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DESCAMINHO Descaminho (Redação dada pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014) Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. § 1o Incorre na mesma pena quem: I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho; III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem; IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. § 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13008.htm DESCAMINHO Contrabandear consiste em importar mercadoria proibida (total/parcialmente) no país; descaminhar consiste em não pagar os tributos devido da mercadoria legal. O descaminho era chamado de contrabando impróprio. Mercadoria é toda coisa móvel passível de comercialização. O descaminho pode ser total ou parcial. O descaminho trata-se de norma penal em branco em Sentido Lato (Serve-se de outra Lei para complementá-la) Trata-se de crime comum, formal, de forma livre, instantâneo. Princípio da insignificância: o valor ínfimo autoriza a aplicação do princípio. Nesse caso a punição será fiscal, e não penal. Para o descaminho = R$ 20.000,00. Competência: Justiça Federal. SÚMULA 151 STJ - A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da apreensão dos bens. Facilitação de contrabando ou descaminho Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334): Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa. EXCEÇÃO A TEORIA UNITÁRIA DO CONCURSO DE PESSOAS Art. 29, Código Penal - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade. E, se alguém, culposamente, deixou de pagar o tributo devido ao produto, será responsabilizada por descaminho? Seria necessária a conclusão do procedimento administrativo relativo a exigibilidade do tributo devido para a configuração do crime de descaminho? DESCAMINHO – PROCESSO ADMINISTRATIVO FISCAL – DESNECESSIDADE. Sendo o crime de descaminho formal, inadequado é assentar a necessidade de procedimento administrativo fiscal com a constituição do crédito tributário. HABEAS CORPUS 121.798/BA. MIN. MARCO AURÉLIO. 29 de maio de 2018. STF RECURSO ESPECIAL. DESCAMINHO. COMPLEXIDADE DO BEM JURÍDICO TUTELADO. CONSUMAÇÃO QUE OCORRE COM O TRANSPASSE DAS BARREIRAS ALFANDEGÁRIAS SEM O PAGAMENTO DE IMPOSTO OU DIREITO. ESGOTAMENTO DA VIA ADMINISTRATIVA COM A CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. DESNECESSIDADE. A instauração de procedimento administrativo para constituição definitiva do crédito tributário no descaminho, nos casos em que isso é possível, não ocasiona nenhum reflexo na viabilidade de persecução penal. RECURSO ESPECIAL n. 1.343.463 - BA do STJ. MINISTRA MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA. 20 de março de 2014. STJ Ainda que o descaminho seja delito de natureza formal, a existência de decisão administrativa ou judicial favorável ao contribuinte – anulando o auto de infração, o relatório de perdimento e o processo administrativo fiscal – caracteriza questão prejudicial externa facultativa que autoriza a suspensão do processo penal (art. 93 do CPP). O STF, por ocasião do julgamento do HC 99.740-RJ (DJe 1º/2/2011), firmou compreensão no sentido de que a consumação do delito de descaminho e a abertura de processo-crime não estão a depender da constituição administrativa do débito fiscal porque o delito de descaminho é formal e prescinde do resultado. E, secundando o entendimento do Pretório Excelso, este STJ, por ambas as Turmas com competência em matéria penal, vem também decidindo que o descaminho é crime formal, e que a persecução penal independe da constituição do crédito tributário, como se colhe em reiterados precedentes. Do exposto, resulta que, sendo desnecessária a constituição definitiva do crédito tributário para a tipificação do delito, não fica a ação penal – instaurada para a apuração de crime de descaminho – no aguardo de processo administrativo, ação judicial ou execução fiscal acerca do crédito tributário, tendo em vista a independência entre as esferas. Todavia, a existência de decisão administrativa ou judicial favorável ao contribuinte provoca inegável repercussão na própria tipificação do delito, caracterizando questão prejudicial externa facultativa que autoriza a suspensão do processo penal (art. 93 do CPP). REsp 1.413.829-CE, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 11/11/2014. O pagamento do tributo devido pela mercadoria, depois de iniciado o processo-crime, funcionaria como causa extintiva da punibilidade do crime de descaminho? DESCAMINHO • Causa de Extinção da Punibilidade: artigo 34, da Lei nº 9.249/95, estabelece: “Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos na Lei nº 8.137/90, e na Lei nº 4.729/65, quando o agente promover o pagamento do tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia”. Há entendimento do STJ em sentido contrário, RHC 43.558-SP. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/2/2015, DJe 13/2/2015. • Poder-se-ia aplicar este dispositivo ao crime de descaminho? Parte da doutrina entende que sim, pois ainda que não tratada de maneira expressa, seria possível a interpretação extensiva analógica in bonam partem. Porém, frise- se: Esta não é posição unânime. Mirabete pensa contrario. • Parcelamento do débito: suspende o recebimento da denúncia; a extinção da punibilidade dependerá da quitação integral deste. HOJE DIREITO PENAL. DESCAMINHO E EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. O pagamento do tributo devido não extingue a punibilidade do crime de descaminho (art. 334 do CP). A partir do julgamento do HC 218.961-SP (DJe 25/10/2013), a Quinta Turma do STJ, alinhando-se ao entendimento da Sexta Turma e do STF, passou a considerar ser desnecessária, para a persecução penal do crime de descaminho, a apuração administrativa do montante de tributo que deixou de ser recolhido, tendo em vista a natureza formal do delito, o qual se configura com o simples ato de iludir o pagamento do imposto devido pela entrada de mercadoria no país. Na ocasião, consignou-se que o bem jurídico tutelado pelo art. 334 do CP vai além do valor do imposto sonegado, pois, além de lesar o Fisco, atinge a estabilidade das atividades comerciais dentro do país, dá ensejo ao comércio ilegal e à concorrência desleal, gerando uma série de prejuízos para a atividade empresarial brasileira. Verifica-se, assim, que o descaminho não pode ser equiparado aos crimes materiais contra a ordem tributária, o que revela a impossibilidade de que o agente acusado da prática do crime de descaminho tenha a sua punibilidade extinta pelo pagamento do tributo. Ademais,o art. 9º da Lei 10.684/2003 prevê a extinção da punibilidade pelo pagamento dos débitos fiscais apenas no que se refere aos crimes contra a ordem tributária e de apropriação ou sonegação de contribuição previdenciária – arts. 1º e 2º da Lei 8.137/1990, 168-A e 337- A do CP. Nesse sentido, se o crime de descaminho não se assemelha aos crimes acima mencionados, notadamente em razão dos diferentes bens jurídicos por cada um deles tutelados, inviável a aplicação analógica da Lei 10.684/2003. RHC 43.558-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/2/2015, DJe 13/2/2015. II Fato Assimilado: é o fato semelhante ao descaminho, como é o caso da Zona Franca de Manaus (Decreto-Lei nº 288/67). III pune ao comerciante ou industrial que vender, ter em depósito ou expor à venda a mercadoria de procedência estrangeira introduzida clandestinamente no país, ou importada fraudulentamente. Aqui o crime é próprio, habitual; o dolo é direto. I Navegação de Cabotagem: é aquela que realiza o comércio entre portos do território brasileiro. Este dispositivo pressupõe a existência de outra lei que regulamente a navegação de cabotagem. Norma penal em branco em sentido lato (Lei n. 9.432/1997) Figuras Equiparadas a Descaminho DESCAMINHO O inciso IV trata de punir o comerciante ou industrial que adquire ou recebe a mercadoria estrangeira desacompanhada de documentação. O dolo é direto. O crime é próprio e, para alguns autores, habitual. A reintrodução de mercadoria destinada especificamente à exportação é crime de contrabando. O § 2º trata-se de norma penal explicativa e equiparativa, pois equipara às atividades comerciais o comércio irregular, inclusive o exercido em residências. O § 3º trata de uma causa de aumento de pena (em dobro), quando o crime for praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial, o que se justifica pela dificuldade de fiscalização. Espécie de receptação de mercadoria descaminhada. Sendo o descaminho praticado em voo regular, aplica-se a majorante do § 3º? "HABEAS CORPUS. PENAL. CONTRABANDO E DESCAMINHO. QUALIFICADORA. TRANSPORTE AÉREO. ART. 334, § 3º, DO CP. VOO REGULAR. APLICAÇÃO. DESCABIMENTO. PENA. REDUÇÃO. PRESCRIÇÃO. CONSUMAÇÃO. É descabida a aplicação da qualificadora do art. 334, § 3º, do Código Penal quando a prática delitiva é realizada por meio de transporte aéreo regular, sendo justificada a incidência da majorante tão somente quando se tratar de voo clandestino. [...]“ Habeas Corpus 148.375/AM, que teve como relator o Ministro Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/04/2012 junto ao Superior Tribunal de Justiça E se o descaminho for praticado com veículo automotor? Art. 278-A, CTB. O condutor que se utilize de veículo para a prática do crime de receptação, descaminho, contrabando, previstos nos arts. 180, 334 e 334-A do Decreto- Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), condenado por um desses crimes em decisão judicial transitada em julgado, terá cassado seu documento de habilitação ou será proibido de obter a habilitação para dirigir veículo automotor pelo prazo de 5 (cinco) anos. § 1º O condutor condenado poderá requerer sua reabilitação, submetendo-se a todos os exames necessários à habilitação, na forma deste Código. § 2º No caso do condutor preso em flagrante na prática dos crimes de que trata o caput deste artigo, poderá o juiz, em qualquer fase da investigação ou da ação penal, se houver necessidade para a garantia da ordem pública, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a proibição de sua obtenção. CONTRABANDO Contrabando Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. § 1o Incorre na mesma pena quem: I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando; II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de órgão público competente; III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação; IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira. § 