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Administração de Recursos e Aplicações Financeiras Administração de Recursos e Aplicações Financeiras Organizado por Universidade Luterana do Brasil Universidade Luterana do Brasil – ULBRA Canoas, RS 2018 Prof. Ms Jorge Steyer Prof. Ms Luiz Fernando Barcellos dos Santos Conselho Editorial EAD Ana Patricia Barbosa Andréa de Azevedo Eick Astomiro Romais Claudiane Furtado Italo Ogliari Juliane Maria Puhl Gomes Lourdes da Silva Gil Luiz Carlos Specht Filho Maria Cleidia Klein Oliveira Rafael da Silva Valada Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da ULBRA. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal. Dados técnicos do livro Diagramação: Jonatan Souza e Marcelo Ferreira Revisão: Geórgea Píppi O conteúdo desta obra tem por objetivo apresentar aos alunos os prin-cípios sobre a administração financeira com foco no longo prazo, abrangendo a análise, as decisões de investimentos e as decisões sobre a fontes de recursos para financiar sua atividade e avaliar, através de técnicas especiais, a viabilidade de aceitar ou rejeitar a implantação de determina- dos projetos. Para trabalhar na área financeira, em uma organização empresarial, o gestor deve reunir conhecimentos relacionados ao ambiente financeiro, e, para tanto, faz-se necessário apresentar o Sistema Financeiro Nacional, o qual é descrito no Capítulo 1, detalhando-se as suas funções e caracte- rísticas. O Capítulo 2 aborda o conhecimento sobre um dos aspectos muito importantes na administração financeira, relacionado com os conceitos de matemática financeira, com destaque para cálculo de juros, de fluxo de caixa e fatores de capitalização. Lembre-se que a utilização da matemática financeira é uma das ferramentas básicas para se trabalhar com as técnicas de análise de investimento de capital descritas no Capítulo 3. Os Capítulos 4, 5 e 6 abordam os aspectos do orçamento de capital, incluindo referências sobre depreciações e seus efeitos sobre o aspecto econômico e o efeito sobre o fluxo de caixa de um projeto de investimentos e, também, sobre comparabilidade entre as várias alternativas de investi- mentos. Na sequência, a partir do Capítulo 7, a abordagem será sobre a apre- sentação de alguns fatores determinantes para se avaliar o custo de capital de um projeto, considerando a possibilidade de captação entre as várias Apresentação Apresentação v fontes de recursos existentes no mercado, com destaque para ações, debên- tures, lucros retidos e outras origens, cada qual com seu custo específico. Os Capítulos 8 e 9 abordam os princípios de investimentos e as princi- pais operações relacionadas ao Mercado de Capitais enfocando não só a visão por parte da empresa, mas também o lado do investidor. Por fim, o Capítulo 10 apresenta as principais operações de financia- mento para atender ao suprimento de recursos financeiros na empresa. Esta obra foi desenvolvida com o objetivo principal de proporcionar aos alunos uma visão geral sobre as decisões de investimentos, bem como sobre fontes de financiamentos, com foco no longo prazo, apresentada de uma forma simples e objetiva, que possibilita ao leitor sua aplicação prática a partir dos conceitos aqui desenvolvidos. Para facilitar a compreensão dos conteúdos, em cada capítulo o aluno encontrará exercícios, atividades de pesquisa e indicação de leituras com- plementares, bem como fontes bibliográficas adicionais. Sobre os Autores Prof. Ms Jorge Steyer Graduado em Administração pela Faculdade de Ciências Econômi- cas da UFRGS (1968) e Ciências Contábeis pela Faculdade Paulo Eiró-SP (1981). Curso de pós-graduação em Finanças pela PUC-RS (1986) e em Con- troladoria e Auditoria pela FGV-SP (2013). Mestrado pela UCES-UNIVER- SIDAD DE CIENCIAS EMPRESARIALES E SOCIALES- Argentina (2001) e pela UNIVERSIDADE FERNANDO PESSOA – Cidade do Porto – Portugal (2001). Acumula larga experiência na área da Administração, com ênfase em Gestão Financeira e Contábil, em empresas de grande porte. Atua na do- cência desde 1991, ministrando disciplinas de Fundamentos de Contabi- lidade, Estrutura e Análise de Balanços, Teoria da Contabilidade, Gestão de Custos, Administração Financeira, Gestão Orçamentária, entre outras. Prof. Ms Luiz Fernando Barcellos dos Santos Mestre em “Management y Marketing Estratégico”, administrador, téc- nico contábil, com cursos de pós-graduação em estratégia empresarial e fi- nanças. Além da atividade de professor, atua na Planad Gestão e Negócios Ltda., empresa de consultoria em gestão de custos e preços, planejamento e gestão financeira, com vivência nessas áreas há mais de 20 anos. Como professor na Ulbra ministra as disciplinas de Administração Organizacio- nal, Administração do Capital de Giro, Fundamentos de Custos Orçamen- tos e Preços, Contabilidade Gerencial (EAD), Gerenciamento de Custos e Riscos (EAD), Administração de Recursos e Aplicações Financeiras, Estrutu- ra das Demonstrações Contábeis (curso de ciências contábeis) e, orienta- Sobre os Autores vii ção de trabalhos de conclusão. É professor nos cursos de pós-graduação em controladoria e finanças e em estratégia empresarial nas disciplinas de orçamento e controladoria, gestão estratégica em finanças, e gestão financeira e custos. 1 Administração Financeira ......................................................1 2 Juros e Fatores de Capitalização .........................................30 3 Orçamento de Capital ........................................................76 4 Técnicas de Análise de Invetimentos ..................................103 5 Depreciação e Efeitos no Fluxo de Caixa ...........................126 6 Comparabilidade entre as Alternativas de Investimentos ...149 7 Custo do Capital ...............................................................173 8 Princípios de Investimentos – Mercado de Capitais ............212 9 Operações no Mercado de Capitais – Conceitos Básicos ....239 10 Operações de Financiamento – Conceitos Básicos .............271 Sumário Administração Financeira Luiz Fernando Barcellos dos Santos Atualizado por Jorge Steyer Capítulo 1 2 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras Introdução O administrador financeiro tem como objetivo a maximização do lucro, através da aplicação de medidas de eficácia econô- mica, para proporcionar a geração da riqueza da empresa e, por consequência, a dos acionistas também. Seu envolvimento é cada vez maior no ambiente dos negócios, participando de muitas decisões, principalmente estratégicas, selecionando al- ternativas de investimentos e definindo fontes de financiamen- tos, tanto de curto prazo quanto de longo prazo, para poder cumprir a grande responsabilidade pela criação de valor. As decisões de investimentos são fundamentais para a forma- ção do Ativo da empresa. As decisões de financiamento se relacionam com a pesquisa, a análise e a escolha de fontes de recursos, principalmente de longo prazo, para serem alocadas na formação dos investimentos, tanto de capital fixo quanto de capital de giro da empresa. A decisão de investimento está vinculada a toda a aplica- ção de capital para a formação do Ativo, quer seja tangível ou não, e tem por objetivo trazer o retorno futuro nos níveis desejados pela empresa. Vejamos o quadro a seguir: Capítulo 1 Administração Financeira 3 Quadro 1 Decisão de investimento ATIVO Questões a serem respondidas ATIVO CIRCULANTE Disponível Créditos Estoques Outros créditos ATIVO NÃO CIRCULANTERealizável a longo prazo Investimentos Imobilizado Intangível - Onde estão aplicados os recursos financeiros? - Quanto está aplicado em ativos circulantes? - Quanto está aplicado em ativos fixos? Em quais? - Qual é a melhor composição dos ativos? - Qual é o retorno do investimento? - Quais são as novas alternativas de investimentos? - Como decidir em quais ativos investir? - Como maximizar a rentabilidade dos investimentos existentes? Fonte: adaptado de Lemes Junior, 2005, p. 7. A decisão de financiamento, outro grande dilema do ad- ministrador financeiro, vincula-se aos procedimentos para composição de recursos da empresa que integram o Passivo, demonstrado na estrutura do Balanço Patrimonial. Os finan- ciamentos representam as captações de recursos financeiros e evidenciam as obrigações e os aportes dos recursos próprios, carreados pelos sócios e/ou acionistas, bem como a retenção dos lucros. Vejamos o quadro a seguir: 4 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras Quadro 2 Decisão de financiamento PASSIVO Questões a serem respondidas PASSIVO CIRCULANTE - Fornecedores - Empréstimos bancários - Contas a pagar (curto prazo) PASSIVO NÃO CIRCULANTE - Financiamentos bancários - Emissão de debêntures PATRIMÔNIO LÍQUIDO - Capital Social - Reservas de capital - Reservas de lucros - Prejuízos acumulados - Qual é a estrutura de capital? - De onde vem os recursos financeiros? - Qual é a participação de capital próprio? - Qual é a participação de capital de terceiros? - Qual é o perfil do endividamento? - Qual é o custo do capital? Como reduzi-lo? - Quais são as fontes de financiamento utilizadas e seus respectivos custos? - Quais deveriam ser substituídos ou eliminados? - Qual é o risco financeiro? - Qual é o sincronismo entre os vencimentos das obrigações e a geração de meios de pagamentos? Fonte: adaptado de Lemes Junior, 2005, p. 8. A função do administrador financeiro (CFO- Chief Finan- cial Officer), definida no organograma geral da empresa, normalmente no cargo de Diretor Financeiro, abrange duas