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@isanogueira 18/05/2021 CARIOLOGIA O papel da dieta no controle da cárie dentária Apesar da grande importância que a dieta tem no processo carioso (biofilme açúcar dependente), ela ainda é bastante negligenciada. Devemos sempre conscientizar os pacientes que as mudanças de hábitos alimentares são extremamente necessárias para que tenha um controle do açúcar e previna a formação de lesões cariosas. Atualmente, ainda é um desafio para a equipe de saúde, porque as pessoas acham que o tratamento para essas lesões se baseia apenas no controle da higiene. A cárie possui uma casualidade complexa, o biofilme tem que recobrir a superfície dentária e tem que ter a disponibilidade dos substratos fermentáveis, dos açucares livres no meio bucal. Por isso né necessário ter a avaliação dos hábitos alimentares de todos os pacientes com atividade de cárie. Histórico entre dieta e cárie dentária Antigamente, existia uma baixa ocorrência de cárie até a revolução industrial, depois da industrialização e da abundante disponibilidade de açúcar, teve diversas mudanças no padrão alimentar, tornando a cárie uma doença prevalente. Na segunda guerra mundial, foi observado uma queda importante na prevalência de cárie na Europa, porque teve uma menor oferta de alimentados açucarados e processados. Logo depois, com a inclusão de alimentos processados e refinados na dieta, teve um aumento da experiencia de cárie na população. Estudos apontaram que crianças de 6 a 13 anos vivendo no orfanato Hopewood House, tinha uma dieta lactovegetariana, possuía quantidades mínimas de açúcar e farinha refinada, tendo como resultado uma prevalência de cárie muito baixa. No momento em que essas crianças saiam do orfanato, se alimentavam sem restrições, tendo como consequência o aumento na prevalência de cárie. Em outro estudo, foi observado crianças da igreja adventista do sétimo dia que possuía uma dieta vegetariana, essas crianças eram desestimuladas a consumir açúcar e não tinha o habito de comer entre as refeições, tendo como resultado uma menor experiencia de cárie. O estudo de Vipeholm, feito no hospital para doentes mentais na Suécia, observou 436 pacientes adultos e comparou alguns grupos com diferentes frequências de consumo (durante e entre as refeições) e consistência de alimentos açucarados em várias formas (líquido, pão, balas). Teve como conclusão, o consumo de sacarose aumenta a ocorrência de cárie de acordo com a forma de consumo; o fator mais importante não @isanogueira 18/05/2021 CARIOLOGIA é a quantidade total ingerida, mas sim a frequência de consumo de açúcar, justamente por ocasionar diversas quedas de ph ao longo do dia, fazendo com que a desmineralização fique maior do que remineralização; a consistência do alimento desempenha um papel relevante (quanto maior o tempo do alimento em boca, mais cariogênico ele vai ser). O estudo de Turku, avaliou 125 adultos e dividiu em 3 grupos, onde eles consumiam sacarose, frutose e xilitol. Concluiu-se que a sacarose é a maior que causa a queda de ph, tendo uma maior experiência de cárie. A frutose e xilitol causava menos lesões cariosas do que a sacarose, mas a frutose também tinha relação com baixo ph. A sacarose forma uma placa mais porosa por conta da formação dos polissacarídeos extracelulares. Todos esses estudos foram realizados quando não se tinha flúor na dieta, são estudos mais antigos, quando o acesso ao flúor era restrito ou inexistente. Atualmente, temos acesso ao flúor de diversas formas, como: água de abastecimento público fluoretada, sal fluoretado e dentifrícios fluoretados. No brasil, a adição de flúor na água de abastecimento público de algumas cidades foi na década de 70 e a oferta de dentifrícios fluoretados no mercado nacional foi na década de 90. O estudo de Sreebny, Woodward e Walker comparou os dados de 47 países e observou uma forte correlação entre o consumo de açúcar