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4 SEM ED MOV POP E TRANS UNID 2 História dos Movimentos Sociais 
“Como pode o educador assumir o papel dirigente na sociedade se na sua formação o todo social resume-se a uns poucos 
conhecimentos de métodos e técnicas pedagógicas ou a uma história da educação que se perdeu no passado e nunca chega aos 
nossos dias? Como pode uma nação esperar que as novas gerações sejam educadas para o progresso, o desenvolvimento 
econômico e social, para a construção do bem-estar para todos, sem uma sólida formação política?” (GADOTTI, 2010, p. 89). 
1. Movimentos Sociais e Associações Civis A conquista da cidadania, em nosso país, não se deu de modo linear e 
tranquilo, mas, ao contrário, dependeu de várias lutas sociais. Entretanto, apesar de ter sido uma grande conquista, ainda não se 
pode dizer que vivemos em uma sociedade justa e igualitária. A esse respeito Cortella (2011) afirma: “[...] a vida social é, também, 
uma vida política, isto é, configura-se como espaço de conquista e manutenção de poder sobre os bens e pessoas, não havendo, 
ainda, sociedades complexas de composição igualitárias.” (CORTELLA, 2011, p. 41). 
É fato que as divisões de classe datam de muito tempo. Já no período clássico grego (V e IV a.C.), pode-se observar a revelação de 
bases fundadoras da divisão de classes. Isso aparece com maior evidência no Período Arcaico1 , com a ocorrência de inúmeros 
conflitos sociais. Seja em qual tempo for, as lutas e os movimentos sociais sempre são vistos como disfunções da ordem social em 
vigor. Segundo Gohn (2012), na história do nosso país, essas lutas pela conquista dos direitos ou ações contra as injustiças que 
foram realizadas por diferentes classes e categorias aparecem nos registros e estudos históricos como acontecimentos marginais. 
A respeito dessas manifestações, a autora ainda ressalta que “várias transformaram-se em movimentos, lutas prolongadas ou até 
guerras. Outras se institucionalizaram e foram incorporadas ou absorvidas pela sociedade civil e política brasileira.” (GOHN, 2012, 
P. 7). 
Na formação de classes sociais o poder econômico, ideológico e político é elemento constituinte fundamental. E os “indivíduos 
dos grupos” são determinados pelo lugar que ocupam nessa luta – dominados ou dominadores; subordinados ou mandantes; 
burgueses ou trabalhadores. Portanto ser pertencente a uma classe implica a existência de problemas ou interesses comuns. Mas 
a consciência de ser pertencente a uma determinada classe social não significa estar satisfeito com essa condição; por isso muitas 
lutas foram desbravadas contra a dominação. Para Gadotti (2010): 
“Consciência de classe não significa apenas uma tomada de consciência da realidade, acima de qualquer ato de transformação da 
sociedade. [...]. A libertação não se opera no interior da consciência dos homens, mas na história que eles fazem.” (GADOTTI, 2010, 
p. 190). Daí a manifestação se dá por essa consciência de classe dentro de um determinado contexto, passando a ser denominada 
como luta de classes. 
2. Movimentos Identitários e Culturais Os movimentos sociais apresentam diferentes correntes teóricas. Entre elas a 
histórico-estrutural e a culturalistaidentitária. Esta tem como base o idealismo kantiano, o romantismo rousseauniano, as teorias 
utópicas e libertárias do século XIX, e aquela, baseada nas abordagens de Marx, Gramsci, Lefevre, Rosa de Luxemburgo, Trotsky, 
Lênin, Mao Tse Tung. (GOHN, 2008). O movimento histórico-estrutural constituiu-se de eventos ocorridos ao longo dos tempos, 
os quais favoreceram ou fortaleceram outros já existentes, possuindo um caráter de movimento de classe. Entretanto esse caráter 
de movimento de classe pode não ocorrer nos “novos movimentos sociais”. Gohn (2006) entende o culturalista-identitário como 
integrante dos “novos movimentos sociais organizados”, que envolvem sujeitos de diferentes classes sociais, unidos por algum 
traço identitário ou alguma causa e não pela classe social pertencente. Ainda a autora reforça que esses novos movimentos sociais 
colocam como horizonte a construção de uma sociedade democrática, lutam pela inclusão, atuam pelo reconhecimento da 
diversidade cultural e fazem parcerias com outras entidades da sociedade civil e política. 