grandes funções: a Tesouraria e a Controladoria, conforme demonstrado, sucintamente, a seguir: Quadro 3 Simulação da estrutura do Diretor Financeiro Diretor Presidente (CEO) Diretor Financeiro (CFO) Tesouraria Controladoria Exemplo de funções - Atividades de caixa - Administração dos créditos - Administração dos riscos - Administração dos estoques - Decisões de investimentos - Decisões de financiamentos - Relacionamento com bancos - Relações com acionistas Exemplo de funções - Gestão de custos e preços - Gestão de impostos - Gestão contábil - Planejamento - Relatórios gerenciais - Sistema de informações Fonte: elaborado pelo autor. Capítulo 1 Administração Financeira 5 O domínio do conhecimento da Ciência Contábil, comple- mentado pelo domínio da Matemática Financeira, é de vital importância para que o Administrador Financeiro possa alcan- çar a performance e a eficácia desejada para o bom desem- penho das suas atividades na função financeira da empresa. O conhecimento contábil é de vital importância para o ges- tor financeiro, pois todas as suas comunicações se relacionam com a estrutura das Demonstrações Contábeis. As informações contábeis são verdadeiras ferramentas na mão do gestor financeiro, visto que lhe proporcionam inúmeros indicadores econômico-financeiros absolutamente necessários para o bom desempenho de sua gestão, sem contar que são fontes permanentes de subsídios para os trabalhos de planeja- mento econômico e financeiro. Também servem de apoio nas tomadas de decisões, sem contar a grande contribuição obtida com as Demonstrações Contábeis para fomentar as atividades do planejamento estratégico geral da empresa. Em comple- mento, a governança corporativa se fortalece mediante o uso das informações contábeis, que devem refletir transparência e ética em todos os procedimentos relativos aos registros, ao controle e à auditoria em suas contas. As Demonstrações Contábeis devem fazer parte do conhe- cimento e das habilidades dos administradores financeiros e são constituídos pelos seguintes relatórios: - DRE - Demonstração do Resultado do Exercício; - Balanço Patrimonial; 6 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras - DMPL - Demonstração das Mutações do Patrimônio Lí- quido; - DL(P)A - Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumu- lados; - DFC - Demonstração dos Fluxos de Caixa; - DVA - Demonstração do Valor Adicionado; - NE - Notas Explicativas; - RD - Relatório da Diretoria; - RA - Relatório da Auditoria Externa; - CF - Parecer do Conselho Fiscal (quando instalado). Estes relatórios formam o conjunto denominado “Demons- trações Contábeis”, que devem ser preparadas, anualmente, ao final de cada exercício. O conjunto de relatórios, acima indicado, via de regra, é obrigatório para as Sociedades de Anônimas de capital aberto, e também para as grandes em- presas com Patrimônio Líquido superior a R$ 2,0 milhões. As Demonstrações Contábeis são fonte permanente de da- dos e informações para as atividades de análise econômico- -financeira. Considerando que este assunto é apresentado em outra disciplina, aqui será apenas mencionado como condição para diagnosticar sobre o desempenho alcançado e servir de base para os trabalhos das projeções futuras. Resumidamente, os principais indicadores são: - Análise horizontal; Capítulo 1 Administração Financeira 7 - Análise vertical; - Índices de liquidez; - Indicadores de atividade; - Indicadores de endividamento e estrutura de capitais; - Indicadores de rentabilidade; - Indicadores de lucratividade; - Análise da necessidade de capital de giro. Em complemento, existem outras possibilidades de se pro- ceder a diversas análises com dados e informações oriundas da Contabilidade de Custos, nas empresas industriais, poden- do-se calcular o ponto de equilíbrio, custo-volume-lucro e ala- vancagem operacional, entre outros indicadores. 1 Sistema Financeiro Nacional O objetivo deste módulo consiste em descrever, de forma resu- mida, quais são os órgãos e o sistema de operação do Siste- ma Financeiro Nacional, identificando órgãos mais importan- tes do sistema. O Sistema Financeiro Nacional foi criado em 1964, pela Lei de Reforma Bancária do Sistema n.º 4.595/64, e é constituído por um conjunto de instituições financeiras, pú- blicas e privadas, que atuam por meio de diversos instrumen- tos financeiros na captação de recursos, na distribuição e na transferência de valores entre os agentes econômicos. 8 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras 1.1 Ambiente Econômico Passamos por vários períodos que mexeram com a nossa eco- nomia como a ditadura militar, períodos de inflação altíssima e diversos planos econômicos (alguns inacreditáveis), e sobre- vivemos. Certo ou errado, o ponto importante a ressaltar é que sempre tivemos regras e elas foram se ajustando confor- me as regras de mercado. Algumas regras criadas na época da ditadura, por exemplo, foram extremamente protecionistas, outras desenvolvimentistas, etc. Mais tarde, com a abertura econômica, a situação mudou e podemos dizer que fomos atropelados, forçados a entrar na globalização e, por con- sequência, no jogo duro do mercado internacional. Também fomos, durante muitos anos, tutelados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). O Brasil, assim como a maioria dos países emergentes nos anos de 2006, 2007 e até a metade de 2008, colheu excelen- tes frutos com o desenvolvimento econômico mundial. O Brasil em especial que, de uma posição de tomador de recursos no mercado internacional, pagou sua dívida externa e passou a ser investidor. No geral, os países emergentes vinham crescen- do ataxas acima de 6% ao ano, em média. O Brasil também cresceu, em menor ritmo (aproximadamente 4,5% em 2008), e com este desempenho houve em parte uma consolidação da economia. No segundo semestre de 2008, o mundo todo se deparou com uma crise financeira sem precedentes, a qual teve sua origem nos Estados Unidos, seguindo como um efeito dominó aos demais países ditos como “Ricos”. Capítulo 1 Administração Financeira 9 No Brasil, os efeitos dessa crise tiveram um menor impacto em função de estarmos estruturados, mas também estamos sofrendo. A grande diferença é que hoje (abril/2009) somos credores do Fundo Monetário Internacional. (Revista exame edição primeira quinzena de 2009). Ao concluir a leitura deste capítulo, a análise até aqui des- crita em termos de cenário econômico talvez tenha mudado para melhor ou para pior, e esta leitura de cenário se faz ne- cessária para a gestão dos negócios. Em função das inúmeras mudanças na área econômica, o sistema financeiro nacional é um dos mais versáteis do mundo e se adapta a tudo. Para entendermos melhor o que é o Sistema Financeiro Na- cional, podemos defini-lo como um conjunto de instituições que geram e trabalham para o funcionamento da política eco- nômica do país. O Sistema Financeiro faz parte da dinâmica econômica que em decorrência de qualquer movimentação de compra, venda ou troca de mercadorias ou serviços, haja uma opera- ção de natureza monetária envolvendo algum intermediário financeiro: um cheque a receber ou a depositar, uma duplicata para ser descontada, uma transferência de dinheiro de uma conta para outra, ou uma operação de crédito para antecipar a realização de um negócio. Quaisquer fatos econômicos, sejam eles de transformação, circulação ou consumo, são suficientes para gerar movimen- tações do mercado financeiro. Por isso, é fundamental a es- 10 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras tabilidade do sistema que interliga essas operações, para a segurança das relações entre os agentes econômicos. 1.2 Intermediários Financeiros Existem diversos personagens no mercado financeiro, alguns com excesso de recursos e dispostos a investi-los, visando uma remuneração para o seu capital; outros precisando de recur- sos, visando atender às suas necessidades de caixa. Vejamos a seguir alguns deles: a) Tomadores São aqueles que se encontram em posição de déficit fi- nanceiro, ou seja, são os agentes deficitários, que pretendem gastar valores, em consumo ou na realização de algum inves- timento, maiores do que sua renda. São aqueles que pagam juros pela utilização dos recursos tomados por algum tempo. Eles precisam de capital adicional para girar seus negócios e, para tanto, estão dispostos a pagar o encargo (taxas, juros, etc.) pelo capital que obtiveram. b) Poupadores São aqueles que se encontram em uma situação inversa, de superávit financeiro, ou seja, são os agentes superavitários, que pretendem gastar em consumo ou na realização de inves- timentos, valores menores que a sua renda; são identificados como os investidores. Estão dispostos a emprestar esse capital excedente (poupado) e querem receber juros, a título de re- muneração, pelo empréstimo. É preciso entender que, para se Capítulo 1 Administração Financeira 11 chegar ao ponto de poder fazer “poupança”, a renda deve ser maior que o consumo para que possa haver alguma “sobra”. c) Os Intermediários Financeiros Existem, ainda, os intermediários financeiros que também compõem e integram o SFN - Sistema Financeiro Nacional, que se dedicam, de alguma forma, ao trabalho de propiciar condições satisfatórias para a manutenção de um fluxo de re- cursos financeiros entre os tomadores e os poupadores (inves- tidores) capazes, portanto, de financiar o crescimento da eco- nomia. Os intermediários financeiros são o bancos, que fazem a intermediação dos recursos entre os tomadores e os pou- padores e são remunerados pela cobrança dos seus serviços bancários. Essa remuneração é denominada de spread, que é o valor cobrado pelo banco, na condição de intermediário financeiro, pelos seus serviços de intermediação e representa a diferença entre o valor dos juros cobrados dos tomadores (des- pesas financeiras) e o valor dos juros pagos aos poupadores (rendimento para os investidores). 