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Agrotóxicos e a Saúde Humana

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Doenças relacionadas a Agressão ao Meio Ambiente (DRAMA) 
 
Raquel Rogaciano 1 
AGROTÓXICOS 
-Agrotóxicos são substâncias químicas naturais ou 
sintéticas destinadas a combater as pragas que atacam 
as lavouras. Algumas centenas de compostos químicos 
são utilizados como agrotóxicos, incluídos em vários 
milhares de formulações ou produtos comerciais. 
-Além do uso agrícola, inúmeros produtos são também 
utilizados em campanhas de saúde pública (como 
malária, doença de Chagas, esquistossomose) ou nas 
residências (produtos domissanitários). Do ponto de vista 
toxicológico, os agrotóxicos podem ser classificados em 
dois tipos principais: os inibidores das colinesterases 
(organofosforados e carbamatos) e os neurotóxicos 
(organoclorados e piretróides). 
-Os agrotóxicos são largamente utilizados no mundo todo, 
notadamente nos países menos desenvolvidos. A OMS 
(1990) estima que ocorram no mundo cerca de três 
milhões de intoxicações agudas por agrotóxicos com 220 
mil mortes por ano; dessas, cerca de 70% ocorrem em 
países do chamado Terceiro Mundo. 
→Classificação dos agrotóxicos quanto a ação e o grupo 
químico: 
--Inseticidas: São substâncias que possuem a ação de 
combater insetos e são divididos em quatro grupos 
distintos, conforme característica química: 
organofosforados, carbamatos, organoclorados e 
piretróides. 
--Fungicidas: Como o próprio nome sugere, são 
agrotóxicos que combatem fungos. Atualmente há 
diversos fungicidas disponíveis no mercado. Os principais 
grupos são: etileno-bisditiocarbonatos, trifenil estânico, 
hexaclorobenzeno, compostos mercuriais e O-etil-S, S-
difenilditiofosfato. 
--Herbicidas: Combatem ervas daninhas. Nas últimas 
duas décadas, este grupo tem tido uma utilização 
crescente na agricultura. Seus principais representantes 
são: paraguat, glifosato, pentacloofenol, derivados do 
ácido fenoxiacético e dinitrofenóis . 
--Desfolhantes: Em contato com as plantas, induzem a 
queda das folhas. 
-- Raticidas: ação de combate a roedores. 
--Acaricidas: ação de combate a ácaros diversos. 
-- Nematicidas: ação de combate a nematóides. 
-- Moluscicidas: ação de combate a moluscos, 
basicamente contra o caramujo da esquistossomose. 
--Fumigantes: ação de combate a insetos, bactérias, 
fosfetos metálicos (fosfina) e brometo de metila. 
--Escorpionicidas: utilizado no combate aos escorpiões. 
--Vampiricidas: ação de combate aos morcegos. 
→Classificação quanto à toxicidade: 
-Esta classificação é feita a partir do poder tóxico que o 
agrotóxico possui. É uma classificação importante, pois 
permite determinar a toxicidade de um produto, do 
ponto de vista de seus efeitos agudos. 
-A verdade é que todas as substâncias químicas podem 
ser tóxicas que são determinadas pela dose que é 
absorvida ou que, de qualquer modo, são introduzidas no 
organismo. 
 
→Mecanismos de ação e efeitos: 
INSETICIDAS 
INSETICIDAS ORGANOFOSFORADOS (OF) E CARBAMATOS 
(CARB): 
-Os inseticidas OF ligam-se ao centro esterásico da 
acetilcolinesterase (AChe), impossibilitando-a de exercer 
sua função de hidrolisar o neurotransmissor acetilcolina 
em colina e ácido acético. 
-Os inseticidas CARB agem de modo semelhante aos OF, 
mas formam um complexo menos estável com a 
colinesterase, permitindo a recuperação da enzima mais 
rapidamente. 
-A AChe está presente no sistema nervoso central (SNC), 
sistema nervoso periférico (SNP) e também nos eritrócitos. 
Inativa a acetilcolina, responsável pela transmissão do 
impulso nervoso no SNC, nas fibras pré-ganglionares, 
simpáticas e parassimpáticas e na placa mioneural. 
-Ocorre o acumulo de acetilcolina na sinapse. O excesso 
inicialmente estimula e depois paralisa a transmissão da 
sinapse colinérgica. 
Doenças relacionadas a Agressão ao Meio Ambiente (DRAMA) 
 