[…] é sempre expressão de uma ação coletiva e decorrente de uma luta sociopolítica, econômica ou cultural. Usualmente ele tem 
os seguintes elementos constituintes: demandas que configuram sua identidade; adversários e aliados; bases, lideranças e 
assessorias – que se organizam em articuladores e articulações e formam redes de mobilizações; práticas comunicativas diversas 
que vão da oralidade direta aos modernos recursos tecnológicos; projetos ou visões de mundo que dão suporte a suas demandas; 
e culturas próprias nas formas como sustentam e encaminham suas reivindicações (GOHN, 2008, p. 14) 
Esses novos movimentos podem ter sua identidade configurada pelo gênero, pela etnia, ou pela geração (geração: em defesa dos 
idosos, jovens, etc.). Os novos movimentos sociais foram fortalecidos e impulsionados pela promulgação, em 1948, da Declaração 
Universal dos Direitos Humanos. Constituindo ponto de referência na luta contra a discriminação e a favor do reconhecimento 
dos direitos. 
3. Movimentos e Lutas Sociais no Brasil nos séculos XIX Na história do Brasil, nos períodos do Império e Colônia, 
os conflitos existentes eram similares em diferentes regiões, apesar da vasta extensão territorial e da falta de comunicação 
existente em nosso país. Segundo Gohn (2012), no século XIX, as lutas tinham como herança as lutas sociais do século XVIII, por 
isso vamos relembrar algumas delas. No século XVIII, a luta social era movida pelo desejo de libertação da Metrópole; seus líderes 
eram “liberais radicais” inspirados nos modelos da Revolução Francesa e Revolução Norteamericana (GOHN, 2012). 
Começaremos pela Inconfidência Mineira (1789). Participaram desse movimento as elites intelectuais, mineradores ricos ou 
proprietários rurais, clérigos e militares. Este foi o primeiro movimento a determinar claramente as intenções de separação da 
Metrópole. Ele se deu a partir de três dimensões: a dimensão econômica, pois havia uma insatisfação com a cobrança abusiva de 
impostos; dimensão política, que surgia de uma ordem interna, devido às inúmeras arbitrariedades do, então, governador da 
Capitania de Minas Gerais; e a dimensão ideológica, pois o liberalismo inglês e os filósofos da época, com suas ideias e produções, 
influenciaram os inconfidentes. O desenrolar desse movimento foi conhecido por todos. Com a delação de um dos participantes, 
Tiradentes – principal líder do movimento – foi enforcado e esquartejado e os demais participantes sofreram a pena do degredo. 
Degredo: Pena de desterro imposta a criminosos. 
Em 1794/1795, surgiu o movimento conhecido como “Conjuração do Rio de Janeiro”, em que congregados da Academia Científica 
do Rio de Janeiro – fundada, em 1771, por escritores – começaram a discutir questões científicas e políticas e a demonstrar 
simpatia pelas ideias republicanas. Houve delação e o grupo sofreu processo de devassa, mas foi absolvido por faltas de provas 
(GOHN, 2012). Devassa: sindicância, inquérito. 
No ano de 1797, houve a “Revolta de Mulatos e Negros” e, no ano seguinte (1798), a ”Conspiração dos Alfaiates”, também 
conhecida por “Conjuração dos Alfaiates”, ambas na Bahia. Esta composta por membros de duas categorias sociais: baianos 
brancos, pertencentes às elites; e baianos pobres, brancos e negros – artesãos, soldados, oficiais e escravos. Daí a segunda 
denominação, devido à participação predominante de alfaiates no grupo dos artesãos. E foi exatamente a diferenciação de classes 
que se tornou um complicador quando as ações cresceram, pois o desejo de liberdade dos escravos chocou-se com a posição dos 
senhores brancos da elite. Esta também foi delatada. A punição resumiu-se à morte ou degredo das lideranças populares – 
somente os pertencentesà classe popular foram punidos. A primeira metade do século XIX (1800 a 1850) foi marcada por lutas, 
movimentos e rebeliões nativistas. Esses foram eventos importantes para a construção da cidadania em nosso país, apesar de 
muitos deles não terem tido força suficiente para alcançar o objetivo. 
