vista social, podemos observar que a força de trabalho destes camponeses era sistematicamente explorada pelos senhores feudais. Essa relação desigual pode ser justificada pelo fato do servo, além de ceder parte de seu tempo no cultivo das terras de seu senhor, também devia oferecer uma parte de sua produção para o pagamento das chamadas obrigações feudais. A condição subordinada dos servos camponeses se mantinha estável na medida em que existia um forte discurso religioso que justificava essa condição. Para a Igreja, as condições de vida servis eram o simples resultado dos desígnios divino. Dessa maneira, os camponeses acreditavam que as penúrias da vida cotidiana pudessem ser futuramente recompensadas pelo conforto de uma vida nos céus. De fato, o trabalho dos camponeses era cercado por uma série de dificuldades a serem extrapoladas. A precariedade das terras e as limitações técnicas do plantio resultavam em uma produção agrícola nem sempre capaz de atender as necessidades básicas do camponês e de seus familiares. Por isso, podemos observar que a coleta de frutos silvestres, a pesca e as atividades de caça incrementavam a dieta camponesa. No século XIV, a diminuição da produção agrícola e a consequente falta de alimentos estabeleceram várias revoltas camponesas. Em geral, reivindicando a redução das obrigações feudais e maiores parcelas das colheitas, vários servos ordenaram atos de violência contra senhores feudais. Conhecidas como jacqueries, esses levantes tiveram grande presença na Bélgica e na França. Fonte: www.pareoraio.wordpress.com 12 2.5 Economia Feudal Dentro da História Medieval, a economia do feudo girava em torno do consumo local, ou seja, da agricultura e pastoreio. O comércio era inexistente, já que as trocas eram feitas com apenas produtos. Já existiam moedas, porém eram pouco utilizadas. Nos feudos a produtividade era baixa, pois as técnicas agrícolas eram primitivas. Mesmo assim, plantavam-se cereais (trigo, aveia e cevada), ervilhas e uvas. Em cada feudo era possível encontrar as terras reservadas para a casa senhorial, a parte dos servos, onde cultivavam o necessário para sobrevivência, e as áreas em comum entre todos (pastos, florestas e bosques). Além de realizarem boa parte do trabalho, os servos eram obrigados a pagar diversos impostos, sendo eles: Banalidade: o senhor feudal, além de oferecer abrigo e segurança, deixava a disposição de seus servos e camponeses alguns equipamentos que poderiam ser utilizados em seu dia a dia mediante o pagamento de uma taxa. Esta taxa ficou conhecida como “Banalidade” e era o imposto pago pelo uso dos moinhos e fornos entre outros. Capitação: já o imposto chamado de “Capitação” era a contribuição paga referente a cada cabeça. Ou seja, se determinada família tinha cinco pessoas morando no feudo, aplicava-sea multiplicação da taxa por 5, sendo o resultado pago ao senhor feudal. Corveia: um pagamento em trabalho, a “Corveia” era o imposto que obrigava os servos e camponeses a trabalharem duas vezes por semana nas terras mansas senhoriais, ou seja, aquelas pertencentes ao senhor feudal e cujo produto do cultivo seria inteiramente dele. Talha: como se não bastassem todas as demais cobranças, a “Talha” procurava assegurar que cerca de metade de toda a produção das terras mansas servis fossem entregues também ao senhor feudal. Como se vê, a economia feudal, não muito diferente da atual economia mundial, era sustentada pelo povo enquanto que poucos, apenas o pico da pirâmide, desfrutava de uma vida de luxo e regalias infindáveis. 13 Fonte: https://economia.culturamix.com/ 2.6 Educação, Artes e Cultura A educação era para poucos, pois só os filhos dos nobres estudavam. Marcada pela influência da Igreja, ensinava-se o latim, doutrinas religiosas e táticas de guerras. Grande parte da população medieval era analfabeta e não tinha acesso aos livros. A arte medieval também era fortemente marcada pela religiosidade da época. As pinturas retratavam passagens da Bíblia e ensinamentos religiosos. As pinturas medievais e os vitrais das igrejas eram formas de ensinar à população um pouco mais sobre a religião. Podemos dizer que, em geral, a cultura medieval foi fortemente influenciada pela religião. Na arquitetura destacou-se a construção de castelos, igrejas e catedrais. 2.7 Guerras A guerra no tempo do feudalismo era uma das principais formas de obter poder. Os senhores feudais envolviam-se em guerras para aumentar suas terras e poder. Os cavaleiros formavam a base dos exércitos medievais. Corajosos, leais e equipados com escudos, elmos e espadas, representavam o que havia de mais nobre no período medieval. Os nobres moravam em castelos fortificados, projetados para serem residências e, ao mesmo tempo, sistema de proteção. 14 2.8 O fim do Feudalismo O feudalismo não terminou repentinamente, de uma hora para outra, ou seja, de forma repentina. Ele foi se enfraquecendo aos poucos e sendo substituído pelo sistema capitalista. Podemos dizer que o feudalismo começou a entrar em crise já no século XII, com várias mudanças sociais, políticas e econômicas. Em algumas regiões da Europa, o renascimento comercial, por exemplo, teve um grande papel na transição do feudalismo para o capitalismo. 3 HISTÓRIA MEDIEVAL: AS CRUZADAS Fonte: www.todoestudo.com.br As Cruzadas foram expedições militares e religiosas organizadas pela Igreja Católica, na Europa do século XI e XIII. O principal objetivo dessas jornadas era dominar a chamada Terra Santa, a Palestina. Em 1095, Urbano II, em oposição a este impedimento, convocou um grande número de fiéis para lutarem pela causa. Além disso, a igreja queria unir a Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, separadas em 1054, e chamar atenção dos cristãos para o combate aos infiéis, uma forma de amenizar os conflitos dentro da religião. Muitas pessoas integravam as Cruzadas confiando nas promessas de salvação da alma. Como a influência da igreja era intensa, todos os cristãos buscavam a 15 remissão dos seus pecados e libertação da condenação eterna. As tentativas de conquistar a Terra Santa fracassaram. A Europa investiu muito dinheiro e milhares de pessoas morreram. Porém, as Cruzadas serviram para o desenvolvimento do comércio, enfraquecendo assim o modo de produção feudal. Além disso, conseguiram restabelecer os laços entre a Europa, o norte da África e a Ásia, colaboraram com a reabertura do mar Mediterrâneo ao mercado internacional, fora o aprendizado de novas práticas agrícolas. 