Raquel Rogaciano 2 
-Manifestações clínicas: Os principais sinais e sintomas da 
intoxicação aguda por inseticidas inibidores da 
colinesterase podem ser agrupados didaticamente da 
seguinte forma: 
• Síndrome colinérgica aguda: 
-Manifestações muscarínicas: (Parassimpáticas) 
- Falta de apetite, náuseas, vômitos, cólicas abdominais, 
diarréia, incontinência fecal, dor ao defecar; 
- Broncoespasmo, dificuldade respiratória, aumento da 
secreção brônquica, rinorréia, cianose, edema pulmonar 
não cardiogênico, tosse, dor torácica; 
 - Lacrimejamento, salivação, sudorese; 
- Incontinência urinária; 
- Bradicardia, hipotensão, raramente fibrilação atrial. 
 -Manifestações nicotínicas: (Ganglionares, 
simpática, somatomotoras) 
-Fasciculações musculares, tremores, cãimbras, fraqueza, 
ausência de reflexos, paralisia muscular (incluindo 
musculatura respiratória acessória) e arreflexia. 
-Hipertensão, taquicardia, palidez, pupilas dilatadas 
(midríase), hiperglicemia. 
 -Manifestações no SNC: 
-Inquietação, labilidade emocional, cefaléia, tremores, 
sonolência, confusão mental, linguagem chula, marcha 
incoordenada, fraqueza generalizada, depressão do 
centro respiratório, hipotonia, hiporreflexia, convulsões, 
coma. 
• Síndrome Intermediária: 
(Recuperação de 4 a 18 dias) 
-Após 24 a 96 horas da exposição a alguns OF, pode surgir 
fraqueza ou paralisia muscular proximal (membros 
superiores e pescoço). 
-Outros grupos musculares também podem ser afetados, 
inclusive a musculatura respiratória (respiratórios 
acessórios),levando à parada respiratória. 
-Pode ocorrer em intoxicações graves e está relacionado 
à inibição irreversível da acetilcolinesterase. 
• Polineuropatia Tardia: (Recuperação variável) 
-Este quadro desenvolve-se 2 a 4 semanas após a 
exposição a inseticidas OF. 
- Caracteriza-se por fraqueza muscular distal, cãimbras 
musculares dolorosas, formigamento, reflexos diminuídos 
e um quadro caracterizado por incoordenação motora, 
hipertonia ou espasticidade, reflexos exageradamente 
aumentados e tremores (síndrome de liberação 
extrapiramidal – parkinsonismo). 
-Esse quadro não tem relação com a inibição das 
colinesterases e relaciona-se com exposições a alguns OF. 
 
--Intoxicação leve: 
Mal-estar, fraqueza muscular discreta, náuseas,alguns 
episódios de vômitos. 
AChe está pouco alterada, raramente inferior a 50% do 
basal. 
Descontaminar pele e mucosa. 
--Intoxicação moderada: 
Síndrome muscarínica franca, 
Sinais de estimulação nicotínica evidente (tremores, 
fasciculações e fraqueza muscular) 
Além de alterações do SNC (ansiedade, confusão mental 
ou letargia e sonolência). 
A AChe geralmente está entre 25 e 50% do basal 
Descontaminar pele e mucosas. 
--Intoxocação grave: 
Agravamento do quadro anterior. 
Síndrome muscarínica franca 
Insuficiência respiratória, fraqueza muscular, 
fasciculações, convulsões e coma. 
A AChe está inferior a 25% do basal ou a enzima está 
completamente inativada (AChe = 0) 
Aspiração de secreções, intubação endotraqueal e 
oxigenação ao mesmo tempo. 
 
INSETICIDAS ORGANOCLORADOS: 
-Atua principalmente estimulando o SNC, causando 
hiperexitabilidade. 
-Ainda é desconhecido, mas atuam nos canais de cálcio, 
alterando o fluxo de sódio (sensibilização do miocárdio) 
O aldicorb é vendido clandestinamente e usado ilegalmente como 
raticida domestico. (Tipo de carbamato) 
-absorção no estomago é rápida e pode ocorrer por via dérmica tbm 
-sinais clínicos de intoxicação podem aparecer 5m após ingestão. 
-pode ser usado misturado em comida e bebida para matar roedores. 
-Encontrado em 50%dos chumbinhos 
 
 
 
Os carbamatos exercem sua toxicidade por meio da 
inibição da atividade de acetilcolinesterase e, assim, 
ocorre estimulação excessiva dos receptores 
muscarínicos e nicotínicos. 
Doenças relacionadas a Agressão ao Meio Ambiente (DRAMA) 
 
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-Em altas doses são indutores das enzimas microssômicas 
hepáticas (possíveis lesões hepáticas). 
-Toxicidade geralmente de moderada a alta; potencial 
de armazenamento tecidual.-Absorção via oral, inalatória e dérmica. 
 