Os movimentos tinham dificuldades de se estabelecer ou de permanecer no poder, sendo em maior ou menor tempo massacrados, 
nas várias regiões do país, pelas forças da legalidade colonial ou imperial. As alianças de classe existentes eram tênues e 
contraditórias. (GOHN, 2012, p. 23). 
Isso acontecia porque, muitas vezes, era o calor da luta e a revolta que os motivava, faltando estruturação racional que 
fundamentasse as ações e “a falta de unidade criava espaço também para delações e traições.” (GOHN, 2012, p. 24). Essa falta de 
unidade, neste período, facilitava, para as elites dominantes, a desarticulação das lutas, assinalando-as como ações de barbáries. 
A seguir, apresentamos um quadro com todos os Movimentos e Lutas Sociais da primeira metade do século XIX, mapeados por 
Gohn (2012), em seus estudos, registrando o nome, o local e o ano em que aconteceu. Depois faremos uma breve pontuação 
sobre alguns deles. Como podemos observar, foram várias as resistências e os combates nesse período. Alguns, inclusive, de 
caráter internacional, como a Luta Sete Povos das Missões e a Guerra Cisplatina. Esta, marcada por um conflito bélico entre Brasil 
e Argentina, resultando em muitas perdas, tanto de vidas humanas quanto materiais, culminando na “perda da região de 
Cisplatina pelo Brasil, dando origem à República do Uruguai.” (GOHN, 2012, p. 31.). 
 
 
Ainda é possível verificar que algumas lutas e movimentos colocavam-se contra o governo e outras a favor, como “Caramurus 
(1832)”, que objetivava a volta de D. Pedro I e a restauração do absolutismo; o “Movimento Cabanada (1832)” e “A Abrilada 
(1832)”, ambos de caráter conservador, que também aspiravam à volta de D. Pedro I. Mas a maioria revelava-se contrária às 
arbitrariedades do governo e caminhava em busca de um governo Republicano. Com essa pretensão, encontramos a “Revolução 
Pernambucana”, em 1817, – também conhecida como Revolução dos Padres, por ser composta por comerciantes brasileiros e 
vários padres, destacando-se Frei Caneca – a qual chegou a tomar o poder em Recife, mas que também culminou na derrota. 
Eles chegaram a tomar o poder em Recife e implantar um Governo Provisório, elaborando uma Lei Orgânica para orientar o novo 
regime até a promulgação de uma nova Constituição para o país, a qual deveria ser elaborada por uma Assembleia Constituinte. 
Assim como outros movimentos da época, a Revolução de 1817 foi esmagada e vários de seus líderes presos e mortos. (GOHN, 
2012,p. 27). 
Também com caráter liberal e constitucionalista, em 1820, a Revolução do Porto fermentouse a partir das notícias da Revolução 
em Portugal. A Proclamação da Independência, em 1822, também apareceu, no cenário histórico, como um movimento social, 
mas, segundo historiadores, seu ato, propriamente dito, deu-se a partir de um figurante, D. Pedro I. 
A partir do crescimento do sentimento de “lusofobia” e do agravamento da crise nas relações com a corte, o príncipe D. Pedro I 
chefia um processo político do qual era figurante, aliás um figurante de oposição. O povo discutiu, segundo o registro de 
historiadores do período, nas ruas, os acontecimentos, sem ter participado diretamente do ato. (GOHN, 2012, p. 29). 