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências. § 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. Contrabando Trata-se de crime comum, formal, de forma livre e instantâneo; norma penal em branco em sentido estrito (Portarias Administrativas da Receita Federal, do Comando do Exército e do Ministério da Fazenda). Princípio da Especialidade em relação a: material bélico privativo das forças armadas (Decreto nº 10.030/2019), armas e acessórios (arts. 18 e 19, da Lei nº 10.826/2003), drogas (art. 33 e § 1º, da Lei nº 11.343/2006) etc. Poder-se-ia aplicar o princípio da insignificância ao crime de contrabando? EMENTA: HABEAS CORPUS. DIREITO PENAL. IMPORTAÇÃO DE ARMA DE PRESSÃO DE USO PERMITIDO. CALIBRE IGUAL OU INFERIOR A 6 MILÍMETROS. PRODUTO CONTROLADO PELO EXÉRCITO. CRIME DE CONTRABANDO. PROIBIÇÃO RELATIVA. INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. PRECEDENTES. ORDEM DENEGADA. Além do interesse econômico estão envolvidos outros bens jurídicos relevantes: saúde, moralidade administrativa e segurança pública. 07/05/2019 – STF - Segunda Turma - Habeas Corpus 131.943/RS. relator : MIN. GILMAR MENDES. Configura contrabando – e não descaminho – importar, à margem da disciplina legal, arma de pressão por ação de gás comprimido ou por ação de mola, ainda que se trate de artefato de calibre inferior a 6 mm, não sendo aplicável, portanto, o princípio da insignificância, mesmo que o valor do tributo incidente sobre a mercadoria seja inferior a R$ 10 mil. REsp 1.427.796-RS, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, julgado em 14/10/2014 (Informativo nº 551). Existe, no entanto, um julgado isolado, em que o STJ admite a incidência do princípio da insignificância ao crime de contrabando. Trata-se de uma situação específica de contrabando: importação de pequena quantidade de medicamento destinada a uso próprio. A importação de pequena quantidade de medicamento destinada a uso próprio denota a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada, tudo a autorizar a excepcional aplicação do princípio da insignificância. (EDcl no AgRg no REsp 1.708.371/PR, 5ª Turma do STJ, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 24/04/18) Não é correto afirmar, apenas por essa decisão, que a posição do STJ é no sentido de reconhecer a aplicação do princípio da insignificância ao crime de contrabando. Em regra, o STJ veda a aplicação do referido princípio ao crime de contrabando. Existe um julgado muito específico, em que o STJ admite a incidência do princípio ao contrabando de pequena quantidade de medicamento para uso próprio. Distinções entre Contrabando e Descaminho CONTRABANDO Importar ou exportar mercadoria proibida, total ou parcialmente, no território nacional. Reclusão de 2 a 5 anos Vedada a aplicação do princípio da insignificância DESCAMINHO Fraudar o pagamento de imposto devidopela entrada, saída ou consumo de mercadoria. Reclusão de 1 a 4 anos Aplicação do princípio da insignificância Princípio da Insignificância ou Princípio da Irrelevância Penal do Fato Os princípios da insignificância e da irrelevância penal do fato, a propósito, não ocupam a mesma posição topográfica dentro do Direito penal: o primeiro é causa de exclusão da tipicidade material do fato (ou porque não há resultado jurídico grave ou relevante ou porque não há imputação objetiva da conduta); o princípio da irrelevância penal do fato é causa excludente da punição concreta do fato, ou seja, de dispensa da pena (em razão da sua desnecessidade no caso concreto). Um afeta a tipicidade penal (mais precisamente, a tipicidade material); o outro diz respeito à (desnecessidade de) punição concreta do fato. O princípio da insignificância tem incidência na teoria do delito (aliás, afasta a tipicidade material e, em consequência, o próprio crime). O outro pertence à teoria da pena (tem pertinência no momento da aplicação concreta da pena). O primeiro tem como critério fundante o desvalor do resultado ou da conduta (ou seja: circunstâncias do próprio fato); o segundo exige sobretudo desvalor ínfimo da culpabilidade (da reprovação: primário, bons antecedentes etc.), assim como o concurso de uma série de requisitos post-factum que conduzem ao reconhecimento da desnecessidade da pena no caso concreto (pouco ou nenhum prejuízo, eventual prisão do autor, permanência na prisão por um fato sem grande relevância etc.). Opinião do jurista Luiz Flávio Gomes. Paulo Queiroz Alguns tribunais têm admitido o princípio da insignificância em crime de contrabando ou descaminho (CP, art. 334), quando o valor consolidado do tributo devido não exceda a R$ 10.000,00 (dez mil reais), atualmente R$ 20.000,00 (vinte mil reais), nos termos da Lei nº 10.522/02 e da Portaria MF nº 75/2012, que dispensam a execução forçada do crédito. A decisão é correta, mas a fundamentação é equivocada. Com efeito, não é o caso de incidência do princípio da insignificância, porque este tem por fundamento a absoluta irrelevância jurídico-penal da conduta, traduzida no desvalor da ação e resultado. Cuida-se de um postulado de política criminal que visa a afastar do âmbito penal condutas que, embora formalmente criminalizadas, não