1.3 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional - SFN Conforme visto, o SFN é composto por um conjunto de institui- ções financeiras. Estas podem ser apresentadas, segundo sua autoridade e função, como: a) Órgãos Normativos: compondo o subsistema nor- mativo, constituído pelo CMN - Conselho Monetário Nacional, pelo Conselho Nacional de Seguros Priva- 12 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras dos – CNSP e pelo Conselho de Gestão e Previdência Complementar - CGPC; b) Órgãos de Intermediação: compondo o subsistema de intermediação, constituído por instituições financeiras bancárias, por instituições financeiras não bancárias, pelo Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos - SBPE, por instituições auxiliares, e por instituições não financeiras. Segue a apresentação de forma mais detalhada sobre cada uma dessas instituições: 1.3.1 Conselho Monetário Nacional O Conselho Monetário Nacional (CMN), que integra o Subsis- tema Normativo, é o órgão máximo do Sistema Financeiro Na- cional, e sua missão é estabelecer as diretrizes gerais do siste- ma financeiro. Esse órgão foi criado pela lei n.º 4.595/1964; é composto pelo Ministro da Fazenda, pelo Ministro do Plane- jamento, Orçamento e Gestão, pelo Presidente do Banco Cen- tral do Brasil (BACEN) e por outras entidades representativas do Sistema Financeiro Nacional. De acordo com Assaf Neto (2017, p. 20), ao CMN - Con- selho Monetário Nacional, compete: a) Estabelecer as condições gerais de constituição, fun- cionamento e fiscalização das instituições financeiras voltadas ao bom funcionamento do sistema financeiro; Capítulo 1 Administração Financeira 13 b) Controlar o volume de dinheiro da economia (meios de pagamento); c) Avaliar e zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras; d) Coordenar as políticas monetária, cambial, de crédito e da dívida pública interna e externa. 1.3.2 Banco Central do Brasil (BACEN) Autarquia vinculada ao Ministério da Fazenda, é o principal órgão executivo do CMN, esse pode ser definido como uma entidade supervisora ou um órgão de fiscalização. Atua de for- ma independente, sendo o principal executor das orientações do CMN e responsável por garantir o poder de compra da moeda nacional. Dentre suas atribuições, estão: a) Autorizar o funcionamento e fiscalizar as instituições financeiras; b) Efetuar operações de compra e venda de títulos públi- cos federais; c) Receber recolhimentos compulsórios e voluntários das instituições financeiras e bancárias; d) Realizar operações de redesconto e empréstimo às ins- tituições financeiras; e) Exercer o controle de crédito e da movimentação de capitais estrangeiros; 14 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras f) Emitir moeda (papel-moeda e moeda metálica), se- guindo deliberação do CMN. 1.3.3 Comissão de Valores Mobiliários - CVM: Responsável por regulamentar, desenvolver, controlar e fiscali- zar o mercado de valores mobiliários do país. É vinculada ao Ministério da Fazenda e foi instituída pela lei n.º 6.385/1976. Essa entidade promove medidas incentivadoras para a canali- zação da poupança ou do Mercado de Capitais. As principais funções da CVM são: a) Assegurar o funcionamento eficiente dos Mercados de Capitais (bolsas de valores e mercado de balcão); b) Proteger os investidores, coibir fraudes e manipulação do mercado; c) Assegurar transparência das informações no Mercado de Capitais; d) Estimular a formaçãode poupança e sua aplicação em valores mobiliários; e) Promover a expansão e o funcionamento eficiente e regular o mercado de ações; f) Estimular as aplicações permanentes em ações do ca- pital social das companhias abertas. Obs.: Valores mobiliários representam investimentos reali- zados em dinheiro, com finalidade de lucro, ofertado ao pú- blico sobre o qual este não possui controle direto. Exemplo: Capítulo 1 Administração Financeira 15 ações, debêntures, cotas de fundos de investimentos, entre outros. 1.3.4 Associação Nacional dos Bancos de Investimentos Principal instituição representativa das entidades atuantes no Mercado de Capitais do país, a Associação Nacional dos Ban- cos de Investimentos (Anbid) é uma instituição operadora; tem como associados Bancos de Investimento e Bancos Múltiplos com carteiras de investimento. A Anbid procura criar procedimentos que permitam a au- torregulação do mercado, os quais, depois de aprovados, de- vem ser seguidos por todos os associados. 1.3.5 Bancos Múltiplos Operadores, os bancos múltiplos são instituições financeiras intermediárias, realizam operações ativas (crédito), operações passivas (captação). Podem atuar com as seguintes carteiras: comercial, de investimento, de desenvolvimento (exclusiva para bancos públicos), de crédito imobiliário, de financiamen- to e investimento e de arrendamento mercantil (Leasing). Um banco múltiplo deve operar, entre a diversidade de car- teiras existentes, ao menos nas carteiras de banco comercial e de banco de investimento. 16 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras 1.3.6 Bancos Comerciais Os bancos comerciais têm como objetivo principal proporcio- nar suprimento de recursos financeiros necessários para finan- ciar, a curto e em médio prazo, o comércio, a indústria e as empresas prestadoras de serviços, as pessoas físicas e terceiros em geral. 1.3.7 Bancos de Investimentos Os bancos de investimentos são instituições financeiras espe- cializadas em financiamento de capital fixo (ativo imobilizado) e capital de giro (suprimento de tesouraria), a médio e em lon- go prazo, administração de recursos de terceiros (administra- ção e venda de fundos de investimentos) e aquisição de títulos e valores mobiliários. Não possuem e não trabalham com contas correntes e captam recursos via depósitos a prazo por meio do Certificado de Depósito Bancário (CDB) e do Recibo de Depósito Bancário (RDB), e também por repasses de recursos internos e externos. 1.3.8 Sociedades Corretoras de Títulos e Valores Mobiliários As Sociedades Corretoras de Títulos Mobiliários são institui- ções intermediárias cuja área de atuação é, basicamente, o mercado acionário, operando com compra, venda e distribui- ção de títulos e valores mobiliários, inclusive ouro, por conta de terceiros. Sua constituição depende de autorização do Ba- cen, por quem também são supervisionadas, e o exercício de Capítulo 1 Administração Financeira 17 sua atividade depende de autorização da CVM - Comissão de Valores Mobiliários. São alguns de seus objetivos: a) Operar em Bolsa de Valores; b) Comprar e vender títulos e valores mobiliários por conta própria ou de terceiros; c) Administração de carteiras e custódia de títulos e valo- res mobiliários; d) Instituir, organizar e administrar fundos e clubes de in- vestimentos; e) Realizar operações compromissadas; f) Operar em bolsas de mercadorias e de futuros por conta própria e de terceiros. 1.3.9 Sociedades Distribuidoras de Títulos e Valores Mobiliários São instituições financeiras intermediárias e, basicamente, exercem funções semelhantes às Sociedades Corretoras, com uma exceção: não podem operar no recinto das Bolsas de Valores. As distribuidoras também são supervisionadas pelo BACEN. Algumas atividades, como, por exemplo, a adminis- tração de fundos de investimentos, também são supervisiona- das pela CVM. 18 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras 1.3.10 Bolsa de Valores e Bolsa de Mercadoria e Futuros As Bolsas de Valores são associações privadas civis, sem fina- lidade lucrativa, com objetivo de manter ambiente adequado ao encontro de seus membros e a realização, entre eles, de transações de compra e venda de títulos e valores mobiliários, em mercado livre e aberto, especialmente organizado e fisca- lizado por seus membros, e pela CVM. As bolsas de valores assumem papel de operador na estrutura do SFN. A seguir, destaca-se a Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) > A BM&FBovespa - Bolsa de Valores, Mercadorias e Fu- turos foi criada em 2008, pela integração da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) com a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). > Supervisionada pela CVM, a Bovespa é uma entidade autorreguladora; é integrada por sociedades corretoras que podem operar na Mega Bolsa. > O quadro social da Bovespa é integrado por sociedades corretoras que podem operar no sistema Eletrônico de Negociação – Mega Bolsa. Na BM&FBovespa, são regularmente negociados: a) Ações de companhias abertas; b) Opções sobre ações; c) Direitos e recibos de subscrição de ações; Capítulo 1 Administração Financeira 19 d) Bônus de subscrição; e) Cotas de fundos de investimentos fechados; f) Debêntures e notas promissórias. As bolsas de valores são instituições civis sem fins lucrati- vos. De acordo com Lemes Junior (2005, p. 262), as bolsas de valores existem há muitos anos. A sua evolução, ao longo do tempo, pode ser verificada, resumidamente, pelo histórico cronológico de sua evolução: - A primeira Bolsa de Valores implantada foi a Bourse de Paris, na França, em 1141; - A Bolsa de Fundos Públicos de Londres, Inglaterra, foi fundada em 1698; - O Brasil, em 1845, pelo Decreto n.