Após a Independência, continuaram as lutas pela Constituição e pela inserção do povo na participação do governo (direito de 
representação). A “Confederação do Equador”, em 1824, – liderada por Frei Caneca e por Cipriano Barata – deu-se pela oposição 
ao processo Constituinte pós-Independência. Esse movimento buscava aglutinar as províncias da região norte do país, de forma 
federativa, com um governo representativo e republicano. Realizou ações como a formação de uma Assembleia Constituinte, o 
preparo de um projeto de Constituição, a suspensão do tráfico de escravos e a criação de uma nova bandeira, representando, 
assim, uma reação contrária ao absolutismo de D. Pedro I. Essa revolta contou com intensa participação popular – “população 
livre: mulatos, pretos, forros, e militares de baixa patente”, constituía as brigadas armadas, embora também houvesse as milícias, 
batalhões armados. Mas essa revolta também foi massacrada e dezenas de seus líderes mortos (GOHN, 2012, p. 30). Nossa 
primeira Constituição (1824) consignava poder absoluto ao Imperador e altos poderes aos parlamentares. Os poderes políticos 
eram hierárquicos, e era excluída a nacionalidade dos escravos, não sendo estes, dessa forma, considerados brasileiros. 
Outras revoltas surgiram com sentido republicano e por reformas na Constituição. Podemos citar a “Revolta dos Roma” (1829) e 
a “Revolta Popular, em Afogados” (1829-31), com sentido republicano; e “Os Chimagos” (1831-35), com a perspectiva de reformas 
na Constituição, a fim de “reforçar os poderes locais de representação nos municípios e evitar o excessivo domínio do governo 
central” (GOHN, 2012, p.33). Essa revolta tinha em sua composição liberais moderados. Queremos ainda ressaltar três 
movimentos que ocorreram no primeiro período de século XIX, devido à sua importância para a história dos movimentos sociais 
no Brasil. São eles: a “Guerra dos Farrapos” (1835-45), “A Sabinada” (1837) e a “Revolução Praieira” (1847-49). A mais longa 
revolta armada da nossa história, no século XIX, foi a Guerra dos Farrapos, liderada pelos gaúchos que se organizavam em 
companhias de guerrilha, as quais “varreram as tropas imperiais da região dos pampas”, mas foram “obrigados a se render diante 
dos ataques das forças imperiais comandadas por Caxias e atacados ao sul pelos uruguaios” (Gohn, 2012, p. 35-36). Era composta 
por uma grande quantidade de homens livres, não proprietários e pobres. Eles foram subjugados, porém foram lhes concedidas 
várias condições nunca dadas, antes, a grupos revoltosos (GOHN, 2012). subjugado: submetido pela força das armas, dominado, 
reprimido. 
A Sabinada foi uma revolta urbana na província da Bahia. Ela foi precedida de ampla campanha de opinião, através da imprensa 
da época – essa é a grande diferenciação deste movimento. Grupos maçons participavam dos movimentos. Chegaram a conseguir 
a adesão de tropas do governo e proclamar a república na província, mas, a exemplo da “Cabanagem” e dos “Farroupilhas”, 
também foi esmagada com grande brutalidade (GOHN, 2012). A Revolta Praieira contou com participação marcante de elites 
intelectuais e políticas (a exemplo da maioria dos movimentos dessa época), porém teve uma grande participação popular – dois 
mil homens e armas. A marca dessa revolta foi a “perspectiva de mudança social diferente da do projeto das oligarquias rurais 
latifundiárias” (GOHN, 2012, p.38). Defendiam a Reforma Agrária e a abolição do latifúndio. Foi um movimento de defesa das 
camadas médias urbanas: brancos, mulatos e negros livres. Em 1849 resolveram deflagrar a Revolução, a qual durou dois meses, 
mas foram dominados pelas forças armadas legais e os seus líderes mortos ou deportados (GOHN, 2012). 
Por esse recorte, é possível observar a fragilidade dos movimentos da época na sua concepção, devido à falta de clareza nos 
projetos e de politização e à ambiguidade das alianças que foram fatores contribuintes para sua derrota. E devemos assinalar que 
esses fatores “fizeram com que as camadas populares fossem sempre as mais reprimidas.” (GOHN, 2012, p. 25). 
