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APOSTILA 12 - INTRODUÇÃO AOS LIVROS HISTÓRICOS 
 
INTRODUÇÃO AOS LIVROS HISTÓRICOS 
 
1. Títulos 
 
. "Primeiros Profetas" – Os hebreus denominavam seis livros como os "Primeiros 
profetas" (Josué, Juízes, 1 e 2 Samuel, 1 e 2 Reis), considerando-os, porém, como 
quatro. Eles contrastam com os "Últimos Profetas" (Isaías, Jeremias, Ezequiel e Os 
doze profetas menores), também considerados como quatro livros. Os termos 
"Primeiros" e "Últimos" não se referem necessariamente à sua cronologia histórica, 
mas ao primeiro e segundo grupo de livros. Os Primeiros fornecem o cenário histórico 
aos Últimos. A designação desses livros históricos como "Profetas” enfatizam o fato de 
que apresentam uma história religiosa ou com um objetivo religioso. Os Primeiros 
Profetas são históricos; os Últimos, exortativos. 
 
. "Livros Históricos" – A denominação de "Históricos" classifica em geral os doze livros 
de Josué a Ester, embora o Pentateuco também faça parte dos livros históricos. Os 
livros de Josué a Ester diferem dos livros de Moisés, os quais também são históricos 
quanto à ênfase fundamental. O Pentateuco traça a história redentora desde a criação 
até a morte de Moisés, mas dá destaque à aliança e aos alicerces legislativos de 
Israel. Os livros históricos, por outro lado, dramatizam o movimento histórico da nação 
durante toda a sua história na Palestina. Embora contenham temas religiosos e 
interlúdios exortativos (vários ciclos de juízes e profetas), a investida maior é no 
desenvolvimento histórico de Israel. 
 
 
2. Autoria 
 
. Todos os doze livros históricos são anônimos – sem nome do autor - (em contraste 
com os Últimos Profetas, todos identificados). Foram visivelmente escritos ou 
compilados por vários indivíduos que possuíam o dom profético, reconhecidos como 
representantes de Deus. Quatro deles são geralmente considerados os autores 
principais: Josué, Samuel, Jeremias e Esdras (este último com o auxilio editorial do 
sumo sacerdote Eleazar), além de Natã e Gade, profetas. É evidente que Jeremias foi 
auxiliado na compilação de Reis pelo seu secretário, Baruque. Na maioria dos casos, 
foram aproveitados nesses livros vários documentos e crônicas, usados sob a 
orientação do Espírito Santo pelos autores ou compiladores. 
 
3. Movimento histórico 
 
. Estes livros registram a história de Israel, desde a ocupação da Palestina sob a 
liderança de Josué, passando pelas apostasias que levaram o povo a ser expulso 
pelos assírios e babilônios, até a restauração parcial pelos persas. O período cobre 
aproximadamente 1000 anos, de 1405 até 425 a.C. Estes livros dão a estrutura 
histórica ao restante do Antigo Testamento até a época de Neemias e Malaquias. Vão 
de Moisés, o legislador, até Esdras, mestre da lei. 
 
4. Cenário geográfico e político da Palestina 
 
. CENÁRIO GEOGRÁFICO: O nome "Palestina"[1] não era usado nos tempos bíblicos; 
derivou-se mais tarde do termo "filisteu", que identificam os povos (filisteus) chamados 
de "Palaistinos" pelos gregos, e de "Palestinos" pelos romanos. O nome bíblico para a 
área era "Canaã[2]", a terra onde Canaã, filho de Cão, se estabeleceu, e que tinha 
sido prometida pelo Senhor a Abraão (Gn 9:25; 10:6; 12:5-7). A terra de Canaã (com 
maldição) seria dada a Abraão (com bênção). Embora Canaã designasse 
originalmente a terra a oeste do Jordão, Palestina passou a designar, mais tarde, a 
terra de ambas as margens do Jordão[3]. 
 
A terra da Palestina estende-se do elevado monte Hermon[4], ao norte, até o sul da 
região deserta do mar Morto[5]. Seu comprimento é de 240 Km, de Dã a Berseba, e 
sua largura média é de 110 Km, da costa do Mediterrâneo[6] ao planalto oriental. 
 
A principal caraterística geográfica da Palestina talvez seja a ponte que ela forma 
entre três continentes, e o fato de ter-se constituído historicamente a ligação entre o 
Egito e a Mesopotâmia. Assim, sendo o centro das civilizações do mundo e o "centro 
da terra", a Palestina estava destinada a ser palco de grandes acontecimentos 
históricos. O Senhor a escolheu como a terra da sua aliança com o seu povo. 
 
. CENÁRIO POLÍTICO: Ocupando posição estratégica, a Palestina era com freqüência 
alvo altamente cobiçado pelos conquistadores do mundo. Antes da primeira ocupação 
por Israel, tinha sido tomada pelos reis da Mesopotâmia a leste, pelos hititas a 
noroeste e pelos Faraós a sudoeste. Durante a ocupação israelita, Israel foi muitas 
vezes importunado ou atacado, não só por aqueles povos, mas também por uma 
variedade de pequenos reinos locais. Estes vizinhos saqueadores faziam com que o 
povo de Israel vivesse constantemente na defensiva. 
 
O ponto de vista bíblico desses problemas políticos e militares, entretanto, é sempre 
apresentado da perspectiva divina ou profética. Aquelas nações e impérios vizinhos 
serviam inconscientemente aos objetivos divinos para o povo de Israel. Quando este 
obedecia ao Senhor, as outras nações se enfraqueciam ou eram controladas. Quando 
Israel apostatava, o Senhor levantava um poder estrangeiro a fim de punir, exilar ou 
enviar os judeus de volta à sua terra. Assim, aconteceu, por exemplo, quando Josué 
invadiu Canaã. 
 
AS TRÊS DIVISÕES DOS LIVROS HISTÓRICOS 
 
1 – Anterior ao Reinado (1405-1075 a.C.) 
 
Josué – A terra prometida ocupada pela fé e coragem – julgamento das nações 
cananitas; 
Juízes – Demonstração de bênçãos pela obediência e castigo pela apostasia, 
conforme a promessa; 
Rute – A verdadeira fé atrai uma mulher da vizinha Moabe. Deus se mostra favorável a 
todos que o buscam. 
 
2 – Ascensão e Queda do Reino (1070-586 a.C.) 
 
1 e 2 Samuel – O estabelecimento de um rei piedoso, que governe o reino para Deus; 
1 e 2 Reis – O reino de Israel desafiado pela idolatria de Canaã – O reino de Israel 
perde a batalha contra a idolatria – Deus se mostra soberano ao castigar Israel; 
1 e 2 Crônicas – Traçada a linha davídica dos reis – construção e queda do templo de 
Salomão. 
 
3 – Solicitude Para Com os Remanescentes no Tempo dos Gentios (537-432 a.C.) 
 
Esdras – A volta do exílio para reconstruir o templo e restabelecer a devida adoração a 
Deus; 
Neemias – A volta do exílio para reconstruir os muros de Jerusalém e estabelecer um 
governo limitado pelos persas 
Ester – O desvelo (carinho) divino para com o seu povo embora longe da terra da 
aliança. 
 
INTRODUÇÃO AO LIVRO DE JOSUÉ 
 
1. Título 
 
. O nome "Josué", que se deve à principal figura do livro, significa "salvação do 
Senhor". Os gregos traduziram-no para "Iesous" ou "Jesus" como está na Vulgata 
Latina. 
 
2. Autor 
 
. O livro é anônimo e a sua autoria tem sido debatida com veemência, principalmente 
por aqueles que aplicam a teoria documentária ao Pentateuco. A maior parte dele 
pode ter sido escrita pelo próprio Josué, que conhecia os fatos em primeira mão e era 
também um escritor (Js 24:26). Obviamente, um colaborador acrescentou mais tarde 
os últimos cinco versículos sobre a morte de Josué e de Eleazar. Esse colaborador por 
ter sido Finéias ou um dos anciãos. 
 
. O fato de esse livro ser o primeiro dos "Primeiros profetas" sugere, como seu autor, 
alguém com dom ou cargo profético. Isto é claro, indica Josué como o mais provável 
autor. 
 
. O conteúdo do livro, que se limita à liderança de Josué, reforça a opinião de que 
tenha sido escrito pelo sucessor de Moisés e no seu próprio tempo, mais do que 
qualquer outra pessoa em época posterior, que poderia ter continuado a história de fé 
até a época de Otniel, em Juízes. 
 
. Josué talvez tenha sido o descendente mais ilustre de José. Era da tribo 
especialmente abençoada por Jacó (Gn 48:19). Do mesmo modo que José foi o 
"salvador" dos seus irmãos no Egito, Josué conduziu o povo para o livramento e 
descanso em Canaã. 
 
3. Data – 1405-1375 a.C. 
 
. Admitindo que Josué tivesse a mesma idade de Calebe (tinha este quarenta anosquando espiaram Canaã, Js 14:7), é plausível que Josué tenha começado a comandar 
a Israel com a idade de setenta anos. Visto ter morrido com 110, a sua liderança durou 
trinta e um anos (Js 24:29). Sabemos também que a conquista inicial durou sete anos 
(Js 14:7, 10). 
 
. A data pode ser calculada como sendo de 1405 a 1375 (adicionando-se aos 480 
anos de 1 Rs 6:1 ao ano de 965, começo da construção do templo, e subtraindo-se os 
40 anos de peregrinação). As escavações arqueológicas de John Garstang 
determinaram que a queda de Jericó ocorreu por volta de 1400 a.C. 
 
4. Estado em que se achava a Nação 
 
. A liderança da nação tinha sido transferida a Josué por ocasião da morte de Moisés 
trinta dias antes, 1 de Março de 1405 a.C. A travessia do Jordão teve lugar um pouco 
antes da Páscoa, época em que o Jordão inundou as margens. 
 
. Toda a população (cerca de dois milhões e meio) estava decidida a invadir Canaã 
depois da bem-sucedida conquista da Transjordânia. Apesar de duas tribos e meia 
terem negociado com Moisés a permanência na Transjordânia, elas mandaram 40.000 
homens para participar da conquista de Canaã. 
 
5. Condição de Canaã 
 
. Geograficamente, a terra de "Canaã" compunha-se de toda a faixa ocidental desde 
Sidom, ao norte, até Gaza e Sodoma, no sul (Gn 10:19). O nome "Canaã" 
denominava, em geral, toda a área em que se estabeleceram os filhos de Canaã. Foi, 
mais tarde chamada de "Palestina" pelos romanos, os nativos eram chamados de 
"Filisteus". 
 