3.1 Motivações Materiais De fins do século XI a fins do XIII ouve um fluxo constante de ocidentais dirigindo-se para a periferia da Cristandade Latina de fato um conjunto de fatores material e espiritual provocou as Cruzadas que representaram uma espécie de solução para os problemas colocados pelo início da desestruturação feudal, a desorganização que seguira a queda do Império Romano e a insegurança provocada pelas invasões germânicas pediam uma nova estrutura. Assim organizava-se uma nova sociedade que apresentava grande distância entre a elite clerical e guerreira e a massa camponesa. Nesta, a condição social de cada indivíduo estava definida por Deus logo ao nascimento, ficando, portanto, estabelecia a vitaliciedade e hereditariedade: filho de nobre é nobre, filho de camponês é camponês daí o termo “sociedade de ordens”. Um dos primeiros a serem abordados é o contexto de expansão demográfica, a fraqueza populacional do Ocidente tinha começado lentamente a se modificar com o início do feudalismo, pois este removera os obstáculos que impediam a tendência natural que toda espécie tem a se multiplicar. Em segundo lugar o cessaram as invasões estrangeiras e as grandes batalhas tornando menos mortíferas. Em terceiro o fator determinante do surto demográfico foi a abundância de recursos naturais, onde vários territórios ficaram abandonados recuperando assim a fertilidade ou recobrindo- se de florestas e pastagens naturais. Por fim o crescimento populacional está claramente ligado à inovação de técnicas agrícolas verificadas na época. O contexto comercial é outro elemento a ser levado em consideração para se entender a gênese das Cruzadas neste processo a Itália teve a primazia graças a vários fatores, sua localização geográfica no centro do Mediterrâneo, mais o estreito contado com a civilização bizantina e a muçulmana. 16 O contexto social um aspecto que nos interessa é a maior mobilidade social, com a passagem da sociedade de ordens para a sociedade estamental, significando que na primeira o indivíduo é de determinada camada social, condicionamento divino desde o nascimento, na segunda o indivíduo está num certo grupo social, devida a expansão demográfica ter reduzido o tamanho da parcela de terra de cada família camponesa, obrigando muitos indivíduos a tentarem um novo gênero de vida. Um dos elementos sociais de mais ativa participação nas Cruzadas foram os secundogênitos de famílias nobres, com a morte de seu detentor, a terra passasse indivisa para seu filho primogênito, os demais filhos entravam para o serviço de seu irmão mais velho ou se tornavam clérigos, recebendo, portanto, terras da Igreja. O contexto político em parte ligado àquela nobreza despossuída e turbulenta contribui para a ocorrência das Cruzadas, a questões de política eclesiástica, tinha outra razão que era tentar a reunificação da Cristandade, onde havia uma series de divergências entre a Igreja de Roma e de Constantinopla. A motivações materiais da Cruzada é o próprio discurso do papa Urbano II em novembro de 1095. Fonte: https://nationalgeographic.sapo.pt/ 17 3.2 Motivações Psicológicas No caso das Cruzadas, devemos levantar três elementos fundamentais da mentalidade da época: a contratualidade, a belicosidade e a religiosidade. O feudalismo era fortemente baseado na ideia de contrato, de reciprocidade de direito e obrigações, onde por um tempo acabou por se enraizar na mentalidade, ultrapassando o nível de relações inter-humanas para atingir a própria relações com Deus. E passaram a ser concebida como relação vassalo-senhor feudal. A belicosidade foi outro componente da mentalidade que se originou na pratica social para depois ganhar lugar no inconsciente coletivo. Naturalmente o inimigo era visto como exército demoníaco e, portanto, combate-lo era ao mesmo tempo obra política e religiosa. A religiosidade era o grande traço menta da época das Cruzadas formado a partir do contato com a realidade, onde a força do bem poderia ser levada a ajudar o homem a dominar a natureza a faze-la trabalhar para seu benefício (clima, terrafértil e animais reproduzindo). 3.3 As Cruzadas No Oriente E No Ocidente As Cruzadas resultaram de um conjunto de fatores materiais e psicológicos as que buscavam a Terra Santa recebem tradicionalmente números no caso das expedições oficiais ou nomes Cruzadas popular Cruzada de Crianças para indicar a composição social diversa de outras. 3.4 O Movimento Das Cruzadas No Oriente Médio Após o discurso do papa Urbano II despertado pela ideia de se partir para Jerusalém foi muito grande; a caminho estes grupos de pequenos cavaleiros, camponeses, clérigos, aventureiros, maltrapilho e desenraizado muitas vezes ao limite da fome, passando então a roubar e saquear. Milhares de peregrinos que tinham partido em abril de 1096, morreu durante a viagem, os que chegavam ao Império Bizantino maravilhavam-se com o esplendor e a riqueza de Constantinopla onde ouve inveja e menosprezo onde apenas alargaram o fosso entre as duas partes da Cristandade. 18 3.4.1 Primeiras Cruzadas (1095-1099) Fonte: www.universiaenem.com.br A Primeira Cruzada teve início em 1095 após declaração do papa Urbano II durante o Concílio eclesiástico de Clermont, na França. Na ocasião, ele evocou a necessidade de os cristãos reconquistarem Jerusalém e libertarem o Santo Sepulcro, sob domínio muçulmano desde 1076. O movimento militar de caráter religioso não foi um episódio isolado, mas um conjunto de campanhas que incluiu a Cruzada Popular, a Cruzada dos Nobres e a Cruzada de 1101. A atitude do papa foi motivada em parte pelo imperador Aleixo I Comneno, de Constantinopla (1081-1118), que temia uma investida muçulmana contra seus territórios, dada a proximidade de seus domínios com a cidade santa de Jerusalém. Urbano II prometeu aos participantes da expedição, a absolvição dos pecados, além da garantia de terras e riquezas quando da reconquista da Terra Santa. As notícias sobre o concílio de Clermont e a iminente campanha a Jerusalém, espalharam-se com rapidez pelo Ocidente e atraíram nobres e populares. Muito antes da data marcada para o início da expedição, estabelecida pelo concílio de Clermont para o dia 15 de agosto de 1096, as primeiras multidões de camponeses começaram a marchar em direção ao Oriente. A caminhada de camponeses e populares ficou conhecida como Cruzada Popular ou Cruzada dos Mendigos. Eles causaram 19 desordem e chegaram em péssimas condições a Constantinopla. O imperador Aleixo I Comneno, desejando afastá-los de sua capital, procurou incentivá-los a atacar os infiéis. Foi um desastre, pois a Cruzada chegou muito enfraquecida à Ásia Menor, onde foi arrasada pelos turcos. A Cruzada dos Nobres, por sua vez, partiu da Europa utilizando cruzes vermelhas, que sinalizariam a motivação religiosa do conflito, e iniciaram a cruzada sitiando várias cidades até alcançar o seu destino final. Apesar das dificuldades encontradas durante a jornada, os combatentes cristãos conquistaram Niceia e Antioquia até início de julho de 1098. Após Beirute, prosseguiram até Jafa e Haifa. Em Edessa, Godofredo de Bulhão fundou o primeiro "Estado de cruzados". Três anos após partirem do Ocidente, eles chegaram a Jerusalém. Na cidade Santa, logo provocaram um grande massacre contra os muçulmanos que ali habitavam. Depois da conquista, Godofredo de Bulhão foi eleito chefe do Reino de Jerusalém. Com sua morte, em 1100, ele foi sucedido por seu irmão, Balduíno de Bolonha. A nova ordem do Oriente Médio não durou muito tempo, pois a região estava circundada por países árabes, indignados e enfurecidos com as cruzadas. Nos dois séculos seguintes o conflito entre muçulmanos e cristãos se intensificou, o que motivou novas cruzadas e consequentemente causou a morte de centenas de milhares de pessoas. Na Europa, contudo, as cruzadas acentuaram a expressão da coletividade em torno da cruz e do papa, o que gerou o surgimento de uma espécie de "comunidade europeia" cristã. O sucesso da Cruzada dos Nobres e a necessidade de reforços para a defesa dos novos estados sob domínio cristão levaram o papa Pascoal II, sucessor de Urbano II a incentivar uma nova expedição chamada de a Cruzada de 1101. A campanha, entretanto, não foi bem-sucedida como a anterior. As derrotas dos cruzados em diversas batalhas fizeram os muçulmanos perceberem que eles não eram invencíveis, como parecera durante a Cruzada dos Nobres. 