Segunda Metade do Século XIX Na segunda metade do século XIX, as lutas sociais, em grande parte, giraram em torno da 
questão dos escravos e também de movimentos de auxílio mútuo e das lutas contra o fisco. Esses movimentos “envolviam 
aspectos da luta pela cidadania, identidade, liberdade humana, assim como a luta por questões que interferiam no cotidiano dos 
meios coletivosurbanos, como o transporte.” (GOHN, 2012, p. 40). Gohn (2012) aponta setenta movimentos sociais ocorridos na 
segunda metade do século, incluindo as guerras contra os países vizinhos ao sul, entretanto nossa atenção estará voltada para os 
movimentos que tiveram maior influência na vida política e social em nosso país. Iniciaremos pelas lutas em torno da questão dos 
escravos. Gohn (2012) aponta que a luta contra o escravismo foi uma luta dos próprios escravos, com avanços e recuos devido à 
resistência dos fazendeiros à abolição. Mas eles – os escravos – tiveram o apoio, em vários momentos, de intelectuais e políticos. 
Foi uma luta longa e árdua. Nos anos de 1850, foi promulgada a Lei Eusébio de Queiroz, que abolia o tráfico negreiro no Brasil. 
Vale ressaltar que houve pressões externas, mas a própria pressão interna dos escravos contribuiu, visto que as revoltas eram 
constantes, “vindo a se transformar nas décadas seguintes na principal questão social do país.” (GOHN, 2012, p. 42). Entre os 
vários movimentos, podemos mencionar: a “Luta da Associação Tipográfica Fluminense” (1853), para libertar escravos; a “Primeira 
Greve de Escravos-Operários do Brasil” (1857); a “Lei do Ventre Livre” (1871), que foi mais uma concessão que as elites dominantes 
tiveram que fazer: tornar os filhos de escravos nascidos no Brasil livres (isso, devido ao movimento escravista); o “Movimento 
Antiescravista Caifazes” (1880), que apoiava a fuga de escravos; e a “Sociedade Abolicionista Ouropretana” (1881) e “Clube do 
Cupim” (1884), as quais organizavam e promoviam fugas de escravos. 
“Nos anos de 1880 a Campanha Abolicionista difundiu-se por todo país e teve apoio popular. [...]. A abolição da escravatura surgiu, 
assim como as conquistas anteriores, via projeto legislativo, assinado pela princesa regente, D. Isabel, consagrada posteriormente 
pela mídia como a “libertadora dos escravos”. A lei que acabou com o cativeiro de negros africanos no Brasil teve o nome de Lei 
Áurea.” (GOHN, 2012, P. 51). 
O Movimento Abolicionista durou dez anos (de 1878 a 1888), mas, como vimos, as lutas antiescravagistas que precederam esse 
movimento foram de fundamental importância. Os Movimentos de Auxílio Mútuo configuraram-se numa forma peculiar de 
associação das classes populares. Esses Movimentos visavam ao cuidado tanto das necessidades econômicas, quanto dos aspectos 
culturais, como bibliotecas, festas, jogos, etc. Também representavam um forte componente social, partindo da solidariedade 
para com os doentes, os idosos, as viúvas, os inválidos, etc., e dedicando-se, ainda, à construção de casas, creches, abrigos, 
hospitais e orfanatos. Para a camada assalariada, o Movimento Mutualista, no Brasil, desempenhou o papel de uma Previdência 
Social (GOHN, 2012).Alguns desses movimentos foram: “Sociedade Artística Beneficente” (1859); “Sociedade Humanitária dos 
Empregados no Comércio de Santos” (1879); “Sociedade Suíça de Beneficência Helvétia” (1880); “Sociedade Protetora dos 
Portugueses Desvalidos” (1885); “Associação Beneficente dos Funcionários Públicos” (1888); “Sociedade Humanitária dos 
Empregados no Comércio” (1888); “Associação de Socorros Mútuos Artes e Ofícios” (1889); “Sociedade Beneficente dos Alfaiates 
de São Paulo” (1891); entre outros. Também foi na segunda metade do século XIX que aconteceram a Revolta de Canudos (1874 
-1897) e o Movimento Republicano (1880 -1889). A Revolta de Canudos tinha um cunho religioso; figurava-se, no início, como 
uma revolta contra a cobrança de impostos. Após alguns anos, Canudos tornou-se um espaço geopolítico totalmente distinto do 
território nacional, sendo procurado por milhares de pessoas. Foi caracterizado pelos historiadores tradicionais como um 
movimento de fanatismo religioso e pelos historiadores contemporâneos como um movimento de resistência e de caráter 
sociallibertário. (GOHN, 2012). 