. Politicamente, Canaã tinha sido dominada desde 1468 a.C. pelo Egito, que 
estabeleceu postos militares e cidades reais por toda a terra, bem como príncipes 
nativos, educados no Egito, para governar como monarcas títeres. Em 1400, 
entretanto, o poder estrangeiro egípcio se deteriorou, tornando a terra propícia à 
invasão. Mas as cidades de Canaã estavam bem fortificadas. 
 
. Religiosa e moralmente, a terra vivia infestada de idolatria, completamente 
degradada: 
a) El era o deus supremo. Poemas ugaríticos descrevem-no como tirano cruel e 
sanguinário, de sensualidade incontrolável. 
b) Baal era filho de El e o seu sucessor. Dominava o grupo cananeu e era 
considerado o "Senhor do céu". Era o deus da chuva e da vegetação. 
c) Anate era irmã de Baal e uma das três deusas protetoras do sexo e da guerra. 
Concomitante com o culto da prostituição sagrada havia o morticínio infantil. 
d) Asterote (Astarte) e Aserá eram esposas de Baal e também deusas do sexo e da 
guerra. 
e) Moloque e Milcom, de origem amonita, eram deuses da orgia, do mesmo modo 
que Camos era a divindade nacional dos moabitas. 
Esses deuses de violência e perversão sexual refletem a crueldade e a corrupção do 
povo, que fez deuses parecidos com ele (Sl 115:8). 
 
6. Objetivo do livro de Josué 
 
. O objetivo do livro de Josué é preservar a história da conquista de Canaã e a divisão 
da terra entre as tribos. A história revela a fidelidade do Senhor como um Deus 
observador da aliança (Js 1:2-6). Demonstra também à posteridade de Israel a grande 
vitória que o povo pode alcançar se tão-somente seguir a liderança teocrática do 
Senhor, em vez de recorrer à força humana. O tema é risco e vitória da fé. 
 
7. Contribuições singulares de Josué 
 
. CUMPRIMENTO DA PROMESSA DE DEUS A ABRAÃO – A invasão de Josué 
cumpriu o segundo aspecto da aliança do Senhor com Abraão: a entrega da terra de 
Canaã. A primeira promessa de uma "semente" levou vinte e cinco anos para ser 
cumprida; a segunda levou aproximadamente 700 anos. A promessa de um rei levaria 
mais 400 anos. E a vinda daquele em quem seriam benditas todas as nações, mas 
1400. As últimas palavras do Senhor a Moisés enfatizaram a infalibilidade da sua 
Palavra no cumprimento da promessa de dar Canaã às tribos de Jacó (Dt 34:4). 
 
. TRAVESSIA DO JORDÃO – Por que outra travessia miraculosa por entre as águas? 
Esta última, por certo, repetiu a passagem pelo mar Vermelho com o fim de 
impressionar a nova geração (que talvez não acreditasse nas notícias da travessia 
anterior). Outros objetivos diversos foram atingidos: 1) confirmou a liderança de Josué, 
estabelecida por Deus (Js 3:7); 2) foi uma confirmação do Senhor de que era Ele 
quem desalojava os cananeus e dava a terra a Israel (Js 3:10); 3) demonstrou com 
singularidade o poder da arca, que continha as tábuas da Lei de Deus, à medida que 
ela liderava a multidão para dentro das águas, que eram cortadas. Devemos lembrar 
que a "arca da aliança" simbolizava a presença de Deus, isto é, Deus se fazia 
presente através da "arca". 
 
8. Análise Moral da Conquista de Canaã por Josué 
 
. O livro salienta uma questão ética crucial: como se justificaria que um povo escolhido 
por Deus se apossasse de Canaã, massacrando a população, tomando a sua terra e 
riquezas? Defrontamo-nos com esse problema moral em outros livros, como Números 
e 1 e 2 Samuel, onde Israel impõe armas contra os pagãos em vez de pregar a 
Palavra. Por que não foram enviados a Canaã como evangelistas em vez de 
carrascos? Diversas razões importantes devem ser observadas a partir do cenário 
histórico: 
 
1) Devido à degradante religião de Canaã – A religião de Canaã tinha-se tornado 
tremendamente abominável aos olhos de Deus e da própria moralidade. 
 
2) Devido à sua cultura corrompida – A adoração ao sexo demoníaco e aos ídolos 
de guerra refletiam uma sociedade permeada da mais grosseira imoralidade e 
violência. Escavações arqueológicas revelam que seus templos eram centros de vício 
com sacerdotes sodomitas e sacerdotisas prostitutas. Queimar crianças vivas nos 
altares tinha se tornado ritual comum. 
 
3) Devido às admoestações e paciência de Deus – O texto declara muitas vezes que 
o Senhor era o verdadeiro dono da terra de Canaã e podia dá-la ou negá-la a quem 
quisesse, por razões nem sempre evidentes aos homens. O Seu plano de cessão e 
período de experiência é observado diversas vezes muito antes de Moisés e Josué: 
 
A) Através de Noé, Deus profetizou julgamento para os cananeus pela sua 
obscenidade (Gn 9:22-27). 
B) Para Abraão e seus descendentes o Senhor prometeu a terra de Canaã (Gn 
15:13-16). 
C) Justamente como aconteceu com os habitantes de Sodoma antes da sua 
destruição, o Senhor deu aos cananeus muitas oportunidades de arrependimento (Gn 
18:25; Rm 1:18-22). Deus esperou 400 anos. 
 
4) Devido à comissão divina de Israel – Israel não foi designado para ser apenas 
uma organização religiosa, mas um governo civil com obrigações da aliança perante o 
Senhor. Como tal, sua primeira comissão era executar o julgamento de uma sociedade 
corrupta e violenta de acordo com a aliança Noéica (Gn 9:6). 
 
5) Devido às promessas da Aliança feitas por Deus – Conforme o Senhor declarou a 
Abraão e a Israel, a ocupação final da Palestina por Israel estender-se-á desde o Egito 
até o Eufrates (Gn 15:8; Dt 1:7-8; 30:5). Antes daquela futura ocupação final, 
entretanto, o Senhor novamente limpará a terra da vil idolatria e brutalidade 
introduzida por um sistema religioso inspirado por Satanás (Ap 14:16 e segs.). 
 
9. A estrutura 
 
. Josué é um livro de movimentação impressionante, de guerra, conquista e 
dominação. Vemos Israel subindo, vencendo e se fixando. O relato é distribuído em 
três fases, a saber: 
 
1) A entrada na terra (1-5) 
2) O domínio da terra (6-12) 
3) A ocupação da terra (13-24) 
 
10. O pensamento principal 
 
. Entrada, domínio, ocupação! – se forem esses os três movimentos registrados em 
Josué, então não pode haver dúvida quanto ao seu pensamento ou mensagem 
principal. Trata-se claramente da VITÓRIA DA FÉ. O livro de Josué contrasta 
nitidamente neste ponto com o de Números, onde vemos o fracasso da incredulidade 
(14:44, 45). Numa interpretação espiritual, os feitos de Israel sob a liderança de Josué 
proclamam a grande verdade do Novo Testamento:"... esta é a vitória que vence o 
mundo, a nossa fé" (1 Jo 5:4). 
 
11. Os significados tipológicos 
 
Toda a história do livro de Josué representa um grande tipo. Trata-se de uma figura do 
AT sobre uma grande realidade espiritual revelada no NT, como veremos em breve. 
Qual é então o principal significado tipológico de Josué? A resposta a essa pergunta 
depende da resposta sobre o que Canaã tipifica. 
 
Em alguns de nossos hinos, o rio Jordão é considerado símbolo da morte (corpo), e a 
terra de Canaã, do céu. Mas esta é uma interpretação perigosa desses tipos, que 
podem levar a uma má interpretação da vida cristã e do céu. Se o Jordão é a morte e 
Canaã, o céu, segue-se então que toda a vida cristã, até a hora da morte, corresponde 
ao deserto em que os hebreus peregrinaram – um quadro bem pouco invejável – e 
poderíamos sentir certa simpatia pela idéia de que uma conversão no leito da morte é 
preferível, a fim de diminuir ao máximo o andar errante no deserto? 
 
Além disso, Canaã não pode ser realmente um tipo do céu por outras duas ou três 
razões. Canaã foi conquistada através de conflito. Houve poucas lutas durante os 
anos da peregrinação, mas no momento da entrada em Canaã, Israel precisou puxar a 
espada. Os inimigos tinham de ser destruídos. Israel no podia fugir da luta. Como 
Canaã pode tipificar então o descanso tranqüilo da herança no céu? 
 
Israel também podia ser expulso de Canaã por inimigos poderosos, o que finalmente 
aconteceu, como sabemos. Como isso pode ser um tipo do céu de felicidade 
ininterrupta prometido aos justificados em Cristo? 
 
A fim de resolver de uma vez a questão, somos expressamente ensinados, em Hb 3 e 
4, acerca do sentido tipológico verdadeiro de Canaã. Esses dois capítulos devem ser 
lidos cuidadosamente e eles irão fixar permanentemente este tipo de Canaã em nosso 
consciente. Eles tornam claro que Canaã representa aposição e possessão atual do 
crente em cristo. Foi designada para prefigurar a guarda espiritual do sábado de 
descanso em que podemos entrar aqui e agora. Alguns versículos desses capítulos de 
Hebreus serão suficientes para certificar isto:"Ora, se Josué lhes houvesse dado 
descanso, (Deus) não falaria posteriormente a respeito de outro dia (de descanso). 
Portanto resta um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no 
descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras, como Deus das 
suas. Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso" (Hb 4:8-11). O mesmo 
capítulo nos diz que "nós, porém, que cremos, entramos no descanso" (v.3). 
 
O Jordão não tipifica a morte do corpo e a partida para o além, mas aquela união mais 
profunda de nossos corações com Cristo na Sua morte, onde somos completamente 
separados para Ele e introduzidos "na plenitude de benção do evangelho de Cristo". 
 
Canaã é aquela "largura, comprimento, altura e profundidade" da vida espiritual em 
que realmente "possuímos nossos bens" em Cristo. A tragédia é que a maioria dos 
cristãos vive muito abaixo dos seus privilégios e direitos de redenção em Cristo. Deus 
abriu para nós em Cristo uma experiência de santificação comparável a uma Canaã 
fértil, fragrante, produtiva, banhada de sol – uma "terra de trigo e cevada, de vides", 
uma terra "que mana leite e mel". 
 
Características de Canaã – Esta é, então, a experiência que Canaã e o livro de Josué 
indicam de modo tipológico. Torna-se assim da maior importância analisar o que nos é 
dito sobre Canaã, e verificarmos três coisas que se destacam como características. 
 