3.4.2 A segunda Cruzada (1147-1149) A Segunda Cruzada foi uma expedição dos cristãos europeus, proclamada pelo papa Eugénio III e pregada por São Bernardo de Claraval em resposta à conquista de Edessa em 1144 pelos muçulmanos. A cruzada liderada pelos monarcas Luís VII de França e Conrado III da Germânia ocorreu entre 1147 e 1149 e foi um fracasso: Os 20 cruzados não reconquistaram Edessa e deixaram o Reino de Jerusalém politicamente mais fraco na região. O único ponto positivo da campanha foi a recuperação de Lisboa em 1147. A Segunda Cruzada não obteve o sucesso esperado. A expedição acabou por complicar a relação entre os reinos cruzados, bizantinos e governantes muçulmanos. A única vitória cristã foi a reconquista de Lisboa em 1147 sob a solicitação de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal. Nenhuma nova cruzada foi lançada até a conquista de Jerusalém pelos muçulmanos em 1187. O condado de Edessa estava definitivamente perdido e o principado de Antioquia ficou reduzida à metade do seu antigo território. 3.4.3 Terceira Cruzada (1189-1192) Fonte: www.fineartamerica.com A Terceira Cruzada pode ser compreendida como uma reação cristã à conquista de Jerusalém pelo líder muçulmano Saladino em 1187. A expedição teve como principais condutores os reis da Inglaterra e da França, respectivamente Ricardo I (Ricardo Coração de Leão) e Filipe Augusto, além do imperador do Sacro Império Romano-Germânico, Federico Barba Ruiva (traduzido por alguns como Barbarossa ou Barba-Roxa), o que a levou a ser popularmente conhecida como a Cruzada dos 21 Reis. Embora tenha reunido inicialmente um grande exército, ela se revelou um fracasso no seu objetivo principal. Assim como as anteriores, a expedição foi organizada a pedido de um papa, na ocasião Gregório VIII, e buscou construir e consolidar a supremacia européia durante a Idade Média. Além da participação ativa de monarcas cruzados, a Terceira Cruzada, ocorrida entre 1189 e 1192, tem como característica uma maior tolerância entre líderes cristãos e muçulmanos. O período marcou também o surgimento e a participação dos Cavaleiros Teutônicos. 3.4.4 Quarta Cruzada (1199 – 1204) Com o intuito de recuperar o domínio cristão em Jerusalém, que estava sob hegemonia dos turcos otomanos, a Igreja Católica empreendeu as Cruzadas para fortalecer sua doutrina religiosa no mundo. Entretanto, com a Quarta Cruzada pregada pelo papa Inocêncio III, os interesses da Igreja Católica seriam desviados pelo duque de Veneza Enrico Dandolo. A comitiva para a Quarta Cruzada era liderada por Balduíno IX, Conde de Flandres e o Marquês de Montferrant. Eles estavam com algumas dificuldades de pagar a extrema quantia exigida por Veneza para a travessia dos barcos e locomoção do Exército para o Egito. 3.4.5 Quinta Cruzada (1217-1219) Após o desvio de interesses que caracterizou a Quarta Cruzada em 1204, o papa Inocêncio III propôs, em 1215, o empreendimento de uma nova Cruzada através do Quarto Concílio de Latrão, um dos mais importantes eventos da Idade Média onde reuniam-se líderes religiosos e laicos de diversas regiões para discutir temas condizentes à Igreja Católica. Entretanto, ela só seria efetivamente posta em prática em 1217, a mando do papa Honório III. Os líderes daquela que seria a Quinta Cruzada eram: André II, rei da Hungria; Leopoldo VI, duque da Áustria; Jean de Brienne, considerado por eles rei de Jerusalém; e Frederico II, do Sacro Império Romano- Germânico.Por mais que Jerusalém fosse o alvo dos cruzados, eles decidiram atacar primeiro a cidade do Cairo, no Egito. Frederico II, que estava à frente da comitiva, deparou-se com um conflito interno entre os sultões do Egito e Damasco. 22 Conquistaram uma pequena fortaleza e receberam reforço papal com a chegada do autoritário cardeal Pelágio. Em 1219, com um acordo de paz, os muçulmanos propõem a entrega de Jerusalém aos cristãos com a condição de que eles se retirem do Egito. O cardeal Pelágio nega a oferta alegando que os egípcios não resistiriam ao ataque dos cruzados com a chegada de Frederico II. Depois da demorada reorganização da Cruzada novamente até o Egito, em 1221 os cristãos avançaram até Cairo. Porém, após a recusa das ofertas dos muçulmanos, depararam com uma emboscada em que estariam completamente cercados e sem acesso à comida. Para a retirada completa dos cristãos, os egípcios fizeram uma nova proposta: deixaria eles se retirarem com vida caso aceitassem a imposição de uma trégua por oito anos de paz. Sem a chegada das tropas de Frederico II, os cruzados tiveram que se retirar da cidade. Visto como o personagem central do fracasso da Quinta Cruzada, Frederico II foi excomungado da Igreja pelo papa Gregório IX. 3.4.6 Sexta Cruzada (1228-1229) Fonte: www.mundohistoria.org A Sexta Cruzada foi lançada pelo imperador do Sacro Império, Frederico II de Hohenstauffen, no ano de 1227. Não obteve o êxito esperado e marcou-se por um dos fatos mais interessantes, seu propagador foi excomungado pelo Papa por duas vezes. 23 Frederico II era o herdeiro do trono de Jerusalém e desejava tomar posse de seus direitos em Chipre e Jerusalém-Acre, convocou então uma Cruzada para o ano de 1227. Entretanto Frederico II era partidário do diálogo com os muçulmanos em lugar de se resolver as questões por via de guerras. No mesmo ano de 1227 o sultão do Egito enviou uma comitiva de paz para conversar com o imperador do Sacro Império, adepto do diálogo, resolveu aguardá-la mesmo tendo já sua frota partido para o Oriente. O Papa Gregório IX não ficou satisfeito com o comportamento de Frederico II e o atraso que causara no avanço da Cruzada e então, pela primeira vez, o excomungou. 3.4.7 Sétima Cruzada (1248-1250) A Sétima Cruzada foi comandada pelo rei francês Luís IX, o objetivo era alcançar o Egito. Após algumas investidas o exército de cruzados conseguiu vitórias importantes e o domínio de alguns territórios, mas a prisão do líder francês fez com que tudo se perdesse. 3.4.8 Oitava Cruzada (1270) O clima de instabilidade entre os cristãos no Oriente Médio na década de 1260 foi a grande justificativa para que o rei francês Luís IX decidisse organizar uma nova Cruzada, no ano de 1270. No dia 2 de julho de 1270, as tropas francesas partem de Aigues-Mortes em direção ao Oriente Médio, dando início à Oitava Cruzada. Chegaram primeiramente no Egito, que estava dominado pelo sultão Bibars. Com o objetivo de converter os sultões ao Cristianismo, os cruzados chegaram a deparar-se na mesma cidade que Maomé, que disse que iria recebê-los de mãos armadas. 