Canudos tornou-se questão de política nacional, por lhe ter sido atribuído um caráter antirrepublicano, o novo regime político 
brasileiro; a República decretada em 1889, necessitava de “vítimas” para perseguir, quanto às supostas conspirações 
monarquistas. [...]. Em 1887, após quatro expedições militares, onze meses de luta sangrenta, com a morte de mais de oito mil 
pessoas, Canudos foi esmagado pelas forças militares (GOHN, 2012, p. 49). 
O Movimento Republicano representava a luta pela queda da Monarquia e a implantação da República. Esta luta constituía-se em 
um fato político extremamente ligado à luta abolicionista e à questão militar. Essa questão do escravismo deu à causa um caráter 
muito mais social do que político. Foi um movimento predominantemente militar, apesar de contar com apoio popular. O 
Movimento Republicano foi precedido de outro movimento chamado de “Questão Militar”. 
“A chamada Questão Militar foi um dos fatos que levaram à proclamação da República em 1889. Entretanto suas origens datam 
de 1866, quando o Duque de Caxias assumiu o comando total das operações na guerra contra o Paraguai.” (GOHN, 2012, p.45). 
Em 1891 foi promulgada a Nova Constituição, inspirada no modelo americano e com pouca participação do povo em sua 
elaboração. Ao contrário da Constituição de 1842, que trazia a obrigatoriedade da escolarização, a Nova foi omissa quanto às 
questões da educação e do ensino. Além disso, vetou o direito de voto aos analfabetos. Não assegurou o direito de greve, mas 
garantiu o direito de reuniões, liberdade de pensamento e expressão (imprensa sem censura). 
4. Movimentos, Lutas Sociais no Brasil no Século XX A partir do século XX, as lutas sociais passaram a ter caráter 
urbano, com o que surgem novas categorias de lutas. Essas categorias são diversas e vão desde lutas da classe operária até lutas 
cívicas e movimentos por questões ambientais. De acordo com a conjuntura sociopolítica do país, cada uma dessas lutas teve 
maior ou menor importância, fazendo parte da História do Brasil. Durante Primeira República (1900-1930), devido ao avanço da 
urbanização em razão da economia do café na região centro-sul do país, as lutas centraram-se na questão do trabalhador 
imigrante, que reivindicavam melhores salários, rebaixamento do preço dos gêneros alimentícios, redução da jornada de trabalho 
e congelamento dos aluguéis, formando organizações anarcosindicalistas. Foram criados vários sindicatos de categorias e, a partir 
desses, fizeram-se inúmeras greves. Os anarco-sindicalistas combatiam toda forma de organização burocratizada e rígida – Estado, 
Igreja –; eles “deram grande ênfase à cultura, à educação das massas e à igualdade entre os sexos.” (GOHN, 2012, p. 62). 
A questão social nessa época era tratada como “caso” de polícia. Na área da Previdência, as políticas eram tímidas e pontuais, 
configurando-se como política nacional somente nos anos de 1930, continuando, assim, a cargo das Associações de Mútuo Auxílio 
realizar esse papel. Foi uma fase marcada, de um lado, pela pobreza, agravada pelas epidemias: febre amarela, varíola, peste 
bubônica, surtos de gripe; e, de outro lado, pelas elites dominantes, priorizando construções de estradas voltadas aos interesses 
dos donos de cafezais. Por isso deram-se várias revoltas, algumas voltadas para as questões da saúde, como a “Revolta contra a 
Desinfecção Sanitária” (1900) e “Revolta das Vacinas” (1904); outras de cunho político, como o “Movimento Político Contra o 
Regime Republicano (1902); a “Revolta da Escola Militar” (1904), que visava à derrubada do presidente e à instauração de uma 
“nova República” e que abrangeu a jovem oficialidade, sendo esmagada pelo poder central; “Liga Republicana” (1906); “Campanha 
Civilista” (1910), que visava ao lançamento de uma candidatura civil para a Presidência da República, movimento que foi derrotado 
nas urnas com a eleição do militar Hermes da Fonseca; “Movimento de Criação do Partido Comunista do Brasil”(1922); a 
“Revolução em São Paulo” (1924), que articulou a Coluna Prestes; a “Coluna Prestes”(1925-27), que trazia, em sua plataforma, 
entre outras coisas, a reivindicação do direito ao voto secreto, ao voto das mulheres, à liberdade de imprensa, entre outros; além 
dos movimentos grevistas e ainda a criação de outras associações mútuas. A “Revolução Política” (1930) que levou Getúlio Vargas 
ao poder dá início a uma nova fase na história brasileira. 