º 417, de 14 de ju- nho, regulamentou a atividade do Corretor Oficial de Fundos Públicos, que era um cargo público vitalício, sempre nomeado pelo Ministério da Fazenda; - Em 1895, a Bolsa Oficial de Títulos de São Paulo foi instituída; - Em 1964, através da Reforma Bancária e do Mercado de Capitais, as Bolsas de Valores assumiram as funções que possuem atualmente; - Em 2017, foi realizada a fusão da BM&FBovespa e a CETIP. A empresa resultante dessa fusão é denominada: “B3 S.A.- Brasil, Bolsa, Balcão”. Com essa fusão, a B3 S.A. se torna a quinta maior bolsa do mundo. 20 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras 1.3.11 Sistema Especial de Liquidação e Custódia Criado em 1980, pela Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro (ANDIMA) em parceria com o BACEN, o Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC) é um sis- tema eletrônico que processa o registro, a custódia e a liquida- ção financeira das operações realizadas com títulos públicos federais, garantindo segurança, agilidade e transparência nos negócios. O objetivo desse sistema é controlar e liquidar financei- ramente as operações de compra e venda de títulos públicos federais e manter sua custódia física e escritural. O SELIC é o depositário central dos títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, dentre eles a Letra Financeira do Tesouro (LFT), a Letra do Tesouro Nacional (LTN), as Notas do Tesouro Nacional-C (NTN-C) e D (NTN-D). Nessa condição, processa a emissão dos títulos, o resgate, o pagamento dos juros e a custódia. 1.3.12 Câmara de Custódia e Liquidação Criada em 1986, a Câmara de Custódia e Liquidação (CE- TIP) hoje é a maior empresa depositária de títulos privados de renda fixa da América Latina e a maior Câmara de ativos privados do mercado financeiro brasileiro. Oferece o suporte necessário para toda a cadeia de operações, prestando ser- Capítulo 1 Administração Financeira 21 viços integrados de custódia, negociação eletrônica, registro de negócios e liquidaçãofinanceira. A CETIP não assume, em momento algum, risco de crédito dos emissores dos diversos títulos ali registrados. 1.3.13 Cia. Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC) A Cia. Brasileira de Liquidação e Custódia (CBLC) tem a cus- tódia de títulos e de serviços de guarda centralizada, compen- sação e liquidação das operações realizadas nos mercados da BM&FBovespa. Os principais títulos custodiados na CBLC são: a) Ações de companhias abertas; b) Debêntures; c) Cotas de fundos imobiliários e fundos de direito credi- tórios; d) Outros títulos de renda fixa privada. A seguir, um quadro com o resumo das principais caracte- rísticas das Câmaras de Compensação e Custódia apresenta- das neste capítulo. 22 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras Quadro 4 Principais características das Câmaras de Compensação e Custódia Definição da função Linguagem no dia a dia SELIC Administrada pelo Banco Central do Brasil, é um sistema informatizado que se destina à custódia e à liquidação de títulos escriturais de emissão do Tesouro Nacional. Neste sistema são registradas as operações que envolvem títulos públicos federais: LFT; LTN; NTN-C; NTN-D e outros. CETIP Efetuam a custódia de títulos e valores mobiliários de emissão privada, derivativos, títulos emitidos por estados e municípios, ativos utilizados como moeda de privatização e outros títulos de emissão do Tesouro Nacional. Isso é uma garantia de que os ativos existem, estão registrados em nome do legítimo proprietário e podem ser custodiados de forma segregada: CDB; RDB; DEBÊNTURES; COMERCIAL PAPERS. CBLC Prestação de serviços de compensação e liquidação física e financeira de operações realizadas nos mercados à vista e a prazo da BOVESPA e outros mercados, bem como a operacionalização dos sistemas de custódia de títulos e valores mobiliários em geral. Contraparte central que assegura a liquidação das operações entre os agentes de compensação. Aqui são registradas todas as operações realizadas pela BOVESPA. A CBLC é a contraparte central, ou seja, quem faz a liquidação física e financeira das ações. Fonte: desenvolvido pelo autor. 1.4 Sistema de Pagamento Brasileiro O Sistema de Pagamento Brasileiro (SPB) compreende as en- tidades participantes do SFN (bancos, clearing houses, cor- Capítulo 1 Administração Financeira 23 retoras, etc.), os subsistemas, os procedimentos relacionados com a transferência de recursos e de outros ativos financeiros, bem como o processamento, a compensação e a liquidação de pagamentos em qualquer de suas formas como cheques, doc’s, boletos, etc. Esse sistema foi reestruturado para melhorar os controles de risco do SFN reduzindo o risco sistêmico, antes assumido pelo BACEN e demais participantes do sistema de pagamen- tos, as instituições financeiras. A principal mudança para os clientes dos bancos foi a criação de mais uma opção de transferência de recursos. Os clientes podem utilizar a Transferência Eletrônica Disponível (TED) para transferir recursos de sua conta para uma conta corrente em outro banco como alternativa às atuais formas de transferências como cheques ou docs. Transferências realizadas por meio de TED permitem que os recursos fiquem disponíveis para uso pelo recebedor no mes- mo dia em que o banco destinatário receber a mensagem de transferência. Oferece maior segurança e agilidade em rela- ção aos outros procedimentos como o DOC, por exemplo. Pelas normas do BACEN, o TED é obrigatório para transações com valores acima de R$ 5.000,00. 1.5 Políticas Econômicas As políticas econômicas se referem às ações do governo no sentido de controlar e regular a atividade econômica tendo como principal agente o CMN; garantir o pleno emprego e sua estabilidade; equilibrar o volume financeiro das transações 24 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras econômicas com o exterior; garantir a estabilidade de preço e o controle da inflação e; promover a distribuição da riqueza e das rendas. Vejamos as quatro políticas básicas que integram a política econômica: a) Política Monetária São ações do governo, definidas pelo CMN e operaciona- lizadas pelo BACEN - Banco Central do Brasil, para controlar o volume de moeda em circulação e o montante de crédito disponível, tendo como principais instrumentos as operações de mercado aberto, o depósito compulsório, a taxa de redes- conto e o controle e a seleção de crédito. b) Política Fiscal É a política de receitas e despesas do Governo; compreen- de as decisões dos governos federal, estadual e municipal re- ferentes à tributação. Os impostos, as taxas e as contribuições de melhoria objetivam a manutenção das atividades de esta- dos e a prestação de serviços à comunidade. Sempre que o governo gasta mais do que arrecada, ele se obriga a recorrer ao endividamento, mediante a absorção de recursos do setor privado, com prejuízo para a formação de poupança interna, tão necessária ao financiamento dos investimentos produtivos no país. c) Política Cambial São medidas que o Governo toma para o controle da taxa de câmbio e das condições de entrada e saída de capitais estrangeiros no país. A importância desse controle na manu- tenção é de: Capítulo 1 Administração Financeira 25 Â Paridade de compra da moeda nacional em relação à moeda estrangeira; Â Competitividade em preço do produto nacional a ser exportado; Â Controle de custos dos produtos importados; Â Equilíbrio da balança comercial (exportações menos im- portações); Â Equilíbrio do balanço de pagamentos (todos os recebi- mentos do exterior menos todos os pagamentos ao ex- terior); Â Controle das taxas de juros pagas aos investidores es- trangeiros e aos credores internacionais. d) Política de Renda São medidas tomadas pelo governo no sentido de prover renda mínima aos trabalhadores e aposentados (salário mí- nimo), incentivar a produção e o consumo de determinados produtos (subsídios) e fortalecer determinado setor ou região (incentivos fiscais). Inclui ainda investimentos diretos do gover- no em atividades específicas. A seguir, é apresentada, de forma resumida, a estrutura do Sistema Financeiro Nacional: 26 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras Quadro 5 Estrutura do Sistema Financeiro Nacional Sistema Financeiro Nacional Subsistema normativo Conselho Monetário Nacional (CMN) Banco Central do Brasil - BACEN Comissão de Valores Mobiliários - CVM Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) Superintendência de Seguros Privados - Susep IRB - Instituto de Resseguros do Brasil Conselho de Gestão e Previdência Complementar (CGPC) Secretaria de Previdência Complementar Subsistema de intermediação Instituições Financeiras Bancárias Instituições Financeiras Não Bancárias Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo - SBPE Instituições Auxiliares Instituições Não Financeiras Fonte: adaptado de Assaf Neto, 2017. Recapitulando Ao concluirmos este capítulo, esperamos que você tenha uma noção do funcionamento sobre o Sistema Financeiro Nacional, que é complexo na sua origem e, em muitos casos, observam- -se sobreposições de funções. Neste contexto é que se encaixa a gestão financeira, tanto para fins de investimento no Mercado de Capitais como na captação de recursos para empresas. Capítulo 1 Administração Financeira 27 Recomenda-se que o gestor financeiro tenha domínio bas- tante abrangente sobre as Demonstrações Contábeis, bem como sobre Matemática Financeira. Estas duas ferramentas são indispensáveis para qualquer administrador e, em espe- cial, para o administrador financeiro. Deve haver grande siner- gia entre os conhecimentos financeiro e contábil, a fim de se alcançareficácia na gestão financeira de qualquer entidade. É bom lembrar que nosso objetivo, em termos de disciplina, é o enfoque gerencial voltado para a gestão financeira das or- ganizações, em geral, auxiliando na tomada de decisões para a gestão de recursos e a rentabilidade dos investimentos, a fim de maximizar o ganho dos acionistas. Cabe registrar um fato muito importante que é a fusão da BM&FBovespa com a CETIP, em 2017, formando a empresa B3 S.A – Brasil, Bolsa, Balcão, tida como a quinta maior bolsa do mundo. Referências ASSAF NETO, Alexandre; LIMA, Fabiano Guasti. Fundamen- tos de Administração Financeira. 