afetam significativamente o bem jurídico penal em causa. Afinal, se o direito penal, como ultima ratio do controle social formal, pudesse incidir sobre todo e qualquer comportamento, independentemente do grau de lesão que representa concretamente, violar- se-ia o caráter subsidiário do direito penal, cuja intervenção pressupõe o fracasso de outras formas de prevenção e controle social (civil, administrativa etc.). O direito penal é a fortaleza e os canhões dos demais direitos (Alfonso de Castro). Ocorre que, ao contrário da fundamentação invocada pelos tribunais, é, sim, claramente significativa uma quantia igual ou superior a R$ 10.000,00 (dez mil reais), tanto é assim que a Fazenda Nacional renuncia à só execução judicial do crédito, mas não aos diversos constrangimentos legais cabíveis, tais como: cobrança administrativa, lançamento do nome do devedor no CADIN (Cadastro Nacional de Inadimplentes), proibição de contratar com a Administração Pública etc. Não há perdão da dívida, nem renúncia às formais legais de constranger o devedor a pagar o débito para com a União. Trata-se, por conseguinte, de providência de caráter político-administrativo que, embora não afete a estrutura do crime, em especial, a tipicidade penal, repercute, diretamente, sobre a punibilidade do delito, por constituir uma causa especial de isenção de pena. Em suma, seja em razão do desvalor da ação, seja em virtude do desvalor do resultado, constitui uma impropriedade falar de princípio da insignificância em tais casos. Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência Art. 335 - Impedir, perturbar ou fraudar concorrência pública ou venda em hasta pública, promovida pela administração federal, estadual ou municipal, ou por entidade paraestatal; afastar ou procurar afastar concorrente ou licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem se abstém de concorrer ou licitar, em razão da vantagem oferecida. Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência • Art. 335 – Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência Este dispositivo foi revogado tacitamente pelos arts. 337-I e 337-K, CP. O artigo referia-se apenas à concorrência e leilão, excluídas as demais formas de licitação. Hoje é qualquer procedimento licitatório. A antiga Lei de Licitações (8.666/93), foi revogada pela Lei nº 14.133, de 1º abril de 2021 Sujeito ativo: qualquer pessoa, inclusive o funcionário público encarregado do certame. Sujeito passivo: Estado, através do responsável pelo processo licitatório. Havendo violência = concurso material de crimes. Inutilização de edital ou de sinal Art. 336 - Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado, por determinação legal ou por ordem de funcionário público, para identificar ou cerrar qualquer objeto: Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa. Inutilização de Edital ou de Sinal • Art. 336 – Inutilização de edital ou de sinal Trata-se de tipo penal misto alternativo e cumulativo. Este crime viola a integridade dos selos e sinais empregados para a identificação ou encerramento de qualquer objeto. Trata-se de crime comum, material, instantâneo, de forma livre, e plurissubsistente. Edital é o ato emanado de autoridade administrativa ou judicial para dar avisos e intimações (edital de citação; edital de casamento e de hasta pública; edital de concurso e concorrência pública). Transcorrido o prazo do edital o crime não subsiste (ex.: edital vencido que não foi retirado) Selo ou sinal: é a marca utilizada para identificar alguma coisa. Exs.: lacre de cofre, porta de estabelecimento comercial, ou de testamento; de farmácia pela Anvisa etc. Este crime pode concorrer materialmente com outros visados pelo agente: furto ou fraude processual. Rasgar ou, de qualquer forma, inutilizar ou conspurcar edital afixado por ordem de funcionário público; violar ou inutilizar selo ou sinal empregado ..... Subtração ou inutilização de livro ou documento Art. 337 - Subtrair, ou inutilizar, total ou parcialmente, livro oficial, processo ou documento confiado à custódia de funcionário, em razão de ofício, ou de particular em serviço público: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, se o fato não constitui crime mais grave. Subtração ou inutilização de livro ou documento Art. 337 – Subtração ou inutilização de livro ou documento Livro oficial é aquele criado por lei para registrar interesses da administração (livro de registro de fianças; de inquéritos civis e de sentenças); Processo pode ser legislativo, judicial ou administrativo (inquérito policial; ação penal; ação civil pública; comissão parlamentar de inquérito, sindicâncias etc); Documento é todo escrito de natureza pública ou de particular em serviço público (boletim de ocorrência, termo circunstanciado de ocorrência, prova de candidato em concurso público etc). Trata-se de crime comum (pode ser praticado por funcionário público), material e instantâneo. Artigo 305,CP Se o crime for praticado por qualquer pessoa que haja destruído documento público ou particular destinado à prova penal, com o fim de obter vantagem = art. 305, CP. (crime mais grave)Supressão de documento Art. 305 - Destruir, suprimir ou ocultar, em benefício próprio ou de outrem, ou em prejuízo alheio, documento público ou particular verdadeiro, de que não podia dispor: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa, se o documento é público, e reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é particular. Art. 314, CP Se o agente for servidor público, e o responsável pela guarda do objeto = art. 314, CP. Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou parcialmente: Pena - reclusão, de um a quatro anos, se o fato não constitui crime mais grave. Art. 356, CP Se o agente for advogado, e destruiu documento que recebeu na qualidade de procurador = art. 356, CP. Sonegação de papel ou objeto de valor probatório Art. 356 - Inutilizar, total ou parcialmente, ou deixar de restituir autos, documento ou objeto de valor probatório, que recebeu na qualidade de advogado ou procurador: Pena - detenção, de seis meses a três anos, e multa. Art. 155 x Art. 337, CP O furto de processo- crime configura este crime, e não o art. 155, CP (furto). Sonegação de contribuição previdenciária Art. 337-A. Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: I – omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informações previsto pela legislação previdenciária segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe prestem serviços; II – deixar de lançar mensalmente nos títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços; III – omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remunerações pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições sociais previdenciárias: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. Sonegação de Contribuição Previdenciária O delito a seguir protege o patrimônio da União através da Seguridade Social, que mantém obras assistenciais e demais necessidades públicas. Todo o aparato do sistema criminal brasileiro (Polícia, Ministério Público e Justiça Criminal) são chamados a obrigar os sujeitos passivos tributários a adimplir suas obrigações. • Art. 337-A – Sonegação de contribuição previdenciária Suprimir quer dizer não pagar a contribuição previdenciária. O sujeito passivo é o Estado, o INSS. I – folha de pagamento: é o montante total da remuneração que o empregador irá pagar aos trabalhadores colocados a seu serviço. Sonegação de Contribuição Previdenciária Empregado: o que presta serviços de natureza não eventual, mediante salário; Empresário: o titular de firma individual urbana ou rural; Trabalhador avulso: o trabalhador sem vínculo, como o rural e o estivador; Trabalhador autônomo: o que presta serviços sem relação de emprego: médico, dentista, pedreiro, advogado, taxista etc Equiparado ao autônomo: ministro religioso. II – O agente que não fizer constar na contabilidade da empresa as quantias que descontou dos segurados ou devidas pelo empregador ou tomador de serviços, estará sonegando. III – A receita é o faturamento da empresa ou do empregador, é o ganho bruto das vendas de mercadorias e serviços. Estes casos todos inferem que o crime é próprio, formal e instantâneo. Competência: Justiça Federal. § 1o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. Sonegação de Contribuição Previdenciária • Extinção da Punibilidade: § 1º “Extingue-se a punibilidade se o agente, de forma espontânea, declara e confessa as contribuições, importâncias e valores e presta as informações devidas à Previdência Social, consoante o definido em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal”. • A doutrina majoritária entende que o benefício deve ser concedido mesmo que tenha iniciado a ação fiscal, podendo ser, inclusive após o recebimento da denúncia ou queixa subsidiária. • Quando a dívida estiver sendo paga de forma parcelada fica suspenso o prazo prescricional bem como a pretensão punitiva do Estado. A extinção da punibilidade ocorre com a quitação integral do débito. § 2o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: I – (VETADO) II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. Sonegação de Contribuição Previdenciária • O § 2º refere-se ao perdão judicial (o juiz deixa de aplicar a pena) e ao privilégio (o juiz aplica somente a multa). Aplicada apenas se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que o valor das contribuições sonegadas sejam, nos termos do art. 20, da Lei n. 11.033/04,de valor consolidado igual ou inferior a R$ 10.000,00 (dez mil reais). Hoje é de R$ 20.000,00. • Na escolha do perdão judicial ou privilégio o juiz levará em conta os critérios do art. 59, CP. § 3º § 3o Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$ 1.510,00 (um mil, quinhentos e dez reais), o juiz poderá reduzir a pena de um terço até a metade ou aplicar apenas a de multa. § 3º - Causa de Diminuição da Pena A diminuição incidirá quando o empregador não for pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassar a R$ 1.510,00. Neste caso o juiz pode reduzir a pena de 1/3 até a ½ ou aplicar apenas a multa. § 4º § 4o O valor a que se refere o parágrafo anterior será reajustado nas mesmas datas e nos mesmos índices do reajuste dos benefícios da previdência social. § 4º - Trata do valor do § 3º (R$ 1.510,00), que será reajustado nas mesmas datas e nos índices do reajuste da previdência social. R$ 5.155,31 DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO Publicado em: 16/01/2019 | Edição: 11 | Seção: 1 | Página: 25 Órgão: Ministério da Economia/Gabinete do Ministro PORTARIA Nº 9, DE 15 DE JANEIRO DE 2019 Dispõe sobre o reajuste dos benefícios pagos pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS e dos demais valores constantes do Regulamento da Previdência Social - RPS. Art. 9º. A partir de 1º de janeiro de 2019: Letra c VI - o valor de que trata o § 3º do art. 337-A do Código Penal, aprovado pelo Decreto- Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, é de R$ 5.155,31 (cinco mil cento e cinquenta e cinco reais e trinta e um centavos); Reingresso de estrangeiro expulso Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi expulso: Pena - reclusão, de um a quatro anos, sem prejuízo de nova expulsão após o cumprimento da pena. Reingresso de Estrangeiro Expulso • Art. 338 – Reingresso de estrangeiro expulso Estrangeiro é aquele que possui vínculo com outro Estado soberano, e não é considerado brasileiro. A Expulsão nada mais é que a exclusão do estrangeiro que apresenta indícios sérios de periculosidade ou indesejabilidade no País - (art. 54 da Lei n. 13.445/2017). • Trata-se de crime de mão própria; material/formal, instantâneo/permanente, que admite tentativa. • Competência para processo: Justiça Federal • Nova expulsão após o cumprimento da pena: não constitui embis in idem, uma vez que a Lei de Migração admite que nova expulsão seja decretada. • O que se pune é o ingresso e não a recusa em sair do país. • Estrangeiro deportado ou extraditado que reingressa ao Brasil: não há crime. Da Expulsão – Lei nº 13.455/2017 Art. 54. A expulsão consiste em medida administrativa de retirada compulsória de migrante ou visitante do território nacional, conjugada com o impedimento de reingresso por prazo determinado. § 1º Poderá dar causa à expulsão a condenação com sentença transitada em julgado relativa à prática de: I - crime de genocídio, crime contra a humanidade, crime de guerra ou crime de agressão, nos termos definidos pelo Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional, de 1998, promulgado pelo Decreto nº 4.388, de 25 de setembro de 2002 ; ou II - crime comum doloso passível de pena privativa de liberdade, consideradas a gravidade e as possibilidades de ressocialização em território nacional. § 2º Caberá à autoridade competente resolver sobre a expulsão, a duração do impedimento de reingresso e a suspensão ou a revogação dos efeitos da expulsão, observado o disposto nesta Lei. Art. 339. Dar causa à instauração de inquérito policial, de procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: (Redação dada pela Lei nº 14.110, de 2020) CUIDADO! O caput foi alterado em 2020 Denunciação Caluniosa • Art. 339 – Denunciação caluniosa No Império Romano a pena do denunciante caluniador era feita através de talião (a mesma pena do crime falsamente imputado). Esta medida foi adotada no Brasil nos Códigos de 1830 e 1890. Para que o delito possa ser caracterizado, dois são os requisitos: Imputação falsa de um crime, infração ético-disciplinar ou ato de improbidade a alguém, sabendo-o inocente (conduta); e provocar a instauração de investigação ou processo (resultado). É uma espécie de calúnia levada ao conhecimento do delegado, juiz ou promotor. Sendo apenas calúnia o delito é do art. 138, CP. Acrescida da comunicação à autoridade = denunciação caluniosa. O agente imputa um crime ao ofendido, sabendo-o inocente (dolo direto). Sendo crime, infração ético-disciplinar ou ato ímprobo o fato imputado = art. 339, caput; sendo contravenção = art. 339, § 2º. Denunciação Caluniosa Também respondem as autoridades se souberem que a pessoa é inocente, e mesmo assim determinarem a instauração de procedimentos policiais, judiciais e administrativos (abuso de autoridade). O agente pode ele próprio levar o fato ao conhecimento do Delegado de Polícia, ou espalhar a notícia, para que terceira pessoa, não ciente da mentira, comunique o fato à Polícia. Pode, ainda, o fato ser comunicado através de denúncia anônima (neste caso aplicar-se-lhe-ia a causa de aumento do § 1º). Não caracteriza o delito se a denúncia referiu-se a crime acobertado por causa excludente da ilicitude; culpabilidade; escusa absolutória ou extinção da punibilidade. Pode ocorrer o crime se o agente imputa a alguém fato mais grave que o praticado (roubo, quando era furto). Recaindo a imputação sobre circunstância de crime, não haverá denunciação caluniosa (motivo fútil ou torpe do homicídio). Denunciação Caluniosa • Procedimentos legais, constitui um numerus clausus: • Inquérito Policial: é aquele procedimento administrativo presidido pelo Delegado de Polícia na apuração de um crime e sua autoria. • Procedimento Investigativo Criminal (PIC): realizado pelo Ministério Público . • Processo Judicial: ação penal, ou processo-crime. • Processo Administrativo Disciplinar: Instauração de processo administrativo disciplinar, desde que a falsa imputação envolva uma infração ético-disciplinar ou ato ímprobo. • Inquérito Civil: é a investigação instaurada pelo MP visando apurar danos efetivos ou potenciais a interesses difusos e coletivos (crime ambiental). • Ação de Improbidade Administrativa: Definida na Lei nº 8.429/92. Denunciação Caluniosa Réu ou Testemunha que respondendo a perguntas, imputa falsamente um crime a alguém, responderá apenas pelo art. 138, CP (réu), ou art. 342,CP (testemunha), e não por denunciação caluniosa (que exige que o agente dê causa espontânea à investigação ou processo). Caso o réu, num processo crime, acusar pessoa que sabe inocente como sendo seu coautor ou partícipe, responderá por denunciação caluniosa. Sua intenção neste caso não é defender-se, mas acusar falsamente a alguém. Caso alguém delate um inocente, crendo-o culpado (dolo eventual), não cometeria este crime. Sendo o dolo subsequente (soube depois que a pessoa era inocente): Não há crime (Estefam). Há crime (Greco). Trata-se de tipo penal misto alternativo. Crime é material. A decisão final no processo contra o denunciante deve aguardar o prévio reconhecimento judicial da inocência do denunciado, quando instaurado processo contra este (Hungria, Noronha e Estefam). Comunicação falsa de crime ou de contravenção • Art. 340 – Comunicação falsa de crime ou de contravenção • Conduta: Consiste o delito em comunicar à autoridade pública crime ou contravenção que sabe que não ocorreu. (dolo direto) • Resultado: O delegado (ao elaborar o boletim de ocorrência), o juiz e o promotor (ao requisitarem a instauração de inquérito). • Havendo dúvida quanto ao crime: Inexiste o art. 340, que somente pode ser doloso. • Este crime gera um prejuízo presumido a toda a sociedade, uma vez que desvia o sistema judiciário penal para investigar crime ou contravenção inexistente. • A comunicação pode ser escrita ou oral. • Trata-se de crime comum, material, instantâneo, que admite a tentativa. • Inexiste o crime do art. 340, se o agente comunica um delito que tenha sido alcançado pela prescrição, escusa absolutória etc. Comunicação falsa de crime ou de contravenção Empregado que falsamente comunica um roubo ao dinheiro que transportava, com o fim de impedir que se descubra que dele se apoderara: Responderá pelo art. 168 + 340, CP (concurso material). Agente que comunica falsamente o furto de seu veículo para receber o prêmio do seguro veicular: Responderá pelo art. 171, § 2º, V, CP, em concurso material com o art. 340, CP (Noronha, Fragoso, Mirabete e Rios Gonçalves). Arrependimento Eficaz (art. 15, CP): Admite-se, se logo após a comunicação , e antes de se praticar qualquer ato executório, o sujeito revela a falsidade da infração comunicada. O agente não responderá pelo crime. Autoacusação Falsa • Art. 341 – Autoacusação falsa É a pessoa que se acusa perante a autoridade, de um crime inexistente ou praticado por outrem. Esta autoincriminação não abrange as figuras contravencionais. Autoridade: policial, judiciária ou ministerial. É mister que o fato chegue ao conhecimento da autoridade. Não sendo autoridade: atípico. • Pode ocorrer quando o sujeito assume a autoria de um crime praticado por terceira pessoa, com o intuito de acobertá-la, desde que o sujeito não tenha participado do crime como coautor ou partícipe. • Trata-se de crime comum, formal, instantâneo e que admite a tentativa, embora de difícil ocorrência (por escrito). • Atribuir a si e a terceiro a prática de um crime inexistente: arts. 339 e 341, em concurso formal. Autoacusação falsa Na denunciação caluniosa o agente imputa falsamente um crime ou contravenção a uma terceira pessoa, que sabe ser inocente, dando causa à instauração de investigação ou processo legal. Na falsa comunicação de crime ou contravenção, a falsidade recai sobre o fatonoticiado, sem que o mesmo seja atribuído a alguém. Na autoacusação falsa, por sua vez, o próprio autor da denúncia atribui a si mesmo a prática de um crime inexistente, ou cometido por terceira pessoa. Falso Testemunho ou Falsa Perícia Art. 342 – Falso testemunho ou falsa perícia • Nas legislações antigas (XII Tábuas e Manu) e durante a Idade Média era conhecido este delito como perjúrio. • As Ordenações Afonsinas e Manuelinas mandavam açoitar e cortar a língua da testemunha falsa. As Filipinas ordenavam a morte e a perda dos bens. • O Código Criminal do Império tinha-o como crime contra a boa ordem e Administração Pública. • Ocorre o delito quando a testemunha, o perito, o contador, o tradutor ou o intérprete deturpa (afirma uma inverdade), contraria (diz não saber o que sabe) ou omite (silencia a respeito do que sabe) a verdade em processo judicial ou administrativo, inquérito policial ou juízo arbitral. • Trata-se de crime de mão própria, formal. Não admite a tentativa. • Trata-se de tipo penal misto alternativo (pois mais de uma conduta leva a crime único). Falso Testemunho ou Falsa Perícia Sedes do falso testemunho: • Processo judicial: penal, civil ou trabalhista (Justiça Federal); • Inquérito Policial: inquérito policial comum e militar; • Processo administrativo: processo administrativo disciplinar, excluído o inquérito civil; • Juízo arbitral: regulamentado pela Lei nº 9.307/96; • Inquérito parlamentar: art. 4º, II, Lei nº 1.579/52. Recusar-se a testemunhar nada tem a ver com o falso testemunho. É necessário que o fato falsificado tenha relevância jurídica para a apuração, pois se for irrelevante para o deslinde da causa, considera-se