-Manifestações clínicas: Náuseas, vômitos, diarréia; 
- Fraqueza, entorpecimento de extremidades; 
- Apreensão, excitabilidade, desorientação; 
- Contrações palpebrais, tremores musculares, convulsões 
generalizadas, podendo evoluir para coma e depressão 
respiratória, acidose metabólica, arritmias. 
- Pneumonite química se produtos com solventes 
derivados do petróleo. 
 
INSETICIDAS PIRETRÓIDES: 
-Piretrinas são inseticidas naturais obtidos a partir da 
trituração das flores de algumas plantas pertencentes à 
família Compositae. São bastante instáveis ao calor e à 
luz, por isso que foram sintetizadas e melhoradas em 
laboratório, sendo chamada de piretroides. Eles são 
quimicamente mais estáveis e melhor dissolvíveis em 
agua. 
-Alergênicos. 
-Também atuam nos canais de sódio da membrana das 
células nervosas, alterando a despolarização e a 
condução do impulso nervoso (estimulam o SNC e em 
doses altas podem produzir lesões duradouras ou 
permanentes no sistema nervoso periférico). 
-Mecanismo de ação:Os piretróides são substâncias 
neurotóxicas, que atuam sobre os gânglios basais do 
sistema nervoso central, retardando o fechamento dos 
canais de sódio durante a fase de recuperação do 
potencial de ação neuronal; o aumento do fluxo de sódio 
mantém despolarizadas as membranas causando 
descargas repetidas. Alguns piretróides também alteram 
a permeabilidade das membranas ao cloro, atuando 
sobre os receptores tipo A do ácido gama amino butírico 
(GABA); em ambos os casos a clínica é similar. 
-Manifestações clínicas: Alergênicos 
- Dermatite de contato, urticária; 
-Secreção nasal aumentada (irritação de vias aéreas), 
sialorréia (salivação aumentada) 
-Broncoespasmo; 
-Irritação ocular, lesão de córnea; 
-Em casos de intoxicação grave: manifestações 
neurológicas como hiperexcitabilidade, parestesia e 
convulsões. 
 
FUNGICIDAS 
 
ETILENO-BIS-DITIOCARBAMATOS: Alguns compostos 
(Maneb, Dithane) contêm manganês que pode 
determinar parkinsonismo pela sua ação no SNC. 
Presença de etileno-etiluréia (ETU) como impureza de 
fabricação, com efeitos carcinogênicos 
(adenocarcinoma de tireóide), teratogênicos e 
mutagênicos em animais de laboratório. Intoxicações por 
estes produtos ocorrem por via oral, respiratória e 
cutânea. Exposição intensa provoca dermatite, faringite, 
bronquite e conjuntivite. 
 
TRIFENIL ESTÂNICO: Em provas experimentais com animais 
há redução dos anticorpos circulantes. 
 
CAPTAN: Pouco tóxico, utilizado para tratamento de 
sementes para plantio. Observado efeito teratogênico 
em animais de laboratório. 
 
HEXACLOROBENZENO: Pode causar lesões de pele tipo 
acne (cloroacne), além de uma patologia grave, a 
porfiria cutânea tardia 
 
HERBICIDAS 
 
-Utilização crescente na agricultura nas duas últimas 
décadas. Substituem a mãode-obra na capina, 
diminuindo o nível de emprego na zona rural. 
 
DIPIRIDILOS: Entre os herbicidas dipiridilos, o Paraquat 
(Gramoxone) é extremamente tóxico se ingerido (ação 
rápida); 
-Ingestão de volumes superiores a 50 ml é 
sistematicamente fatal. 
(Para evitar suicídios, a preparação comercial contém 
substâncias que conferem odor desagradável ao 
produto.) 
-Manifestações clínicas: 
-Lesão inicial: irritação grave das mucosas; 
-Lesão tardia: após 4 a 14 dias, começa a haver 
alterações proliferativas e irreversíveis no epitélio 
pulmonar; seqüelas: insuficiência respiratória, insuficiência 
renal, lesões hepáticas. 
Doenças relacionadas a Agressão ao Meio Ambiente (DRAMA) 
 
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-Absorção dérmica é mínima. 
-Contato com os olhos: inflamação da córnea e 
conjuntiva 
-Contato com a mucosa nasal: sangramentos 
 
-Evolução clínica: 
1. Intoxicação aguda fulminante, após absorção maciça, 
ocorrendo óbito por uma combinação de edema 
pulmonar, oligúria, insuficiência hepática, adrenal e 
distúrbios bioquímicos. 
2. Óbito mais tardio é resultante de edema pulmonar, 
mediastinite e falência múltipla de órgãos e sistemas. 
3. Fibrose pulmonar tardia iniciando após 4 dias e 
podendo evoluir por várias semanas normalmente 
culminando com óbito por insuficiência respiratória. 
 