3. ed. São Paulo, Edi- tora Atlas, 2017. FERREIRA, José Antônio Stark. Finanças Corporativas. São Paulo: Pearson, 2006. 28 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras FORTUNA, Eduardo. Mercado Financeiro - Produtos e Ser- viços. 17. ed. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora Ltda., 2010. GITMAN, Lawrence J. Princípios de Administração Finan- ceira. 12. ed. São Paulo: Pearson, 2010. LEMES JÚNIOR, Antônio Barbosa; RIGO, Cláudio Miessa; CHEROBIM, Ana Paula Mussi Szabo. Administração Fi- nanceira – Princípios, Fundamentos e Práticas Brasilei- ras. 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. WESTON, J. Fred; BRIGHAM, Eugene F. Fundamentos da Administração Financeira. 10. ed. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2004. Links na web: ACIONISTA. Disponível em: <http://www.acionista.com.br/>. Acesso em: 26 set. 2018. BOVESPA. Disponível em: <http://www.bovespa.com.br>. Acesso em: 26 set. 2018. BANCO CENTRAL DO BRASIL. Disponível em: <http://www. bcb.gov.br>. Acesso em: 26 set. 2018. Filmes sugeridos: 1- A Corporação; 2- Wall Street - Poder e cobiça; 3- Wall Street - Com o dinheiro dos outros; 4- Enron – os mais espertos da sala. Capítulo 1 Administração Financeira 29 Atividades 1) Qual é o principal papel do Conselho Monetário Nacio- nal? 2) O que são as Bolsas de Valores e a Bolsa de Mercadorias e futuros? 3) Quais são as principais atividades do Sistema de Paga- mento Brasileiro? 4) O que significa política de rendas? 5) Na condição de órgãos normativos, quais estão vincula- dos ao CMN - Conselho Monetário Nacional? Juros e Fatores de Capitalização Capítulo 2 Luiz Fernando Barcellos dos Santos Atualizado por Jorge Steyer Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 31 Introdução O ambiente financeiro, espaço naturalmente reservado para o gestor financeiro das mais diversas entidades, abrange dois grandes mercados: mercado monetário e o Mercado de Ca- pitais. O mercado monetário abriga o mercado financeiro no qual os fundos são emprestados por curto prazo (tempo menor de um ano), e o Mercado de Capitais, onde são negociados ações de sociedades anônimas e outras linhas de financia- mento com abrangência de longo prazo (sempre para vários anos). Sabe-se que o capital em uma economia livre é alocado através de um sistema de preços, que denominamos de taxa de juros. Taxa de juros é, portanto, o preço pago pelos toma- dos de empréstimos, enquanto que no caso dos investidores representa a remuneração almejada pelas suas aplicações. A administração financeira é uma das grandes funções que, juntamente com as demais atividades de Marketing, Pro- dução, Recursos Humanos, são os responsáveis pela gestão da empresa. Cada uma dessas funções tem suas característi- cas e procedimentos próprios. A administração financeira lida mais especificamente com os investimentos e as fontes de fi- nanciamentos de recursos. Nesta atividade são tratadas nego- ciações referentes a taxas de juros; são realizadas atividades de análises de valor presente e de valor futuro; são efetuados cálculos sobre rentabilidade e lucratividade dos investimentos, sem contar com a gestão do fluxo de caixa, tão necessária para manter um ótimo desempenho da tesouraria. Para de- sempenhar de forma eficaz as suas funções, o administrador 32 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras financeiro deve dominar todos os cálculos envolvendo a ma- temática financeira, a fim de alcançar as soluções de todas as questões relevantes da administração financeira. Este capítulo objetiva apresentar uma pequena revisão do valor do dinhei- ro no tempo e também demonstrar, de forma resumida, os principais conceitos sobre juros e fatores de capitalização, e a utilidade desse conhecimento para análises de investimentos e financiamentos. 1 Conceitos de Juros Os juros representam o pagamento pela oportunidade de se poder dispor de um capital por um determinado período de tempo. Todos os fatores de produção devem ser remunerados, e essa remuneração constitui-se em referencial para o merca- do onde esses fatores são comercializados. Por exemplo: Fator de produção Fator de remuneração Trabalho Salário Terra Aluguel Capital Juros Os problemas econômicos decorrem da escassez de bens e serviços necessários para satisfazer as necessidades das pes- soas, visto que a oferta sempre é limitada. Nos primórdios da nossa história, o problema de satisfação das necessidades foi solucionado através do processo de troca de um bem por ou- Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 33 tro. Os tempos foram mudando e, modernamente, surgiu um bem para intermediar esse processo de troca, que denomina- mos de moeda. Passamos a usar essa moeda como um deno- minador comum de medida para o valor dos bens e serviços e também para constituir a riqueza e o capital. O juro passou a ser conceituado como sendo o preço que se paga pelo aluguel do dinheiro por um determinado período de tempo. Na intermediação financeira, quando capta recursos, paga juros ao aplicador (preço de compra) e cobra juros do toma- dor dos recursos (preço de venda). A diferença entre o que a instituição financeira cobra do tomador e o que paga ao aplicador é denominada spread, que representa a remunera- ção dessa instituição para fazer a intermediação dos recursos financeiros. 2 Taxa de Juros Nominal Taxa nominal é a taxa referencial que encontramos nas ope- rações correntes do mercado, ou seja, a taxa que é visível aos participantes de uma transação. Por exemplo, a remuneração para um investidor que aplica seus recursos em um CDB-Cer- tificado de Depósito Bancário, ou a taxa de juros cobrada do tomador de recursos em uma operação de desconto de dupli- catas. A taxa de juros nominal é composta por duas partes: 34 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras a) A primeira será a mera recuperação do poder de com- pra do investidor remunerando-o pela inflação; b) A outra parte refere-se ao ganho acima da inflação que visa remunerar também o risco de investimento. Esta segunda parte é chamada de ganho real. Fórmula: Taxa nominal (TN) = [(1 + taxa real) x (1 + taxa de inflação) – 1] x 100 Exemplo: Dada a taxa real de juros de 3,80% ao mês e um índice de inflação de 3,22% ao mês, qual será a taxa nominal de juros ao mês? Â Taxa Nominal = [(1 + 0,038) x (1 + 0,0322) – 1] x 100 Â Taxa Nominal = 7,14% ao mês Observação: 3,80% tem que ser transformada em unitária para se efetuar esse tipo de cálculo. O procedimento de converter o cálculo é: (3,80 / 100) = 0,038. Deve-se ter uma boa compreensão dos diversos integrantes e seus significados de Taxa de Juros. Senão vejamos: Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 35 A taxa de juro real é composta pela taxa de livre de risco mais a taxa de risco. A composição da taxa de juro nominal considera a taxa de inflação mais o juro real. A taxa de juros pode ser apresentada sob a forma percen- tual (%) ou pela forma unitária. Para realizarmos os cálculos financeiros, sempre devemos usar a forma unitária. No exemplo a seguir, pode-se ver como é processada a transformação:Forma percentual Transformação Forma unitária 12% a.a. 12/100 0,12 a.a. 6% a.a. 6/100 0,06 a.a. 1% a.m. 1/100 0,01 a.m. 36 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras Legenda: a.a. significa ao ano; a.m. significa ao mês. Ampliando um pouco mais, e levando em conta o valor do dinheiro no tempo, o entendimento sobre taxa de juros cota- da (nominal) e a sua composição e negociação no mercado, resumidamente, é possível construir o seguinte quadro que es- pecifica os vários determinantes que integram a Taxa de Juros Nominal: Taxa de Juros Nominal ..... K = K* + PI + PRI + PL + PRV Quadro 1 Determinantes das taxas de juros do mercado Símbolo Significado Especificação K Taxa de juros nominal É a taxa de juros que as instituições financeiras afirmam cobrar dos tomadores de empréstimos. K* Taxa de juros real, livre de risco É a taxa de juros livre de risco. K* é pronunciado “K estrela”. É a taxa que o investidor receberia em um título sem risco e com expectativa de inflação zero. PI Prêmio de inflação A expectativa de inflação é embutida na taxa de juros com o fim de preservar o poder de compra do valor emprestado. PRI Prêmio de risco de inadimplência Prêmio de risco de inadimplência remunera a possibilidade de que o tomador possa vir a não pagar os juros e parte do principal de um título em tempo e quantia especificados. PL Prêmio de liquidez É o prêmio cobrado pelos emprestadores para refletir o fato de que alguns tomadores possam vir a não liquidar suas obrigações em tempo e valor contratado. PRV Prêmio de risco de vencimento É o prêmio cobrado pelos emprestadores (financiadores), que podem ficar expostos a riscos significativos de variações e declínio de preços em uma abrangência de longo prazo. Fonte: baseado em Weston e Brigham, 2000. Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 37 Todos os aplicadores de recursos financeiros esperam ser remunerados a uma taxa de juros que possa cobrir seu custo e recuperar o poder de compra dos recursos investidos. 2.1 Inflação A inflação pode ser entendida como sendo o generalizado au- mento de preços na economia. O índice que mede a inflação ao consumidor é o IPCA. O IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo é medido pelo IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. É um importante índice de preços para a execu- ção da política monetária do Banco Central do Brasil. Esse índice é calculado e divulgado mensalmente pelo IBGE desde 1980, de forma semelhante ao INPC, e reflete a variação dos preços das cestas de consumo das famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos. 3 Taxa de Juros Real É calculada a partir da taxa nominal de juros, descontando-se os efeitos inflacionários. O objetivo é determinar quanto se ga- nhou ou se perdeu, desconsiderando a inflação. Nesse caso, é medida por qualquer índice disponível (Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna - IGP-DI; Índice Geral de Preços do Mercado – IGP-M; Índice Nacional de Preços ao Consumi- dor Amplo – IPCA; Índice Nacional de Preços ao Consumidor 38 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras - INPC-IBGE; Índice de Preço ao Consumidor da FIPE- IPC- -FIPE; Índice do Custo de Vida – ICV-DIEESE). Fórmula: Exemplo 1: Considerando que uma taxa nominal de juros é de 7,14% ao mês e a inflação medida pelo IGP-M, por exemplo, é de 3,22%, para o mesmo período, qual é a taxa real de juros? Exemplo 2: Supondo que a taxa SELIC é de 18% ao ano (taxa nominal) e um índice de inflação previsto para o ano de 5%, qual seria a taxa real de juros? Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 39 4 Capitalização Simples Capitalizar significa a forma pela qual são acumulados os ju- ros com o capital. Os regimes de capitalização, que represen- tam o processo de evolução do capital, são dois: capitalização simples e capitalização composta. No regime de capitalização simples (juro simples) a taxa de juros incide apenas sobre o capital inicial, linearmente, e ge- ram, em consequência, remuneração (ou custos) diretamente proporcional ao capital e prazo envolvidos na operação. Esse sistema de capitalização dos juros não encontra apli- cações práticas tão generalizadas quanto o critério de capita- lização composta. A importância de se conhecer juros simples é explicada pela maioria das taxas de juros praticadas no mer- cado financeiro serem referenciadas pelo critério simples. No entanto, a determinação do resultado efetivo de uma opera- ção considera a formação exponencial dos juros. Simbologia usual C = Capital inicial (principal). É possível encontrar sob a denominação de valor presente (PV) – representativo de uma aplicação financeira ou da obtenção de um crédito; i = Taxa (linear) de juros, ou seja, taxa contratada da ope- ração. Observe que nas formulações do cálculo financeiro a taxa de juros deve estar sempre expressa em termos unitários, e não porcentuais. Por exemplo, 2,5% a.m.: taxa percentual e 2,5/100 = 0,025: taxa unitária; 40 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras j = Valor (em R$) dos juros de uma operação (pode repre- sentar uma despesa ou uma receita, dependendo se é paga pelo tomador, ou é recebida pelo investidor); n = Número de períodos considerado na operação. Deve ser observado que “n” e “i” devem sempre estar definidos na mesma unidade de tempo (dias, ou meses, ou semestres, ou anos); M = Montante acumulado da operação, também pode ser encontrado com a denominação de valor futuro (FV) e repre- senta a soma do principal (C) mais os valores dos juros calculados durante determinado período. Fórmulas: Valor dos juros: j = C x i x n Valor do montante: M = C(1 + i x n) É possível calcular o valor dos juros (j) a partir dos demais valores integrantes da equação (C, i, n). De forma resumida, segue-se a fórmulas básicas para a re- alização desses cálculos pelo regime de capitalização simples: Para calcular Fórmula é: Montante (M ou FV) M = C (1 + i x n) Capital (C ou PV) M C = __________ (1 + i x n) Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 41 Taxa de juros M _________ - 1 C i = _____________ n Número de períodos (Tempo) M __________- 1 C n = _____________ i Valor dos juros J = C x i x n. Exemplo 1: Um investidor faz uma aplicação de R$ 100,00, por 3 me- ses, a uma taxa de 2% ao mês. Qual será o montante no final do período (principal mais os juros)? J = C x i x n Juros = R$ 100,00 x 0,02 x 3 = R$ 6,00; M = C (1 + i x n) Montante = R$ 100,00 (1+ 0,02 x 3) = R$ 106,00. Exemplo 2: Calcule o valor do capital que, aplicado durante três anos, mediante capitalização mensal a uma taxa de juros de 2% a.m., produz o montante de R$ 1.720,00. M C = _____________ (1 + i x n) 42 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras 1.720 C =______________ = 1.000,00 (1 + 0,02 x 36) Exemplo 3: Foi comprado um aparelho de TV no valor de R$ 2.000,00 para ser pago no prazo de três meses. A loja informou que cobraria juros simples no valor de R$ 300,00, que deveria ser pago juntamente com valor principal da dívida. Qual foi a taxa de juros cobrada? J i = _______ (C x n) i = 300,00 / (2.000,00 x 3) = 5% ao mês 4.1 Taxa de Juros Proporcional (no regime de juros simples) Duas taxas de juros arbitrárias i1 e i2, relacionadas, respec- tivamente, aos períodos n1 e n2, referidas à unidade comum de tempo das taxas, são consideradas proporcionais se houver uma proporção entre as taxas e seus respectivos períodos (n): Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 43 i1 = i2 ____ ____ n1 n2 Considerando que em uma proporção o produtodos meios é igual ao produto dos extremos, temos: i1 . n2 = i2 . n1 Exemplo: Verificar se as taxas de 5% ao trimestre e de 20% ao ano são proporcionais: 0,05 = 3 ____ ____ 0,20 12 0,05 x 12 = 0,20 x 3 São grandezas proporcionais, pois o produto dos meios é igual ao produto dos extremos. Vejamos outra fórmula: 100 tenhoque prazo quero que prazo x 100 × = tenho quero ii Outro exemplo: 44 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras Dada a taxa de 18% ao ano, calcular a taxa mensal. Neste caso, podemos dizer que a taxa de 1,50% ao mês e a de 18% ao ano são proporcionais, pois quando aplicadas sobre o mesmo valor produzirão o mesmo resultado no regime de capitalização simples. Quadro 2.2 Apresenta taxas proporcionais para diversos períodos Taxa ao período Período/taxa 1% ao mês 3% ao trimestre 6% ao semestre 12% ao ano Mês 1% a.m. x 1= 1%a.m. 3% ao t./3 = 1% a.m. 6%a.s./6 = 1% a.m. 12%a.a./12 = 1% a.m. Trimestre 1% a.m. x 3 = 3% a.t. 3% a.t.x1 = 3% a.t. 6% a.s./ 2= 3% a.t. 12% a.a./4 = 3% a.t. Semestre 1% a.m. x 6 = 6% a.s. 3% a.t.x2 = 6% a.s. 6% a.s.x1 = 6% a.s. 12% a.a./2 = 6% a.s. Ano 1%a.m. x 12= 12% a.a. 3% a.tx4 = 12% a.a. 6% a.s.x2 = 12% a.a. 12% a.ax1 = 12% a.a. Fonte: adaptado de Hoji (2016, p. 34). 4.2 Taxas Equivalentes (juros simples) Duas taxas são consideradas equivalentes quando, aplicadas a um mesmo capital pelo mesmo intervalor de tempo, ambas produzem o mesmo valor de juros. No regime de juros simples, as taxas de juros proporcionais são igualmente equivalentes. É indiferente falar que duas taxas de juros são proporcionais ou que são equivalentes. Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 45 Exemplo: Considerando um capital de R$ 10.000,00, mediante ca- pitalização simples, que pode ser aplicado alternativamente a uma taxa de 2% a.m. ou 24% a.a., supondo um prazo de aplicação de 2 anos, verificar se as taxas são equivalentes: Fórmula: J = C x i x n J1 = 10.000,00 x 0,02 x 24 = 4.800,00 Ou J2 = 10.000,00 x 0,24 x 2 = 4.800,00 4.3 Juro Exato e Juro Comercial Nas aplicações correntes, muito embora as taxas de juros no- minais sejam expressas em termos anuais, os prazos são fixa- dos em dias. Considerando que para muitos empréstimos de curto prazo o regime normalmente adotado é o de juros sim- ples, torna-se necessário calcular a taxa proporcional referente a 1 dia. Neste caso, pode-se ter dois enfoques, de acordo com o número de dias adotado para o ano: a) Ano civil equivalendo a 365 dias (sem esquecer o ano bissexto); b) Ano comercial equivalendo a 360 dias. Exemplo: 46 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras Considerando a taxa de juros nominal de 36% a.a, deseja- -se saber qual é a taxa proporcional a um dia para as conven- ções do ano civil e do ano comercial. Ano civil ............. 36%/365 = 0,09863% ao dia; Ano comercial ...... 36%/360 = 0,10% ao dia. Através deste exemplo, pode-se observar que a taxa diária obtida na convenção do ano comercial é ligeiramente maior do que a obtida pela convenção do ano civil. 