e a prevalência de cárie aos 12 anos em um período sem acesso a produtos fluoretados que teve como resultado uma alta experiencia de cárie. Em 1994 foi feito outro estudo semelhante, porém nesse período que já possuía o flúor essa correlação não foi encontrada. Estudo de Duggal et al., Ccahuana Vasquez et al., esse estudo foi in situ (quando não é só em laboratório, é quando tem o uso de alguma pessoa). Nesse estudo foi utilizado bloquinhos de esmalte que foram colocados em um aparelho no palato, foi feito para avaliar a frequência de consumo de açúcar em relação ao dentifrício fluoretado e a desmineralização do esmalte. Os voluntários eram divididos em dois grupos, um grupo fazia a escovação com dentifrício fluoretado e o outro grupo fazia a escovação com dentifrício não fluoretado. Eles pigavam nos blocos de esmalte sacarose 10x ao dia para ver qual o máximo que podia consumir a sacarose, quanto que teria de desmineralização do esmalte e se o flúor tinha ou não relação. Depois de alguns dias, esse bloco era coletado para avaliar qual a desmineralização desse bloco. Foi concluído que o grupo que não utilizaram flúor teve a formação das lesões de mancha branca. Quando usa o dentifrício fluoretado e tem o consumo de sacarose 7 ou 10x ao dia, há a perda mineral e, quando usa o dentifrício não @isanogueira 18/05/2021 CARIOLOGIA fluoretado com consumo de sacarose 3x ao dia, há a perda mineral. Esse estudo teve como resultado que na presença de agentes fluoretados, uma maior frequência de ingestão de alimentos açucarados é tolerada sem resultar em perda mineral, reforçando a influência ao uso de fluoretos na relação entre dieta e cárie. O uso disseminado de fluoretos conferiu uma “margem de segurança” em relação ao consumo de açúcar. Mas não podemos considerar que por usar o flúor, o paciente pode consumir a sacarose sem nenhum controle. Os pacientes com atividade de cárie, o flúor não vai anular fatores causais importantes, como a dieta cariogência. Dependendo da frequência em que esse paciente consume açúcar, temos que tentar fazer uma restrição do consumo de açúcar. Atualmente, a alimentação da população não está saudável, teve um aumento da frequência da ingestão de açúcar e hidratos de carbono, ou seja, bebidas ácidas. Hoje vemos muito a presença dos fast food com alimentos extremamente industrializados, refinados, enlatados, congelados e etc. A frequência do consumo de açúcar é pior do que a quantidade ingerida em um determinado momento. As espécies bacterianas, principalmente os Streptococcus mutas são capazes de metabolizar os carboidratos e gerar ácidos que vão causar a desmineralização dos tecidos dentários. Após o consumo de açúcar, mais ou menos com 10 min o pé cai bruscamente e depois de um tempo ocorre a reversão desse ph de volta a neutralidade (saliva banha os ácidos, tem a capacidade tamponante). Quando mais frequente esse processo ocorrer ao longo do dia, mais tempo o ph do biofilme vai permanecer abaixo do ph critico, tendo assim a perda mineral do esmalte, se estiver cavidade vai ter a perda mineral da dentina e essa desmineralização vai ser bem maior em relação a RE, causando um aumento das lesões cariosas. Consumos de alimentos: Vemos que o doce de cupuaçu causa a maior queda de ph, porque ele é um ph simples e rapidamento fermentável. Pacientes que tem um baixo fluxo salivar, a queda de ph vai ser mais acentuada e vai demorar para ter a reversão do ph a normalidade. @isanogueira 18/05/2021 CARIOLOGIA Nos casos de exposição continua a carboidratos, por exemplo, com o consumo da mamadeira açucarada principalmente no príodo da noite, o ph minimo vai ser atingido e mantido enquanto o alimento estiver em contato com a superfície do dente.