Trata-se da vitória de um projeto liberal industrializante, que em oposição às elites conservadoras rurais, delineará com muita 
vagarosidade um novo cenário para a nação: o urbano passa gradativamente a ser objeto de atenção das políticas públicas, 
visando-se criar condições para o adensamento da mão de obra, as indústrias crescem paulatinamente na região sul do país, as 
correntes de imigração estrangeiras são definitivamente substituídas pelas migrações nacionais, criam-se legislações e 
ordenamentos jurídicos novos, o Estado passa a organizar e a interferir na economia e na sociedade com mais vigor. Ainda que as 
elites conservadoras tenham mantido suas influências junto ao poder público, dada a redefinição das alianças políticas que 
estabelecem no cenário do país, o caráter da luta social adquire novos contornos. (GOHN, 2012, p. 82) 
É nessa fase que vemos as camadas populares emergirem como atores históricos dentro de um novo prisma, deixando de ser caso 
de polícia para transformarem-se em cidadãos com alguns direitos, como os trabalhistas. Nessa fase (1930 -1945), houve várias 
lutas e movimentos, entre eles, a “Marcha da Fome” (1931); o “Movimento dos Pioneiros da Educação” (1931), a “Revolução 
Constitucionalista” (1932); a “Nova Constituição” (1934) e os “Movimentos de Associações de Bairros”. Os anos de 1945 a 1964 
marcaram um período conhecido como populista ou nacionaldesenvolvimentista, devido às formas de participação social, pois, a 
partir do processo de redemocratização, houve a retomada das disputas político-partidárias no país. Nessa fase os movimentos 
reivindicaram várias questões. Esse período também corresponde à fase de grande intervenção do Estado na economia, com o 
objetivo de criar condições básicas para a nova etapa de acumulação do capital. Iniciou-se a intervenção do Estado na sociedade 
por meio de políticas públicas de cunho clientelístico. Também se pode dizer que foi uma fase muito fértil culturalmente (GOHN, 
2012). Agora adentramos um período de grande repressão na sociedade brasileira, a ditatura militar (1964- 1974), um período de 
grande efervescência do movimento de esquerda no país. Ocorreram várias lutas de resistência e protestos, resultando em 
prisões, torturas e perseguições. Corresponde também à fase do milagre econômico, no qual as massas populares, em geral, 
sofreram com o arrocho salarial, mas mantiveram-se caladas devido à necessidade do emprego (GOHN, 2012). As lutas pela 
redemocratização correspondem ao período de resistência e enfrentamento ao regime militar, ocorrido nos anos de 1975 a 1982, 
sendo este um dos mais ricos “da História do Brasil, no que diz respeito às lutas, movimentos e, sobretudo, projetos para o país.” 
(GOHN, 2012). 
Ele corresponde a uma fase de resistência e de enfrentamento ao regime militar, que já perdera sua base de legitimidade junto à 
sociedade devido à crise econômica que se esboçava desde 1973 com a chamada crise do petróleo, a retomada vagarosa da 
inflação, o desmonte das facilidades do paraíso do consumo das classes médias. As eleições de 1974 significaram um vigoroso 
“não” da população ao regime político vigente, fazendo do partido de oposição, o MDB, o vitorioso das urnas (GOHN, 2012, p.114). 