1º) Canaã era o DESCANSO prometido a Israel. O perambular seria substituído pela 
moradia fixa. Em lugar do deserto inóspito, haveria um lar em que poderiam sentar-
se, "cada um debaixo da sua videira, e debaixo da sua figueira" (1 Rs 4:25). As mãos 
cansadas e os pés feridos encontrariam um contraste refrescante nas colheitas fartas 
das planícies e vales férteis de Canaã. O descanso prometido fora cuidadosamente 
preparado para a sua chegada. Não precisariam sequer construir cidades e casas 
para viverem, pois iriam possuir "grandes e boas cidades, que tu não edificastes; e 
casas cheias de tudo que é bom, casas que não encheste; e poços abertos, que não 
abriste; vinhas e olivais, que não plantaste" (Dt 6:10, 11). 
 
2º) Canaã era o lugar de FARTURA. Uma terra que "mana leite e mel", "uma terra boa 
e ampla" (Êx 3:8), uma "terra de grão e de vinho" beijada pelo orvalho dos céus (Dt 
33:28), terra de oliveiras e vinhas, pinheiros e cedros, de ricos frutos e colheitas onde 
um povo obediente "se fartaria", um lugar sobre o qual Deus dissera: "Porque a 
terra..." (Dt 11:10-12). 
 
3º) Canaã era o lugar do TRIUNFO. Havia inimigos em Canaã? Certamente, mas já 
estavam derrotados antes de Israel desferir o primeiro golpe, pois Deus havia dito que 
lançaria "fora muitas nações de diante de ti, os heteus, e os jebuseus, sete nações 
mais numerosas e mais poderosas do que tu" (Dt 7:1). Israel deveria se lembrar do 
que o Senhor fizera "ao Faraó e a todo Egito" e não temer. Deus não estava 
chamando Israel simplesmente para lutar, mas sim para uma vitória certa. Canaã seria 
com certeza um lugar de triunfo, caso os israelitas fossem fiéis. 
 
O Espírito de Deus está nos ilustrando em tudo isso aquela vida nos "lugares 
celestiais" (Ef 1:3) que é nosso privilégio presente em Cristo; nossa concepção da 
verdade do NT é assim avivada pelo tipo do AT. 
 
DESCANSO, FARTURA, TRIUNFO! – está é a nossa rica herança em Cristo. Ela pode 
ser também nossa experiência real. 
 
A santidade não é obtida mediante esforço próprio, mas ela pode ser alcançada em 
Cristo. A consagração e a apropriação são as dobradiças que sustentam a porta de 
Canaã. Se realmente nos entregarmos e firmarmos nossos pés nas promessas, a terra 
de delícias será nossa. Deus não falhará. Vamos subir e possuí-la! "Fiel é o que vos 
chama, o qual também o fará" (1 Ts 5:24). 
 
12. Josué e Efésios 
 
O livro de Josué, como indicamos, tipifica aquela vida cristã mais plena em que 
realmente nos apropriamos de nossas possessões em Cristo, entramos no descanso 
do coração e experimentamos uma plenitude de "alegria e paz em nossa fé". A frase 
de Efésios, "regiões celestiais" (Ef 1:3), ou, mais literalmente, "os céus", indica 
a esfera desta vida superior e mais plena. Ela expressa uma comunhão de vida, mente 
e vontade com o Cristo ressurreto, uma união com Ele em natureza, relacionamento e 
propósitos, assim como na morte para o pecado, para a carne e para o mundo, uma 
união com Ele em serviço, sofrimento e desejo, em Sua ressurreição e ascensão, 
elevando o crente a um nível onde existe plenitude de luz, amor, poder e compreensão 
espiritual desconhecidos para outros. Esta é a vida num plano superior, o verdadeiro 
lugar da vida presente do cristão em Cristo. Raras vezes a pessoa entra nela 
imediatamente após a conversão. Infelizmente, parece que muitos crentes jamais o 
farão! Todavia, esta é realmente uma provisão de Deus; é a nossa herança em Cristo 
Jesus, e os recém-convertidos devem ser ensinados a desejá-la o mais breve 
possível. 
 
No livro de Josué, vemos Israel entrando e possuindo a herança terrena concedida 
mediante Abraão. Em Efésios, vemos a igreja entrando e possuindo a herança 
celestial concedida em Cristo. 
 
A correspondência, no entanto, não é apenas geral. Existe um paralelo em cinco 
partes, marcado pelas cinco ocorrências da expressão "lugares (ou regiões) 
celestiais", em Efésios, a saber: Efésios 1:3; 1:20; 2:6; 3:10; 6:12. Trace então 
brevemente o paralelo entre a terra de Canaã em Josué e os "lugares celestiais" em 
Efésios. 
 
1) Ambos eram a herança predestinada de um povo escolhido. 
 
Muito tempo antes, 500 anos antes de Josué fazer o povo atravessar o Jordão, Deus 
dissera a Abraão: "Ergue os olhos e olha desde onde estás para o norte, para o sul, 
para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terraque vês, eu te darei, a ti e à 
tua descendência, para sempre" (Gn 13:14, 15). Depois de finalmente ter tirado Israel 
do Egito, Ele disse: "Quando o Senhor te houver introduzido na terra... a qual jurou a 
teus pais te dar" (Êx 13:5). 
 
Do mesmo modo, examinando a primeira ocorrência da frase "lugares celestiais" em 
Efésios, descobrimos que nela se encontra a herança predestinada da igreja, "em 
Cristo". 
 
"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com 
toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos 
escolheu nele antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis 
perante ele" (Ef 1:3, 4). 
 
Israel foi abençoado com todas as bênçãos materiais nos lugares terrenos em Abraão. 
A Igreja é abençoada "com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em 
Cristo". Note igualmente que, para gozar desta plenitude de bênçãos materiais, Israel 
deve estar na terra prometida. Do mesmo modo, para o cristão tirar proveito da 
plenitude das bênçãos espirituais em Cristo, deve estar nas regiões celestiais. A razão 
de não as termos é que não nos achamos no lugar em que Deus as concede (Gl 5:25; 
Cl 3:1-3; Ef 2:6). 
 
2) Ambos começaram com um líder designado por Deus. 
 
No caso de Israel, tudo foi colocado nas mãos de Josué. Ele recebeu esta ordem: "... 
tu farás a este povo herdar a terra que, sob juramento, prometi dar a seus pais" (Js 
1:6) e "tu os farás herdá-la" (Dt 31:7). Josué era, portanto, o administrador nomeado 
para a colônia israelita em Canaã, e ficamos sabendo que, no final dos sete anos de 
guerra, "tomou Josué toda esta terra... e a deu em herança aos filhos de Israel, 
conforme as suas divisões e tribos" (Js 11:23). 
 
"... para saberdes... qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos, 
segundo a eficácia da força do seu poder; o qual exerceu ele em Cristo, 
ressuscitando-o dentre os mortos, e fazendo-o sentar à sua direita nos LUGARES 
CELESTIAIS... e, para ser o CABEÇA sobre todas as coisas, o deu à IGREJA" (Ef 
1:18-22). 
 
O Salvador ressurreto é quem divide a herança e a distribui ao Seu povo enquanto 
este se firma nas promessas, mediante a fé (Ef 4:10, 11). 
 
3) Ambos eram dons da graça a serem recebidos pela fé. 
 
Canaã foi dada a Israel em Abraão e não em Moisés, o legislador. Israel jamais teria 
recebido Canaã através da lei. Moisés não teve sequer o privilégio de introduzir o povo 
na terra. A lei também jamais poderá nos levar ao descanso prometido por Deus, para 
que nossas repousem em Cristo (Rm 4:1-13; Gl 3:6-19). 
 
O mesmo acontece com a Canaã espiritual que é nossa em Cristo, como mostra a 
terceira ocorrência da expressão "lugares celestiais", em Efésios. 
 
"... e estando nós mortos em nossos delitos, (Deus) nos deu vida juntamente com 
Cristo, - pela GRAÇA sois salvos; e juntamente com ele nos ressuscitou e nos 
assentar nos LUGARES CELESTIAIS em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos 
vindouros a suprema riqueza da Sua GRAÇA, em bondade para conosco, em Cristo 
Jesus. Porque pela GRAÇA sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós, é dom 
de Deus" (Ef 2:5-8). 
 
Não iremos entrar nessa terra de bênçãos por meio de votos, resoluções, alianças de 
consagração assinadas com sangue novo extraído das veias (tal pratica demonstra 
falta de fé no sacrifício de Cristo, e anula a obra vicária de Cristo); nem mediante ritos 
externos ou abstinência ascética de coisas boas e saudáveis (tais praticas 
demonstram falta de fé no sacrifício de Cristo, e anula a obra vicária de 
Cristo); também não adianta dias de jejum e noites de oração; nem sequer a 
obediência à voz da consciência ou uma percepção interior, embora seja de máxima 
importância dar atenção a isso. Nada disso nos fará entrar na terra de bem-
aventuranças. Todas essas coisas se tornam formas de legalismo quando praticadas 
com o propósito de obter o completo descanso e a vitória da experiência cristã. Nas 
palavras de Efésios 2:8, e preciso que seja pela "graça, mediante a fé". 
 
4) Ambos são cenários de uma revelação divina surpreendente. 
 
O fato de Israel entrar e possuir Canaã tinha o intuito de ser uma revelação do Deus 
verdadeiro para as nações da época: "Para que todos os povos da terra conheçam 
que a mão do Senhor é forte: a fim de que temais ao Senhor vosso Deus todos os 
dias" (Js 4:24). 
 
"Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás 
aos filhos de Israel".(Êx 19:6). 
 
No mesmo plano encontramos a quarta referência em Efésios aos "lugares celestiais", 
nos contando que a Igreja é uma belíssima revelação de Deus aos poderes do reino 
dos espíritos. 
 
"A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o 
evangelho das insondáveis riquezas de Cristo, e manifestar qual seja a dispensação 
do mistério, desde os séculos oculto em Deus, que criou todas as coisas, para que, 
PELA IGREJA, A MULTIFORME SABEDORIA DE DEUS SE TORNE CONHECIDA 
AGORA DOS PRINCIPADOS E POTESTADES NOS LUGARES CELESTIAIS" (Ef 3:8-
10). 
 
5) Ambos são descritos como cenário de conflito. 
 
Na Canaã terrena havia os gigantes filhos de Anaque e cidades "muradas até os 
céus". Os heteus, girgaseus, amorreus, cananeus, ferezeus, heveus e jebuseus 
protegiam a terra com fortalezas e carros de ferro – sete nações maiores e mais 
poderosas do que Israel. Eram nações extremamente perversas que tinham de ser 
conquistadas e destruídas. 
 
O mesmo acontece com a nossa Canaã espiritual nos "lugares Celestiais". Voltamos a 
Efésios e encontramos estas palavras na última ocorrência da frase "nos lugares 
celestiais": 
 
"... a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e 
potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças 
espirituais do mal, NAS REGIÕES CELESTES" (Ef 6:12). 
 