É isso que acontece com a cárie da primeira infância. Metabolismo dos carboidratos Os carboidratos podem ser classificados quanto a composição química: monossacarídeos, dissacarídeos (sacarose) e polissacarídeos. De um ponto de vista nutricional, os mono e os dissacarídeos são classificados como açucares (fortemente associado a cárie dentária porque são facilmente fermentado pelas bactérias) e os polissacarídeos são classificados como amido (tem alto peso molecular, pode ser degradado em moléculas menores e pode ser um fator potencial de nutrientes para as bactérias do biofilme). Quando a oferta de carboidratos é abundante, principalmente dos açucares livres, além de causar queda do ph, esses carboidratos podem ser armazenados na forma de polissacarídeos intra (formados através de diversos açucares e tem a função de reserva de nutrientes) e extra celulares (são formados apenas da sacarose, tem o aumento da adesão bacteriana, aumento da porosidade do biofilme e aumento da permeabilidade). Quando tem os polissacarídeos extra celulares, a difusão de nutrientes das camadas mais externas do biofilme (em contado com o ambiente bucal) até suas camadas mais profundas (próximas à estrutura dentária) é facilitada. Mutano Com a presença do mutano no biofilme, vai ter o aumento da porosidade fazendo com que seja mais fácil a desmineralização, ele vai modificar a matriz tornando-a bem mais pegajosa, ou seja, capaz de aderir mais microrganismos no biofilme, deixando bem mais volumoso e poroso. O motivo dele ser tão prejudicial é porque não possui enzimas na cavidade bucal para quebra-lo, ele só é removido com a escovação. Cariogenicidade dos alimentos A consistência de cada alimento deve ser levada em consideração. Ex: alimentos mais pegajosos, como o caramelo é mais prejudicial para o desenvolvimento de lesões cariosas, porque ele vai ficar muito tempo em contato com a superfície do dente. Os açucares são mais prejudiciais porque são rapidamente metabolizados pelas bactérias, vão causar uma queda de ph bem rápida e vão ser responsáveis pela desmineralização dos tecidos dentários. @isanogueira 18/05/2021 CARIOLOGIA Amido Capacidade de fermentação é muito menor do que a de açúcares mais simples, pois se trata de um polissacarídeo de glicose que precisa ser hidrolisado (quebrado pela amilase salivar) na cavidade bucal para fornecer produtos de menor tamanho que possam ser fermentados. O amido são moléculas grandes e complexas que precisam da ação enzimática para quebra-las em moléculas menores, para só assim serem fermentadas e metabolizadas pelas bactérias. A cariogenicidade dos alimentos também vai depender também da forma de preparo. Porque durando o processo industrial, as moléculas de amido sofrem várias modificações mecânicas (processo de gelatinização), quando maior for esse processo do amido, mais susceptível ele vai ter a degradação enzimática, sendo assim, ele vai ser degradado e fermentado mais rápido, aumentando o potencial carionegico. Por isso que o amido cozido é mais cariogenico do que o amido cru, porque ele causa uma queda de ph maior. Alimentos que tem associação do amido com a sacarose são MUITO mais cariogenicos do que apenas com a sacarose, porque os alimentos ficam mais retentivos na cavidade bucal. Ex: pães doces, biscoitos doces, formulas infantis adoçadas, mingau e etc. Existem alguns alimentos que são considerados protetores. Ex: leite. Lactose É o açúcar menos cariogênico, possui alguns fatores de proteção, como o cálcio, fosfato e caseína. Estudos apontam que a lactose tem um efeito positivo ou nulo na ocorrência de cárie. O leite materno causa cárie? NÃO! O que dá cárie são mamadeiras açucaradas. Sempre observar os rótulos das embalagens de leite, porque composto láctico NÃO é leite. Ele tem muito açúcar (quase 10gm). Na primeira infância, tem a época de formação de paladar, é nesse momento que devemos orientar os pais a acostumar a criança a ter uma alimentação saudável com menos açúcar. Bolacha maizena é uma opção saudável? NÃO! Queijo É considerado anticariogênico, porque estimula o fluxo salivar e aumenta a concentração de cálcio no biofilme. Ele tem