3.4.9 Nona Cruzada (1271 – 1272) Pelo curto período de tempo entre elas, a Nona Cruzada é considerada, para muitos, como parte da Oitava Cruzada, onde o rei francês Luís IX e grande parte de suas tropas morreram no Oriente Médio em decorrência do alastramento de uma peste, sem chegar a confrontar os sultões, de religião islâmica. Em 1271, meses após o fim da Oitava Cruzada, o príncipe inglês Eduardo I mobiliza seus seguidores até a região do Acre, na Galileia, para reforçar o exército enviado anteriormente, na tentativa 24 de converter os sultões ao Cristianismo para manter a hegemonia cristã em Jerusalém, tida como Terra Santa. 3.5 O Ocidente após as Cruzadas Fonte: www.super.abril.com.br As Cruzadas foram importantes como todo evento histórico, num certo sentido as Cruzadas fracassaram, ou seja, não atingiram seus objetivos, a intenção eclesiástica de pacificar a Europa cristã desviando a nobreza sem terras para zonas periféricas também não chegou a ter sucesso. As Cruzadas aceleraram a desestruturação da sociedade feudal, e assim contribuíram as o acirramento das guerras feudais; por outro lado aumento a intolerância em relação a bizantinos e judeus e maior tolerância com os muçulmanos. Porem a mais importante consequência das Cruzadas no aspecto religioso foi ter permitido uma crescente oposição ao clericalismo, causando grande desprestigio a Igreja. Socialmente ouve o enfraquecimento da aristocracia o enfraquecimento da servidão e o fortalecimento da burguesia. O resultado político mais importante talvez tenha sido no processo de centralização política acelerando da monarquia feudais para monarquias nacionais onde se completou após as Cruzadas. Os Cruzados foram responsáveis pelas grandes transformações econômicas, pois as cidades eram os principais centros econômicos da época e tiveram importantes participações nas 25 Cruzadas exemplo Veneza e Gênova, o revigoramento do comercio e da economia monetária por si só criava condições para o surgimento de bancos e foi possibilitada pelo comercio a longa distância (transferência de fundos câmbio de moedas de diversas origens). Os Templários tornaram os grandes banqueiros da época e com esse dinheiro financiava a ida de muitos as Cruzadas. Em suma as Cruzadas distanciaram o Ocidente e o Oriente criando umas barreiras nos dois lados enraizaram-se no inconsciente coletivo. 3.6 Principais consequências Fonte: www.aulazen.com As Cruzadas proporcionaram também o renascimento do comércio na Europa. Muitos cavaleiros, ao retornarem do Oriente, saqueavam cidades e montavam pequenas feiras nas rotas comerciais. Houve, portanto, um importante reaquecimento da economia no Ocidente. Estes guerreiros inseriram, na Europa, novos conhecimentos, originários do Oriente, através da influente sabedoria dos sarracenos. Não podemos deixar de lembrar que as Cruzadas aumentaram as tensões e hostilidades entre cristãos e muçulmanos na Idade Média. Mesmo após o fim das Cruzadas, este clima tenso entre os integrantes destas duas religiões continuou. Já no aspecto cultural, as Cruzadas favoreceram o desenvolvimento de um tipo de literatura voltado para as guerras e grandes feitos heroicos. Muitos contos de cavalaria tiveram como tema principal estes conflitos. 26 4 HISTÓRIA MEDIEVAL: PESTE BUBÔNICA Fonte: www.aminoapps.com A Peste Negra foi uma pandemia, isto é, a proliferação generalizada de uma doença causada pelo bacilo Yersinia pestis, que se deu na segunda metade do século XIV, na Europa. Essa peste integrou a série de acontecimentos que contribuíram para a Crise da Baixa Idade Média, como as revoltas camponesas, a Guerra dos Cem Anos e o declínio da cavalaria medieval. A Peste Negra tem sua origem no continente asiático, precisamente na China. Sua chegada à Europa está relacionada às caravanas de comércio que vinham da Ásia através do Mar Mediterrâneo e aportavam nas cidades costeiras europeias, como Veneza e Gênova. Calcula-se que cerca de um terço da população europeia tenha sido dizimada por conta da peste. A propagação da doença, inicialmente, deu-se por meio de ratos e, principalmente, pulgas infectadas com o bacilo, que acabava sendo transmitido às pessoas quando essas eram picadas pelas pulgas – em cujo sistema digestivo a bactéria da peste se multiplicava. Num estágio mais avançado, a doença começou a se propagar por via aérea, através de espirros e gotículas. Contribuíam com a propagação da doença as precárias condições de higiene e habitação que as cidades e vilas medievais possuíam – o que oferecia condições para as infestações de ratazanas e pulgas. 27 Como ainda não havia um desenvolvimento satisfatório da ciência médica nestaépoca, não se sabia as causas da peste e tampouco os meios de tratá-la ou de sanear as cidades e vilas. A peste foi denominada “negra” por conta das afecções na pele da pessoa acometida por ela. Isto é, a doença provocava grandes manchas negras na pele, seguidas de inchaços em regiões de grande concentração de gânglios do sistema linfático, como a virilha e as axilas. Esses inchaços também eram conhecidos como “bubões”, por isso a Peste Negra também é conhecida como Peste Bubônica. A morte pela peste era dolorosa e terrível, além de rápida, pois variava de dois a cinco dias após a infecção. Uma das tentativas de compreensão do fenômeno mortífero da Peste Negra pode ser vista nas representações pictóricas da chamada “A dança macabra”, ou “A Dança da Morte”. As pinturas que retratavam a “dança macabra” apresentavam uma concepção nítida da inexorabilidade da morte e da putrefação do corpo. Nestas pinturas, aparecem sempre esqueletos humanos “dançando” em meio a todo tipo de pessoa, desde senhores e clérigos até artesãos e camponeses – evidenciando assim o caráter universal da morte. Fonte: www.megacurioso.com.br Outro fenômeno da época em que se desencadeou a peste foi a atribuição da causa da moléstia aos povos estrangeiros, notadamente aos judeus. Os judeus, por não serem da Europa e por, desde a Idade Antiga, viverem em constante migração, passando por várias regiões do mundo até se instalarem nos domínios do continente 28 europeu, acabaram por se tornarem o “bode expiatório” das multidões enfurecidas. Milhares de judeus foram mortos durante a eclosão da Peste. Com a morte de muitos trabalhadores, a mão de obra ficou escassa, sobrecarregando os que sobreviveram. Por isso, esta fase da História Medieval é marcada por várias revoltas camponesas, desestabilizando assim as estruturas da sociedade feudal. O poder da burguesia aumenta e com isso vem a crise do feudalismo, proporcionando o surgimento do capitalismo e retomada da força comercial. 