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Neurologia Jamille Ponte DOENÇA DE PARKINSON EPIDEMIOLOGIA FATORES DE RISCO FISIOPATOLOGIA Acomete 2 a 3% da população acima de 65 anos; Segunda causa de doença neurodegenerativa mais comum; Idade (> 3ª idade); Sexo (> homens); Trabalhadores rurais; Exposição a água de poço, metais pesados, pesticidas e herbicidas; Genética; Tabagismo – fator de proteção. É causada pela degeneração progressiva da substância negra mesencefálica. A substância negra participa do sistema extrapiramidal, composto também pelos núcleos da base e pelo cortez pré-motor frontal→ esse sistema é responsável pela modulação dos movimentos. Os neurônios da substância negra são dopaminérgicos e inibem os neurônios colinérgicos do corpo estriado, através do feixe nigro-estriatal. O acúmulo de alfa-sinucleína na substância negra, degenera os neurônios dopaminérgicos presentes nela de forma irreversível, resultando na diminuição de produção de dopamina, responsável pelas manifestações motoras. O acúmulo de emaranhados proteícos (alfa-sinucleína) se expressa com o aparecimento de corpúsculos de Lewy, que são corpos de inclusão eosinofilicos no corpo dos neurônios. QUADRO CLÍNICO MANIFESTAÇÕES MOTORAS MANIFESTAÇÕES NÃO MOTORAS Manifesta-se com caráter predominantemente motor e progressiva. Para caracterizar o parkinsonismo é necessário a bradicinesia e pelo menos mais 1 dos seguintes: - Rigidez muscular (sinal da roda denteada→ hipertonia plástica) - Tremor de repouso (frequência de 4 a 6Hz) - Instabilidade postural Bradicinesia ou acinesia pode englobar ainda a incapacidade de sustentar movimentos repetitivos, fatigabilidade anormal e dificuldade para realizar atos motores simultâneos Bradicinesia manifesta-se na área cranial por redução da expressividade facial (hipomimia) Hipofonia, micrografia Bradicinesia associada a rigidez acometendo a região oral, faríngea e laríngea acarreta a redução da deglutição automática da saliva, levando ao acúmulo da mesma na cavidade bucal e perda pela comissura labial (sialorreia), disfagia e disartrofonia. Tremor de repouso exacerba durante a marcha, no esforço mental e em situações de tensão emocional e diminuindo com a movimentação voluntária. Tremor e rigidez são frequentemente unilaterais ou assimétricos. Instabilidade é decorrente da perda de reflexos de readaptação postural, evidenciando-se em mudanças bruscas de direção. Sinal de Myerson→ não esgotamento do reflexo de piscar após sucessivos toques na glabela; Marcha parkinsoniana: passos curtos, ausência de movimentos dos braços e tronco para frente. Eventualmente, presença de festinação, que é caracterizada por aceleração involuntária da marcha, com inclinação para frente, como se o paciente estivesse buscando seu centro de gravidade e às vezes levando a quedas. Além disso, apresenta o freezing (bloqueio da marcha), caracterizada pela perda abrupta da capacidade de iniciar ou sustentar a marcha, caracterizada pela hesitação no seu início ou de uma frenação súbita da marcha, podendo levar a queda. Disautonomia, perda de peso; Sintomas sensitivos, incluindo dor (alguns podem ser responsivos a levodopa); Alterações no humor ou comportamento (depressão, ansiedade), distúrbio do sono (sonolência diurna excessiva frequentemente causada por ou agravada pelos fármacos dopaminérgicos); Distúrbio comportamental do sono REM (com movimento rápido dos olhos) (pode desenvolver antes do parkinsonismo); Fadiga e hiposmia; Disfunção cognitiva; Autonômicas: constipação instestinal, hipotensão postural, disfunção erétil; Urgência e frequência urinária Neurologia Jamille Ponte DIAGNÓSTICO Fundamentalmente clínico, tendo exames complementares como auxiliares O diagnóstico envolve três passos, conforme proposto por Gibb e Lees: PASSO 1: CARACTERIZAÇÃO DA SÍNDROME PARKINSONIANA PASSO 2: IDENTIFICAÇÃO DA CAUSA DA SÍNDROME PARKINSONIANA PASSO 3: CONFIRMAÇÃO DO DIAGNÓSTICO DE DP COM BASE NA RESPOSTA TERAPÊUTICA E EVOLUÇÃO Síndrome parkinsoniana tem 4 componentes básicos: bradicinesia, rigidez, tremor de repouso e instabilidade postural. A principal diferenciação do tremor da DP deve ser feito em relação ao tremor essencial (TE), condição muito mais frequente que a DP e de evolução benigna. Reconhecimento de causas específicas (parkinsonismo secundário) ou de formas atípicas de parkinsonismo degenerativo, como a atrofia de múltiplos sistemas (AMS), paralisia supranuclear progressiva (PSP), degeneração corticobasal (DCB) e demência com corpos de Lewy (DCL). Excluídas estas possibilidades estaremos diante de uma forma primária de parkinsonismo, ou seja, a DP. boa resposta às drogas de ação dopaminérgica, especialmente a levodopa, é um critério obrigatório para a confirmação do diagnóstico da DP. Entretanto, pacientes com outras doenças que se manifestam com parkinsonismo podem apresentar respostapositiva a essas drogas, ainda que inferior à observada na DP. Portanto, diante de uma evolução desfavorável, com limitações motoras graves após poucos anos do início da doença, o diagnóstico de DP deve ser colocado em dúvida. EXAMES COMPLEMENTARES Anamnese; exame