Estes são, portanto os cinco pontos do paralelo entre a herança terrena concedida por 
meio de Josué e a herança espiritual concedida aos crentes em Cristo. 
 
13. As partes 
 
Vamos agora examinar brevemente as três partes principais do livro. Israel entrando 
(1-5) – Israel vencendo (6-12) – Israel ocupando (13-14) 
 
Parte 1 
 
Os cinco capítulos da parte um têm uma seqüência ordenada, como segue: 
 
Capítulo 1 – A transferência da responsabilidade a Josué; 
Capítulo 2 – A espionagem em Jericó; 
Capítulo 3 – A travessia do Jordão; 
Capítulo 4 – A edificação de memórias; 
Capítulo 5 – A ocupação de Gilgal. 
 
Se tivermos em mente que o principal conceito em Josué é a vitória da fé,iremos 
perceber rapidamente como esses capítulos são eloqüentes. 
 
Capítulo 1 – A transferência da responsabilidade a Josué – (a garantia da fé) 
 
A ênfase deste capitulo está no fato de Josué ter assumido a liderança com ordens do 
próprio Deus. Ela se baseava na palavra de Deus (Js 1:9). A subida a Canaã também 
se apoiava numa autorização divina perfeitamente definida (vv. 2-5). Este é sempre o 
começo das coisas no que se refere à fé – Deus falou. A verdadeira fé está, portanto, 
bem afastada da simples crendice. Ela se recusa a agir com base na mera razão 
humana: mas, uma vez certa de que Deus falou, nada mais pede, pois não pode haver 
autoridade mais alta que esta, nem razão superior para obedecer. Aqui, no capítulo 1, 
vemos então a garantia da fé, a saber, a palavra de Deus. A fé verdadeira sempre 
atua sob o principio contido em Hebreus 13:5-6 – "Ele tem dito... Assim, afirmemos 
(nós)". 
 
Capítulo 2 – A espionagem em Jericó – (a prudência da fé) 
 
Tendo recebido tal segurança divina de invencibilidade (como em 1:5, 6), Josué 
poderia ter facilmente achado desnecessário usar de precaução ou recorrer à 
estratégia militar. Mas este segundo capítulo nos mostra que a reação da fé 
verdadeira é o oposto de tal despreocupação (devemos descansar em Deus, isto é, 
confiar em Deus,mas isto não significa que não devemos fazer aquilo que nos cabe). 
Josué enviou dois espias a Jericó; e havia boas razões para isso, como veremos mais 
tarde, pois Jericó era uma das principais cidades. A fé verdadeira não despreza o uso 
de meios. Existe uma grande diferença entre crer e supor. Fazer das promessas de 
Deus uma desculpa para não tomar as precauções necessárias é tentar a Deus, como 
o próprio Senhor Jesus nos ensinou. Quando o enganador insistiu com o Mestre que 
se atirasse da torre do templo, porque Deus prometera proteção sobrenatural, o 
Senhor respondeu: "Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus" (Mt 4:7). 
Neste segundo capítulo de Josué temos a prudência da fé. 
 
Capítulo 3 – A travessia do Jordão – (A crise da fé) 
 
A travessia deste "Jordão" foi uma grande crise de fé. O mesmo tipo de crise 
sobreviera à geração anterior, cerca de 40 anos e sob circunstâncias um tanto 
diferente. Os israelitas falharam em sua reação a ela. O mesmo deveria repetir-se na 
nova geração. Ser tirado do Egito era uma coisa, mas "atravessar o Jordão" era algo 
muito diverso, comprometedor. Não havia possibilidade de recuo, eles teriam que lutar 
contra os poderes de Canaã em suas fortalezas aparentemente inexpugnáveis, com 
seus carros de ferro e seus grandes exércitos entre os quais lutavam famosos 
gigantes. Agir desse modo era aceitar um curso de ação condenado por dez dentre os 
doze espias que haviam descrito a terra 40 antes! Aos olhos humanos seria arriscar 
tudo na batalha, sem poder recuar, correndo o risco de perder tudo. 
 
A mesma crise chega para todos os remidos, de uma ou outra maneira – essa intensa 
crise na alma em que somos obrigados a fazer a escolha suprema: entregar-nos 
inteiramente à vontade de Deus, para que Ele seja daí por diante o primeiro em nossa 
vida, ou seguir pelo caminho pelo caminho aparentemente mais fácil, continuar na vida 
cristã, mas com reservas em nosso amor para com Deus. Aceitar Cristo como 
Salvador da culpa de nosso pecado significa uma coisa, mas torná-lo Senhor absoluto 
de nossa vontade e nossa vida é outra bem diferente. Uma coisa é sermos tirados do 
Egito de nossa existência não-regenerada e nos juntarmos ao Israel remido, mas 
sepultar todos os alvos e desejos pessoais nas águas velozes e transbordantes do 
Jordão, passando para aquela vida superior em que não são toleradas outros desejos 
ou propósitos além daqueles de nosso bendito Senhor, representa algo bem diferente. 
Uma coisa foi Abrão deixar a cidade de Ur dos caldeus e seguir, pela fé, a orientação 
de Deus. Outra coisa – muito maior, mais custosa e sublime para ele – foi subir o 
Monte Moriá e levantar a faca para matar seu precioso Isaque. Abraão entregou o seu 
Isaque. Israel cruzou o Jordão. O que dizer de você e de mim? 
 
Capítulo 4 – A edificação de memoriais – (O testemunho da fé) 
 
Uma fé que em tudo obedece a Deus deixa muitos e belos exemplos de Ebenézer em 
seu rastro. As pedras memoriais do Jordão eram um testemunho da fé quanto ao 
poder e fidelidade de Deus. Havia dois montes ou pilhas de pedras – um na margem 
ocidental do rio, em Gilgal (v.3), e outro no próprio rio (v.9), consistindo cada um de 
doze grandes pedras, que representavam as doze tribos de Israel. O monte do lado do 
rio onde ficava Canaã testemunhava a fidelidade de Deus ao fazer Israel entrar 
finalmente na terra prometida a seus pais. O que ficava no rio dava testemunho do 
poder de Deus ao reter a corrente caudalosa e abrir caminho através de seu leito para 
a grande multidão. Neste quarto capítulo, temos o testemunho da fé. 
 
Capítulo 5 – A ocupação de Gilgal – (A marca da fé) 
 
Vemos aqui o selo e a purificação da fé. A circuncisão é renovada, como selo da 
aliança entre Deus e Israel. Os filhos de Israel deveriam levar em seus próprios corpos 
esta marca de sua separação. (Dt 10:16; 30:6; Cl 2:11-13). É esse "despojamento" da 
"carne", esse corte afiado dos desejos naturais, que acompanha a purificação divina 
da alma. 
 
Os israelitas devem carregar a marca permanente de sua separação mais completa 
em Gilgal. O mesmo se dá conosco: essa crise da morte e sepultamento do "eu", da 
qual o Jordão é um tipo, deve ser perpetuada pela negação contínua da "carne" de 
que fala a circuncisão. 
 
Parte 2 
 
Neste segundo grupo de capítulos, vemos a luta e a vitória da fé. Israel está agora no 
lugar de bênção e parte para "conquistar e vencer" na força do Capitão invisível. 
 
Capítulo 6 – A queda de Jericó 
Capítulo 7 – O pecado de Acã 
Capítulo 8 – O saque de Ai 
Capítulo 9 – A astúcia de Gibeom 
Capítulo 10-12 – A expulsão de todos os inimigos 
 
Capítulo 6 – A queda de Jericó 
 
Este capítulo notável apresenta de maneira impressionante os princípios em que a fé 
opera, luta, aguarda e vence. O primeiro passo da fé é verificar qual à vontade e a 
palavra de Deus. O segundo é obedecer a essa vontade e palavra irrestritamente. O 
passo final é aceitar essa palavra e considerar o alvo como já tendo sido alcançado, 
dando antecipadamente glória a Deus – como os israelitas deram seu poderoso grito 
de vitória antes de os muros de Jericó caírem efetivamente. Os princípios de ação da 
fé contrariam, portanto, os da razão natural. 
 
Capítulo 7 – O pecado de Acã 
 
Infelizmente houve um rápido lapso que, embora tivesse sido logo corrigido, implicou 
em perda. Não que a fé tivesse diminuído, mas uma transigência (tolerância) secreta 
incapacitou Israel temporariamente. Os homens de Israel viram as costas ao inimigo e 
trinta e seis deles caem. Nos sete anos de guerra esta foi à única perda. O motivo da 
derrota foi cuidadosamente exposto, a fim de que a lição possa ser aprendida com 
clareza. O fio da comunhão entre Deus e Israel fora cortado, "pois tomaram das coisas 
condenadas", e a corrente de poder deixou então de fluir. A primeira tendência de 
Israel foi culpar Deus, em vez de olhar para dentro. Mas logo o erro subiu à tona; foi 
feita a confissão e executada a sentença.Os despojos roubados por Acã tinham pouco 
valor material, mas o significado espiritual de sua atitude era profundo. Tratava-se de 
um grave comprometimento com coisas proibidas. Acã violou uma ordem direta de 
Deus e roubou o que pertencia ao Senhor (6.17-19). Dois erros gravíssimos que 
demonstravam que os bens materiais estavam acima de sua relação com Deus. O 
Senhor deve ter Se entristecido ao fazer com que Israel perdesse a batalha de Ai; 
todavia, era preciso que o povo aprendesse através do sofrimento que, tanto por sua 
própria causa como por causa do nome santo do Senhor, o pecado devia ser julgado e 
abolido. Qualquer derrota que venhamos a enfrentar na terra de bênçãos é devida 
inteiramente a alguma falha em nós mesmos. 
 
Capítulo 8 – O saque de Ai 
 
Vemos neste capítulo a fé restaurada, partindo em triunfo renovado. O pecado 
confessado, julgado e abandonado restaura o elo da comunhão, e o poder divino 
começa a fluir de novo. O Capitão invisível do exército do Senhor diz agora a Josué: 
"Não temas, não te atemorizes; toma contigo toda a gente de guerra, e dispõe-te, sobe 
a Ai; olha que te entregarei nas tuas mãos o rei de Ai, e o seu povo, e a sua cidade, e 
a sua terra" (Js 8:1). O restante do capítulo fala por si mesmo. Trata-se de uma lição 
que ilustra a fé e a comunhão com Deus restaurada depois de uma auto-análise. 
 
