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Tópicos de Matemática Elementar: polinômios
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Coleção Professor de Matemática
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Capa
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ISBN 978-85-8337-101-4
MUNIZ NETO, Antonio Caminha.
Tópicos de Matemática Elementar:polinômios I Caminha Muniz Neto.
-2.ed. -- Rio de Janeiro: SBM, 2016.
v.6 ; 312 p. (Coleção Professor de Matemática; 29)
ISBN 978-85-8337-101-4
1. Números Complexos. 2. Polinômios. 3. Raízes de Polinômios.
4. Fatoração de Polinômios. 1. Título.
Tópicos de
Matemática Elementar
Volume 6
Polinômios
Antonio Caminha Muniz Neto
k
·(k) k ( - 1 ) i Í f ( X k+ n- i) ,
1 I)xk ] = -(f(l)+ J(w) + ... + J(wP-1) ).
Plk
p
2ª edição
2016
Rio de Janeiro
.!SBM
COLEÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA
1••�· SBM
COLEÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA
Logaritmos - E. L. Lima
Análise Combinatória e Probabilidade com as soluções dos exercícios -
A. C. Morgado, J. B. Pitombeira, P. C. P. Carvalho e P. Fernandez
Medida e Forma em Geometria (Comprimento, Área, Volume e Semelhança) -
E. L. Lima
Meu Professor de Matemática e outras Histórias - E. L. Lima
Coordenadas no Plano com as soluções dos exercícios - E. L. Lima com a
colaboração de P. C. P. Carvalho
Trigonometria, Números Complexos - M. P. do Carmo, A. C. Morgado e E. Wagner,
Notas Históricas de J. B. Pitombeira
Coordenadas no Espaço - E. L. Lima
Progressões e Matemática Financeira - A. C. Morgado, E. Wagner e S. C. Zani
Construções Geométricas - E. Wagner com a colaboração de J. P. Q. Carneiro.
Introdução à Geometria Espacial - P. C. P. Carvalho
Geometria Euclidiana Plana - J. L. M. Barbosa
Isometrias - E. L. Lima
A Matemática do Ensino Médio Vol. 1 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
A Matemática do Ensino Médio Vol. 2 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
A Matemática do Ensino Médio Vol. 3 - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
Matemática e Ensino - E. L. Lima
Temas e Problemas - E. L. Lima, P. C. P. Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
Episódios da História Antiga da Matemática - A. Aaboe
Exame de Textos: Análise de livros de Matemática - E. L. Lima
A Matemática do Ensino Media Vol. 4 - Exercicios e Soluções - E. L. Lima, P. C. P.
Carvalho, E. Wagner e A. C. Morgado
Construções Geométricas: Exercícios e Soluções - S. Lima Netto
Um Convite à Matemática - D.C de Morais Filho
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 1 - Números Reais - A. Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 2 - Geometria Euclidiana Plana - A.
Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 3 - Introdução à Análise - A. Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 4 - Combinatória - A. Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 5 - Teoria dos Números - A. Caminha
Tópicos de Matemática Elementar - Volume 6 - Polinômios - A. Caminha
A meus filhos Gabriel e Isabela,
na esperança de que um dia leiam este livro.
VI
Sumário
Prefácio
Prefácio à segunda edição
1 Números Complexos
1.1 Definição e propriedades elementares
1.2 A forma polar de um número complexo
2 Polinômios
2.1 Definições e propriedades básicas
2.2 O algoritmo da divisão
3 Raízes de Polinômios
3.1 Raízes de polinômios ....... .
3.2 Raízes da unidade e contagem .. .
3.3 O teorema fundamental da álgebra
3.4 Raízes múltiplas . . . .
VII
XI
XIX
1
1
16
31
32
40
45
46
63
69
76
VIII
4 Relações entre Coeficientes e Raízes
4.1 Polinômios em várias indeterminadas
4.2 Polinômios simétricos .
4.3 O teorema de Newton
5 Polinômios sobre IR
5.1 Alguns teoremas do Cálculo
5.2 As desigualdades de Newton
5.3 A regra de Descartes ...
6 Interpolação de Polinômios
6.1 Bases para polinômios
6.2 Diferenças finitas ...
7 Fatoração de Polinômios
7.1 Fatoração única em Q[X] .
7.2 Fatoração única em Z[X] .
7.3 Polinômios sobre Zp ....
7.4 Irredutibilidade de polinômios
8 Números Algébricos e Aplicações
8.1 Números algébricos ...
8.2 Polinômios ciclotômicos.
8.3 Números transcendentes
9 Recorrências Lineares
9.1 Um caso particular importante.
9.2 Sequências, séries e continuidade em C
9.3 O caso geral .............. .
10 Soluções e Sugestões
Referências
SUMÁRIO SUMÁRIO IX
85 A Glossário 283
85
90
101
113
113
123
127
135
136
146
155
155
164
168
178
189
190
201
209
215
216
220
234
243
275
X SUMÁRIO
Prefácio
Esta coleção evoluiu a partir de sessões de treinamento para olim-
píadas de Matemática, por mim ministradas para alunos e professores
do Ensino Médio, várias vezes ao longo dos anos de 1992 a 2003 e,
mais recentemente, como orientador do Programa de Iniciação Cien-
tífica para os premiados na Olimpíada Brasileira de Matemática das
Escolas Públicas (OBMEP) e do Projeto Amílcar Cabral de coopera-
ção educacional entre Brasil e Cabo Verde.
Idealmente, planejei o texto como uma mistura entre uma iniciação
suave e essencialmente autocontida ao fascinante mundo das competi-
ções de Matemática, além de uma bibliografia auxiliar aos estudantes
e professores do secundário interessados em aprofundar seus conhe-
cimentos matemáticos. Resumidamente, seu propósito primordial é
apresentar ao leitor uma abordagem de quase todos os conteúdos ge-
ralmente constantes dos currículos do secundário, e que seja ao mesmo
tempo concisa, não excessivamente tersa, logicamente estruturada e
mais aprofundada que a usual.
Na estruturação dos livros, me ative à máxima do eminente mate-
mático húngaro-americano George Pólya, que dizia não se poder fazer
XI
XII SUMÁRIO
Matemática sem sujar as mãos. Assim sendo, em vários pontos dei-
xei a cargo do leitor a tarefa de verificar aspectos não centrais aos
desenvolvimentos principais, quer na forma de detalhes omitidos em
demonstrações, quer na de extensões secundárias da teoria. Nestes ca-
sos, frequentemente referi o leitor a problemas específicos, os quais se
encontram marcados com* e cuja análise e solução considero parte in-
tegrante e essencial do texto. Colecionei ainda, em cada seção, outros
tantos problemas, cuidadosamente escolhidos na direção de exercitar
os resultados principais elencados ao longo da discussão, bem como
estendê-los. Uns poucos destes problemas são quase imediatos, ao
passo que a maioria, para os quais via de regra oferto sugestões preci-
sas, é razoavelmente difícil; no entanto, insto veementemente o leitor a
debruçar-se sobre o maior número possível deles por tempo suficiente
para, ainda que não os resolva todos, passar a apreçiá-los como .corpo
de conhecimento adquirido.
O primeiro volume discorre sobre vários aspectos relevantes do con-
junto dos números reais e de Álgebra Elementar, no intuito de munir
o leitor dos requisitos necessários ao estudo dos tópicos constantes dos
volumes subsequentes. Após começar com uma discussão não axiomá-
tica das propriedades mais elementares dos números reais, são aborda-
dos, em seguida, produtos notáveis, equações e sistemas de equações,
sequências elementares, indução matemática e números binomiais; o
texto finda com a discussão de várias desigualdades algébricas impor-
tantes, notadamente aquela entre as médias aritmética e geométrica,
bem como as desigualdades de Cauchy, de Chebyshev e de Abel.
Dedicamoso segundo volume a uma iniciação do leitor à geometria
Euclidiana plana, inicialmente de forma não axiomática e enfatizando
construções geométricas elementares. Entretanto, à medida em que o
texto evolui, o método sintético de Euclides - e, consequentemente,
demonstrações - ganha importância, principalmente com a discussão
dos conceitos de congruência e semelhança de triângulos; a partir desse
ponto, vários belos teoremas clássicos da geometria, usualmente ausen-
SUMÁRIO XIII
tes dos livros-texto do secundário, fazem sua aparição. Numa terceira
etapa, o texto apresenta outros métodos elementares usuais no estudo
da geometria, quais sejam, o método analítico de R. Descartes, a tri-
gonometria e o uso de vetores; por sua vez, tais métodos são utilizados
tanto para reobter resultados anteriores de outra(s) maneira(s) quanto
para deduzir novos resultados.
De posse do traquejo algébrico construído no volume inicial e do
aparato geométrico do volume dois, discorremos no volume três sobre
aspectos elementares de funções e certos excertos de cálculo diferencial
e integral e análise matemática, os quais se fazem necessários em cer-
tos pontos dos três volumes restantes. Prescindindo, inicialmente, das
noções básicas do Cálculo, elaboramos, dentre outros, as noções de
gráfico, monotonicidade e extremos de funções, bem como examina-
mos o problema da determinação de funções definidas implicitamente
por relações algébricas. Na continuação, o conceito de função contínua.
é apresentado, primeiramente de forma intuitiva e, em seguida, axio-
mática, sendo demonstrados os principais resultados pertinentes. Em
especial, utilizamos este conceito para estudar a convexidade de gráfi-
cos - culminando com a demonstração da desigualdade de J. Jensen -
e o problema da definição rigorosa da área sob o gráfico de uma fun-
ção contínua e positiva - que, por sua vez, possibilita a apresentação
de uma construção adequada das funções logaritmo natural e expo-
nencial. O volume três termina com uma discussão das propriedades
mais elementares de derivadas e do teorema fundamental do cálculo,
os quais são mais uma vez aplicados ao estudo de desigualdades, em
especial da desigualdade entre as médias de potências.
O volume quatro é devotado à análise combinatória. Começamos
revisando as técnicas mais elementares de contagem, enfatizando as
construções de bijeções e argumentos recursivos como estratégias bá-
sicas. Na continuação, apresentamos um apanhado de métodos de
contagem um tanto mais sofisticados, como o princípio da inclusão
exclusão e os métodos de contagem dupla, do número de classes de
XIV SUMÁRIO
equivalência e mediante o emprego de métricas em conjuntos finitos.
A cena é então ocupada por funções geradoras, onde a teoria elementar
de séries de potências nos permite discutir de outra maneira problemas
antigos e introduzir problemas novos, antes inacessíveis. Terminada
nossa excursão pelo mundo da contagem, enveredamos pelo estudo do
problema da existência de uma configuração especial no universo das
configurações possíveis, utilizando para tanto o princípio das gavetas
de G. L. Dirichlet - vulgo "princípio das casas dos pombos" -, um
célebre teorema de R. Dilworth e a procura e análise de invariantes
associados a problemas algorítmicos. A última estrutura combinatória
que discutimos é a de um grafo, quando apresentamos os conceitos bá-
sicos usuais da teoria com vistas à discussão de três teoremas clássicos
importantes: a caracterização da existência de caminhos Eulerianos,
o teorema de A. Cayley sobre o número de árvores rotuladas e o teo-
rema extremal de P. Turán sobre a existência de subgrafos completos
em um grafo.
Passamos em seguida, no quinto volume, à discussão dos conceitos
e resultados mais elementares de teoria dos números, ressaltando-se
inicialmente a teoria básica do máximo divisor comum e o teorema
fundamental da aritmética. Discutimos também o método da descida
de P. de Fermat como ferramenta para provar a inexistência de solu-
ções inteiras para certas equações diofantinas, e resolvemos também
a famosa equação de J. Pell. Em seguida, preparamos o terreno para
a discussão do famoso teorema de Euler sobre congruências, constru-
indo a igualmente famosa função de Euler com o auxílio da teoria mais
geral de funções aritméticas multiplicativas. A partir daí, o livro apre-
senta formalmente o co1;ceito de congruência de números em relação a
um certo módulo, discutindo extensivamente os resultados usualmente
constantes dos cursos introdutórios sobre o assunto, incluindo raízes
primitivas, resíduos quadráticos e o teorema de Fermat de caracteriza-
ção dos inteiros que podem ser escritos como soma de dois quadrados.
O grande diferencial aqui, do nosso ponto de vista, é o calibre dos
SUMÁRIO XV
exemplos discutidos e dos problemas propostos ao longo do texto, boa
parte dos quais oriundos de variadas competições ao redor do mundo.
Finalmente, números complexos e polinômios são os objetos de
estudo do sexto e último volume da coleção. Para além da teoria
correspondente usualmente estudada no secundário - como a noção
de grau, o algoritmo da divisão e o conceito de raízes de polinômios
-, vários são os tópicos não padrão abordados aqui. Dentre outros,
destacamos inicialmente a utilização de números complexos e polinô-
mios como ferramentas de contagem e a apresentação quase completa
de uma das mais simples demonstrações do teorema fundamental da
álgebra. A seguir, estudamos o famoso teorema de 1. Newton sobre
polinômios simétricos e as igualmente famosas desigualdades de New-
ton, as quais estendem a desigualdade entre as médias aritmética e
geométrica. O próximo tema concerne os aspectos básicos da teoria
de interpolação de polinômios, quando dispensamos especial atenção
aos polinômios interpoladores de J. L. Lagrange. Estes, por sua vez,
são utilizados para resolver sistemas lineares de Vandermonde sem o
recurso à álgebra linear, os quais, a seu turno, possibilitam o estudo
de uma classe particular de sequências recorrentes lineares. O livro
termina com o estudo das propriedades de fatoração de polinômios
com coeficientes inteiros, racionais ou pertencentes ao conjunto das
classes de congruência relativas a algum módulo primo, seguido do
estudo do conceito de número algébrico. Há, aqui, dois pontos cul-
minantes: por um lado, uma prova mais simples do fechamento do
conjunto dos números algébricos em relação às operações aritméticas
básicas; por outro, o emprego de polinômios ciclotômicos para provar
um caso particular do teorema de Dirichlet sobre primos em progres-
sões aritméticas.
Várias pessoas contribuíram ao longo dos anos, direta ou indire-
tamente, para que um punhado de anotações em cadernos pudesse
transformar-se nesta coleção de livros. Os ex-professores do Departa-
mento de Matemática da Universidade Federal do Ceará, Marcondes
XVI SUMÁRIO
Cavalcante França, João Marques Pereira, Guilherme Lincoln Aguiar
Ellery e Raimundo Thompson Gonçalves, ao criarem a Olimpíada Cea-
rense de Matemática na década de 1980, motivaram centenas de jovens
cearenses, dentre os quais eu me encontrava, a estudarem mais Ma-
temática. Meu ex-professor do Colégio Militar de Fortaleza, Antônio
Valdenísio Bezerra, ao convidar-me, inicialmente para assistir a suas
aulas de treinamento para a Olimpíada Cearense de Matemática e pos-
teriormente para dar aulas consigo, iniciou-me no maravilhoso mundo
das competições de Matemática e influenciou definitivamente minha
escolha profissional. Os comentários de muitos de vários de ex-alunos
contribuíram muito para o formato final de boa parte do material
aqui colecionado; nesse sentido, agradeço especialmente a João Luiz
de Alencar Araripe Falcão, Roney Rodger Sales de Castro, Marcelo
Mendes de Oliveira, Marcondes Cavalcante França. Jr., Marcelo Cruz
de Souza, Eduardo Cabral Balreira, Breno de Alencar Araripe Falcão,
Fabrício Siqueira Benevides, Rui Facundo Vigelis, Daniel PinheiroSo-
breira, Antônia Taline de Souza Mendonça, Carlos Augusto David Ri-
beiro, Samuel Barbosa Feitosa, Davi Máximo Alexandrino Nogueira
e Yuri Gomes Lima. Vários de meus colegas professores teceram co-
mentários pertinentes, os quais foram incorporados ao texto de uma
ou outra maneira; agradeço, em especial, a Fláudio José Gonçalves,
Francisco José da Silva Jr., Onofre Campos da Silva Farias, Emanuel
Augusto de Souza Carneiro, Marcelo Mendes de Oliveira, Samuel Bar-
bosa Feitosa e Francisco Bruno de Lima Holanda. Os professores João
Lucas Barbosa e Hélio Barros deram-me a conclusão de parte destas
notas como alvo a perseguir ao me convidarem a participar do Pro-
jeto Amílcar Cabral de treinamento dos professores de Matemática da
República do Cabo Verde. Meus colegas do Departamento de Mate-
mática da Universidade Federal do Ceará, Abdênago Alves de Barros,
José Othon Dantas Lopes, José Robério Rogério e Fernanda Esther
Camillo Camargo, bem como meu orientando de iniciação científica
Itamar Sales de Oliveira Filho, leram partes do texto final e oferece-
SUMÁRIO XVII
ram várias sugestões. Os pareceristas indicados pela SBM opinaram
decisivamente para que os livros certamente resultassem melhores que
a versão inicial por mim submetida. O presidente da SBM, professor
Hilário Alencar da Silva, o antigo editor-chefe da SBM, professor Ro-
berto Imbuzeiro de Oliveira, bem como o novo editor-chefe, professor
Abramo Hefez, foram sempre extremamente solícitos e atenciosos co-
migo ao longo de todo o processo de edição. Por fim, quaisquer erros
ou incongruências que ainda se façam presentes, ou omissões na lista
acima, são de minha inteira responsabilidade.
Por fim e principalmente, gostaria de agradecer a meus pais, Anto-
nio Caminha M uniz Filho e Rosemary Carvalho Caminha M uniz, e à
minha esposa Mônica Valesca Mota Caminha Muniz. Meus pais me fi-
zeram compreender a importância do conhecimento desde a mais tenra
idade, sem nunca terem medido esforços para que eu e meus irmãos
desfrutássemos o melhor ensino disponível; minha esposa brindou-me
com a harmonia e o incentivo necessários à manutenção de meu ânimo
e humor, em longos meses de trabalho solitário nas madrugadas. Esta
coleção de livros também é dedicada a eles.
FORTALEZA, JANEIRO de 2012
Antonio Caminha M. Neto
XVIII SUMÁRIO
Prefácio à segunda edição
A segunda edição contempla uma extensa revisão do texto e dos
problemas propostos, tendo sido corrigidas várias imprecisões de lín-
gua portuguesa e de Matemática. A discussão sobre recorrências line-
ares foi ampliada, no que resultou o capítulo 9, inteiramente dedicado
a elas. Nele, a solução de recorrências lineares de coeficientes constan-
tes gerais é apresentada, sendo demonstrada com o auxílio de funções
geradoras complexas. Apesar dessa ser uma abordagem natural para
este problema, salta aos olhos não haver tratamento adequado desse
tema disponível em língua portuguesa. Há, ainda, uma nova seção
no capítulo 8, versando sobre números transcendentes. Nela, a prova
original de J. Liouville para a existência de números transcendentes é
demonstrada. Adicionei também alguns exemplos e problemas novos,
no intuito de melhor exercitar certos pontos da teoria, os quais não se
encontravam adequadamente contemplados pelos problemas propostos
à primeira edição. As sugestões e soluções aos problemas propostos
também foram revistas e reorganizadas, tendo sido colecionadas em
um capítulo separado, o capítulo 10. Adicionalmente, são apresenta-
das sugestões ou soluções a praticamente todos os problemas do livro.
XIX
XX SUMÁRIO
Gostaria de aproveitar o ensejo para agradecer à comunidade ma-
temática brasileira em geral, e a todos os leitores que me enviaram
sugestões ou correções em particular, o excelente acolhimento desfru-
tado pela primeira edição desta obra.
FORTALEZA, JULHO de 2016
Antonio Caminha M. Neto
CAPÍTULO 1
Números Complexos
É um fato óbvio que o conjunto dos números reais resulta pequeno
demais para uma descrição completa das raízes de funções polinomiais
reais; por exemplo, a função x r-+ x2 + 1, x E IR, não as possui. Histori-
camente, afirmações simples como essa motivaram o desenvolvimento
dos números complexos, coroado pela demonstração, por Gauss, do
famoso teorema fundamental da álgebra.
Neste capítulo, concentramo-nos na construção do conjunto dos
números complexos e na discussão de suas propriedades mais elemen-
tares, postergando ao capítulo 3 a apresentação de uma demonstração
quase completa do teorema de Gauss acima referido.
1.1 Definição e propriedades elementares
Conforme visto no capítulo 1 de [10], em geral pensamos no con-
junto IR dos números reais como uma reta numerada: temos uma
1
1 1
2 Números Complexos
reta qualquer ( entidade geométrica) disposta horizontalmente, na qual
marcamos um ponto ( correspondente ao zero). A partir daí, escolhe-
mos um comprimento padrão ( que corresponderá à unidade) e duas
regras distintas para operar dois pontos da reta ( denominadas adição
e multiplicação de números reais), de modo a obter um terceiro ponto
como resultado. Então, chamamos os pontos da reta de números e
verificamos que as operações definidas gozam de várias propriedades
úteis: comutatividade, associatividade etc.
A discussão acima suscita a seguinte pergunta natural: haveria al-
guma forma de introduzir operações com propriedades úteis para os
pontos de um plano? Mais precisamente, se considerarmos a reta real
como o eixo horizontal de um plano cartesiano, haveria um modo de
definirmos operações com os pontos desse plano, generalizando as o-
perações com os pontos da reta real? A resposta é sim e o conjunto
resultante, que passamos a descrever, é o conjunto dos números com-
plexos.
Considere o plano cartesiano, visto como o conjunto lR x lR dos
pares ordenados ( a, b) de números reais. Defina em tal plano as ope-
rações EB e 8 por
(a,b)EB(c,d) = (a+c,b+d), (a,b)8(c,d) = (ac-bd,ad+bc), (1.1)
onde + e · denotam a adição e a multiplicação usuais de números reais.
Podemos verificar sem dificuldade que EB e 8 são operações asso-
ciativas e comutativas e que 8 é distributiva em relação a EB, i.e., que,
para todos a, b, e, d, e, f E JR, valem as seguintes propriedades:
1. Associatividade de EB e®: (a, b) EB ((e, d) EB (e,!))= ((a, b) EB
(e, d)) EB (e,!) e (a, b) 8 ((e, d) 8 (e,!))= ((a, b) 8 (e, d)) 8 (e,!).
11. Comutatividade de EB e®: (a,b) EB (c,d) = (c,d) EB (a,b) e
(a, b) 8 (e, d) = (e, d) 8 (a, b).
m. Distributividade de 0 em relação a EB: (a, b)8((c, d)EB(e, !)) =
((a, b) 8 (e, d)) EB ((a, b) 8 (e,!))
1.1 Definição e propriedades elementares 3
Também é imediato verificar que (O, O) e (1, O) são, respectivamente,
os elementos neutros de EB e 8, i.e., que
(a, b) EB (O, O) = (a, b) e (a, b) 8 (1, O) = (a, b),
para todos a, b E lR. Podemos ainda checar (faça isto!) que vale a
seguinte lei de cancelamento para 8:
(a, b) 8 (e, d) = (O, O) ==? (a, b) = (O, O) ou (e, d) = (O, O).
Considere, agora, nossa reta real como sendo o eixo das abscissas
'
o que equivale a identificar cada real x com o ponto (x, O). Temos,
então, que ver se essa identificação é boa, no sentido de os resultados
das operações EB e 8 coincidirem com os correspondentes das operações
usuais de adição e multiplicação de números reais. Isto se resume a
verificarmos se
(x, O) EB (y, O) = (x + y, O) e (x, O) 8 (y, O) = (xy, O), (1.2)
o que é imediato fazer.
Em palavras, as expressões acima dizem que, ao identificarmos os
números reais com os pontos do eixo das abscissas e executarmos as
operações EB e 8 acima definidas, obtemos os mesmos resultados que
obteríamos se, primeiro, executássemos as operações usuais de adição
e multiplicação com os números reais e, só então, identificássemos os
resultados assim obtidos com os pontos do eixo das abscissas.
Portanto, podemos considerar lR com suas operações usuais de adi-
ção e multiplicação como um subconjunto de lR x lRcom as operações
EB e 8, definidas como em ( 1.1), e também chamar os pontos do plano
de números, mais precisamente de números complexos. Denotamos
o conjunto dos números complexos por C
No que segue, vamos obter um modo mais cômodo de represen-
tar os números complexos e suas operações. Para tanto, denotare-
mos doravante por i o elemento (O, 1) do conjunto dos complexos e
4 Números Complexos
O denominaremos a unidade imaginária1. Denotando por ~ nossa
identificação dos pontos do eixo das abscissas com os números reais e
levando em conta a definição de 8, somos forçados a concluir que
i 2 = (O, 1) 8 (O, 1) = ( O · O - 1 · 1, O · 1 + 1 · O) = ( -1, O) ~ -1. ( 1. 3)
Veja, ainda, que
(a, b) = (a, O) EB (O, b) = (a, O) EB ((b, O) 8 (O, 1)) ~a+ bi. (1.4)
Doravante, denotaremos as operações EB e 8 simplesmente por + e ·, e
escreveremos a+ bi para denotar o número complexo (a, b), não mais
utilizando identificações. Segue, a partir de (1.4), que
a+ bi =O{::} (a, b) = (O, O) {::}a~ b = O.
Por outro lado, veja que, de acordo com a discussão acima, no conjunto
(C dos números complexos a equação
x 2 + 1 = O
tem o número i por raiz. Como veremos ao longo deste capítulo, esse
fato é o cerne da importância dos números complexos.
Uma boa justificativa para podermos escrever ( a, b) E C como a+bi
é que podemos operar com os complexos escritos na forma a+ bi como
fazemos com números reais, lembrando que i 2 = -1: os cálculos feitos
desse modo levam aos mesmos resultados que os cálculos feitos usando
diretamente as definições das operações + e · de C. Senão, vejamos:
1 As nomenclaturas imaginária e complexos têm origens históricas. Mais preci-
samente, quando os primeiros matemáticos começaram a utilizar números comple-
xos ainda sem uma definição precisa do que tais números seriam, chamaram-nos
cor:iplexos ou imaginários exatamente pela estranheza que causara cogitar-se a
existência de "números" cujos quadrados pudessem ser negativos.
1.1 Definição e propriedades elementares 5
• Cálculo de ( a, b) + ( e, d): por definição, temos ( a, b) + ( e, d) =
(a+c, b+d). Por outro lado, operando como usualmente fazemos
com números reais, obtemos
(a+bi) + (c+di) = (a+c) + (b+d)i.
Mas, como estamos escrevendo (a+c,b+d) = (a+c) + (b+d)i,
os dois resultados coincidem.
• Cálculo de ( a, b) · ( e, d): por definição, temos ( a, b) · ( e, d) =
( ac - bd, ad + bc). Operando novamente como com números
reais, temos
(a+ bi)(c + di) = ac +adi+ bci + bdi2 = (ac - bd) + (ad + bc)i,
uma vez que i 2 = -1. Mas, como estamos escrevendo ( ac -
bd, ad + bc) = (ac - bd) + (ad + bc)i, os resultados novamente
coincidem.
Levando em consideração as identificações feitas acima, podemos
escrever IR e C. Ademais, por analogia com as operações de adição
e multiplicação dos reais, também denominaremos as operações + e ·
sobre complexos de adição e multiplicação, respectivamente.
Prosseguindo nosso estudo, vamos introduzir em (C outras duas
operações, semelhantes à subtração e à divisão de números reais.
Dados z, w E C, subtrair w dez significa obter um complexo z -w
(a diferença entre z e w) tal que z = (z - w) + w. Sendo z =a+ bi e
w = e + di e operando como com números reais, vê-se facilmente que
z - w = (a+ bi) - (e+ di) = (a - e)+ (b - d)i.
Assim, sendo z
definido por
a+ bi e w = e+ di, o número complexo z - w,
z - w = (a - e)+ (b - d)i, (1.5)
6 Números Complexos
é denominado a diferença entre z e w.
Para z, w E C, com w -# O, dividir z por w significa obter um
número complexo z / w ( o quociente entre z e w), tal que z = ( z / w) · w.
Sendo z = a + bi e w = e + di e operando como quando fazemos
racionalizações com números reais, obtemos imediatamente
z a + bi ( a + bi) ( e - di)
w = c+di - (c+di)(c-di)
(ac + bd) + (bc - ad)i
c2 + d2
ac + bd bc - ad . ---+ 27,, c2+d2 c2+d
Sendo z =a+ bi e w =e+ di, com w-# O, o número complexo z/w,
definido por
z
w
é o quociente entre z e w.
ac + bd bc - ad .
c2 + d2 + c2 + d2 i, (1.6)
Examinando o caso particular da divisão de 1 por um número
complexo não nulo, concluímos que todo complexo z -# O possui inverso
em relação à multiplicação. Sendo z =a+ ib-# O, segue de (1.6) que
tal inverso, o qual denotaremos z-1 ou 1/ z, é dado por
1 a b .
z- = a2 + b2 - a2 + b2 i.
Lembre-se de que não precisamos nos preocupar em decorar as fórmu-
las acima. É só operar como quando operamos com números reais.
A fim de simplificar muitos de nossos cálculos posteriores, intro-
duzimos, agora, a seguinte notação: para z = a + bi E C, denotamos
por z O complexo z = a-bi e o denominamos o conjugado dez. Em
particular, temos z = z.
Observe ainda que, ao multiplicar z por z, obtemos como resultado
o número real a2 + b2 :
z. z = (a+ bi)(a - bi) = a2 - (bi)2 = a2 + b2 .
1.1 Definição e propriedades elementares
Denotamos JzJ = Ja2 + b2 e denominamos JzJ o módulo dez. Quando
z E IR, é imediato que a noção de módulo de um número complexo,
definida como acima, coincide com a noção usual de módulo de um
número real. Note também que, em resumo,
z =a+ bi:::} JzJ 2 = zz = a 2 + b2 . (1.7)
Olhando os pontos do plano cartesiano como o conjunto C dos
complexos, obtemos uma representação geométrica de C conhecida
como o plano complexo2 .
Im
b
o
-b
z -----,,
/" 1
,/' 1
./' 1
/ 1 ,, a
1
1
1
1
-----4
Re
Figura 1.1: conjugação de números complexos.
Os eixos horizontal e vertical do plano complexo são denominados,
respectivamente, eixos real e imaginário. O eixo real é formado pelos
números complexos reais (i.e., os pares ordenados (x, O)~ x), ao passo
que o eixo imaginário é formado pelos números complexos da forma
2também chamado plano de Argand-Gauss, em homenagem aos matemáticos
Jean-Robert Argand e Johann Carl Friedrich Gauss.
8 Números Complexos
yi, onde y E IR (i.e., os pares ordenados (O, y) = (y, O) · (O, 1) ~ yi);
tais números complexos são denominados imaginários puros.
Ainda em relação ao plano complexo, sendo z = a+ bi = (a, b),
segue de z = a - bi que z e z são simétricos em relação ao eixo
real (veja a figura 1.1). Por outro lado, os números reais a e b são
respectivamente denominados a parte real e a parte imaginária de
z, e denotados
a= Re(z), b = Im(z).
É, agora, claro que
Re(z) = z + z z - z
2 e Im(z) = ~· (1.8)
O resultado a seguir traz mais algumas propriedades úteis dos nú-
meros complexos. Para o enunciado do mesmo, observamos que a
associatividade da multiplicação de números complexos garante a boa
definição de zn, para z E CC e n EN, como z1 = z e
n
z=~,
n vezes
para n > 1. Tal definição pode ser facilmente estendida a expoentes
inteiros n, pondo, para z E <C \ {O}, zº = 1 e
n ( -n)-1 1 z = z =-z-n'
para n < O inteiro. Então, uma fácil indução permite mostrar que as
regras usuais de potenciação continuam válidas, a saber, que
(1.9)
para todos z,w E <C \ {O} e m,n E Z.
Podemos, finalmente, enunciar e provar o resultado desejado.
Lema 1.1. Se z e w são complexos não nulos quaisquer, então:
1.1 Definição e propriedades elementares
(a) z E IR{::} Re(z) =O{::} z = z.
(e) zn = (zt, para todo n E Z.
(d) lzl = 1 {::} z = l/z.
Prova.
(a) Seja z =a+ bi. Temos
z E IR {::} b = O {::} a+ bi = a - bi {::} z = z.
(b) Sendo z = a + bi e w = e+ di, temos
e
A partir daí, vem
de maneira que
z + w = (a - bi) + (e - di)
= ( a + e) - ( b + d) i
=z+w
zw = (ac - bd) + (ad + bc)i
= (ac - bd) - (ad + bc)i
= (a-bi)(c-di) = z·w.
z/w · w = z/w · w = z,
z/w = z/w.
9
( c) Para n = O o resultado é imediato e, para n E N, segue facilmente
de (b), por indução. Para n < O inteiro, observe inicialmente que, pelo
item (b), temos
1 = I = zz-1 = z · z-1
'
10 Números Complexos
de sorte que z-1 = (z)-1; portanto, pondo u = z-1 , a primeira parte
acima, juntamente com (1.9), fornece
(d) Uma vez que (cf. (1.7)) z · z = lzl 2, concluímos que
lzl = 1 {::} z · z = 1 {::} z = 1/ z.
D
Exemplo 1.2 (Espanha).Se z e w são números complexos de módulo
1 e tais que zw #- -1, mostre que r:z: é um número real.
Prova. Se a = t:z:, basta mostrarmos que a = a. Para tanto, note
que, pelo lema anterior, temos
z+w z+w
a=
1 + zw 1 +z · w
z-1 + w-1 w + z
- - -a
- 1 + z-1w-1 - zw + 1 - ·
D
Nosso próximo resultado dá uma interpretação geométrica bastante
útil do módulo da diferença de dois números complexos.
Proposição 1.3. Dados z, w E C, o número real lz - wl é igual à
distância Euclidiana de z a w no plano cartesiano subjacente ao plano
complexo em questão.
Prova. Se z = a + bi, w = c + di, então
lz - wl = l(a - c) + (b- d)il = J(a - c)2 + (b- d)2.
Por outro lado (conforme a figura 1.2), a proposição 6.5 de [11] garante
que a distância dez a w também é dada por J(a - c)2 + (b - d)2. D
1.1 Definição e propriedades elementares
Im
z
1
lb-dl I
1
1 r---
la-cl
w
Re
Figura 1.2: módulo da diferença entre dois complexos.
11
A desigualdade (1.10), a seguir, é conhecida como a desigualdade
triangular para números complexos.
Corolário 1.4. Seu, v e z são números complexos quaisquer, então
lu - vi ::::; lu - zl + lz - vi. (1.10)
Prova. De acordo com a proposição 1.3, o corolário diz apenas que
qualquer lado de um triângulo (possivelmente degenerado) é menor ou
igual que a soma dos outros dois lados, o que já sabemos ser verdadeiro
(conforme ensina a proposição 2.26 de [11]). D
Problemas - Seção 1.1
1. Em relação às operações de adição e multiplicação de números
complexos, verifique, a partir da definição, a associatividade e
comutatividade, bem como a distributividade da multiplicação
com respeito à adição. Verifique, ainda, que (O, O) e (1, O) são,
12 Números Complexos
respectivamente, seus elementos neutros e que vale a lei do can-
celamento para a multiplicação.
2. * Para z, w E C, prove que:
(a) lzwl = lzl · lwl.
(b) lz + wl 2 = lzl 2 + 2Re(zw) + lwl 2 .
3. * Use o item (b) do problema anterior para provar, para todos
z, w E C, a validade da desigualdade lz + wl ~ lzl + lwl, a qual
também é conhecida como a desigualdade triangular para
números complexos. Em seguida, use essa desigualdade para:
(a) Deduzir a validade de (1.10).
(b) Provar que llzl - lwll ~ lz - wl, para todos z, w E C.
4. Para z E C, prove que lzl = 1 se, e só se, existe x E IR tal que
1-ix
Z = l+ix'
5. (OCM.) Sejam a e z números complexos tais que lal < 1 e az #-
1. Se
lz-al 1-az < 1,
prove que lzl < 1.
Para o próximo problema, definimos uma sequência de números
complexos como uma função f : N ---+ C. Parafraseando nossa
discussão sobre sequências de números reais, levada a cabo em
(12], dada uma sequência f : N ---+ C, escrevemos Zn = f(n) e
nos referimos à sequência f simplesmente por (zn)n2'.1·
1.1 Definição e propriedades elementares 13
6. (Holanda.) A sequência (zk)k2'.l de números complexos é defi-
nida, para k E N, por
Zk = II (1 + ~) ,
j=l ../]
onde i é a unidade imaginária. Encontre todos os n E N tais que
n
L lzk+l - zkl = 1000.
k=l
7. Dados z, w E C, sejam u e v os vetores de origem O e extremi-
dades respectivamente z e w. Prove que os números complexos
z + w e z - w são, respectivamente, as extremidades dos vetores
u + v e u - v, com origem em O.
Para o próximo problema, recorde que ( de acordo com a seção 4.2
de (13]) uma relação de ordem (parcial) em X é uma relação
j em X que é reflexiva, transitiva e antissimétrica; ademais, se
tivermos x j y ou y j x para todos x, y E X, a relação de
ordem j é dita total. Para exemplificar, veja que a relação j,
definida em IR por
x j y~x ~ y,
é uma relação de ordem total; por outro lado, a relação j em
N, definida (veja o capítulo 1 de (14]) por
x j y~x I y,
é uma relação de ordem parcial que não é total.
8. Prove que o conjunto dos números complexos não pode ser to-
talmente ordenado. Mais precisamente, prove que não existe,
14
Números Complexos
sobre <C, uma relação de ordem total~' a qual estende a relação
de ordem usual em IR e satisfaz as condições
o ~ z, w =} o ~ z + w' zw.
O próximo problema generaliza a construção do conjunto dos
números complexos, apresentando a construção do conjunto lH1
dos quatérnios ( ou, ainda, números quaterniônicos) de Ha'-
milton3.
9. Em lH1 = {(a, b, e, d); a, b, e, d, E IR}, defina operações EB e 8, de-
nominadas respectivamente adição e multiplicação, pondo, para
a= (a,b,c,d) e /3 = (w,x,y,z) em lH1,
e
a EB /3 =(a+ w, b + x, e+ y, d+ z)
a 8 /3 = (aw - bx - cy - dz, ax + bw + cz - dy,
ay - bz + cw + dx, az + by - ex+ dw),
onde + e · denotam as operações usuais de adição e multiplicação
de números reais. Faça os seguintes itens:
(a) Mostre que a função l: IR~ lH1, tal que 1,(x) = (x,0,0,0)
preserva operações, no sentido de que
1,(x) EB 1,(y) = 1,(x + y) e 1,(x) 8 1,(y) = 1,(x + y),
para todos x, y E R
3 Após o matemático inglês do século XIX William R. Hamilton. O conjunto
dos quatérnios tem muitas aplicações importantes em Matemática e em Física,
mas estas fogem ao escopo destas notas.
1.1 Definição e propriedades elementares 15
(b) Mostre que as funções l 1 , 1,2 , 1,3 : <C ~ lH1, tais que 1,1 ( x+yi) =
(x, y, O, O), l2(x + yi) = (x, O, y, O) e 1,3 (x + yi) = (x, O, O, y),
preservam operações, no sentido de que
para todos z, w E (C e 1 :::::; j :::::; 3.
( c) De posse dos itens (a) e (b), escrevamos, doravante, sim-
plesmente + e · para denotar EB e 8, respectivamente, x
para denotar (x, O, O, O) e i = (O, 1, O, O), j = (O, O, 1, O) e
k = (O, O, O, 1). Mostre que
i 2 = j2 = k2 = -1
ij = -ji = k,jk = -kj = i, ki = -ik = j
(1.11)
e
(a, b, e, d)= a+ bi + cj + dk.
(d) Mostre que os resultados de (a+ bi + cj + dk) + (w +xi+
yj + zk) e ( a + bi + cj + dk) · ( w + xi + yj + zk) são os
mesmos que obteríamos utilizando as propriedades usuais
da adição e da multiplicação de números reais, juntamente
com as relações (1.11). A partir daí, conclua que:
1. A operação + é comutativa, associativa e tem O como
elemento neutro.
11. A operação é associativa, distributiva em relação a +,
tem 1 como elemento neutro mas não é comutativa.
(e) Para a= a+ bi + cj + dk E lH1, sejam a= a - bi - cj - dj
o conjugado de a. Mostre que, para a, f3 E lH1, temos
a/3 = a/3.
(f) Para a= a+bi+cj+dk E lH1, seja lal = .)a2 + b2 + c2 + d2
a norma de a. Mostre que aa = lal 2 e la/31 = lall/31, para
todos a, /3 E JH1.
16 Números Complexos
(g) Use o resultado do item anterior para deduzir a identidade
(7.9) de [14].
(h) Conclua que, para todo a E IHI\ {O}, existe um único /3 E lHI
tal que a/3 = 1. A partir daí, mostre que a lei do cancela-
mento vale em IHI, i.e., mostre que, se a, /3 E lHI forem tais
que a/3 = O, então a = O ou /3 = O.
10. (Japão.) Seja P um pentágono cujos lados e diagonais medem,
em alguma ordem, li, l2 , ... , lio- Se os números lr, l~, ... , l~
são todos racionais, prove que lio também é racional.
1.2 A forma polar de um número complexo
Dado z =a+ bi E (C \ {O}, seja a E [O, 21r) a menor determinação,
em radianos, do ângulo trigonométrico entre o semieixo real positivo
e a semirreta que une O a z (veja a figura 1.3).
Im
z
a o Re
Figura 1.3: forma polar de um número complexo.
Escrevendo
z= z + . z 1 1 ( a b ·) J a2 + b2 J a2 + b2 '
1.2 A forma polar de um número complexo
segue que
a
COSO'.=----;::::== Ja2 + b2
de maneira que
b
e sena= , Ja2 + b2
z = 1 z 1 ( cos a + i sen a) .
17
(1.12)
Como sen ( a + 2k1r) = sena e cos( a + 2k1r) cosa para todo
k E Z, a igualdade (1.12) ainda vale com a + 2k1r no lugar de a.
Por essa razão, diremos doravante que os números da forma a + 2k1r,
com k E Z, são os argumentos do complexo não nulo z e que a
é o argumento principal de z. Ademais, sendo a um argumento
qualquer dez, denominaremos a representação (1.12) de forma polar
(ou trigonométrica) dez. Veja, ainda, que
I cosa+ i sen ai = 1, (1.13)
para todo a E IR. Também doravante, denotaremos o complexo cos a+
i sena simplesmentepor eis a. Assim, sendo a um argumento de
z E <C, segue de (1.12) que
z = lzl eis a.
O exemplo a seguir traz um uso interessante, ainda que elementar,
da noção de argumento de um número complexo.
Exemplo 1.5. Dentre todos os complexos z tais que lz - 25il ~ 15,
obtenha o de menor argumento principal.
Solução. Os complexos satisfazendo a condição do enunciado sao
aqueles situados sobre o disco fechado de centro 25i e raio 15;
18 Números Complexos
Im
o Re
destes, o de menor argumento principal é aquele z E C tal que a se-
mirreta de origem O e que passa por z tangencia tal círculo no primeiro
quadrante cartesiano.
Como o raio do círculo é 15, o teorema de Pitágoras, aplicado
ao triângulo retângulo de vértices 25i, z e O, nos dá \z\ = 20. Agora,
sendo z = a+bi, temos que a é igual à altura desse triângulo retângulo
relativa à hipotenusa; portanto, as relações métricas em triângulos
retângulos (proposição 4.9 de [11]) garantem que 25a = 15 · 20, de
onde segue que a= 12. Como \z\ = 20, temos que
202 = \z\2 = ª2 + b2 = 122 + b2
e, daí, b = 16. Logo, z = 12 + 16i. D
A fórmula (1.14) a seguir, conhecida como a primeira fórmula
de de Moivre4 , estabelece as vantagens computacionais da represen-
tação polar de números complexos.
Proposição 1.6 (de Moivre). Se z = \z\ cisa é um complexo não nulo
e n E Z, então
(1.14)
4 Após Abraham de Moivre, matemático francês do século XVIII.
1.2 A forma polar de um número complexo 19
Prova. O caso n = O é trivial. Supondo que tenhamos provado a
fórmula para n > O, mostremos sua validade para n < O. Para tanto,
seja n = -m, com m E N. Dado O E IR, segue do item (d) do lema
1.1 e de \eis O\ = 1 que
( eis 0)-1 = eis O = cos O + i sen O = cos O - i sen O
= cos(-0) + i sen (-0) = eis (-0).
(1.15)
Portanto, como estamos assumindo a validade de (1.14) com m no
lugar de n, segue que
zn = z-m = (\z\ eis a)-m = \z\-m( eis (ma)t1
= \zln eis (-ma) = lzln eis (na).
Para o caso n > O, façamos indução sobre n, sendo o caso n = 1
trivial. Supondo o resultado válido para um certo n E N, temos
zn+l = z · zn = lzl eis a· lzln eis (na)
= lzln+l eis a· eis (na),
e basta mostrarmos que cisa· eis (na)= eis (n + l)a, i.e., que
( cos a + i sen a) ( cos (na) + i sen (na)) = cos ( n + 1) a + i sen ( n + 1) a.
Mas, esta última igualdade é imediata a partir das fórmulas trigono-
métricas de adição de arcos (proposição 7.18 de [11]). D
O corolário a seguir fornece a interpretação geométrica usual para
a multiplicação de números complexos, um dos quais de módulo 1.
Para o caso geral, referimos ao leitor o problema 1.
Corolário 1.7. Sejam a um real dado e z E (C \ {O}. Se u é o
vetor de origem O e extremidade z, então o ponto do plano complexo
que representa ( eis a) · z é a extremidade do vetor obtido mediante a
rotação trigonométrica5 deu pelo ângulo a (veja a figura 1.4).
20 Números Complexos
Im
z
z · eis a
Re
Figura 1.4: interpretando geometricamente a multiplicação por eis a.
Prova. Sendo z = lzl eis O, temos da primeira fórmula de de Moivre
que
z · eis a = 1 z I eis O · eis a = 1 z I eis ( O + a).
Mas, este último complexo é exatamente a extremidade do vetor ob-
tido pela rotação deu do ângulo a, no sentido trigonométrico. D
Corolário 1.8. Se z = lzl eis a e w = lwl eis ,B são complexos não
nulos quaisquer, então
zw = lzwlcis (a+ ,B) e : = i1:11 · eis (a - ,B).
Em particular, a + ,B ( resp. a - ,B) é a medida em radianos de um
argumento para zw (resp. z/w).
Prova. Façamos a prova para ~, sendo o outro caso totalmente aná-
logo. Para tanto, basta ver que, por (1.15),
!._ = lzl eis a· lwl-1 eis (-,B) = fl · eis (a - ,B).
w lwl
5Quer dizer, giramos u de um ângulo de medida a radianos, no sentido anti-
horário se a > O e no sentido horário se a < O.
1.2 A forma polar de um número complexo 21
D
Dados n EN e z E (C \ {O}, entendemos por uma raiz n-ésirna
dez um complexo w tais que wn = z. Contrariamente ao que ocorre
com números reais, cada complexo não nulo z tem exatamente n raízes
n-ésimas, as quais denotaremos genericamente por zyz. A fórmula
(1.16) a seguir, conhecida como a segunda fórmula de de Moivre
' nos ensina a calculá-las.
Proposição 1.9 (de Moivre). Se z = lzl cisa é um complexo não
nulo e n é um inteiro positivo qualquer, então há exatamente n valores
complexos distintos para a raiz n-ésima de z. Ademais, tais valores
são dados por
nlÍ--::::TI . (ª + 2k1r) V 141 · eis n ; O :S: k < n, k E N,
onde vTzT é a raiz real positiva de lzl.
Prova. Se w = reis O, então
wn = z {::} (rcisor = lzl cisa
{::} rn eis (nB) = lzl eis a
{::} rn = lzl e nB =a+ 2k1r, :l k E Z.
(1.16)
Estas últimas duas igualdades ocorrem se, e só se, r = vizT e O =
a+2k1r 1 k '71 p , -n-, para a gum E /L,, ortanto, havera tantas raízes n-ésimas
de z distintas quantos forem os números eis ( a+;;krr) distintos. Mas é
fácil ver que
. (ª + 2k1r) . (ª + 2(k + n)1r) ClS = ClS
n n
e
eis ( a +n2k1r) -=/=- eis ( a +n2l7r)
para O :S: k < l < n, de maneira que basta considerarmos os inteiros k
tais que O :S: k < n. D
22 Números Complexos
Em que pese a fórmula acima, vale frisar que nem sempre ela se
constitui na melhor maneira de calcularmos as raízes de um certo
índice de um número complexo; isto porque nem sempre a forma tri-
gonométrica de complexo é efetivamente útil para cálculos. Veja o que
ocorre no exemplo a seguir.
Exemplo 1.10. Calcule as raízes quadradas de 7 + 24i.
Solução. Se tentarmos utilizar a segunda fórmula de de Moivre, te-
remos de começar observando que
7 + 24i = 25 ( cos a + i sen a),
onde a = arctg 2i. Mas, como tal arco não é um arco notável, os
cálculos trigonométricos que teremos de fazer para utilizar. a segunda
fórmula de de Moivre serão mais trabalhosos do que a utilização di-
reta da definição de raiz quadrada de um número complexo. Senão,
vejamos:
Seja 7 + 24i = ( a + bi) 2 , com a, b E IR. Desenvolvendo ( a + bi)2 e
igualando em seguida as partes real e imaginária, obtemos o sistema
de equações
{ ª2 - b2 = 7 .
ab = 12
Elevando a segunda equação ao quadrado e substituindo a2 = b2 + 7
no resultado, chegamos à equação (b2 + 7)b2 = 144, de sorte que
b2 = 9. Mas, como ab = 12 > O, concluímos que a e b devem ter sinais
iguais e, a partir daí, que os possíveis pares (a, b) são (a, b) = (3, 4)
ou (-3, -4). Logo, as raízes quadradas procuradas são os números
complexos ±(3+ 4i). D
Como caso particular importante da discussão sobre raízes de nú-
meros complexos, dizemos que o número complexo w é uma raiz da
unidade se existir um natural n tal que wn = 1. Neste caso, w é
denominado uma raiz n-ésima da unidade.