5 A ALTA IDADE MÉDIA E AS OFICINAS MEDIEVAIS Fonte: www.pixelhunt.wordpress.com A Alta Idade Média foi o período inicial da Idade Média, que se estendeu da queda do Império Romano do Ocidente, em 476, até o enfraquecimento do feudalismo no início do século XI. Na Alta Idade Média, as atividades artesanais estiveram restritas às necessidades de um mesmo feudo. Geralmente, um artesão se fixava em uma propriedade oferecendo os seus serviços em troca da proteção e dos recursos disponíveis na propriedade feudal. Não raro, o artesão não dedicava todo o seu tempo disponível para as atividades artesanais estando também envolvido no trabalho com 29 a terra. De fato, os portadores desse tipo de habilidade possuíam um raio de ação limitado. Contudo, entre os séculos XI e XII, este panorama se modificou na medida em que as cidades e os contingentes populacionais da Europa cresceram significativamente. Podendo agora atender uma ampla gama de consumidores, esses artesãos passaram a se deslocar para o ambiente urbano onde tinham maior autonomia para organizar suas atividades. Progressivamente, o trabalho artesanal foi incorporando um significativo número de pessoas e se organizou de forma mais complexa. Foi nesse contexto que surgiram as chamadas oficinas. Nela observamos artesãos desempenhando funções variadas e a presença de relações de trabalho diferentes daquelas observadas no interior das propriedades feudais. Sob a perspectiva de uma economia monetarizada, os funcionários de uma oficina costumavam receber um salário em troca de uma jornada de trabalho. Além disso, vemos que a oficina congregava a matéria-prima e as ferramentas necessárias à produção. O dono de uma oficina era conhecido como o mestre-artesão. Ele possuía os contatos comerciais necessários para vender a produção, era proprietário das ferramentas e obtinha a matéria-prima a preços mais baixos. Na condição de dono da oficina, ele desfrutava da grande parte dos lucros obtidos com a venda de suas mercadorias finalizadas. Apesar de dono, muitos mestres também ocupavam o seu tempo participando do processo de fabricação. Logo abaixo do mestre-artesão estavam os oficiais jornaleiros, também conhecidos como companheiros. Na qualidade de artesãos – e muitas vezes tendo um grau de parentesco próximo ao mestre, os oficiais executavam grande parte das tarefas ligadas ao processo produtivo. Em troca de seu serviço ganhavam um salário estipulado pelo mestre e que variava muito em função do desempenho comercial apresentado pela oficina. Na última escala da hierarquia de uma oficina temos os aprendizes. Em geral, o aprendiz era um jovem que disponibilizava a sua ajuda aos artesãos enquanto tomava conhecimento das técnicas empregadas na produção de uma mercadoria. Em troca dos seus serviços, o aprendiz recebia moradia, alimentação e vestuário. Para ele, tal condição poderia ser vantajosa, pois, ao longo do tempo, poderia ascender socialmente, se transformando em artesão ou mestre. 30 Apesar de demonstrarem tal configuração, as oficinas medievais não podem ser simplesmente equiparadas ao ambiente fabril que se instala com a Revolução Industrial, no século XVIII. Dentro de uma gama de limites, podemos ver que as oficinas medievais foram uma primeira etapa do processo de complexificação da economia europeia que, séculos mais tarde, se configuraram sob a hegemonia das indústrias. 5.1 Alta Idade Média: aspectos culturais e educacionais A conquista do Império Romano do Ocidente pelos germânicos significou, em primeiro plano, a descentralização de poder. O extenso território romano, que antes formava um único grande Império, foi dividido em vários pequenos reinos, nos quais prevaleciam a autoridade do Papa, do Rei e dos Senhores Feudais e o trabalho da gleba serviçal, com a produção de subsistência retirada da terra como exclusiva fonte de renda. Nesse sentido, a Alta Idade Média é caracterizada pelo poder centralizado da Igreja Católica e do Rei, bem como pela agricultura, patriarcalismo, ruralismo, estatismo social e teocentrismo, sendo invertido esse estado categórico na Baixa Idade Média. No âmbito cultural, o antigo Império Romano do Ocidente é dividido “[...] em três espaços culturais diferentes. Na Europa ocidental, formou-se uma cultura cristã de língua latina, cuja capital era Roma. Na Europa oriental, surgiu um núcleo cristão de língua grega, cuja capital era Bizâncio”; no Norte da África e no Oriente Médio, “[...] desenvolveu-se na Idade Média uma cultura muçulmana de língua árabe” (Gaarder, 2004, p. 191, grifo do autor). Vale a pena ressaltar que, no contexto da Idade Média, “[...] os árabes foram os líderes em ciências tais como a matemática, química, astronomia e medicina. Até hoje empregamos os algarismos arábicos [...]. Em alguns campos, a cultura árabe era mesmo superior à cristã” (Gaarder, 2004, p. 191). Com efeito, a cultura greco-romana foi mantida em razão da Igreja Católica Primitiva, que vinha trabalhando desde as bases e ganhando espaço, principalmente desde que havia sido permitido seu credo, no século III d.C. Assim, a Igreja Católica foi a principal responsável pela manutenção do legado cultural greco-romano e por sua integração com a cultura dos conquistadores, os germânicos. 31 6 BAIXA IDADE MÉDIA Fonte: www.resumosprontos.site A Baixa Idade Média (XI ao XV) com suas crises e seus rearranjos, representou exatamente o parto daqueles novos tempos, a Modernidade. A crise do século XIV, orgânica, global, foi uma decorrência da vitalidade e da contínua expansão (demográfica, econômica, territorial) dos séculos XI-XIII, o que levara o sistema aos limites possíveis de seu funcionamento. Logo, a recuperação a partir de meados do século XV deu-se em novos moldes, estabeleceu novas estruturas, porém ainda assentadas sobre elementos medievais:o Renascimento (baseado no Renascimento do século XII), os Descobrimentos (continuadores das viagens dos normandos e dos italianos), o Protestantismo (sucessor vitorioso das heresias*), o Absolutismo (consumação da centralização monárquica). Em suma, o ritmo histórico da Idade Média foi se acelerando, e com ele nossos conhecimentos sobre o período. Sua infância e adolescência cobriram boa parte de sua vida (séculos IV-X), no entanto as fontes que temos sobre elas são comparativamente poucas. Sua maturidade (séculos XI-XIII) e senilidade (século XIV- XVI) deixaram, pelo contrário, uma abundante documentação. É essa divisão cronológica que nos guiará ao longo do exame de cada uma das estruturas básicas da Idade Média. Se nos capítulos a seguir dedicamos atenção desigual a cada uma 32 daquelas fases, é porque, grosso modo, acompanhamos inversamente o ritmo histórico c diretamente a disponibilidade de fontes e trabalhos sobre elas. Fonte: https://www.colegioweb.com.br/ A divisão histórica do período medieval é marcada por dois momentos com características diferenciadas, conforme a síntese a seguir: Alta Idade Média (do século V ao X): Formação do feudalismo; Decadência do comércio; Economia rural; Fortalecimento do poder local exercido pelos senhores feudais; Ascensão da Igreja e da cultura teocêntrica; Europa ocupada por povos “bárbaros”; em seguida, por árabes e mulçumanos; Baixa Idade Média (do século X ao XV): Renascimento comercial e urbano. Decadência do feudalismo. 33 Decadência do poder local e fortalecimento do poder nacional, representado pelo rei. Efervescência cultural urbana. Europa invasora, conquistadora, com as Cruzadas e outras investidas. 