Capítulo 9 – A aliança com Gibeom 
 
Vemos aqui a astúcia de Satanás. Os gibeonitas, compreendendo que não podiam 
enfrentar um poder como o dos israelitas, recorreram a um embuste. Um grupo deles, 
vestido com roupas velhas como as de viajantes cansados vindos de uma terra mui 
distante, chegou ao arraial de Israel, dizendo: "Teus servos vieram duma terra mui 
distante, por causa do nome do Senhor teu Deus; porquanto ouvimos a sua fama, e 
tudo quanto fez no Egito... fazei, pois, agora aliança conosco".(9; 9-11). Tão bom era o 
disfarce, tão razoávela história, tão respeitosa a referência ao Senhor, tão penosa a 
situação deles, que Israel transbordou de compaixão. Acreditando não serem eles 
cananeus que estavam sob maldição, com quem não podiam fazer alianças, os 
israelitas fizeram um pacto com Gibeom. Três dias mais tarde foi descoberto o 
engano. 
 
Note: o ponto mais importante deste incidente é que os israelitas "não pediram 
conselho ao Senhor" (v. 14). Não precisamos apenas do poder do Espírito contra os 
gigantes, mas também da sabedoria do Espírito contra as serpentes! Os estratagemas 
sutis de Satanás são mais perigosos do que seus ataques declarados. Ele representa 
um perigo maior como "anjo de luz" do que como "leão que ruge". A aliança com 
aqueles cananeus encerrava ameaças imprevisíveis. 
 
Capítulos 10-12 – A expulsão de todos os inimigos 
 
A estratégia militar de Josué torna-se clara aqui. Ao atacar primeiro Jericó e Ai, ele 
abrira uma brecha no centro de Canaã. Agora, no capítulo 10, ele se dirige para o sul 
e depois, no capítulo 11, vai para o norte. Temos assim a batalha central (6-9), a 
batalha ao sul (10) e a batalha ao norte (11); e o capítulo 12 completa o registro, 
dando um resumo de todos os reis e cidades que caíram diante da espada de Israel. 
 
"Assim tomou Josué toda esta terra segundo tudo o que o Senhor tinha dito a Moisés; 
e Josué a deu em herança aos filhos de Israel, conforme as suas divisões, e tribo" (Js 
11:23). 
 
Parte 3 
 
A ocupação da terra (13-24) 
 
Primeiro: não é preciso muita imaginação para ver que a divisão da terra entre as nove 
tribos e meia e os levitas não foi tarefa fácil, mas sim um trabalho complexo que exigiu 
orientação cuidadosa e tempo considerável. 
 
Segundo: eles dividiram a terra "lançando as sortes perante o Senhor" (Js 18:6) – um 
meio positivo por causa de sua imparcialidade, enquanto deixava ao mesmo tempo 
que o soberano Senhor colocasse as tribos nas regiões mais adequadas a elas. A 
mesma combinação de imparcialidade e soberania é vista na concessão dos dons 
espirituais pelo Espírito Santo na igreja de Cristo. 
 
"Ora, a respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Vós 
sabeis que, quando éreis gentios, vos desviáveis para os ídolos mudos, conforme 
éreis levados. Portanto vos quero fazer compreender que ninguém, falando pelo 
Espírito de Deus, diz: Jesus é anátema! E ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor! 
Senão pelo Espírito Santo. Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. E 
há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. E há diversidade de 
operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. A cada um, porém, é 
dada a manifestação do Espírito para o proveito comum. Porque a um, pelo Espírito, é 
dada a palavra da sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; a 
outro, pelo mesmo Espírito, a fé; a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; a 
outro a operação de milagres; a outro a profecia; a outro o dom de discernir espíritos; 
a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação de línguas. Mas um só e o 
mesmo Espírito opera todas estas coisas, distribuindo particularmente a cada um 
como quer" (1 Co 12:4-11). 
 
Terceiro: devemos assinalar bem o principio que regeu a ocupação da terra por Israel, 
porque o mesmo principio opera quando nos apropriamos da herança em Cristo. Ele é 
percebido quando juntamos dois versículos aparentemente contraditórios. Lemos em 
11:23 "Assim tomou Josué toda esta terra segundo tudo o que o Senhor tinha dito a 
Moisés". Todavia em Js 13:1 Deus diz: "... ainda muitíssima terra ficou para se 
possuir". Essas duas declarações não são realmente contraditórias, mas 
complementares. 
 
"Toda a terra" foi realmente tomada, todavia resta "muitíssima terra" para ser 
possuída. Existe uma diferença entre a herança e a posse. A herança é toda a terra 
dada por Deus, enquanto a posse é apenas aquela parte apropriada pela fé. O ideal 
seria que a posse abrangesse a herança inteira. Nossa herança em Cristo é aquilo 
que Ele representa em potencial para nós. Nossa posse em Cristo é aquilo que Ele é 
para nós na realidade, segundo a medida de nossa apropriação pela fé. 
 
Capítulo 20 – As cidades de refúgio 
 
Temos aqui as seis cidades de refúgio. Seu propósito é claramente explicado em Nm 
35 e neste presente capítulo. Tratava-se de uma provisão misericordiosa, a fim de 
proteger os que haviam cometido certos erros sem querer ou por engano. Muitos 
homens fiéis e sinceros teriam perecidos se não fossem os chifres dos altares nessas 
cidades de refúgio. 
 
Aprendemos assim que Deus reconhece a diferença entre pecados e erros. Os 
homens mais santos são falíveis e podem cometer erros; mas erros não são pecados 
e não nos desclassificam para a vida de fé nem nos privam de nossa herança em 
Cristo. A menininha que, carinhosa mas desastrosamente, colocou os sapatos da mãe 
no forno, a fim de aquecê-los numa noite fria, cometeu um erro, mas não um pecado! 
 
Capitulo 22 – O altar do testemunho 
 
Há muitas pessoas que, à semelhança dessas duas tribos e meia, querem sentir-se 
seguras de que têm comunhão com o Deus de Israel, mas se contentam em viver fora 
da terra! 
 
Não há duvida de que o motivo da edificação do altar "Ede" (Almeida Revista e 
Corrigida) era bom; mas não seria desnecessário se fosse obedecida a ordem do 
Senhor para que todos os homens de Israel se apresentassem diante dele três vezes 
ao ano em Silo? 
 
A verdadeira unidade não é exterior, mas interior. Ela não é obtida, nem sequer 
preservada por memoriais externos, consistindo porém de uma unidade da experiência 
interior e espiritual. Não devemos confundir unidade com mera uniformidade. 
 
A única unidade verdadeira é a de uma vida comum interior, uma experiência espiritual 
comum e uma lealdade comum de coração. Os que vivem "na terra", no gozo dessa 
Canaã espiritual que está em Cristo, estão conscientes de sua unidade espiritual com 
todos os eleitos de Deus em Cristo, quaisquer que sejam as diferenças 
denominacionais externas que possam existir entre eles. 
 
Quanto mais próximos estamos de Cristo, tanto mais claramente vemos nossa 
unidade com todos os que pertencem a Ele. Aprendemos a pensar menos nos pontos 
de divergência e mais nos de acordo. Descobrimos que as qualidades peculiares a 
cada crente, que o capacitam a realizar seu trabalho específico, não afetam aquela 
parte mais profunda do ser que, em todos os santos, entram em contato direto com o 
Salvador vivo. 
 
Não podemos criar a unidade espiritual. A unidade dos santificados em Cristo é uma 
realidade espiritual operada pelo próprio Espírito. A verdadeira unidade de Israel 
encontra-se numa vida e experiência comum com relação a Deus, a qual se 
manifestou intensamente naquele altar de sacrifício em Silo. Da mesma forma, a 
verdadeira unidade dos cristãos encontra-se hoje na sua experiência comum de vida 
em Cristo descobrindo seu centro vital na cruz e na pessoa do Redentor. 
 
Capítulos 23-24 – A despedida de Josué 
 
Lemos finalmente os últimos conselhos do agora idoso Josué. As palavras do líder fiel 
revelam o interesse de seu coração pela nação privilegiada. Israel já vinha gozando há 
alguns anos o repouso e a fartura de Canaã. O que dizer do futuro? Tudo dependia de 
Israel continuar ou não fiel à aliança. As palavras de Josué não escondem sua 
preocupação. Sete vezes ele se refere às nações idólatras que ainda estavam em 
Canaã. Ele sabia que estas seriam uma armadilha para Israel e prescreveu então três 
cuidados. 
 
Primeiro, deviam esforçar-se para não se apartar da palavra de Deus – de "tudo 
quanto está escrito" (Js 23:6). 
 
Segundo, era preciso haver separação contínua das nações de Canaã. (Js 23:7). E 
deveria haver um grande apego ao Senhor, com amor real e fervoroso (Js 23:8-11). 
 
Josué 
 
Yehôshua` "Jeová é salvação", normalmente transliterado em portuguêspor Josué. O 
termo grego Iesous (Jesus) reflete a contração aramaica, Yeshü`. 
 
No livro de Êxodo, Josué aparece como jovem (Êx 33:11). Moisés o escolheu como 
seu assistente pessoal, e lhe deu o comando de um destacamento tirado das tribos 
ainda não organizadas para repelir os assaltantes amalequitas (Êx 17). Como 
representante de Efraim, no grupo de reconhecimento enviado de Cades (Nm 13 e 
14), ele apoiou as recomendações de Calebe para que se desse prosseguimento à 
invasão. 
 
Estando Moisés sozinho perante Deus, no monte Sinai, Josué ficou a vigiar; na Tenda 
da Aliança ele também aprendeu a esperar no Senhor; e nos anos que se seguiram, 
algo da paciência e da mansidão de Moisés certamente foi também adicionado ao 
valor pessoal de Josué (Êx 24:13; 32:17; 33:11; Nm 21:28). Nas planícies próximas 
dos Jordão Josué foi formalmente consagrado como sucessor de Moisés no tocante à 
liderança militar, coordenada com o sacerdócio de Eleazar (Nm 27:18 e segs.; 34:17). 
Provavelmente ele tinha então 70 anos de idade. Calebe, mais velho que ele, era um 
homem notavelmente vigoroso de oitenta e cinco anos quando deu início a ocupação 
das colinas da Judéia (Js 15:13-15). Josué faleceu com a idade de 110 anos, e foi 
sepultado perto de Timnate-sera. 
 
Nota: MONTE SIÃO – Significa "Colina ressecada pelo sal" é a alegria de toda a terra 
(Joel 3:17) – monte da santidade do Senhor. 
 
 
INTRODUÇÃO AO LIVRO DOS JUÍZES 
 
1. O nome 
 
Evidentemente, o livro dos Juízes deve seu nome ao próprio conteúdo, dedicado ao 
período dos chamados “juízes” de Israel e a alguns desses juízes em particular. 
Podemos dizer que abrange aproximadamente os primeiros 350 anos da história de 
Israel em Canaã. Este é o período do regime teocrático, em que o próprio Senhor é o 
“Rei invisível” de Israel. 
 