neurológico; RM e TC do encéfalo; Exames de neuroimagem funcional: PET e o SPECT USG transcraniana, a cintilografia cardíaca com 1231-MIBG e o exame do olfato. Neurologia Jamille Ponte CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS PARA DP LONDON BRAIN BANK MOVEMENT DISORDERS SOCIETY DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL TREMOR ESSENCIAL DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DO PARKINSONISMO DE INSTALAÇÃO PRECOCE Doenca de Wilson; Formas geneticas de distonia associadas ao parkinsonismo; Neurodegeneração com acúmulo cerebral de ferro; Calcificação estriato-pálido-denteada (sindrome de Fahr); Degeneração palidal (pura ou dentado-rubral-pálido-Luysiana); Neuroacantocitose; Atrofias espino-cerebelares (tipos 2,3 e 17); Demância fronto-temporal com parkinsonismo; Forma rígida da doença de Huntington (variante de Westphal) Pré-mutação do gene do X frágil Neurologia Jamille Ponte TRATAMENTO Levodopa é o principal tratamento; Atua diretamente sobre a deficiência dopaminérgica, sendo muito eficaz no controle dos sintomas motores. Entretanto, seu uso pode estar associado a problemas a longo prazo, tais como: redução do tempo de efeito (wearing-off) e discinesias. Principais problemas da levodopa: meia vida curta (90 minutos); Preparadores comerciais de levodopa vêm com drogas que bloqueiam a conversão de levodopa no sangue periférico, permitindo uma maior entrada do fármaco no SNC e minimizando os efeitos adversos da ação direta da dopamina sobre os receptores periféricos (hipotensão postural, náuseas e vômitos); Inibidores periféricos da dopa descarboxilase (DDC): carbidopa e benserazida; MANEJO INICIAL MANEJO FASE AVANÇADA TRATAMENTO CIRÚRGICO TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO Levodopa com inibidores da DDC; Duas a quatro doses diárias de 50 ou 100 mg de levodopa; Outras drogas com ação no sistema dopaminérgico: agonistas dopaminérgicos, inibidores da MAO e os inibidores da COMT; Estratégia individualizada de acordo com o tipo de complicação; Wearing-off ou discinesias → tenta-se fracionar o número de tomadas da levodopa e, em etapas seguintes, adicionar outros medicamentos. Indicação: complicações motoras de longo prazo apesar da melhor combinação de drogas antiparkinsonianas. Cirurgias abativas (talamotomia, palidotomia e subtalamotomia) ou com estimulação cerebral profunda através da implantação de eletrodos nos núcleos subtalamicos ou pálidos Fisioterapia e fonoterapia MEDICAÇÕES INIBIDORES DA MAO-B ANTICOLINÉRGICOS AMANTADINA Selegilina Rosagilina Biperideno e triexifenidil Bloqueia a recaptação de serotonina na fenda sináptica; É um fraco antiparkinsoniano com baixa toxicidade;Útil nos pacientes com sintomas iniciais ou em estágios avançados da doença, quando a discinesia se torna um problema incapacitante. Atua inibindo a degradação de dopamina na fenda sináptica; Possui efeito neuroprotetor na doença de Parkinson; É um fraco antiparkinsoniano; Seu uso é limitado a pacientes com doença de Parkinson inicial. Tem demonstrado beneficio no tratamento da doença de Parkinson, inclusive em monoterapia Reservados para pacientes jovens nos quais o tremor seja o sintoma predominante; OBS: não deve ser utilizado em pacientes acima de 6 anos, pois levam a confusão mental, retenção urinária, borramento visual e constipação intestinal Neurologia Jamille Ponte AGONISTAS DOPAMINÉRGICOS L-DOPA INIBIDORES DA COMT Pramipexol Mais eficaz, utilizada como precursor da dopamina, repondo estoques da substância negra. Para fazer efeito, ele deve penetrar no SNC e ser metabolizado em dopamina nos neurônios; porém, ele sofre a ação da descarboxilase presente na mucosa intestinal e no plasma, convertendo-o em dopamina na periferia e acarretando dois problemas: - menos L-dopa passa para o SNC → reduzindo o efeito - Aumento de dopamina plasmática → efeitos adversos do tipo náuseas, intolerância gástrica, taquicardia, hipotensão arterial Por isso é formulada associada a um inibidor da descarboxilase periférica (carbidopa ou benzerasida) na proporção 4;1 O efeito da levodopa é maior na bradicinesia, rigidez e instabilidade postural, sendo mais eficaz no tremor; Seu efeito diminui após os primeiros 3 anos de tto, quando se faz necessário doses mais altas. Aumento da dose leva ao surgimento de efeitos colaterais: - Alucinações - Agitação -Discinesia -Fenômeno liga/desliga→ melhora do estado motor na primeira hora após a tomada do comprimido - “liga” – e piora importante no periodo restante – “desliga” – até a próxima dose OBS: para evitar esse problema, deve-se associa-la a amantadina e/ou anticolinérgicos (se idade <65 anos) Tolcapone e entacapone Podem ser usados como monoterapia desde cedo ou em combinação com outros antiparkinsonianos em fases mais avançadas da doença; Retardam o início do uso da levodopa e consequentemente a discinesia induzida por ela São uteis para prolongar o efeito da levodopa Ineficazes em monoterapia; Principalmente usados para tratar pacientes com flutuações motoras como o fenômeno liga- desliga. Neurologia Jamille Ponte
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