crime impossível por absoluta ineficácia do meio. Falso é aquilo que não corresponde à realidade. Opinião da testemunha não configura o falso testemunho. Falso Testemunho ou Falsa Perícia A testemunha pode estar mentindo para não se autoincriminar, o que seria um direito seu. Ex.: Dizer que estava no bar com amigos, quando estava com a amante. O informante pode cometer o crime de falso testemunho, uma vez que não presta o compromisso de dizer a verdade? = Como o compromisso não é elementar do tipo, pode. Esta é a posição respeitada da doutrina, que entende não ser necessário o compromisso para a configuração do delito (Hungria, Noronha, Damásio). Existe posição contrária (Fragoso). • É possível o concurso de agentes no crime de falso? Co-autoria não, somente a participação (crime de mão própria). Competência para apuração: Justiça Estadual ou Federal. Quando em carta precatória: cabe ao juízo deprecado, onde foi colhido o depoimento, processar o julgar o crime de falso cometido em carta precatória. Falso testemunho em inquérito policial: Aplica-se a figura do caput. Testemunha que mente por estar sendo ameaçada de morte: não há falso testemunho. FALSO TESTEMUNHO • Caso a testemunha mentir por estar sendo ameaçada de morte, não cometerá o crime de falso testemunho; mas o autor da ameaça responderá por coação no curso do processo (art. 344, CP). Ademais, o caso poderia ser resolvido pelo art. 22, CP. • Caso o agente depuser falsamente em várias fases do processo (incluindo a do inquérito policial), responderá por um único crime. • A ação penal por crime de falso testemunho pode ser iniciada antes da decisão do processo onde se deu o perjúrio? Pode, mas deve-se aguardar a decisão daquele, uma vez que poderá ocorrer a retratação (STJ). Falso Testemunho ou Falsa Perícia • Retratação: Havendo retratação do agente que falseou a verdade, ocorrerá causa extintiva da punibilidade do mesmo. Entretanto, é necessário que o agente diga a verdade antes da prolatação da sentença do processo em que mentiu ( § 2º ). A retratação se comunica às demais pessoas que tenham concorrido para o crime, pois a lei diz que “o fato deixa de ser punível”. Esta é a posição de Noronha, Delmanto, Mirabete e Damásio. Exemplo: A dá dinheiro a B para mentir em juízo. B comete o crime de falso testemunho, e depois se retrata. A também será beneficiado pela retratação de B. Há posição contrária (Hungria e Fragoso). Corrupção ativa em relação à testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete • Art. 343 – Este delito é uma espécie de corrupção ativa em relação à testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete, onde o corruptor dá, oferece ou promete dinheiro ou outra vantagem aos mesmos, para que estes deturpem, contrariem ou omitam a verdade. • A forma tentada somente será admitida no verbo dar. Nas demais condutas, quando forem escritas. • Trata-se de crime comum, formal e instantâneo. • Sendo oficial (func. púb.) o perito, contador, tradutor ou intérprete, o crime será o do art. 333, CP. • Inexiste a retratação. • Este delito é uma exceção pluralista à teoria unitária ou monista quanto à culpabilidade do agente. • Corrupto = art. 343, CP • Corrompido = art. 342, § 1º, CP Coação no curso do processo • Art. 344 – Coação no curso do processo • Consiste no emprego de violência ou grave ameaça contra a autoridade (juiz, promotor, delegado, desembargador), parte (autor, réu, assistente acusação), ou qualquer outra pessoa chamada a intervir (escrevente, jurado, testemunha, perito), visando o favorecimento de interesse próprio ou alheio (de qualquer natureza). • Processo judicial: penal, civil ou trabalhista (Justiça Federal); • Inquérito Policial: inquérito policial comum e militar; • Processo administrativo: processo administrativo disciplinar, excluído o inquérito civil; • Juízo arbitral: dirimir extrajudicialmente as lides relativas a direitos patrimoniais disponíveis, regulamentado pela Lei nº 9.307/96; • Inquérito parlamentar: art. 4º, II, Lei nº 1.579/52. Se for inquérito parlamentar aplicam-se as penas do art. 329, CP. O rol é taxativo. Fora destes casos o delito poderá ser o de ameaça (art. 147, CP) Coação no curso do processo • Trata-se de crime comum, formal, instantâneo, admite a tentativa. • É condição essencial que o autor esteja de alguma forma vinculado ao processo judicial, inquérito policial, processo administrativo ou ao juízo arbitral. • Caracteriza o crime mesmo quando a intimidação seja utilizada pelo agente no caso de uma conduta ilícita da parte que funcionará na decisão do processo (autor que sabe de um crime praticado pelo juiz). • Havendo violência física = concurso material com o art. 129, CP. • As vias de fato são absorvidas pela elementar violência. • Inexistindo inquérito policial ou processo judicial em andamento ou não estando o autor a eles vinculado = o delito será o de ameaça, lesão corporal, homicídio ou vias de fato. Exercício arbitrário das próprias razões Art. 345 - Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou multa, além da pena correspondente à violência. Parágrafo único - Se não há emprego de violência, somente se procede mediante queixa.
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