4.4 Noções de Desconto Simples Desconto de títulos é uma operação bastante comum no mer- cado financeiro. Trata-se de antecipações de recebimentos de valores de títulos com vencimento futuro, tais como duplicatas a receber, notas promissórias, letras de câmbio, e outros títulos de renda com vencimento futuro, que o detentor desses direi- tos quer receber antes do vencimento estipulado nos títulos. O fluxo do processo é o inverso do cálculo do montante de um determinado capital, pois a “base de cálculo do desconto” dos valores está no futuro, diferentemente do valor dos juros, que sempre é calculado sobre o valor presente para apurar o montante futuro. Estão, está à nossa disposição duas formas: a) Desconto Racional (ou por dentro) O desconto racional simples, também conhecido por des- conto “por dentro” e, nas operações de curto prazo, não é muito comum seu uso no mercado financeiro brasileiro. Caso Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 47 o valor atual corresponda ao capital e o valor nominal (valor de face do título) ao montante, pode-se dizer que o desconto racional utiliza a mesma fórmula de juros simples, ou seja: M = C x i x n. b) Desconto Comercial (ou por fora) O desconto comercial simples considera como base de desconto o valor nominal (valor de face-futuro) para calcular o valor atual (VA), ou valor presente por meio de juros simples; é muito utilizado pelo mercado financeiro brasileiro. Vamos considerar um exemplo para elucidar os dois procedimentos. Os Valores atuais (VA) são diferentes entre os dois métodos: Fórmulas: Descontos simples Fórmulas VA - Valor atual Exemplo: Considerando um valor nominal (VN) de R$5.000,00; taxa de desconto de 3% a.m.; período de 35 dias, qual é o VA – Valor atual? Desconto Racional (por dentro) VN________ VAr = (1 + i x n) 5.000,00 VAr = __________ = 4.830,92 (1 + 0,03 x 35/30) Desconto Comercial (por fora) VAc = VN(1 – i x n) VAc = 5.000,00 (1 – 0,03 x 35/30) = 4.825,00 É muito importante dominar os conceitos de Desconto e de Valor Descontado. Vejamos: a) Desconto: representa a quantia de dinheiro a ser aba- tida do valor nominal (VN) (ou FV); 48 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras b) Valor Descontado: é a diferença entre o valor nomi- nal do título e o valor do desconto para apurar o valor atual (VA ou PV). 5 Capitalização Composta O sistema de juros compostos tem grande importância finan- ceira por retratar melhor a realidade, pois o valor do juro ge- rado pela aplicação em um período sempre será incorporado ao capital inicial do período seguinte. Pode-se dizer, então, que o valor dos juros é capitalizado em cada período de capi- talização, o que nos permite dizer que ocorre o efeito de “juro sobre juro”. Este processo é conhecido por cálculo exponen- cial. Exemplo: Supondo que uma pessoa tenha aplicado R$ 100.000,00, mediante capitalização composta, a uma taxa 2% ao mês (a.m.), por um período de três meses. Qual será o montante desse investimento ao final do período? Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 49 Fórmula ... M = C (1 + i)n Execução... M = 100.000 (1 + 0,02)3 = 106.120,80 Cálculo aberto: M = 100.000,00 x (1+0,02) x (1+0,02) x (1+0,02) = R$ 106.120,80 Estes cálculos devem ser executados primeiro Admitindo-se a possibilidade de compor um demonstrativo para mostrar a diferença entre os regimes de capitalização, considerando um capital de R$ 1.000,00, a uma taxa de 20% a.a., em 4 anos: n Capitalização SIMPLES Capitalização COMPOSTA Juro por período Montante Juro por período Montante 1 1.000 x 0,20 = 200,00 1.200,00 1.000 x 0,20 = 200,00 1.200,00 2 1.000 x 0,20 = 200,00 1.400,00 1.200 x 0,20 = 240,00 1.440,00 3 1.000 x 0,20 = 200,00 1.600,00 1.440 x 0,20 = 288,00 1.728,00 4 1.000 x 0,20 = 200,00 1.800,00 1.728 x 0,20 = 345,60 2.073,60 Fórmula Cálculo M = C (1 + i x n) M = 1.000 (1 + 0,20x4) = 1.800,00 M = C (1 + i)n M = 1.000 (1 + 0,20)4 = 2.073,60 6 Taxa de Juros Equivalente (Juros Compostos) Duas taxas são equivalentes quando, considerados o mesmo prazo e o mesmo capital, produzem o mesmo montante no regime de capitalização composta. 50 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras Fórmula: 1001 100 1 tenhoque prazo quero que prazo × − += tenhoquero ii Por exemplo: Dada a taxa de 18% ao ano, calcular a taxa mensal equi- valente: Neste caso, podemos dizer que as taxas de 1,388843% ao mês e de 18% ao ano são equivalentes, pois, aplicadas sobre o mesmo capital, produzirão o mesmoresultado ao final, no regime de capitalização composta. Por exemplo: Taxas equivalentes = regime de capitalização composta (p. ex., 0,5% a.m. é equivalente a 6,1678% a.a.) i = ((1 + 0,005)12 – 1) x 100 = 6,1678% a.a. Apenas para comparação, no regime de capitalização sim- ples, para 0,5% a.m, a taxa proporcional anual seria determi- nada assim: Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 51 i = ((1 + 0,005 x 12) – 1) x 100 = 6% a.a. 2.6.1 Taxa Nominal e Taxa Efetiva Sempre ocorrem dúvidas em relação a esses dois termos. A taxa de juros “nominal” é a taxa de juros contratada em uma operação financeira, e, via de regra, sempre é informada com a referência anual. Considerando-se, por exemplo, uma taxa nominal de 24% ao ano, informada pelo mercado financeiro. Se a capitaliza- ção dessa taxa nominal fosse mensal, teremos uma taxa “efe- tiva” de 26,82418% ao ano. O cálculo é desenvolvido pela seguinte fórmula: Taxa efetiva (if) = (1 + inom/n)n - 1) 100 Resolvendo-se o exemplo acima, temos: Taxa efetiva (if) = (1 + 0,24/12)12 – 1) 100 = 26,82418% A taxa de juros contratada (Taxa nominal) em uma opera- ção financeira, normalmente, coincide com a indicação anual, e é convertida em taxa efetiva através dos períodos de capi- talização no prazo “n”(exponencial). Enquanto a taxa efetiva mede o juro efetivo produzido por um capital, nos períodos “n”, a taxa equivalente tem a finalidade de comparar duas taxas. 52 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras 6.2 Efeito do Juro Real em relação à Inflação Muitas vezes não é dada a devida importância à inflação do período. A pessoa aplica um determinado capital e o banco remunera essa aplicação pela taxa nominal do período. Para saber se aplicação apresentou um ganho real ou não, deve- -se excluir o efeito (percentual) da inflação do período desse cálculo. Por exemplo: Por hipótese, admitindo que determinada pessoa investiu o valor de R$ 2.000,00 e resgatou essa aplicação um ano de- pois pelo valor total de R$ 2.300,00, sabe-se que a inflação do período foi de 10%. Qual foi o ganho (ou perda) real em valor e em percentu- al? a- Valor corrigido: valor original x inflação 2.000,00 x (1 + 0,10) = 2.200,00 b- Ganho real (%): (montante regatado – valor corrigido) / valor corrigido (2.300,00 - 2.200,00) / 2.200,00 = 0,045455 O ganho real de R$ 100,00, nesse caso, corresponde a 4,5455%. O ganho real foi relacionado ao valor corrigido pela inflação do período, alcançando o total de R$ 2.200,00. O ganho de 4,5455% no período representa a taxa de juros real. Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 53 7 Séries de Pagamento e/ou Fatores de Capitalização Séries de pagamento também são chamadas de renda certa ou de anuidades. São usadas para construir um capital ou resgatar uma dívida, depositando ou pagando certas quantias em épocas distintas. Ao construir um capital, temos uma capi- talização; ao resgatar uma dívida, temos uma amortização. Simbologia adotada para utilização da calculadora finan- ceira HP12C na resolução de problemas dessa ordem: Tecla da HP12C Significado P = PV Valor presente S = FV Valor futuro n = n Número de períodos i = i Taxa de juros R = PMT Série uniforme (prestação) IRR TIR-Taxa Interna de Retorno NPV VPL-Valor Presente Líquido CFo (função g-azul) Fluxo de caixa inicial CFj (função g-azul) Fluxo de caixa das parcelas 7.1 Fluxos de Caixa (diagrama de caixa) O fluxo de caixa ou o diagrama de caixa representa a inter- pretação final do problema onde, uma vez analisado, deve apresentar todas as informações necessárias para resolução 54 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras do problema. Essa ferramenta é fundamental para a interpre- tação dos problemas financeiros. I- Exemplo geral: Uma empresa tem o seguinte Fluxo de Caixa (entradas) para os próximos 5 anos: Ano 1 = Ingresso de R$ 2.000,00; Ano 3 = Ingresso de R$ 3.000,00; Ano 5 = Ingresso de R$ 5.000,00. Durante esses 5 anos terá um desembolso anual de R$ 800,00 para cobrir despesas de manutenção. Sabendo-se que o custo anual do dinheiro é de 10% ao ano, calcule o valor atual (PV) e determine quanto isso representa anualmente. O diagrama de caixa desse problema seria: 32 R$ 800,00 800,00 800,00 800,00 800,00 R$ 2.000,00 3.000,00 5.000,00 0 Estruturando o fluxo de caixa líquido, que nos permitirá cal- cular a solução, temos o seguinte: a) As setas para “cima” indicam “entradas” de recursos e as setas para “baixo” indicam “saídas” de recursos. Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 55 A representação gráfica é para simplificar o fluxo de caixa líquido: b) Cálculo utilizando a HP12C: Fluxo de Caixa líquido: 0 CHS g CFo; 1.200,00 g CFj; 800,00 CHS g CFj; 2.200,00 g CFj; 800,00 CHS g CFj; 4.200,00 g CFj; 10 i; f NPV = R$ 4.144,10; este é o valor atual (PV) desse fluxo de caixa; PMT = R$ 1.093,20 é o valor da amortização anual do fluxo de caixa considerando 5 anos. (Solução do cálculo: 4.144,10 CHS PV; 10 i; 5 n; PMT = 1.093,20) 56 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras c) Cálculo sem o uso da HP12C. Apenas fórmulas e cál- culos matemáticos (1 + i)n: 1.200,00 / (1 + 0,10) ............ 1.090,91 (800,00) / (1 + 0,10)2 ........... (661,16) 2.200,00 / (1 + 0,10)3 ........... 1.652,89 (800,00) / (1+ 0,10)4 ............ (546,41) 4.200,00 / (1 + 0,10)5 .......... 2.607,87 Soma ........................ 