1.2 A forma polar de um número complexo 23
Como 1 = eis O, a segunda fórmula de de Moivre nos diz que há
precisamente n raízes n-ésimas distintas da unidade, as quais são
dadas por
. (2krr) wk = eis ---:;;- ; O :::::; k < n, k E Z. (1.17)
Denotando w = eis 2;, segue imediatamente de (1.17) e da pri-
meira fórmula de de Moivre que as raízes n-ésimas da unidade são os
números complexos
1 n-1 ,w,". ,w (1.18)
À guisa de fixação, vejamos dois exemplos.
Exemplo 1.11. Dado n E N, ache, em função de n, as soluções da
equação (z - ir= zn.
Solução. Como z = O não é raiz, a equação equivale a ( 1 - ~ r = 1.
Portanto, sendo w = eis 2;, segue da discussão acima que 1- ~ é igual
a um dos números w, w2, ... , wn-l (note que 1 também não é raiz da
equação dada). Como 1 - ~ = wk se, e só se, z = 1_1wk, segue que zé
igual a um dos números complexos
1 1 1
1 - w' 1 - w2 ' ... ' 1 - wn-1 .
D
Para o que segue, recordemos ( conforme discussão que precede o
problema 6, página 12) que uma sequência de números complexos é
uma função f : N ---+ C, a qual será, o mais das vezes, denotada
simplesmente por (zn)n::::1, onde Zn = f(n). Isto posto, observamos
que a demonstração da fórmula para a soma dos n primeiros termos
de uma PG de números reais e razão diferente de O e 1 é válida
'
ipsis literis,para uma PG de números complexos, i.e., uma sequência
(zn)n::::1 de complexos, tal que Zk+l = qzk para todo k 2:: 1, onde
q E C \ {O, 1 }. Portanto, podemos enunciar o resultado auxiliar a
seguir.
24 Números Complexos
Lema 1.12. Para z E C \ {O, 1}, temos
2 n 1 zn - 1
l+z+z +···+z - =--
z-1
Como corolário do lema acima, note que, se w =I 1 é uma raiz
n-ésima da unidade, então wn = 1, de maneira que
1 + w + w2 + · · · + wn-l = O. (1.19)
Utilizaremos a fórmula acima várias vezes em nossas discussões pos-
teriores.
Exemplo 1.13 (IMO). Use números complexos para provar que
1r 27r 31r 1
cos- - cos- +cos- = -
7 7 7 2·
Prova. Se w = eis 2;, uma raiz sétima da unidade, então
Re(w + w2 + w3) = cos 27r + cos 4 1r + cos 51r
7 7 7
21r 31r 1r
= cos 7 -cos 7 -cos 7.
Por outro lado, como wk · w7-k = 1 e lwkl = 1, segue do item (d) do
lema 1.1 que
w7-k = (wk)-1 = wk.
Portanto, w + w2 + w3 = w6 + w5 + w4 e, daí,
Re(w + w2 + w3) = Re(w6 + w5 + w4). (1.20)
Por fim, segue de (1.19) que
2 6 1 w+w + .. ·+w =-;
daí, tomando partes reais e utilizando (1.20), obtemos
2Re(w + w2 + w3) = Re(w + w2 + w3) + Re(w6 + w5 + w4) = -1
1
1
4·\
!' 1.2 A forma polar de um número complexo 25
e segue, de (1.20), que
1r 21r 31r 1
cos 7 - cos 7 + cos 7 = -Re(w +w2 +w3) = 2.
D
O próximo resultado usa a segunda fórmula de de Moivre para dar
uma bela interpretação geométrica para as raízes n-ésimas de um
complexo não nulo.
Proposição 1.14. Se zé um complexo não nulo e n > 2 é um natural,
então as raízes n-ésimas de z são os vértices de um n-ágono regular
centrado na origem do plano complexo.
Prova. Sendo a um argumento de z, segue da segunda fórmula de de
Moivre que as raízes n-ésimas de z são os complexos z0 , z1 , ... , Zn-l
tais que
nfi":T , (ª + 2k7r) Zk = y 1~1 • ClS n ,
para O::::; k < n.
A partir de (1.13), obtemos
de sorte que os pontos zk estão todos situados sobre o círculo de centro
O e raio ~ do plano complexo. Por outro lado, segue do corolário
1.8 que
Zk+1 = eis (21r) '
Zk n
para O ::::; k < n. Então, sendo uk o vetor de origem O e extremidade
zk, segue do corolário 1. 7 que o ângulo entre uk e uk+l, medido em
radianos e no sentido anti-horário, é, para O::::; k < n, igual a 2:.
A proposição decorre imediatamente desses dois fatos. D
; 1 1
26 Números Complexos
Im
Re
Figura 1.5: disposição geométrica de raízes quartas de -1.
Exemplo 1.15. Na figura 1.5, representamos, no plano complexo, as
raízes quartas de -1. Observe que z1 = Jf=-Iícis i = 1J;.
O corolário a seguir isola uma consequência importante do resul-
tado anterior.
Corolário 1.16. As raízes n-ésimas da unidade se dispõem, no plano
complexo, como os vértices do polígono regular de n lados, inscrito no
círculo de raio 1 centrado na origem e tendo o número 1 como um de
seus vértices.
Exemplo 1.17. Na figura 1. 6, temos w = eis 2; = l+;v'3, de sorte que
os números complexos 1, w, ... , w5 são as raízes sextas da unidade.
Os números 1, w2 e w4 são as raízes cúbicas da unidade, ao passo que
os números w, w3 = -1 e w5 são as raízes cúbicas de -1.
1.2 A forma polar de um número complexo 27
lm
1
. w3 Re
Figura 1.6: raízes sextas da unidade.
Problemas - Seção 1.2
1. Para r E lR \ {O}, definimos a homotetia de centro O e razão
r como a função Hr : C --+ C, tal que Hr(z) = rz, para todo
z E C. Para () E lR \ {O}, definimos a rotação de centro O
e ângulo () como a função R0 : C \ {O} --+ C \ {O}, tal que
Ro(z) = (cisO)z, para todo z E C \ {O}.
(a) Seja u o vetor de origem O e extremidade z. Se w = Hr(z),
prove que o vetor de origem O e extremidade w é ru.
(b) Se w = reis() é um complexo não nulo, prove que, para
todo z E C \ {O}, temos
wz = Hr o Ro(z).
2. (OCM.) Seja w um número complexo tal que w2 + w + 1 = O.
1
! '
28 Números Complexos
Calcule o valor do produto
3. Seja num natural múltiplo de 3. Calcule o valor de (1 + v'3it-
(1 - v'3it.
4. Resolva em <C o sistema de equações
{
lz1I = lz2I = lz3I = 1
Z1 + Z2 + Z3 = Ü
Z1Z2Z3 = 1
5. Encontre, em função de n EN, as soluções da equação
(1 + z) 2n + (1 - z) 2n =· O.
6. Mostre que todas as raízes da equação (z-1)5 = 32(z+ 1)5 estão
situadas sobre o círculo do plano complexo de raio Í e centro -i,
7. (Irlanda.) Para cada n E N, defina an = n2 + n + 1. Dado k E N,
prove que existem EN tal que ªk-Iak = ªm·
8. (Romênia.) Sejam p, q E <C, com q =/=- O, tais que a equação
x 2 + px + q2 = O tem raízes de módulos iguais. Prove que ~ E lR.
9. Sejam z1, z2 e z3 números complexos não todos nulos. Prove que
z1, z2 e z3 são os vértices de um triângulo equilátero no plano
complexo se, e só se,
2 2 2 Z1 + Z2 + Z3 = Z1Z2 + Z2Z3 + Z3Z1,
10. Dado n > 2 inteiro, use números complexos para provar que
n-1 2k7r n-1 2k7r
~cos-- = I:sen-- = O.
L- n n
k=O k=O
' I; !~: ;;, ~ 1.2 A forma polar de um número complexo 29
11. Dados n > 2 inteiro e a E IR, use números complexos para
calcular cada uma das somas abaixo em função de n e a:
(a) sena+ sen (2a) + sen (3a) + · · · + sen (na).
(b) sen2a + sen2(2a) + sen2(3a) + · · · + sen2(na).
12. Dê exemplo de um conjunto infinito 7 e <C satisfazendo as se-
guintes condições:
(a) Para todo z E 7 existe n EN tal que zn = 1.
(b) Para todos z, w E 7, temos zw E 7.
13. (Croácia.) Sejam n um natural dado e A um conjunto de n
números complexos não nulos, tendo a seguinte propriedade: se
quaisquer dois de seus elementos ( não necessariamente distintos)
forem multiplicados, obtemos outro elemento do conjunto. Ache
todos os conjuntos A possíveis.
14. Seja g : <C --+ <C uma função dada e w = eis 2;. Para cada número
complexo dado a, prove que há uma única função f : (C --+ <C tal
que
f(z) + f(wz + a) = g(z), V z E <C.
30 Números Complexos
CAPÍTULO 2
Polinômios
De um ponto de vista mais algébrico, funções polinomiais reais po-
dem ser encaradas como polinômios de coeficientes reais. Conforme
veremos a partir deste capítulo, um tal ponto de vista resulta muitís-
simo frutífero no estudo de polinômios, não somente os de coeficientes
reais, mas também aqueles com coeficientes racionais ou, mais ge-
ralmente, complexos. Nesse sentido, em tudo o que segue, sempre
que uma propriedade for válida para polinômios com coeficientes em
um qualquer dos conjuntos numéricos (Ql, lR. e C, escreveremos sim-
plesmente IK para denotar tais conjuntos, salvo menção explícita em
contrário. Nosso propósito é, pois, desenvolver os aspectos algébricos
elementares da teoria dos polinômios sobre IK. 1
1 Para os que já estudaram um pouco de Estruturas Algébricas, frisamos que lK
poderia denotar um corpo qualquer de característica O. De fato, a restrição de lK
a (Ql, ~ ou C é meramente psicológia, tendo o intuito de tornar o mais elementar
possível a discussão subsequente.
31
------------~---- -
32 Polinômios
2.1 Definições e propriedades básicas
Colecionamos, nesta seção, as definições e notações básicas sobre
polinômios, as quais serão fundamentais para os desenvolvimentos sub-
sequentes da teoria.
Definição 2.1. Uma sequência (a0, a1, a2, .. . ) de elementos de IK é
dita quase toda nula se existir n ~ -1 tal que
Em palavras, uma sequência (ao, a1 , a2, .. . ) é quase toda nula se
todos os seus termos, de uma certa posição em diante, forem iguais a
zero. Por exemplo, as sequências
(O, O, O, O, O, O, ... ) e (1, 2, 3, ... , n, O, O, O, ... )
são quase todas nulas; por outro lado, a sequência (1, O, 1, O, 1, ... ),
com l's e O's se alternando indefinidamente, não é quase toda nula.
Definição 2.2. Um polinômio sobre ( ou com coeficientes em) IK é
uma soma formal f = f(X) do tipo
f(X) = ªº + a1X + a2X2 + a3X3 + ... := L akxk, (2.1)
k2:0
onde (ao, a1, a2, .. . ) é uma sequência quase toda nula de elementos de
IK e convencionamos Xº = 1 e X 1 = X no somatório acima.
Ainda em relação à definição acima, cumpre observar que X é um
símbolo qualquer. Em particular, X não representa uma variávele
poderíamos, por exemplo, ter utilizado o símbolo O em seu lugar.
Assumiremos ainda que os polinômios f(X) = Lk2:o akXk e g(X) =
Lk>O bkXk sobre IK são iguais se, e só se, ak = bk, para todo k ~ O.
Dado um polinômio f(X) = a0 + a1X + a2X 2 + a3X 3 + · · · sobre
IK, adotamos as seguintes convenções:
2.1 Definições e propriedades básicas 33
i. Os elementos ai E IK são denominados os coeficientes de f.
ii. Quando ai = O omitiremos, sempre que for conveniente, o termo
aiXi. Em particular, como a sequência (a0, a1, a2, .. . ) é quase
toda nula, existe um inteiro n ~ O para o qual podemos escrever
n
f(X) = Lªkxk.
k=O
iii. Quando ai = ±1, escreveremos ±Xi em vez de (±l)Xi, para O
termo correspondente de f.
iv. O polinômio O = O+ OX + OX2 + · · · é denominado o polinômio
identicamente nulo sobre IK. Sempre que não houver perigo
de confusão com O E IK, denotaremos o polinômio identicamente
nulo sobre IK simplesmente por O.
v. Mais geralmente ( e consoante ii.), dado a E IK, denotamos o po-
linômio a+ox +OX2+· · · simplesmente por O: e O denominamos
o polinômio constante a; em cada caso, o contexto deixará
claro se estamos nos referindo ao polinômio constante e igual a
a ou ao elemento a E IK.
Denotamos por IK[X] o conjunto de todos os polinômios sobre IK.
Em particular, de posse do item v. acima, convencionamos também
que
IK e IK[X].
Por outro lado, as inclusões (Q e IR e C fornecem as inclusões
(Q[X] e IR[X] e C[X].
Exemplo 2.3. Se f(X) = 1 + X - X 3 + \!'2X7, então f tJ. (Q[X]
(uma vez que v'2 (f. Q) mas f E IR[X]. Já a expressão g = 1 +X+
x2 + x3 + x4 + - , l. A • · · · nao e um po inomio, uma vez que a sequência
(1, 1, 1, ... ) não é quase toda nula.
1
r
1
oe:3..cc4 ______________________ =-P=ol=in=ô=m=1=·º=-s i' 2.1 Definições e propriedades básicas 35
No que segue, vamos definir sobre IK[X] operações
EB : IK[X] x IK[X] ----+ IK[X] e 8 : IK[X] x IK[X] ----+ IK[X],
respectivamente denominadas adição e multiplicação. Para tanto,
precisamos inicialmente do seguinte resultado auxiliar.
Lema 2.4. Se (ak)k2:o e (bk)k2:o são sequências quase todas nulas de
elementos de OC, então também são quase todas nulas as sequências
( ak ± bk h2:o e ( ck h2:o, onde
k
ck = L aibj = L aibk-i·
i+i=k i=O
i,j2:0
Prova. Mostremos somente que a sequência ( ck) k2:0 é quase toda nula,
ficando o outro caso como exercício para o leitor ( veja o problema 1).
Sejam m, n E Z+ tais que ai = O para i > n e bj = O para j > m. Se
k > m + n e i + j = k, com i, j ~ O, então i > n ou j > m, pois, do
contrário, teríamos k = i + j :S n + m, o que não é o caso. Mas, como
i > n =} ai = O e j > m =} bj = O, em qualquer caso temos aibj = O,
de sorte que
Ck = L aibj = O.
i+j=k
i,j2:0
o
De posse do lema anterior, podemos finalmente formular as defini-
ções das operações de adição e multiplicação de polinômios.
Definição 2.5. Dados em IK[X] os polinômios
a soma e_º produto de f e g, denotados respectivamente por f EB g
e f 8 g, sao os polinômios
U EB g)(X) = L(ak + bk)Xk
k2:0
e
U 8 g)(X) = Lckxk,
k2:0
Ainda que, em princípio, possa não parecer, a definição do produto
de dois polinômios é bastante natural: a fórmula para o coeficiente ck
de f 8 g é necessária se quisermos que valham a distributividade da
operação 8 em relação à operação EB, bem como a regra usual de
potenciação xm 8 xn = xm+n. De fato, se tais propriedades forem
válidas, então, calculando o produto
(ao+ a1X + a2X2 + · · ·) 8 (b0 + b1X + b2X 2 + ... )
distributivamente, obtemos
para coeficiente de Xº,
para coeficiente de X,
aobo = L aibj
i+j=O
i,j2:0
aob1 + a1bo = L aibj
i+j=l
i,j2:0
aob2 + a1 b1 + a2bo = L aibj
i+j=2
i,j2:0
para coeficiente de X 2 e assim por diante.
1 !
36 Polinômios
De fato, não é difícil nos convencermos ( cf. problema 3) de que,
conforme foram definidas, as operações de adição e multiplicação de
polinômios sobre lK gozam das seguintes propriedades:
i. Comutatividade: f E9 g = g E9 f e f 0 g = g 0 f;
ii. Associatividade: (! E9 g) E9 h = f E9 (g E9 h) e (! 0 g) 0 h =
f 0 (g 0 h);
m. Distributividade: f 0 (g E9 h) = (! 0 g) E9 (! 0 h),
para todos f,g, h E JK[X].
Exemplo 2.6. Considere os polinômios de coeficientes reais f(X) =
1 + X - v'2X2 - 4X3 e g(X) =X+ X 2, onde, como anteriormente
convencionado, omitimos os coeficientes nulos. Então
e
(! EB g)(X) = 1 + 2X + (1 - v'2)X2 - 4X3
(! 0 g)(X) = (1 + X - v'2X2 - 4X3) 0 (X+ X 2)
= [10 (X+ X 2)] E9 [X 0 (X+ X 2)]EB
E9 [-v'2X2 0 (X+ X 2)] E9 [-4X3 0 (X+ X 2)]
= (X+ X2) E9 (X2 + X3) E9 ( -v'2X3 - v'2X4)EB
E9 ( -4X4 - 4X5)
=X+ 2X2 + (1 - v'2)X3 - (v'2 + 4)X4 - 4X5 .
A discussão acima deixa claro que podemos relaxar nossas nota-
ções, denotando, a partir de agora, as operações de adição e multipli-
cação de polinômios sirnplesrnente por + e ·. Assim, sempre que adi-
cionarmos dois polinômios, os sinais + representarão duas operações
diferentes: a adição de elementos de lK, efetuada sobre os coeficientes
dos polinômios ern questão, e a adição de elementos de JK[X]. No en-
tanto, isto não deve causar confusão, urna vez que o contexto sempre
2.1 Definições e propriedades básicas 37
deixará claro a qual operação o sinal+ se refere. Note, ainda, que urn
comentário análogo é válido para o sinal · de multiplicação.
Observação 2.7. Todas as definições acima podem ser estendidas,
aliás de maneira óbvia, para incluir polinômios de coeficientes inteiros.
Doravante, sempre que necessário, denotaremos o conjunto de tais
polinômios por Z[X].
Sendo O o polinômio identicamente nulo, ternos f + O = O + f = O
para todo f E JK[X], i.e, o polinômio identicamente nulo é o elemento
neutro da adição de polinômios. Por outro lado, dado f E JK[X],
existe urn único polinômio g E JK[X] tal que f + g = g + f = O: de
fato, sendo f(X) =ao+ a1X + a2X 2 +···,é imediato que
g(X) = -ao - a1X - a2X 2 - · • .
é esse único polinômio, o qual será, doravante, denotado por - f. As-
sim,
(-!)(X)= -ao - a1X - a2X 2 - • • •
e, para /, g E JK[X], podemos definir a diferença f - g entre f e g
por f - g = f + ( -g).
Para a E lK e g(X) = bo + b1X + b2X 2 + · · · E JK[X], é imediato
verificar que
a · g = abo + ab1X + ab2X 2 + · · . ;
em particular, ternos 1 · g = g para todo g E JK[X], de maneira que
o polinômio constante 1 é o elemento neutro da multiplicação de po-
linômios.
Doravante, sempre que não houver perigo de confusão, escrevere-
mos sirnplesrnente f g para denotar o produto f · g, de f, g E JK[X].
Em particular, se a E JK, então af denotará o produto de a, visto
como polinômio constante, e f.
A definição a seguir desempenhará papel central ao longo do texto.
~382._ ____________________ _.:=..P-=-o=lin=º=Am=iº=---' r 2.1 Definições e prnpriedades básicas
l:
39
Definição 2.8. Se J(X) = a0 + a1X + · · · + anXn E IK[X] \ {O}, ,, 'l
com an -=I O, dizemos que o inteiro não negativo n é o grau de f, e ~
denotamos a f = n ( lê-se "o grau de f é igual a n"). i-
Veja que só definimos grau para polinômios não identicamente nu-
los; por outro lado, 8f = O para todo polinômio constante J(X) = a,
com a E lK \ {O}. Doravante, sempre que nos referirmos a f E
IK[X] \ {O} escrevendo
f ( X) = anXn + · · · + a1 X + ao
suporemos, salvo menção em contrário, que an -=I O. Nesse caso, an
será denominado o coeficiente líder de f. Finalmente, f será dito
mônico quando tiver coeficiente líder 1.
A proposição a seguir estabelece duas propriedades muito impor-
tantes da noção de grau de polinômios.
Proposição 2.9. Para f,g E IK[X] \ {O}, temos:
(a) au + g)::; max{8f,8g} se f + g -=I o.
(b) f g -=I O e 8(f g) = 8f + 8g.
Prova. Sejam a f = n e 8g = m, com
(a) Sem -=I n, podemos supor, sem perda de generalidade, quem> n.
Então
(f + g)(X) =(ao+ bo) + · · · + (an + bn)Xn + bn+1xn+1 + · · · + bmXm,
de forma que 8(! + g) = m = max{8f, 8g}. Sem= n mas f + g =f O,
então
(f + g)(X) =(ao+ bo) + · · · + (an + bn)Xn
e há duas possibilidades:an + bn = O ou an + bn =f O. No pri-
meiro caso, 8(! + g) < n = max{8f, 8g}. No segundo, 8(! + g) =
n = max{8f,8g}. Em qualquer caso, ainda teremos 8(! + g) ::;
max{8f, 8g}.
(b) Seja fg = co+c1X +c2X2+· · ·. Se k > m+n, vimos, na prova do
lema 2.4, que ck = O. Portanto, se mostrarmos que Cm+n -=I O, seguirá
que fg-# O e 8(fg) = m+n = 8f +8g. Mas, como ai= O parai> n
e bj = O para j > m, é imediato que
Cm+n = L aibj = anbm =f O.
i+j=m+n i,j?_O
Problemas - Seção 2.1
D
1. * Se (ak)k?.O e (bk)k?.o são sequências quase todas nulas de ele-
mentos de IK, mostre que a sequência (ak ± bk)k?.O também é
quase toda nula.
2. Dado n EN, execute as seguintes multiplicações de polinômios:
(a) (X - l)(xn-1 + xn-2 +···+X+ 1).
(b) (X+ l)(xn-1 - xn-2 + · · · - X+ 1), se n for ímpar.
(c) (X+ l)(X2 + l)(X4 + 1) ... (X2n + 1).
3. * Mostre que as operações de adição e multiplicação de poli-
nômios são comutativas, associativas e que a multiplicação é
distributiva em relação à adição.
1
11
r
40
i;;,
6 Polinômios
4. * Mostre que, em K[X], não há divisores de zero. Mais preci-
samente, mostre que se f,g E K[X] são tais que fg = O, então
f = o ou g = o.
5. (Torneio das Cidades.) Encontre pelo menos um polinômio f,
de grau 2001, tal que J(X) + J(l - X) = 1.
2.2 O algoritmo da divisão
Já vimos ser possível adicionar, subtrair e multiplicar polinômios,
sendo o resultado ainda um polinômio. E quanto à possibilidade de
uma operação de divisão para polinômios? Bem, nem sempre será
possível efetuá-la; em outras palavras, dados polinômios f, g E K[X],
com g -=/:- O, nem sempre existirá h E K[X] tal que f = gh; por exemplo,
se J(X) =X+ 1 e g(X) = X 2 então um tal polinômio h não existe,
pois, caso existisse, deveríamos ter
1 = of = o(gh) = og +oh= 2 + oh
e, daí, oh= -1, o que é um absurdo.
Apesar da discussão do parágrafo anterior, o seguinte análogo da
divisão de inteiros, denominado o algoritmo da divisão para po-
linômios, ainda é válido.
Teorema 2.10. Se f, g E K[X], com g -=/:- O, então existem únicos
q, r E K[X] tais que
f = gq + r, com r = o ou o~ or < og. (2.2)
Prova. Mostremos, inicialmente, que há no máximo um par de po-
linômios q e r satisfazendo as condições do enunciado. Para tanto,
sejam q1 , q2, r 1 , r 2 E K[X] tais que
2.2 O algoritmo da divisão 41
com ri= O ou O ~ ori < og, parai= 1, 2. Então, g(q1 - q2) = r 2 - r1
e, se q1 -=/:- q2, o problema 4, página 40, garante que r 1 -=/:- r 2. Mas, pela
proposição 2.9, temos
og ~ og + o(q1 - q2) = o(g(q1 - q2))
= o(r1 - r2) ~ max{or1, or2} < og,
O que é um absurdo. Portanto, q1 = q2 e, daí, r 1 = r 2.
Façamos, agora, a prova da existência de polinômios q e r satisfa-
zendo as condições do enunciado. No que segue, sejam b o coeficiente
líder e no grau de g, e consideremos o seguinte algoritmo:
Algoritmo da divisão para polinômios
1. FAÇA
• r +-- f; m +-- of; q +-- O;
• a+-- COEFICIENTE LÍDER DE r;
2. ENQUANTO r -=/:- 0 OU or 2:: og FAÇA
• r(X) +-- r(X) - ab-1 xm-ng(X);
• q(X) +-- q(X) + ab-1 xm-n;
• m +-- or
• a+-- COEFICIENTE LÍDER DE r;
3. LEIA OS VALORES FINAIS DE r E DE q.
Provemos que o algoritmo acima realmente termina após um núme-
ro finito de repetições do laço ENQUANTO e nos dá, ao final, polinômios
q e r como desejado.
Ser -=/:- 0 ou or 2:: og, então a instrução do laço ENQUANTO troca
r(X) pelo polinômio r(X) - ab-1xm-ng(X); tal polinômio, se não
for o polinômio nulo, tem grau menor que o de r, uma vez que o
42 Polinômios
polinômio ab-1 xm-ng(X) tem grau m ( que é o grau de r antes da
execução do laço) e coeficiente líder a ( que é o coeficiente líder de r
antes da execução do laço). Assim, o algoritmo pára após um número
finito de passos.
Após a primeira atribuição, temos
f(X) = g(X)q(X) + r(X),
uma vez que, no início, q(X) = O e r(X) = J(X). Suponha, por
hipótese de indução, que após uma certa execução do laço ENQUANTO
tenhamos f(X) = g(X)q(X) + r(X) e que, nesse momento, r(X) =l-
O e or :2:: og. Então a próxima execução ocorre e troca r(X) por
r(X) - ab-1 xm-ng(X) e q(X) por q(X) + ab-1 xm-n. Como
(2.3)
é igual a g(X)q(X) + r(X), segue da hipótese de indução que, após
tal execução, ainda teremos (2.3) igual a f(X). D
Nas notações do algoritmo da divisão para polinômios, dizemos que
( o valor final de) q é o quociente e ( o valor final de) r é o resto da
divisão de f por g. Ademais, quando r = O, dizemos que fé divisível
por g ou, ainda, que g divide f, e denotamos g I f.
Observação 2.11. Como o leitor pode facilmente verificar repassando
a discussão acima, o algoritmo da divisão ainda é válido para polinô-
mios em Z[X], contanto que o coeficiente líder do polinômio divisor
seja ±l. Mais precisamente, se f, g E Z[X], onde g =1- O tem coefici-
ente líder ±1, então q e r também têm coeficientes inteiros. No que
segue, usaremos esta observação sem maiores comentários.
Vejamos como o algoritmo da divisão se comporta num exemplo
particular. Considere o problema de dividir f(X) = X4-2X2+5X +7
por g(X) = 3X2 + 1 em Q[X]. Iniciamos o algoritmo armazenando os
valores b = 3 e n = 2. Ao segui-lo, temos os seguintes passos:
2.2 O algoritmo da divisão 43
1. Fazemos as atribuições r(X) = X4 - 2X2 + 5X + 7; m = 4;
q(X) = O; a = 1.
2. Como nem r(X) = O nem m = 4 < n = 2, trocamos r(X) por
r(X) - ab-1 xm-ng(X) =
1
= X4 - 2x2 + sx + 7 - -x4- 2(3X2 + 1)
3
7 2 = - 3X +5X +7,
m por 2, q(X) por
7 e a por - 3.
1 1
q(X) + ab-ixm-n =O+ -x4-2 = -X2
3 3
3. Como ainda não temos nem r(X) = O nem m = 2 < n = 2, ·
trocamos r(X) por
r(X) - ab-1 xm-ng(X) =
7 7/3
= --X2 + 5X + 7 + -X2- 2(3X2 + 1)
3 3
=5X 70 + 9'
m por 1, q(X) por
q(X) + ab-1 xm-n = ~X2 + -7 /3 x2-2 = ~X2 - ~
3 3 3 9
1 e a por 3 .
4. Agora, ainda temos r(X) =1- O, mas m = 1 < n = 2, de modo que
não mais voltamos para o início do loop. Simplesmente lemos
r(X) = 5X + 79ü e q(X) = ~X2 - ~-3 9
44
Polinômios
Podemos esquematizar o procedimento acima na tabela abaixo, ao
longo da qual você deve identificar cada uma das passagens acima:
Algoritmo da divisão para polinômios
x4 -2X2 +5X +7 3X2 + 1
-X4 -1/3X2 1/3X2
-7/3X2 +5X +7 1/3X2 - 7 /9
7/3X2 +7/9
5X +70/9
Problemas - Seção 2.2
1. Se n E N, encontre o resto da divisão do polinômio ( X 2 +X+ 1 t
pelo polinômio X 2 - X + 1.
2. Dados m, n E N, com m > n, encontre o resto da divisão de
X 2m + 1 por X 2n + 1.
3. Ao dividirmos um polinômio f E Q[X] por X +2, obtemos resto
-1; ao dividirmos f por X - 2, obtemos resto 3. Encontre o
resto da divisão de f por X 2 - 4.
4. Um polinômio f E IR[X] deixa resto 4 quando dividido por X+ 1
e resto 2X + 3 quando dividido por X 2 + 1. Obtenha o resto de
sua divisão por (X+ l)(X2 + 1).
CAPÍTULO 3
Raízes de Polinômios
Na exposição que fizemos até agora da teoria de polinômios não
tivemos, em momento algum, a intenção de substituir X por um nú-
mero. De outra forma, até o presente momento, polinômios têm sido
para nós meramente expressões formais com as quais aprendemos a
operar. Nesse sentido, a indeterminada X é um símbolo sem sig-
nificado aritmético, e observamos uma vez mais que poderíamos tê-lo
substituído pelo símbolo D, por exemplo, sem problema algum.
Remediamos o estado de coisas descrito acima neste capítulo, onde
introduzimos o conceito de raiz de um polinômio e de função polino-
mial associada a um polinômio. Dentre os vários resultados impor-
tantes discutidos, destacamos a apresentação de uma demonstração
completa do teorema fundamental da álgebra. Outros pontos dignos
de nota são a discussão do critério de pesquisa de raízes racionais de
polinômios de coeficientes inteiros e a utilização de raízes da unidade
como marcadores de posição em certos problemas combinatórios.
45
46 Raízes de Polinômios
3 .1 Raízes de polinômios
Para continuar nosso estudo de polinômios, é conveniente conside-
rar a função polinomial associada a um polinômio.
Definição 3.1. Para f(X)= anXn+· · ·+a1X +ao E K[X], a função
polinomial associada a f é a função J : K --+ K dada, para x E K,
por
Quando f ( X) = c, note que a função polinomial associada f será
a função constante ](x) = c, para todo x E K, justificando o nome
constante imputado anteriormente a um polinômio de grau O.
Definição 3.2. Seja f E K[X] um polinômio, com função polznomial
associada f : K --+ K. Um elemento a E K é uma raiz de f se
](a) = O.
Por exemplo, se f(X) =X+ 1 E <C[X], é fácil ver que x = -1 é a
única raiz de f em <C. De fato, a função polinomial associada a f é
]:<C -t (C
X f-----7 X + 1 '
de sorte que ](x) = O se, e só se, x = -1.
A proposição a seguir é conhecida como o teste da raiz.
Proposição 3.3. Se f E K[X] \ {O} e a E K, então:
(a) a é raiz de f se, e só se, (X - a) 1 f(X) em K[X].
{b) Se a for raiz de f, então existe um maior inteiro positivo m tal
que (X - a)m divide f. Ademais, sendo f(X) = (X - a)mq(X),
com q E K[X], tem-se ij(a) -=1- O, onde ij : K --+ K é a função
polinomial associada a q.
1
3.1 Raízes de polinômios 47
(c) Se a 1, ... , ak forem raízes duas a duas distintas de f, então o
polinômio (X - a 1) ···(X - ak) divide f (X) em K[X].
Prova.
(a) Segue do algoritmo da divisão a existência de polinômios q, r E
K[X] tais que
f(X) = (X - a)q(X) + r(X),
com r = O ou O ~ 8r < 8(X - a) = 1. Portanto, r(X) = c, um po-
linômio constante. Por outro lado, sendo J e ij as funções polinomiais
respectivamente associadas a f e q, segue da igualdade acima que
](a)= (a - a)ij(a) + c = e,
i.e., f(X) = (X - a)q(X) + ](a). Assim,
a é raiz de f {::} ](a) =O{::} f(X) = (X - a)q(X).
(b) Sem > 8f, então (X - a)m f f(X), uma vez que 8(X - a)m =
m > a f. Daí e do item (a), existe um maior inteiro positivo m tal que
(X - a)m I J(X), digamos J(X) = (X - a)mq(X). Passando para
funções polinomiais, obtemos, a partir daí, a igualdade
](x) = (x - a)mij(x), V x E K;
se ij(a) = O, seguiria de (a) que q(X) = (X - a)q1(X), para algum
polinômio q1 E K[X]. Mas aí, teríamos
contrariando a maximalidade de m.
( c) Façamos a prova deste item para o caso k = 2 ( a prova do caso
geral é inteiramente análoga). Como a 1 é raiz de f, pelo item (a)
existe um polinômio g E K[X] tal que f(X) = (X - a 1)g(X). Seja
48 Raízes de Polinômios
g a função polinomial associada ao polinômio g. Como a 1 # a 2 e a 2
também é raiz de f, segue da última igualdade que
e a 2 é raiz de g. Daí, novamente pelo item (a), existe um polinômio
h E JK[X] tal que g(X) = (X - a 2)h(X) e, assim,
f(X) = (X - a 1)(X - a2)h(X).
D
O exemplo a seguir traz uma aplicação interessante do teste . da
raiz.
Exemplo 3.4 (União Soviética1 ). Numere as linhas e colunas de um
tabuleiro n x n de 1 a n, respectivamente de cima para baixo e da
esquerda para a direita. Dados 2n números reais distintos a 1, ... , an,
b1 , ... , bn, para 1 ::S i, j ::S n escreva o número ai + bj na casa 1 x 1
situada na linha i e na coluna j. Se os produtos dos números escritos
nas casas das colunas do tabuleiro forem todos iguais, prove que os
produtos dos números escritos nas casas das linhas do mesmo também
serão todos iguais.
Prova. Considere o polinômio
f(X) = (X+ a1)(X + a2) ... (X+ an) E JR[X].
Sendo J a função polinomial associada a f, segue do enunciado a
existência de a E lR tal que ](b1) = ](b2) = · · · = ](bn) = a. Então,
](bi) - a = O para 1 ::S i ::S n, de modo que, pelo teste da raiz, temos
1 A União Soviética foi um país que existiu até 1991, quando o colapso do Comu-
nismo a fez dividir-se em vários países distintos, dentre os quais citamos Azerbaijão,
Bielorrússia, Estônia, Cazaquistão, Letônia, Lutiânia, Moldávia, Rússia, Ucrânia
e Uzbequistão.
3.1 Raízes de polinômios 49
(note que tanto f ( X) - a quanto o polinômio do segundo membro na
igualdade acima são mônicos e têm grau n). Portanto,
de forma que os produtos dos números em cada linha são iguais a
(-1r-1a. D
Como corolário do teste da raiz, explicitamos a seguir um algo-
ritmo bastante simples para a obtenção do quociente da divisão de
um polinômio mônico f E JK[X] por X - a, onde a é uma raiz de
f. Tal algoritmo é conhecido na literatura como o algoritmo de
Horner-Ruffini, e é baseado no resultado a seguir.
Proposição 3.5 (Horner-Ruffini). Seja
um polinômio mônico sobre JK. Se a E lK é uma raiz de f e
g(X) = xn-I + bn-2Xn-2 + · · · + bo E JK[X]
é o quociente da divisão de f(X) por X - a, então
bn-i-1
bo
a+ ªn-1
abn-2 + ªn-2
(3.1)
Prova. Por uniformidade de notação, faça bn-I = 1. Temos inicial-
50 Raízes de Polinômios
mente que
n-1
f(X) = (X - a)g(X) = (X - a) L bn-1-ixn-l-i
i=O
n-1 n-1
~ b xn-i ~ b xn-1-i
~ n-1-i - ~ a n-1-i
i=O i=O
n-1 n-2
bn-lxn + I: bn-1-ixn-i - I: abn-1-ixn-l-i - aba
i=l i=O
n-1 n-1
xn + I: bn-1-ixn-i - I: abn-ixn-i - aba
i=l i=l
n-1
xn + I:(bn-1-i - abn-i)xn-i - aba.
i=l
Comparando a última expressão acima para f com aquela do enun-
ciado, concluímos que
bn-1-i - abn-i = ªn-i,
para 1 ~ i ~ n - 1. Obtemos, assim, o sistema de equações
bn-1 1
bn-2 - abn-1 ªn-1
bn-3 - abn-2 ªn-2
bn-i-1 - abn-i ªn-i
b0 - ab1 ª1
-ab0 ªº'
o qual, por sua vez, equivale às relações do enunciado ( a última equa-
ção do sistema acima pode ser desprezada, pois representa somente a
condição de compatibilidade advinda da suposição de que a seja raiz
de!). D
3.1 Raízes de polinômios 51
A discussão acima pode ser resumida na tabela a seguir, na qual
colocamos os coeficientes de f ( que não o coeficiente líder 1) na pri-
meira linha e calculamos, da esquerda para a direita e a começar pelo
coeficiente líder bn-1 = 1, os sucessivos coeficientes de g na segunda
linha.
Algoritmo de Horner-Rufinni
bn-1 = 1 a · 1 + ªn-1 a · bn-2 + ªn-2
"--v---"
bn-2 bn-3
Observe que cada coeficiente de g, que não o líder, é igual ao
produto do coeficiente à sua esquerda por a, somado ao coeficiente
de f situado acima deste.
Exemplo 3.6. Verifique que v'2 é raiz do polinômio f(X) = X 5 -
5X4 + X 3 - 5X2 - 6X + 30 e encontre, com o auxílio do algoritmo de
H orner-Rufinni, o quociente da divisão de f por X - v'2.
Solução. Montemos a tabela do algoritmo de Horner-Rufinni pondo
n = 5 e a4 = -5, a3 = 1, a 2 = -5, a 1 = -6, a0 = 30 na primeira
linha. Começando com b4 = 1 na primeira casa da segunda linha,
obtemos sucessivamente b3 = v'2 · 1 - 5, b2 = v'2b3 + 1 = 3 - 5\/'2,
b1 = v'2b2 - 5 = -15 + 3v'2 e b0 = v'2b1 - 6 = -15\/'2.
-51 1 1 -5 1 -6 1 30
1 v'2 · 1- 5 3 - 5v'2 -15 + 3v'2 -15v'2
Por fim, como -ab0 = -v'2( -15v'2) = 30 = a0 , segue que v'2 é
realmente raiz de f e o quociente da divisão de f por X - v'2 é
X 4 + ( v'2 - 5)X3 + (3 - 5v'2)X2 + ( -15 + 3v'2)X - 15\/'2. D
li
il
11:
11
1,
1
1
52 Raízes de Polinômios
Nas notações do teste da raiz, se f(X) = (X - a)mq(X), com
ij(a) -=I= O, dizemos que m é a multiplicidade de a como raiz de f.
Em particular, a é uma raiz simples de f se m = 1 e múltipla se
m > 1.
Exemplo 3.7. Sendo f(X) = X 3 - 7X2 + 16X - 12 um polinômio
de coeficientes reais, temos que 2 é raiz dupla e 3 é raiz simples de f, J
uma vez que f(X) = (X - 2)2(X - 3). i
1 Mais adiante neste capítulo, estudaremos em detalhe o problema
de examinar se um polinômio f com coeficientes em K possui ou não
raízes múltiplas. Por ora, precisaremos no máximo saber o que vem a
ser uma tal raiz. Devemos notar, todavia, que já temos uma maneira
de saber se um elemento a E K é ou não raiz múltipla de um polinômio
não nulo f: basta dividir f por (X - a)2 (o que pode ser feito com
duas aplicações sucessivas do algoritmo de Horner-Rufinni) e verificar
se a divisão é exata. Teremos mais a dizer sobre isso mais adiante.
Outro corolário interessante do algoritmo da divisão é o fato de
um polinômio não identicamente nulo não poder ter mais raízes do
que seu grau. Observe que permitimos raízes múltiplas no resultado
a seguir.
Corolário 3.8. Se f E K[X] \ {O}, então f possui no máximo 8f
raízes em K,contadas de acordo com suas multiplicidades.
Prova. Façamos indução sobre o grau de f. Se 8f = O, então existe
c E K \ {O} tal que f ( X) = c. Daí, a função polinomial associada j
é a função constante xi---+ c, e segue que o número de raízes de f é O,
igual a seu grau.
1
1
f
1
l
t
i
t Seja, agora, f um polinômio de grau positivo e suponha a afirma- l
ção do enunciado válida para todos os polinômios não nulos de graus ~
t menores que a f. Se f não tiver raízes em K, nada há a fazer. Se- i
não, seja a E K uma raiz de f e (de acordo com o teste da raiz) mo f
l
3.1 Raízes de polinômios 53
maior natural tal que J(X) = (X - a)mq(X), para algum polinômio
q E K[X]. Como
8q = 8f - m < 8f,
segue da hipótese de indução que q tem no máximo 8q raízes em K,
contadas de acordo com suas multiplicidades. Agora, se /3 -=I= a é raiz
de J, temos
O= }(/3) = (/3 - a)mij(/3)
e, daí, /3 é raiz de q. Portanto, o número de raízes de f é igual a m
(a multiplicidade de a) mais o número de raízes de q, e segue, por
hipótese de indução, que f possui no máximo
m+8q = 8f
raízes em K. D
Utilizamos frequentemente o corolário acima em uma das formas
a seguir.
Corolário 3.9. Se f(X) = anXn + · · · + a1X + a0 E K[X] admite
pelo menos n + 1 raízes distintas em K, então f é identicamente nulo,
i. e.' an = ... = ªº = o.
Prova. Se f E K[X] \ {O}, então, pelo corolário anterior, f teria no
máximo n raízes em K. D
Corolário 3.10. Sejam f(X) = anXn + · · · + a1X + a0 e g(X)
bmXm+· · ·+b1X +bo polinômios sobre K, com m 2: n. Se J(x) = g(x)
para ao menos m + 1 valores distintos x E K, então f = g, i. e, m = n
e ai = bi, para O ~ i ~ n.
Prova. Basta aplicar o corolário anterior ao polinômio f - g, notando
que a função polinomial associada a tal polinômio é f - g. D
1·;
!
54 Raízes de Polinômios
Se F é o conjunto das funções de JK em JK, então o último corolário
acima garante que a aplicação
JK[X]
f
--+ F
c---7 j ' (3.2)
que associa a cada polinômio f E JK[X] sua função polinomial J E F,
é injetiva. Em outras palavras, ele afirma que dois polinômios sobre JK
só terão funções polinomiais iguais quando eles mesmos forem iguais2 •
Graças a esse fato, doravante vamos denotar por f tanto um ele-
mento de JK[X] (i.e., um polinômio com coeficientes em JK) quanto a
função polinomial associada a tal elemento. Em particular, quando
escrevermos f(X), estaremos nos referindo ao polinômio f; quando
escrevermos f ( x), estaremos nos referindo ao elemento de JK, imagem
de x E JK pela função polinomial associada a f. O contexto esclarecerá
eventuais confusões.
Observação 3.11. O corolário 3.10 garante que os coeficientes de um
polinômio f E JK[X] são determinados pelos valores f(x), com x E JK.
Posteriormente, estudaremos em detalhe o problema de como obter
um polinômio em JK[X] que assuma valores prescritos em um número
finito de elementos x E JK dados.
Os dois exemplos a seguir ilustram usos típicos dos corolários 3.9
e 3.10.
Exemplo 3.12 (Moldávia). Obtenha todos os polinômios f E JR[X]
tais que f (O) = O e
f ( x 2 + 1) = f ( x) 2 + 1, V x E R
2Conforme veremos na seção 7.3, ao desenvolvermos a teoria de polinômios
sobre Zp, onde p E Zé primo, o fato de K ser infinito nos casos presentemente sob
consideração é imprescindível para a injetividade de (3.2).
3.1 Raízes de polinômios 55
Solução. Defina a sequência (un)n>o por u0 = O e Un+l = u~ + 1,
para n ~ 1. Se g(X) = X, então f(u 0 ) = O = g(u0 ) e, supondo
J(uk) = g(uk), temos também
f(uk+I) = f(u% + 1) = f(uk) 2 + 1
= g( uk)2 + 1 = u% + 1
= g(uk+I)·
Portanto, por indução temos f(un) = g(un), para todo inteiro
não negativo n. Mas, como os valores dos termos Un são dois a dois
distintos, concluímos que f e g coincidem em uma quantidade infinita
de valores distintos, e segue do corolário 3.10 que f = g, i.e., f(X) =
X. D
Exemplo 3.13 (Hong Kong). Sejag(X) = X 5 +X4 +X3 +X2 +X+l.
Calcule resto da divisão de g(X12) por g(X).
Solução. Pelo algoritmo da divisão, existe q, r E JR[X] tais que
g(X12 ) = g(X)q(X) + r(X),
com r = O ou O :::;; 8r :::;; 4. Tomando w = eis 2; e fazendo x = wk nas
funções polinomiais correspondentes, com 1 :::;; k:::;; 5, obtemos
para 1 :::;; k:::;; 5.
Agora, como w12k = eis (4k1r) = 1, temos g(w 12k) = g(l) = 6. Por
outro lado, para 1 :::;; k :::;; 5, o lema 1.12 fornece
w6k 1
g(wk) = w5k + w4k + w3k + w2k + wk + 1 = - = O.
wk -1
Assim, (3.3) se reduz a r(wk) = 6, para 1 :::;; k :::;; 5, de sorte que o
polinômio r - 6 tem pelo menos cinco raízes distintas. Mas, como
r - 6 = O ou 8(r - 6) :::;; 4, segue do corolário 3.8 quer - 6 = O. D
56 Raízes de Polinômios i
O corolário a seguir garante que a imagem da função polinomial
associada a um polinômio não constante é um conjunto infinito.
Corolário 3.14. Se f E K[X] \ K, então a imagem Im (!) da função
polinomial associada a f é um subconjunto infinito de K.
Prova. Suponha o contrário, i.e, que Im (!) = { a 1 , ... , ak} C K.
Então, para todo x E K, teríamos f ( x) E { a 1, ... , ak}. Mas, como K
é um conjunto infinito, existiriam 1 :s; i :s; k e elementos dois a dois
distintos x1 , x2 , . • . E K tais que
Portanto, f(X) - ai seria um polinômio não identicamente nulo (lem-
bre-se de que f é não constante) com uma infinidade de raízes distintas,
o que é uma contradição. D
Exemplo 3.15 (Canadá). Ache todos os polinômios não constantes
f E Q[X] que satisfazem a relação f(J(X)) = f(X)k, onde k é um
inteiro positivo dado.
Solução. É fácil ver (conforme problema 1) que, para todo x E Q,
temos f(J(x)) = f(x)k. De outro modo, f(y) = yk, para todo y E
Im (!). Mas, o corolário 3.14 garante que Im (!) é um subconjunto
infinito de Q, de sorte que o corolário 3.10 garante que f(X) = Xk. D
Terminamos esta seção estudando o problema de pesquisa de raí-
zes racionais de polinômios de coeficientes inteiros. O item (a) da
proposição a seguir · traz o resultado central, conhecido na literatura
como o critério de pesquisa de raízes racionais de polinômios de
coeficientes inteiros.
Proposição 3.16. Sejam n > 1 inteiro, f(X) = anXn+, · ·+a1X +ao
um polinômio de coeficientes inteiros e p e q inteiros não nulos primos
entre si. Se f(!) = O, então:
3.1 Raízes de polinômios 57
(a) PI ao e q 1 ªn·
(b) Se f for mônico, as possíveis raízes racionais de f são inteiras.
(c) (p- mq) 1 f(m), para todo m E Z. Em particular, (p-q) 1 f(l)
e (p+q) 1 f(-1).
Prova.
(a) A partir de f(~) = O, obtemos prontamente
e, daí,
{
aoqn = p(-anpn-l_,,.-a1qn-l)
ªnPn = q( -an-lPn-l - · · · - aoqn-l) .
Portanto, p I aoqn e q I anpn. Mas, uma vez que p e q são primos entre
si, o item (a) da proposição 1.21 de [14] garante que p I a0 e q I an,
como queríamos provar.
(b) Imediato a partir de (a).
(c) Como f(!) = O, temos f(m) = f(m) - f(!) ou, ainda,
Portanto,
qnf(m) = qn(anmn + · · · + a1m + ao) - (anpn + · · · + a1pqn-l + aoqn)
= an((mqr - pn) + '' · + a1qn-1(mq - p) = (mq - p)r,
para algum r E Z, onde utilizamos o item (a) do problema 2.1.18
de [10] na última igualdade acima. Os cálculos acima garantem que
(mq - p) 1 qn f(m). A partir daí, para concluir que (mq - p) 1 f(m),
li!i \i
,I'
II
: !'•
11
1
i
!
i
58 Raízes de Polinômios
é suficiente, novamente pelo item (a) da proposição 1.21 de [14], mos-
trarmos que mdc ( mq - p, qn) = 1. Para tanto, basta aplicarmos o
item (b) da proposição 1.21 e o corolário 1.22 de [14] para obter
mdc(p,q) = 1 =} mdc(mq-p,q) = 1 =} mdc(mq-p,qn) = 1.