Foi uma fase de crença na volta pela democracia em nosso país e na possibilidade de mudanças históricas, não conseguidas no 
passado, a partir da força do povo, das camadas populares organizadas. Gohn (2012) fala dessa esperança, apontando o desejo 
“dos excluídos” da sociedade de serem os novos atores históricos: Os moradores das periferias, das favelas, cortiços e outros 
submundos saem da penumbra e das páginas policiais para se tornarem os depositários das esperanças de serem novos atores 
históricos, sujeitos de processos de libertação e de transformação social (GOHN, 2012, p.114). 
A Nova República e a Restauração Democrática são apontadas por Gohn (2012) como uma fase marcada pela negociação: a era 
dos direitos (1982-1995). Essa compreende a sexta fase do mapeamento feito pela autora. Ela afirma que, apesar de ser o período 
mais curto, ele é repleto de movimentos e lutas. É um período de intensa movimentação social devido à característica da 
conjuntura política e à dimensão dos problemas sociais, resultantes do aumento da população no país e também da facilidade de 
divulgação e reprodução das ações coletivas através dos meios de comunicação de massas. (GOHN, 2012). 
Após quase duas décadas de indicações de governadores dos estados brasileiros pelo regime militar, o povo conquista o poder do 
voto e de eleger seus representantes ao governo do estado por meio de eleições diretas. A década de 1980 foi marcada por muitas 
experiências político-sociais, como a “luta pelas diretas já”, trazendo a implantação de um calendário político que trouxesse de 
volta as eleições presidenciais e a redução do mandato do presidente. Houve, também, o surgimento das Centrais Sindicais e a 
criação de entidades organizativas e de inúmeros movimentos sociais (GOHN, 2012). Contudo, junto com a volta do jogo 
democrático, veio a crise econômica, com altos índices de inflação e o altíssimo número desemprego. Muitas greves foram 
deflagradas e houve tumulto das massas, chegando ao extremo de saquearem mercados, fazerem linchamentos populares na 
ânsia de fazer justiça com as próprias mãos, revelando um desespero social. “Os anos de 1980 são fundamentais para a 
compreensão da construção da cidadania dos pobres no Brasil, em novos parâmetros.” (GOHN, 2012, p. 126). 
Apesar das perdas em termos econômicos, foi uma década muito positiva em termos políticos e culturais. Todavia foi uma década 
que findou com a desmobilização e a descrença em massa (GOHN, 2012). Nos ano de 1990, uma pequena luz de esperança voltou 
a fazer parte da história social do Brasil, com o “Movimento pela Ética na Política”, culminando no impeachment do expresidente 
Collor. Assim, as lutas sociais foram redefinidas, os movimentos sociais alteraram-se substancialmente, chegando até, em alguns 
casos, a entrar em crise. “Surgem novos movimentos sociais, centrados mais em questões éticas ou de revalorização da vida 
humana.” (GOHN, 2012, p. 127). Dessa forma deslocou-se o eixo das reivindicações das questões econômicas para as questões de 
moral, e retomou-se a questão dos direitos sociais tradicionais.Nesse cenário cresceu o número de “Organizações Não-
Governamentais” (ONGs) e de políticas de parcerias implementadas pelo poder público.Trata-se das novas orientações voltadas 
para a desregulamentação do papel do Estado na economia e na sociedade como um todo, transferindo as responsabilidades do 
Estado para as “comunidades” organizadas, com a intermediação das ONGs, em trabalhos de parceria entre o público estatal e o 
público não estatal e, às vezes, com a iniciativa privada também. (GOHN, 2012, p. 128-129). 
Com a volta das eleições gerais, em 1994, alterou-se o cenário sociopolítico. “Um novo plano econômico, uma nova moeda e um 
novo candidato, surgido de um pacto político entre as elites, possibilitaram a ascensão de novos quadros ao poder central.” 
(GOHN, 2012, p. 129). Procuramos delinear, em poucas linhas, um pouco da história das lutas e dos movimentos sociais ocorridos 
no Brasil nos séculos XIX e XX. Mas, nas próximas unidades, retomaremos alguns pontos desses estudos.

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