7 CULTURA MEDIEVAL Fonte: www.segundosssa.blogspot.com A Cultura Medieval é caracterizada pela influência da Igreja Católica sobre as culturas greco-romanas e germânicas durante a Idade Média. Nesse contexto, entende-se como cultura todas as atividades relacionadas à educação, à ciência, à filosofia, à arquitetura e à música, entre outros elementos. A Idade Média (476-1453), também chamada de Idade das Trevas, por muito tempo foi vista como uma época de atraso cultural devido, principalmente, a interferência da igreja na produção científica. A visão negativa também advém das várias guerras, doenças e desigualdades sociais que ocorreram. 34 Contudo, atualmente essa conotação negativa não é tão utilizada. A ideia de escuridão tem sido desmitificada aos poucos por alguns historiadores do século XX, que reconheceram que houve sim produção de conhecimentos que contribuíram para a Cultura Medieval. 7.1 Arquitetura Medieval Na arquitetura medieval destacaram-se os estilos Romântico (Alta Idade Média), caracterizado pela austeridade e solidez e o estilo Gótico, marcado pela leveza e formas esguias. A arquitetura medieval ficou muito conhecida pela construção de castelos, mas foram nas Igrejas e Catedrais que a arquitetura religiosa floresceu. Nesses espaços sacros, eram necessárias a retratação de cenas religiosas e moralizadoras para catequizar a população. 7.2 Música Medieval Fonte: www.universonerd.net A música também recebeu grande influência da Igreja, haja vista o canto sacro, especialmente o gregoriano de Gregório Magno (Papa Gregório I), composto por vozes masculinas em formato de coral. Contudo, enquanto o monge italiano Guido d'Arezzo cria a pauta de quatro linhas e escala musical, os trovadores e menestréis 35 difundiam a música popular. Os principais estilos musicais da época foram a música modal, a música polifônica, a ars antiqua e a ars nova, bem como as variações da música profana. 8 LITERATURA A literatura medieval foi marcada pelo uso do latim na maioria dos textos, os quais repercutiam os temas religiosos e existenciais da moral cristã. Contudo, as manifestações vernáculas em forma lírica e narrativa do século XII, romperam com essa tradição e marcaram o abandono do latim clássico. Tem-se o surgimento da poesia trovadoresca, como nas canções de gesta, escárnio, de amor, de amizade, que marcaram o pensamento medieval até o aparecimento do Quinhentismo, em meados de 1418. 8.1 A Arte dos Livros na História Medieval Fonte: www.apaixonadosporhistoria.com.br Antes da invenção da impressão mecânica, os livros eram objetos feitos à mão, valorizados como obras de arte e símbolos do conhecimento duradouro. De fato, na Idade Média, o livro se tornou um atributo de Deus. Cada etapa da criação de um livro medieval exigia trabalho intensivo, às vezes envolvendo a colaboração de oficinas inteiras. Pergaminho para as páginas tinha que ser feito a partir das peles secas de 36 animais, cortadas no tamanho correto e costuradas juntas; tintas tinham que ser misturadas, penas preparadas e as páginas alinhadas para as letras. Um escriba copiava o texto de uma edição pronta e os artistas então faziam o embelezamento com ilustrações, iniciais decoradas e ornamentos nas margens. Os livros medievais mais luxuosos estavam encadernados em capas com esmaltes, jóias e esculturas de marfim. O surgimento de universidades em toda a Europa criou a demanda por Bíblias de volume único, livros de direito e outros textos copiados em páginas com margens amplas para anotações e comentários. Textos importantes foram traduzidos do latim para o francês e outras línguas locais. As ilustrações de alguns manuscritos, notáveis por sua qualidade e originalidade, foram executadas por artistas de primeira linha; muitos outros, embora pequenos, têm a elegância monumental de obras maiores. Durante a alta idade média a produção de livros esteve restrita aos meios religiosos. Mosteiros por toda a cristandade faziam cópias à mão de livros considerados importantes na época, entre eles estavam às obras clássicas de pensadores da antiguidade como Platão, Aristóteles, Cícero e centenas de outros. Em um mundo dominado pelo cristianismo, conservar as obras de escritores pagãos era considerado um mal necessário, pois só nelas se encontravam noções essenciais sobre filosofia que contribuíram para o desenvolvimento da teologia cristã. É interessante notar que as bibliotecas dos mosteiros estavam divididas em duas partes, uma para os livros pagãos e outra para os livros cristãos. Isso para facilitar a pesquisa e impedir que os religiosos lessem obras pagãs caso esse não fosse seu desejo. Em seu completo trabalho sobre o mundo feudal, Mario Curtis Giordani faz um relato de como funcionava o processo de produção de livros nos primeiros séculos do medievo: Nos mosteiros a sala de trabalho em que os livros eram escritos e decorados chamava-se scriptorium. Esses scriptoria eram de importância e dimensões variáveis. Cabia a um monge já experimentado, o armarius, dirigir a confecção de livros: zelava pelo aprovisionamento do scriptorium com o material devido, repartia, dirigia e fiscalizava o trabalho dos copistas. (...) O trabalho era executado separadamente em cadernos que reunidos formavam um códex. As obras originais eram geralmente ditadas a um notário que as grafava em tabletes de cera. A seguir, os copistas do scriptorium passavam- na a limpo sobre um pergaminho. Os tabletes serviam de rascunho e permitiam correções eventuais. Este processo explica a raridade de manuscritos autógrafos dessa época. Quando havia pressa na confecção de um livro, os cadernos eram distribuídos entre diversos copistas. (GIORDANI, 1982 p. 312-313) 37 Os livros eram todos escritos em latim em pergaminhos produzidos com pele de ovelha ou de cabra, e por isso mesmo esse era um produto muito caro. Houve mesmo casos em que os monges rasparam pergaminhos já escritos para escrever obras que considerassem mais importantes. As obras eram escritas em letra cursiva com o uso de pena e tintas pretas e coloridas.Durante a alta Idade Média os livros eram copiados para permanecerem nas bibliotecas dos mosteiros, onde seriam estudados por clérigos que poderiam vir de qualquer lugar da cristandade para consultá-los. Eles também eram vendidos a pessoas que se interessassem, mas custavam pequenas fortunas e levavam meses para ficarem prontos. Conforme nos conta Will Durant: “Mesmo a Bíblia era muito rara fora dos mosteiros; era preciso um ano para copiá-la e a renda anual de um sacerdote para se poder comprá-la. Poucos eram os clérigos que dela possuíam uma cópia completa. ” (2004 p. 811) 8.2 Os Tradutores Medievais Durante o período que assistiu a decadência do império romano e a formação dos novos reinos, muitas obras sumiram na Europa simplesmente por não serem recopiadas, numa época em que ainda não havia uma estrutura montada para isso. No entanto, essas obras permaneceram salvas nas bibliotecas de Constantinopla e foram estudadas por sábios árabes, que mantinham relações comerciais com o império do oriente muito antes da expansão islâmica. Algumas obras importantes para o desenvolvimento do pensamento medieval também foram escritas pelos próprios árabes, tais como Avicenas e Averróis. Quando as universidades começaram a se desenvolver no ocidente