O resto é imediato. D
A proposição anterior pode, por vezes, ser aplicada para garantir
a irracionalidade de números reais. Vejamos alguns exemplos.
Exemplo 3.17. Prove que o número V 2 + J 2 + J2 é irracional.
Prova. Se a = J2 + J2 + J2, então a 2 - 2 = J2 + J2 e, daí,.·
(a2 - 2)2 = 2 + J2. Logo, ((a2 - 2) 2 - 2) 2 = 2, de maneira que a é
raiz do polinômio mônico de coeficientes inteiros .
f(X) ((X2 - 2) 2 - 2) 2 - 2
(X4 - 4X2 + 2) 2 - 2.
Portanto, se a E Q,segue dos itens (a) e (b) da proposição anterior
que a EN e a 1 /(O)= 2, de modo que a= 1 ou 2. Mas, como
1 <a< J2 + J2+2 = 2,
chegamos a uma contradição. D
Exemplo 3.18. Prove que tg 10º é irracional.
Prova. Denotemos a= tg 10º. Aplicando a proposição 7.18 e oco-
rolário 7.19 de [11], obtemos sucessivamente
tg 30º _ tg 20º + tg 10º
1 - tg 20º · tg 10°
__.1g_ + a 3,..., - ,...,3 1-a2 u; u;
- 2 -
1- 2a 1- 3a2
1-a2
3.1 Raízes de polinômios 59
Mas, como tg 30º = ,/3, segue que
(3a - a 3) 2 1
(1 - 3a2) 2 3
ou, ainda,
3a6 - 27a4 + 33a2 - 1 = O.
Portanto, tg 10º é raiz do polinômio de coeficientes inteiros /(X) =
3X6-27X4 +33X2 -1, e basta mostrar que o mesmo não possui raízes
racionais. Para tanto, note inicialmente que, pela proposição 3.16, as
possíveis raízes racionais de f são ±1 ou ±!; entretanto, calculando
diretamente /(±1) e/(±!) concluímos que nenhum desses números é
igual a O, conforme desejado. D
Exemplo 3.19 (Iugoslávia3). Ache todos os racionais positivos a ::;
b ::; e tais que os números
1 1 1
a + b + e, - + - + - e abc
a b e
sejam todos inteiros.
Solução. Se f(X) = (X - a)(X - b)(X - e), então a, b e e são as
raízes de f, ademais racionais. Por outro lado,
J(X) = X 3 - (a+ b + c)X2 + (ab + bc + ca)X - abc,
com
ab + bc + ca = abc ( 1 + i + ~) E Z.
Segue, então, que f E Z[X]. Mas, como fé mônico, o critério de pes-
quisa de raízes racionais aplicado a f garante que a, b e e são inteiros.
Por fim, uma vez que a, b e c são positivos, as condições do enunciado
3 Atê a década de 1990, Bósnia e Herzegovina, Croácia, Eslovênia, Kosovo,
Macedônia, Montenegro e Sérvia compunham um único país, a Iugoslávia.
60 Raízes de Polinômios
garantem que basta encontrarmos todos os a ~ b ~ e naturais para os
quais i + t + ~ também seja natural. Este é um problema simples, o
qual será deixado ao leitor; as únicas soluções são os ternos
(a, b, e)= (1, 1, 1), (1, 2, 2), (3, 3, 3), (2, 4, 4) ou (2, 3, 6).
D
Problemas - Seção 3.1
1. * Mostre que a definição usual de função composta de duas fun-
ções de lK em JK, quando aplicada a polinômios f, g E JK[X] de
graus respectivamente m e n, produz um polinômio em JK[X],
de grau mn. Denotando tal polinômio também por f o g, mostre
ainda que a função polinomial associada ao mesmo coincide com
a função composta J o g, onde J e g denotam, respectivamente,
as funções polinomiais associadas a f e g.
2. * Sejam a, b e r números racionais, onde r > O é tal que .jr é
irracional. Faça os seguintes itens:
(a) Para k E N fixado, mostre que existem ak, bk E Q tais que
(a± b.Jrl = ak ± bkvr·
(b) Se f E Q[X] \ {O}, prove que f(a + b.jr) = O {::} f(a -
b.jr) = o.
3. Uma das raízes do polinômio X 4 + aX3 + X 2 + bX - 2 é 1- J2.
Encontre as demais raízes, sabendo que a e b são ambos racionais.
4. Sejam dados a, b E JK, sendo a=/=- O. Para f E JK[X] \ {O}, prove
que o resto da divisão de f por aX + b é igual a f ( - ~).
3.1 Raízes de polinômios 61
5. Existe um polinômio f E li [ X], tal que f ( sen x) = cos x para
todo real x? Justifique sua resposta.
6. Seja a =/=- br um número complexo. Prove que o polinômio X 2 + 1
divide o polinômio
f(X) =(cosa+ Xsenaf - cos(na) - sen(na)X.
7. (Canadá.) Seja f um polinômio não nulo e de coeficientes intei-
ros. Se f(O) e f(l) são ímpares, prove que f não possui raízes
inteiras.
8. (Canadá.) Prove que não existem x, y e z inteiros não nulos em
PA, tais que x5 + y5 = z5 .
9. Mostre que, dado n EN, existe um único polinômio4 fn tal que
fn(2cosfJ) = 2cos(nfJ),
para todo () E R Mostre ainda que:
(a) fi(X) = X, h(X) = X 2 - 1 e, para k 2:: 1 inteiro,
Ík+2(X) = Xfk+1(X) - Ík(X).
(b) f n é mônico, de coeficientes inteiros e grau n.
( c) f n ( z + ~) = zn + };, , para todo z E CC \ {O}.
10. Encontre todos os a E Q para os quais cos( mr) E Q.
11. (BMO.) Param E Z, prove que o polinômio
X 4 - 1994X3 + (1993 + m)X2 - llX + m
não possui duas raízes inteiras distintas.
40s polinômios f n de que trata este problema são conhecidos na literatura como
os polinômios de Chebyshev, em homenagem ao matemático russo do século
XIX Pafnuty L. Chebyshev.
62 Raízes de Polinômios
12. (AIME.) Encontre todos os reais a e b tais que X 2 -X -1 divide
ax11 + bX16 + 1.
13. (Moldávia.) Seja n > 4 um natural dado e p um polinômio .. ,.· ..• • .•. _:···
mônico, de grau n e com n raízes inteiras distintas, uma das
quais igual a O. Calcule o número de raízes inteiras e distintas
do polinômio p(p( X)). 1
t
1
[
14. (Áustria-Polônia.) Seja f(x) = ax3 + bx2 +ex+ d um polinômio
de coeficientes inteiros e grau 3. Prove que não é possível achar
3.2 Raízes da unidade e contagem 63
3.2 Raízes da unidade e contagem
Nesta curta seção, paramos momentaneamente a apresentação da
teoria geral de polinômios para ilustrar o papel das raízes da unidade
como ferramenta de contagem. Uma vez que a aplicabilidade de ar-
gumentos algébricos em Combinatória é muitíssimo mais ampla do
que conseguiremos mostrar aqui, recomendamos ao leitor a excelente
referência [55] para uma abordagem abrangente.
Comecemos examinando, no exemplo a seguir, como utilizar nú-
quatro primos distintos p1 , p2 , p3 e p4 para os quais Í meros complexos como marcadores.
1
15. (Canadá.) Seja p(X) = xn + an_ 1xn-1 + · · · + a 1X+ a0 um
polinômio de coeficientes inteiros, e suponha que existam inteiros
distintos a, b, e e d tais que p(a) = p(b) = p(c) = p(d) = 5. Prove J_._;
que não existe inteiro m tal que p( m) = 8. l
16. Ache todos os valores k E N tais que o polinômio X 2 +X+ 1
divide o polinômio X 2k + 1 +(X+ 1)2k.
Para o exemplo a seguir, lembre-se ( cf. parágrafo anterior ao
problema 1.4.11 de [13]) de que um multiconjunto é uma coleção l
{ { a1,{a{2 , ... , an}} de}}eleme{n{tos não neces}s}ariamente distintos, (
com a1, a2 , ... , an = b1, b2 , ... , bm se m = n e cada 1·.• •... ·
elemento aparecer uma mesma quantidade de vezes em cada um
deles.
1 17. Sejam { { a1, a2, ... , an}} e { {b1, b2, ... , bn}} dois multiconjuntos
1
l
distintos, cada um dos quais formado por inteiros positivos. Se
l
' t.
prove que n é uma potência de 2.
l
Exemplo 3.20. Em um círculo há n > 1 lâmpadas igualmente espa-
çadas. Inicialmente, exatamente uma delas está acesa. Uma operação
permitida sobre o estado das lâmpadas é escolher um divisor positivo d
de n, tal que d< n, e mudar o estado de J lâmpadas igualmente espa-
çadas, contanto que o estado inicial de todas elas seja o mesmo. Existe
uma sequência de operações que deixe todas as n lâmpadas acesas?
Prova. Não. Por contradição, suponha, sem perda de generalidade,
que o círculo é o círculo unitário do plano complexo e que as lâmpa-
das estão posicionadas nos pontos 1, w, ... , wn-1, onde w = eis 2;.
Suponha ainda ( também sem perda de generalidade) que a lâmpada
inicialmente acesa está posicionada em 1.
Para k 2: O, seja ak a soma dos números complexos associados às
lâmpadas acesas imediatamente antes da ( k + 1 )-ésima operação, de
sorte que a0 = 1. Na (k + 1)-ésima operação, escolhemos lâmpadas
posicionadas em
para algum par (l, d) de inteiros tais que O ~ l <de d I n, com d< n.
64 Raízes de Polinômios
Mas, uma vez que wn = 1, temos
ªk+i = ak ± (wz + wl+d + wz+2d + ... + wz+(~-1)a)
wz+(~-1)a. wª _ wl
ak ± d = ak,
w -l
e segue que ak = 1, para todo k ~ O.
Por fim, se após m operações todas as lâmpadas resultassem acesas,
teríamos
am = 1 + w + · · · + wn = o,
o que é uma contradição. D
Agora, dados m, n,p E N, consideremos a tarefa de construir um
retângulo m x n utilizando peças 1 x p. Contando quadradinhos 1 x 1,
obtemos uma condição necessária óbvia para que a construção pro-
posta seja possível: p deve dividir mn. Por outro lado, é claro que,
se p dividir m ou n, então tal construção é sempre possível: sendo,
por exemplo, m = pk, com k E N, podemos montar nosso retângulo
m x n justapondo k retângulos p x n, cada um dos quais construído
empilhando n peças1 x p. O fato interessante é que a recíproca da
discussão acima é verdadeira, i.e., só será possível montar nosso re-
tângulo se p dividir m ou n. Esse é o conteúdo do teorema a seguir,
devido ao matemático americano David Klarner5 .
Teorema 3.21 (Klarner). Sejam m, n, p naturais dados. Se puder-
mos cobrir um tabuleiro m x n usando peças 1 x p, sem sobras ou
superposições de peças, então p deve dividir m ou n.
Prova. Suponha que possamos cobrir o tabuleiro como se pede e no-
temos inicialmente que p :S max { m, n}. Particione o tabuleiro em m
linhas 1 x n e n colunas 1 x m, numerando as linhas de cima para baixo,
de 1 a m, e as colunas da esquerda para a direita, de 1 a n ( como em
5 Cf. [36]. Contudo, a demonstração apresentada difere da original.
3.2 Raízes da unidade e contagem 65
urna matriz m x n). Em seguida, escreva, na casa do tabuleiro situada
à linha i e coluna j, o número complexo wi+í, onde w = eis 21r. p
Calculemos, agora, a soma dos números escritos nas casas do tabu-
leiro de duas maneiras distintas (eis aqui uma contagem dupla!). Por
um lado, tal soma é claramente igual a
onde utilizamos o lema 1.12 na igualdade acima; por outro, como esta-
mos supondo ser possível cobrir o tabuleiro como pedido, os números
escritos no mesmo podem ser agrupados em conjuntos de p números,
correspondentes às p casas horizontais ou verticais cobertas por cada
peça 1 x p utilizada. Tais conjuntos de p números dão origem a somas
de um dos tipos
ou
wi+j + w(i+l)+í + · · · + w(i+p-l)+í,
conforme a peça 1 x p seja respectivamente horizontal ou vertical.
Novamente pelo lema 1.12 e pela primeira fórmula de de Moivre, cada
uma de tais somas é igual
·+· 1 .. wP - 1
wi 3 (1 + w + · · · + wP- ) = wi+J · = O
w-l
e, portanto, a soma de todos os números escritos no tabuleiro deve
também ser igual a O. Então, segue de (3.4) que (wn - l)(wm -1) = O
ou, ainda, que
. 2mr . 2m1r
ClS -- = 1 OU ClS -- = 1.
p p
Por fim, é imediato, a partir de tais igualdades, que p divide n ou
m. D
66 Raízes de Polinômios
O teorema a seguir traz urna ferramenta algébrica bastante útil em
várias situações combinatórias, sendo conhecida corno a fórmula de
multiseção.
Teorema 3.22. Para f E C[X] \ {O}, denote por ak o coeficiente de
Xk em f. Se p é um número primo e w -=/:- 1 é uma raiz p-ésima da
unidade, então
1 L ak = -(f(l) + f(w) + · · · + f(wP- 1)).
Plk p
(3.5)
Prova. Corno f(X) = Lf2_o ajXj, ternos
k=O k=O j20 j20 k=O
p-1
(3.6)
= LªjLWjk.
j20 k=O
Note agora que, se p I j, então wjk = 1 para todo k, de sorte que
I:,~;:~ wjk = p. Por outro lado, se p f j, então o itern ( a) da proposição
6.3 de [14] garante que {O, j, 2j, ... , (p - l)j} é urn SCR6 módulo p.
Portanto, ainda nesse caso, ternos
L
p-I .k Lp-1 k wP - 1
w3 = w = = O,
w-1
k=O k=O
e (3.6) fornece
p-1 p-1
Lf(wk) = Lªj Lwjk = LªPz]p
k=O j20 k=O l20
=p Lªpl =p Lªk·
l20 plk
6Recorde que um sistema completo de restos (abreviado SCR) módulo pé um
conjunto {a0, a1 , ... , ap-I} de números inteiros tais que, a menos de uma permu-
tação, tenhamos aj = j (modp), para O:::; j:::; p - 1.
3.2 Raízes da unidade e contagem 67
D
Exemplo 3.23 (Polônia). Para cada inteiro positivo n, calcule, em
Junção de n, o valor da soma
Solução. Seja
f(X) =(X+ 1)" = t. (~)x•
Sendo w = eis 2;, raiz cúbica da unidade, ternos 1 + w + w2 = O e
segue, da fórmula de rnultiseção aplicada a f, que
(n) 1 L = 3 (f(l) + J(w) + f(w 2))
3lk k
Note agora que, se 3 1 n, então wn = 1 e, daí, w2n + wn = 2; se
3 f n, então wn = w ou w2 , de sorte que w2n + wn = w2 + w = -1.
Portanto,
"(n) = { (2n + 2(-lr)/3, se 3 I n
"fu' k (2n + (-lr+l)/3, se 3 f n
D
68 Raízes de Polinômios
Problemas - Seção 3.2
1. Prove a seguinte extensão do teorema de Klarner: dados números
naturais m, n, p e q tais que 1 < q ~ min { m, n, p}, podemos
particionar um tabuleiro m x n x p usando peças 1 x q se, e só
se, q dividir m, n ou p.
2. Podemos generalizar ainda mais o teorema de Klarner como se-
gue (veja [36]): dados m1, ... , mn EN, seja
o conjunto das sequências (x1, ... , Xn) de inteiros positivos tais
que 1 ~ Xk ~ mk, para 1 ~ k ~ n. Um bloco de dimen-
sões (1, ... , l,p) em A é um subconjunto de A formado por p
sequências (x11 , ... , X1n), ... , (xp1, ... , x11n) satisfazendo a se-
guinte condição: existe 1 ~ k ~ n tal que:
(a) x 1j = x2j = · · · = Xpj, para todo 1 ~ j ~ n, j -=/:- k.
(b) ( xlk, x 2k, ... , Xpk) é uma sequência de p inteiros consecuti-
vos.
Dizemos que o conjunto A pode ser particionado em blocos de
tamanho ( 1, ... , 1, p) se A puder ser escrito como a união dis-
junta de blocos desse tipo. Prove que tal é possível se, e só se, p
dividir um dos números m1, ... , mn.
3. (Rússia.) Desejamos particionar o conjunto dos naturais de qua-
tro algarismos em conjuntos de quatro números cada, de modo
que a seguinte propriedade seja satisfeita: os quatro números de
cada conjunto têm os mesmos algarismos em três posições e, na
posição restante, seus algarismos são consecutivos (por exemplo,
uma possibilidade para os quatro números de um conjunto po-
deria ser 1265, 1275, 1285 e 1295). Prove que não existe uma tal
partição.
3.3 O teorema fundamental da álgebra 69
4. Seja num natural dado e, para O~ k ~ 2n, seja ak o coeficiente
de Xk na expansão de f(X) = (1 + X + X 2t. Calcule, em
função de n, o valor da soma
5. * Generalize a fórmula de multiseção do seguinte modo: dados
f E C[X] \ {O}, p primo ímpar e O ~ r ~ p - 1 inteiro, se w -=/:- 1
é uma raiz p-ésima da unidade, então
p-1
L ak = 1 LW(p-l)rj f(wí),
k:r (modp) j=O
onde ak denota o coeficiente de Xk em f.
6. Calcule, em função de n, o valor da soma
(~) + (~) + (;) + (~) + ....
3.3 O teorema fundamental da álgebra
Como caso particular do corolário 3.9, todo polinômio de coefici-
entes complexos e grau n possui no máximo n raízes complexas. Por
outro lado, o polinômio f(X) = X 2 -2 E Q[X] tem coeficientes racio-
nais mas não admite raízes racionais; da mesma forma, o polinômio
g(X) = X 2 + 1 E IR[X] tem coeficientes reais mas não admite raízes
reais. Em ambos os casos, o fato de tais polinômios não admitirem
raízes em Q ou IR se deve a deficiências de tais conjuntos numéricos,
no sentido de que, neles, não é possível realizarmos certas extrações
de raízes.
Em sua tese de doutoramento, em 1799, o matemático alemão Carl
F. Gauss mostrou, contrariamente aos casos examinados acima, que
70 Raízes de Polinômios ·.
todo polinômio sobre C admite raízes também em C. Esse é o conteúdo
do teorema a seguir, conhecido na literatura como o teorema fun-
damental da álgebra. A demonstração que apresentamos é devida ·•
a Jean-Baptiste le Rond d'Alembert, matemático francês do século.
XVIII.
Teorema 3.24 (Gauss). Todo polinômio f E C[X] \ (C possui ao:
menos uma raiz complexa.
Prova. Por comodidade de notação, escrevamos f(z) = anzn + · · · +
a1z + a0 para denotar a função polinomial associada a f; sem perda
de generalidade, podemos supor a0 =/:- O.
Para z =/:- O, a desigualdade triangular para números complexos nos,
dá
li( )1 1 ln 1 ªn-1 ªn-2 . ao I z = z an+--+--+···+-
z z2 zn
> lzln (lanl _ lan-. 11 _ lan-21 _ ... _ laol) .
- lzl lzl 2 lzln
Portanto, para
temos lan-k 1 < ~ de sorte que lzlk 2n '
Mas, como lzl > n 2~:11, temos lanllzln > 2nlaol e, daí, IJ(z)I >
nlaol ~ laol·
Em resumo, denotando por R o segundo membro de (3.7), concluí-
mos que
lzl > R =} IJ(z)I > laol = lf(O)I.
3.3 O teorema fundamental da álgebra 71
Agora, na seção 9.2 mostraremos (veja o corolário 9.20) que existe
zo E C tal que I zo 1 ~ R e
lf(zo)I = min{lf(z)I; z E C, lzl ~ R}.
Portanto, segue do que fizemos acima que
· lf(zo)I = min{IJ(z)I; z E C}.
Por contradição, suponha que f(z0 ) =/:- O e mostremos que existe
h E C tal que lf(zo+h)I < lf(zo)I. Para tanto, comecemos observando
que é imediato que existem Co, c1, ... , Cn E C, independentes de h e
tais que
f ( Zo + h) = ao + a1( Zo + h) + · · · + an ( Zo + h r
= Co + C1h + ' · · + Cnhn;
ademais, c0 = f(zo) =/:- O e Cn = an =/:- O. Tome o menor 1 ~ k ~ n, tal
que ck =/:- O. Então, fazendo di = ~~ para O~ j ~ n, temos
~ 11 + dkhkl + ldk+lhk+l + ·'' + dnhnl
= 11 + dkhkl + ldkhkl I dk+l h + · · · + dn hn-kl.
dk dk
Agora, estimativas análogas às que fizemos com o auxílio de (3.7), nos
permitem escolher r > O tal que lhl ~ r =} 1 d::1 h + · · · + thn-kl < !·
Então,
lhl < r =} lf(zo + h)I < 11 + d hkl + !ld hkl - lf(zo)I - k 2 k ·
Seja dk = seis a e faça h = reis (:1. A primeira fórmula de de
Moivre nos dá
lf(zo + h) I k . 1 k --- < 11 + sr c1s(a + kO)I +-sr·
lf(zo)I - 2 '
72 Raízes de Polinômios
portanto, escolhendo () E lR. de modo que a + k() = 1r (i.e., tomando
() = 1r,/x), obtemos
lf(zo + h)I
lf(zo)I
~ 11 + srk cis1rl + ~srk
1
= ll - srkl + 2srk
1 k
= 1- -sr < 1
2 '
sempre que srk < 1, i.e., O< r < {jf. Com um tal r (e, logicamente,
com oh correspondente), temos lf(zo + h)I < IJ(zo)I. D
Uma consequência imediata do teorema fundamental da álgebra é
dada pelo corolário a seguir.
Corolário 3.25. Se f (X) = anXn + · · · + a1X + a0 é um polinômio
de coeficientes complexos e grau n 2: 1, então existem n números
complexos z1, ... , Zn tais que
f(X) = an(X - z1) ... (X - Zn)· (3.8)
A expressão acima é a forma fatorada do polinômio f.
Prova. Façamos a prova por indução sobre o grau n de f, sendo o
caso n = 1 imediato. Suponha, pois, n > 1 e o corolário válido para
todo polinômio de coeficientes complexos e grau n - 1.
Se z1 E C é uma raiz de f, o teste da raiz garante a existência de
um polinômio g, também de coeficientes complexos, tal que f(X) =
(X - z1)g(X). Note que g tem grau n - 1 e coeficiente líder an;
portanto, por hipótese de indução existem z2 , ... , Zn E C tais que
g(X) = an(X - z2) ... (X - zn)· Logo, f(X) = (X - z1)g(X)
an(X - z1)(X - z2) ... (X - Zn) e nada mais há a fazer. D
Uma variante do corolário acima é dada pelo resultado a seguir.
3.3 O teorema fundamental da álgebra 73
Corolário 3.26. Se f(X) = anXn + · · · + a1X + a0 é um polinômio
de coeficientes complexos e grau n 2: 1, então, dado a E C, existem
zi, ... , Zn E (C tais que f(zk) = a, para 1 ~ k ~ n.
Prova. Aplique o corolário anterior ao polinômio g(X) = f(X) -
a. D
Voltando ao caso geral, seja f(X) = anXn + · · · + a1X + a0 um
polinômio não nulo com coeficientes em K. Se existirem elementos
a 1, ... , an E K para os quais
também diremos que tal expressão é a forma fatorada de f sobre K.
Uma vez que alguns dos a/s podem aparecer repetidos, se consi-
derarmos apenas os ai distintos concluímos, após uma possível ree-
numeração dos mesmos, que existem 1 ~ m ~ n e k1, ... , km inteiros
positivos tais que
com k1 + · · · + km = n e a 1 , ... , am elementos dois a dois distintos de
K
Exemplo 3.27. Dado n > 1 um natural, faça os seguintes itens:
(a) Obtenha a forma fatorada do polinômio f(X) = xn-l + xn-2 +
···+X+l.
(b) Se A1A2 ... An é um polígono regular de n lados inscrito num
círculo de raio 1, calcule o valor do produto A1A2 · A1A3 · ... ·
A1An.
Solução.
(a) Uma vez que
(X - l)f(X) = (X - l)(xn-l + xn-2 +···+X+ 1) = xn -1,
74 Raízes de Polinômios
as raízes complexas de f são precisamente as raízes n-ésimas da uni-
dade distintas de 1. Por (1.18), tais raízes são os números complexos
w, w2, ... , wn-l, onde w = eis 2;. Logo, a forma fatorada de f é
f(X) = (X - w)(X - w2 ) ... (X - wn-1).
(b) Suponha, sem perda de generalidade, que o círculo de raio 1 que
circunscreve o polígono A1A2 ... An é o círculo unitário centrado na
origem do plano complexo e que A1 = 1 e A2 = w, onde w = eis 27!". n
Então, Aj = wj-l para 1 ::; j ::; n, de sorte que
-- -- -- 2 n-1
A1A2 · A1A3 · ... · A1An = 11- wlll - w I · .. 11- w I
= 1(1 - w)(l - w2) ... (1 - wn-1)1
= IJ(l)I = n.
D
Problemas - Seção 3.3
1. Prove que a fórmula que dá as raízes de uma equação do segundo
grau ainda é válida para calcular as raízes complexas de aX2 +
bX + e, com a, b, e E C, sendo a-=/:- O.
2. * Se f E JR[X] \ {O} e z E (C \ JR, prove que f(z) = O {::}
f(z) = O. Conclua, a partir daí, que todo polinômio não nulo
de coeficientes reais possui um número par de raízes complexas
não reais.
3. Dê um exemplo para mostrar que o resultado do problema an-
terior não é mais válido caso f tenha coeficientes não reais.
3.3 O teorema fundamental da álgebra 75
4. * Prove que todo polinômio de coeficientes reais e grau ímpar
tem um número ímpar de raízes reais. Em particular, um tal
polinômio sempre tem pelo menos uma raiz real.
5. * Sejam f E CQ[X] um polinômio de grau n e a -=/:- O uma raiz
complexa de f. Dado m E Z, prove que existem b0 , b1, ... , bn-l E
CQ tais que
(3.9)
6. Seja f(X) = anXn + an_1xn-1 + · · · + a1X + a0 um polinômio
de coeficientes complexos e grau n 2:: 1. Se z E (C é uma raiz de
f, prove que
lzl :S max { 1, ~:I},
onde A= max{laol, la1I, ... , lan-11}.
7. * Seja f(X) = anXn + an_1xn-1 + · · · + a1X + a0 um polinômio
de coeficientes inteiros tal que an 2:: 1, e k > 2 um inteiro tal que
lail :S k, para O :Si < n. Se zé uma raiz complexa de f, prove
que Re(z) < 1 + l
8. Um polinômio f sobre (C da forma f(X) = aX4 + bX3 + cX2 +
bX + a, com a -=/:- O, é denominado recíproco de quarto grau.
Calcule suas raízes e, em seguida, formule e resolva o problema
análogo para polinômios de grau seis.
9. (Canadá.) Seja f um polinômio de grau n, tal que J(k) = k!i,
para todo inteiro O ::; k ::; n. Calcule f ( n + 1).
10. Suponha que as raízes complexas do polinômio X 3 + pX2 + qX +
r sejam todas reais e positivas. Mostre que tais raízes são os
comprimentos dos lados de um triângulo se, e só se, p3 - 4pq +
8r > O.
1
1 ..
76 Raízes de Polinômios
11. Para n > 2 inteiro, prove que
1r 21r 31r ( n - 1 )1r n
sen - sen - sen - ... sen = --.
n n n n 2n-1
12. Dado um inteiro positivo m, prove que:
(a)
(b)
1r 21r (m-l)1r _ ,jm
sen 2m sen 2m ... sen ~ - 2m-l ·
1r 21r m1r _ v'2m+ 1
sen 2m+l sen 2m+l ... sen 2m+l - ~·
13. (Romênia.) Encontre todos os polinômios não constantes p, de
coeficientes reais e tais que p(X2) = p(X)p(X - 1).
3.4 Raízes múltiplas
Seja f um polinômio de coeficientes complexos. No que segue,
convencionamos dizer que z E C é raiz de multiplicidade zero de f
se z não for raiz de f. Queremos, nesta seção, encontrar um critério
que nos permita decidir se z é ou não raiz múltipla de f e, caso o
seja, calcular sua multiplicidade. Para tanto, precisamos da definição
a seguir.
Definição 3.28. Para um polinômio f (X) = anXn + · · · + a1X + a0 E
C[X], definimos a derivada f' E C[XJ de f como o polinômio
J'(X) = nanxn-l + (n - l)an-2xn-2 + · · · + 2a2X + a1
se of > O. Senão, definimos f' = O.
A regra para a obtenção da derivada de um polinômio é bastante
simples: a derivada de um polinômio constante é o polinômio iden-
ticamente nulo; a derivada de um polinômio de grau n ~ 1 é obtida
apagando seu termo constante e efetuando, para 1 :s; k :s; n, a troca
de monômios
3.4 Raízes múltiplas 77
A proposição a seguir lista as principais propriedades básicas de
derivadas de polinômios.
Proposição 3.29. Para !1, ... , Ík E C[X] e a1, ... , ak E C, temos:
(a) (~:=1 adi)'= ~:=l adI.
(b) (n:=11i)' = ~:=11i ... 1: ... Ík·
Prova.
(a) Imediato, por indução sobre k ~ 1. (Observe que os casos iniciais
são k = 1 e k = 2.)
(b) Considere, primeiro, dois polinômios f e g dados por
Omitindo X quando conveniente, segue de (a) que
Por outro lado,
m
i=O
m m
- ~ . ·b·Xj+i-1 + ~ . ·b·Xj+i-1 - L.....J Jª1 i L.....J ia] i
Í=Ü Í=Ü
m m
i=O i=l
,,,
i
78 Raízes de Polinômios
Portanto, voltando à expressão anterior para (! g )', obtemos
n
(Jg)' = L[(aiXi)'g + aiXig']
j=O
= (t(aiXi)') g + (t aixi) g'
J=O J=O
= (taixi)' g + fg'
J=O
= f'g + fg',
onde utilizamos novamente o item (a) na penúltima igualdade. Por
fim, a extensão para k polinômios li, ... , fk é imediata porindução.
. D
Corolário 3.30. Dados g E C[X] e n E N, se f(X) = g(X)n, então
f'(X) = ng(X)n-1g'(X). Em particular, se f(X) = (X - a)n, então
f'(X) = n(X - ar-1 .
Prova. Fazendo k = n e li=···= fn = g no item (b) da proposição
anterior, obtemos
n
J'(X) = Lg(xr-1g'(X) = ng(xr-1g'(X),
i=l
O caso particular segue daí, pondo g(X) = X - a. D
A proposição a seguir vincula a multiplicidade de uma raiz de um
polinômio às derivadas do mesmo.
Proposição 3.31. Seja f um polinômio não nulo de coeficientes com-
plexos e z um complexo dado.
( a) Se z for raiz de multiplicidade m ~ 1 de f, então z é raiz de
multiplicidade m - 1 de f'.
3.4 Raízes múltiplas 79
(b} Se z for raiz de f e for raiz de multiplicidade m-1 de f', então
z é raiz de multiplicidade m de f.
Prova.
(a) Seja f(X) = (X - z)mg(X), com g(z) =J O. O item (b) da propo-
sição anterior e seu corolário nos dão
J'(X) ~ m(X - z)m-lg(X) + (X - z)mg'(X)
= (X - z)m-1 [mg(X) + (X - z)g'(X)].
Portanto, sendo h(X) = mg(X)+(X-z)g'(X), temos h(z) = mg(z) =J
O e f'(X) = (X - z)m-1h(X). Pela definição, segue que z é raiz de
multiplicidade m - 1 de f'.
(b) Seja f(X) = (X -z)kg(X), com g(z) =J O e k ~ 1. Pelo item (a), a
multiplicidade de a como raiz de f' é k- l, de modo que k-1 = m-1
e, daí, k = m. D
Corolário 3.32. Se z E (C e f E C[X] \ {O}, então z é raiz múltipla
de f se, e só se, f(z) = f'(z) = O.
Prova. Imediata, a partir da proposição anterior. D
Exemplo 3.33. Prove que, para todo inteiro positivo n, o polinômio
x2 xn
l+X+-+ .. ·+-
2! n!
não tem raízes múltiplas.
Prova. Seja f (X) = 1 +X+ ~t + · · · + -:~, e suponha que f tem uma
raiz múltipla z. Então, pelo corolário anterior, temos f(z) = f'(z) = O.
Agora, uma vez que f(X) = f'(X) +-:~,seguiria daí que
zn
o = f ( z) = f' ( z) + -, ' n.
i.e., z = O. Mas, como f(O) = 1 =J O, chegamos a uma contradição. D
80 Raízes de Polinômios
A fim de refinar o corolário anterior precisamos, inicialmente, ge-
neralizar a definição 3.28.
Definição 3.34. Para f E C[X] \ {O}, definimos a k-ésima derivada
de f, denotada J(k), por
j(k) { f, se k = O
= (J(k-I))', se k ~ 1
Segue da definição acima que J(l) = (!(0 ) )' f'; daí, J(2) =
(j(1l)' = (!')', de sorte que denotamos J(2) = f". Analogamente,
sempre que conveniente, denotamos j(3) = f"', etc.
Se a f = n e O :S k :S n, então uma fácil indução garante que
a J(k) S n - k; em particular, a f(n) = O e, daí, j(n+l) = f(n+ 2) = · · · =
o.
Corolário 3.35. Se z E (C e f E C[X] \ {O}, então z é raiz de
multiplicidade m ~ 1 de f se, e só se,
f(z) = · · · = j(m-1l(z) = O e j(ml(z) -1- O.
Prova. Suponha, primeiro, que z seja raiz de multiplicidade m de f.
Repetidas aplicações do item (a) da proposição 3.31 nos dão, por um
lado,
f(z) = · · · = f(m-ll(z) = O
e, por outro, que z é raiz de multiplicidade zero de f(m), 1.e., que
f(m)(z) -1- O.
Reciprocamente, suponha a condição do enunciado satisfeita e se-
jam k E N e g E C[X] tais que J(X) = (X - z)kg(X), com g(z) -1- O.
Novamente pelo item (a) da proposição 3.31, para O :S j :S k temos
que z é raiz de multiplicidade k - j de JU). Em particular,
J(z) = · · · = j(k-I)(z) = O e j(kl(z) -1- O.
3.4 Raízes múltiplas 81
Agora
f(z) = · · · = J(m-l)(z) =O=* k S m
e
D
Nosso propósito, no restante desta seção, é mostrar que, se f E
C[X] \ {O} tem grau n e z E C, então f é totalmente determinado
pelos valores j(k)(z), para O :S k :S n. Antes, contudo, precisamos de
mais duas consequências da proposição 3.31.
Corolário 3.36. Seja f E C[X] tal que f = O ou a f :S n. Se z E (C
é tal que f(z) = · · · = f(n)(z) = O, então f = O.
Prova. Se f -1- O, o corolário anterior garante que z é raiz de multi-
plicidade pelo menos n + 1 de f. Mas, como a f :S n, chegamos a uma
contradição. D
Corolário 3.37. Sejam f, g E C[X] \ {O}, com af, ag :S n. Se existe
z E (C tal que
J(z) = g(z), ... , J(nl(z) = g(n)(z),
então f = g.
Prova. Basta aplicar o corolário anterior a f - g, notando ( a partir
da definição 3.34 e por indução sobre k ~ 1) que
D
O resultado a seguir é conhecido como a fórmula de Taylor para
polinômios, sendo uma consequência imediata do corolário acima.
11, n
82 Raízes de Polinômios .:
Teorema 3.38. Se z E <C e f E <C[X] \ {O} tem grau n, então
j(I)(z) f(n)(z)
f(X) = f(z) + l! (X - z) + · · · + n! (X - zr. (3.10) '.
Prova. Defina
f'(z) f(n)(z)
g(X) = f(z) + 11(X - z) + · · · + n! (X - zr.
Como f =/= O, segue do corolário 3.36 que ao menos um dentre os
números f(z), f'(z), ... , f(n)(z) é não nulo; portanto, g =!= O. Por ,
outro lado, é imediato verificar que, para O :::; k :::; n, temos
e, daí, que
n (j)
g(k\X) = L ~ (z) (X - z)i-k
j=k (J - k)!
f(z) = g(z), f'(z) = g'(z), ... , j(n\z) = g(n)(z).
Mas, como f e g têm graus menores ou iguais a n, segue do corolário
anterior que f = g. D
Exemplo 3.39. Seja f E JR[X] \ {O} e a E :IR tal que f(a) = O ·
e J(k)(a) ~ O, para todo k ~ 1. Prove que f não possui raízes no
intervalo ( a, +oo).
Prova. Pela fórmula de Taylor, temos
f'(a) f(n)(a)
f(X) = 11(X - a)+···+ n! (X - ar,
onde n = 8f. Mas, como f =/= O, ao menos uma das derivadas J(k)(a),
para 1 ::S k ::S n, é positiva. Assim, sendo x > a um número real e
f(j)(a) > O, temos
f(x) = f'(a) (x - a)+ ... + f(n)(a) (x - ar
1! n!
(j)
~ f . ~a) ( X - a )i > O.
J.
D
3.4 Raízes múltiplas 83
Problemas - Seção 3.4
1. Ache todos os valores inteiros de a para os quais o polinômio
f(X) = X 3 _:_ aX2 + 5X - 2 possui raízes múltiplas.
2. * Generalize parcialmente o item (a) da proposição 3.31, mos-
trando que, se f, g E <C[X] são tais que g(X)2 1 /(X), então
g(X) 1 f'(X).
3. * Para z1, ... , Zn E <C, seja f(X) = (X - z1) ... (X - Zn)· Prove
que, para z E <C \ {z1, ... , Zn}, temos
f'(z) _ n _l_
f(z) - ~ z-z··
J=l J
4. * Generalize o problema anterior provando que, se li, ... , Ík E
<C[X], f =li ... Ík e z E <C não é raiz de f, então
f'(aj fl(aj fl(aj --=--+ .. ·+--
f(z) f1(z) Ík(z)'
5. (Estados Unidos.) Para cada conjunto não vazio e finito S de
números reais, sejam a(S) e 1r(S), respectivamente, a soma e o
produto de seus elementos. Prove que
'""" a(S) 2 ( 1 1) L.....J - = n + 2n - 1 + - + · · · + - ( n + 1).
1r(S) 2 n
0-#SCln
6. Prove o seguinte teorema de Gauss: se f(X) = anXn + · · · +
a1X +ao é um polinômio de grau maior que 1 e coeficientes com-
plexos, então as raízes de f' estão contidas no menor polígono
convexo (possivelmente degenerado) do plano complexo que tem
as raízes de f como vértices.
84 Raízes de Polinômios
7. * Se fé um polinômio de coeficientes inteiros e grau n e a E Z,
JUl (a) '71 Ü . prove que -j,- E u..,, para ::::; J ::::; n.
8. Seja f um polinômio de coeficientes inteiros e p um primo que
não divide seu coeficiente líder. Sem é um natural tal que
f(m) - O (modp) e J'(m) t O (modp),
prove que, para todo k EN, existe mk EN tal que
CAPÍTULO 4
Relações entre Coeficientes e Raízes
Nosso propósito neste capítulo é formalizar e provar algumas rela-
ções importantes entre as raízes de um polinômio em uma indetermi-
nada, resultados estes denominados genericamente de relações entre
coeficientes e raízes de um polinômio. Também, discutimos um im-
portante teorema de Newton sobre polinômios simétricos, o qual se
revelará de importância central para a discussão do capítulo 8.
Para o que segue, lembre-se de que lK denota Q, IR ou C.
4.1 Polinômios em várias indeterminadas
Fixado n EN, um polinômio f a n indeterminadas sobre lK é
uma soma de monômios do tipo
85
86 Relações entre Coeficientes e Raízes
onde ai1 .. . in E K e ii, ... , in variam em Z+, sendo ai1 ... in = O para
quases todas (i.e., para todas, exceto um número finito de) sequências
(ii, ... , in) de inteiros não negativos. Nesse caso, escrevemos
f = /(Xi, X2, ... 'Xn) = L ªi1 ... inxf1 ... x~n.
i1, .. ,,in~O
O grau de um polinômio f como acima é o maior valor possível para
a soma ii + · · · + in, tal que ªii.,.in =/; o.
Denotamos porOC[Xi, ... , Xn] o conjunto dos polinômios a n inde-
terminadas sobre K. Sobre tal conjunto definimos, de maneira óbvia,
operações
e
respectivamente denominadas adição e multiplicação, as quais se
reduzem às operações de adição e multiplicação sobre K[X] quando
n = 1 e continuam gozando das mesmas propriedades dessas opera-
ções. Por exemplo, se /(Xi, X2) = X;+ XiX2 + X? e g(Xi, X2) =
Xf - v'2XiX2, então
e
/(Xi, X2) + g(Xi, X2) = x; + (1 - v'2)XiX2 + Xf + xg
/(Xi,X2) · g(Xi,X2) = Xf-v'2XfX2 +xtx2 -v'2X;X?
+ x:xg- J2xixi.
Dado f E K[Xi, ... , Xn], podemos considerar f como um polinômio
em Xi, com coeficientes em K[Xi, ... , Xi, ... , Xn], onde usamos o cir-
cunflexo A sobre Xi para indicar que todas as indeterminadas, menos
Xi, estão presentes. Por exemplo, seja
4.1 Polinômios em várias indeterminadas 87
um polinômio em K[Xi, X2, X 3]; escrevendo
consideramos f como um polinômio em X3 , cujos coeficientes estão
em K[Xi, X2].
Se/, g E K[Xi, ... , Xn] são dados por
/(Xi, X2, ... 'Xn) = L ªi1, .. inxf1 ... x~n
i1, ... ,in~O
e
g(Xi,X2, ... ,Xn) = L bi1 ... inxf1 .. . x~n,
i1, ... ,in~O
dizemos que f e g são iguais quando ai1 ... in = bi1 ... in, para todas as
escolhas possíveis de índices ii, ... , in E Z+.
Fixados Xi, X2 ... , Xn E K, definimos o elemento /(xi, x2, ... , Xn) E
Kpor
i1, ... ,in
A proposição a seguir nos dá uma relação entre tais elementos de K e
a noção de igualdade de polinômios em várias indeterminadas.
Proposição 4.1. Sejam f,g E K[Xi, ... ,Xn]· Se Ai, ... ,An C K
são conjuntos infinitos, então
Prova. Se f = g, é claro que /(xi, X2, ... , Xn) = g(xi, X2, ... , Xn),
para todos xi, x2, ... , Xn E K e, em particular, para Xi E Ai, x2 E A2,
··., Xn E An.
Reciprocamente, suponhamos que esta última condição seja satis-
feita e provemos que f = g usando indução sobre o número n de
1111 li
88 Relações entre Coeficientes e Raízes
indeterminadas. Já temos a validade da proposição para n = 1, pelo
corolário 3.10. Por hipótese de indução, suponha o resultado válido
para polinômios em n - 1 indeterminadas e escreva
com Íi, 9i E OC[X2 , ••• , Xn] para todos OS i S m, OS j S p.
Fixados x2 E A2, ... , Xn E An, temos por hipótese de indução que
para todo x1 E A1 , i.e., que
m p
Lfi(x2,···,xn)x{ = L9i(x2,····,xn)x{,
j=O j=O
para todo x1 E A1. Como o conjunto A1 é infinito, aplicando o coro-
lário 3.10 aos polinômios
e
m
J(X1, X2, ... , Xn) = L fi(x2, · · ·, Xn)Xf
j=O
p
g(X1, X2, ... , Xn) = L 9i(x2, ... , Xn)Xf,
j=O
concluímos que m = p e
(4.2)
para Os j s m. Mas, como os elementos X2 E A2, ... , Xn E An fixados
foram escolhidos arbitrariamente, concluímos que (4.2) é válida para
todos x2 E A2, ... , Xn E An· Portanto, pela hipótese de indução segue
que Íi = gi para OS j S m, e (4.1) garante que f = g. D
4.1 Polinômios em várias indeterminadas 89
Observação 4.2. Doravante, ao lidarmos com polinômios f em duas
indeterminadas, escreveremos em geral f(X, Y) em vez de f(X1 , X2).
Uma notação análoga será usada para polinômios f em três indeter-
minadas: escreveremos f(X, Y, Z) em vez de f(X1, X2 , X3).
Exemplo 4.3. Escreva o polinômio (X+ Y + z)3 - (X3 + y3 + z3)
como produto de polinômios de grau 1.
Solução. Fixe Y, z E JR.*, com y =/:- z, e considere o polinômio em X
g(X) = f(X, Y, z) = (X+ y + z)3 - X3 - (y3 + z3).
Uma vez que
f(-y, Y, z) = (-y + y + z)3 - ((-y)3 + y3 + z3) = O,
temos pelo teste da raiz que o polinômio f(X, y, z) (em X) é divisível
por X - ( -y) = X+ y. Analogamente, f é divisível por X+ z e, como
âg = 2, o item ( c) da proposição 3.3 garante que
f(X, y, z) = a(X + y)(X + z),
sendo a E lR. a determinar. Avaliando a igualdade acima em O, obtemos
ayz = f(O, y, z) = (y + z)3 - (y3 + z3) = 3yz(y + z),
de forma que a= 3(y + z). Logo,
f(X, y, z) = 3(y + z)(X + y)(X + z)
e, daí, f(x, y, z) = 3(y+z)(x+y)(x+z), para todos x E JR. e y, z E JR.*,
com y =/:- z. Pela proposição 4.1, segue então que
f(X, Y, Z) = 3(Y + Z)(X + Y)(X + Z).
D
90 Relações entre Coeficientes e Raízes
Problemas - Seção 4.1
1. * Se f E JK[X1, ... , Xn] é não nulo, prove que existem conjuntos
infinitos A1, ... , An C lK tais que f(x1, ... , Xn) =/:- O, para todos
X1 E A1, ... , Xn E An,
2. Faça os seguintes itens:
(a) Prove que o polinômio (X - Y)5 + (Y - Z) 5 + (Z - X)5 é.
divisível pelo polinômio (X - Y)(Y - Z)(Z - X).
(b) Fatore o polinômio (X - Y)5 + (Y - Z) 5 + (Z - X)5.
3. Fatore o polinômio (X+ Y + Z) 5 - X5 - Y5 - Z 5 como produto .
de três polinômios de grau 1 e um polinômio de grau 2.
4.2 Polinômios simétricos
O objeto de estudo dessa seção é isolado na definição a seguir.
Definição 4.4. Um polinômio f E JK[X1, ... , Xn] é simétrico quando
f(X1, X2,,,,, Xn) = f(Xu(l), Xu(2), · · ·, Xu(n)),
para toda permutação a de ln.
Para entender melhor a definição acima, considere os polinômios
f,g E JK[X, Y], dados por
f (X, Y) = X 2 + Y2 - XY +X+ Y e g(X, Y) = X 3 + Y3 - X.
O primeiro é simétrico mas o segundo não, uma vez que
f(Y, X) = Y2 + X 2 - Y X+ Y +X= f(X, Y),
mas
g(Y, X)= Y3 + X 3 - Y =/:- g(X, Y).
4.2 Polinômios simétricos 91
Um certo conjunto de polinômios simétricos, ditos elementares,
merece especial atenção. Explicitamos tais polinômios na definição a
seguir.
Definição 4.5. Para O ~ j ~ n, o j-ésimo polinômio simétrico
elementar em Xi, ... , Xn, denotado Sj = sj(X1, ... , Xn), é definido
como
se j = O
se 1 ~ j ~ n
No caso n = 3, por exemplo, temos
s0 = 1, s1 = X+ Y + Z, s2 = XY + Y Z + X Z, s3 = XY Z.
Para um natural n qualquer, não é difícil provar que Sj é de fato
simétrico. Por outro lado, a importância dos polinômios simétricos
elementares reside na proposição a seguir, sendo as relações (4.3) co-
nhecidas como as relações de Girard1 entre coeficientes e raízes de
um polinômio.
Proposição 4.6. Se f(X) = anXn + · · · + a1X + a0 E JK[X] \ lK
se fatora completamente sobre JK, com raízes a 1 , ... , an, então, para
1 ~ j ~ n, temos
( ) _ ( )i ªn-j Sj a1,,,,,an - -1 --.
an
(4.3)
Prova. Por simplicidade de notação, denote sj(a1, ... , an) simples-
mente por si(ai)· Escrevendo f(X) = an(X -a1)(X -a2) ... (X -an)
e expandindo os parênteses, obtemos
Igualando os coeficientes correspondentes nessa expressão para f e
naquela do enunciado, obtemos o resultado desejado. D
1 Após Albert Girard, matemático francês do século XVII.
92 Relações entre Coeficientes e Raízes
A fim de ilustrar o que a proposição acima diz e o que ela não
diz, considere as raízes complexas a, f3 e I do polinômio f(X) =:::
X 3 - 2X2 + 1. Pelas relações de Girard, temos
Porém, vale observar que tais relações não trazem informação sufici-
ente para calcularmos a, {3 e 1 ; de fato, ao tentarmos resolver o sistema
formado pelas igualdades acima, recaímos nas equações polinomiais .
f(a) = O, f(f3) = O e J(r) = O. Senão, vejamos: multiplicando ambos
os membros da segunda relação por a, obtemos
substituindo nessa igualdade f3 + 1 por 2 - a e a/31 por -1, segue que
a 2 ( 2 - a) - 1 = O.
