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Síndrome do Idoso Frágil Não há consenso na literatura quanto à definição do que seria a fragilidade do idoso porém, de maneira geral, o idoso frágil é aquele que apresenta maior vulnerabilidade sendo mais suscetível a: è eventos deletérios como quedas; è Hospitalizações; è descompensação de doenças de base e óbito. Sendo assim, estes pacientes devem ser identificados e priorizados nas ações das suas equipes de saúde da família. Rastreio do idoso frágil O IVCF-20 é um questionário de 20 perguntas que aborda vários aspectos de saúde do idoso, multidimensionalmente. Ele foi elaborado, validado e publicado por um grupo de pesquisadores brasileiros, de forma interdisciplinar, para ser uma ferramenta de rastreio dos idosos frágeis de fácil aplicação na atenção primária, podendo ser aplicado por qualquer profissional de saúde. COMO APLICAR O QUESTIONÁRIO? O questionário é composto por vinte perguntas simples que podem ser respondidas pelo paciente ou por seu acompanhante e algumas medidas consideradas fundamentais para a avaliação global, como IMC. A aplicação dele, de acordo com seus idealizadores, leva de 5 a 10 minutos. As questões levam em consideração idade, auto-percepção da saúde, realização das atividades de vida diária, cognição, humor, mobilidade, habilidade de comunicação e comorbidades para chegar a um score de 0 a 40 pontos. COMO AVALIAR O RESULTADO? De acordo com a pontuação, pode-se classificar o idoso em três graus, de acordo com a sua vulnerabilidade clínico-funcional: 0 a 6 pontos Idoso com baixo risco de vulnerabilidade clínico-funcional 7 a 14 pontos Idoso com moderado risco de vulnerabilidade clínico-funcional ≥ 15 pontos Idoso com alto risco de vulnerabilidade clínico-funcional *Adaptado de: Atributos do IVCF-20 e sua Aplicação na Rede de Atenção à Saúde do Idoso, 2015. Recomenda-se que, após essa avaliação inicial, os idosos com moderado ou alto risco de vulnerabilidade sejam submetidos à AGA e que as ações de saúde da equipe de atenção primária, juntamente com o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) sejam voltados para as especificidades dessa população mais vulnerável. Em casos de maior risco também é importante o acompanhamento conjunto com a atenção secundária. AGA As bases para o desenvolvimento da avaliação geriátrica ampla (AGA) surgiram a partir do modelo de cuidado da médica Marjory Warren, no final da década de 1930. Considerada a mãe da medicina geriátrica, Dr. Warren conseguiu modificar os cuidados oferecidos a um grupo de pacientes crônicos e acamados em um hospital de Londres. Utilizando uma avaliação clínica detalhada e uma abordagem multidisciplinar, ela conseguiu ampliar a detecção de problemas e elaborar planos individualizados de tratamento para esses pacientes, com foco na avaliação sistemática e na reabilitação. Os benefícios da AGA dependem da população, do formato de aplicação e do local de estudo. De forma geral, a AGA é direcionada a idosos frágeis, com risco aumentado para eventos negativos, e não parece beneficiar da mesma maneira os pacientes mais saudáveis ou aqueles em fase terminal de vida. Dimensões da avaliação geriátrica ampla (AGA) Apesar de não existir na literatura uma recomendação oficial acerca de componentes obrigatórios na AGA, alguns domínios são considerados fundamentais e estão presentes na maioria das abordagens (Quadro 1). Cada componente costuma ser avaliado por escalas de triagem validadas, em conjunto com a observação clínica do profissional de saúde. Os instrumentos de avaliação devem ser adaptados às necessidades da população atendida e ao cenário de cuidado. Quadro 1 – Domínios da avaliação geriátrica ampla Domínio Descrição/Comentário Avaliação Funcionalidade Capacidade do indivíduo de ser independente em seu próprio cuidado (atividades básicas de vida diária, ABVD), e no seu papel na comunidade (atividades instrumentais de vida diária, AIVD). – Escala de Katz (ABVD) – Escala de Lawton (AIVD) – Índice de Barthel Cognição Capacidade de utilizar as funções cerebrais superiores (executiva, memória, visuoespacial, linguagem, atenção) de forma adequada e autônoma. Os déficits cognitivos e as síndromes demenciais são frequentes em pacientes ³ 60 anos. – 10-Point Cognitive Screener (10-CS) – Miniexame do Estado Mental (MEEM) – Montreal Cognitive Asessment (MoCA) Humor Os sintomas depressivos ou ansiosos possuem alta prevalência em indivíduos idosos, prejudicando a adesão ao tratamento e o controle de doenças crônicas. – Escala de Depressão Geriátrica de 15 itens (GDS-15) – Questionário sobre Saúde do Paciente (PHQ-9). Os idosos possuem maior frequência de sintomas somáticos, o que dificulta o diagnóstico. Sensorial Déficits auditivos ou visuais trazem pior qualidade de vida, isolamento social, prejuízo cognitivo e risco de depressão. – Audição: Teste do sussurro – Visão: Escala de Snellen Mobilidade/Quedas As quedas são importantes causas de morbimortalidade em idosos. Para avaliação do risco de quedas, podem ser utilizados testes que avaliam a mobilidade e auxiliam nessa predição. – Velocidade de marcha – Teste cronometrado do levantar e andar (Timed get- up and go test) – Short Physical Performance Battery (SPPB) Estado nutricional Os idosos apresentam maior risco nutricional devido à presença de comorbidades, alterações do sistema digestivo, perda funcional, risco de baixo suporte social e declínio cognitivo. – Miniavaliação Nutricional (MAN) Suporte social Muitos idosos estão sujeitos à insuficiência de recursos humanos e/ou materiais para o seu cuidado. O baixo suporte social ocasiona pior qualidade de vida, declínio funcional e mau controle de doenças crônicas. É importante a presença do(a) assistente social nessa abordagem, e também a avaliação de sobrecarga/estresse do cuidador e outras alterações de saúde, que frequentemente levam à insuficiência de cuidados. Suporte social: -APGAR da Família e dos Amigos – Escala de Suporte Social do Medical Outcomes Study (MOS). Estresse do cuidador: – Escala de Zarit – Self-Reporting Questionnaire 20 (SRQ-20) Em cenários de cuidado onde o tempo é limitado e não há disponibilidade suficiente de profissionais para uma avaliação mais detalhada, é possível a aplicação de instrumentos simplificados e objetivos, como é o caso da avaliação geriátrica compacta de 10 minutos (AGC-10). A AGC-10 avalia 10 domínios de saúde do paciente idosos de forma rápida e sem a necessidade de equipamentos complexos, apenas fita métrica, cronômetro e balança antropométrica. O instrumento possibilita o cálculo de um índice global de risco calculado através da média das alterações identificadas nos 10 domínios do instrumento (Figura 1). O escore final varia de 0 (nenhuma alteração) a 1 (alteração total) e classifica os indivíduos em baixo (0-0,29), médio (0,3-0,39) e alto (0,40-1) risco para desfechos adversos. Aplicação da AGA na prática clínica Para a melhor utilização da avaliação geriátrica ampla (AGA), é interessante o recrutamento de uma equipe multiprofissional básica (médico, enfermeiro e assistente social) ou ampliada (profissionais como fisioterapeuta, nutricionista, farmacêutico, dentre outros). As avaliações devem ser padronizadas para todos os membros da equipe, no intuito de evitar a variabilidade no registro de informação e facilitar a interpretação dos dados. A discussão sobre o plano de cuidado deve ser multidisciplinar, com identificação das necessidades e problemas prioritários do paciente naquele momento. Após essa abordagem, é possível o desenvolvimento e implementação do plano terapêutico, em que as metas de cuidado devem ser definidas e discutidas, preferencialmente na presença do paciente e/ou de seus familiares. O monitoramento e a revisão desse planoterapêutico devem ser realizados periodicamente, para detecção precoce de falha ou à medida que novas necessidades surjam.
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