alguns componentes como os fosfolipídios de caseína e fosfato de cálcio amorfo que tem papel importante no processo de @isanogueira 18/05/2021 CARIOLOGIA remineralização. Alguns estudos apontam que o queijo é inversamente associado a cárie. Adoçantes Algumas pessoas começaram a trocar o açúcar por adoçantes. Adoçantes não calóricos: Os mais comuns são: sacarina, ciclamato e aspartame, são usados para adoçar refrigerantes, sorvetes e geleias. Não são metabolizados pelas bactérias dos biofilmes. Adoçantes calóricos: Os mais comuns são: sorbitol e xilitol, são utilizados para adoçar chocolates, gomas de mascar e doces. Sorbitol – causa uma queda de ph decorrente da fermentação é lenta e não atinge pH crítico pra desmineralização dos tecidos dentários. Xilitol – ele é não acidogênico e não cariogênico. Apresenta efeito no biofilme dental dose/frequência dependente, ou seja, quanto mais consumir, melhor. Ele tem uma incontestável eficácia na prevenção da cárie porque ele não é metabolizado pela maioria das bactérias presentes na cavidade. A desvantagem é que tem alto custo. Diagnostico: como avaliar a dieta do paciente e registar informações? Na amanse existe algumas formas de coletar essas informações, como: diário de dieta, entrevista de 24 horas e questionários específicos. Diário de dieta: é o mais conhecido e utilizado. Esse diário é como um formulário em que o paciente ou responsável vai registrar todos os alimentos e bebidas consumidos durante um período de 3 a 7 dias. Colocar o dia, o horário e a quantidade de cada alimento e refeição consumido. Anotar também medicamentos, petiscos, balas e gomas de mascar. Exemplo: Existe uma forma de categorizar os alimentos quando está avaliando o diário de dieta do paciente, iremos atribuir alguns valores aos alimentos que foram consumidos. O valor de 1 vai ser dado pela forma (quando o alimento for liquido ou não retentivo) e no momento da ingestão (quando for consumido junto com as refeições). @isanogueira 18/05/2021 CARIOLOGIA O valor de 2 vai ser dado quando a forma do alimento for solido e retentivo, e consumido entre as refeições. O calculo do indice vai ser: valor correspondente a forma X valor do momemto da ingestão. Ex1: o paciente consumiu um alimento retentivo entre as refeições = 2 x 2= 4 Ex2: alimento retentivo ingerido junto a refeição principal = 2 x 1 = 2 Depois de atribuir os valores a esses alimentos, somam-se os valores obtidos durante os 3 dias e divide o total por 3, obtendo um valor médio diário, que só vai ser considerado aceitável, ou não cariogênico quando for inferior ou igual a 7. Exemplo: Entrevista de 24hrs: o paciente relata para o profissional tudo o que ele comeu nas ultimas 24hrs, essa entrevista é realizada sem aviso prévio porque possui pacientes que não realizam o preenchimento correto do diário. Tem a maior dificuldade em pacientes idosos porque muitas vezes eles não conseguem lembrar de tudo que consumiram. Questionários: são questionários já feitos para avaliar a frequência de consumo alimentar e são específicos para a quantificação do açúcar. Como utilizar os dados coletados? Avaliar a dieta do paciente, com bases nas informações fornecidas pelo paciente sempre aconselha-los e se necessário propor modificações para tentar reequilibrar os processos de DES-REmineralização, como a substituição de balas, gomas e refrigerantes por produtos dietéticos, pedir para o paciente ter um consumointeligente do açúcar (consumir o açúcar nas principais refeições e diminuir a frequência do consumo), é também recomendado o aconselhamento dietético individualizado através do auxílio de nutricionistas. Resumão Diagnosticar o que está causando a cárie do paciente A sacarose é o açúcar mais cariogênico O registro de informações sobre hábitos alimentares está indicado para pacientes com atividade de cárie Avaliar a dieta e propor modificações acessíveis
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