Nas notações da proposição acima, nos referimos a s j ( a 1, ... , an) E
lK como a j-ésima soma simétrica elementar das raízes de f. Sem-
pre que ct1, ... , ctn estiverem subentendidos e não houver perigo de
confusão com o polinômio simétrico elementar s . = s . (X X ) J J 1, · · ·, n ,
denotaremos a soma simétrica elementar sj(a1 , ... , an) simplesmente
por si.
Apresentamos, a seguir, uma série de exemplos que ilustram ava-
riedade de situações em que podemos empregar as relações de Girard.
Exemplo 4. 7. Seja f(X) = xn+an_1xn-1+an_2xn-2+. +a1X +ao
um polinômio de coeficientes reais, tal que a;._1 < 2an_2. Prove que f
tem ao menos duas raízes complexas não reais.
Prova. Por contradição, suponha que a;._1 < 2an_2 mas ao menos
n - 1 dentre as raízes complexas de f sejam reais. Como f tem
coeficientes reais, o resultado do problema 2, página 74, garante que
4 2 Polinômios simétricos
~
93
todas as raízes complexasde f são reais. Mas, se ct1, ... , ctn E IR são
tais raízes, as relações de Girard fornecem
n
Lªi = -ªn-1 e
i=l
A partir daí, temos
n
Lªl=
i=l
L ªiªj = ªn-2· i<j
O que nos fornece a contradição desejada. D
Exemplo 4.8. Sejam a, b e c números reais não nulos, tais que a+
b + c = O. Prove que
ª5 + b5 + c5
5
Prova. Se f(X) = (X-a)(X-b)(X -e), então a condição a+b+c = O
garante que f(X) = X 3+sX -t, onde s = ab+ac+bc e t = abc. Mas,
como f(a) = O, temos a3 = -sa + t e, analogamente, b3 = -sb + t
e c3 = -se+ t. Somando membro a membro essas três igualdades e
usando novamente a condição a+ b +e= O, obtemos
a3 + b3 + c3 = -s(a + b +e)+ 3t = 3t.
Para manipular adequadamente a soma a5 + b5 + c5 , comece multipli-
cando ambos os membros das igualdades a3 = -sa + t, b3 = -sb + t e
c3 = -sc+t respectivamente por a2, b2 e c2 ; em seguida, some membro
a membro os resultados para obter
ª5 + b5 + c5 = -s(a3 + b3 + c3) + t(a2 + b2 + c2).
Substituindo, na igualdade acima, a expressão para a3 + b3 + c3 obtida
no parágrafo anterior e observando que
a2 + b2 + c2 =(a+ b + c) 2 - 2(ab + ac + bc) = -2s,
1:
94 Relações entre Coeficientes e Raízes
chegamos à igualdade
a5 + b5 + c5 = -s · 3t + t(-2s) = -5st.
A igualdade do enunciado é, agora, óbvia. o
Exemplo 4.9. As raízes do polinômio f(X) = X 3 - 7X2 + 14X - 6
são os comprimentos dos lados de um triângulo. Calcule a área do
mesmo.
Solução. Sejam a, becas raízes de f e A a área do triângulo tendo
tais raízes por lados. A fórmula de Herão para a área de triângulos
(proposição 7.30 de [11]) nos dá
A2 = p(p - a)(p - b)(p - c),
onde pé o semi-perímetro do triângulo. Por outro lado, pelas relações
de Girard, temos
de maneira que
Usando agora a forma fatorada de f, temos
e, daí,
f ( X) = ( X - a) ( X - b) ( X - c) = X 3 - 7 X 2 + 14X - 6
f (;) = (;-a) (;- b) (;- c)
= G) 3 - 7 G) 2 + 14 G) -6
1
8
4.2 Polinômios simétricos 95
Logo,
A2 =;. f (;) =;. t = t6'
de sorte que A= vJ. o
Exemplo 4.10 (Romênia). Sejam a, b, c e d números reais tais que
a=J4-\!'5-a, b=V4+~,
c = V 4 - v'5 + c e d = V 4 + v'5 + d.
Calcule os possíveis valores do produto abcd.
Solução. Veja que a2 = 4-\!'5-a, de sorte que (a2 -4)2 = 5-a ou,
ainda, a4 -8a2 +a+ll = O. Analogamente, obtemos b4 -8b2+b+ll =
O, de maneira que a e b são raízes do polinômio
f(X) = X 4 - 8X2 +X+ 11.
Do mesmo modo, concluímos que c e d são raízes do polinômio X 4 -
8X2 - X + 11 e segue, daí, que -c e -d também são raízes de f.
Portanto, a, b, -c e -d são todos raízes de f e, se soubermos que
tais raízes são duas a duas distintas, concluiremos que elas são todas
as raízes do polinômio f; daí, as relações de Girard nos darão
abcd = ab(-c)(-d) = 11.
Para o que falta, se tivéssemos, por exemplo, a = b, teríamos
v' 4 - \!'5-a = J 4 + v'5 - a e, assim, a = 5. Mas, como 5 -/:-
v' 4 - y'5-=s, temos a -/:- b. Analogamente, provamos que c -/:- d;
por fim, como -c, -d < O < a, b, nada mais há a fazer. O
Exemplo 4.11 (Romênia). Se x1 , x2 , ... , Xn são reais positivos tais
que X1X2 ... Xn = 1, prove que
n 1
~ < 1.
L....tn-l+x·-
i=I J
l"I:'.
1;
96 Relações entre Coeficientes e Raízes
Prova. Seja p(X) = (X+ x1) ... (X+ Xn)· Pelo problema 3, página ·.
83, temos
p'(x) = t 1
p(x) i=l x+xi
para x =/:- -xi, ... , -xn. Portanto, queremos mostrar que
p'(n - 1) < 1.
p(n -1) -
Para o que falta, para 1 ~ i ~ n, seja ai= si(x1 , ... , xn) ai-ésima
soma simétrica elementar de x1, ... , Xn, e faça a0 = 1. Então, temos
n n-1
p(X) = L ajxn-j e p(X) = L(n - j)ajxn-j-I,
j=O j=O
de sorte que basta mostrar que
n n-1
L ªi(n - 1r-j ~ L(n - j)ain - 1r-j-1
j=O j=O
ou, ainda,
n-1
L ªi(j - 1)(n - 1r-j-l + ªn ~ nao(n - 1r-1 - ao(n - ir.
j=l
Finalmente, queremos provar que
n
Lªiu-1)(n-1r-j-l ~ (n -1r-1 .
j=l
Pela desigualdade entre as médias aritmética e geométrica, temos
4.2 Polinômios simétricos 97
de modo que basta mostrarmos que
t (.~) (j - l)(n - 1r-j-l ~ (n -1r-1 .
j=l J
Afirmamos que tal desigualdade é, de fato, uma igualdade. De
fato, a igualdade
x" = ex -1+ 1r = t, (:)ex -1)"-'
nos dá, por derivação,
nxn-• = Í:(n - k) (:) (X - 1)"_,_,
k=O
Avaliando as funções polinomiais correspondentes em x = n, vem que
nn = Í:(n - k) (~) (n - 1r-k-l
k=O
= ~[(n -1) - (k-1)] (:) (n - 1)"_,_,
=É(~) (n -1r-k - Í:(k-1) (~) (n-1r-k-l_
k=O k=O
Por outro lado,
de forma que
t, G) (n-1r-· = ~ (:)cn-1)"-·
- Í:(k - 1) (~) (n - ir-k-1.
k=O
i',
! .,
]i !
ir:
::
11:•.
98 Relações entre Coeficientes e Raízes .
Após efetuar os cancelamentos óbvios, chegamos à igualdade
ou, ainda, a
t,<k- l)(~)(n -1r-•-1 = o.
Por fim, a partir daí, obtemos
que é precisamente a igualdade desejada.
Problemas - Seção 4.2
1. Sejam f, g eh polinômios não nulos em K[X1 , ... , Xnl, tais que '.
f e g são simétricos e f = gh. Prove que h é simétrico. '
2. * Um polinômio f E K[X1 , ... , Xn] é denominado homogêneo
de grau k quando
para todo t E K. Obtenha, a menos de multiplicação por cons-
tantes, todos os polinômios simétricos e homogêneos de grau 2
em JR[X, Y, Z].
3. Para f E K[X1, ... , Xn], seja g E K[X1, ... , Xn] o polinômio
definido por
1
g(X1, · · ·, Xn) = I L f(Xu(l), '. · ·, Xu(n)), n.
(T
4.2 Polinômios simétricos 99
onde CJ varia sobre todas as n! permutações de ln. Prove que g
é um polinômio simétrico, denominado a simetrização de f, e
que g = f se f for simétrico .
•
4. (Croácia.) Se a, b e e são reais dois a dois distintos satisfazendo
o sistema de equações
{
a3 = 3b2 + 3c2 - 25
b3 = 3c2 + 3a2 - 25
c3 = 3a2 + 3b2 - 25
calcule os possíveis valores do produto abc.
5. Dados a, b, e E C, explicite, em função de a, b e e, os coeficientes
de um polinômio mônico de grau três cujas raízes complexas
sejam os cubos das raízes complexas do polinômio X 3 + aX2 +
bX+c.
6. Dado o polinômio p(x) = X 3 - X 2 +X+ 1, pede-se:
(a) Mostrar que p tem três raízes distintas, duas das quais são
complexas e não reais.
(b) Obter o polinômio mônico de terceiro grau cujas raízes são
os cubos das raízes de p.
7. ( OBM.) Sabendo que o polinômio f ( X) = X 3 + pX + q tem três
raízes reais distintas, prove que p < O.
8. (Romênia.) Sejam a, b e e complexos não nulos, tais que
1 1 1
a + b + e = - + - + - = O.
a b e
Se n for um inteiro positivo, mostre que an + bn + cn = O se, e
só se, 3 f n.
1.
100 Relações entre Coeficientes e Raízes
9. (Hong Kong.) Sejam a3, a4 , ... , a100 números reais, sendo a100 f. ,
O. Prove que nem todas as raízes do polinômio /
f(X) = a100X100 + a99X99 + · · · + a3X3 + 3X2 + 2X + 1
são reais.
10. Considere todas as retas que encontram o gráfico da função poli- ,
nomial real f(x) = 2x4 +7x3 +3x-5 em quatro pontos distintos
(xi,Yi), para 1::; i::; 4. Prove que o número Hx1 +x2 +x3+x4 ) ;,
independe da reta considerada e calcule seu valor.
11. (Moldávia.) No plano cartesiano, um círculo intersecta a hipér- :
bole de equação xy = 1 em quatro pontos distintos. Prove que
o produto das abscissas dos pontos de interseção é sempre igual
a 1.
12. (Canadá - adaptado.) Sejam a, b e e as raízes complexas do
polinômio X 3 - X 2 - X - 1.
(a) Prove que a, b e e são duas a duas distintas.
(b) Se, para cada n EN, pusermos
mostre que Sk+3 = Sk+2 + Sk+l + Sk, para todo k E N.
(c) Conclua que Sn E Z, para todo n EN.
13. (BMO - adaptado.) Para números reais x e y tais que xy =/:- -1,
defina
l+x+y
X*Y =
l+xy
4.3 O teorema de Newton 101
(a) Dados n 2: 2 reais positivos x1 , x2, ... , Xn, mostre que
81 + 83 +···+Si
X1 * (x2 * (· · · * Xn) · · ·) = --------
. 1 + S2 + 84 + · · · + Sp
onde i e p são, respectivamente, o maior ímpar e o maior
par menores ou iguais a n e Sj é a j-ésima soma simétrica
elementar de X1, X2, ... , Xn·
(b) Se J(X) = (X+ x1)(X + x2) ... (X+ xn), use o resultado
do item (a) para mostrar que
14. Seja n > 1 inteiro. Obtenha todas as soluções reais do sistema
x1 + x2 + · · · + x~= n
15. Seja f(X) = xn + ªn-1xn-l + · · · + a1X + 1 um polinômio de
coeficientes reais não negativos e raízes reais. Prove que f(x) 2:
(x + lt, para todo real X 2: Ü.
16. (Irlanda.) Dado n E N, ache todos os polinômios J(X)
anXn + · · · + a1X + a0 satisfazendo as seguintes condições:
4.3
(a) ai E {-1, 1}, para O::; j::; n.
(b) Todas as raízes de f são reais.
O teorema de Newton
Ainda sobre polinômios simétricos, note que f(X, Y, Z) = X 4 +
Y4 + Z 4 é simétrico mas não é um dos polinômios simétricos em X,
1'
102 Relações entre Coeficientes e Raízes
Y e Z que chamamos elementares. Contudo, sendo si = si(X, Y, Z),
s2 = s2(X, Y, Z) e s3 = s3 (X, Y, Z), podemos escrever
f(X, Y, Z) = (x2 + y2 + z2)2- 2(x2y2 + x2z2 + y2z2)
= [ (X + Y + Z) 2 - 2(XY + X Z + Y Z)] 2
onde
- 2 [(XY + XZ + YZ) 2 - 2XYZ(X + Y + Z)]
= (s~ - 2s2 ) 2 - 2(s~ - 2sis3)
= sf - 4s~s2 + 2s~ + 4sis3
= g (si, s2, s3)'
g(X, Y, Z) = X 4 - 4X2Y + 2Y2 + 4X z.
Assim, nesse caso particular, fomos capazes de expressar o polinômio
simétrico f(X, Y, Z) = X 4 + Y4 + Z4 como um polinômio nos polinô-
mios simétricos elementares em X, Y e Z.
Conforme veremos nesta seção, tal possibilidade não é acidental.
Mais precisamente, provaremos a seguir um resultado usualmente atri-
buído ao matemático e físico inglês Isaac Newton, conhecido na litera-
tura como o teorema fundamental dos polinômios simétricos.
No que segue, K inclui a possibilidade K = .Z. Seguimos, essenci-
almente, a exposição de [27].
Teorema 4.12 (Newton). Se f = f(Xi, ... , Xn) E K[Xi, ... , Xn] é
simétrico, então existe g E K[Xi, ... , Xn] tal que
f(Xi, ... , Xn) = g(si, ... , sn),
onde si, ... , sn E K[Xi, ... , Xn] são os polinômios simétricos elemen-
tares em Xi,· . . ,Xn.
Para a prova do teorema anterior, precisamos introduzir alguns
conceitos preliminares. Inicialmente, vamos ordenar os monômios
4.3 O teorema de Newton 103
de K[Xi, ... , Xn] da seguinte maneira: dadas duas n-uplas distin-
tas (ii, ... , in) e (ji, ... , Jn) de inteiros não negativos e monômios
ª(i)Xf1 ••• X!n e b(i)Xf1 ••• Xtn em K[Xi, ... , Xn], definimos
a X i1 Xin -< b xi1 Xin (i) i · · · n (j) i · · · n
~
:3 l :::; k :::; n; { ~l = j'. se l < k .
1,k < )k
(4.4)
Neste caso, dizemos que bu)Xf1 ••• Xtn é maior do que ª(i)Xt1 ••• x:;,,.
Em geral, nos referiremos à ordenação acima como a ordem le-
xicográfica dos monômios de K[Xi, ... , Xn]· Em particular, para
f E K[Xi, ... , Xn], seu termo líder é o monômio máximo (i.e., maior
que todos os demais) em relação à ordem lexicográfica. Note ainda
que, em K[X], tem-se 1 -< X -< X 2 -< · · ·, de modo que a noção de
termo líder em mais de uma indeterminada generaliza a noção usual
em uma indeterminada, dada pelo grau de um monômio.
Exemplo 4.13. Se f = st1 ••. s~n, onde si E K[Xi, ... , Xn] é o
i-ésimo polinômio simétrico elementar, então f tem termo líder
De fato, uma vez que
a definição de ordem lexicográfica garante que seu termo líder é
i.e.,
104 Relações entre Coeficientes e Raízes
De posse do conceito de ordem lexicográfica, a chave para a prova
do teorema de Newton se encontra no seguinte resultado auxiliar.
Lema 4.14. Se f E OC[X1, ... , Xn] é simétrico e ª(a)Xf1 ••• X~n é
seu termo líder, então
Prova. Se a 1 é o maior expoente que comparece em algum monômio
de f, então, como f é simétrico, existe em f um monômio contendo
Xf1 • Se ª(i)Xi1 •.• X~n é um monômio de f tal que i1 < a1, segue da
definição da ordem lexicográfica que tal monômio não é o termo líder .
de f. Portanto, o termo líder contém Xf1 •
Agora, dentre todos os monômios de f contendo Xf1 , selecione
um com expoente máximo em alguma das indeterminadas X 2 , ••• , Xn,
digamos expoente a 2 . Novamente por ser f simétrico, existe um tal
monômio de f contendo Xf1 Xf2 • Ademais, pela escolha de a 1 temos
a 1 2: a 2. Por outro lado, se ª(i)Xf1 X~2 ••• X~n é monômio de f tal
que i 2 < a 2 , então, novamente pela definição de ordem lexicográfica,
tal monômio não é o termo líder de f, de modo que o termo líder de f
contém Xf1 Xf2 • Por fim, repetindo esse argumento mais n - 2 vezes,
obtemos o resultado desejado. D
Podemos, finalmente, apresentar a prova do teorema de Newton.
Prova do teorema 4.12. Tome f E OC[X1, ... ,Xn] simétrico, com
termo líder ª(a)Xf1 ••• X~n. Pelo lema anterior, temos a 1 2: · · · 2: ªn·
Por outro lado, pelo exemplo 4.13, o polinômio simétrico
também tem termo líder ª(a)Xf1 •.• X~n, de modo que o polinômio si-
métrico f - g tem termo líder ª(f3)Xf1 ••• X~n, com ª(f3)Xf1 ••• X~n -<
ª(a)Xf1 ••• X~n na ordem lexicográfica. Mas, como OC[X1, ... , Xn] con-
tém somente um número finito de monômios mônicos e menores que
4.3 O teorema de Newton 105
a(a)Xf1 ••• X~n em relação à ordem lexicográfica, um número finito de
repetições do algoritmo acima nos dá f-g = l(s1, ... , sn), para algum
polinômio l E OC[X1, ... , Xn]· Assim, o mesmo ocorre com f. D
Vale frisar que o teorema de Newton é, primordialmente, um te-
orema de existência. De fato, é possível provar que, para polinômios
simétricos em geral; o algoritmo descrito na prova do teorema de New-
ton não termina em tempo polinomial (i.e., mesmo com o auxílio de
um computador não conseguimos, para um polinômio simétrico gené-
rico em n indeterminadas, expressá-lo, em tempo finito, como um po-
linômio nos polinômios simétricos elementares em n indeterminadas).
Todavia, mostraremos, no exemplo a seguir que a mera existência as-
segurada pelo teorema de Newton pode ser bastante útil. Para outra
aplicação interessante, veja a seção 8.1.
Exemplo 4.15 (Miklós Schweitzer). Seja f E Z[X] um polinômio
não constante e w = eis 2;, onde n > 1 é um inteiro. Prove que
f(w)f(w 2) ... J(wn-l) E Z.
Prova. Considere o polinômio g E Z[X1, ... , Xn-i] dado por
Se cr é uma permutação de In-I, então
e, daí,
{cr(l),cr(2), ... ,cr(n-1)} = {1,2, ... ,n-1}
g(Xu(l), · · ·, Xu(n-I)) = f(Xu(I))f(Xu(2)) · · · f(Xu(n-I))
= f(X1)f(X2) ... f(Xn-1)
= g(X1, ... , Xn-1).
(:
'.( ' i '1•' ,,,
106 Relações entre Coeficientes e Raízes
Assim, g é simétrico e o teorema de Newton garante a existência
de um polinômio h E Z[X1, ... , Xn-1] tal que g(X1, ... , Xn-1) -
h(s1, ... , Bn-1), i.e.,
onde Sj é o j-ésimo polinômio simétrico elementar em X1, ... , Xn-l·
Substituindo Xi por wi na igualdade acima, obtemos
f (w)f (w2) ... f (wn-l) = h(s1 (w, ... , wn-l ), ... , Bn-1(w, ... , wn-l ));
portanto, a fim de mostrar que f(w)f(w 2) •.. f(wn- 1) E Z, é suficiente
mostrar que siw, ... , wn-l) E Z, para 1 :::; j :::; n - 1.
Para o que falta, basta observar que
xn - 1 = (X - l)(X -w)(X - w2) ... (X - wn-1)
= (X - l)(xn-i + xn-2 +···+X+ 1),
de sorte que
xn-l + xn-2 +···+X+ 1 = (X - w)(X - w2 ) ... (X - wn-1)
n-1
- "(-l)j ·( 2 n-l)xn-1-j - L.....J s1 W,W , ... ,W .
j=O
Assim, temos que
·( 2 n-1) _ (-l)j ,..,., s1 w, w , ... , w - Eu...,,
conforme desejado. D
A discussão que antecede o exemplo anterior sugere que, quando
quisermos expressar efetivamente um dado polinômio simétrico como
um polinômio nos polinômios simétricos elementares, teremos, via de
regra, de recorrer a argumentos ad hoc. Nesse sentido, terminamos
esta seção discutindo um exemplo relevante, para o qual precisamos
da seguinte consequência do algoritmo de Horner-Rufinni. As identi-
dades ( 4.5) a seguir são conhecidas como as identidades de Horner-
Ruffini.
4.3 O teorema de Newton 107
Lema 4.16 (Horner-Rufinni). Seja
f(X) = xn - s1xn-i + · · · + (-1r-1sn-1X + (-ltsn
um polinômio não constante sobre C. Se z é uma raiz complexa de f
e
g(X) = xn-i + b1xn-2 + · · · + bn-1
é o quociente da divisão de f(X) por X - z, então
n-1 n-2 + + ( l)n...:..1 Z - S1Z · · · - Bn-1
(4.5)
Prova. Nas notações do enunciado, as recorrências (3.1) se escrevem
Resolvendo o sistema linear acima sucessivamente para b2 , ... , bn-I,
obtemos uma a uma as relações do enunciado. D
As relações contidas na proposição a seguir nos fornecerão recor-rências para expressar o polinômio simétrico
como um polinômio nos polinômios simétricos elementares em X 1 , X 2 ,
... , Xn. As fórmulas dos itens (a) e (b) a seguir são respectivamente
108 Relações entre Coeficientes e Raízes
denominadas primeira e segunda identidades de Jacobi2 . Para uma
outra prova das mesmas, veja o problema 2, página 242.
Proposição 4.17 (Jacobi). Para Z1, ... 'Zn E e, se Si= si(z1, ... 'Zn)
é ai-ésima soma simétrica elementar de z1 , ... , Zn e O"k = zf+· · ·+z~,
então:
(a) O"n+k = I:7=1(-l)j-lSjO"n+k-j, para k 2:: l.
(b) Sk+1 = kii E;~i(-l)í-1sk+1-jO"j, para 1::; k::; n -1.
Prova.
(a) Seja
f(X) = (X - z1) ... (X - zn) = Xn - s1Xn-l + ·: · + (-lts~. (4.6)
Como zi é raiz de f, temos
para 1 ::; i ::; n e, daí,
z~+n - s z~+n-l + · · · + (-l)n-ls z~+l + (-l)ns z~ = O
. i 1 i n-1 i n i •
Somando as igualdades acima para 1 ::; i ::; n, obtemos
igualdade equivalente à do enunciado.
(b) Segue de (4.6) que
J'(X) = nxn-l - (n- l)s1xn-2 + · · · + (-1r-1sn-1· (4.7)
2 Após o matemático alemão do século XIX Carl G. J. Jacobi.
4.3 O teorema de Newton 109
Por outro lado, para z E CC \ {z1 , ... , zn}, segue do problema 3,
página 83, que
f'(z) = f(z) + ... + f(z) .
Z - Z1 Z - Zn
Sendo Í} E C[X] tal que f(X) = (X - Zj)i}(X), digamos
segue que
n n
J'(z) = L i}(z) = L(zn-l + b1jZn-2 + · · · + bn-1,j)
j=l j=l
= nzn-l + (t b1j) zn-2 + · · · + (t bn-1,j) .
J=l J=l
Mas, como a igualdade acima é válida para todo z E CC \ {z1 , ... , Zn},
segue do corolário 3.10 que
f'(X) = nxn-t + (t. b,;) xn-, + · · · + (t. bn-1,;) . (4.8)
•
Por fim, igualando os coeficientes correspondentes em (4.7) e (4.8)
e substituindo as identidades (4.5), obtemos
n
(-lt+l(n - k - l)sk+l = L bk+l,j
j=l
n
~( k+l k ( l)k+l ) = L.....J Zj · - S1Zj + · · · + - Sk+l
j=l
= ªk+i - s1ak + · · · + (-1t+1nsk+1,
de maneira que
D
110 Relações entre Coeficientes e Raízes
O corolário a seguir também é devido a Jacobi.
Corolário 4.18 (Jacobi). Para cada inteiro k ~ 1, sejam sk o k-ési-
mo polinômio simétrico elementar em X1 , ... , Xn e <J"k = Xf+· · +X~.
Então:
(a} <J"n+k = I:7=1(-l)i-lsj<J"n+k-j, para k ~ 1.
(b} sk+l = kll I:7~t(-l)i-1sk+1-j<J"j, para 1::::; k::::; n-1.
Prova. Avaliando ambos os membros de (a) e (b) em z1, ... , Zn E
(C obtemos, pela proposição anterior, igualdades verdadeiras. Como
(C é um conjunto infinito, a proposição 4.1 garante a igualdade dos
polinômios correspondentes. D
Problemas - Seção 4.3
1. Se f E Z[X] é um polinômio mônico, de grau n ~ 1 e raízes
complexas z1, ... , Zn, prove que zt + · · · + z~ E Z, para todo
k ~ 1 inteiro.
2. Se a1, ... , an, b1, ... , bn são números complexos tais que
k k bk bk
ª1 + · · · + an = 1 + · · · + n,
para 1 ::::; k ::::; n, mostre que { a1, ... , an} = {b1, ... , bn}·
3. (Japão - àdaptado.) Sejam n, k EN, com 2::::; k::::; n, e a1 , ... , ak
números reais tais que
a1 + · · · + ak n
a~+···+ a~ n
4.3 O teorema de Newton 111
4. Sejam m EN, w = cos ! + i sen ! e z1, ... , Zn números comple-
xos tais que
f(X) = (X - z1)(X - z2) ... (X - zn)
é um polinômio de coeficientes inteiros.
(a) Se g(X) . TI::~1 f(wiX), prove que
g(X) = (Xm - zf) ... (Xm - z;:1').
(b) Use as identidades de Jacobi para mostrar que o polinômio
g do item (a) tem coeficientes inteiros.
( c) Conclua que, se z E C é raiz de um polinômio não nulo f
de coeficientes inteiros, então existe um polinômio não nulo
h, também de coeficientes inteiros, tal que zm é raiz de h.
5. (OBM.)
(a) Se n EN, prove que há somente um número finito de po-
linômios mônicos, de grau n e coeficientes inteiros, tais que
todas as suas raízes complexas têm módulo 1.
(b) Seja f E Z[X] \ Z um polinômio mônico, tal que todas as
suas raízes complexas têm módulo 1. Prove que todas as
raízes complexas de f são raízes da unidade.
112 Relações entre Coeficientes e Raízes •
CAPÍTULO 5
Polinômios sobre :IR
Neste capítulo, revisitamos alguns dos teoremas clássicos do Cál-
culo, estudados em [12), para polinômios de coeficientes reais, tendo
como ferramenta principal o teorema fundamental da álgebra. Como
aplicação dos mesmos, provaremos as desigualdades de Newton, as
quais generalizam a desigualdade entre as médias aritmética e geomé-
trica de n números reais positivos, e a regra de Descartes, que relaciona
o número de raízes positivas de um polinômio de coeficientes reais ·ao
número de trocas de sinal de seus coeficientes não nulos.
5.1 Alguns teoremas do Cálculo
Nosso primeiro resultado dá uma condição suficiente para a exis-
tência de raízes reais num intervalo. Para a prova do mesmo, precisa-
mos do seguinte resultado auxiliar.
113
I·:.
1
il
1,1
11
li
!'I
i:
114
Lema 5.1. Se f E R[X] \ {O} é mônico e não tem raízes reais, então
existem polinômios 9, h E R[X] tais que f = 92 + h2 • Em particular,··.
J(x) > O para todo x E R.
Prova. Pelo problema 2, página 7 4, existem números complexos não
reais z1 , ... , zk tais que
k
f(X) = II (X - Zj)(X - Zj)·
j=l
Agora, se Zj = ai + ibi, com ai, bi E R, então
(X - zi)(X - zi) = (X - ai - ibi)(X - ai+ ibi)
= (X - ai)2 - (ibi)2
= (X - ai)2 + bJ,
a soma dos quadrados de dois polinômios de coeficientes reais ( um t
deles constante).
Basta, agora, aplicar várias vezes um argumento similar à identi- ·
dade de Euler (7.7) de [14]: para 91 , 92, h1 , h2 E R[X], temos
Para o que falta, segue da primeira parte que
f(x) = 9(x)2 + h(x)2 ~ O,
para todo x E ~; mas, como f não tem raízes reais, a desigualdade
acima deve ser estrita, para todo x E R. D
O resultado a seguir é o teorema do valor intermediário para poli-
nômios, sendo conhecido na literatura como o teorema de Bolzano1.
1 Após Bernhard Bolzano, matemático alemão do século XIX.
5.1 Alguns teoremas do Cálculo 115
Teorema 5.2 (Bolzano). Se f E R[X] e a < b são reais tais que
J(a)J(b) < O, então existe e E (a, b) tal que f(c) = O.
Prova. Supondo, sem perda de generalidade, que fé mônico e f(a) <
O< J(b), segue da última parte do lema anterior que f tem ao menos
uma raiz real. Sejam, pois, a1 ::; · · · ::; ak as raízes reais de f, repetidas
de acordo com suas multiplicidades. Se 9 E ~[X] é tal que
f(X) = 9(X)(X - a1) ... (X - ak),
então 9 é mônico e não possui raízes reais, de sorte que, novamente
pelo lema anterior, 9(x) > O para todo x E R.
Por contradição, suponha que não há raiz de f no intervalo ( a, b)
e considere três casos separadamente:
(i.) ak < a: temos
J(a) = 9(a)(a - a1) ... (a - ak) > O,
uma contradição.
(ii.) b < a1 : segue de f(b) > O que
e, daí, k é par (uma vez que 9(b) > O e b - ai < O, para 1 ::; i ::; k).
Por outro lado, segue de f(a) < O que
9(a)(a- a1) ... (a - ak) < O
e, daí, k é ímpar (uma vez que 9(a) > O e a - ai < O, para 1 ::; i::; k).
Portanto, chegamos a umá contradição.
116 Polinômios sobre lR . '
(iii.) a1 < a < b < a1+1, para algum 1 ~ l < k: chegamos a um
absurdo de modo análogo ao item anterior. (Por exemplo,
O< f(a) = g(a) (a - a1) ... (a - ai) (a - a1+1) ... (a - ak)
.._,.,,. ....... ~~--~~--·--~~----~~-->O >0 <0 ·
implica k - l par.)
D
Exemplo 5.3 (Moldávia). Sejam f, g E JR[X], cada um dos quais
possuindo ao menos uma raiz real.
(a) Prove que existe a E lR tal que f(a) 2 = g(a)2.
{b) Se f(l +X+ g(X)2) = g(l +X+ J(X)2), mostre que f = g.
Prova.
(a) Sejam a e (3 raízes de f e g, respectivamente. Podemos supor, sem
perda de generalidade, que a~ (3. Se g(a) = O ou J(f3) = O, nada há
a fazer. Senão, temos
J(a)2 - g(a)2 = -g(a)2 < O e f(f3)2 - g(f3)2 = f(f3)2 > O,
de sorte que o teorema de Bolzano, aplicado ao polinômio J(X) 2 -
g(X)2, garante a existência de a E (a, (3) tal que J(a) 2 - g(a)2 = O.
(b) Sendo a E lR como no item (a), defina uma sequência (un)n:2:1
pondo u0 = a e, para cada n ~ 1, Un+l = 1 + Un + g(un)2. Pelo item
(a), temos f(u1) = g(u1). Suponha, por hipótese de indução, que
f(uk) = g(uk), para um certo inteiro k ~ 1. Então, nossas hipótesesgarantem que
J(uk+i) = f(l + uk + g(uk)2)
= g(l + Uk + f(uk)2)
= g(l + Uk + g( Uk)2)
= g(uk+i)·
5.1 Alguns teoremas do Cálculo 117
Assim, temos f ( un) = g( un) para todo inteiro n ~ 1. Mas, como
para todo n ~ 1, segue do corolário 3.10 que f = g. D
No que segue, estabelecemos para polinômios o teorema do valor
médio de Lagrange2 .
Teorema 5.4 (Lagrange). Sejam f E JR[X] \ {O} e a< b reais dados.
Então existe a < e < b tal que
J'(c) = J(b) - J(a).
b-a
Prova. Provemos primeiro que, se f(a) = f(b) = O, então existe a<
e< b tal que f'(c) = O. Podemos supor, sem perda de generalidade,
que f não tem outras raízes no intervalo ( a, b). De fato, se f possuir
uma infinidade de raízes em (a, b), temos f = O, pelo corolário 3.9;
se f possuir um número finito de raízes em ( a, b), digamos a1 < a2 <
· · · < ak, trocamos b por a1 .
Se existissem a < e < d < b tais que f(c)f(d) < O, o teorema de
Bolzano garantiria a existência de uma raiz de f no intervalo ( a, b), o
que é um absurdo. Portanto, f tem sinal constante em ( a, b). Supo-
nha, sem perda de generalidade, que J(x) > O para x E (a, b), e sejam
respectivamente k e l as multiplicidades de a e b como raízes de f.
Então, existe g E JR[X] tal que
f(X) = (X - at(x - b)1g(X),
com g(a), g(b) -1- O. Agora,
a< e< b =* J(c) >O=* (e - at(c - b)1g(c) >O=* (-1)1g(c) > O.
2 Após Joseph Louis Lagrange, matemático franco-italiano do século XVIII.
li,;
' ·1''' j '.,·,, l,1
!
118 Polinômios sobre ~
Consideremos o caso em que l é par ( o caso em que l é ímpar é
análogo), de sorte que g(c) > O, para todo e E (a, b). Se g(a) < O,
o teorema de Bolzano garantiria a existência de a < d < ª1b tal que
g(d) = O, de modo que f(d) = O, o que, por sua vez, é um absurdo.
Logo, g(a) > O e, analogamente, g(b) > O. Então, temos
J'(X) = k(X - at-1(X - b)1g(X) + l(X - a)k(X - b}1-1g(X)
+ (X - at(X - b}1g'(X)
= (X - at-1(X - b}1-1h(X),
onde
h(X) = (k(X - b) + l(X - a))g(X) + (X - a)(X - b)g'(X).
Basta, pois, então mostrarmos que existe e E ( a, b) tal que· h( e) =
O. Mas, como
h(a)h(b) = -kl(a - b)2g(a)g(b) < O,
o teorema de Bolzano liquida a questão.
Para o caso geral, seja
fi(X) = f(X) - J(a) - (f(b) - f(a)) (X - a).
b-a
Como fi(a) = J1(b) = O, o que fizemos acima garante a existência de
e E (a, b) tal que Jf(c) = O. Por fim, resta observar que
D
Conforme frisamos em [12], o caso f(a) = f(b) = O do teorema
anterior precedeu a versão geral de Lagrange, tendo sido provado pelo
matemático francês do século XVII Michel Rôlle e sendo conhecido na
literatura como o teorema de Rôlle.
5.1 Alguns teoremas do Cálculo 119
Corolário 5.5 (Rôlle). Se f E R[X] \ {O} e a < b são reais tais que
J(a) = f(b) = O, então existe a< e< b tal que f'(c) = O.
Ilustramos a utilização do teorema de Rôlle no exemplo a seguir.
Exemplo 5.6. Seja f(X) =ao+ a1X + · · · + ªn-1xn-1 + anXn um
polinômio de coeficientes reais, tal que
ªº a1 ªn-1 ªn - + - + ... + - + -- = o.
1 2 n n+l
Prove que f possui pelo menos uma raiz no intervalo (O, 1).
Prova. É imediato que f = g', onde
g(X) = aoX + a1 x2 + ... + ªn-1 xn + ~xn+i.
2 n n+ 1
Mas, como g(O) = g(l) = O, o teorema de Rôlle garante a existência
de a E (O, 1) tal que f(a) = g'(a) = O. D
Uma consequência importante do teorema do valor médio é o es-
tudo da primeira variação (i.e., crescimento ou decrescimento) de po-
linômios, conforme ensina o corolário a seguir.
Corolário 5. 7. Sejam f E R[X] \ {O} e I e R um intervalo.
(a) Se f'(x) > O para todo x E J, então f é crescente em I.
(b) Se f'(x) < O para todo x E J, então f é decrescente em I.
Prova. Façamos a prova do item (a), sendo a prova do item (b) aná-
loga. Para a < b em I, o teorema do valor médio garante a existência
de e E ( a, b) ( e, portanto, e E J) tal que
J(b) - f(a) = J'(c) > O.
b-a
Em particular, f(b) > f(a). D
120 Polinômios sobre lR.
Exemplo 5.8. Prove que, para todo inteiro positivo n, o polinômio
x2 xn
l+X+-+···+-
2! n!
tem no máximo uma raiz real.
Prova. Sendo fn = 1 +X+ ~t + · · · + :~, mostremos que (i) fn não
tem raízes reais se n é par, e (ii) fn tem exatamente uma raiz real se
n é ímpar.
(i) Supondo n par, temos limlxl-t+oo fn(x) = +oo. Portanto, segue
do teorema de Weierstrass (o teorema 4.31 de [12]) a existência de ·
x0 E R tal que fn assume seu valor mínimo em x0. Suponha, por con-
tradição, que fn(x0 ) ~ O. Então, pelo resultado do problema 3, temos
xn ( ) xn f~(xo) = O e, como fn(xo) = f~(xo) + n~, segue que O 2: Ín Xo · = ~-
Como n é par, a única maneira de não termos uma contradição a par-
tir dessa última relação é que seja O = fn(x0 ) = 5t-. Mas aí, deveria n.
ser fn(O) = O, o que é um absurdo.
(ii) Supondo n ímpar, segue do problema 4, página 75, que fn tem um
número ímpar de raízes reais; por outro lado, segue do exemplo 3.33 ·
que f n não tem raízes múltiplas. Suponha, então, que .fn tem pelo
menos três raízes reais distintas, digamos a < b < e. Então, o teorema
do valor médio garante a existência de a E (a, b) e /3 E (b, e) tais que
f~(a) = f~(/3) = O. Mas, como f~ = fn-1 e n-1 é par, o caso anterior
nos fornece uma contradição. D
Problemas - Seção 5.1
1. Se f E Z[X] é um polinômio não constante e m é um inteiro
positivo tal que m > 1 + Re( z), para toda raiz complexa z de f,
prove que IJ(m)I > 1.
5.1 Alguns teoremas do Cálculo 121
2. * Prove, para polinômios de coeficientes reais e com os métodos
desta seção, o teorema de permanência do sinal: se f E
R[X] é tal que f(a) > O para algum a E R, então existe r > O
tal que f(x) > O para todo x E (a - r, a+ r).
3. * Dado f E R[X] \R, sejam a E R e r > O tais que
f(a) = min{f(x); x E (a - r, a+ r)}.
Prove que f'(a) = O.
4. Seja f(X) = X 5 -2X4 + 2. Prove que f possui exatamente três
raízes reais.
5. * Dado f E R[X] \ R com coeficiente líder positivo, prove que
existe n0 E N tal que
u > v >no::::} f(u) > f(v) > O.
6. Prove que não existe polinômio f E Z[X], tal que f(n) seja
primo para todo inteiro não negativo n.
7. (Leningrado3 .) Decida se existem quatro números reais distintos
a, b, e e d tais que, para quaisquer dois deles, x e y digamos,
tenhamos
x10 + xg y + ... + xyg + y10 = 1.
8. Os reais positivos a1, a2, a3 e a4 são tais que a1 ~ a2 ~ a3 ~ a4
e a1 a2a3a4 = 1. Se À é uma raiz real do polinômio
prove que À > a2.
3 A cidade russa de São Petesburgo mudou seu nome para Leningrado durante
a existência da União Soviética.
122 Polinômios sobre lR
9. (Leningrado.) Sejam a, b, e, d e e números reais tais que O
polinômio aX2 + ( e - b )X + ( e - d) = O tem uma raiz real maior
que 1. Prove que o polinômio aX4 + bX3 + cX2 + dX + e = O
tem ao menos uma raiz real.
10. (Áustria-Polônia.) Dados números reais a 1, ... , an, prove que
n
~ a·a· LJ_i_J >O
·· 1i+j-' i,J=
com igualdade se, e só se, a 1 = · · · = an = O.
11. Seja J(X) = X 3 - 3X + 1. Calcule o número de raízes reais
distintas do polinômio f (! (X)).
12. (Suécia.) Seja f E JR[X] um polinômio de grau n. Se J(x) 2: O
para todo x E JR, mostre que
f(x) + J'(x) + J"(x) + · · · + j(n)(x) 2: O,
para todo x E lR.
13. Dois matemáticos A e B disputam o seguinte jogo: é dado um
polinômio de grau par maior ou igual a 4,
f(X) = X 2n + a2n-1X2n-I + · · · + a1X + 1,
onde a1, ... , a2n-1 são números reais não especificados. Os joga-
dores, começando por A, alternam-se especificando os coeficien-
tes de f, até que festeja completamente determinado. No final,
A ganha se nenhuma raiz de f for real e B ganha caso contrário.
Encontre uma. estratégia ganhadora para B.
14. No começo de uma aula, o professor escreveu no quadro negro
um polinômio de grau 3. A partir daí, os alunos, um por vez,
vinham ao quadro e perfaziam uma das seguintes operações com
o polinômio deixado pelo aluno anterior:
5.2 As desigualdades de Newton 123
(a) Adicionavam ao polinômio sua derivada.
(b) Subtraíam do polinômio sua derivada.
Ao final da aula, o polinômio inicial apareceu novamente no qua-dro negro. Prove que ao menos um dos alunos cometeu um erro.
15. (OIM.) São dados números reais a1, a2, ... , an, tais que O <
a1 < a2 < · · · < ªn· Se f : lR \{-ai, ... , -an} -+ lR é a função
tal que
5.2
n
f(x) = ~ ; ,
LJ X a·
j=l J
para x =/=- -a1, ... , -an, prove que o conjunto {x E JR; J(x) 2: 1}
pode ser escrito como a união de n intervalos limitados, dois a
dois disjuntos e cuja soma de comprimentos é igual a a1 + a2 +
.. ·+an.
As desigualdades de Newton
Nesta seção, apresentamos um conjunto de desigualdades que re-
fina a desigualdade entre as médias aritmética e geométrica (provada
na seção 7.2 de [10]). Para tanto, precisamos inicialmente do resultado
auxiliar a seguir.
Lema 5.9. Se f E JR[X] \ {O} tem k raízes reais, então f' tem pelo
menos k - 1 raízes reais. Em particular, se todas as raízes de f forem
reais, então todas as raízes de f' também serão reais.
Prova. Podemos supor k > 1. Sejam a 1 < · · · < a1 as raízes reais dis-
tintas de f, com multiplicidades respectivamente iguais a m1, ... , m 1,
de tal modo que m 1 + · · · + m 1 = k. Então, já vimos na proposição
3.31 que cada ai é raiz de multiplicidade mi - 1 de f'. Por outro lado,
111
124 Polinômios sobre lR
pelo teorema de Rôlle, entre ai e ai+l há pelo menos mais uma raiz
real de f', de modo que contabilizamos ao menos
(m1 - 1) + .. · + (mz - 1) + (l - 1) = k - 1
raízes reais para f'. O resto é imediato. D
Para o que segue, dados n > 1 reais positivos a 1, a2 , ... , an e
O ::; i ::; n, denotaremos simplesmente por Si ( aj) a i-ésima soma
simétrica elementar de a1, ... , an e por Hi ( aj) a média aritmética das
(7) parcelas que compõem Si(aj), i.e.,
H,(a;) ~ (7 r S,(a;)
O teorema a seguir é frequentemente creditado. a Isaac Newton.
Teorema 5.10. Nas notações acima, para 1 ::; i < n temos
ocorrendo a igualdade para algum i se, e só se, a1 = a2 = · · · = an.
Prova. Façamos indução sobre o número n > 1 de reais positivos.
Para n = 2, queremos mostrar que Hf (a1, a2) 2: H0 (a1 , a2)H2(a1, a2)
ou, ainda, que
( ª1 + ª2)
2
2 2: ª1ª2·
Mas isto é apenas a desigualdade entre as médias aritmética e geomé-
trica, na qual a igualdade ocorre se e só se a 1 = a2 .
Suponha, por hipótese de indução, que as desigualdades de Newton
são válidas para n - 1 reais positivos quaisquer, ocorrendo a igualdade
em uma qualquer delas se e só se os n - 1 números forem todos iguais.
Agora, consideremos n 2: 3 reais positivos a 1 , a2 , ... , an, e seja
J(X) = (X+ a1) ... (X+ an)·
5.2 As desigualdades de Newton 125
O lema anterior garante a existência de n-1 reais positivos b1, ... , bn-l
tais que
J'(X) = n(X + b1) ... (X+ bn-1),
de modo que
~J'(X) = xn-1 + (n ~ 1)H1(bj)xn-2 + · · · + (~ = ~)Hn-1(bj)·
Por outro lado, f(X) = I:~=o (7)Hi(aj)xn-i fornece
e segue, daí, que
Hi(a1, ... , an) = Hi(b1, ... , bn-1),
para O ::; i ::; n - 1. Pela hipótese de indução, para 1 ::; i ::; n - 2
temos
que
H;(aj) = H;(bj) 2: Hl_1(bj)Hf+1(bj) = Hl_1(aj)Hf+1(aj)· (5.1)
Resta somente provar que H;,_1(aj) 2: Hn_ 2(aj)Hn(aj) ou, ainda,
[ (n: J 1 t, a, â, . . a{ >
> [ (n: 2r ta, · â, .â; · · ·ªnl [ (:f a, a.] .
Sendo P = a 1 ... an, provar a desigualdade acima equivale a provar
que
( )
2
1 n P 2P P
; L ~ 2: n(n-1) L a·a·
i=l i i<j i J
126 Polinômios sobre lR.
ou, ainda, que
( )
2
n 1 1
(n-1) ~- ~2n~-.
~ a· ~ a·a·
i=l i i<j i J
Fazendo ai = ;i , queremos mostrar que
onde a última desigualdade é simplesmente a desigualdade entre as
médias quadrática e aritmética dos a/s (veja o problema 7.3.3 de [10]
ou, ainda, o teorema 6.63 de [12]).
Quanto à igualdade, se H;,_1 (aj) = Hn(ai)Hn_2(aj), então, pelo
que fizemos acima, temos a 1 = · · · = an e, daí, a1 = · · · = ªn·
Por outro lado, se Hf(ai) = Hi_1(ai)Hi+I(ai) para algum 1 :::;; i :::;;
n - 2, éntão (5.1) nos dá Hf (bj) = Hi-i(bi)Hi+I(bi)· A condição de
igualdade na hipótese de indução garante, agora, que b1 = · · · = bn-I
e, a partir daí, é imediato que a1 = · · · = ªn· D
O corolário a seguir, usualmente imputado ao matemático escocês
do século XVIII Colin McLaurin, traz o refinamento prometido da
desigualdade entre as médias.
5.3 A regra de Descartes 127
Corolário 5.11 (McLaurin). Para n > 1 reais positivos a1 , a2 , .•. , an,
temos
H1(ai) ~ J H2(aj) ~ 1 H3(aj) ~ · · · ~ ~ Hn(aj),
com igualdade em ao menos uma de tais desigualdades se, e só se,
todos os ai forem iguais.
Prova. Escreva Hi para Hi(ai)· As desigualdades de Newton nos
dão Hf ~ HoH2 = H2 e H? ~ H1H3. Logo, Ht ~ H? ~ H1H3, de
modo que H't ~ H3 e, daí, H? ~ H1H3 ~ H!13 H3 = Hi/3. Assim,
H > H1/2 > Hl/3.
1 - 2 - 3
Suponha que já mostramos que
H > H1/2 > Hl/3 > ... > Hl/k
1_ 2 - 3 - - k ,
para algum k < n. Então,
k-1 2 ~
Hk ~ Hk-1Hk+1 ~ Hk k Hk+I,
2-( k-1) l!!±.!
o que nos dá Hk k ~ Hk+l ou, ainda, Hk k ~ Hk+l· Essa última
desigualdade equivale a Ht1k ~ Ht(~+I).
Para a igualdade, suponha que Ht/k = Ht(~+I). Então, temos
Hf = Hk-lHk+l pois, do contrário, teríamos
k-1 2 ~
Hk > Hk-1Hk+1 ~ Hk k Hk+I,
2-( k-1) l!!±.!
de sorte que Hk k > Hk+l ou, ainda, Hk k > Hk+I, o que é uma
contradição. Assim, a condição para igualdade nas desigualdades de
Newton nos dá a1 = · · · = ªn· D
5.3 A regra de Descartes
O resultado principal desta seção relaciona o número de raízes posi-
tivas de um polinômio de coeficientes reais ao número de mudanças de
l:i 1\,
I''''
128
Polinômios sobre IR
sinal de seus coeficientes não nulos. Dentre os resultados demonstra-
dos anteriormente neste capítulo, sua prova utiliza somente o teorema
de Bolzano e, portanto, poderia ter sido dada logo após o mesmo;
contudo, adiamos sua discussão a fim de privilegiar a exposição dos
resultados mais básicos, apresentados anteriormente.
Comecemos com o lema combinatório abaixo, o qual pode ser fa-
cilmente demonstrado, por indução por exemplo.
Lema 5.12. Em relação ao alfabeto { +, -}, sejam A o conjunto das
palavras finitas com sinais inicial e final distintos e B o conjunto das
palavras finitas com sinais inicial e final iguais. Para cada palavra ·
finita a, seja v( a) o número de pares de sinais consecutivos e distintos
em a. Então:
(a) a E A~ v(a) - l(mod 2).