O título “juízes” (Shophetim) é devido aos líderes levantados intermitentemente por 
Deus, para que houvesse liderança em época de emergência durante o período que 
vai de Josué até o reinado de Saul. O nome “Juízes” descreve duas funções desses 
líderes: 
 
A – Livrar o povo dos seus opressores, na função de líder militar. 
B – Resolver disputas e defender a justiça, na função de líder civil. 
 
Os períodos de 400 anos da história de Israel são dignos de nota; observemo-los no 
quadro: 
 
Desde o nascimento de Abrão até a 
morte de José no Egito (o período familiar) cerca de 400 anos 
 
Desde a morte de José até o êxodo do 
Egito (o período tribal) cerca de 400 anos 
 
Desde o Êxodo até Saul, o primeiro rei 
(o período teocrático) cerca de 400 anos 
 
Desde Saul até Zedequias e o exílio 
(o período monárquico) cerca de 400 anos 
 
 
O período dos juízes encontra-se no terceiro desses períodos de 400 anos, ou seja, o 
teocrático. A teocracia foi uma gloriosa experiência com possibilidades superlativas; e 
o fracasso de Israel é mais trágico ainda. 
 
2. Natureza e autoria 
 
É evidente que os registros que nos foram preservados neste livro dos Juízes 
são verdadeiros em termos históricos, embora não pretendam manifestamente 
constituir uma história científica do período de que tratam, pois a primeira 
característica de uma história cientifica é o cuidado com a cronologia – sem dúvida 
algo que falta ao Livro dos Juízes. Sua ênfase está no significado espiritual dos 
eventos escolhidos e não na simples continuidade cronológica. Este Livro dos Juízes 
não se preocupa tanto em formar uma corrente histórica, mas em destacar uma lição 
vital, a qual será mencionada a seguir. 
 
A autoria do livro é desconhecida, embora a tradição judaica o atribua a Samuel. “Há 
pouca dúvida de que a maior parte do livro consiste dos registros contemporâneos 
originais das diferentes tribos. Os detalhes minuciosos e descritivos das narrativas, o 
cântico de Débora, a história de Jotão, a mensagem de Jefté ao rei Amom, a descrição 
exata do grande parlamento em Mispa e muitas outras porções semelhantes devem 
ser documentos contemporâneos. “Todavia, ao mesmo tempo é evidente que esses 
documentos originais foram editados e compilados posteriormente. Fica claro em 
18:31 e 20:27 que a compilação teve lugar depois que a arca foi removida de Silo. 
Pela frase “naqueles dias não havia rei em Israel” (17:6; 18:1; 19:1; 21:25), concluímos 
que a organização foi feita depois do inicio do reino de Saul, o primeiro rei. Todavia, a 
menção dos jebuseus habitando em Jerusalém “até ao dia de hoje” (1:21), torna 
igualmente claro que tal compilação se deu antes da ascensão de Davi ao trono (que 
expulsou os jebuseus de sua fortaleza – 1 Cr 11:5). O que poderia ser mais provável 
do que a mão de Samuel, que liga o período dos juízes e dos reis, ter participado em 
grande parte da obra que chegou até nós? 
 
3. O retrato de Israel 
 
“O caráter moral dos israelitas, como descrito neste livro, parece ter se deteriorado 
muito” escreve o Dr. Angus. “A geração dos contemporâneos de Josué mostrou-se 
corajosa, fiel e, em grande parte, livre da fraqueza e da obstinação que haviam 
desonrado seus pais (Jz 2:7). Agora, o primeiro ardor deles havia esfriado um pouco e, 
mais de uma vez, caíram num estado de indiferença que Josué achou necessário 
censurar. À medida que cada tribo recebia a sua parte, seus integrantes iam se 
envolvendo de tal forma no cultivo da terra e apreciando cada vez mais o conforto em 
lugar da guerra que cada vez menos mostravam disposição para ajudar o restante do 
povo. Outra geração surgiu. Vivendo entre idólatras, os israelitas copiaram os seus 
exemplos, casaram-se com eles e contaminaram-se com as suas abominações (2:13; 
3:6). Os antigos habitantes que não foram molestados reuniram forças para atacar a 
raça escolhida: as nações e tribos vizinhas, tais como os sírios, filisteus, moabitas e 
midianitas, aproveitaram-se de sua degeneração para avançar sobre eles. Enquanto 
isso, a licenciosidade, o conforto e a idolatria, que os hebreus estavam aceitando, 
prejudicavam seus poderes de defesa”. 
 
4. O significado geral 
 
Os juízes levantados por Deus eram lições práticas vivas, através dos quais Deus 
procurou preservar em Israel a idéia de que a fé no Senhor, o único Deus verdadeiro, 
era o caminho exclusivo para a vitória e o bem-estar. Mas o povo só correspondia na 
medida em que isso servia ao propósito egoísta do momento – livrar-se do cativeiro e 
obter proveitos materiais. Em termos gerais, o Deus de seus pais não passava de um 
recurso conveniente em tempos de dificuldades. Quando as coisas estavam 
razoavelmente confortáveis, a traição descarada ao Senhor era a ordem do dia. 
 
De tempos em tempos, com pena de Seu povo humilhado e sofredor, Deus levantou 
esses homens, os juízes, cujas façanhas de livramento em resposta à fé demonstrada 
para com Ele – apesar das vulgaridades e imperfeições de caráter e de 
comportamento dos próprios juízes – eram tão manifestamente milagroso que Israel 
foi forçado a reconhecê-lo novamente como o Deus verdadeiro, sendo assim 
encorajado a voltar à sua primeira fé e ao seu primeiro amor. 
 
5. Cenário Histórico 
 
A. Data – 1375-1075 a.C. 
 
1. O livro de Juízes é o único que registra um longo período da história de Israel. 
Descreve três guerras civis, sete opressões de cinco inimigos, sete guerras de 
libertação, um número de magistraturas judiciais pacíficas e, finalmente, uma 
magistratura malsucedida de Sansão, a qual quase terminou com os filisteus 
assumindo o controle. 
 
Apesar de o período total de trégua e opressão chegar a 410 anos, o tempo envolvido 
foi de aproximadamente 300 anos até a morte de Sansão. O confronto entre as 
magistraturas provinciais e as relatadas em Juízes justificam essa diferença. 
 
B. Estado da Nação 
 
1. Após a mortede Josué, Israel ficou sem um líder nacional por mais de 300 anos. 
As tribos mostravam-se independentes e cada indivíduo era uma lei perante si próprio. 
Durante esse tempo o Senhor levantou juízes principalmente nas emergências para 
livrá-los dos inimigos invasores e defender a justiça civil. 
 
Esse foi um período em que o Senhor testou a nação para ver como ela guardaria a 
sua aliança num ambiente pagão e idólatra (3:1-5). Os israelitas caíram e uma 
condição crônica de apostasia. Aceitavam entusiasticamente os livramentos do 
Senhor, mas quando lhes faltava uma forte liderança, retornavam rapidamente às 
praticas pagãs que o rodeavam. 
 
O estado espiritual da nação contrasta vivamente com o da época de Josué. Seu livro 
apresenta uma história de obediência, fé e vitória sob a liderança teocrática desse 
grande homem de Deus. Juízes, porém, é um livro que apresenta uma história de 
contínuo fracasso: “cada qual fazia o que parecia direito aos seus próprios olhos” 
(17:6). Se não fosse pelas misericordiosas operações de livramento do Senhor 
durante esse período, a nação teria afundado numa idolatria pagã irrecuperável. 
 
6. Objetivo do livro de Juízes 
 
O objetivo principal de Juízes é preservar um registro do caráter de Israel durante o 
tempo em que este não tinha um líder nacional e enfatizar sua necessidade de um rei 
teocrático. Os muitos ciclos de fracasso e castigo salientam repetidamente a verdade 
deuteronômica de que o abandono da fé no Senhor traz inevitavelmente o castigo da 
servidão e o caos. 
 
7. Cristo em Juízes 
 
Se Jesus incluiu o livro de Juízes no seu estudo do Antigo Testamento, expondo o que 
a seu respeito ali constava, dois itens podem ter sido debatidos: 
 
A falta de um rei ou líder nacional em Israel para unificá-lo como uma real nação 
teocrática. O livro de Juízes é uma preparação para a vinda de Davi, mas também 
para a vinda do próprio Messias. 
 
Os juízes sobre os quais veio o Espírito poderiam prenunciar a vinda do Senhor, 
especialmente na sua função futura de Juiz justo quando julgar o seu povo, destruiu os 
inimigos e trouxer justiça para a nação. 
 
8. Noções básicas 
 
O título em português tende à má interpretação, visto que transmite a idéia de um 
grupo de homens cuja principal tarefa seria desempenhada na esfera legal, como 
árbitros nas disputas humanas. Mesmo uma leitura superficial de Juízes mostrará que, 
na verdade, esta era uma função subsidiária de seus personagens centrais. A chave 
para a conotação do termo em hebraico poderá ser encontrada em 2:16 – “Suscitou o 
Senhor juízes, que os livraram da mão dos que os pilharam”.(ARC). Os juízes eram, 
primordialmente, “salvadores” ou “libertadores” de seu povo, contra seus inimigos. 
 
Isto levanta uma questão de considerável importância. Estes homens exaltados para 
serem libertadores de seu povo caracterizavam-se por qualidades peculiares que 
eram, conforme acreditava, a manifestação de uma dotação especial do Senhor. O 
povo podia reconhecer esta qualidade à medida que era revelada na vida e nas ações, 
sendo o livramento de Israel do domínio estrangeiro sua mais espetacular 
manifestação. Tal atitude não esteve confinada ao período dos juízes. Saul exibia esta 
marca carismática (1 Sm 11:6), demonstrada abertamente ao libertar os cidadãos de 
Jabes-Gileade do domínio amonita. Davi recebeu esta unção (1 Sm 16:13) que 
explicava, em parte, suas grandes proezas, e seus sucessos nas batalhas. 
 
Entretanto, o heroísmo militar não era a única forma mediante a qual se revelava a 
dotação divina, visto que a sabedoria e o discernimento eram, igualmente, dons de 
Deus. Não há registros de façanhas militares de nenhum dos juízes menores (exceto 
Sangar Jz 3:31). Por outro lado, deve-se observar que temos informações insuficientes 
acerca dos juízes menores, o que nos impede de afirmar, dogmaticamente, que eram 
isentos das qualidades militares dos juízes que conhecemos melhor. Com efeito, lê-se 
de um deles, Tola, filho de Pua, que ele “se levantou, para livrar a Israel” (Jz 10:1 
ARA). 
 
Tais homens (e a mulher Débora) possuíam qualidades extraordinárias de liderança, 
consideradas como sendo o resultado do Espírito de Deus habitando neles. A 
evidência mais espetacular desta possessão pelo Espírito e, portanto, a que deveria 
ser lembrada melhor pela posteridade, era o destroçamento do jugo do opressor. 
 