muitas dessas obras ainda estavam fora do seu alcance, escritas em árabe ou grego nas bibliotecas do oriente. Foi graças ao trabalho de centenas de tradutores que elas foram transcritas para o latim e assim puderam ser implementadas nos currículos universitários. Os principais centros de tradução ficavam em áreas onde havia grande contato entre as diversas culturas, principalmente na Espanha muçulmana, nas cidades comerciais italianas e na Sicília, onde a corte dos reis normandos mantinha intensos contatos com muçulmanos e bizantinos. Papel muito importante nesse contexto foi o dos judeus que se tornaram intermediários entre as duas diferentes culturas, muitas obras foram inclusive traduzidas por eles. 38 Um fato interessante que podemos destacar é o de que na falta de uma palavra correspondente no latim os tradutores usavam expressões árabes nas traduções, dessa forma muitas palavras de origem árabe acabaram se integrando ao vocabulário europeu, tais como: açúcar, alcova, alface, alfaiate, algoritmo, almanaque, almofada, álgebra, etc. 8.3 Rei Artur: A Literatura Do Mito Fonte: https://www.apaixonadosporhistoria.com.br/ Arthur foi um rei que teria governado a Inglaterra no início da Idade Média. Sua história, como a conhecemos hoje, é um conjunto de diferentes relatos escritos por diversos autores em épocas distintas. Segundo a lenda, Arthur era o primeiro filho de Uther Pendragon e Igraine, rainha da Cornuália, portanto, herdeiro do trono da Grã- Bretanha. Todavia, devido à grande instabilidade política do momento, Merlin, um mago tido como muito sábio, aconselhou o rei a criar Arthur em segredo, sem que sua identidade fosse revelada. Conforme sua previsão, quando Uther morreu houve um grande conflito sobre quem o sucederia, o que levou Merlin a usar sua magia e a cravar a lendária espada Excalibur em uma pedra. Nela, havia dizeres segundo os quais apenas o legítimo herdeiro do trono conseguiria sacar a espada. Nenhum dos pretendentes o conseguiu, apenas Arthur, que depois disso se tornou rei. Ele reuniu então os cavaleiros e lutou contra os saxões, impedindo seu avanço. Em Camelot, ele construiu sua fortaleza, onde se reunia com seus guerreiros em uma mesa redonda (a famosa “távola” redonda), demonstrando que nenhum homem, aos olhos do rei, era mais ou menos importante. Depois de vários anos de paz irrompeu uma guerra civil, na qual Arthur foi gravemente ferido por seu sobrinho Mordred. Seu 39 corpo teria sido resgatado pela fada Morgana e levado até a ilha de Avalon, onde deveria repousar para ser curado e salvar o país novamente caso fosse necessário. 9 A EDUCAÇÃO MEDIEVAL Fonte: www.apaixonadosporhistoria.com.br Quando estudávamos na escola o Renascimento do século XV, ficávamos com a ideia de que a Idade Média ou - como era muitas vezes chamada pelos professores e historiadores – “Idade das Trevas”, “Noite de Mil Anos” ou “Espessa Noite Gótica”, havia sido um período de completa estagnação cultural. Mil anos em que a Europa ficou isolada dos outros continentes e coberta por um manto de ortodoxia religiosa que impedia qualquer possibilidade de progresso cultural e intelectual. Mil anos durante os quais os servos explorados por seus senhores não tinham nenhuma possibilidade de elevação social. Talvez devêssemos rever essa ideia. Muito do nosso senso comum sobre o período medieval é parte de uma visão preconceituosa e distorcida criada pelos iluministas franceses no século XVIII. Foram eles que definiram a antiguidade Greco-romana como um período de glórias e avanços, e a Idade média como um período de escuridão e retrocesso. Retrocesso que só teria acabado com o ressurgimento da cultura clássica no século XV, por isso o nome de Renascimento. Daí também vem a ideia de que esses mil anos foram apenas um período do meio, um período em que a civilização européia 40 teria ficado num casulo aguardando o ressurgimento da cultura. Por isso o nome Idade Média. Devemos nos lembrar, no entanto, que o período romano realmente viu um grande crescimento econômico e cultural, mas tudo isso começou a ir por água abaixo já no ano 180, quando a dinastia dos Antoninos teve fim e o império foi mergulhado novamente em guerras civis e começou a sofrer cada vez mais com as invasões de suas fronteiras. Tudo isso em uma época em que não tinha mais o mesmo exército e a mesma economia de outros tempos. A queda da parte ocidental do império em 476 não deve então ser vista como um evento catastrófico, repentino e inesperado, mas sim como o fim de uma longa e angustiante queda e, de certa forma, um acontecimento previsível se observarmos sobre quais estruturas políticas e econômicas o império se sustentava. Segundo o historiador norte-americano Will Durant, a queda de Roma “não foi um súbito acontecimento, mas sim um processo que durou 300 anos” e completa afirmando “algumas nações não duraram tanto quanto levou Roma para cair. ” (DURANT, 1971, p. 520) Esse pensamento pode facilitar nosso entendimento sobre a Idade média. Os povos ditos “bárbaros” não destruíram uma grande civilização e colocaram um reino das trevas em seu lugar. Eles apenas tomaram os territórios de um império decadente que já não conseguia se sustentar sobre suas próprias pernas, e a partir daí começaram a erguer uma nova civilização, que em muitos sentidos ainda se utilizava das contribuições dos grandes gênios da antiguidade. 9.1 As Escolas Segundo Pernoud: “A criança na Idade Média, como em todas as épocas, vai à escola. É, em geral, a escola de sua paróquia ou do mosteiro mais próximo. ” (1981, p.99). Realmente as escolas episcopais e monásticas eram as mais comuns durante o final da alta idade média. É de se supor que durante os três primeiros séculos do medievo a educação tenha sido basicamente feita dentro do seio da família, de acordo com as necessidades de cada classe social, tendo em vista esse que foi um período muito conturbado politicamente. Acima de tudo, foi um período em que tanto a igreja quanto os novos reinos tentavam se organizar dentro da nova ordem que havia surgido. 41 Uma pessoa que estimulou muito a educação foi o imperador franco Carlos Magno, que através de sua escola palatina e, com o apoio do monge inglês Alcuíno, instituiu um verdadeiro sistema de ensino no reino dos Francos. Carlos chegou inclusive a instituir capitulares ordenando que os bispos criassem e organizassem escolas. Os responsáveis pelas aulas eram os clérigos, padres e bispos, que atuando como professores, lecionavam para as mais variadas classes sociais, e não somenteaos nobres. O ensino era baseado em um currículo que desde a antiguidade vinha sofrendo poucas mudanças. O estudo das chamadas Artes Liberais. Sobre esse tema, Giordani anota: Essa denominação está evidentemente relacionada com a divisão fundamental da sociedade antiga entre homens livres e escravos. A estes pertenciam, via de regra, o trabalho manual. Àqueles cabia o desenvolvimento das atividades intelectuais. As disciplinas integrantes das artes liberais eram consideradas dignas de serem postas a serviço somente dos livres. (GIORDANI, 1976 p.173) As Artes Liberais eram divididas em dois grupos: O