(b) a E B ~ v(a) - O(mod 2).
Precisamos, agora, da definição a seguir.
Definição 5.13. Seja
um polinômio não constante de coeficientes reais, com kn > kn-1 >
· · · > k1 > k0 2:: O e aj #- O para O ~ j ~ n. Defina a sequência
VJ = (an, O:n-1, ... , 0:1, ao) pondo, para cada inteiro O~ j ~ n,
. _ { +, se aj > O ªJ - . - se a·<Ü
' J
A variação de f, denotada V(f), é o número de pares de sinais con-
secutivos distintos em v1.
Para nossos propósitos, o resultado a seguir é crucial.
5.3 A regra de Descartes 129
Lema 5.14. Seja g um polinômio não constante de coeficientes reais
e c ~ O ~m real dado. Se J(X) = (X - c)g(X), então V(f) - V(g) é
um inteiro positivo ímpar.
Prova. Façamos indução sobre og.
(a) og = 1:
2
é claro que podemos supor g mônico. Se g(X) = X, então
f(X) = X - cX, de modo que V(f) - V(g) = 1. Suponha, agora,
g(X) = X - a, onde a> O. Então, f(X) = X 2 - (a+ c)X + ca, de
modo que V(f)-V(g) = 2-1 = 1. O caso g(X) = X +a onde a> o
é igualmente fácil: f(X) = X 2 + (a - c)X - ca e, co~o -ca < o'.
seg~e d~ lema ~ .. 12 que V(f) é ímpar. Portanto, V(f) - V(g) = V(f),
um mteiro positivo ímpar.
(b) Suponha o resultado válido para todo polinômio g tal que f)g < n
onde n > 1 é inteiro, e tome um polinômio g de grau n. Dado u~
polinômio qualquer h, denotaremos, sempre que necessário por a e
(3 . ' h
h respectivamente o coeficiente líder de h e o coeficiente do termo de
h de menor grau. Assim,
com r 2:: s. Há três casos a considerar:
• Todos os coeficientes de g são positivos: supondo novamente ( e
sem perda de generalidade) g mônico, seja g(X) = xn + ... +
aXl, com l < n. Então,
f(X) = (X - c)g(X) = xn+i + ... - caXz
'
com ca < O; pelo lema 5.12 concluímos que V(f) é ímpar e, daí,
que V(!) - V(g) = V(!) é positivo e ímpar.
• Existem polinômios u e v tais que g = u + v, com
u(X) = auXr + · · · + f3uX8, v(X) = avXP + ... + f3vXq,
130
com n = r 2'.: s, p 2'.: q e p + 1 < s. Então,
(X - c)g(X) = (X - c)u(X) + (X - c)v(X)
= (auxr+l + ... - cf3uX8 )
+ ( avXP+l + · · · - cf3vXª),
uma vez que p + 1 < s. Distingamos, agora, dois subcasos:
avf3u > O e avf3u < O. No primeiro deles, temos V(g) = V(u) +
V(v). Porém, (-cf3u)av < O, de modo que, por (5.2),
V(!) = V((X - c)g) = V((X - c)u) + V((X - c)v) + 1.
Pela hipótese de indução ( em princípio u tem grau r = n; con-
tudo, s > 1 implica que podemos aplicar a hipótese de indução '.
a w(X) = auxr-s + · · · + f3u, uma vez u(X) = X 8 w(X).), segue
que
V(!) 2'.: (1 + V(u)) + (1 + V(v)) + 1 > V(g) + 1
e, módulo 2,
V(!) - (1 + V(u)) + (1 + V(v)) + 1 _ V(g) + 1.
No segundo subcaso, avf3u < O, temos
V(g) = V(u) + V(v) + 1
e, por (5.2),
V(!)= V((X - c)g) = V((X - c)u) + V((X - c)v).
Usando novamente a hipótese de indução, obtemos
V(!) 2'.: (1 + V(u)) + (1 + V(v)) = V(g) + 1
e, módulo 2,
V(!)= (1 + V(u)) + (1 + V(v)) = V(g) + 1.
5.3 A regra de Descartes 131
• g(X) = anXn + an_1xn-1 + · · · + akXk, com an, . .. , ak i= O e
nem todos positivos: escreva
g = 9o - 91 + · · · + ( -1 )t 9t,
tal que cada gi = aiXki + · · · + /3iX1i (ki 2'.: li) tem todos os
coeficientes positivos e, parai< t, li= ki+l + 1. Então V(g) = t
e
(X - c)g = (X - c)go - (X - c)g1 + · · · + (-ll(X - c)gt
= (X - c)(aoXkº + · · · + /30X10 )
- (X - c)(a1Xk1 + · · · + /31Xli) + · · ·
+ (-l)t(X - c)(atXkt + · · · + f3tX1t)
= a0Xko+l + · · · - (a1 + c/3o)X10 + · · · + (a2 + c/31)Xli
+ · · · - (a3 + c/32)X12 + · · · + (-l)t(at + cf3t-1)X1t-i
+ ... + (-l)t+lC/3tXlt.
Assim, pelo lema 5.12, há um número ímpar (e, daí, pelo menos
um) de pares de coeficientes consecutivos de sinais contrários em
cada um dos t + 1 intervalos com reticências acima, de forma que
V(!)= V((X - c)g) 2'.: t + 1 = V(g) + 1;
segue também da observação acim que, módulo 2,
V(!)= V((X - c)g) _ t + 1 = V(g) + 1.
D
De posse do lema anterior, podemos enunciar e provar o resultado
do teorema a seguir, o qual é conhecido como a regra de Descartes4
para polinômios de coeficientes reais.
4 Após René Descartes, matemático e filósofo francês do século XVII, conhecido
como o pai da Geometria Analítica.
132
Teorema 5.15. Seja f um polinômio não constante de coeficientes
reais. Se R+(f) denota o número de raízes positivas de f, então
V(f) - R+U) é um inteiro par e não negativo.
Prova. Façamos indução sobre o grau de f.
Se & f = 1 suponhamos, sem perda de generalidade, que f é
mônico. Se J(X) = X ou J(X) = X + a, com a > O, então
V(f) - R+(f) = O - O = O. Se J(X) = X - a, com a > O, en-
tão V(f) - R+U) = 1-1 = O.
Suponha, agora, o teorema válido para todo polinômio de grau
menor que n, onde n > 1 é inteiro, e seja
um polinômio de grau n. Há dois casos a considerar:
• R+(f) = O: nesse caso, basta mostrar que V(f) é par. Como
f (O) = a0 e f ( x) tem o sinal de an para todo real x suficiente-
mente grande (por uma estimativa análoga àquela que precede
3. 7)), o fato de que R+ (!) = O garante, via teorema de Bolzano,
que anao > O; daí, o lema 5.12 garante que V(f) é par.
• R+U) > O: tomando uma raiz positiva e de f, existe um po-
linômio não constante g tal que f(X) = (X - c)g(X). O lema
5.14 garante a existência de um inteiro ímpar e positivo J, tal
que
V(f) - R+(f) = (V(g) + I) - (R+(g) + 1)
= (V(g) - R+(g)) + (I - 1).
Como, pela hipótese de indução, V(g) - R+(g) é par e não ne-
gativo, segue que V(f) - R+(f) é também par e não negativo.
D
5.3 A regra de Descartes 133
Corolário 5.16. Se f é um polinômio não constante de coeficientes
reais e R_(J) é o número de raízes negativas de f, então V(f (-X))-
R-U) é par e não negativo.
Prova. Imediata, a partir do teorema 5.15, juntamente com o fato de
que a E R_(J) se, e só se, -a E R+(f). D
Exemplo 5.17. Sejam ao, a1, ... , ªn-l reais não negativos e não todos
nulos. Calcule o número de raízes positivas do polinômio
X n xn-1 X - ªn-1 - · · · - a1 - ao.
Solução. Se f denota o polinômio do enunciado, a regra de Descartes
garante que V(f) -R+(f) é não negativo e par. Mas, como V(f) = 1,
é imediato que R+ (!) = 1. D
Problemas - Seção 5.3
1. Para cada n E N, seja an uma raiz real positiva do polinômio
xn - xn-l - xn-2 - • • • - X - 1. Mostre que, para todo tal n,
temos
1 1
2 - -- < a < 2 - -. 2n-l - n - 2n
2. (Leningrado.) O polinômio de terceiro grau e coeficientes reais
aX3 + bX2 + cX + d tem três raízes reais distintas. Calcule o
número de raízes reais do polinômio
4(aX3 + bX2 + cX + d)(3aX + b) - (3aX2 + 2bX + c)2.
! i I': .
li,I
k
li'
134 Polinômios sobre lR
CAPÍTULO 6
Interpolação de Polinômios
O corolário 3.10 garante que há, no máximo, um polinômio de grau
n que assume valores predeterminados em n + 1 valores complexos
distintos da variável. O que não sabemos ainda é se um tal polinômio
realmente existe. Por exemplo, há um polinômio f de coeficientes
racionais, grau 3 e satisfazendo as condições f(ü) = 1, f(l) = 2,
f(2) = 3 e f(3) = O? Estudaremos, aqui, técnicas que possibilitam
responder essa pergunta, técnicas essas denominadas genericamente
de interpolação de polinômios. Em especial, discutiremos a classe
dos polinômios interpoladores de Lagrange, os quais serão, por sua
vez, utilizados para resolver sistemas lineares de Vandermonde sem o
recurso aos métodos da Álgebra Linear. A seu turno, o conhecimento
das soluções de um tal sistema nos possibilitará estudar, na seção 9.1,
uma classe particular importante de sequências recorrentes lineares,
estendendo parcialmente o material da seção 4.3 de [10].
135
136 Interpolação de Polinômios
6.1 Bases para polinômios
Para o que segue, lembre-se de que K representa um qualquer dos
conjuntos numéricos (Q, IR ou C. Precisamos, inicialmente, estabelecer
uma convenção útil.
Notação 6.1. Para n E N e 1 ~ i, j ~ n, definimos o delta de
Kronecker1 por
ô·. = { 1, se i = j .
iJ O, se i =f. j
A vantagem da notação acima vem do fato de podermos usá-la
como um marcador de posições, no seguinte sentido: dados n E N
e uma sequência (b1, ... , bn) em K, temos
para 1 ~ i ~ n.
n
I:Ôijbj = bi,
j=l
Agora, sejam dados n EN e elementos dois a dois distintos a1 , a2 ,
... , ande K. Para 1 ~ i ~ n, definimos o polinômio Li E K[X] por
II X - ªi (X -ª1) (x=;,i) (X -ªn) Li(X) = = . . . . . . ,
a· - a· a· - a1 a· - a· a· - a l:$j:$n i J i i i i n
#i
onde o sinal '"' sobre um fator indica que o mesmo está ausente do
produto considerado. Tais polinômios Li são os polinômios inter-
poladores de Lagrange para o conjunto {a1 , ... , an}·
É imediato verificar que, para todos 1 ~ i, j ~ n, tem-se
1 Após o matemático alemão do século XIX Leopold Kronecker.
6.1 Bases para polinômios 137
Essa propriedade permite, como veremos no teorema a seguir, cons-
truir polinômios que assumam valores pré-fixados em elementos dis-
tintos de K também pré-fixados; tal resultado é conhecido como o
teorema de interpolação de Lagrange.
Teorema 6.2 (Lagrange). Dados n EN e a1 , ... , an, b1 , ... , bn E K,
com a1, ... , an dois a dois distintos, existe exatamente um polinômio
f E K[X], de grau menor que n e tal que f(ai) = bi, para 1 ~ i ~ n.
Mais precisamente, tal polinômio é
n
f(X) = L bjLj(X), (6.1)
j=l
onde os Li são os polinômios interpoladores de Lagrange para o sub-
conjunto { a1, ... , an} de K.
Prova. A unicidade segue do corolário 3.10. Por outro lado, tomando
f como em (6.1), basta mostrarmos que 8f < n e f(ai) = bi, para
1 ~ i ~ n.
Como 8Li = n - 1 para 1 ~ j ~ n e o grau de uma soma de
polinômios (sempre que tal soma for não nula) não ultrapassa o maior
dentre os graus das parcelas, é imediato que 8 f < n. Para o que falta,
basta ver que
n n
j=l j=l
D
Uma maneira equivalente de formular o resultado acima é dada
pelo corolário a seguir.Corolário 6.3. Sejam n E N e a1 , ... , an elementos dois a dois dis-
tintos de K. Se f E K[X] \ {O} satisfaz 8f < n, então
n
J(X) = L f(ai)Li(X).
i=l
138 Interpolação de Polinômios
Prova. De fato, definindo
n
g(X) = L J(ai)Li(X),
i=l
temos âf, âg < n e, pela demonstração do teorema anterior, g(ai) =
f(ai), para 1 :::;; i :::;; n. Segue novamente do corolário 3.10 que g =
f. D
Colecionamos, a seguir, dois exemplos de aplicação dos polinômios
interpoladores de Lagrange.
Exemplo 6.4. Encontre um polinômio f E (Q[X] tal que J(l) = 12,
f(2) = 2, f(3) = 1, f(4) = -6 e f(5) = 4.
Solução. Explicitemos, primeiramente, os polinômios interpoladores
de Lagrange para o conjunto {1, 2, 3, 4, 5}:
X - j (X - 2) (X - 3) (X - 4) (X - 5)
Li(X) = II 1- j = 1- 2 1- 3 1- 4 1- 5
1$j$5
#1
= _!_(X4 - 14X3 + 71X2 - 154X + 120),
24
II X - j (X - 1) ·(x -3) (X - 4) (X - 5) L2 (X) = 2 - j = 2 - 1 2 - 3 2 - 4 2 - 5
1$j$5
#2
= -~(X4 - 13X3 + 59X2 - 107X + 60),
X - j (X - 1) (X - 2) (X - 4) (X - 5)
L3 (X) = II 3 - j = 3 - 1 3 - 2 3 - 4 3 - 5
1$j$5
#3
= !(X4 - 12X3 + 49X2 - 78X + 40),
4
6.1 Bases para polinômios 139
e
L4(X) = II X - ! = (X - 1) (X - 2) (X - 3) (X - 5)
4-J 4-1 4-2 4-3 4-5
1$j$5
#4
= -~(X4 -11X3 + 41X2 - 61X + 30)
L5(X) = II X - ! = (X - 1) (X - 2) (X - 3) (X - 4)
5-J 5-1 5-2 5-3 5-4
1$j$5
#5
= 2
1
4 (X4 - 10X3 + 35X2 - 50X + 24).
Portanto, de acordo com o corolário anterior podemos tomar
f(X) = 12L1(X) + 2L2 (X) + L3 (X) - 6L4(X) + 4L5(X)
= 19 x 4 _ 55 x3 + 233 x 2 _ 775 x + 86_
12 3 4 6
D
Exemplo 6.5. Seja f um polinômio mônico, de coeficientes reais e
grau n, e sejam xi, x2 , ... , Xn+1 inteiros dois a dois distintos. Prove
que existe 1 :::;; k:::;; n + 1 tal que lf(xk)I 2::: ;l.
Prova. Pela fórmula de interpolação de Lagrange, temos
Comparando os coeficientes líderes nos dois membros da igualdade
acima, obtemos
' 1
140 Interpolação de Polinômios
Agora, se M = max{IJ(xk)I; 1 $ k $ n + 1} e Pi= ni-1- .(xj - xi)
temos ,J '
n+l f( ) n+l n+l
1= L~ $Llf(~j)I $ML-l.
j=l PJ j=l IPJ I j=l IPj I
Mas, como E7~[ /~/ é simétrico em relação a x1 , x 2 , .•. , Xn+i, pode-
mos supor (após reenumerar os x/s, se necessário) que x1 < x2 <
· · · < Xn+I · Assim,
IPil = (xj - x1) ... (xj - Xj-1)(xj+l - Xj) ... (xn+I - xj)
2 [(j - 1) ... 2 · 1][1 · 2 ... (n + 1 - j)]
= (j - l)!(n + 1 - j)! = :' .
C-1)
De posse das estimativas acima, obtemos finalmente
n+l n+l ,
l$ML-l $ML!(.n )=2nM
i=l IPil i=l n! J - 1 n!
ou, o que é o mesmo M > n!
l - 2n· o
A seguir, mostramos como utilizar polinômios interpoladores de
L_agran~e para resolver certos tipos de sistemas lineares de equações,
ditos sistemas de Vandermonde2 , os quais encontrarão utilidade
na seção 9 .1.
Proposição 6.6 (Vandermonde). Dados elementos a1, a2, ... , an,
ª1, a2, · · ·, an de K, sendo a1, a2, ... , an dois a dois distintos o
sistema linear de· equações '
X1 + X2 + · · · + Xn - G1
a1x1 + a2x2 +···+a x ,..,2 n n , uc
a~x1 + a22x2 + · · · + a2x n n a3 (6.2)
af-1x1 + a~-1x2 + · · · + a~-lXn = an
~-::-~~~~~~~~-
2 Alexandre-Theóphile Vandermonde, matemático francês do século XVIII.
6.1 Bases para polinômios 141
admite uma única solução em K. Em particular, se a 1 = · · · = an = O,
então X1 = · · · = Xn = Ü.
Prova. Se J(X) = Co + c1X + · · · + Cn-1xn-l E K[X], então, multi-
plicando as equações do sistema respectivamente por c0 , c1, ... , Cn-1
e somando os resultados, obtemos
Agora, fixado 1 $ i $ n, o teorema 6.2 nos permite escolher unica-
mente c 0 , c1, ... , Cn-1 em K (i.e., escolher !) de modo que f(a 1) = --. · · = f(ai) = · · · = f(an) = O e f(ai) = 1. Portanto, a igualdade
acima garante que deve ser
e a arbitrariedade do 1 $ i $ n escolhido termina a demonstração. O
Uma limitação dos polinômios interpoladores de Lagrange para um
subconjunto finito de K vem do fato de que, com eles, só geramos o
conjuto dos polinômios de graus menores que o número de elementos
do conjunto em questão. Remediamos essa situação com a seguinte
definição mais geral.
Definição 6.7. Uma base para K[X] é uma sequência3 (!o, li, h, .. . )
de elementos de K[X] satisfazendo a seguinte condição: para todo
f E K[X], existem únicos n E Z+ e a0 , ... , an E K tais que
f(X) = aofo(X) + · · · + anfn(X).
Exemplo 6.8. Uma maneira simples de construir uma base para K[X]
é tomar uma sequência (!0 , J1 , h, .. . ) de K[X] tal que 8fi = j, para
3Formalmente, uma sequência (IJ)i?.O em IK[X] ê uma função <I>: Z+-+ IK[X],
tal que ÍJ = <I>(j), para j ~ O.
142 Interpolação de Polinômios
j 2::: O. Para mostrar que um tal sequência é realmente uma base para
OC:[X], temos de provar as duas afirmações a seguir:
(i) Se a0 , a1, ... , an e b0 , b1, ... , bn são elementos de OC: tais que
então ai = bi, para O :::::; i :::::; n.
(ii) Para todo f E IK[X], existem n EN e a0 , a1, ... , an E OC:, tais que
f(X) = aofo(X) + aif1(X) + · · · + anfn(X).
Deixamos ao leitor a verificação de que a validade das afirmações dos
itens (i) e (ii) acima é realmente equivalente ao fato de que tal sequên-
cia de polinômios é uma base ( veja o problema 1).
Como caso particular do exemplo acima, note que a sequência
(1,x,x2,x3 , ... )
é uma base para IK[X] (como, aliás, já sabíamos).
No que segue, construímos, a partir dos números binomiais, uma
base bastante útil para IK[X]. Para tanto, precisamos da definição a
segmr.
Definição 6.9. Para k E Z+, definimos o k-ésimo polinômio bi-
nomial (~) por (~) = 1, (~) = X e, para k > 1,
(~) = t,x(x -1) ... (X - k + 1).
Como aplicação do exemplo 6.8, afirmamos que a sequência dos
polinômios binomiais é uma base para IK[X]. Para tanto, basta mos-
trarmos que as condições dos itens (i) e (ii) são satisfeitas. A verifica-
ção da validade da condição (i) segue, como no exemplo 6.8, do fato
6.1 Bases para polinômios 143
de que a G) = k, para todo k E Z+. Quanto a ( ii), basta mostrarmos
que, para todo n E Z+, existem a0 , a1, ... , an E OC: tais que
(6.3)
Sem apelar diretamente para o resultado do exemplo supracitado, fa-
çamos indução sobre n 2::: O. Para n = O e n = 1, a validez de (6.3)
segue da definição de polinômio binomial. Suponha agora que, para
um certo k E N, existam a0 , a1, ... , ak E OC: satisfazendo (6.3) quando
n = k. Então,
e, para terminar, basta ver que
( ~) X = -;, X ( X - 1) ... ( X - j + 1) ( X - j + j)
J J.
1
= --:,X(X - 1) ... (X - j + l)(X - j)
J.
+ ~1X(X - 1) ... (X - j + 1)
J.
= (j + 1) (j : 1) + j ( ~).
(6.4)
Ainda que o conceito de base de polinômios, conforme formulado
nesta seção, não se aplique ao conjunto dos polinômios de coeficientes
inteiros, uma rápida revisão da discussão acima estabelece o seguinte
resultado mais geral.
Proposição 6.10. Se f E IK[X] \ {O} é um polinômio de grau n, então
existem únicos a0 , a1, ... , an E OC: tais que
Ademais, se f E Z[X], então podemos tomar a0 , a1, ... , an E Z.
144 Interpolação de Polinômios,.
Prova. É suficiente provar que os coeficientes a0 , a1, ... , an em (6.3)
são inteiros. Argumentando novamente por indução, suponha que tal
afirmação é verdadeira quando n = k. Então, os cálculos subsequentes -
a (6.4) fornecem
com ª-1 = ak+l = O. Portanto, ai E Z, para O :::;; j :::;; k + 1, de forma
que j(ai-l + ai) E Z, para O :::;; j :::;; k + 1, completando o passo de
indução. D
Vejamos um exemplo interessante de aplicação das ideias discutidas
acima.
Exemplo 6.11. Seja f E JR[X] um polinômio de grau n e suponha
que J(O), f(l), ... , f(n) sejam inteiros. Prove que f(x) é inteiro para
todo inteiro x.
Prova. Pela proposição acima, existem a0 , a1, ... , an E lR tais que
(6.5)
Portanto, para O :::;; k :::;; n fixado, temos
f(k) = tªi (~) (k) = t (~)ai
j=O J j=O J
6.1 Bases para polinômios 145
(uma vez que (J)(k) = O se j > k). Agora, aplicando o lema 2.12 de
[13], concluímos que
para O:::;; k:::;; n. Mas, uma vez que (1)(x) E Z para todo x E Z (veja
O problema2), segue de (6.5) que f(x) E Z, para todo x E Z. D
Problemas - Seção 6.1
1. * Termine a discussão do exemplo 6.8.
2. * Para k E Z+, prove que (1)(x) E Z, para todo x E Z.
3. (Estados Unidos.) Seja f um polinômio de grau n, tal que J(k) =
(nt1)-1 para O :::;; k :::;; n. Calcule f (n + 1).
4. (Canadá.) Seja f um polinômio de grau n, tal que f(k) = k!l
para todo inteiro O :::;; k :::;; n. Calcule f ( n + 1).
5. Seja n um natural dado.
(a) Mostre que O, -1, -2, ... , -n são raízes do polinômio
f(X) = t(-l)i(~)x(X+l) ... (x+J) ... (X+n)-n!.
j=O J
(b) Conclua, a partir de (a), que, para todo k EN, tem-se
n .(n) 1 n!
~(-l)J j k+j = k(k+l) ... (k+n)"
i
,:1 , , li
·I:,,
;!,
1
1
':I
•'!'
146 Interpolação de Polinômios
( c) Use o item (b) para calcular, em função de n, o valor da
soma I: 1
k2::l k(k + 1) ... (k + n)"
6. Dados números reais dois a dois distintos a, b, c e d, resolva O
sistema de equações
ax1 + a2x2 + a 3x3 + a4x4 1
bx1 + b2x2 + b3x3 + b4x4 1
CX1 + c 2X2 + C3X3 + C4X4 1
dx1 + d2x2 + d3x3 + d4x4 1
7. (Estados Unidos.) Sejam n > 3 inteiro e p, Po, Pi, ... , Pn-2 ,
polinômios tais que
n-2
LXipi(Xn) = (xn-i + xn-2 +···+X+ l)p(X).
j=O
Prove que X - 1 divide Pi(X), para O :Si :S n - 2.
8. (Leningrado.) Uma sequência finita a1 , a2, ... , an é p-balanceada
se todas as somas da forma
forem, para k = 1, 2, ... , p, iguais entre si. Prove que, se n = 50
e a sequência (aih~i90 for p-balanceada para p = 3, 5, 7, 11,
13 e 17, então todos os seus termos são iguais a zero.
6.2 Diferenças finitas
Outra técnica de interpolação útil, mas um tanto mais elaborada,
é a das diferenças finitas. Esboçamos os rudimentos da mesma nesta
seção.
6.2 Diferenças finitas 147
Definição 6.12. Sejam h um número real e f: lR-+ lR uma função
dada. Para k 2:: O inteiro, definimos a k-ésima diferença finita de
f com incremento h. como a função D.~f : lR -+ JR, dada por:
(a} D.if =f.
(b} (b.if)(x) = (D.hf)(x) = f(x + h) - f(x), para todo x E JR.
(c} D.~f = D.h(D.~-1!), se k 2:: 2.
A fim de que tal definição tenha utilidade, precisamos das propri-
edades de D.~f contidas na proposição a seguir.
Proposição 6.13. Nas notações da definição anterior, dados h E lR
e f, g : lR -+ JR, temos que:
(a) Se f é constante, então D.hf = O.
(b) Se a e b são constantes reais, então D.h ( af + bg) = aD.hf + bD.hg.
(c) D.h(f g) = (b.hf)(g + D.hg) + f D.h9·
(d} D.~f = D.~-1(b.hf), para todo k EN.
(e) Se k 2:: O e x E JR, então
k
(b.~f)(x) - ~(-1); G)t(x+ (k- j)h).
Prova.
(a) Para x E JR, temos D.hf(x) = f(x + h) - f(x) = O, uma vez que f
é constante.
(b) Para x E JR, temos
(b.h(af + bg))(x) = (af + bg)(x + h) - (af + bg)(x)
= a(f(x + h) - f(x)) + b(g(x + h) - g(x))
= a(b.hf)(x) + b(D.hg)(x).
148 Interpolação de Polinômios
(c) Façamos indução sobre k 2:: 1, sendo o caso k = 1 imediato. Su-
ponha, por hipótese de indução, que a fórmula valha para um certo
k EN. Para k + 1, temos:
J(x + (k + l)h) = f(x + kh) + (ô.1f)(x + kh)
k
= f(x +kh) + ~ G) (Á~-;(,:l!.f))(x)
k k
= ~ G) (À~-; J)(x) + ~ G) (Á~+H f)(x)
= t G) (À!-; f)(x) + (,:l~+l J)(x)
k
+ ~ G) (Á~-(i-1) f)(x). ·
Agora, executando uma troca de índices na última soma acima e uti-
lizando a relação de Stifel, obtemos f(x + (k + l)h) sucessivamente
igual a
t G) (À:-; f)(x) + (,:l~+l f)(x) +te: 1) (,:lH f)(x)
= (,:l:+1 f)(x) + t ( G) +e; 1)) (Át+l)-(j+l) f)(x) + (Áincx)
= I: k ~ 1 (ô.~+1-j f)(x). k+l ( )
j=O J
(d) Façamos indução sobre k 2:: 1, sendo o caso k = 1 imediato a
partir da definição 6.12. Suponha, por hipótese de indução, o resultado
verdadeiro quando k = l 2:: 1. Para k = l + 1, aplicando sucessivamente
a o item (c) da definição 6.12, a hipótese de indução e novamente o
6.2 Diferenças finitas 149
item (c) da definição 6.12 (desta feita à função ô.hf, no lugar de!),
obtemos
ô.~+lf = ô.'fi(ô.~f) = ô.h(ô.~-l(ô.hf)) = ô.~(ô.hf).
(e) Façamos indução sobre k 2:: O. Se k = O ex E JR, então
t,(-1); G)f(x) = (-l)ºG)f(x) = f(x) = (,:lif)(x).
Suponhamos, agora, que a fórmula valha quando k = l 2:: O, e
provemos sua validade para k = l + 1. Para x E JR, aplicando sucessi-
vamente o item (c) da definição 6.12 e a hipótese de indução, obtemos
(ô.1+1 f)(x) = ô.h(ô.~f)(x) = (ô.~f)(x + h) - (ô.~f)(x)
= t.(-1); G) f(x +h + (l - j)h)
l ·(l) - ~(-1)3 j f(x + (l - j)h)
= f(x + (l + l)h)
+ t.(-1); (e: 1) - e~ 1)) f(x + (l+ 1 - j)h)
- t.(-1); G)1cx + (l - j)h)
1 (l 1) = ~(-l)i : f(x + (l + 1- j)h)
- t.(-1/ e~ 1)f(x + (l + 1- j)h)
l . (l) - ~(-1)3 j f(x + (l - j)h),
n·'''"'
'ii-;i'1·
,1'
li
J!
i:l,1
:11 '
:!
150 Interpolação de Polinômios
onde utilizamos a relação de Stifel (6.2) de [10] na penúltima igualdade
acima. Portanto,
t,!+1 f(x) = t{-1); e: 1)1<x + (l + 1- j)h) - {-1)1+1 f(x)
+ t{-li G) f(x + (l - j)h)
l ·(l) , I)-1)1 . f(x + (l - j)h)
j=O J
= t{-1); e: 1)t<x + (l + 1- j)h)
l ·(l) + L(-1)1 . f(x + (l - j)h)
j=O J
l ·(l) - ~(-1)3 j f(x + (l - j)h)
= t{-1); e: 1)1<x + (l + 1- j)h)
D
Dentre as propriedades de diferenças finitas elencadas na proposi-
ção acima, a que encontra uso mais frequente em problemas de inter-
polação é a do item (e), principalmente quando combinada com o pró-
ximo resultado. Note que a proposição anterior se refere a diferenças
finitas de funções em geral, ao passo que o que segue é especificamente
relacionado a diferenças finitas de polinômios.
Proposição 6.14. As k-ésimas diferenças finitas, com incremento
h, de um polinômio de coeficientes reais e grau k são todas iguais entre
6.2 Diferenças finitas 151
si, ao passo que as l-ésimas diferenças, com l > k, são todas iguais
a zero.
Prova. Para x E IR, temos
(!J.hf)(x) = f(x + h) - f(x),
e este é o valor do polinômio !J.hf(X) := f(X +h)- f(X) para X= x.
Agora, observe que !J.hf(X) tem grau k -1. Portanto, argumentando
por indução sobre o grau de um polinômio, segue do item ( d) da
proposição anterior que !J.~f = 1J.t-1(/J.hf) tem grau O, de sorte que é
constante. Logo, !J.~f(X) = O para l > k. D
Conforme ficará patente nos dois exemplos a seguir, a principal
utilidade das fórmulas para diferenças finitas discutidas acima é o fato
de as mesmas nos permitirem calcular diretamente o valor que um
polinômio assume em um ponto que não os de interpolação, caso tais
pontos de interpolação sejam os termos de uma progressão aritmética.
Exemplo 6.15. Seja f E lR[X] um polinômio de grau m 2:: 1, tal que
f(j) = ri para O:::; j :::; m, onde r é um real positivo dado. Calcule os
possíveis valores de f ( m + 1).
Solução. Ponha h = 1 e escreva !J.k f para denotar !J.tf. O item (e)
da proposição 6.13 garante que
k
1:,• f(x) = ~{-1); G) f(x + k - j)
para todo x E R Mas, uma vez que a f = m, a proposição anterior
nos dá, então,
ri
11 i,I
'11 1
152 Interpolação de Polinômios
Portanto,
m+l ( ) /(m+l) = ~{-l)i+' m;l /{m+l-j)
= rm+l - I:(-l)j (m ~ l)rm+l-j
j=O J
= rm+l - (r - l)m+1,
onde utilizamos a fórmula de expansão binomial de (r - l)m+l na
última igualdade acima. D
A solução do próximo exemplo utiliza livremehte alguns concei-
tos e resultados básicos de Teoria dos Números, os quais podem ser
encontrados em [14].
Exemplo 6.16. Seja f um polinômio de grau 1992, tal que f(j) = 2i
para 1 ~ i ~ 1993. Calcule o resto da divisão de f (1994) por 1994.
Solução. Combinando o item (e) da proposição 6.13 com a proposi-
ção 6.14, e escrevendo novamente l::1k f para denotar l::1tf, temos
1993
O= t.1993 /(1) = ~(-1)' ( 19t) /{1994- j).
Portanto,
1993 ( ) /{1994) = ~(-l)i+l 1~93 21994-j
1993
= (19:3) 2'"' _ 2 ~ ( -1 )' (1~93) 21993-j
= 21994 - 2(2 - 1)1993 = 21994 - 2.
6.2 Diferenças finitas 153
Para o que falta, note inicialmente que 997 é primo ( utilize o crivo
de Eratóstenes, por exemplo). Portanto, o pequeno teorema de Fermat
garante que 2996 1 ( mod 997), de sorte que
21992 = (2996 )2 - 1 (mod 997).
A partir daí, é imediato que
f(1994) = 21994 - 2 = 22 - 2 -2 (mod 997).
Assim, temos o sistema linear de congruências
{ !(1994) O (mod2)
!(1994) - 2 (mod 997)
o qual possui, pelo teorema chinês dos restos, uma única solução,
módulo 2 · 997 = 1994. Mas, como 2 é claramente uma solução, segue
que
!(1994) - 2 (mod 1994).
D
Problemas - Seção 6.2
1. Prove que, para todo polinômio f E IR[X], temos
k
f(x + kh) = ~ G) (L'.~-; f)(x),
para todos h, x E IR e todo k 2:: O.
2. (Canadá.) Seja f um polinômio de grau n, tal que f(k) = k!l
para todo inteiro O ~ k ~ n. Calcule f ( n + 1).
154 Interpolação de Polinômios
3. (Estados Unidos.) Seja f um polinômio de coeficientes reais e
grau n, tal que J(k) = (nt1)-1, para O S k S n. Calcule os
possíveis valores de f(n + 1).
4. Um polinômio f, de grau 990, é tal que J(k) = Fk para 992 S
k:::;; 1982, onde Fk é o k-ésimo número de Fibonacci. Prove que
f (1983) = F19s3 - 1.
,•,tf i:·. 5. Seja f um polinômio de coeficientes reais, tal que:
(a) f(l) > f(O) > O.
(b) f(2) > 2f(l) - f(O).
(c) f(3) > 3f(2) - 3f(l) + f(O).
(d) J(n + 4) > 4f(n + 3) - 6f(n + 2) + 4f(n + 1) - J(n) para
todo n EN.
Prove que J(n) > O, para todo n EN.
CAPÍTULO 7
Fatoração de Polinômios
O algoritmo da divisão para polinômios fornece uma noção de divi-
sibilidade em IK[X] quando IK = Q, li ou <C, a qual goza de proprieda-
des análogas àquelas da noção correspondente para números inteiros.
É, então, natural perguntar se, assim como em Z, temos em IK[X]
polinômios primos, os quais forneçam algum tipo de fatoração única,
com propriedades similares às da fatoração única de inteiros. Nosso
propósito neste capítulo é fornecer respostas precisas a tais questões,
as quais encompassarão também polinômios com coeficientes em Zp
(p primo). Referimos o leitor à introdução do capítulo 1 de [10] ou,
mais geralmente, ao capítulo 1 de [14), para uma revisão dos conceitos
correspondentes em Z.
7.1 Fatoração única em (Q[X]
Ao longo desta seção, IK denota Q, li ou <C.
155
r.1 ····.1··
;·, '
. '
i:
156 Fatoração de Polinômios
Dizemos que dois polinômios f, g E IK[X] \ {O} são associados
(em IK[X]) se existir a E lK \ {O} tal que f = ag. Por exemplo, os
polinômios de coeficientes reais
1
f(X) = 4X2 - 2X + 1 e g(X) = 2\/'2X2 - v'2X + v2
são associados em IR[X], uma vez que f = \129 e v2 E IR\ {O}.
Se f, g E IK[X] \ {O} são dados, dizemos que um polinômio p E
IK[X] \ {O} é um divisor comum de f e g quando p I f, g. Note que
f e g sempre têm divisores comuns: os polinômios constantes e não
nulos sobre IK, por exemplo.
Definição 7.1. Dados f, g E IK[X] \ {O}, dizemos que d E IK[X] \ {O} é
um máximo divisor comum de f e g, e denotamos d= mdc (!, g),
se as duas condições a seguir forem satisfeitas:
(a) d I f, g em IK[X].
(b) Se d' E IK[X] \ {O} divide f e g em IK[X], então d' 1 d em IK[X].
O próximo resultado, também conhecido como o teorema de Bé-
zout1 para polinômios, garante a existência de um mdc para dois
polinômios não nulos sobre IK, o qual é único a menos de associação
(i.e., a menos de multiplicação por elementos não nulos de IK). Para
o enunciado do mesmo, dado f E IK[X] denotamos por fIK[X] o con-
junto dos múltiplos de f em IK[X], i.e.,
flK[X] = { af; a E IK[X]}.
Teorema 7.2. Sejam f, g E IK[X] \ {O}. Se
S = {af + bg; a,b E IK[X]},
então existe um polinômio d E IK[X] \ {O} satisfazendo as seguintes
condições:
1 Após 'Etienne Bézout, matemático francês do século XVIII.
7.1 Fatoração única em Q[X] 157
( a) S = dlK[X]. Em particular, d I f, g em IK[X].
(b) Todo polinômio em IK[X] \ {O} que divide f e g também divide
d.
Ademais, tal polinômio d é único, a menos de associação.
Prova.
(a) Se d E S \ {O} é tal que
ad = min{ ah; h E S \{O}},
afirmamos inicialmente que S = dlK[X]. De fato, sendo d= a0f +b0g,
com a0 , b0 E IK[X], e c E IK[X], então
cd = (cao)f + (cbo)g E S,
i.e., dlK[X] e S. Reciprocamente, tome h E S, digamos h = af + bg,
com a, b E IK[X]. Pelo algoritmo da divisão, temos h = dq + r, com
q, r E IK[X] e r = O ou O ::; ar < ad. Mas, se r # O, então ar < ad e
r = h - dq = ( af + bg) - ( aof + bog )q
= (a - aoq)f + (b - boq)g E S,
uma contradição à minimalidade do grau de d em S. Logo, r = O e,
daí, h = dq E dlK[X].
Para a segunda parte do item (a), basta ver que f, g E S = dlK[X],
de forma que, em particular, f e g são múltiplos de d em IK[X].
(b) Seja d1 E IK[X] \ {O} um polinômio que divide f e g, digamos
f = dif1 e g = d191, com f1, 91 E IK[X]. Se a, b E IK[X], então
af + bg = (af1 + bg1)d1 E d1IK[X].
Mas, como af +bg é um elemento genérico do conjunto S, segue então
que
d E dlK[X] =Se d1IK[X];
,r
. J
1
1
:~·· i.
: 1
'!.]
• 1
158 Fatoração de Polinômios
em particular, d é um múltiplo de d1, conforme desejado.
A última afirmação é deixada como exercício para o leitor ( veja O
problema 1). O
Graças à parte de unicidade do teorema de Bézout, doravante con-
vencionamos que o mdc de dois polinômios não nulos sobre K é sem-
pre mônico. Por outro lado, continuando a paráfrase com a noção de
mdc em Z, dizemos que dois polinômios f, g E K[X] \ {O} são primos·
entre si, ou relativamente primos, quando mdc (!, g) = 1. Isto
posto, temos a seguinte consequência do teorema anterior.
Corolário 7.3. Se f, g E K[X] \ {O}, então f e g são primos entre si.
se, e só se, existem polinômios a, b E K[X] tais que af + bg = 1.
Prova. Se mdc (!, g) = 1, a existência de a, b E .K[X] como no enun-
ciado segue do teorema de Bézout. Reciprocamente, se d= mdc (!, g)
e existem a, b E K[X] tais que af + bg = 1, então, novamente pelo
teorema de Bézout, temos que 1 E dK[X], i.e., d é um divisor do
polinômio constante 1. Mas, uma vez que d é mônico, segue que
d= 1. o
Corolário 7.4. Sejam f, g E K[X] \ {O} primos entre si eh E K[X] \
{O} tal que âh < â(f g). Então, existem a, b E K[X] tais que a= O ou
âa < âg, b = O ou âb < âf e af + bg = h.
Prova. Pelo corolário anterior, existem a1 , b1 E K[X] tais que aif +
b1g = 1. Daí, fazendo a2 = a1h e b2 = b1h, temos a2f + b2g = h.
Agora, pelo algoritmo da divisão, temos a2 = gq + a, com a = O ou
O~ âa < âg. Assim,
h ~ (gq + a)f + b2g = af + (qf + b2)g
e, fazendo b = qf + b2, temos h = af + bg, com a= O ou âa < âg.
Por fim, como bg = h - af, se b #- O, temos
âb + âg = â(bg) = â(h - aí) ~ âh < â(f g) = âf + âg,
7.1 Fatoração única em Q[X] 159
de sorte que âb < âf. D
A definição a seguir é central para o restante deste capítulo .
Definição 7.5. Um polinômio p E K[X] \ K é irredutível sobre
][{ se p não puder ser escrito como produto de dois polinômios não
constantes e com coeficientes em K. Um polinômio p E K[X] \ K que
não é irredutível é dito redutível sobre K.
Em geral, é útil refrasear a condição de irredutibilidade contrapo-
sitivamente; assim, um polinômio p E K[X] \ K é irredutível se, e só
se, a seguinte condição for satisfeita:
p = gh, com g, h E K[X] ==} g E K ou h E K. (7.1)
A fim de dar um sentido mais concreto ao conceito de polinômio
irredutível, vejamos dois exemplos simples.
Exemplo 7.6. É imediato, a partir de (7.1), que todo polinômio p E
K[X] de grau 1 é irredutível; de fato, sendo p = gh, com g, h E K[X],
segue da proposição 2.9 que âg+âh = âp = 1 e, daí, âg = O ou âh = O,
í.e., g ou h é constante. Por outro lado, pelo teorema fundamental
da álgebra (o teorema 3.24), os polinômios irredutíveis em C[X] são
precisamente aqueles de grau 1.
Exemplo 7. 7. Se p E JR[X] é irredutível sobre JR, então âp = 1 ou 2.
De fato, de acordo com o problema 2, página 74, um número complexo
z é raiz de p se, e só se, z também o for. Consideremos, pois, dois
casos separadamente:
( a) âp 2:: 3 e p tem pelo menos uma raíz real, a digamos: pelo teste
da raíz (proposição 3.3) temos p(X) = (X - a)h(X), para algum
h E JR[X] de grau 2, e p é redutível sobre JR.
160 Fatoração de Polinômios
(b) 8p 2': 3 e p tem duas raízes não reais conjugadas, digamos z e z:
novamente pelo teste da raiz, temos p(X) = (X -z)(X -z)h(X), paraalgum polinômio h E C[X] de grau pelo menos 1. Mas, se z =a+ bi
e g(X) = (X - z)(X - z), então
g(X) = (X - a - bi)(X - a+ bi) = (X - a)2 + b2 E II[X].
Portanto, aplicando o algoritmo da divisão à divisão de p por g, con-
cluímos que h E II[X]. Assim, p = gh, com g, h E II[X] \ II, e p é
redutível sobre II.
Graças ao exemplo acima, doravante consideraremos a noção de ir-
redutibilidade de polinômios somente para polinômios sobre Q. Nesse
sentido, um argumento análogo ao do item (a) do último exemplo
acima permite concluir que, se p E Q[X] tem grau 2 ou 3, então p é
irredutível sobre Q se, e só se, não tiver raízes em (Q (veja o problema
3).
Voltando ao conceito geral de polinômio irredutível, note que, se
p E Q[X] \ Q é irredutível, então os únicos divisores de p ( em Q[X])
são os polinômios constantes e aqueles associados a p. Temos, pois, o
seguinte resultado importante.
Proposição 7.8. Seja p E Q[X] \ Q irredutível. Se !1, ... , Ík E Q[X] \
{O} são tais que p I fi ... Ík, então existe 1 :::::; i :::::; k tal que p I Íi·
Prova. Por indução, basta mostrarmos que, se p I f g, com f, g E
Q[X] \ {O}, então p I f ou p I g. Se p f f, afirmamos inicialmente que
mdc (f,p) = 1; de fato, se d= mdc (f,p), então d I p, de forma que
d E Q ou d é associado a p em Q[X]. Mas, se d for associado a p,
então segue de d I f que p I f, o que é uma contradição. Logo, d E (Q
e, daí, d= 1.
Agora, pelo corolário 7.3, existem polinomios a, b E Q[X] tais que
af + bp = 1, de sorte que
a(f g) + (bg)p = g.
7.1 Fatoração única em Q[X] 161
Como p 1 (f g), segue da igualdade acima e do problema 4 que p I g,
conforme desejado. D
No que segue, mostraremos que todo polinômio f E Q[X] \ Q
pode ser escrito unicamente, a menos de associação, como o produto
de um número finito de polinômios irredutíveis. Mais precisamente,
mostraremos que:
(i) Existem polinômios irredutíveis p1, ... ,Pk E Q[X] \ Q tais que
f = P1 .. ·Pk·
(ii) Se q1, ... , q1 E Q[X] \ Q são também irredutíveis e tais que f =
q1 ... q1, então k = l e, a menos de uma reordenação, Pi e qi são
associados em Q[X].
Comecemos examinando a parte de existência.
Proposição 7.9. Todo polinômio f E Q[X] \ Q pode ser escrito como
produto de um número finito de polinômios irredutíveis sobre Q.
Prova. Façamos indução sobre 8f, sendo o caso 8f = 1 imediato
(já vimos que, nesse caso, f é irredutível). Por hipótese de indução,
suponha o resultado verdadeiro para todo polinômio em Q[X] \ Q de
grau menor que n, e tome f E Q[X] \ Q tal que a f = n. Se f for
irredutível, nada há a fazer. Senão, podemos escrever f = gh, com
g, h E Q[X]\Q. Logo, 8g, 8h < n, e a hipótese de indução garante que
g e h podem ambos ser escritos como produtos de um número finito de
polinômios irredutíveis sobre Q, digamos g = P1 ... Pi eh = Pi+l ... Pk·
Então f = gh = P1 ... PiPi+l ... Pk, um produto finito de polinômios
irredutíveis sobre Q. D
O próximo resultado garante a validade da parte de unicidade ( a
menos de associação) da representação de um polinômio não constante
sobre Q como produto de polinômios irredutíveis.
162 Fatoração de Polinômios
Proposição 7.10. Se Pi, ... ,Pk, q1, ... , qz E Q[X] \ Q são irredutí-
veis e tais que p1 ... Pk = Q1 ... qz, então k = l e, a menos de uma
reordenação, Pi e Qi são associados sobre Q.
Prova. Se k = 1, temos p1 = q1 ... qz, e a irredutibilidade de p1
garante que l = 1. Analogamente, l = 1 ::::} k = 1. Suponha, pois,
k, l > 1; como Pk I q1 ... qz, a proposição 7.8 garante a existência de
1 ::;; j ::;; l tal que Pk I qj. Suponha, sem perda de generalidade, j = l.
Como qz é irredutível e Pk ~ Q, a única possibilidade é que Pk e q1
sejam associados, digamos Pk = uq1, com u E Q \ {O}. Então
com q~ = Qi para 1 ::;; i < l - 2 e qf-1 = uq1_ 1 , todos irredutíveis sobre
Q.
Por indução sobre max{k, l}, temos k-l = l-l e, a menos de uma
reordenação, Pi associado a q~ para 1 ::;; i ::;; l - 1. Portanto, a menos
de uma reordenação, Pi e Qi são também associados sobre Q. D
Resumimos as duas proposições acima dizendo que, em Q[X], te-
mos fatoração única. Assim como em Z, se f E Q[X] \ Q é tal que
f = P1 · · ·Pk,
com p1 , ... ,Pk E Q[X] \ Q irredutíveis, então, reunindo os fatores Pi
iguais a menos de associação, obtemos
(7.2)
com q1, ... , qz E Q[X]\Q irredutíveis e dois a dois não associados, e a 1,
... , a1 EN. A expressão (7.2) (também única a menos de associação)
é a fatoração canônica de f em Q[X], e q1 , ... , qz são os fatores
irredutíveis de f em Q[X].
Fatoração única em Q[X] 163
Problemas - Seção 7 .1
1. * Complete a prova do teorema 7.2.
2. Sejam f, g E Q[X] \ Q polinômios tais que
onde Pi, ... ,Pk, Q1, ... , Ql e r 1 , ... , rm são polinômios mônicos e
irredutíveis, dois a dois não associados, e ai, a~, (3j, f3; E N.
Prove que
mdc (!, g) = p]1 .. ·Pl/,
com 'Yi = min{ ai, [3i}, para 1 ::;; i::;; k.
3. * Se p E Q[X] é um polinômio de grau 2 ou 3, prove que p é
irredutível sobre Q se, e só se, p não tiver raízes em Q.
4. * Se J, g, h E Q[X] \ {O} são tais que f I g, h, prove que f divide ·
ag + bh, para todos a, b E Q[X].
5. Se f E JR[X] \ lR tem grau maior que 1, prove que f pode ser
escrito, de maneira única a menos de associação, como produto
de um número finito de polinômios irredutíveis sobre R
6. O objetivo deste problema é estabelecer a existência de decom-
posições de quocientes de polinômios em frações parciais. Para
tanto, sejam dados f, g E K[X] \ {O}.