GLIFOSATO: Dose de 25 ml tem causado lesões 
gastroesofágicas. 
- Não tem ação inibitória de colinesterase. 
-Mecanismo de ação: Se presume que o glifosato interfere 
com a fosforilação oxidativa, o que pode determinar 
cardiotoxicidade direta. Presume-se ainda que o 
surfactante aniônico atue interferindo sobre a função 
mitocondrial causando danos às suas membranas, razão 
pela qual as formulações líquidas podem ser mais 
perigosas segundo alguns autores (relacionado a 
complicações pulmonares mais graves, incluindo edema 
pulmonar). 
-Manifestações clínicas: 
-Ingestão: irritação de mucosas e trato gastrointestinal, 
hipotensão, acidose metabólica, insuficiência pulmonar, 
oligúria. 
-Contato com pele: eritema, ulcerações, formação de 
vesículas, necrose de pele; 
-contaminação de base de unha: manchas brancas, 
rachaduras transversais ou perdas de unhas, seguida por 
regeneração normal. 
-Inalação: irritação nasal, epistaxe, cefaléia, tosse. 
- Contato com mucosa ocular: inflamação severa da 
conjuntiva e da córnea, opacidade. 
 
PENTACLOROFENOL: Amplo uso como conservante de 
madeira e cupinicida. 
-Possui na formulação dioxinas como impurezas 
extremamente tóxicas e cancerígenas. 
-Bem absorvido pelas vias cutânea, digestiva e 
respiratória. 
-Não se acumulam no organismo, mas exposições 
repetidas podem causar acumulação de efeitos 
-Manifestações clínicas: 
-Dificuldade respiratória, hipertermia que pode se tornar 
irreversível, fraqueza, convulsões, perda de consciência. 
 
DERIVADOS DO ÁCIDO FENOXIACÉTICO: 2,4 
diclorofenoxiacético (2,4D) e o 2,4,5 triclorofenoxiacético 
(2,4,5T). 
-O Tordon(2,4D) é bem absorvido pela pele, por ingestão 
e por inalação, podendo produzir neurite periférica 
retardada e diabetes transitória no período da exposição. 
- Em altas doses: lesões degenerativas hepáticas e renais. 
-O 2,4,5T é semelhante ao anterior, apresenta uma dioxina 
como impureza, responsável pelo aparecimento de 
cloroacnes, abortamentos e efeitos teratogênicos e 
carcinogênicos. 
 Tordon+ 2,4,5,T= principal componente do agente 
laranja (usado na guerra do Vietnam), responsável pelo 
aparecimento de câncer. 
-Manifestações clínicas: 
-Perda de apetite, 
- Confusão mental 
-irritação da pele exposta, 
 - Convulsões 
-enjôo e vômitos 
 -Coma 
-irritação do trato gastrointestinal, 
-Fraqueza e dores torácicas 
 
FUMIGIANTES 
 
-Bem absorvida pela via respiratória e menos pela via 
dérmica. 
-São irritativas de mucosa 
 
BROMETO DE METILA: Causa edema pulmonar, 
pneumonite química, insuficiência circulatória e 
perturbações neuropsicológicas, como psicoses e 
tremores 
 
FOSFINA (FOSFETO DE ALUMÍNIO): Causa lesões 
herpéticas, por alterações no metabolismo dos 
carboidratos, lipídios e proteínas. 
Doenças relacionadas a Agressão ao Meio Ambiente (DRAMA) 
 
Raquel Rogaciano 5 
-Provoca fadiga, sonolência, tremores, dores gástricas, 
vômitos, diarréia, cefaléia, hipotensão arterial, edema 
pulmonar e arritmia cardíaca 
 
RATICIDAS 
 
-Nem todo raticida é agrotóxico, mas alguns agrotóxicos 
são usados colandestinamente como raticida) 
-Absorvido pela via oral 
-São anticoagulantes, inibindo a formação da 
protrombina 
-Manifestações clínicas: 
Aguda: Cefaleia, tontura, náusea, hemorragia 
Crônica: Disturbios neuropsicológicos, lesão cerebral 
irreversível. 
 
REFERÊNCIA 
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em 
Saúde. Departamento de Vigilância em Saúde Ambientale Saúde do Trabalhador. Diretrizes nacionais para a 
vigilância em saúde de populações expostas a 
agrotóxicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. 26 p.: il.

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