Doze juízes são citados sucessivamente: Otniel, Eúde, Sangar, Débora (com 
Baraque), Gideão, Tola, Jair, Jefté, Ibsã, Elom, Abdom e Sansão. Seis deles se 
destacam mais – pois toda a história concentra-se em seis apostasias e períodos de 
cativeiro de Israel e nos seis libertadores ou juízes que conseguiram libertar o povo. 
São eles: Otniel, Eúde, Débora, Gideão, Jefté e Sansão. As seis principais apostasias 
são assinaladas em cada caso pelas palavras: “Os filhos de Israel fizeram o que era 
mau perante o Senhor”. Elas ocorrem no corpo do livro apenas essas seis vezes, e em 
cada caso sobrevém o juízo com a conseqüente servidão. Os cativeiros de Israel não 
foram simples acidentes, mas castigos. 
 
O pecado e o sofrimento sempre andam juntos. É também verdade que a súplica e a 
salvação igualmente estão ligadas. Deus se enternecerá com uma súplica sincera em 
que o mal é abandonado. Ele mostrará então Sua salvação. 
 
Capitulo 2 
 
Pecado: 
 
“Porquanto deixaram o Senhor, e serviram a Baal e a Astarote”.(Jz 2:13). 
 
. Baal, filho de El, no panteão cananeu, era o deus das tempestades e das chuvas, 
sendo, portanto, o controlador da vegetação. Ele era o grande ativo, sendo El uma 
figura um tanto nebuloso; o culto a Baal era largamente difundido no Antigo Oriente 
Próximo. Notam-se algumas variantes no Velho Testamento como, por 
exemplo, Baal-Berite (Jz 9:4), Baal-Peor (Nm 25:3), Baal-Gade (Js 11:17) e Baal-
Zebul (2 Rs 1:2). Jezabel introduziu em Israel o culto a Baal-Melcarte, a variedade 
fenícia. Hadade era o nome sírio correspondente ao Baal cananita. É por essa razão 
que os escritores do Velho Testamento agrupam as várias entidades de Baal, um tanto 
desdenhosamente, sob o nome de Baalim (a forma do plural). O fato 
que Baalim também pode significar “maridos”, “proprietários” ou ”senhores” dá mais 
vida à metáfora do adultério (vs. 17) empregada tão freqüentemente pelos profetas 
(por ex.: Os 2:1ss.; 3:1ss.; Jr 3:6ss.; etc.). 
 
. Astarote, forma plural de Astarte, a companheira de Baal, deusa da guerra e da 
fertilidade, que era adorada como Istar, na Babilônia, e como Anate, no norte da Síria. 
Nos textos ugaríticos, Anate, com freqüência denominada de “virgem”, é irmã de Baal, 
e grande deusa ativa. O culto a esses falsos deuses e deusas incluía sacrifícios 
animais, prostituição feminina e masculina e, ocasionalmente, sacrifícios humanos. 
 
Conseqüência: 
 
Pelo que a ira do Senhor se ascendeu contra Israel, e os deu na mão dos 
espoliadores, que os pilharam; e os entregou na mão dos seus inimigos ao redor; e 
não mais puderam resistir a eles. 
 
Por onde quer que saíam, a mão do Senhor era contra eles para seu mal, como o 
Senhor lhes havia dito e jurado: e estavam em grande aperto.”(Jz 2:14-15). 
 
Suplica e Salvação: 
 
“Quando o Senhor lhes suscitava juízes, era com o juiz, e os livrava da mão dos seus 
inimigos, todos os dias daquele juiz; porquanto o Senhor se compadecia deles ante os 
seus gemidos, por causa dos que os apertavam e oprimiam”.(Jz 2:18). 
 
Capitulo 3-16 
 
Obs.: as datas abaixo são aproximadas. 
 
Otniel (1374-1334 a.C.) 
 
 “Clamaram ao Senhor os filhos de Israel, e o Senhor lhes suscitou libertador, que os 
libertou: a Otniel, filho de Quenaz, que era irmão de Calebe, e mais novo do que 
ele”. (Jz 3:9). 
 
. Otniel já havia provado seu valor como conquistador (Js 15:13-19 ou Jz 1:12-13). 
 
. Poste-ídolo no hebraico “asheroth” (plural) eram representações da deusa cananita 
Aserá, feitaem madeira e erigida junto aos altares pagãos. 
 
. Mesopotâmia era “a terra fértil a leste do rio Orontes, cobrindo as partes superior e 
média do Eufrates, e as terras banhadas pelos rios Habur e Tigre, isto é, 
modernamente, o leste da Síria e norte do Iraque”. Só depois do quarto século a.C. foi 
o termo estendido para descrever todo o vale do Tigre e do Eufrates. 
 
A história de Rute (Livro de Rute), a moabita, deve ter acontecido próximo de 1340 
a.C. 
 
Eúde (1316-1235 a.C.) 
 
“Então os filhos de Israel clamaram ao Senhor, e o Senhor lhes suscitou libertador, 
Eúde, homem canhoto, filho de Gera, benjamita. Por intermédio dele, enviaram os 
filhos de Israel tributo a Eglom, rei dos moabitas”.(Jz 3:15). 
 
A soberania de Deus é indicada na maneira pela qual Ele usou Moabe para punir Seu 
povo desviado. É uma idéia confortadora nesta época de poder nuclear, perceber-se 
que Deus ainda ordena e controla os destinos das nações, e governa as decisões dos 
governos mundiais, inclusive os mais arrogantes e ateísticos dentre eles. 
 
Demonstrou astúcia, perícia e coragem para assassinar o rei dos moabitas. 
 
Sangar (1230 a.C.) 
 
“Depois dele foi Sangar, filho de Anate, que feriu a seiscentos homens dos filisteus 
com uma aguilhada[7] de bois; e também ele libertou a Israel”.(Jz 3:31). 
 
Certas características próprias das narrativas a respeito dos juízes estão faltando, em 
relação a Sangar. Não há menção, por exemplo, de que Israel praticou o que parecia 
mal aos olhos do Senhor, nem há menção direta a uma opressão filistéia, nem de sua 
duração. Está ausente, também, a indicação do tempo durante o qual a terra gozou de 
descanso. Outra peculiaridade é que no versículo 1 do capítulo 4 menciona-se Eúde, e 
não Sangar, embora a historicidade de Sangar e a ordem cronológica dos eventos 
sejam atestadas pela referência no Cântico de Débora (Jz 5:6). A referência a Eúde, 
em 4:1, poderia ser facilmente explicada presumindo-se que a façanha isolada de 
Sangar ocorreu durante o período de Eúde. 
 
O nome Sangar não é israelita, podendo ser de origem hitita ou hurriana. Disto não se 
infere, automaticamente, que ele era cananeu, embora seja isto possível; pode, talvez, 
testemunhar a miscigenação dos israelitas com a população nativa. De qualquer forma 
sua ação beneficiou a Israel. 
 
Débora e Baraque (1235-1216 a.C.) 
 
O foco de atenção muda, agora, das tribos sulinas para as nortistas. A ameaça de 
Jabim e Sísera, longe de relacionar-se à pequena porções de território, envolvia seis 
tribos, nesse novo conflito. Foi o primeiro grande perigo da época dos juízes. 
 
Sísera poderia ter sido o rei de Harosete, porém, seu principal papel nesta narrativa é 
o de líder militar dos exércitos unidos. Estes fatos explicam porque Jabim quase não é 
mencionado (provavelmente era já um ancião). 
 
A superioridade dos equipamentos dos cananeus é demonstrada no uso das 
novecentas carruagens de ferro, que lhe daria controle completo dos vales e planícies, 
a menos que alguma ocorrência incomum imobilizasse esta poderosa arma de guerra. 
Tal evento, considerado milagre da intervenção divina, serviria para transferir as 
vantagens aos israelitas, no encontro decisivo. 
 
. Jz 4:4-7 – Neste ponto somos apresentados a Débora[8], salvadora de seu povo, e a 
única mulher no distinto grupo de juízes. Na estrutura tribal de Israel, as mulheres 
ocupavam uma posição subordinada, porém, elas poderiam subir a cargos de 
projeção, e de fato, em raras ocasiões isto aconteceu. O Antigo Testamento 
testemunha as qualificações de mulheres proeminentes como Miriam (Ex 15:20) e 
Hulda (2 Rs 22:14). Nada se sabe de Lapidote[9], marido de Débora, a não ser a mera 
menção de seu nome, que não foi o único a ficar apagado, visto que o próprio 
Baraque[10] desempenhou papel secundário na peleja. Ele recebeu coragem e 
inspiração pela presença desta grande e talentosa mulher. 
 
Há uma dificuldade nestes capítulos, na menção específica de apenas duas tribos, as 
de Naftali e Zebulom, em Jz 4:7, 10, comparando-se com uma lista de tribos 
participantes, na narrativa poética, a qual inclui também as tribos de Efraim, Benjamim, 
Maquir e Issacar. Uma sugestão para explicar-se este fato é que houve duas fases na 
campanha: uma inicial, em que apenas duas tribos tomaram parte, e uma segunda 
fase, em que se aliaram a elas grandes contingentes das tribos vizinhas. 
 
Débora veio de entre Ramá e Betel, ao sul de Efraim. Baraque veio de Quedes-Naftali. 
À época da crise, Débora já se havia firmado como profetisa e juíza, na esfera não-
militar; na verdade, teria sido a demonstração de qualidades carismáticas nesta esfera 
que, com toda certeza, induziu as tribos a procurarem sua ajuda. A convocação e o 
desafio que ela lança a Baraque são em nome de Javé, o nome distintivo do Deus de 
Israel. 
 
O confronto ocorreu no monte Tabor, na junção das porções tribais de Issacar, Naftali 
e Zebulom. 
 
. Jz 4:8-9 – A falta de alegria com que Baraque atendeu ao desafio é compreensível, 
humanamente falando, porque a disparidade entre as forças oponentes era 
considerável. É bom observar que Baraque, em sua hesitação, tem excelentes 
companheiros, no Antigo Testamento. Moisés, até mesmo no final de seu encontro 
com Deus, na sarça ardente, demonstrou extraordinária falta de entusiasmo para 
aceitar a chamada divina (Ex 4:13); Gideão achou que ele mesmo fora a pior escolha 
(Jz 6:15); e Jeremias protestou, por causa de sua pouca idade (Jr 1:16). Os grandes 
homens percebem sua pequenez e inadequação, ao serem chamados pelo Senhor 
para realizar uma grande tarefa; contudo a chamada divina nunca vem só: é sempre 
acompanhada pela provisão divina. As palavras de Paulo referem-se a todos quantos 
são chamados para o serviço de Deus: "Não que por nós mesmos sejamos capazes 
de pensar alguma coisa, como se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência 
vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros..." (2 Co 3:5, 6). 
 