(a) Se 8 f < og e g = gf 1 ••• g~k é a fatoração canônica de
g em polinômios irredutíveis de K[X], prove que existem
polinômios J1, ... , Ík em K[X], tais que Íi = O ou ofi <
o(g;j), para 1 ::;; j ::;; k, e
k
t = L 1j"
g j=l gj
164
7.2
Fatoração de Polinômios
(b) Se 9 é irredutível sobre K e k 2: 1 é inteiro, prove que
existem polinômios q, r 1, ... , rk E K[X], com rj = O ou
arj < 89, tais que
k f ~r-
k = q+ L.....J --2.
9 j=l 9J
Fatoração única em Z[X]
Estudamos, na seção anterior, o problema de fatoração única para
polinômios com coeficientes racionais. Nesta seção, estendemos a aná-
lise de tal problema a polinômios com coeficientes inteiros. Nesse
sentido, a definição a seguir se revelará crucial.
Definição 7.11. Se f E Z[X] \ {O}, o conteúdo e(!) de f é o mdc
de seus coeficientes não nulos. Se e(!) = 1, dizemos que f é um
polinômio primitivo em Z[X].
Por simplicidade de notação, se f
Z[X] \ {O}, denotamos
e(!) = mdc (ao, ... , an)·
O lema a seguir, cuja prova deixamos ao leitor (veja o problema
1), estabelece duas propriedades úteis do conceito de conteúdo de um
polinômio de coeficientes inteiros.
Lema 7.12.
(a) Se f E Z[X] \ {O} e a E Z \ {O}, então c(af) = lal · e(!). Em
particular, existe 9 E Z[X] \ {O} primitivo tal que f = c(J)9.
(b) Se f E Q[X] \ {O}, então, a menos de multiplicação por -1,
existem únicos a, b E Z\ {O} primos entre si e 9 E Z[X] primitivo
tais que f = (a/b)9.
7.2 Fatoração única em Z[X] 165
A importância do conceito de conteúdo de um polinômio de coe-
ficientes inteiros reside no papel chave que o mesmo desempenha no
estudo de polinômios irredutíveis sobre Z, a começar pela definição
dos mesmos. •
Definição 7.13. 2 Um polinômio p E Z[X] \ Z é irredutível sobre
Z se p for primitivo e não puder ser escrito como produto de dois
polinômios não constantes em Z[X]. Um polinômio primitivo p E
Z[X] \ Z que não é irredutível é dito redutível sobre Z.
Novamente, é útil refrasear a condição de irredutibilidade de poli-
nômios de coeficientes inteiros contrapositivamente, de modo que um
polinômio primitivo p E Z[X] \ Z é irredutível se, e só se, a seguinte
condição for satisfeita:
p = 9h, com 9, h E Z[X] =} 9 = ±1 ou h = ±1. (7.3)
A proposição a seguir é conhecida como o lema de Gauss.
Proposição 7.14 (Gauss). Para f, 9 E Z[X] \ Z, temos que:
(a) c(f 9) = c(f)c(9). Em particular, f9 é primitivo se, e só se, f e
9 o forem3 .
(b) Se f é primitivo, então f é irredutível em Z[X] se, esó se, o
for em Q[X].
(c) Se f e 9 forem primitivos e associados em Q[X], então f = ±9.
Prova.
(a) Pelo lema 7.12, se f = c(f)f1 e 9 = c(9)91, então f1,91 E Z[X] são
primitivos e f 9 = c(f)c(9)f191, de modo que c(f 9) = c(f)c(9)c(J1g1).
2 Apesar da definição que adotamos aqui para polinômios em Z[X] irredutí-
veis ser ligeiramente mais restritiva que a usualmente encontrada na literatura
( conforme [28], por exemplo), ela será suficiente para nossos propósitos.
3Para uma outra prova, veja o problema 7, página 178.
' 1
166 Fatoração de Polinômios
Portanto, basta mostrarmos que f 191 é primitivo, ou, o que é o mesmo,
que
f, 9 primitivos {:} f 9 primitivo.
Se f não for primitivo, existe p E Z primo tal que p divide todos os
coeficientes de f. Então, p divide todos os coeficientes de f 9, e f 9 não
é primitivo. Analogamente, se 9 não for primitivo, então f 9 também
não é primitivo.
Reciprocamente, suponha que J(X) , amXm + · · · + a1X + ao e
9(X) = bnXn + · · · + b1X + b0 são primitivos mas f9 não o é. Tome
p E Z primo tal que p divide todos os coeficientes de f 9, e sejam.
k, l 2:: O os menores índices tais que p f ak, bz ( tais k e l existem, uma
vez que f e 9 são primitivos). Denotando por ck+l o coeficiente de
Xk+l em f9, segue que
Ck+l = · · '+ ak-2bl+2 + ªk-lbl+l + akbl + ak+lbl-1 + ak+2bl-2 + ... ·
Agora, como p I ck+l e p I a0 , ... , ªk-1, bo, ... , bz-1, a igualdade acima
garante que p I akbl, o que é uma. contradição.
(b) A implicação ~) é clara. Reciprocamente, tome f E Z[X] \ Z
primitivo e suponha que f é redutível em Q[X], digamos f = 9h, com
9, h E Q[X] \ (Q. Pelo lema 7.12, podemos tomar a, b, c, d E Z\ {O} tai&
que 9 = (a/b)91 eh= (c/d)h1 , com 91 , h1 E Z[X] primitivos. Então,
bdf = b9 · dh = a91 · ch1 = ac91h1.
Mas, como 91h1 é primitivo pelo item (a), tomando conteúdos na igual-
dade acima obtemos lbdl · c(f) = lacl. Logo, : = ±c(f) E Z, e segue
novamente da igualdade acima que f = ±c(f)91h1 , i.e., fé redutível
emZ[X].
(c) Se f = (a/b)9, com a, b E Z \ {O}, então bf = a9 e, tomando
conteúdos, obtemos lbl · c(f) = lal · c(9). Mas, uma vez que c(f) = 1
e c(9) = 1, segue que lal = lbl, de sorte que a/b = ±1. D
7.2 Fatoração única em Z[X] 167
Podemos, finalmente, enunciar e provar um celebrado resultado de
Gauss, o qual se constitui, para polinômios de coeficientes inteiros, no
análogo das proposições 7.9 e 7.10.
Teorema 7.15 (Gauss). Todo polinômio primitivo f E Z[X] \ Z pode
ser escrito como produto de um número finito de polinômios irredutí-
veis em Z[X]. Ademais, tal maneira de escrever f é única a menos de
uma reordenação dos fatores e de multiplicação de alguns dos mesmos
por -1.
Prova. Mostremos primeiramente a existência da fatoração em irre-
dutíveis: vendo f como polinômio em (Q[X], segue da proposição 7.9
a existência de polinômios irredutíveis p1, ... ,Pk E (Q[X] \ (Q tais que
f ..:_ P1 .. ·Pk· Escreva Pi= (adbi)qi, com ai, bi E Z \ {O} relativamente
primos e Qi E Z[X] \ Z primitivo. Como Qi também é obviamente
irredutível em Q[X], segue do item (b) do lema de Gauss que Qi é.
irredutível em Z[X]. Sendo a = a1 ... ak e b = b1 ... bk, temos então
que
f = (a/b)q1 ... Qk·
Mas, como q1, ... , Qk são todos primitivos, o item (a) do lema de Gauss
garante que q1 ... Qk também é primitivo. Assim, tomando conteúdos
na igualdade acima, obtemos
Portanto, segue que a/b = ±1 e, daí, f = q1 ... Qk, um produto de
polinômios irredutíveis de Z[X].
A prova da parte de unicidade do enunciado é essencialmente idên-
tica à prova da proposição 7.10, uma vez que provemos o seguinte: se
p, f, 9 E Z[X] \ Z são tais que p é irredutível e p I f 9 em Z[X], então
p I f ou p 19 em Z[X]. Para tanto, note inicialmente (novamente pelo
item (b) do lema de Gauss) que p também é irredutível em (Q[X] e,
assim sendo, já sabemos que p I f ou p 1 9 em Q[X]. Se p I f em (Q[X]
168 Fatoração de Polinômios
(o outro caso é análogo), existe li E Q[X] tal que f = liP· Tomando
a, b E Z tais que li= (a/b)h, com Í2 E Z[X] \ Z primitivo, temos
bf = bf1P = af2p.
Agora, p e Í2 primitivos implica (uma vez mais pelo item (a) do lema
de Gauss) em Í2P primitivo e, tomando conteúdos na igualdade acima,
obtemos lbl · c(f) = lal · c(f2p) = lal. Portanto, a/b = ±e(!) E Z, de
maneira que fi E Z[X] e p I f em Z[X]. D
Problemas - Seção 7.2
1. * Prove o lema 7.12.
2. * Seja f E Z[X] um polinômio mônico e não constante. Se fé
redutível sobre Q, prove que existem polinômios mônicos e não
constantes g, h E Z[X], tais que f = gh.
7.3 Polinômios sobre Zp
Vimos, à seção 6.2 de [14], que, para p primo, o conjunto Zp das
classes de congruência módulo p pode ser munido com operações de
adição, subtração, multiplicação e divisão bastante similares às suas
análogas em C. Tal semelhança faz com que praticamente todos os
conceitos e resultados sobre polinômios estudados até o momento con-
tinuem válidos no conjunto Zp[X] dos polinômios com coeficientes em
Zp.
Nosso propósito aqui é comentar explicitamente algumas seme-
lhanças e diferenças entre polinômios sobre Zp e sobre K, com K = Q,
R ou C, deixando ao leitor a tarefa de checar que todos os demais
resultados e definições para K[X] apresentados no texto (exceto por
7.3 Polinômios sobre Zp 169
aqueles das seções 3.3 e 6.2 e do capítulo 5) são válidos ipsis literis
para Zp[X]. Aproveitamos também para deduzir, com o auxílio de
polinômios sobre Zp, alguns resultados de teoria dos números e com-
binatória não acessíveis pelos métodos de que dispomos até o presente
momento. Em particular, demonstramos a existência de raízes pri-
mitivas módulo p, completando, assim, a discussão da seção 7.2 de
[14].
Dado /(X)= anxn+· · ·+a1X +ao E Z[X], denote por f E Zp[X]
o polinômio
(7.4)
onde a0 , a1, ... , "an denotam, respectivamente, as classes de congruên-
cia de a0 , a1 , ... , an, módulo p.
A correspondência f r-+ f define uma aplicação
1rP: Z[X]
f
a qual é obviamente sobrejetiva, sendo denominada a projeção de
Z[X] sobre Zp[X]. Para f, g E Z[X], é imediato verificar que
f (X) = g(X) em Zp[X]
t
:3h E Z[X]; f(X) = g(X) + ph(X) em Z[X].
Equivalentemente, denotando
pZ[X] = {ph; h E Z[X]},
temos
f = O {:} f E pZ[X].
Estendemos as operações de adição e multiplicação de Zp a ope-
rações homônimas+,· : Zp[X] x Zp[X] --+ Zp[X] pondo, para/, g E
Z[X],
1 + g = f + g e f · g = fg.
170 Fatoração de Polinômios
Deixamos a cargo do leitor a verificação da boa definição da adição e
da multiplicação de Zp[X], a qual pode ser feita de maneira análoga
à verificação da boa definição das operações de Zp ( de acordo com a
seção 6.2 de [14); veja também o problema 1, página 177).
Assim como em Z[X] 1 dizemos que um polinômio f E Zp[X) \ {Õ}
como em (7.4) tem grau n se <in-=/=- Õ, i.e., se p f ªn· Mais geralmente,
se f E Z[X] \pZ[X], então]-=/=- Õ e 8f ~ 8f.
Os dois exemplos a seguir utilizam a multiplicação de polinômios
em Zp [ X) para provar propriedades interessantes de números binomi-
ais.
Exemplo 7.16. Se p é um número primo e k é um inteiro positivo,
prove que (~k) é múltiplo de p, para 1 ~ j < pk.
Prova. Pelo exemplo 1.41 de [14), já sabemos que (X+ I)P =XP+ I
em Zp[X). Por hipótese de indução, suponha que, para algum l EN,
tenhamos provado que
em Zp[X). Então, aplicando sucessivamente o caso inicial e a hipótese
de indução, obtemos
(X+ I/+1 =(XP+ Ii = (XPi +I = XPl+l + I.
Por outro lado, também temos
de modo que, para 1 ~ j < pk, temos (~k) = Õ; daí, p divide o número
binomial (~k). D
Exemplo 7.17 (Romênia). Prove que o número de coeficientes bino-
miais ímpares na n-ésima linha do triângulo de Pascal é uma potência
de 2.
7.3 Polinômios sobre Zp 171
Prova. Seja (de acordo com o exemplo 5.12 de [10))
a representação binária de n, onde O ~ a0 < a1 < · · · < ªk· Pelo
exemplo 7.16, temos em Z2 [X) que
(X+ It =(X+ I)2ªk (X+ I)2ªk-1 ... (X+ I)2ª0
= (X2ªk + I)(X2ªk-1 + I) ... (X2ª0 + I).
(7.5)
Sendo S o conjunto dos númerosformados a partir de somas de
potências distintas de 2, escolhidas dentre as potências 2ªk, 2ªk-i, ... ,
2ª1 e 2ªº, temos pelo princípio fundamental da contagem e pela unici-
dade da representação binária de naturais, que ISI = 2k+1; por outro
lado, efetuando os produtos da última expressão de (7.5), obtemos
(X+It=Lxm, (7.6)
mES
uma soma com exatamente 2k+1 parcelas. Mas, uma vez que a fórmula
de expansão binomial fornece
(7.7)
comparando as expressões (7.6) e (7.7), concluímos que exatamente
2k+1 dentre os números binomiais da forma (;) ( os quais compõem a
n-ésima linha do triângulo de Pascal) são tais que (;) -=/=- Õ, i.e., são
~~ffi. D
Para definir a função polinomial associada a um polinômio f E
Zp[X] temos que ter alguns cuidados. Note inicialmente que, se f E
Z[X] e a, b E Z são tais que a = b (modp), então o item (e) da
proposição 5.6 de [14) garante que
f(a) f(b) (modp);
172 Fatoração de Polinômios
por outro lado, se f = g em Zp[X], vimos acima que existe h E Z[X]
tal que f(X) = g(X) + ph(X). Portanto, para a E Z, temos
f(a) = g(a) + ph(a) g(a) (modp).
Dado f E Zp[X], os comentários acima permitem definir a função
polinomial associada f : Zp --+ Zp pondo, para a E Z,
!(a) = g(a), (7.8)
onde g E Z[X] é qualquer polinômio tal que f = g. Obviamente, a
imagem de f é um conjunto finito, uma vez que o próprio Zp o é. .
Doravante, sempre que não houver perigo de confusão, escreveremos
(7.8) simplesmente como
](a) = f(a).
O exemplo a seguir mostra que, contrariamente ao que ocorre com
polinômios sobre (Q, lR. ou C, a função polinomial associada a um
polinômio não nulo em Zp[X] pode ser identicamente nula. Em parti-
cular, não é mais válido que dois polinômios sobre Zp só terão funções
polinomiais iguais quando forem eles mesmos iguais.
Exemplo 7.18. O polinômio f(X) = XP - X E Zp[X] é claramente
um elemento não nulo de Zp[X]. Por outro lado, denotando por f :
ZP--+ ZP a função polinomial associada ao mesmo, temos pelo pequeno
teorema de Fermat (veja {14]) que
](a) = aP - a= aP - a = õ,
para todo a E Zp. Assim, f é a função identicamente nula.
Sejam dados f E Z[X] e a E Z. Como na seção 3.1, dizemos que
a E Zp é uma raiz de f se f(a) = Õ. Uma rápida inspeção da prova
do teste da raiz mostra que o mesmo continua válido em Zp[X]. Em
particular, obtemos, a partir do exemplo acima, o seguinte resultado
importante.
7.3 Polinômios sobre Zp 173
Proposição 7.19. Em Zp[X], temos
XP- 1 - I = (X - I)(X - 2) ... (X - (p-1)).
Prova. Como I, 2, ... , p - 1 são raízes de xp-I _ I em Zp (novamente
pelo pequeno teorema de Fermat), o item (c) da proposição 3.3 ga-
rante que xp-l - I é divisível em Zp[X] pelo polinômio (X - I)(X -
2) ... (X - (p - 1)). Mas, como ambos tais polinômios são mônicos e
têm grau p - 1, segue que
xp-i - I = ( X - I) ( X - 2) ... ( X - (p - 1)).
D
Em Zp[X], as definições e resultados da seção 7.1 mantém-se com-
pletamente. Em particular, podemos enunciar o seguinte teorema,
cuja prova é totalmente análoga às provas das proposições 7.9 e 7.10.
Teorema 7.20. Se p E Z é primo, então todo polinômio f E Zp[X] \
Zp pode ser escrito, de maneira única a menos de reordenação e asso-
ciação, como produto de um número finito de polinômios irredutíveis
sobre Zp[X].
Como primeira aplicação do resultado acima, provamos, a seguir,
a existência de raízes primitivas módulo p.4 Para o enunciado e prova
do mesmo, sugerimos ao leitor rever o material da seção 7.2 de [14].
Teorema 7.21. Se p é um primo ímpar e d é um divisor positivo de
p - 1, então a congruência
xp-I - 1 - O (modp) (7.9)
tem exatamente r.p(d) raízes de ordem d, duas a duas incongruentes
módulo p. Em particular, p possui raízes primitivas.
4Para comodidade do leitor, recordamos que um inteiro a, não divisível por um
primo p, é denominado uma raiz primitiva módulo p se p - 1 for o menor inteiro
positivo k satisfazendo a congruência ak = 1 (modp).
174 Fatoração de Polinômios
Prova. Para d divisor positivo de p - 1, seja N(d) o número de raí-
zes da congruência (7.9), com ordem d e duas a duas incongruentes,
módulo p. Uma vez que as raízes da congruência (7.9) são os inteiros
1, 2, ... ,p- l e (pela proposição 7.2 de [14]) cada um de tais números
. tem ordem igual a um divisor de p - 1, concluímos que
L N(d) =p-1.
O<dl(p-1)
Portanto, se mostrarmos que N(d) :S cp(d), seguirá da proposição 3.11
de [14] que
p- l = L N(d):::;; L cp(d) =p- l
O<dl(p-1) O<dl(p-1)
e, daí, que N(d) = cp(d), para todo divisor positivo d de p - 1.
Seja, então, d um divisor positivo de p - 1. Se N(d) = O, é claro
que N(d) :::;; cp(d). Senão, seja a um inteiro de ordem d, módulo p;
então, as classes I, a, ... , a:J,-1 E Zp são raízes duas a duas distintas
do polinômio Xd - I E Zp[XJ. Por outro lado, o corolário 3.8 garante
que tal polinômio possui no máximo d raízes em Zp, de sorte que suas
raízes são exatamente I, a, ... , a:J,-1 . Portanto, se a E Z for uma
raiz de ordem d de (7.9), então a E ZP é raiz de Xd - I E Zp[X], de
sorte que a E {I, a, ... , a;d-l }. Assim, as raízes de ordem d de (7.9)
são exatamente os elementos de ordem d do conjunto {1, a, ... , ad-l}
e, daí,
N(d) = #{O :S k :S d - 1; ordp(ak) = d}.
O item (c) da proposição 7.5 de [14] conta o número de elementos do
segundo membro acima: como ordp(a) = d, temos
7.3 Polinômios sobre Zp
portanto,
#{O :S k :S d - 1; ordp(ak) =d}=
=#{O:::;; k:::;; d-1; mdc(d,k) = 1}
= cp(d) .
175
Assim, N(d) = O ou cp(d) e, em qualquer caso, temos N(d) :S cp(d),
conforme desejado.
Para o que falta, basta notar que N(p - 1) = cp(p - 1), ou seja,
há exatamente cp(p - 1) inteiros, dois a dois incongruentes, módulo
p, e com ordem p - 1 = cp(p), módulo p; de outro modo, há exata-
mente cp(p-1) raízes primitivas, módulo p, duas a duas incongruentes,
módulo p (veja que este resultado concorda com a proposição 7.8 de
[14]). D
Terminamos esta seção exibindo mais uma aplicação da teoria de
polinômios sobre Zp à Teoria dos Números.
Exemplo 7.22 (Miklós-Schweitzer). Se p > 3 é um primo tal que
p = 3 (mod4), prove que
II (x2 + y2 ) _ 1 (modp).
l~x/y~p;l
Prova. Em tudo o que segue, salvo menção em contrário os índices
dos produtórios apresentados variam de 1 a P;1.
Se P denota o produto do primeiro membro, então
t',,\' .;,·,:
176 Fatoração de Polinômios
Agora, para 1 ::; k ::; P;1, denote por ck o inverso de k, módulo p.
Módulo p, tem-se
De fato, a primeira congruência é imediata e, para a segunda, basta
observar que { ( ckx )2; 1 ::; x ::; P;1} é um conjunto de P;1 resíduos qua-
dráticos dois a dois incongruentes, módulo p; portanto, {(ckx)2; 1 ~
x < p-l} = {x2 · 1 < x < p-l} módulo p.
-2 ' - -2'
Segue então que, módulo p,
l'.::.! 2 2 p- 2 2 p- 2 2 ( 1)2 ( 1)2 E.::! 2 2 .1 . 2 . .. . . - 2- P = 1 . 2 . .. . . - 2- (II (x + 1))
ou, ainda,
p-1
29 P - (Il(x2 + 1))-2
Sejam a uma raiz primitiva, módulo p, e Q = f1(x2 + 1). Uma vez
que { a 2\ 1 ::; k ::; P;1 } é um conjunto de P;1 resíduos quadráticos
dois a dois incongruentes, módulo p, temos { a 2\ 1 ::; k ::; P;1 } =
{x2 ; 1::; x::; P;1 }, módulo p, de sorte que
(7.10)
A fim de calcular o resíduo de Q, módulo p, seja f E Z[X] definido
por
de maneira que
p-1
Q (-1)-2 f(-1) _ -f(-l) (modp)
(aqui, utilizamos o fato de que p = 3 (mod4) na segunda congruência
acima).
7.3 Polinômios sobre Zp 177
Agora, observe que
f(X2) = (X-a)(X-a2) ... (X-a~)(X +a)(X +a2) ... (X +a9).
Para 1 ::; i,j ::; P;1 , se ai= -ai (modp), então a 2i a 2i (modp), e
segue de a ser uma raiz primitiva, módulo p, que 2i = 2j ou, ainda,
i = j; mas, assim sendo, teríamos ai -ai (modp), o que é um
absurdo. Então, o conjunto { ±a, ±a2, .•• , ±a9} é um SCI5 , módulo
p, de sorte que coincide, módulo p, com {1, 2, ... ,P - 1}. Portanto,
denotando por] E Zp[X] a imagem de f pela projeção de Z[X] sobre
Zp[X], temos
](X2) = (X - I)(X - 2) ... (X - p- 1) = XP- 1 - I
e, daí,
- p-1 -f (X) = x-2 - 1.
Mas, comop 3 (mod4), segue que
Q = -1(-I) = -(-I)9 - I = 2,
i.e., Q = 2 (modp).
Por fim, substituindo essa informação em (7.10), obtemos a con-
gruência 29 P - 29 (modp) e, a partir dela, P 1 (modp). D
Problemas - Seção 7.3
1. * Fixado um primo p, verifique a boa definição das operações
de adição e de multiplicação de Zp[X]. Mostre também que
tais operações são associativas e comutativas, possuem elementos
neutros respectivamente iguais a Õ e I e que a multiplicação é
distributiva em relação à adição.
5Recorde que um sistema completo de invertíveis (abreviamos SCI), módulo p,
ê um conjunto { a 1 , a 2 , •.. , ap-l de inteiros tais que, a menos de uma permutação,
temos ªi = j (modp).
178 Fatoração de Polinômios
2. * Se f E Z[X] e a E Z é raiz de f, prove que a E Zp é raiz de
f E Zp[X]. Em particular, conclua que, se a1, ... , ak E Zp são
as raízes de f, então existe 1 ~ j ~ k tal que a - ªi (modp).
3. Ache, se houver, as raízes em Z3 do polinômio X 2 - 2X + I E
Z3[X].
4. Fatore X 2 + 3 em Z1[X].
5. Mostre que o polinômio f (X) = X 3 -15X2 + lOX - 84 não tem
raízes racionais.
6. * Se p E Zé primo e f E Z[X], prove que J(XP) = J(X)P.
7. * Use a projeção 1r : Z -+ Zp para provar que, se f, g E Z[X] \ Z
são polinômios primitivos (conforme a definição 7.11), então fg
também o é.
8. * Seja p 2:: 3 primo e, para 1 ~ j ~ p-1, seja sj(l, 2, ... ,p-1)
a j-ésima soma simétrica elementar dos números 1, 2, ... , p - 1.
Prove que:
(a) Para 1 :$ j~ p- 2, temos sj(l, 2, ... ,P - 1) - O (modp).
(b) sp_1(1, 2, ... ,P - 1) - -1 (modp).
9. * Se a, f! e e são as raízes complexas do polinômio X 3 -3X2 + 1,
mostre que, para todo n E N, a soma an + bn + cn é inteira e
deixa resto 1 quando dividida por 17.
7.4 Irredutibilidade de polinômios
Até o momento, não temos à disposição modo algum de.determinar
se um dado polinômio é ou não irredutível. É claro que, em exemplos
práticos, pode-se, às vezes, utilizar para tal fim o método direto, qual '
Z.4 Irredutibilidade de polinômios 179
seja, escrever um polinômio dado f ( digamos em Z[X]) como produto
de dois outros g e h e, resolvendo ó sistema de equações resultante
nos coeficientes de g e h, obter uma fatoração para f ou chegar a
uma contradição. A seguir, exemplificamos tal procedimento (veja,
também, os problemas 1 e 2).
Exemplo 7.23. Prove que f(X) = X 4+10X3+5X +1993 é irredutível
sobre Q.
Prova. Pelo lema de Gauss, é suficiente mostrar que f não pode ser
escrito como produto de dois polinômios não constantes e de coefi-
cientes inteiros. Para tanto, observe inicialmente que 1993 é primo
(pelo critério de Eratóstenes, por exemplo);_ portanto, pelo critério de
pesquisa de raízes inteiras, as possíveis raízes inteiras de f são ±1 ou
±1993, e uma verificação direta garante que f não possui raízes in-
teiras. Resta, pois, descartarmos a possibilidade de fatoração de f na
forma
f(X) = (X2 + aX + b)(X2 + cX + d),
com a, b, e, d E Z. Se tal ocorrer, então, desenvolvendo o produto do
segundo membro e igualando os coeficientes obtidos aos corresponden-
tes do primeiro membro, ~btemos o sistema de equações
a+c=lO
ac+b+d=O
ad+bc=5
bd = 1993
A quarta equação, juntamente com a primalidade de 1993 e a sime-
tria da fatoração de f, nos fornecem as possibilidades essencialmente
distintas (b, d) = (1, 1993) ou (-1, -1993). Portanto, a primeira e a
terceira equações fornecem um dos sistemas de equações
{ a+c=lO
a+ 1993c = 5
{ a+c= 10 ou .
a+ 1993c= -5
180 Fatoração de Polinômios
Por fim, é imediato verificar que nenhum de tais sistemas possui solu-
ções inteiras. D
Conforme atestam os cálculos executados no exemplo acima, a ve-
rificação, pelo método direto, de que um polinômio f E (Q[X] dado
é irredutível sobre (Q esbarra em dificuldades computacionais consi-
deráveis, mesmo no caso em que f tem coeficientes inteiros e grau
pequeno. Faz-se, pois, necessário desenvolvermos técnicas apropriadas
ao tratamento de questões ligadas à irredutibilidade de polinômios.
Nesse sentido, comecemos com o seguinte resultado.
Proposição 7.24. Sejam f E Z[X] primitivo e mônico e p E Z primo.
(a) Se f E Zp[X] é irredutível em Zp[X], então f é. irredutível em
Z[X].
{b) Se J(X) (X - a)f1(X), com ] 1 E Zp[X] irredutível, então
ou f é irredutível em Z[X] ou f tem uma raiz a E Z tal que
a - a (modp).
Prova.
(a) Por contraposição, suponha f(X) = g(X)h(X), com g, h E Z[X] \
Z mônicos. Então, ](X)= g(X)h(X), com ãg = 8g e 8h = 8h.
(b) Suponha f redutível, digamos J(X) = g(X)h(X), com g, h E
Z[X] \ Z mônicos. Então, ãg = 8g, 8h = 8h e
(X - a)f1 (X) = g(X)h(X).
Mas, uma vez que ] 1 é irredutível em Zp[X], segue do teorema 7.20
que g ou h deve ser associado a X - a e, daí, que 8g = 1 ou 8h = 1.
Suponha, sem perda de generalidade, que 8g = 1. Então, g(X) =
X - a e g (logo, f) tem uma raiz a E Z. Por fim, é claro que a = a. O
7.4 Irredutibilidade de polinômios 181
Exemplo 7.25. Seja p E Z primo e k EN tais que p 5(mod6) e
kp+ 1 é primo. Prove que f(X) = X 3 +pX2+pX +kp+ 1 é irredutível
emZ[X].
Prova. Projetando em Zp[X], temos
](X) = X 3 + I = (X+ T)(X2 - X+ I).
Afirmamos inicialmente que - I é a única raiz de f em Zp. De
fato, se ](a) = O, então a3 = -I e, daí, a3 = -1 (modp); assim,
a6 _ 1 ( mod p), de maneira que
ordp(a) J mdc (6,p - 1) = 2,
i.e., ordp(a) = 1 ou 2. Mas, como ordp(a) = 1 ==> a = I, o qual
não é raiz de], devemos ter ordp(a) = 2. Então, a2 1 (modp) e
a "t=- 1 (modp), de sorte que a - -1 (modp) ou, ainda, a= -I.
Segue da afirmação acima que X 2 - X+ I não tem raízes em Zp [X]
e, portanto, é irredutível em Zp[X]. A proposição anterior assegura,
então, que ou f é irredutível em Z[X] ou f tem uma raiz a E Z tal
que a - -1 (modp). Mas, pelo critério de pesquisa de raízes racionais
(proposição 3.16), uma raiz a de f deve dividir kp + 1, que é primo,
de forma que a = -1 ou a = -( kp + 1). Testando tais possibilidades,
obtemos uma contradição. D
Observação 7.26. Fixado p E N, estabeleceremos na seção 8.2 a
existência. de infinitos k E Z tais que kp + 1 seja primo.
O teorema a seguir e, mais precisamente, seu corolário, o critério
de Eisenstein, se constitui em poderoso aliado na tarefa de garantir
a irredutibilidade de certos polinômios.
Teorema 7.27 (Eisenstein). Seja f(X) = anXn + · · · + a1X + a0
um polinômio de grau n 2: 1 e com coeficientes inteiros. Sejam ainda
p E Z primo e 1 ::; k < n inteiro tais que:
1
!
1
1
182 Fatoração de Polinômios
(a) p I ao,al,···,ªk·
(b) p2 fao epfan.
Se f = gh, com g, h E Z[X], então ao menos um dentre g eh tem
grau maior ou igual a k + 1.
Prova. Se f(X) = g(X)h(X), com g(X) = brXr + · · · + b0 e h(X) =
c8 X 8 + · · · + co polinômios em Z[X], então an = brcs e ao = boc0 .
Portanto,
P f an '* P f brCs =* p f br e p f C8 ,
de maneira que, em Zp[X], temos ](X) = g(X)h(X), com ãg = âg =
r e âh = âh = s. Ademais, se X I g(X) e X I h(X) em Zp[X],
então p I bo e p I Co em Z, de sorte que p2 1 b0c0 = a0 , o que é um ,
absurdo. Portanto, em Zp[X], o polinômio X divide no máximo um
dos polinômios g ou h, e segue de ,
g(X)h(X) = J(X) = cinXn + · · · + ak+1Xk+1
= (anxn-k-1 + ... + ªk+1)Xk+1
que Xk+1 1 g(X) ou Xk+1 i h(X). Logo, r ~ k + 1 ou s ~ k + 1. D
Corolário 7.28 (Eisenstein). Seja f(X) = anXn+· · ·+a1X +ao um
polinômio de grau n ~ 1 e com coeficientes inteiros. Se existe p E Z
primo tal que p I ao, a1, ... , ªn-1, p2 f ao e p f an, então f é irredutível
em (Q[X].
Prova. Pelo teorema anterior, se f(X) = g(X)h(X), com g, h E
Z[X], então âg ~ n ou âh ~ n, de maneira que h ou g é constante.
Assim, f não pode ser escrito como o produto de dois polinômios não
constantes de coeficientes inteiros, e segue do lema de Gauss que f é
irredutível em (Q[X]. D
Colecionamos, no exemplo a seguir, uma aplicação clássica do co-
rolário acima, a qual será reobtida, por outros métodos e em maior
generalidade, na seção 8.2.
7.4 Irredutibilidade de polinômios 183
Exemplo 7.29. Se p E Z é primoe f E Z[X] é o polinômio definido
por
f(X) = xp-l + xp-2 + ... + x + 1,
então f é irredutível sobre (Q.
(7.11)
Prova. Observando, inicialmente, que f(X) = g(X)h(X) se, e só se,
f(X + 1) = g(X +l)h(X + 1), concluímos ser suficiente provar que
f(X + 1) é irredutível em Q[X]. Mas, como (X - l)f(X) = XP - 1,
temos
Xf(X + 1) =(X+ l)P - 1
= XP + (f) XP-1 + ... + ~ ~ l) X
e, daí,
f(X + 1) = xp-l + (f )xp-2 + · · · + (P ~ 1).
Agora, lembre-se ( conforme exemplo 1.41 de [14]) de que p 1 (f), para
1 :S k :S p - 1, de modo que podemos aplicar o critério de Eisenstein
com o primo p para concluir pela irredutibilidade de f(X + 1) em
({]~. D
Em que pese a teoria desenvolvida acima, frequentemente estabe-
lecemos a irredutibilidade de um certo polinômio por intermédio de
métodos ad hoc. Vejamos alguns exemplos.
Exemplo 7.30 (Romênia). Seja f E Z[X] um polinômio mônico de
grau n ~ 1, tal que f(O) = 1. Se f tiver pelo menos n - 1 raízes
complexas de módulo menor que 1, prove que f será irredutível em
(Q[X].
Prova. Pelo lema de Gauss, basta mostrar que f é irredutível em
Z[X]. Suponha, pois, f = gh, com g, h E Z[X] \ Z. Sem perda de
generalidade, podemos supor g e h mônicos. De g(O)h(O) = 1, temos
184 Fatoração de Polinômios
g(O), h(O) = ±1. Por outro lado, pelas relações de Girard (vide a
proposição 4.6), o módulo do produto das raízes complexas de fé igual
a 1, de modo que, pelas hipóteses do enunciado, f tem exatamente uma
raiz complexa de módulo maior que 1. Portanto, um dos polinômios g
ou h, digamos g, tem somente raízes complexas de módulo menor que
1. Mas, uma vez que g é mônico e lg(O)I = 1, temos, novamente pelas
relações de Girard, que o módulo do produto das raízes de g é igual a
1, o que é uma contradição. D
Observação 7.31. Polinômios f E Z[X] satisfazendo as condições
do lema acima podem ser facilmente construídos. Por exemplo, seja
f (X) = anXn + an_1xn-1 + · · · + a1X + ao E Z[X] tal que
Se lzl = 1, então
lf(z) - ªn-1Zn-ll = lanZn + ªn-2Zn-2 + · · · + a1z + aol
:::; lanl + lan-21 + · · · + la1I + laol
< lan-11 = lan-1Zn-ll·
Em particular, f não se anula sobre o círculo lzl = 1 do plano com-
plexo, e um teorema da teoria de funções analíticas f : (C --+ C ( o
teorema de Rouché - veja a seção Vl.4 de f 50}, por exemplo) garante
que f possui exatamente n - 1 raízes complexas de módulo menor que
1.
Exemplo 7.32. Sejam n > 1 um inteiro ímpar e a 1 , ... , an inteiros
dados, dois a dois distintos. Prove que o polinômio
f(X) = (X - a1)(X - a2) ... (X - an) - 1
é irredutível em Q[X].
7.4 Irredutibilidade de polinômios 185
Prova. Pelo lema de Gauss, basta mostrar que f não pode ser escrito
como produto de dois polinômios não constantes e de coeficientes intei-
ros. Suponha, por contradição, que fosse f = gh, com g e h polinômios
mônicos, de coeficientes inteiros e não constantes. Como
e g(ai), h(ai) E Z, deve ser g(ai) = 1 e h(ai) = -1, ou vice-versa; em
qualquer caso, temos g(ai) + h(ai) = O. Agora, defina li = g + h.
Como g e h são mônicos, li não é identicamente nulo. Então,
ali:::; max{ag, ah}< af = n,
de maneira que li admite, no máximo, a li < n raízes distintas. Mas,
como li(ai) = O para 1:::; i:::; n, chegamos a uma contradição. D
Problemas - Seção 7.4
1. Use o método direto, descrito no início desta seção, para provar
que o polinômo X 4 - X 2 + 1 é irredutível em Z[XJ.
2. * Também com o auxílio do método direto, mostre que o poli-
nômio f(X) = X 5 - X 4 - 4X3 + 4X2 + 2 é irredutível sobre
Q.
3. Um polinômio de coeficientes reais é dito positivamente redutí-
vel se puder ser expresso como produto de dois polinômios não
constantes, cujos coeficientes não nulos são reais positivos. Seja
f um polinômio de coeficientes reais tal que, para algum n E N,
o polinômio f(Xn) é positivamente redutível. Mostre que f é
positivamente redutível.
i I
ti''';; '
.. ~1fo ~. ·,
l!
186 Fatoração de Polinômios
4. Sejam n > 1 inteiro e a1, ... , an inteiros positivos dados, dois a
dois distintos. Prove que o polinômio
J(X) = (X - a1)(X - a2) ... (X - an) + 1
é redutível em Q[X] somente nos seguintes casos:
(a) f(X) = (X - a)(X - a - 2) + 1.
(b) f(X) = (X - a)(X - a - l)(X - a - 2)(X - a - 3) + 1.
5. Sejam p um primo ímpar, f(X) = 2XP-l - 1 e g(X) = (X -
l)(X -2) ... (X -p+l). Prove que ao menos um dos polinômios
f(X) - g(X) ou J(X) - g(X) +pé irredutível em Z[X].
6. (IMO.) Prove que o polinômio de coeficientes inteiros xn +
5xn-1 + 3 é irredutível em Z[X].
7. Sejam p E Z primo e f(X) = a2n+1X2n+1 + · · · + anXn + · · · +
a1X + a0 um polinômio de coeficientes inteiros satisfazendo as
seguintes condições:
· (a) p2 1 ao, a1, ... , ªn·
(b) PI an+l, an+2, · · ·, a2n·
(c) p3 I ao ep{a2n+1·
Mostre que f não pode ser escrito como o produto de dois po-
linômios não constantes e de coeficientes inteiros.
8. (Romênia.) Seja p E Z um número primo. Se f(X) = anXn +
an_1xn-1+· · ·+a1X +ao é um polinômio de coeficientes inteiros,
com laol = p e tal que lanl + lan-11 + · · · + la1I < p, prove que f
é irredutível sobre Q.
7.4 Irredutibilidade de polinômios 187
9. (Romênia.) Seja f(X) = anXn+· · ·+a1X +ao um polinômio não
constante de coeficientes inteiros. Se I ao I > I a1 I + I a2 I + · · · + 1 an I
e v'faoT < ../íaJ + 1, prove que f não pode ser escrito como
o produto de dois polinômios não constantes e de coeficientes
inteiros.
10. (Romênia.) Seja N = A1 UA2 U · · · UAk uma partição do conjunto
dos números naturais em k conjuntos não vazios. Dado m EN,
prove que existe 1 :S j :S k tal que podemos construir infinitos
polinômios f satisfazendo as seguintes condições:
(a) 8f = m.
(b) Os coeficientes de f pertencem ao conjunto Ai.
(c) f não pode ser escrito como o produto de dois polinômios
não constantes de coeficientes inteiros.
11. * Sejam f um polinômio de coeficientes inteiros e grau n, e z1,
... , Zn as raízes complexas de f.
(a) Se Re(zi) < O para 1 :Si :S n, prove que todos os coeficien-
tes de f têm um mesmo sinal.
(b) Prove o teorema de Pólya-Szegõ 6 : suponha que existe
m E Z tal que f(m) é primo, f(m-1) =I- O em> !+Re(zi),
para 1 :S i :S n. Então, f não pode ser escrito como produto
de dois polinômios não constantes e de coeficientes inteiros.
12. (BMO.) Sejam n > 1 inteiro e ao, a1, ... , ªn-1, an naturais tais
que an =I- O e O :S ai :S 9, para O :S i :S n. Se f (10) é primo,
prove que f é irredutível sobre Z.
6 Após os matemáticos húngaros do século XX George Pólya e Gábor Szegõ.
188 Fatoração de Polinômios
CAPÍTULO 8
Nú meros Algébricos e Aplicações
Neste capítulo, invertemos o ponto de vista adotado no capítulo
3. Mais precisamente, fixamos um número complexo z e examina-
mos o conjunto dos polinômios f E C[X] tais que f(z) = O. Como
subproduto de nossa discussão, damos uma prova distinta da apresen-
tada em [26] para o fechamento, em relação às operações aritméticas
usuais, do conjunto dos números complexos que são raízes de polinô-
mios não nulos e de coeficientes racionais. Por outro lado, a análise
do caso em que z E (C é uma raiz ri-ésima da unidade nos leva ao
estudo dos polinômios ciclotômicos e permite dar uma prova parcial
de um famoso teorema de Dirichlet sobre a infinitude de primos em
progressões aritméticas.
189
!.1
190 Números Algébricos e Aplicações
8.1 Números algébricos
Um número complexo a é dito algébrico sobre (Q se existir um
polinômio f E (Q[X] \ {O} tal que f(a) = O. Um número complexo
que não é algébrico sobre (Q é dito transcendente sobre (Q.
É possível provar ( e o faremos na seção 8.3) que nem todo número
complexo é algébrico, i.e., que o conjunto dos números transcendentes
é não vazio. Por outro lado, é claro que todo racional r, sendo raiz do
polinômio X - r E (Q[X] \ {O}, é algébrico sobre (Q. Colecionamos, a
seguir, alguns exemplos menos triviais de números algébricos sobre (Q.
Exemplo 8.1. Sejam r E (Q~ e n EN. Se w é uma raiz n-ésima da
unidade, então y'rw é algébrico sobre(Q, uma vez que tal número é
raiz do polinômio não nulo de coeficientes racionais X"" - r.
Poderíamos definir, aliás de modo óbvio, o que se entende por um
número complexo a ser algébrico sobre R Contudo, esse não é um
conceito interessante, uma vez que todo complexo é algébrico sobre JR.
De fato, dado um complexo não real a = a + ib, temos que a é raiz
do polinômio não nulo
f(X) = (X - (a+ bi))(X - (a - bi))
= X 2 - 2aX + (a2 + b2 ) E JR[X].
Por essa razão, sempre que considerarmos um número algébrico sobre
(Q, diremos simplesmente que se trata de um número algébrico.
Se um complexo a for algébrico, o conjunto
Aa = {f E (Q[X] \ {O}; f(a) = O}
é, por definição, não vazio. Então, também é não vazio o conjunto
de inteiros não negativos {&J; f E Aa}, de modo que existe Pa E Aa
mônico e de grau mínimo. Temos, pois, a definição a seguir.
8.1 Números algébricos 191
Definição 8.2. Dado a algébrico sobre (Q, um polinômio Pa E (Q[X] \
{O}, mônico, de grau mínimo e tendo a por raiz é denominado um
polinômio minimal de a.
A proposição a seguir e seus corolários colecionam as propriedades
mais importantes de polinômios minimais de números algébricos.
Proposição 8.3. Se a é algébrico sobre (Q e Pa é um polinômio mi-
nimal de a, então:
{a) Pa é irredutível sobre (Q.
{b) Se f E (Q[X] é tal que f(a) = O, então Pa I f em (Q[X].
Em particular, Pa é unicamente determinado por a.
Prova.
(a) Se fosse Pa = f g, com f e g não constantes e de coeficientes racio-
nais, então f e g teriam graus menores que o grau de Pa e ao menos
um deles teria a por raiz, uma contradição à minimalidade do grau de
Pa· Logo, Pa é irredutível sobre (Q.
(b) Pelo algoritmo da divisão, existem polinômios q, r E (Q[X] tais que
f(X) = Pa(X)q(X) + r(X),
com r = O ou O::; &r < OPa· Ser=/:- O, então
r(a) = f(a) - Pa(a)q(a) = O,
com &r < &pa, novamente contradizendo a minimalidade do grau de
Pa· Logo, r = O e, daí, Pa I f em (Q[X].
Por fim, se Pa e qª são polinômios minimais de a, segue do item
(b) que Pa I Qa e Qa I Pa em (Q[X]. Mas, como Pa e Qa são ambos
mônicos, temos Pa = Qa· D
192 Números Algébricos e Aplicações
Graças à proposição anterior, dado a E C algébrico, podemos nos
referir a Pa como o polinômio minimal de a.
Corolário 8.4. Se a E C é algébrico e f E Q[X] \ {O} é um polinômio
mônico, irredutível e tal que f(a) = O, então f = p0 •
Prova. Pela proposição anterior, Pa divide f em Q[X]. Mas, como f
é irredutível, deve existir um racional não nulo e tal que f = cp0 • Por
fim, como f e Pa são mônicos, devemos ter e = 1. D
Corolário 8.5. Se f E Q[X] \ Q é irredutível, então f não possui.
raízes múltiplas.
Prova. Podemos supor, sem perda de generalidade, que fé mônico.
Se algum a E C fosse raiz múltipla de f, então a proposiçãb 3.31
garantiria que a também seria raiz da derivada f' de f. Mas, como
f E Q[X] \ {O} é mônico e irredutível, o corolário 8.4 garantiria que f
é o polinômio minimal de a. Portanto, teríamos, pela proposição 8.3,
que f I f' em Q[X], contradizendo a desigualdade âf > âf'. D
Colecionamos, agora, alguns exemplos de aplicação da proposição
8.3 e de seus corolários.
Exemplo 8.6. Sejam f um polinômio não constante de coeficientes
racionais e a um número real tal que a 3 - 3a = f(a) 3 - 3f(a) = -1.
Prove que, para todo inteiro positivo n, tem-se
onde j(n) denota a composição de f consigo mesmo, n vezes.
Prova. Se g(X) = X 3 - 3X + 1, então âg = 3 e, pelo critério de
pesquisa de raízes racionais (a proposição 3.16), g não tem raízes ra-
cionais. Portanto, pelo problema 3, página 163, g é irredutível sobre
Q. Daí, o corolário 8.4 garante que g é o polinômio minimal de a.
8.1 Números algébricos 193
Por outro lado, como estamos supondo que o polinômio g o f tam-
bém tem a por raiz, a proposição 8.3 garante que g divide g o f em
Q[X], digamos (g o f)(X) = g(X)u(X), para algum u(X) E Q[X].
Por fim, suponha que tenhamos provado que g(J(k) (a)) = O para
algum k ~ 1. Então
g(Jk+1(a)) = (g o f)(fk(a)) = g(fk(a))u(fk(a)) = O,
e nada mais há a fazer. D
O exemplo 7.29, em conjunção com o corolário 8.4, garante imedi-
atamente que, se p é primo e w = eis 21r, então o polinômio minimal
p
de w é
Pw(X) = xp-l + XP-2 +···+X+ 1.
O próximo exemplo utiliza este fato para dar uma bela prova alterna-
tiva do exemplo 6.4 de [14], devida ao matemático búlgaro N. Nikolov.
Exemplo 8.7 (IMO). Seja pum primo ímpar. Calcule quantos sub-
conjuntos de p elementos do conjunto {l, 2, ... , 2p} são tais que a
soma de seus elementos é divisível por p.
Solução. Se w = eis ~, então wP = 1 e segue, daí, que
p p
(XP -1)2 = Il(X -wi) Il(X -wi)
j=l j=l
p 2p
= Il(X -wi) II (X -wi)
j=l j=p+l
2p
= Il(X -wi).
j=l
Calculando o coeficiente de XP em ambos os membros da igualdade
acima e lembrando que pé ímpar, concluímos que
2= (8.1)
194 Números Algébricos e Aplicações
onde a soma acima se estende a todos os subconjuntos de p elementos,
{j1, ... ,jp}, de I2p = {1, 2, ... , 2p}.
Por outro lado, se, para O ~ k ~ p-1, denotarmos por ck o número
de conjuntos de p elementos {j1 , ... , }p} C I2p, tais que }1 + · · · + )p ==
k (modp), então wP = 1 garante que o segundo membro de (8.1) é
igual a E1:~ ckwk, de sorte que
p-1
LCkWk = 2.
k=O
Segue do que fizemos acima que w é raiz do polinômio de coefici-·
entes inteiros f(X) = E1:~ ckXk - 2. Note ainda que Cp-1 # O, uma
vez que o conjunto
{ p-lp+l. } 1,p-1,2,p- 2,3,p- 3, ... , -2-, -2-, 2p- l
tem p elementos e a soma dos mesmos é congruente a p - 1, módulo
p. Portanto, 8 f = p - 1.
Mas, como o polinômio minimal de w é Pw(X) = XP- 1+· · ·+X +1,
o item (b) da proposição 8.3 garante que f é um múltiplo inteiro de
Pw, digamos f = CPw, com e E N. Em particular, comparando os
coeficientes de ambos os membros dessa igualdade, concluímos que
c0 - 2 = c1 = · · · = Cp-1 = e.
A fim de calcular o valor de e, note que Co + c 1 + · · · + cp-1 é igual
ao número de subconjuntos de p elementos de I 2p, de maneira que
. (2p) pc + 2 = Co + C1 + · · · + Cp-1 = p ·
Logo,
c0 = e+ 2 = ~ ( (;) - 2) + 2.