Trivium e o Quadrivium Fonte: kaleidociclo.blogspot.com 42 Trivium era o grupo das três matérias básicas: Gramática, Retórica e Lógica. Ou seja, inicialmente o estudante era estimulado a escrever, a se expressar (falando ou escrevendo) e a pensar. É importante frisar que a gramática presente nesse currículo é a gramática do latim, afinal todas as obras que o estudante leria durante seu aprendizado, inclusive na Universidade, estavam nesse idioma, sendo assim aprender sua gramática era fundamental. Quadrivium era o grupo das quatro matérias mais avançadas: Aritmética, Geometria, Música e Astronomia. Note que o nome dessas disciplinas não tinha exatamente o mesmo significado restrito que tem hoje, sobre isso Giodani ressalta que “a geometria, por exemplo, sempre incluía rudimentos de geografia; a astronomia incluía a física (natural, ou seja, biologia), a gramática incluía a literatura, a retórica incluía a história. ” (GIORDANI, 1976 p.175) Além disso, o aluno também estudava as Sagradas Escrituras. O método de ensino era conhecido como lectio: o professor fazia a leitura do texto em voz alta, fazendo pausas quando necessário para comentar os pontos mais importantes. Enquanto isso o aluno tomava notas. 9.2 As Universidades Segundo Giordani as universidades europeias surgiram de três diferentes formas: espontâneas, criadas e por migração. Espontâneas – Escolas que evoluíram para universidades na medida em que seus cursos de artes liberais se especializavam cada vez mais. Criadas – Universidades criadas pelo Papa ou pelo Imperador. Eles eram os únicos que poderiam conceder a licença. Migrações – Quando havia dissensões em uma universidade alguns mestres e alunos migravam para outras regiões onde fundavam novas universidades. 43 Entre o século 13 e 15, mais de cinquenta universidades foram fundadas na Europa e seu surgimento está intimamente ligado as transformações que a sociedade da época estava sofrendo com o desenvolvimento das cidades e da economia. Por outro lado, a política também se tornava mais complexa e os estudos do direito romano e do direito canônico contribuíram para o progresso do ensino, aliás muitas universidades se desenvolveram e se tornaram centros de estudos jurídicos. Cada universidade costumava ter sua especialidade, medicina, direito ou artes, mas todas só poderiam se considerar verdadeiras universidades se oferecessem mais de três cursos e recebessem do Papa ou do Imperador uma licença especial. Essa licença tornava o grau universitário válido em toda a cristandade, ou seja, em toda a Europa ocidental cristã. Isso abria um amplo leque de opções para os novos diplomados que poderiam trabalhar em qualquer reino onde houvesse trabalho disponível. Nesse sentido os graus eram realmente “universais”. E a vida na própria universidade também o era. A existência do latim, um idioma e uma escrita utilizada por todos os intelectuais cristãos, facilitava em muitos os estudos e a distribuição do conhecimento. Um novo livro de filosofia escrito por um intelectual na Itália, rapidamente chegava as mãos de um estudante na Inglaterra, sem necessidade de tradução, pois estava em latim, uma língua comum aos dois. Grandes nomes da época poderiam fazer palestras por várias universidades sem se preocupar com o idioma, o latim era compreendido por todos que viviam no meio universitário. 9.3 Estudantes e professores Mas quem eram os estudantes medievais, Will Durant nos diz o seguinte: O estudante medieval podia ser de qualquer idade. Podia ser cura, prior, abade, mercador e também casado. Podia ser jovem de 13 anos, às voltas com a súbita dignidade que lhe trazia a idade. Ia a Bolonha, Orléans ou Montpellier para tornar-se médico ou advogado e as outras universidades a fim de preparar-se para serviços governamentais, em geral para fazer carreira em uma igreja. Não havia exame de admissão; as únicas exigências eram o conhecimento do latim e a capacidade de pagar uma modesta taxa a cada professor do curso que seguisse. Se era pobre podia ser auxiliado com uma bolsa ou pela sua aldeia, amigos, igreja ou bispo. Havia milhares nessa situação. (...). Um estudante que viajasse de uma universidade para outra recebia geralmente transporte grátis bem como alimento e hospedagem gratuitos nos mosteiros que ficavam no caminho. (DURANT, 2004, p.827) 44 Normalmente os professores eram alunos que, já tendo concluído o bacharelado, ganhavam o grau de magisterium. Para isso o estudante trabalharia dois anos para um professor. Os professores eram pagos pelos próprios alunos ou - no caso da universidade ser ligada ao papado - pela igreja. 9.4 Os Cursos Fonte: www.pedagogia.com.br Havia quatro cursos disponíveis nas universidades medievais: Medicina, Direito (canônico ou civil), Teologia, Artes liberais. O curso de Artes era o mais procurado pelos estudantes. Ele era considerado uma porta de entrada para o mundo universitário. Vários alunos entravam com doze ou treze anos de idade, muitas vezes sem nunca ter cursado a escola. Nesse curso, as matérias ensinadas eram as mesmas do trivium e quadrivium, só que o currículo era mais complexo, abrangendo mais estudos filosóficos e sobre ciências naturais. 45 10 CENTRALIZAÇÃO POLÍTICA Fonte: www.diverletras.wordpress.com A Centralização Política é geralmente caracteriza através de dois elementos - a formação dos Estados Nacionais e o surgimento do Absolutismo – e compreendida como fator essencial de ruptura com a Idade Média. Questionamos essa proposição, uma vez que os líderes desse movimento – os monarcas – são personagens essencialmente medievais e sua luta para submeter e controlar seus vassalos e estabelecer sua autoridade está intrinsicamente ligado ao Medievo. Percebem-se tentativas de fortalecimento do poder real no desenvolvimento da legislação e das instituições de chancelaria e administração da justiça régia durante o governo de Henrique II da Inglaterra no século XII. O mesmo ocorre na França no início do século XIII, quando Filipe Augusto e seus sucessores utilizam a Cruzada Albigense para submeter a nobreza rebelde do Languedoc, mais ligada ao Reino de Aragão que à coroa francesa. Segundo Hilário Franco Júnior (2001, p. 156): A Centralização Política [...] era a conclusão lógica de um objetivo perseguido por inúmeros monarcas medievais. O Estado moderno, unificado, caracterizava-se pelo fato de o soberano ter jurisdição sobre todo o país, poder de tributação sobre todos os seus habitantes, monopólio da força (exército, marinha, polícia). 46 Obviamente, não existia na Idade Média concepção de Estado como a contemporânea, por demais abstrata. Nas mentes medievais são as relações homem a homem que compõe o tecido social, laços de sangue, amizade e lealdade: Para eles, um ‘país’ é um modo de viver, sentir, falar, comer, que une entre si as pessoas aproximadas também pelo serviço de um mesmo senhor, pelas relações de homem a homem, familiares ou de vassalagem, que lhes dão coesão. É, no fundo, uma noção mais real, ligada ao sangue, à antiga concepção tribal, clânica, mais profunda e mais profundamente ancorada que uma espécie de ‘direito do solo’, demasiadamente
Compartilhar