4.144,10 é o valor atual (PV) II- Exemplo geral: Admitindo-se um exemplo mais específico para calcular a NPV (VPL) - Valor Presente Líquido e a TIR (IRR) - Taxa interna de Retorno relativo à análise de um projeto novo, considere- mos a seguinte situação: Um industrial quer trocar um equipamento em sua fábrica e lhe apresentam duas alternativas com o seguinte fluxo do investimento inicial e dos benefícios futuros que esse projeto pode lhe proporcionar. A empresa considera uma TMA - Taxa Média de Atrativida- de de 12% (ou Taxa mínima de Atratividade). Analise os dois projetos considerando a VPL - Valor Presen- te Líquido e a TIR - Taxa Interna de Retorno. Vejamos: Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 57 Fluxo de caixa Proposta A Proposta B Investimento inicial (Io) (CFo) (40.000) (50.000) Fluxo de benefícios futuros (CFj) 1º ano 12.000 16.000 2º ano 13.000 16.000 3º ano 14.000 17.500 4º ano 15.000 18.500 Resolução: Uso da HP12C Projeto A Projeto B 40.000 CHS g CFo 50.000 CHS g CFo 12.000 g CFj 16.000 g CFj 13.000 g CFj 16.000 g CFj 14.000 g CFj 17.500 g CFj 15.000 g CFj 18.500 g CFj 12 i 12 i f NPV(VPL) = 575,50 f NPV(VPL) = 1.254,05 f IRR(TIR) = 12,65% f IRR(TIR) = 13,15% O projeto B é melhor, pois apresenta VPL e TIR maiores. Legenda: NPV - Net Present Value (VPL - Valor Presente Líquido) IRR – Internal Rate of Return (TIR - Taxa Interna de Retorno) 58 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras Sem o uso da HP12C, teremos que considerar o investimen- to inicial (Io) e mais o fluxo líquido dos benefícios atualizados para determinar ao VPL - Valor Presente Líquido deste projeto (lembre: VPL= Io - ∑ do fluxo de caixa líquido dos benefícios): VPL = (Io) + FC1/(1 + i) + FC2/(1 + i)2 + FC3/(1 + i)3 + FC4/ (1 + i)4 Projeto A = (40.000) + 10.714,29 + 10.363,52 + 9.964,92 + 9.532,77 = 575,50 Projeto B = (50.000) +14.285,71 + 12.755,10 + 12.456,16 + 11.757,08 = 1.254,05 A TIR (IRR) é a taxa de juros implícita em uma sequência de recebimentos e pagamentos que zera o Valor Presente Líquido (VPL=zero) de um fluxo de caixa, tornando o valor presente das entradas igual ao valor presente das saídas. Para calculara TIR pelo método algébrico, devemos fazer várias tentativas para chegar à taxa correta (tentativa de erro e acerto). O uso da HP12C é o caminho correto, visto que essa cal- culadora, entre outras coisas, foi projetada para esse fim como ferramenta a ser usada pelos administradores em geral, e pe- los administradores da área financeira, em particular. 7.2 Fator de Acumulação de Capital O fator de acumulação de capital significa a capitalização de um valor atual (P ou PV) para um valor futuro (S ou FV) em um determinado período de tempo a uma taxa “i”. Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 59 Utilizando a HP 12C, teremos como resposta: 1.000,00 CHS PV (P) 12 n 2,5 i FV (S) = R$ 1.344,89 - valor ao final de 12 meses. Sem HP12C, seria por meio de cálculos matemáticos, assim: FV(S) = PV(P) (1+i)n FV(S) = 1.000,00 (1 + 0,025)12 = 1.344,89 7.3 Fator de Valor Atual Representa o valor de uma quantia de recursos financeiros fu- turos (S ou FV), que se deseja ter e/ou receber, em determina- do período de tempo, que o investidor quer saber quanto esse valor futuro valeria hoje (P ou PV), ou quanto deveria aplicar hoje, considerando o valor que foi descapitalizado a uma de- terminada taxa de juros “i”. 60 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras a) Resposta determinada mediante o uso da HP12C: 10.000,00 CHS FV (S) 10 i 5 n PV (P) R$ 6.209,21 – valor presente e/ou valor atual. b) Cálculo sem usar a HP12C, apenas fórmulas matemáticas: PV = FV / (1 + i)n PV = 10.000,00 / (1 + 0,10)5 = 6.209,21 7.4 Fator de Acumulação de Capital – Séries Uniformes Representa o valor acumulado (S, que significa montante; va- lor futuro chamado de Summa) de uma série de valores uni- formes e constantes (desembolsos de valores iguais), em um determinado período de tempo, considerada uma determina- da taxa “i”. Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 61 Considerando que no fluxo de caixa o primeiro desembol- so ocorre no momento “Zero”, ou seja, no início do fluxo de caixa, para resolver o cálculo utilizando a HP12C, devemos adequar a calculadora para efetuar a operação de um fluxo “antecipado” (a calculadora está normalmente na função de “postecipado”), isto é, saída de recurso ocorre no início do fluxo de caixa considerado. Neste caso, devemos proceder as- sim: - Devemos utilizar a função BEGIN (esta função deve cons- tar na “tela” da HP). - Devemos apertar a tecla “g”(azul) e depois BEG (da te- cla 7). Aparecerá a palavra BEGIN na tela (que significa “início”). a) Resolução do exemplo, com o uso da HP12C Preparar a HP12C: g e tecla 7 (Deve aparecer na tela a palavra BEGIN) 3.000,00 CHS PMT; 62 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras 5 n ; 8 i; FV(S) = R$ 19.007,78 - Valor futuro do fluxo de caixa des- sa série uniforme. b) Resolução sem usar a HP12C Na série uniforme antecipada não existem pagamentos no último período, pois o último pagamento ocorre em “n–1”, ou seja, no início do último período de fluxo de desembolsos. Devemos usar a seguinte fórmula da matemática financeira para determinar o valor futuro (S) dessa série uniforme de de- sembolsos no período considerado: (1 + i) x (1 + i)n - 1_________ i Estruturando os cálculos, temos: S = 3.000,00 x (1 + 0,08) x (1 + 0,08)5 - 1____________ 0,08 Resolvendo o cálculo, temos...... S = 3.000 x 6.335929 = 19.007,78 Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 63 7.5 Fator de Recuperação de Capital – Séries Uniformes Representa o valor descapitalizado de uma série de pagamen- tos idênticos, descontados a uma determinada taxa “i” para se identificar o valor atual. FATOR DE RECUPERAÇÃO DE CAPITAL • Determinar a série uniforme “R” resultante da aplicação do capital “P”, ou seja, a quantia que tem que ser retirada em cada período para que se recupere o investimento “P”. Dado “P” achar o “R”. R = P x FRC (i,n) • O Sr. Costa contratou um empréstimo por 5 anos no valor de 5.000,00 a juros de 5% aa. Qual será o valor da prestação anual que deverá pagar? R R R R R R$ 5.000,00 a) Utilizando a HP12C para realizar os cálculos, obtemos o seguinte resultado: 5.000,00 CHS PV 5 i; 5 n; PMT (R) = R$ 1.154,87 – valor anual da prestação. b) Efetuando os cálculos SEM usar a HP12C. Apenas fór- mulas matemáticas, temos: 64 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras P (PV) = R(PMT) x (1 – (1 + i)-n i Realizando os cálculos, temos: P(PV) R(PMT) =______________ (1 – (1 + i)-n i Substituindo os valores na fórmula, obtemos o valor do ter- mo “R” (ou PMT): 5.000,00 R(PMT) = ______________ 1 – (1 + 0,05)-5 0,05 Executando o cálculo: 5.000,00 R (PMT) =______________= 1.154,87 4,329477 Observação muito importante para o CDC - Crédito Direto ao Consumidor: Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 65 O número 4,329477 pode ser convertido em um “coeficiente”, basta invertê-lo, assim: 1/4,329477= 0,230975, que passa a ser o “coeficiente” de multipli- cação pelo valor do bem à vista, para determinar o valor das prestações iguais e sucessivas. No exemplo acima, temos: 5.000,00 x 0,230975 = 1.154,87 7.5.1 Sistema de Amortização de Empréstimos e Financiamentos A amortização é um fluxo de caixa em que o valor do em- préstimo ou financiamento, concedido no início do prazo da operação financeira, deve ser amortizado (pago), acrescido de encargos financeiros (juros), de acordo com os vencimentos (“n” prestações) da operação contratada. A soma do valor da amortização mais os juros será igual a prestação a ser paga em cada período de vencimento. Temos três sistemas, todos têm utilidade na área financeira. Para que se possa ter uma visualização bem ampla e analítica, os três sistemas foram estruturados e estão abertos para me- lhor visualização: a) Sistema Francês de amortização (Sistema Price ou Tabela Price), que se caracteriza pela Prestação Cons- tante (valor da amortização mais os encargos finan- ceiros), com periodicidade constante, vencíveis sem- pre no final do período. O valor da prestação (PMT) é 66 Administração de Recursos e Aplicações Financeiras calculado com base na série uniforme “postecipada”, “antecipada” ou “diferida”, de acordo com o contrato da operação. As características são: - o valor das prestações é constante (iguais entre si); - o valor dos juros é decrescente; - o valor da amortização é crescente. b) Sistema de Amortização Constante (SAC), que se caracteriza pelo pagamento das amortizações em valor constante e os encargos financeiros (juros) variáveis, o que resulta em valores das prestações decrescentes ao longo do período de pagamentos. As características são: - o valor das amortizações é constante; - o valor das prestações e dos juros são decrescentes. Apenas para registro, a CEF - Caixa Econômica Federal desenvolveu um sistema denominado de SACRE - Sistema de Amortização Crescente para financiar imóveis. c) Sistema de Amortização Americano (SAA), o valor do empréstimo ou financiamento é liquidado de uma única vez ao final do vencimento da operação. Os ju- ros devidos são pagos durante o período de carência. Também é possível integrar o valor dos juros durante o período de carência ao valor principal da dívida, e tudo, principal mais juros, será liquidado no vencimen- to da operação. Capítulo 2 Juros e Fatores de Capitalização 67 Exemplo: A partir de um exemplo maior, pode-se examinar e comparar, analiticamente, os três sistemas de amortização, considerando um financiamento no hipotético no valor de R$10.000,00, a ser amortizado em 6 parcelas mensais consecutivas, contra-
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