D
8.1 Números algébricos 195
Exemplo 8.8 (Romênia). Seja f E Z[X] um polinômio mônico, de
grau ímpar maior que 1 e irredutível sobre Q. Suponha ainda que:
(a) f(O) é livre de quadrados.
(b) As raízes complexas de f têm módulo maior ou igual a 1.
Prove que o polinômio F E Z[X], dado por F(X) =J(X3), também é
irredutível sobre Q.
Prova. Por contradição, suponha que F é redutível sobre Q. Então,
segue do problema 2, página 168, a existência de polinômios g, h E
Z[X], mônicos, não constantes e tais que F = gh. Como 8F = 38f e
8f é ímpar, segue que 8F também é ímpar. Portanto, o problema 4,
página 75, garante que F admite uma raiz real a.
Podemos supor, sem perda de generalidade, que a é raiz de g e que
g é irredutível sobre Q. De fato, se a for raiz de g mas g for redutível
sobre Q, basta tomar o fator mônico e irredutível de g que tem a por
raiz, utilizando em seguida o resultado do problema 2, página 168,
para concluir que tal fator irredutível tem coeficientes inteiros.
Nas condições do parágrafo anterior, sabemos que g é o polinômio
minimal de a sobre Q. Agora, se w é uma raiz cúbica de 1, com w # 1,
então
O= F(a) = f(a 3 ) = f((aw)3) = F(aw) = g(aw)h(aw).
Temos, pois, de distinguir dois casos:
(i) g(aw) = O: como (pelo problema 2, página 74) as raízes não reais
de um polinômio de coeficientes reais ocorrem aos pares complexo-
complexo conjugado, temos que aw = aw2 também é raiz de g. Agora,
agrupando na expressão de g os monômios com expoentes das formas
3k, 3k + 1 e 3k + 2, podemos escrever
(8.2)
196 Números Algébricos e Aplicações
com a, b e e de coeficientes inteiros. Logo,
e
a(ci) + ab(o?) + a2c(ci) = g(a) = O,
a(a3 ) + awb(a3 ) + a:2w2c(a:3) = g(aw) = O,
a( o:3) + aw2b( a 3) + a:2wc( a:3) = g( aw2) = O.
Considerando as três igualdades acima como um sistema linear de
equações em a(o:3 ), b(o:3 ) e c(a3), não é difícilmostrar que a(a3 ) ===
b(a3 ) = c(a3 ) = O. Assim, sendo p o polinômio minimal de a 3 sobre.
(Q, segue da proposição 8.3 que p divide a, b e e em (Q[X] e, portanto
(novamente pelo problema 2, página 74), em Z[X]. Segue de (8.2) que
p(X3 ) divide g(X). Mas, como g é mônico e irredutível, concluímos
que g(X) = p(X3 ). Agora, sendo g um polinômio em X\ segue
novamente de (8.2) que b, e = O e, daí, que
f(X 3 ) = F(X) = g(X)h(X) = a(X3 )h(X).
Tal igualdade, por sua vez, implica que h também deve ser um po-
linômio em X 3, digamos h(X) = l(X3 ), com l E Z[X]. Finalmente,
temos f(X 3 ) = a(X3 )l(X3 ) e, daí, f = gl, com 89, 8l 2 1. Mas isto
contraria a irredutibilidade de f.
(ii) h(aw) = O: como no item (i), concluímos que h(aw2 ) = O. Seja,
ainda como acima,
com a, b .e e de coeficientes inteiros. Então,
e
8.1 Números algébricos 197
Multiplicando a primeira dessas igualdades por w e subtraindo a
segunda do resultado, obtemos
a(a3 ) - a 2c(a3) = O.
Mas, como g é o polinômio minimal de a sobre (Q, invocando nova-
mente a proposição 8.3, concluímos que g divide a(X3 ) - X 2c(X3) em
Q[X] e, logo, em Z[X] (pela observação 2.11, uma vez que g E Z[X] e
é mônico). Fazendo X= O, concluímos que g(O) deve dividir a(O) em
Z. Sendo a(O) = g(O)m, com m E Z, segue que
f(O) = g(O)h(O) = g(O)a(O) = g(0)2m.
Uma vez que f(O) é livre de quadrados, segue que g(O) = ±1.
Portanto, sendo z1, ... , Zk as raízes complexas de g, segue das relações
de Girard que
(8.3)
Por outro lado, como
segue do item (b) do enunciado que lzJI 2 1 e, portanto, lzil 2 1,
para 1 ::; j ::; k. Coligindo tal informação com (8.3), concluímos que
lzil = 1, para 1 ::; j ::; k. Em particular, !ai = 1 e, sendo a real,
devemos ter a= ±1, de sorte que a:3 = ±1. Mas, como fé irredutível
sobre (Q e f(a 3 ) = O, terímos f(X) = X± 1, contrariando o fato de
que af > 1. D
O restante desta seção é destinado a apresentar uma demonstração
de que o conjunto dos números complexos algébricos é fechado para
as operações de adição, subtração, multiplicação e divisão (por um
divisor algébrico não nulo). Começamos com o seguinte resultado.
Teorema 8.9. Se a, /3 E C \ {O} são algébricos, então a+ /3 também
o é.
198 Números Algébricos e Aplicações
Prova. Sejam a = a 1 , ... , am as raízes complexas de Pa e (3 ==
(31, ... , f3n aquelas de Pf3, de modo que
m n
p0 (X) = II (X - ai) e p13(X) = II (X - f3j)·
i=l j=l
Defina
m n m
f(X, X1, .. ,, Xm) = II II (X - xi - f3j) = IIp13(X - Xi)
i=l j=l i=l
mn-1
= xmn + L Ík(X1, ·,, ,Xm)Xk,
k=O
para certos polinômios fo, ... , Ímn-1 E Q[X1, ... , Xm] (uma vez que
Pf3 E (Q[X]).
Se a é uma permutação de Im, então
m m
f(X,Xcr(l),". ,Xcr(m)) = IIp13(X -Xcr(i)) = IIp13(X - Xi)
i=l i=l
ou, ainda,
mn-1 mn-1
xmn + L Ík(Xu(l),,,,, Xcr(m))Xk = xmn + L fk(X1,,, ·, Xm)Xk.
k=O k=O
Portanto, temos
Ík(Xcr(i), ·, ·, Xcr(m)) = Ík(X1, · · ·, Xm),
para todos O ~ k · ~ mn - 1 e a, de sorte que Ík é um polinômio
simétrico em X 1 , ... , Xm, para O~ k ~ mn - 1.
O teorema de Newton 4.12 garante, então, a existência de um
polinômio gk E Q[X1, ... , Xm] tal que
Ík(X1,,,,, Xm) = gk(s1, · ·,, Sm),
8.1 Números algébricos 199
onde s1, ... , Sm E (Q[X1, ... , Xm] são os polinômios simétricos elemen-
tares em X1, ... , Xm. Em particular,
uma vez que
Assim, se h(X) = f(X, a1, ... , am), então, por um lado,
mn-1
h(X) = xmn + L Ík(a1,,,,, am)Xk E Q[XJ
k=O
e, por outro,
m m n
h(X) = IIP13(X - ai)= II II (X - ai - f3i)·
i=l i=l j=l
Logo, h é um polinômio não nulo de coeficientes racionais tal que
~ '
h( a + /3) = O, o que garante que a + f3 é algébrico. D
Observação 8.10. Suponha que Pa,Pf3 E Z[XJ. Então, nas no-
tações da demonstração acima, temos s1(ai), ... , sm(ai) E Z, e
Ík E Z[X1, ... , Xml, para O ~ k ~ mn - 1. Portanto, segue nova-
mente do teorema de Newton que gk E Z[X1, ... , Xm] e, daí, que
para O ~ k ~ mn - 1. Portanto, h E Z[X] e segue do problema 4 que
Pa+f3 E Z[X].
Para mostrar que o conjunto dos números algébricos é fechado para
produtos e quocientes, precisamos do seguinte resultado auxiliar.
Lema 8.11. Se a#- O é algébrico, então a-1 e a 2 também o são.
1
''' ! ''
i
200 Números Algébricos e Aplicações
Prova. Seja /(X)= anXn + ªn-1xn-1 + · · · + a1X + a0 E (Q[X] \ Q
tal que ao =/= O e f(a) = O. Então, g(X) = a0 Xn + a1xn-1 + · · · +
an_1X + an é um polinômio não constante de coeficientes racionais, e ~
é imediato verificar que g( a-1) = O.
Para a 2 , observe que existem polinômios u e v de coeficientes ra-
cionais, não ambos nulos e tais que
f(X) = u(X2) + Xv(X2).
Sendo h(X) = u(X)2 - X v(X)2, temos h E Q[XJ \ {O} e
h(a2) = u(a2)2 - a 2v(a2)2
= (u(a2) - av(a2))(u(a2) + av(a2))
= (u(a2) - av(a2))f(a) = O.
D
Teorema 8.12. Se a, f3 E C\ {O} são algébricos, então af3 e J também
o são.
Prova. Pelo lema anterior, a 2 e {32 são algébricos. Mas, como já
sabemos que a+ f3 é algébrico, segue novamente do lema anterior que
( a + {3) 2 também o é. Agora, uma vez que
duas aplicações do teorema 8.9, juntamente com o resultado do pro-
blema 1, garantem que af3 é algébrico.
Para o que falta,, observe que J = a · ! , com ! algébrico (pelo
lema anterior). Portanto, a primeira parte acima garante que j é
algébrico. D
8.2 Polinômios ciclotômicos 201
Problemas - Seção 8.1
1. * Se r é um racional não nulo e a =/= O é um complexo algébrico,
prove diretamente (i.e., sem recorrer ao teorema 8.12) que ra
também é algébrico.
2. Dado n EN, prove que cos 21r é um número algébrico. , n
3. Sejam p primo e n EN. Prove que o polinômio minimal de -f:(fJ
é f (X) = xn - p.
4. * Seja a E (C algébrico. Se existe f E Z[X] \ Z mônico e tal que
J(a) = O, prove que Pa E Z[XJ.
5. (a) Sejam a, b e e inteiros positivos. Prove que:
(i) y'a + vb + ye é raiz de um polinômio mônico e de
coeficientes inteiros.
(ii) Se y'a+ vb+ ye (j_ Z, então y'a+ vb+ Jc é irracional.
(b) Generalize os itens (i) e (ii) para vb1 + vb2 + · · · + vbn,
onde b1 , b2, ... , bn são inteiros positivos.
6. (OBM.) Prove que o polinômio J(X) = X 5 -X4 -4X3 +4X2 +2
não admite raízes da forma {fr, onde ré um racional e n > 1 é
um natural.
7. Dê uma prova análoga à do teorema 8.9 para mostrar que af3 é
algébrico sempre que a e f3 o são.
8.2 Polinômios ciclotômicos
A teoria de polinômios sobre Zp, p primo, nos permite apresentar
algumas das propriedades elementares de uma classe muito importante
de polinômios, conhecidos como ciclotômicos. Como subproduto do
202 Números Algébricos e Aplicações
estudo que faremos aqui, mostraremos que os polinômios ciclotômi-
cos são exatamente os polinômios minimais das raízes complexas da
unidade.
Sendo n um natural e Wn = eis 2:, consideraremos, no que se-
gue, as raízes n-ésimas da unidade da forma w~, com 1 ~ k ~ n e
mdc (k, n) = 1. Tais raízes são ditas primitivas, e é imediato que
há exatamente cp( n) de tais raízes, onde cp : N --+ N é a função de
Euler. Dados m, n E N, sempre que não houver perigo de confusão
denotaremos seu mdc escrevendo simplesmente ( m, n).
Definição 8.13. Para n E N, o n-ésimo polinômio ciclotômico
é o polinômio
1>n(X) = II (X - w~). (8.4)
l<k<n
(k-:-nF=1
Segue da definição acima que 1>n é momco e 81>n = cp(n). A
proposição a seguir coleciona outras propriedades elementares de 1>n.
Proposição 8.14. Para n EN, temos:
(a) xn - 1 = I1o<dln 1>d(X).
(b) 1>n E Z[X].
(e) 1>n(O) = 1, para n > 1.
Prova.
(a) Observe inicialmente que
II 1>d(X) = II 1>njd(X) = II II (X - W~jd)
O<dln O<dln O<dln l~k~n/d
(k,n/d)=l
= II II (X - w~k).
O<dln 19~n/d
(k,n/d)=l
8.2 Polinômios ciclotômicos 203
Agora, como cada inteiro 1 ~ m ~ n pode ser escrito de modo único
como m = dk, com o < d I n e (k, ~n = 1 (tal d é d = (m, n)), a
última soma acima é claramente igual a
n
II (X - wfi) = xn - 1.
j=l
(b) Façamos indução sobre n EN, notando inicialmente que 1>1(X) =
X -1 E Z[X], por definição. Seja, agora, n > 1 natural e suponha,por
hipótese de indução, que 1>m E Z[X], para todo inteiro 1 ~ m < n.
Se
g(X) = II 1>d(X),
l<d<n
dln
temos que g E Z[X] e, pelo item (a), xn - 1 = 1>n(X)g(X). Mas,
como g é mônico (pois já sabemos que cada 1>m o é), segue da obser-
vação 2.11 que 1>n E Z[X].
(e) Novamente por indução, temos primeiramente
de modo que 1>2 (X) = X + 1 e 1>2 (0) = 1. Seja, agora, n > 1 e
suponha, por hipótese de indução, que 1>m(O) = 1 para todo inteiro
2 ~ m < n. Então, nas notações da prova de (b), temos
g(O) = 1>1(0) II 1>d(O) = (-1) II 1>d(O) = -1,
l<d<n
dln
e segue de xn - 1 = 1>n(X)g(X) que
l<d<n
dln
-1 = 1>n(O)g(O) = -1>n(O),
como desejado. D
i!
!
204 Números Algébricos e Aplicações
Corolário 8.15. Se p é primo, então
<I>p(X) = xp-l + xp-2 + ... + x + 1.
Prova. O item (a) da proposição anterior garante que
de sorte que
o
O exemplo 7.29 mostrou que <I>P é irredutível sobre (Ql, de sorte
que <I>P é o polinômio minimal de wP. No que segue, nosso objetivo
é generalizar este fato, provando que, para todo n E N, o polinômio
minimal Pwn de Wn coincide com o n-ésimo polinômio ciclotômico <I>n.
Precisamos, inicialmente, do seguinte resultado auxiliar.
Lema 8.16. Sejam f, g E Z[X] e p E N um número primo. Se
g E Zp[X] \ Zp e g2 17 em Zp[X], então g I f' em Zp[X].
Prova. Se h E Z[X] é tal que f(X) = g(X)2"Fi(X) em Zp[X], sabemos
que existe um polinômio l E Z[X] tal que
f(X) = g(X) 2h(X) + pl(X)
em Z[X]. Derivando ambos os membros dessa igualdade, obtemos
J'(X) = 2g(X)g'(X)h(X) + g(X)2h'(X) + pl'(X)
em Z[X] e, daí,
f'(X) = g(X)(2 g'(X)h(X) + g(X)h'(X))
D
8.2 Polinômios ciclotômicos 205
Para o próximo resultado, lembre-se de que, se w é uma raiz n-é-
sima da unidade, então a proposição 8.3 garante que seu polinômio
minimal Pw divide xn - 1 em Q[ X]. Em particular, segue do problema
4, página 201, que Pw E Z[X].
Proposição 8.17. Sejam n, p E N tais que p é primo e p f n. Se w é
uma raiz n-ésima da unidade, então Pw(X) = PwP(X).
Prova. Seja ( = wP. Como w e ( são ambos raízes de xn - 1, o item
(b) da proposição 8.3 garante que Pw(X) e Pç(X) dividem xn - l. Por
contradição, suponha que Pw(X) # Pc;(X). Então, a irredutibilidade
de tais polinômios garante, via teorema 7.15, que Pw(X)pc;(X) divide
xn - 1 em Z[X], digamos
xn - 1 = Pw(X)pc;(X)u(X). (8.5)
Se g(X) = Pç(XP), então
g(w) = Pc;(wP) = Pc;(() = o
e, daí, Pw divide g em Z[X]. Seja v E Z[X] tal que Pw(X)v(X) = g(X).
Em Zp[X], temos pelo problema 6, página 178, que
e o teorema 7.20 garante a existência de um polinômio mônico e irre-
dutível h E Zp[X] tal que h(X) 1 Pw(X),Pc;(X) em Zp[X]. Segue de
(8.5) que h(X) 2 1 (Xn - I) em Zp[X], e o lema anterior garante que
h(X) 1 nxn-l em Zp[X]. Mas, como h é mônico e n # O, aplicando no-
vamente o teorema 7.20 obtemos 1 ::S: l ::S: n-1 tal que h(X) = xt em
Zp[X]. Logo, h(X) f (Xn-I) em Zp[X], o que é uma contradição. D
Chegamos finalmente ao resultado desejado.
Teorema 8.18. Se Wn = eis 2;, então Pwn
<I>n E Z[X] é irredutível sobre Q[X].
<I>n. Em particular,
206 Números Algébricos e Aplicações
Prova. Tome k E N tal que k > 1 e mdc (k, n) = 1, e seja k ===
PI ... pz, com PI, ... , pz primos que não dividem n. Repetidas aplica-
ções da proposição anterior nos dão
Em particular, os cp(n) números w!, com 1 ::; k::; n e mdc (k, n) = 1,
são raízes distintas de Pwn, de maneira que
Mas, como <I>n é mônico de coeficientes inteiros e tem Wn por raiz, a
definição de polinômio minimal garante que Pwn = <I>n· D
Terminamos esta seção provando um caso particular do teorema
de Dirichlet sobre primos em progressões aritméticas. Esse teorema
afirma que uma progressão aritmética não constante e infinita de nú-
meros naturais contém uma infinidade de números primos, contanto
que sua razão e seu primeiro termo sejam relativamente primos. Em
que pese o teorema de Dirichlet ser uma generalização natural do te-
orema de Euclides da infinitude dos primos ( este último provado na
seção 1.3 de (14]), as provas conhecidas desse resultado estão fora do
alcance da maior parte dos currículos de graduação em Matemática.
Todavia, a teoria de polinômios ciclotômicos desenvolvida acima nos
permite apresentar uma demonstração elementar do teorema de Di-
richlet, no caso particular em que o primeiro termo da progressão é
igual a 1.
Teorema 8.19 (Dirichlet). Se n EN, então a PA l, 1 +n, 1 + 2n, ...
contém infinitos números primos.
Prova. Sejam PI, ... ,Pk primos quaisquer e <I>n o n-ésimo polinô-
mio ciclotômico. Como <I>n é mônico, escolhendo um inteiro y su-
ficientemente grande, temos <I>n(ynpI .. ·Pk) > 1. Agora, fazendo
8.2 Polinômios ciclotômicos 207
a = ynpI ... Pk temos, módulo a, que
<I>n(a) <I>n(O) = 1 (moda).
Seja, então, <I>n(a) = aq + 1 = ynpI ... pkq + 1. Se p for um fator
primo de <I>n(a), temos p =/:.PI, ... ,Pk e mdc (p, n) = l. Portanto, se
provarmos que p _ 1 (mod n), seguirá que pé um primo em nossa PA,
diferente de PI, ... , Pk.
Para o que falta, note que mdc (p, a) = 1, de modo que podemos
considerar t := ordp(a). Como p 1 <I>n(a) e <I>n(a) 1 (an - 1) (pois
<I>n(X) 1 (Xn - 1) em Z[X]), vem que an 1 (modp) e, daí, t I n.
Se mostrarmos que t = n, seguirá das propriedades da ordem e de
ap-I - 1 (modp) que n 1 (p - 1) ou, o que é o mesmo, p _ 1 (mod n).
Se e E {a,a + p}, segue de at _ 1 (modp) que ct 1 (modp).
Suponha, por contradição, que t < n. A proposição 8.14, juntamente
com o fato de que t I n, nos dá
O<dln O<d<n dln
= <I>n(c)h(c) IJ <I>d(c)
O<dlt
= <I>n(c)h(c)(ct - 1),
onde h E Z[X] é um polinômio apropriado. Mas, como e a (modp),
segue que
<I>n(c) - <I>n(a) O (modp),
de maneira que
cn - 1 = <I>n(c)h(c)(ct - 1) - O (modp2).
Por outro lado,
1
!' !
li'
l!
: 1
!
!
1
'
11
'i'
1 .,
:1
'I
208 Números Algébricos e Aplicações
e (pelos cálculos acima) tanto (a+pt-1 quanto an-1 são múltiplos de
p2 . Portanto, olhando a última igualdade acima módulo p2 , concluímos
que
o que é um absurdo. D
Para uma discussão autocontida da prova do caso geral, sugerimos
ao leitor as referências [37] ou [51).
Problemas - Seção 8.2
1. Sendo p primo e k natural, calcule explicitamente o polinômio
<I>pk·
2. Se n > 1 é um inteiro par, mostre que <I>2n(X) = <I>2n(-X).
3. Se m e n são naturais distintos, prove que <I>m e <I>n não têm
fatores não constantes comuns em C[X].
4. Se n > 1 é natural e d é o produto dos fatores primos distintos
de n, mostre que
<I>n(X) = <I>d (xnfd).
5 O . t { 1 1 1 1 } t, , . - "t 't" . conJun o , 2, 3, 4, . . . con em vanas progressoes an me 1-
6.
7.
cas. Prove que, dado k > 2 inteiro, esse conjunto contém uma
progressão de k termos que não está contida em uma progressão
de k + 1 termos do conjunto.
Sejam a, n EN, sendo a> 1 e n ímpar. Prove que a congruência
xn - a (modp) tem solução para uma infinidade de primos p.
Seja a EN não quadrado perfeito. Prove que há infinitos primos
p tais que a não é resíduo quadrático, módulo p.
8.3 Números transcendentes 209
8. Sejam a, b E Z tais que, para cada n E N, existe um inteiro e
para o qual n 1 (c2 +ac+b). Prove que a equação x2 +ax+b = O
tem raízes inteiras.
8.3 Números transcendentes
Como foi dito no início da seção 8.1, números transcendentes são
precisamente os números complexos que não são raízes de polinômio
não nulo algum com coeficientes racionais. Contudo, até esse ponto
nem mesmo sabemos se tais números existem.
Uma maneira possível de estabelecer a existência de números trans-
cendentes (mesmo reais) é começar mostrando que o conjunto A dos
números algébricos (reais) é enumerável, i.e., que seus elementos po-
dem ser listados como os termos de uma sequência (xn)n~l, de modo
que A= {x1,x2,x3 , ... }; então, mostra-se que o conjunto lR não é
enumerável, de forma que lR \ A é necessariamente não vazio. Não
seguiremos esse caminho aqui, uma vez que ele requeriria que desen-
volvêssemos os resultados básicos sobre conjuntos enumeráveis, bem
comoque estabelecêssemos a não enumerabilidade do conjunto dos
reais, e isso nos desviaria bastante do fio condutor deste volume. Para
o leitor interessado, sugerimos [26] ou (39).
Em vez de seguir a estratégia delineada no parágrafo anterior, apre-
sentamos a construção (explícita) do primeiro número transcendente
descoberto, devida ao matemático francês do século XIX J. Liouville.
Nossa apresentação segue o maravilhoso clássico (19).
Para o que segue, dizemos que um número algébrico a tem grau
n se seu polinômio minimal Pa tem grau n; em particular, se n > 1,
então é claro que a é irracional. . Precisamos introduzir mais uma
nomenclatura: dizemos que uma propriedade P(k), dependente de um
natural k, é verdadeira para todo k suficientemente grande se existe
k0 E N tal que P(k) é verdadeira sempre que k > k0 ; ademais, se
1 !
1 !
'i !
210 Números Algébricos e Aplicações
um valor específico de k0 for irrelevante no contexto sob discussão,
escreveremos simplesmente que P(k) é verdadeira para todo k » 1.
Estamos finalmente em posição de enunciar e provar o teorema de
Liouville.
Teorema 8.20 (Liouville). Seja a E C um número algébrico de grau
n > 1. Se (Pk)k?.l e (qk)k?.l são sequências de inteiros não nulos tais
1. Pk t-que Imk---++oo qk = a, en ao
la_Pkl > _1 qk q~+l' (8.6)
para todo k » 1.
Prova. Seja ak = Pk. Como ak ~ a, temos que qk ~ +oo. Como
qk
a é algébrico de grau n > 1, existe f E Z[X] \ {O} de grau n e tal que
f(a) = O, digamos,
f(X) = anXn + · · · + a1X + a0 ,
com a0,a1, ... ,an E Z.
Agora, observemos que
1
n
j=l
1 n . .
::::; I I · "'"""" 1 ªi 1 · 1 a{ - aJ 1, ak-a ~ j=l
onde utilizamos a desigualdade triangular na última passagem acima.
Portanto, um pouco de álgebra elementar fornece
I a
fk(a_ka) 1 Ln ia{ - ail ::::; lail. 1 1 ak-a j=l
n
= L lail ·lati+ a{-2a + ... +ai-li·
j=l
(8.7)
8.3 Números transcendentes 211
k
Como ak --+ a, temos lak - ai < 1 para todo k » 1. Utilizando
a desigualdade triangular, concluímos que
(8.8)
para todo k » 1 e, daí, (8. 7) e (8.8) fornecem
1:.(~·~1 = t. la;l(la,IH + la,l;-,lal + · · · + lalH)
n
::::; L lail ( (1 + lal)j-l + (1 + lal)1-2lal + · · · + lalj-l)
j=l
n
< LJlail((l + la1)1-1,
j=l
para todo k » 1, onde
n
e== I:j1aj1((1 + 1a1f-1
j=l
depende somente de a, e não de k.
Então, para todo k » 1 (escolhido de forma tal que lak - ai < 1),
temos
k
Agora, uma vez que qk --+ +oo, temos lak - ai < 1 e qk > C para
todo k » 1, de forma que -01 > _1._ e, portanto, qk
I Pk 1 1 a - - > -lf(ak)I, qk qk
para todo k » 1.
Como passo final, observe que se f(ak) = O, então teríamos f(X) =
(X - ak)g(X) para algum g E Z[X] \ {O} de grau n-1. Como a=/= ak
212 Números Algébricos e Aplicações
(pois a é irracional), concluímos que a seria raiz de g contrad· d
f t d 1. A • , 1zen O O a O o po mom10 minimial de a ter grau n Logo f( ) .../.. 0 . · , ªk r e, assim
1/(ak)I =an(::)n +···+a1 (::) +ao
1
= qk lanPk + · · · + a1pkqk-l + a0qkl
>__!_
- qk
Finalmente, combinando essa última desigualdade com a ant .
a ela, obtemos (8.6). enor · D
- O exemplo a seguir, também devido a Liouville, traz uma aplica-
çao engenhosa do teorema anterior à construça-o de n· u' m . t d , eros rans-
cen e~tes. Para u~a apreciação adequada do mesmo, o leitor precisa
p~~smr uma relativa familiaridade com manipulações aritméticas de
senes convergentes, no nível do capítulo 3 de [12].
Exemplo 8.21 (Liouville). Se ª1 a2 a3 ... E {1 2 3 9} t-, l ' ' ' , , , · · · , , en ao o
numero rea
ª1 a2 a3
a=-+-+ + 1011 1021 1031 . . . .
é trancendente.
Prova. Suponha que a fosse algébrico de grau n > 1 ('""' , 1 t . . . . , '-" e c aramen e
irracional - veJa o problema 1). Para k 2:: 1, seja
k
L a· p ªk = _J = _k_
. 10il 10kl'
J=l
com Pk EN. Então, por um lado, segue do teorema de Liouville que
la- akl > 1
(10k1r+l'
8.3 Números transcendentes
213
para todo k » 1. Por outro,
""°" a· 1 1 la - akl = LJ l~il < 10(k+I)I · 9, 999 ... = 10(k+I)l-l'
j>k
Portanto, para k » 1 teríamos
1 1
10(k+l)l-l > ( 10kl) n+I
e, daí, (k + 1)! - 1 < k!(n + 1). Contudo, essa última desigualdade
equivale a
k!(k - n) < 1,
que é falsa para k 2:: n + 1.
Finalmente, uma vez que a hipótese de que a é algébrico leva
a uma contradição, não temos alternativa além de concluir que a é
transcendente. D ·
Terminamos recordando que, em [12], mostramos que os números
e e 1r são irracionais. Contudo, métodos mais refinados de Análise real
permitem mostrar que tais números são transcendentes. Ambos tais
fatos foram estabelecidos ainda no século XIX, sendo devidos ao ma-
temático francês C. Hermite e ao matemático alemão F. Lindemann,
respectivamente. Para o leitor interessado, recomendamos [26].
Exemplo 8.22. Admitindo a transcendência dos números e e 1r, os
teoremas 8.9 e 8.12 permitem justificar a transcendência de vários
números complexos. Por exemplo, o número 1r + v'2 é transcendente,
posto que, se fosse algébrico, teríamos
1í = (1r + v'2) - v'2,
também algébrico, por ser uma diferença entre dois números algébri-
cos.
1
!
1'
214 Números Algébricos e Aplicações
Problemas - Seção 8.3
1. Prove que o númbero a do Exemplo 8.21 é irracional (esse fato
foi utilizado na discussão do exemplo).
2. Assumindo a transcendência de e e de 1r, prove diretamente (i.e.,
sem apelar para o teorema 8.9) que os números 1r + J2 e e+ .J3
também são transcendentes.
3. Se a E C é transcendente e n EN, prove que y'a e an também
são transcendentes.
CAPÍTULO 9
Recorrências Lineares
Neste capítulo final, completamos o trabalho iniciado na seção 4.3
de [10], mostrando como resolver uma recorrência linear de coeficientes
constantes e ordem qualquer. Precisamos, inicialmente, de duas defi-
nições, as quais se revelarão centrais para tudo o que segue.
Definição 9.1. Uma sequência (an)n2'.l é dita recorrente linear, se
existirem um inteiro positivo k e números complexos u 0 , ... , uk-I, nem
todos nulos, tais que
(9.1)
para todo n ~ 1.
O natural k é denominado a ordem da recorrência linear e a equa-
ção (9.1) é a relação de recorrência ou, simplesmente, a recorrên-
cia satisfeita pela sequência. Neste caso, (an)n2'.l é também denomi-
nada uma recorrência linear de ordem k.
215
216 Recorrências Lineares
Dados a1, ... , ak E C, é imediato verificar que há exatamente uma
sequência (an)n2'.l satisfazendo (9.1) e tal que ªi = ai, para 1 :::; j:::; k.
Portanto, uma recorrência linear de ordem k fica totalmente deter-
minada quando conhecemos a relação de recorrência linear por ela
satisfeita e os valores de seus k primeiros termos.
Definição 9.2. Seja ( an)n2'.l uma sequência satisfazendo a recorrência
linear
an+k = Uk-lan+k-1 + · · · + Uoan,
para n 2: 1, onde uo, ... , uk-l são números complexos dados, nem
todos nulos. O polinômio característico de ( an)n2'.l é o polinômio
f E C[X] dado por
"(9.2)
9.1 Um caso particular importante
Discutimos, inicialmente, o caso em que as raízes do polinômio
característico da recorrência são duas a duas distintas; apesar da li-
mitação envolvida, este caso é bem mais simples que o caso geral e
encontra muitas aplicações interessantes. O resultado de interesse é o
conteúdo do teorema a seguir.
Teorema 9.3. Seja ( an)n2'.1 uma sequência satisfazendo, para todo
n 2: 1, a relação de recorrência
onde uo, ... , uk-1 são números complexos dados, nem todos nulos.
Se as raízes complexas z1 , z2, ... , zk do polinômio característico de
(an)n2'.1 são todas distintas e ªi = ªi para 1 :::; j :::; k, então
9.1 Um caso particular importante
onde x 1 , ... , Xk é a solução do sistema de Vandermonde
X1 + X2 + · · · + Xk
zix1 + Z2X2 + · · · + ZkXk
Z~X1 + Z~X2 + · · · + Z~Xk
217
(9.3)
Prova. Como z1 , z2 , .•• , Zk são dois a dois distintos, a proposição 6.6
garante a existência de uma única solução x1 , x2, ... , xk do sistema
(9.3). Podemos, pois, definir a sequência (bn)n2'.l pondo
b n-1 n-1 +n-1 w > 1 n = Z1 X1 + Z2 X2 · · · + Zk Xk, V n _ .
Então, para 1 :::; j :::; k, o sistema (9.3) fornece
Por outro lado, sendo f o polinômio característico de (an)n2'.I, segue
da definição dos bi 's que
bn+k - Uk-lbn+k-1 - """ - Uobn =
k k k
"""'zi:i,+k-lx · - uk 1 """'zi:i,+k-2x · - · · · - u0 """'zi:i-1x · L.....!J J -L.....tJ J L.....!J J
j=l j=l j=l
k
L z7-1xi(zj - Uk-1zJ-1 - · · · - uo)
j=l
k
L z7-1xif(zi) = O.
j=l
Portanto, a sequência (bn)n2'.l satisfaz a mesma recorrência linear
que (an)n2'.l e seus k primeiros termos coincidem, respectivamente, com
os k primeiros termos da sequência (an)n2'.l· Logo, uma fácil indução
garante que an = bn para todo n 2: 1, conforme desejado. D
:
!
i
'. 'i
218 Recorrências Lineares
O exemplo a seguir mostra que não necessariamente precisamos co-
nhecer explicitamente as raízes do polinômio característico para apli-
car o resultado do teorema anterior a fim de obter informações rele-
vantes acerca do comportamento de uma dada recorrência linear.
Exemplo 9.4 (Crux). Seja A 1A 2A 3A4 o quadrado de vértices A1 =
(O, 1), A2 = (1, 1), A3 = (1, O) e A4 = (O, O). Para cada n 2:: 1,
seja An+4 o ponto médio do segmento AnAn+l · Prove que, quando
n ---+ +oo, a sequência de pontos An converge para um ponto A e
calcule as coordenadas de tal ponto.
Prova. Para cada n 2:: 1, seja An(xn, Yn)· A condição do enunciado,
juntamente com a fórmula para as coordenadas do ponto médio de um
segmento (veja o corolário 6.2 de [11]), garante que
2Xn+4 = Xn+1 + Xn, Y n 2:: 1,
valendo uma recorrência análoga para a sequência (Yn)n::::i·
O polinômio característico da recorrência acima é
f(X) = 2X4 - X - 1 = (X - l)g(X),
onde g(X) = 2X3 + 2X2 + 2X + 1. Se a, b e c são as raízes complexas
de g, segue das relações de Girard que
a+b+c= -1 e ab+ac+bc= 1. (9.4)
Portanto,
a2 + b2 + c2 =(a+ b + c)2- 2(ab + ac + bc) = (-1)2- 2 · 1 = -1 < O,
de sorte que, pelo exemplo 4.7 e problema 2, página 74, podemos
supor que a é real e b e c são complexos não reais, conjugados. Em
particular, a, b e c são dois a dois distintos e, como 1 não é raiz de g,
9.1 Um caso particular importante 219
o teorema 9.3 garante a existência de constantes reais A, B, C e D
tais que
Xn = Aan-l + Bbn-l + Ccn-l + D, Y n 2:: l. (9.5)
Para sabermos o que ocorre quando n ---+ +oo, note inicialmente
que g(-l)g(O) = -1 < O e, assim, o teorema de Bolzano 5.2 garante
que -1 < a < O. Portanto, as relações (9.4) fornecem
1 = a(b + c) + bc = a(-1 - a)+ bb,
de modo que lbl2 = a(a + 1) + 1 < 1. Mas, como lbl = lei, segue que
lbl = lei < 1. Então, a relação (9.5), juntamente com o resultado do
exemplo 9.8, garante que
lim Xn = D.
n--++oo
A fim de calcular o valor de D, recorde que X1 = X4 = O e X2 =
x3 = 1. Portanto, fazendo sucessivamente n = 1, 2, 3 e 4 em (9.5),
obtemos o sistema linear
A+B+C+D
Aa+Bb+Ce+Dd
Aa2 + Bb2 + Cc2 + Dd2
Aa3 + Bb3 + Ce3 + Dd3
1
o
o
1
Multiplicando as três últimas equações por 2 e somando membro a
membro as quatro igualdades resultantes, chegamos a
Ag(a) + Bg(b) + Cg(e) + 7D = 3.
Mas, uma vez que a, b e e são as raízes de g, segue que 7 D = 3 ou,
ainda, D=~·
De modo análogo, provamos que limn--++oo Yn = ~ e, assim,
D
1
ii
ti
I:
1: 1
220 Recorrências Lineares
Problemas - Seção 9.1
1. Seja A1A2A3 o triângulo do plano cartesiano de vértices A1(0, O),
A2 (1, O) e A3 (!,O). Para cada n 2: 1, seja An+3 o baricentro do
triângulo AnAn+1An+2· Se An(Xn, Yn), mostre que Xn ---+ 1~ e
Yn---+ 1 quando n---+ +oo.
2. Se a é a maior raiz positiva do polinômio X 3 - 3X2 + 1, mostre
que os números l a1788 J e l a1988 J são, ambos, múltiplos de 17.
9.2 Sequências, séries e continuidade em CC
Nesta seção, estendemos algumas definições e resultados dos capí-
tulos 3 e 4 de [12] a funções com valores complexos. Observamos que
o material aqui apresentado (mais precisamente, o teorema 9.19) foi
utilizado na prova do teorema fundamental da álgebra, na seção 3.3,
e será de fundamental importância para a discussão do material da
seção 9.3.
Dados a E C e R > O, denotamos por D(a; R) o disco aberto de
centro a e raio R, i.e., o subconjunto de (C dado por
D(a; R) = {z E C; lz - ai < R}.
Analogamente, o disco fechado de centro a e raio R é o subconjunto
D(a; R) de C, dado por
D(a; R) = {z E C; lz - ai ::; R}.
Um conjunto U C (C é aberto se, para todo a E U, existir R > O
tal que D(a; R) e U. Um conjunto F e (C é fechado se Fc = C\F for
aberto. É imediato que 0 e (C são subconjuntos abertos de (C (no caso
de 0, não há como a condição exigida pela definição não ser satisfeita,
uma vez que não existe z E 0); portanto, (C = C\0 e 0 = C\C também
são fechados. Colecionamos, a seguir, um exemplo menos trivial.
9.2 Sequências, séries e continuidade em C 221
Exemplo 9.5. Para todos a E (C e R > O o disco aberto D(a; R) é
um conjunto aberto e o disco fechado D( a; R) é um conjunto fechado.
Prova. Escolhido arbitrariamente z E D(a; R), seja r = R - lz - ai.
Então, r > O e afirmamos que D(z; r) C D(a; R) (veja a figura 9.1), o
que será suficiente para garantir que D(a; R) é aberto.
Figura 9.1: todo disco aberto é um conjunto aberto.
Para o que falta, tome w E D(z; r). Pela desigualdade triangular,
temos
lw - ai = l(w - z) + (z - a)I ::; lw - zl + lz - ai
::; r + lz - ai = R
e, daí, w E D(a; R). Mas, como tal sucede com todo w E D(z; r),
concluímos que D(z; r) e D(a; R), conforme desejado.
Para a segunda parte, é suficiente mostrar que U = (C \ D(a; R) é
aberto. Para tanto, tome z E U e seja r = lz - ai - R. Então, r > O
e, como no primeiro caso, mostramos facilmente que w E D(z; r) =?-
w EU, de sorte D(z; r) e U. Logo, Ué, realmente, aberto. D
222 Recorrências Lineares
Voltemo-nos, agora, às sequências de números complexos,
<lendo, às mesmas, o conceito de convergência.
Definição 9.6. Dizemos que uma sequência (zn)n~I em <C converge
para um limite z E <C, e denotamos Zn --+ z ou limn-++oo Zn = z, se a
seguinte condição for satisfeita:
',!E > O, :l no E N; n > no =} 1 Zn - z 1 < E.
Heuristicamente, o cumprimento da condição estipulada pela de-
finição acima significa que, à medida que n --+ +oo, os termos Zn se
aproximam cada vez mais de z. Realmente, a definição dada estipula
que a sequência (zn)n~I converge para z E <C se, dado arbitrariamente
um raio E > O, existir um índice n0 E N tal que os termos Zn, para
n > n 0 , pertençam todos ao disco aberto D(z; e).
Para o que segue, definimos uma subsequência (znk)k~1 de uma
sequência (zn)n~I como a sequência obtida pela restrição de (zn)n~I
a um subconjunto infinito { n 1 < n2 < n 3 < · · · } de índices; de um
ponto de vista mais rigoroso, (znk)k~I é a sequência f o g : N --+ <C,
onde f : N --+ <C e g : N --+ N são dadas por J(n) = Zn, para todo
n EN, e g(k) = nk, para todo k EN.
O resultado a seguir encerra duas propriedades fundamentais do
conceito de convergência de sequências de números complexos. O item
(a) do mesmo garante que os termos de uma sequência convergente não
podem se aproximar de dois limites distintos.
Lema 9. 7. Seja (zn)n>I uma sequência em <C.
(a) Se Zn--+ z e Zn--+ w, então z = w.
(b) Se (znk)k~I é uma subsequência de (zn)n>I e Zn --+ z, então
Znk --+ z.
9.2 Sequências, séries e continuidade em (C 223
Prova.
(a) Se z -=J. w, então E= lz - wl > O. Mas, como ! ainda é positivo e
Zn--+ z e Zn --+ w, existem naturais n1 e n2 tais que lzn - zl < ! para
n > n1 e I Zn - w 1 < ! para n > n2. Portanto, tomando um índice
n > n1 , n2 e aplicando a desigualdade triangular, obtemos
lz - wl = l(z - Zn) + (zn - w)I :=::; lz - Znl + lzn - wl
E E
< 2 + 2 =E= lz - wl,
o que é uma contradição. Logo, z = w.
(b) Dado E> O, a convergência de (zn)n~I para z garante a existência
de no EN tal que lzn - zl < E, para n > no. Agora, como n1 < n2 <
n3 < · · ·, existe k0 E N tal que k > k0 =} nk > n0 . Portanto, para
tais valores de k, temos lznk - zl < E, de sorte que (znk)k~Itambém
converge para z. D
Graças ao item (a) do lema anterior, se uma sequência (zn)n~I em
(C converge para z E <C, diremos, doravante, que zé o limite de (zn)n>I·
Para os propósitos destas notas, um dos exemplos mais importan-
tes de sequência convergente é o isolado a seguir. A esse respeito, veja
também o problema 2.
Exemplo 9.8. Se lzl < 1 e Zn = zn, para todo n ~ 1, então (zn)n>I
converge para O.
Prova. Inicialmente, observe que lzn - OI = lznl = lzln. Agora, se
(an)n~I é a sequência de números reais dada por an = lzln, para n ~ 1,
então o exemplo 3.3 de [12] garante que an--+ O. Portanto, dado E> O,
existe n0 E N tal que O ::::; an < E, para n > no. Assim, para n > no,
temos lzn - OI = an < E, de sorte que Zn--+ O. D
Dada uma sequência (zn)n~I de números complexos, podemos es-
crever Zn = Xn + iyn, para todo n ~ 1, com Xn, Yn E IR. O próximo
224 Recorrências Lineares
resultado relaciona a convergência da sequência (zn)n2':l em (C com as
convergências das sequências (xn)n2:1 e (Yn)n2:1 em IR.
Lema 9.9. Seja (zn)n2:1 uma sequência de números complexos, com
Zn = Xn + iyn, para todo n 2: 1, onde Xn, Yn E IR. Então, (zn)n>i
converge em C se, e só se, (xn)n2:1 e (Yn)n2:1 convergem em IR. Ad~-
mais, se Xn --+ a e Yn --+ b, para certos a, b E IR, então Zn --+ z, onde
z =a+ ib.
Prova. Suponha, primeiramente, que Zn --+ z, onde z =a+ ib, com
a, b E IR, e seja dado E > O. Corno
ternos fxn - af, fYn - bf < E se fzn - zf < E. Mas, corno Zn--+ z, existe
no E N tal que n > no =} f zn - zf < E. Então, para cada um de
tais n, ternos realmente que f xn - af, f Yn - bf < E, o que estabelece as
convergências desejadas.
Reciprocamente, suponha que Xn --+ a e Yn --+ b, e seja dado E > O.
Corno
teremos fzn - zf < E se fxn - af, fYn - bf < f Mas, corno Xn --+ a
e Yn --+ b, existem n1, n2 E N tais que n > n1 =} fxn - af < ~ e
n > n2 =} fYn - bf < f Se no= rnax{n1,n2}, então, para n > n0 ,
ternos fxn - af, fYn - bf < ~ e, daí, f zn - zf < E, o que estabelece a
convergência desejada. D
Precisamos, agora, da definição a seguir.
Definição 9.10. Uma sequência (zn)n2':l em (C é de Cauchy se, dado
E > O, existir n0 E N tal que
m, n > no =} fzm - Znf < E.
9.2 Sequências, séries e continuidade em <C 225
Se (zn)n2':l é urna sequência convergente em C, então (zn)n2':l é de
Cauchy. De fato, se Zn --+ z e E > O é dado, então existe n0 E N tal
que fzn - zf < ~' para todo n > no. Portanto, param, n > n0 , segue
da desigualdade triangular para números complexos que
E E
lz - z f < f z - zf + lz - z f < - + - = E. m n _ m n _ 2 2
Reciprocamente, ternos o seguinte resultado.
Proposição 9.11. (C é completo. Mais precisamente, se (zn)n>l é
uma sequência de Cauchy em C, então (zn)n2:i converge.
Prova. Seja Zn = Xn +iYn, com (xn)n2:1 e (Yn)n2:1 sequências de núme-
ros reais. Dado E > O, torne n 0 E N corno na definição de sequência de
Cauchy. Corno fxm - Xnl ~ fzm - Znf, segue que (xn)n2:1 é de Cauchy
em IR. Portanto, o teorema 3.16 de [12] garante que (xn)n2':l é con-
vergente, para x E IR, digamos. Analogamente, existe y E IR tal que
Yn--+ y. Portanto, sendo z = x+iy, segue do lema 9.9 que Zn --+ z. D
Corno no caso real ( tratado no capítulo 3 de [12]), dada urna
sequência (zn)n2:1 de números complexos, definimos a série1 Lk2':l zk
corno sendo a sequência (sn)n2:1, tal que sn = E;=l Zk, para todo
n EN. Também corno lá, dizemos que sn é a n-ésima soma parcial
da série, e que a série converge se existir o limite s := lirnn-++oo sn;
adernais, nesse caso dizemos que sé a soma da série em questão. Em
símbolos, escrevemos
n
~ Zk = lirn ~ Zk, 6 n-Hoo6
k2':1 k=l
caso o limite do segundo membro exista.
Ilustramos, a seguir, o exemplo de urna série convergente que será
de importância fundamental na próxima seção.
1Por vezes, consideraremos uma sequência (zn)n>o de números complexos e a
série correspondente Ek~o Zk·
,I
,'
226 Recorrências Lineares
Exemplo 9.12. Se a E C\ {O}, mostre que, para z E D(O; 1!1), temos
Prova. Pelo lema 1.12, a n-ésima soma parcial da série do enunciado
é
n 1 ( )n+l
"'(azt = - az
L...,; 1 - az
1 (azr+l
1- az 1- az
k=O
Agora, para z E D(O; 1!1 ), temos lazl < 1, de sorte que, pelo exemplo
9.8, temos (azr-+ O quando n-+ +oo. Portanto, segue da igualdade
acima que, para z E D(O; 1!1),
n 1 (azr+l· 1
"'(azt = lim "'(azt = - lim -·-
L...,; n--++oo L...,; 1 - az n--++oo 1 - az 1 - az .
k~O k=O
D
Também de fundamental importância é o conceito de série abso-
lutamente convergente, i.e., uma série Lk~o ak tal que a série real
Lk>O lakl converge. Para n E N, sejam sn = L~=l ak e tn = L~=l lakl,
de ~rte que a sequência (tn)n~I converge. A desigualdade triangular
para números complexos fornece, para m > n inteiros,
m m
lsm~snl = L ak ~ L lakl =tm-tn.
k=n+l k=n+l
Agora, vimos no capítulo 3 de [12) que, como (tn)n~I converge, temos
(tn)n~l de Cauchy; portanto, dado E > O, existe ko E N tal que m >
n > ko =} tm - tn < E. Logo, também temos lsm - snl < E para
m > n > k0 , de sorte que (sn)n~o também é de Cauchy. Como vimos
na proposição 9.11 que toda sequência de Cauchy em (C é convergente,
o argumento acima prova o resultado a seguir.
9.2 Sequências, séries e continuidade em C 227
Proposição 9.13. Em C, toda série absolutamente convergente é con-
vergente.
Antes de continuar, precisamos entender o que vem a ser uma
função contínua definida e tomando valores em um subconjunto de C.
Definição 9.14. Dado um subconjunto não vazio X de C, dizemos
que uma função f : X -+ C é contínua se a seguinte condição for
satisfeita: para toda sequência (zn)n~I de pontos de X, se Zn -+ z,
com z E X, então f(zn)-+ f(z).
A proposição a seguir nos permitirá construir um exemplo de fun-
ção contínua de nosso interesse.
Proposição 9.15. Se f, g : X -+ C são funções contínuas, então
f + g, fg: X-+ C também são contínuas.
Prova. Seja dada uma sequência (zn)n~I em X, tal que Zn-+ z, com
z E X. Observe inicialmente que, pela desigualdade triangular para
números complexos,
l(f + g)(zn) - (! + g)(z)I = l(f(zn) - f(z)) + (g(zn) - g(z)I
~ lf(zn) - f(z)I + lg(zn) - g(z)I.
Agora, dado E> O, como f(zn) -+ f(z) e g(zn) -+ g(z), existe n0 EN
tal que
é
n >no=} lf(zn) - f(z)I, lg(zn) - g(z)I < 2.