Gideão (1176-1129 a.C.) 
 
Gideão, o quinto juiz de Israel, é relatado com justiça como um dos heróis de destaque 
na história primitiva da nação. Entretanto, temos de compreender desde o início que 
seu heroísmo não era produto de um caráter natural, mas sim resultado de uma 
experiência espiritual transformadora. 
 
O primeiro contato com Gideão mostra uma figura patética de incredulidade (Jz 6:11-
23). Ele se apresenta como um jovem nervoso, malhando trigo no lagar a fim de 
esconde-lo dos saqueadores [11]midianitas. 
 
Veja as reações de Gideão quando o Senhor lhe aparece: "Ai, senhor meu, se o 
Senhor é conosco, por que nos sobreveio tudo isto?..." Uma recepção desanimada: 
"Ai... por quê?... onde?... mas..." E no versículo 14 temos: "Então se virou o Senhor 
para ele, e disse: Vai nessa tua força, e livra a Israel da mão dos midianitas; 
porventura não te enviei Eu?" Essas foram às palavras fortes e cheias de segurança, 
mas Gideão só conseguiu gemer: "Ai, Senhor meu, com que livrarei a Israel?" Leia o 
versículo 16 e veja as palavras de Gideão a Deus. Este é o vocabulário da 
incredulidade. Em suas exclamações e lamentos sucessivos vemos a surpresa cética 
da descrença, a seguir sua incerteza e sua indagação, sua queixa e sua falsa 
humildade, sua falta de recursos, sua duvida persistindo e sua busca de sinais. O 
Gideão não convertido é uma triste representação da paralisia que sempre 
acompanha a falta de fé. 
 
O Gideão transformado – Pela primeira vez em sua vida este jovem hebreu teve uma 
sensação de paz, que é sempre um primeiro produto da verdadeira conversão 
(mudança). 
 
Gideão, contudo, seguiu adiante. Ele se tornou consagrado. Rendeu sua vontade à do 
Senhor. Leia do versículo 25 ao 27. Precisamos retroceder um pouco nos 
acontecimentos para apreciar como essa prova foi um grande desafio à nova fé e 
obediência de Gideão. A ordem para "derribar o altar de Baal"faz-nos lembrar 
imediatamente de que Gideão vivia numa época de completa apostasia religiosa. 
"Derribar o altar de Baal" era ir contra a vontade popular, arriscando a própria vida. 
Mas Gideão passou no teste, e como o resultado foi notável! Leia de novo do versículo 
28 ao 32. O pai de Gideão também se converteu! Quase sempre, a razão pela qual 
temos tão pouca capacidade para influenciar os que nos rodeiam, levando-os a Cristo, 
é que não estamos preparados para assumir uma plena consagração à vontade de 
Deus. 
 
Finalmente Gideão tornou-se controlado, ou seja, controlado pelo Espírito de Deus. 
Veja o versículo 34: "Então o Espírito do Senhor revestiu a Gideão..." Ele se tornou 
imediatamente líder e salvador de seu povo. Este reconheceu nele o poder 
transformador de Deus e o seguiu quando fez soar sua trombeta. A história registrada 
na Bíblia conta à maravilhosa vitória de Gideão sobre os midianitas e de como ele 
libertou Israel do jugo estrangeiro. 
 
Esta experiência de salvação da alma e transformação da vida e do caráter, pela qual 
ele passou, pode ser conhecida por nós – não em seus incidentes exteriores, mas em 
sua essência interior. Podemos nos tornar verdadeiramente convertidos a Deus, 
realmente consagrados à Sua vontade e controlados pelo Seu Espírito Santo. Deus 
pode nos tomar e usar como fez com Gideão. Convertido, consagrado, controlado pelo 
Espírito! Deus permita que isto se aplique a nós! Precisamos desviar os olhos das 
circunstâncias que provocam dúvidas e fixá-los na palavra de Deus. "Fiel é o que vos 
chama, o qual também o fará" (1 Ts 5:24). 
 
. O Senhor não viu apenas o homem como era – fraco e medroso – mas, o mesmo 
homem como poderia ser – forte, resoluto e corajoso. 
 
A dúvida vê os obstáculos, 
A fé divisa o caminho. 
A dúvida vê a noite sombria, 
A fé vê o dia. 
A dúvida teme adiantar-se, 
A fé se eleva sublime. 
A dúvida murmura: "Quem crê?" 
A fé responde: "Eu". 
 
. A chamada de Gideão (Jz 6:11-24) – A alternância do uso de frases para descrever o 
visitante divino de Gideão indica que o anjo do Senhor era sinônimo do 
próprio Senhor. A teofania (aparição ou revelação da divindade) foi em forma humana, 
como era usual na parte anterior, mais primitiva, do período, vétero-testamentário; a 
linguagem era fortemente antropomórfica (semelhante a do homem), permitindo 
personalidade total à deidade. 
 
. Malhando o trigo no lagar (Jz 6:11) – Lagar era uma concavidade escavada numa 
rocha, havendo um canal ligando-a a uma tina, mais abaixo. As uvas eram colocadas 
nesta depressão e pisadas, para esmagamento, escorrendo o suco até a tina. A 
malhação do trigo usualmente era feita por um trenó debulhador, puxado por bois, em 
área exposta, de maneira que o vento carregasse a palha; contudo, Gideão estava 
improvisando no lagar, longe das vistas dos bandos de assaltantes. Esta referencia 
indica também a pequenez da colheita. Podia ser batida com uma vara num lugar 
confinado. 
 
. Jz 6:17-24 – Gideão não estava totalmente consciente da identidade d'aquele que o 
estava convocando, mas percebeu que havia algo singular a Seu respeito; daí, seu 
pedido de um sinal, e seu oferecimento de uma dádiva (oferta, no hebraico minhâ), 
palavra freqüentemente usada para as ofertas alçadas, espontâneas, no sistema 
sacrificial israelita. Somente quando a refeição foi consumida pelo fogo, ao toque do 
cajado do anjo, após o que o próprio anjo desapareceu (21) é que Gideão percebeu, 
com terror, a natureza do visitante celestial (22). Acreditava-se em todo Israel que 
nenhum homem poderia ver Deus, face a face, e continuar vivendo (Gn 16:13; 32:30; 
Ex 20:19; Jz 13:22; Is 6:5). Gideão tendo recebido certeza de que nenhum mal lhe 
sobreviria, imediatamente erigiu um altar, cujo nome, o Senhor é paz, reflete as 
palavras iniciais da promessa divina. 
 
. Lã de Gideão (Jz 6:37-40) – Como Josué (e Jefté, mais tarde), Gideão foi um grande 
descendente de José. Sua vitória sobre os midianitas foi talvez a mais espetacular 
dentre os juízes. Sem falar dos preparativos, encontro especial com o Senhor, sua 
grande humildade. Parecia-se mais com Moisés do qualquer dos juízes. Que podemos 
deduzir da famosa lã? 
 
1) Para Gideão, que repentinamente se tornou o comandante de um exército e 
defrontou-se com uma multidão de saqueadores beduíno, o teste da lã foi importante. 
Vivendo na idolatria, pouco sabia ele dos "princípios bíblicos", embora tivesse ouvido 
falar dos milagres do êxodo. Tendo recebido ordens para realizar milagres enfrentando 
numeroso inimigo, necessitava daquele sinal da presença do Senhor. 
 
2) Hoje, entretanto, atitudes de fé são confirmadas não só por manifestações físicas, 
mas por princípios bíblicos já confirmados nos Antigo e no Novo Testamento. 
Podemos traçar um principio, baseado na lã de Gideão, de que qualquer medida que 
envolva um grande passo de fé numa direção nova deve ser cuidadosamente 
conferida. É para se ter certeza de que é essa a direção do Senhor, e não apenas uma 
reação egoísta ao "status que". 
 
3) A razão para a mudança nos detalhes do sinal foi, provavelmente, a percepção de 
Gideão de que a lã absorveria orvalho pesado muito mais do que a pedra da eira e, 
assim, secar-se-ia muito menos rapidamente quando o sol se erguesse. O contrário 
seria um milagre muito maior, e isto mesmo Gideão pediu, consciente de que estaria 
pertíssimo de provocar a ira de Deus com sua falta de confiança, procurando, 
entretanto, desesperadamente uma confirmação divina. Isto foi atendido prontamente, 
porque o Senhor trata Seus filhos mais ternamente e com maior graça do que 
qualquer pai terreno. 
 
. Houve dois estágios no processo de redução do exército de Gideão (Jz 7:1-8) –
 Primeiramente, e de acordo com a provisão de Deuteronômio 20:8, todos quantos não 
tivessem a devida coragem para a batalha deveriam ser liberados. O medo é 
contagioso e poderia ter efeito desastroso sobre o exército, podendo chegar a 
proporções de pânico, como no caso das hostes midianitas. Entretanto ficamos 
realmente desapontados ao descobrir que dois terços do exército de Gideão 
derreteram-se ao receberem tal oportunidade! 
 
O segundo estágio não é aparente, de pronto, como se percebe pela multiplicidade de 
explicações oferecidas pelos comentaristas. Pode ser que ninguém deva procurar uma 
explicação além daquela segundo a qual procurava-se qualquer meio de reduzir o 
número. No entanto, pode ser que o segundo teste colocava um prêmio ao espírito de 
alerta, ao espírito militar que procurava jamais ser apanhado em distração. Os 
rejeitados foram aqueles que, atirando ao vento as precauções, caíram de joelhos 
para beber água. Os que permaneceram foram aqueles que lamberam as águas com 
a língua, como faz o cão, uma descrição que tem causado muita perplexidade a 
muitos. Obviamente, isto não pode significar que os 300 usaram suas línguas para 
lamber a água diretamente da fonte, visto que esta ação exigiria que ficassem 
ajoelhados como os demais e, ademais, faz-se menção específica ao uso da mão (6). 
A melhor explicação parece ser a seguinte: os 300 usaram suas mãos como o cão usa 
a língua para sugar a água, enquanto permaneciam de pé, alertas, preparados para 
qualquer emergência. Era tal a confiança na vitória que os rejeitados 9.700 receberam 
permissão para voltar a casa! 
 
. Convite ao reinado (Jz 8:22, 23) – Não ficou claro quão representativa seria a 
delegação dos homens de Israel que pediu a Gideão que estabelecesse uma dinastia 
reinante. Poderia ter-se limitado a uma área relativamente pequena (cf. a extensão do 
governo de Abimeleque, no capítulo 9), não sendo fácil imaginar-se a poderosa e 
orgulhosa tribo de Efraim aceitando um rei que pertencesse à outra tribo. 
 
A resposta de Gideão é um modelo de nobre desprendimento, pois, reconhecia o fato 
essencial de que a nação tinha um rei, bastando que Ele fosse reconhecido.

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