Portanto, também para n > n0 , segue dos cálculos acima que
é é
l(f + g)(zn) - (! + g)(z)I ~ 2 + 2 = E
e, daí, (! + g)(zn) -+ (! + g)(z).
228 Recorrências Lineares
Para f g, e aplicando duas vezes a desigualdade triangular para
números complexos, obtemos
l(f g)(zn) - (f g)(z)I = lf(zn)g(zn) - f(z)g(z)I
:::; lf(zn) - f(z)llg(zn)I + lf(z)llg(zn) - g(z)I
:::; lf(zn) - f(z)llg(zn) - g(z)I
+ lf(zn) - f(z)llg(z)I + lf(z)llg(zn) - g(z)I.
Como antes, dado E > O, tome n0 E N tal que n > n0 implique
lf(zn) - f(z)I < min { /%, 3(lg(z;I + l)}
e
lg(zn) - g(z)I < min { li, 3(lf(z;I + l)}.
Então, para n > n0 , segue dos cálculos acima que
l(f g)(zn) - (f g)(z)I :::; li· li+ 3(lg(z;I + 1) · lg(z)I
e, daí, (f g)(zn)-+ (f g)(z).
E
+ lf(z)I · 3(lf(z)I + 1)
E E E
<-+-+-=E 3 3 3
D
Exemplo 9.16. Dados n EN e ao, a1, ... , ªn-l, an E CC, com an -=/:- O,
a função polinomial f : CC -+ CC, tal que
para z E CC, é contínua.
Prova. Evidentemente, as funções constantes e a função z M z são
contínuas. Portanto, aplicando várias vezes a segunda parte da propo-
sição anterior, concluímos que, para O :::; k :::; n, a função z M akzk é
9.2 Sequências, séries e continuidade em C 229
contínua. Agora, aplicando várias vezes a primeira parte da proposição
anterior, concluímos que a soma de tais funções, quando k varia de O a
n, também é contínua. Mas tal soma é, precisamente, a função f. D
Voltemo-nos, agora, á discussão de séries de potências em CC. Uma
série de potências em CC é uma série da forma 1:\:::::o akzk, onde
( an)n:::::o é uma sequência dada de números complexos.
Admita que a sequência ( -elía,Jh:::::o é limitada, digamos v1a,J < l,
para todo k ~ O e algum l > O. Então, lakzkl:::; (lz)k para k ~ O, de
sorte que, pelo exemplo 9.12, a série Lk>o lakzkl converge em D(O; R),
onde R = f. A proposição anterior g;rante, então, que a série de
potências Lk:::::o akzk converge em D(O; R). Abreviaremos a situação
descrita até aqui dizendo que D(O; R) é um disco de convergência para
a série de potências em questão. Nosso próximo resultado garante que
a função f: D(O; R) -+ CC assim definida é contínua. Por uniformidade
de notação, convencionamos que Lk:::::o akzk = a0 para z = O.
Proposição 9.17. Se D(O; R) é um disco de convergência para a série
de potências Lk>o akzk, então a função f : D(O; R) -+ CC, dada para
z E D(O; R) por f (z) = Lk:::::o akzk, é contínua.
Prova. Sejam z, w E D(O; R) tais que lw - zl < HR - lzl). Então,
lwl < r, onde r = !(R + lzl) e, para k EN,
lwk - zkl = lw - zl lwk-l + wk-2z + ... + wzk-2 + zk-ll
:::; lw - zl(lwlk-l + lwlk-2lzl + · · · + lwllzlk-2 + lzlk-l)
:::; lw - zl(rk-l + rk-2. r + ... + r. rk-2 + rk-1)
= krk-llw - zl.
230 Recorrências Lineares
Portanto, mantida a restrição acima sobre w, segue do problema 4 que
lf(w) - f(z)I Lªkwk - Lªkzk = Lªk(wk - zk)
k20 k20 k20
Lªk(wk - zk) ::; L iakllwk - zkl
k21 k21
::; ~ (L klaklrk) lw - zl.
k21
Agora, fixe um real e tal que 1 < e < ~ ( tal é possível, uma vez
que r < R). Como {/i'a,;f < ti. para k ~ O e 1;/k -+ 1 ( de acordo com o
exemplo 3.12 de [12]), existe k0 EN tal que {lkía,J < fz, para k > k0.
D~, .
L klakirk < L (~) k ==e< +oo,
k2ko k2ko
uma vez que O< ~ < 1. Fazendo C' = E!:1 klaklrk, segue que
lf(w) - f(z)I ::; ~ (tklaklrk) lw - zl + ~ (L klaklrk) lw - zl
k=l k>ko
C' C
::; -lw - zl + -lw - zl.
r r
Em resumo, mostramos que
1
lw - zl < 2(R- lzl) =* IJ(w) - f(z)I < Alw - zl,
para alguma constante positiva A. Mas, sendo esse o caso, o problema
7 mostra que Zn-+ z =* f(zn) -+ f(z), e a arbitrariedade dez garante
a continuidade de f. D
O corolário a seguir mostra que, se uma função f : D(O; R) -+ C
for dada por uma série de potências, então tal série é única.
9.2 Sequências, séries e continuidade em C 231
Corolário 9.18. Sejam Í:k>o akzk e Í:k>O bkzk séries de potências
convergentes no disco aberto- D(O; R). s; Í:k>o akzk = Ek>o bkzk,
para todo z E D(O; R), então ak = bk, para todo-k ~ O. -
Prova. Avaliando a igualdade Ek2o akzk = Ek2o bkzk para z = O,
obtemos a0 = b0. Então, cancelando a0 = b0 em ambos os mem-
bros da igualdade Í:k>O akzk = Í:k>O bkzk, obtemos Í:::k>l akzk =
Í:::k>l bkzk, para z E D(O; R) e, daí, E~>l akzk-l = Í:::k>l bk~k-l, para
z E -D(O; R) \ {O}. Mas, como ambos os-membros da última igualdade
definem funções contínuas em D(O; R), concluímos que Ek>l akzk-l =
Ek21 bkzk-l, para z E D(O; R). Então, avaliando essa última igual-
dade em z = O, obtemos a1 = b1 . Prosseguindo dessa maneira, mos-
tramos indutivamente que ak = bk, para todo k ~ O. D
Terminamos esta seção com um resultado que estende, para fun-
ções contínuas f: D(a; R) -+ C, o teorema 3.14 de [12].
Teorema 9.19 (Weierstrass). Se f : D(a; R) -+ C é uma função
contínua, então existem Zm e ZM em D(a; R), tais que
lf(zm)I = min{lf(z)I; z E D(a; R)}
e
lf(zM)I = max{lf(z)I; z E D(a; R)}.
Prova. Seja (zn)n21 uma sequência em D(a; R) tal que
J(zn)-+ sup{jf(z)I; z E D(a; R)}
(aqui, em princípio não excluímos a possibilidade de que tal sup seja
+oo). Ponha Zn = Xn + iyn, com Xn, Yn E R Como lznl ::; R para
todo n ~ 1, temos I Xn 1, 1 Yn 1 ::; R, para todo n ~ 1. Pelo teorema
4.31 de [12], podemos tomar um subconjunto infinito N1 e N, tal que
(xn)nENi converge para um certo x E R Daí, podemos tomar um
segundo subconjunto infinito N2 e N1 , tal que (Yn)nEN2 converge para
i i
232 Recorrências Lineares
um certo y E R Mas, como (xn)nEl"b é uma subsequência de (xn)nENu
temos que (xn)nEN2 ainda converge para x.
Fazendo ZM = x+iy, segue do lema 9.9 que (zn)nEN2 converge para
ZM, Portanto, segue do problema 1 que lzMI ::; R, i.e., ZM E D(a; R).
Invocando agora a continuidade de f, temos que
f(zM) = lim f(zn) = sup{l/(z)I; z E D(a; R)}.
n--++oo
nEN2
Em particular, sup{l/(z)I; z E D(a; R)} = max{l/(z)I; z E D(a; R)}.
A prova da primeira parte do teorema é análoga e será deixada
como exercício para o leitor. D
Corolário 9.20. Se f : C --+ C é uma função polinomial, então, dado
R > O, existem Zm e ZM em D(a; R), tais que
1/(zm)I = min{l/(z)I; z E D(a; R)}
e
lf(zM)I = max{l/(z)I; z E D(a; R)}.
Prova. O exemplo 9.16 e o problema 6 garantem que 1/1 : C --+
[O, +oo) é uma função contínua. Portanto, também é contínua a fun-
ção 1/1 : D(a; R) --+ [O, +oo). Basta, agora, aplicar o teorema de
Weierstrass. D
Problemas - Seção 9.2
1. * Se (zn)n~1 é uma sequência em C convergindo para z E C,
prove que (zn)n~l é limitada, i.e., que existe M > O tal que
lznl < M, para todo n 2: 1. Ademais, se lznl ::; R, para todo
n 2: 1, mostre que lzl :SR.
9.2 Sequências, séries e continuidade em C 233
Para o próximo problema, dizemos que uma sequência de núme-
ros complexos é divergente se não for convergente.
2. Se lzl > 1 e Zn = zn, para todo n 2: 1, mostre que a sequência
(zn)n~l é divergente.
3. * Se (zn)n~l e (wn)n~l são sequências em C, convergindo respec-
tivamente para z e w, prove que:
(a) Se a E C, então azn--+ az.
(b) Zn ± Wn --+ Z ± W.
(c) ZnWn--+ ZW.
(d) Se Wn,W # O, então Zn/Wn--+ z/w.
4. * Se a, b E C e Lk~l zk e Lk~l wk são séries convergentes de
números complexos, mostre que Lk~1(azk+bwk) também é con-
vergente, com
5. * Se 0 # X e Y e C e f: Y--+ C é uma função contínua, prove
que /1x : X --+ C também é contínua.
6. * Se 0 # X e C e f: X--+ C é uma função contínua, prove que
1/1 : X--+ [O, +oo) também é contínua.
7. * Seja 0 # X e C e f : X --+ C uma função satisfazendo a
seguinte condição: para z E X, existem A, B > O ( em princípio
dependendo de z), tais que
w E X, lw - zl < B => lf(w) - f(z)I < Alw - zl.
Mostre que f é contínua.
1
234 Recorrências Lineares
8. * Se a E <C \ {O} em EN, mostre que, para z E D(O; 1~1), temos
1 L (n + m -1) n n = az
(1 - az)m m - 1 ·
n2'.0
9.3 O caso geral
De posse do material da seção anterior, podemos finalmente nos
voltar à discussão do caso geral de (9.1), i.e., aquele em que as raízes
complexas do polinômio característico (9.2) não são necessariamente
distintas. Para tanto, nos valeremos da teoria de funções geradoras
(discutida no capítulo 3 de [13]), adequadamente estendida a séries de
potências sobre C.
O resultado fundamental é dado pelo teorema a seguir.
Teorema 9.21. Seja (an)n21 uma sequência satisfazendo, para n 2: 1,
a recorrência linear
onde u0, ... , uk-I são números complexos dados, com u0 =/:- O. Sejam
z1 , ... , z1 as raízes duas a duas distintas do polinômio característico
(9.2) de (an)n21, com multiplicidades respectivamente iguais a m 1, ... ,
mz. Então, para n 2: 1 temos
onde p1, ... ,Pz E <C[X] são polinômios de graus menores ou iguais a
m 1 - 1, ... , mz - 1, respectivamente, os quais são totalmente deter-
minados pelos valores de a 1, ... , ak.
Prova. Afirmamos, inicialmente, que existe uma constante R0 > O
tal que lanl S Rn, para todos n 2: 1 e R > Ro. De fato, se lanl S Rn
9 .3 O caso geral
para 1 S n < m, com m > k, então
laml = luk-Iªm-1 + · · · + U1am-k+l + Uoam-kl
S luk-tllam-11 + · · · + lu1llam-k+1I + luollam-kl
S luk-1IRm-l + · · · + lu1IRm-k+l + luolRm-k
= Rm-k(luk-1IRk-I + · · · + lu1IR + luol).
235
Portanto, se g(X) = Xk - luk-1IXk-I - · · · - lu1IX - luol e Ro > O
for tal que g(R) > O para R > Ro, então, para cada um de tais R's,
temos pelos cálculos acima que
laml S Rm-k(luk-1IRk-I + · · · + lu1IR + luol)
s Rm-k. Rk = Rm.
Basta, pois, escolhermos, de início, Ro > O tal que la1I, ... , lakl S Ro
e g(R) > O, para todo R > R0.
Agora, fixe R > R0 e seja
F(z) = LªnZn.
n21
Como lanl S Rn para n 2: 1, o teste da comparação garante a con-
vergência de F no disco aberto D(O; i) do plano complexo. Sejam
f(X) = Xk - uk_1xk-I - · · · - u1X - u0 o polinômiocaracterístico
de (an)n21 e h(X) = -uoXk -u1xk-l _ ... -Uk-lx + 1 seu recíproco
(âh = k, uma vez que u0 =/:- O). Para z E D(O; Ji), temos
h(z)F(z) = -(f UjZk-j) (Lanzn) + LªnZn
j=O n21 n21
k-1
= - L L Ujanzn+k-j + L anzn
j=O n21 n21
k-1
= - L L Ujªn-k+jZn + L anZn.
j=O n2'.k-j+l n21
236 Recorrências Lineares
Para j 2'.: 2, escreva
k-1
L Ujan-k+jZn
n2::k-j+l
L Ujan-k+jZn + L Ujan-k+jZn
n=k-j+l n2::k
e analogamente para I:n2::l anzn. Obtemos
h(z)F(z) L Uoan-kZn - L U1an-k+1Zn
n2::k+l n2::k
-f ( f Ujan-k+jZn + L Ujan:.....k+jZn) ·
j=2 n=k-j+l n2::k
k-1
+ LªnZn + LªnZn
n=l n2::k
= - L Uoan-kZn - L U1ªn-k+1Zn
n2::k+l n2::k
k-1
- L L Ujªn-k+jZn + L anzn
j=2 n2::k n2::k
k-1 k-1 k-1
- L L Ujan-k+jZn + LªnZn.
j=2 n=k-j+l n=l
Mas, como
k-1 k-1
L L Ujan-k+jZn = L L Ujan-k+jZn'
j=2 n2::k n2::k j=2
9.3 O caso geral 237
segue de (9.1) que
-f L Ujan-k+jZn + L anZn = L (- f Ujan-k+j + an) Zn
j=2 n2::k n2::k n2::k j=2
(-f Ujaj + ak) Zk + L (- f Ujan-k+j + an) Zn
j=2 . n2::k+l j=2
- (- f Ujaj + ak) zk + L ( Uoan-k + u1an-k+1) zn.
j=2 n2::k+l
Portanto,
h(z)F(z) L Uoan-kZn - L U1an-k+1Zn
n2::k+l n2::k
+ (- f Ujaj + ak) zk + L (uoan-k + u1an-k+1) zn
j=2 n2::k+l
k-1 k-1 k-1
- L L Ujan-k+jZn + LªnZn
j~n=k~+l n=l
( ª• - t u;a;) z• - t n=t+l u;a..-k+;Z" + ~ a,.z",
de sorte que
h(z)F(z) = zp(z)
para z E D(O; i), onde p E C[X] é um polinômio não nulo, de grau
ap::; k - 1.
Como h(O) = 1 =!= O, aumentando R, se necessário, podemos supor
que h(z) =!= O para z E D(O; ~). Por outro lado, como
temos
1 1 1
238 Recorrências Lineares
de sorte que
F(z) = zp(z)
(1 - z1z)m1 ••• (1 - zzz)mi' (9.6)
para z E D(O; fi)·
Agora, observe que
Portanto, aplicando à igualdade (9.6) a fórmula de decomposição em
frações parciais (conforme o problema 6, página 163), concluímos pela
existência, para 1 :S j :S l e 1 :S ni :S mi, de constantes djnj , unica-
mente determinadas pelos coeficientes de p (e, portanto, por a1 , a2 ,
... , ak e uo, ui, ... , Uk-i), tais que
para z E D(O; fi)·
l mj d·
F(z) = z "°' "°' ( Jnj ) . , ~~ 1-z·z n1
j=l nj=l .1
(9.7)
Mas, ser= min{-h, 1; 11 , ••• , 1;z1 }, então o resultado do problema 8,
página 234, garante que
__ 1_ = "°' (n+nj - l)z"!'zn
(1-z·z)nj ~ n·-1 3 ' .1 n~O .1
para 1 :S j :S l, 1 :S ni :S mi e z E D(O; r). Portanto, segue de (9.7)
que, para lzl < r,
9.3 O caso geral 239
Uma vez que an é o coeficiente de zn na série que define F, segue
da última igualdade acima e do corolário 9.18 que
_ ~ ~ d. (n + ni - 2) "!'_1
an - ~ ~ Jnj n. - 1 z.1
j=l nj=l .1
onde
l mj =;; (n?:.; l)! (n + n; - 2){n + n; - 3) ... (n + l)nz;-1
l
= LPi(n - l)zy-1 ,
j=l
p;(X) = ~ (n::; l)! (X+ n; - l){X + n; - 2) ... (X+ l)z;-1
= Cj,mj-lxmrl + · · · + Cj1X + Cjo,
um polinômio de grau menor ou igual a mi - 1. D
A fim de apresentar uma aplicação relevante do teorema anterior,
precisamos da seguinte definição.
Definição 9.22. Sejam dados uma sequência (an)n~l e um inteiro
m > 1. Dizemos que ( an)n~l é uma
(a) PA de ordem 1 se (an)n~l for uma PA.
(b) PA de ordem m se a sequência (bn)n~l for uma PA de ordem
m - 1, onde bn = an+l - an, para n 2:: 1.
O lema a seguir caracteriza PA's de ordem m por meio de uma
recorrência linear que generaliza a recorrência satisfeita pelas PA's
ordinárias.
· I
. i
240 Recorrências Lineares
Lema 9.23. Uma sequência (an)n:2'.:l é uma PA de ordem m se, e só
se,
(m+l) (m+l) ( )m+l(m+l) O an+m+l - l an+m + · · · + -1 m + l an = O,
(9.8)
para todo n 2 1.
Prova. Inicialmente, seja (an)n:2::1 uma PA de ordem m. Sem = 1,
então (an)n:2'.:l é uma PA e (9.8) se reduz a an+2 - 2an+l + an = O para
n 2 1, relação que sabemos ser sempre satisfeita por uma PA. Por
hipótese de indução, suponha que (9.8) é válida quando m = k - 1.
Para m = k, a sequência (bn)n:2::1, dada por bn = ªn+i - an é, por
definição, uma PA de ordem k - 1. Portanto, segue da hipótese de
indução que
para todo n 2 1, ou, ainda,
(~) (an+k+l - an+k) - (~) (an+k - an+k-1) + · · ·
· · · + (-ll (:) (an+l - an) = O,
para todo n 2 1. Mas, isso é o mesmo que
(9.10)
A partir daí, a relação (9.8) para m = k segue da relação de Stifel,
. (k) (k+l) (k) - (k+l) Juntamente com o fato de que O = 0 e k - k+l ·
9.3 O caso geral 241
Reciprocamente, seja (an)n:2::1 uma sequência para a qual vale (9.8).
Se m = 1, então ªn+2 - 2an+l + an = O para n 2 1, de sorte que
(an)n:2::i é uma PA. Por hipótese de indução, suponha que a validade
de (9.8) para m = k - 1 acarreta que (an)n:2::1 é uma PA de ordem
k - 1. Considere, então, uma sequência ( an)n:2::1 que satisfaz (9.8) para
m = k, i.e., tal que
(k; 1)an+k+l - .(k; 1)an+k + · · · + (-ll+l (:: ~)an = O,
para n 2 1. Então, utilizando a relação de Stifel, juntamente com
as igualdades (k't1) = (~) e (!!~) = (!), reobtemos sucessivamente as
relações (9.11), (9.10) e (9.9), para n 2 1. Portanto, segue da hipótese
de indução que a sequência (bn)n:2'.:l é uma PA de ordem k-1, de sorte
que, por definição, (an)n:2::1 é uma PA de ordem k. D
Podemos, finalmente, apresentar a aplicação prometida do teorema
9.21.
Exemplo 9.24. Se (an)n:2'.:l é uma PA de ordem m, então (9.8) vale
para todo n 2 1, de sorte que o polinômio característico de (an)n:2::1 é
f(X) = (m; l)xm+i _ (m t l)xm + ... + (-l)m+l (:: ~)
= (X - l)m+l.
Pelo teorema 9.21, existem constantes ao, ai, ... , am tais que
an =ao+ a1(n - 1) + · · · + am(n - l)m,
para todo n 2 1. Avaliando a relação acima para n = 1, obtemos
ªº = a1; avaliando-a para n = 2, ... ' m + 1, obtemos ai, ... ' am
como soluções do sistema linear de equações
a1 +a2 + · · · + am
2a1 + 22a2 + · · · + 2mam
,. ~·li ri ·~:;,
1
i
I'
11
!
,1
I·
1
1,
1
11
I'!
lJ
242 Recorrências Lineares
Observe que o fato de um tal sistema linear de equações sempre admitir
uma única solução é uma decorrência imediata do teorema 9. 21.
Problemas - Seção 9.3
1. Seja k um natural dado e ( an)n~l uma sequência tal que
1
an = 2(an-k + an+k),
para todo natural n > k. Use o teorema 9.21 para mostrar que
k
an = L)Aj + (n - l)Bj)wi-1.,
j=l
para todo n ~ 1, onde w = eis 2;.
2. Prove as identidades da proposição 4.17 com o uso de funções
geradoras.
CAPÍTULO 10
Soluções e Sugestões
Seção 1.1
2
3.
4.
Para o item (b), escreva lz + wl 2 = (z + w)(z + w) e use o resultado
do item (b) do lema 1.1, juntamente com 1.8.
Para o item (a), aplique a desigualdade lz + wl ::S lzl + lwl, com u- z
no lugar de z e z - v no lugar de w. Para o item (b), observe que a
desigualdadeemquestãoéequivalentea-lz-wl ::S lzl-lwl ::S lz-wl;
em seguida, para obter a desigualdade lzl - lwl ::S lz - wl, aplique a
desigualdade lz + wl ::S lzl + lwl, escrevendo z - w no lugar dez.
Se z tem a forma do enunciado, use o item (a) do problema 2 para
concluir que lzl = 1. Reciprocamente, suponha que lzl = 1. Imponha
que z = t;t;, com w E C, para obter w = i t;:!; em seguida, use os
itens (b) e (d) do lema 1.1, juntamente com o fato de que lzl = 1,
para concluir que w E R
243
244 Soluções e Sugestões
5. Desenvolva ambos os membros da desigualdade lz - al2 < 11 - azl2,
utilizando o resultado do item (b) do problema 2.
6. Note inicialmente que Zk+l = Zk ( 1 + k). Em seguida, calcule
lzkl em função de k utilizando produtos telescópicos. Por fim, veja
- -3.ki_ que Zk+l - Zk - v'k+i.
7. Revise a definição de adição e subtração de vetores, no capítulo 8 de
[11].
8. Suponha que uma tal ordem total exista e chegue a uma contradição.
9. As verificações dos itens (a) a (e) são longas, mas elementares. Quanto
ao item (f), a primeira parte é imediata a partir da definição da mul-
tiplicação em lHI; para a segunda parte, basta utilizar a igualdade
la,812 = a,Ba,B, juntamente com o resultado do item (e). O item (g)
segue da segunda parte de (f). Finalmente, se a E lHI \ {O}, então
a · ~ = 1; daí, se a,B = O e a =/:- O, então
o= 1:i2 (a,B) = c:i2ª) ,B = 1 ·,B = ,8.
Por fim, se a,B = 1, então a,8- a~ = O ou, ainda, a (,a - 1:i2 ) = O;
mas, como a =/:- O, segue que ,B = ~ ( aqui, escrevemos a - ,B para
denotar a+ (-,8), onde -,8 = (-w) + (-x)i + (-y)j + (-z)k se
,B=w+xi+yj+zk).
10. No plano complexo, sejam a, b, e, d e e os números associados aos
vértices de P e suponha, sem perda de generalidade, que l10 = lb-cl,
Em seguida, use um argumento geométrico para mostrar que podemos
supor que d = O e e = 1. Em seguida, observe que as condições do
enunciado equivalem a que lal2, lbl 2, lcl2, la - 112, lb - 112, lc - 11 2,
la - bl 2 e la - cl2 sejam todos racionais. Conclua, com o auxílio do
problema 2, que Re(a), Re(b), Re(c), Re(ab) e Re(ac) são racionais
e, também, que Im(a)2 = lal2 - Re(a)2 é racional. Como
Re(ab) = Re(a)Re(b) - Im(a)Im(b)
= Re(a)Re(b) + Im(a)Im(b),
245
deduza que Im(a)Im(b) é racional; analogamente, Im(a)Im(c) tam-
bém é racional. Agora, como (novamente pelo problema 2) lb- cl 2 =
lbl 2 + lcl 2 - 2Re(bc), basta mostrarmos que Re(bc) é racional. Para
tanto, veja que
Re(bc) = Re(b)Re(c) + Im(b)Im(c),
de sorte que basta mostrarmos que Im(b)Im(c) é racional. Para o que
falta, escreva
I (b)I ( ) = Im(a)Im(b) · Im(a)Im(c)
m me Im(a)2 .
Seção 1.2
1. Adapte, ao presente caso, a prova do corolário 1. 7.
2. Comece observando que w + t = -1 e w3k = 1, w3k+l = w e w3k+2 = ·
w2, para todo k E Z.
3. Ponha 1 ± y'3i em forma polar e use a primeira fórmula de de Moivre.
4. Conjugue a segunda equação para obter z1 + z2 + z3 = O. Em seguida,
use a primeira equação e o item (d) do lema 1.1 para concluir que
1.. + 1.. + 1.. = O e, daí, que z1z2 + z1z3 + z2z3 = O. Por fim, observe
Zl Z2 Z3
que Ü = z1(z1z2 + Z1Z3 + z2z3) = z?(z2 + Z3) + 1 = -zr + 1, valendo
identidades análogas para z2 e z3.
5. Adapte, ao presente caso, a solução do exemplo 1.11. Para tanto,
comece mostrando que a equação dada equivale a ( t:: rn = -1.
6. Adapte, ao presente caso, a solução do exemplo 1.11, consoante a
sugestão dada ao problema anterior.
7. Escreva an = (n - w)(n - w2), com w = eis 2;. Em seguida, recorde
que l+w+w2 = O, de maneira que (k- l-w)(k-w2) = (k+w2)(k-
w2) = k2-w e, analogamente, (k-l-w2)(k-w) = (k+w)(k-w) =
k2 -w2.
T
1
1
1
.i
. 1'
li,
246
8.
9.
10.
Soluções e Sugestões
Pondo w2 = p2 - 4q2, use a fórmula de Báskara para mostrar que
as raízes têm módulos iguais se, e só se, Re(pw) = O; em seguida,
substitua p = reis a, q = seis f3 e w = t eis 'Y em w2 = p2 - 4q2, com
r, s, t E lR+, e conclua que ia - f31 é um múltiplo inteiro de 1r.
Fazendo z2 = z; + z1 e Z3 = z; + z1, mostre que podemos supor z1 = O;
em seguida, fazendo zi = wz; e zl = wz;, mostre que podemos supor
'-1 Z2 - .
Se w = eis 2;, use a primeira fórmula de de Moivre para calcular as
partes real e imaginária do primeiro membro de (1.19).
11. Para o item (a), adapte a sugestão dada ao problema anterior. Faça
o mesmo quanto ao item (b), utilizando também a fórmula sen 2x =
!(1 - cos(2x)).
12. Para k E N fixado, o conjunto das raízes n-ésimas da unidade é um
subconjunto finito de C satisfazendo as condições (a) e (b).
13. Comece utilizando a finitude de A para mostrar que todos os seus
elementos são raízes da unidade. Em seguida, se z E A e zk = 1 para
algum natural k, mostre que k I n.
14. Opere duas vezes a substituição z t-+ wz+a na condição do enunciado.
Seção 2.1
2. Para o item (c), lembre-se de que, de acordo com o exemplo 5.12
de [10], todo número natural pode ser escrito, de maneira única a
menos de uma reordenação, como uma soma de potências de 2, com
expoentes inteiros não negativos e dois a dois distintos.
4. Por contraposição, mostre que se f,g E K[X] \ {O}, então fg #- O.
Para tanto, escreva f(X) = I::,k aiXi e g(X) = I:"J=l bjXi, com
ak, bl #- O, e examine o coeficiente de Xk+l em f g.
247
5. Se g(X) = f(X) +!,então g(X) + g(l - X)= O ou, ainda, g(X) =
-g(l - X). Fazendo g(X) = (X - a)2ºº1, devemos ter (X - a)2ºº1 =
-(1 - X - a)2ºº1 = (X+ a - 1)2001 . Basta, pois, escolher a de tal
. . 1
forma que a= 1 - a, 1.e., a= 2.
Seção 2.2
1. Comece escrevendo X 2 +X+ 1 = (X2 - X+ 1) + 2X.
2. Comece observando que
x2m -1 = (X2m-1 + l)(X2m-1 -1)
= (X2m-l + l)(X2m-2 + l)(X2m-2 - 1) = •. • '
de sorte que X 2n + 1 divide X 2m - 1.
3. Escreva f(X) =(X+ 2)q1(X) - 1 = (X - 2)q2(X) + 3, com q1, q2 E
Q[X]. Em seguida, se q1(X) = (X - 2)q(X) + r, então f(X) =
(X2 -4)q(X) +(X+ 2)r -1. Use a parte de unicidade do algoritmo
da divisão para concluir que r = 1.
4. Escreva f(X) =(X+ l)(X2 + l)q(X) + (aX2 + bX + e), para certos
a, b, e E lR. Em seguida, mostre que os restos das divisões de aX2 +
bX + e por X + 1 e X 2 + 1 são respectivamente iguais aos polinômios
a - b + e e bX + ( e - a).
Seção 3.1
1. Inicialmente, mostre que é suficiente considerar o caso em que f é da
forma f(X) = axn, para algum a E K \ {O}, e g não é constante.
Para o que falta, use o corolário 3.14 .
' !
248 Soluções e Sugestões
2. Para o item (a), use a fórmula do binômio de Newton; para (b),
escreva J(X) = cnXn + · · · + c1X + Co e use (a) para concluir pela
existência de racionais A e B tais que f(a ± byr) =A± Byr. Em
seguida, aplique o resultado do problema 1.3.3 de (10].
3. Use o resultado do problema anterior para concluir que o polinômio
dado é divisível por X 2 - 2X - 1.
4. Use o algoritmo da divisão.
5. Comece observando que, se um tal f existir, então f(y) 2 = 1 - y2,
para todo O ~ y ~ 1 e, daí, para todo y E lR. Em seguida, conclua
que 8 f = 1 e chegue a uma contradição.
6. Use o teste da raiz para ±i.
7. Se a fosse uma raiz inteira de f, use a condição f(O) ímpar, junta-
mente com o critério de pesquisa de raízes racionais, para concluir que
a seria ímpar. Em seguida, mostre que se x for ímpar, então f ( x) e
f(l) têm paridades iguais, de sorte que f(a) seria ímpar e, portanto,
não poderíamos ter f(a) = O.
8. Sendo r a razão da PA, escreva x = y - r e z = y + r e conclua
que o polinômio X 5 -10X4 - 20X2 - 2 tem a raiz racional x/r. Em
seguida, aplique o critério de pesquisa de raízes racionais para chegar
a uma contradição.
9. Uma vez que {2 cos O; O E JR} = [-2, 2], o qual é um conjunto infinito,
o corolário 3.10 garante que há, no máximo, um polinômio fn satis-
fazendo a condição do enunciado. Agora, para o item (a), é imediato
verificar que fi ( X) = X e ( com o auxílio de um pouco de trigonome-
tria) h(X) = X 2 - 1 satisfazem as condições do enunciado. Para o
que falta, seja Un)n?.1 a sequência de polinômios tal que fi(X) = X,
h(X) = X 2 -1 e Ík+2(X) = Xfk+1(X) - fk(X), para k ~ 1 inteiro.
Suponha, por hipótese de indução, que Jj(2cos0) = 2cos(j0), para
1 ~ j ~ k + 1 e todo O E JR. Com um pouco de trigonometria, é
imediato verificar que
2cos0 · 2cos(k + 1)0 - 2cos(k0) = 2cos(k + 2)0
ou, o que é o mesmo,
Ík+2(2 cos O) = 2 cos O· Ík+1 (2 cos O) - fk(2 cos O)
= 2 cos O· 2 cos(k + 1)0 - 2 cos(kO)
= 2cos(k + 2)0,
249
para todo O E lR. Por fim, (b) e (c) seguem imediatamente de (a),
por indução sobre n EN.
10. Sejam m, n,p, q E Z, tais que n, q i- O e cos(~n') = ~- Use o resultado
do problema anterior para mostrar que fn(~) = 2(-l)m e, daí, que
? é raiz de um polinômio mônico e de coeficientes inteiros. Por fim,
como?= 2cos(~1r) E [-2,2], conclua que!= 0,±! ou ±1.
11. Suponha que o polinômio em questão possui uma raiz inteira, r diga-
mos, de sorte que
r4 -1994r3 + (1993 + m)r2 - llr + m = O.
Examinando tal igualdade módulo 2, conclua que m e r são pares.
Suponha, agora, que a e b sejam raízes inteiras distintas do polinômio
em questão. Então, subtraindo membro a membro as igualdades
a4 - 1994a3 + (1993 + m)a2 - lla + m = O
e
b4 - 1994b3 + (1993 + m )b2 - llb + m = O,
e fatorando a - b do resultado, obtenha
(a+ b)(a2 + b2) - 1994(a2 + ab + b2) + (1993 + m)(a + b) = 11
e chegue a uma contradição.
1
!I
250 Soluções e Sugestões
12. SejaX2-X-1 = (X-u)(X-v). Pelo teste da raiz, basta encontrar-mos todos os a e b tais que au17 + bu16 + 1 = O e av17 + bv16 + 1 = O.
Multiplicando a primeira relação por u 16, a segunda por v16 e sub-
16 16 n n
traindo os resultados, obtenha a= u u=~ . Agora, defina Xn = uu=~
e mostre que x1 = x2 = 1 e Xn+2 = Xn+l + Xn, para todo n EN, de
sorte que a sequência (xn)n~l é a sequência de Fibonacci. Conclua,
a partir daí, que a == 987 e calcule o valor de b de modo análogo.
13. Escreva p(X) = X(X - a2) ... (X - an), com a2, ... , an inteiros não
nulos e dois a dois distintos. Para d E Z, mostre que p(p( d)) = O
se, e só se, d = ai para algum 1 :S i :S n ou p(d) = ai, para algum
2 :S i :S n. Neste último caso, temos d # O; ademais, escrevendo
a= ai, mostre que existe q E Z* tal que d(d- a)q = a. Conclua que
dq + 1 = -1 e, daí, que d = ~. Por fim, deduza, a partir daí, que
(d- a2) ... (d- an) = 2, e use o fato de ser n > 4 para chegar a·uma
contradição.
14. Há dois casos essencialmente distintos, quais sejam, f(p1) = f(p2) =
f (p3) = 3 e f (p4) = -3, ou f (p1) = f (p2) = 3 e f (p3) = f (p4) = -3.
No primeiro caso, mostre que f(X) = a(X -p1)(X -p2)(X-p3)+3
e use, em seguida, a condição f(p4) = -3, juntamente com o fato de
os pi's serem primos e distintos, para chegar a uma contradição. No
segundo caso, mostre que J(X) = a(X - P1)(X - p2)(X - q) + 3 e
calcule J(O) para concluir que q = a!~:2 ; use, em seguida, as condições
f(p3) = f(p4) = -3 para chegar a uma contradição.
15. Use o teste da raiz para concluir que p(X) = 5 + (X -a)(X -b)(X -
c)(X - d)q(X), para algum polinômio q E Z[X]; em seguida, faça
x = m nas funções polinomiais correspondentes e chegue a uma con-
tradição.
16. Se w = eis 2;, então w e w2 são raízes cúbicas da unidade e as raízes
de X 2 + X + 1; use tais fatos para examinar para quais k E N temos
w2k + 1 + (w + 1)2k = O e, analogamente, para w2 no lugar de w.
17. Comece definindo f (X) = I:r=l Xªi e g(X) = I:r=l Xb;; em seguida,
251
use as condições do enunciado para mostrar que 1 é raiz de f - g e
que (!(X)+ g(X))(f(X) - g(X)) = f(X2) - g(X2).
Seção 3.2
1. Adapte, ao presente caso, a demonstração do teorema 3.21.
2. Adapte, ao presente caso, a demonstração do teorema 3.21.
3. Use o resultado do problema anterior.
4. Aplique a fórmula de multiseção.
5. Argumentemos como na prova do teorema 3.22: se f (X) = Lk~O akXk
e S denota o segundo membro da expressão do enunciado, então
p-1
S = ! LW(p-l)rj LªkWjk
p j=O k~O
p-1
= ! L L akw((p-l)r+k)j
p j=O k~O
p-1
= ! Lªk LW(k-r)i,
p k~O j=O
onde utilizamos a relação wP = 1 na última igualdade. Agora, se
k = r (modp), digamos k- r = pq, então
p-1 p-1 p-1
LW(k-r)j = L(wP)q = L lq = p;
j=O j=O j=O
se k t=, r (modp), então wk-r # 1 e, pelo lema 1.12, temos
p-1 . w(k-r)p - 1
~ w(k-r)J = = O.
L....J wk-r - 1
j=O
252 Soluções e Sugestões
Portanto,
6. Use o resultado do problema anterior.
Seção 3.3
1. Reveja a dedução da fórmula de Báskara, em [10].
2. Conjugue ambos os membros da igualdade f(z) = O. Em seguida,
escreva f(z) = anzn + · · · + a1z + ao e use os itens (b) e (e) do lema
1.1.
3. Para f(X) = X 2 + 2iX - 1 temos que i é raiz mas -i não é raiz.
4. Use o corolário 3.25 e o resultado do problema 2.
5. Se f (X) = anXn + ªn-1xn-l + · · · + a1X + ao, com an #- O, segue de
f(a:) = O que a:n = - ªn-l · a:n-l - · · · - ~O: - ª 0 . Agora argumente
an an an '
por indução para provar (3.9) para m 2:: n. Para provar (3.9) para
m = -1, escreva a igualdade 0:-1 f(a:) = O em termos dos coeficientes
de f; para o caso m < O geral, use novamente indução.
6. Use a desigualdade triangular para concluir que, se lzl 2:: 1, então
7. Se z = a: + /3i é uma raiz complexa de f tal que a: > 2, use a
desigualdade triangular, no espírito da sugestão dada ao problema
anterior, para concluir que lanzn + an-1Zn-l l < k1J;11:~1 ; mostre, a
partir daí, que lzl < 1 + 1 ; 1 e, por fim, substitua z =a:+ i/3. anz an-1
8. Para o caso de grau quatro, se z E (C é uma raiz, então z -=1- O e
a (z2 + }2 ) +b ( z + ~) +e; faça agora a mudança de variável w = z+ ~.
Para o caso de grau seis, raciocine analogamente.
253
9. Use a condição do enunciado para obter a forma fatorada do polinô-
mio g(X) =(X+ I)f(X) - X.
10. Mostre inicialmente que, se a, b e e são tais raízes, então a hipótese
de que a, b e e são positivos garante que a, b e e são os lados de um
triângulo se, e somente se, (a+b-c)(a+c-b)(b+c-a) > O; em seguida,
substitua a + b + e = -p no primeiro membro dessa desigualdade e
use a forma fatorada (X - a)(X - b)(X - e) do polinômio.
11. Assim como no exemplo 3.27, substitua X por 1 na forma fatorada de
xn-1 + xn-2 + ... +X+ 1. Em seguida, use um pouco de trigonometria
para mostrar que, se w = eis 2;, então II - wk 1 = 2sen k:, para
1 S k S n.
12. Use o resultado do problema anterior, juntamente com a relação
sen (-rr - x) = sen x, para x E R
13. Se z E (C for uma raiz de p, mostre que z2 e z - 1 também o são. A
partir daí, conclua sucessivamente que lzl = 1, lz - li = 1 e z = w ou
z = w, onde w = eis 2f. Por fim, use o resultado do problema 2.
Seção 3.4
1. Use o resultado do corolário 3.32, nos moldes do exemplo 3.33, para
mostrar que 8a3 - 25a2 - I80a + 608 = O. Em seguida, conclua que
2.
3.
4.
a=4.
Escreva f(X) = g(X)2h(X) e, em seguida, calcule f'.
Use o item (b) da proposição 3.29 para mostrar que f'(z) = '2:j=l !~1j ·
Use o item (b) da proposição 3.29 para mostrar quer
J'(z) = t J;(z) f(z).
j=l Jj(z)
254 Soluções e Sugestões
5. Pondo f(X) = IT~=l (1 + !Xk), mostre que f(l) = n + 1. Em
seguida, mostre que
f (X) = 1 + L _l_xa(S)
0-j,SCin 1r(S)
e calcule J'(l). Por fim, calcule jg} com o auxílio do problema
anterior.
6. Basta mostrar que, se um semiplano qualquer do plano complexo
contiver as raízes de f, então ele também conterá as raízes de f'.
Por absurdo, suponha que exista uma reta r tal que um dos semi-
planos que ela determina contém uma raiz w de f', enquanto o outro
contém as raízes de f. Seja u E C de módulo 1 e tal que o vetor u
é perpendicular a r; se f (X) = a(X - z1) ... (X - Zn) e (} e (}j são
respectivamente os argumentos deu e de Zj - w, use o resultado do
problema 3 para mostrar que
Re (t lzi - wl-1 cos(Oj - O)) = O.
J=l
Agora, observe que (zj - w)/u tem um argumento em (-~, ~) e use
a igualdade acima para chegar a uma contradição.
7. Se J(X) = E~=ockXk, com ck E Z, então J(X) = E~=ock(a+X -
a l- Expanda a expressão do segundo membro em potências de X - a
e compare o resultado com (3.10), quando z = a.
8. Faça indução .sobre k ~ 1. Para o passo de indução, se mk EN for tal
que f(mk) = O (modpk) e f'(mk) f=. O (modp), faça mk+l = mk+xpk,
com x E Z a determinar. Em seguida, use a fórmula de Taylor (3.10),
juntamente com o resultado do problema anterior, para mostrar que
a partir daí, mostre que é possível escolher x de forma que f(mk+I) =
O (modpk+l). Por fim, como mk+I = mk (modp) e f' E Z[X], temos
f'(mk+I) = J'(mk) f=. O (modp).
255
Seção 4.1
1. Adapte, ao presente caso, a demonstração da proposição 4.1.
2. Para o item (a), adapte a ideia da solução do exemplo 4.3. Para o
item (b), comece escrevendo
(X -Y)5 +(Y-Z)5+(Z-X)5 = (X -Y)(Y -Z)(Z-X)J(X, Y,Z),
com f de grau 2; em seguida, use a igualdade -y5 + (y - z )5 + z5 =
-yz(y-z)f(O, y, z) para mostrar que f(O, Y, Z) = 5(Y2 -YZ+Z2) e,
analogamente, J(X, O, Z) = 5(X2 -XZ + Z 2 ) e J(X, Y, O)= 5(X2 -
XY + Y2). Por fim, mostre que
J(X, Y,Z) = 5(X2 + Y 2 + Z 2 -XY -XZ- YZ).
3. Adapte a ideia da solução do exemplo 4.3 para concluir que
J(X, Y, Z) =(X+ Y)(X + Z)(Y + Z)g(X, Y, Z),
com g de grau 2. Agora, use a igualdade J(O, y, z) = yzg(O, y, z) para
mostrar que g(O, Y, Z) = Y 2 + Y Z + Z 2 e, analogamente, g(X, O, Z) =
X 2 + X Z + Z 2 e g(X, Y, O) = X 2 + XY + Y 2 . Por fim, mostre que
g(X, Y,Z) = X 2 + Y 2 +z2 +XY +xz + YZ.
Seção 4.2
1. Use a simetria de f e g para mostrar que, fixada uma permutação u
de ln, temos h(x1, ... , Xn) = h(xa(I), ..., Xa(n)) para infinitos xi, ... ,
Xn E K. Você precisará utilizar o resultado do problema 1, página
90, bem como o resultado da proposição 4.1.
4. Fazendo a2 + b2 + c2 = k, temos a3 + 3a2 = 3k-25, de modo que a é
raiz de J(X) = X 3 + 3X2 + (25- 3k); analogamente, b e e são raízes
de tal polinômio. Agora, use as relações de Girard para concluir que
a+ b + e = -3 e ab + ac + bc = O, de sorte que a2 + b2 + c2 = 9.
l
1
'1
!'
, !I
;, 1,:' !,
!I
256 Soluções e Sugestões
5. Sendo z1, z2, z3 as raízes complexas do polinômio dado, o polinômio
desejado é f(X) = (X - zf)(X - z?)(X - zi). Use as relações de
Girard, juntamente com o resultado do exemplo 4.3, para calcular
os coeficientes de f em termos dos complexos dados a, b e e. Por
exemplo, sendo g(X) = X 3 + aX2 + bX + e, temos g(X) = (X -
z1)(X - z2)(X - z3) e, daí,
zr + z? + zi = (z1 + Z2 + Z3) 3 - 3(z1 + z2)(z1 + Z3)(z2 + Z3)
= (-a)3 - 3(-a - z3)(-a - z2)(-a - z1)
= -a3 - 3g(-a) = -a3 + 3ab- 3c.
6. Para o item (a), use os resultados do problema 2, página 74 e do
exemplo 4.7; para o item (b), use o resultado do problema anterior.
7. Adapte o argumento do exemplo 4.7.
8. Se f(X) = (X - a)(X - b)(X - e), então f(X) = X 3 - p, onde
p = abc "1- O; argumente, agora, como na sugestão ao problema 5,
página 75.
9. Aplique o resultado do exemplo 4. 7 ao polinômio g(X) = X 10º +
2X99 + 3X98 + · · · + a98X 2 + a99X + a100 ; em seguida, mostre que as
raízes de g são os inversos das raízes de f.
10. Sendo ax + by = e a equação de uma reta satisfazendo as condições
do enunciado, substitua y = -~x- ~ na equação que define o gráfico
de f e, em seguida, use as relações de Girard para calcular o valor de
XI + X2 + X3 + X4.
11. Sendo (x- a)2 + (y-b) 2 = R2 a equação do círculo, substitua y = i
na mesma, utilizando em seguida as relações de Girard para calcular
o produto das abscissas dos pontos de interseção.
12. Para o item (a), use o corolário 3.32. Para o item (b), use o fato de
que a3 = a2 +a+ 1, e analogamente para b e e; para o item (c), use
(b) e as relações de Girard.
257
13. Para o item (a), use indução; para o item (b), observe inicialmente
que
14. Faça indução sobre n > 1 para concluir que x1 = x2 = · · · = Xn = 1.
Para o passo de indução, se
f(X) = (X - x1)(X - x2) ···(X - Xn)
= xn + an_1xn-l + · · · + a1X + ao,
conclua que
O = f (x1) + f (x2) + · · · + f (xn)
= n + ªn-1n + · · · + a1n + aon = nf (1).
15. Conclua inicialmente que as raízes de f são negativas; em seguida,
use as relações de Girard e a desigualdade entre as médias aritmética ·
e geométrica para deduzir que ªk ~ (~), para 1 :S k :S n - 1.
16. Sendo x1 , ... , Xn as raízes de f, use as relações de Girard para concluir
que I:f=1 x; = 3 e I1f=1 x; = 1; então, aplique a desigualdade entre
as médias aritmética e geométrica para concluir que n :S 3. Por fim,
considere separadamente cada um dos casos aos quais o problema
ficou reduzido.
Seção 4.3
1. Para 1 :::; k :::; n use o teorema de Newton e as relações de Girard;
para k ~ n + 1, use o item (a) da proposição 4.17.
2. Use o item (b) da proposição 4.17 para provar, por indução sobrei,
que as i-ésimas somas simétricas elementares de a1, ... , an e b1, ... ,
bn coincidem, para 1 :S i :S n; em seguida, compare os coeficientes
dos polinômios I17=1(X - ai) e I17=1(X - bj)·
i'
1
., 1
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"l;
.i·
11 '1
I
r ::';
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1'1 ',
H i
258 Soluções e Sugestões
3. Use o item (b) da proposição 4.17 para provar, por indução sobre j,
que Sj = (;), para 1 :::; j :::; k.
4. Para o item (a), fatore xm-zm sobre C e use o resultado para fatorar
g sobre C.
5. Para o item (a), se f(X) = xn + ªn-1xn-l + · · · + a1X + a0 é
um polinômio de coeficientes inteiros e tal que todas as suas raízes
complexas têm módulo 1, use as relações de Girard para mostrar que
lan-kl:::; (~), para O< k:::; n. Para o item (b), sejam a1, ... ,an
as raízes de f. Mostre, com o auxílio do teorema de Newton, que o
polinômio Ík(X) = (X - at) ... (X - a~k) tem coeficientes inteiros,
para todo k ~ 1. Em seguida, use o item (a) para garantir a existência
de naturais k < l tais que Ík = fz. Por fim, use tal igualdade para
mostrar que ai é uma raiz da unidade, para 1 :::; i. :::; n.
Seção 5.1
1. Para cada raiz complexa não real z = a + bi de f, escreva o fator
(X - z)(X - z) de f como na prova do lema 5.1. Em seguida, ponha
f na forma fatorada e mostre que IJ(m)I-::/= O, 1.
2. Se a < a < /3 são as raízes de f mais próximas de a, aplique o teorema
de Bolzano a intervalos do tipo ( a, b) ou (b, a) contidos no intervalo
(a,/3).
3. Por contradição, suponha f' (a) > O ( o outro caso é análogo) e aplique
o item (a) do corolário 5.7, juntamente com o resultado do problema
anterior.
4. Aplique o teorema de Bolzano, o corolário 5. 7 e o resultado do pro-
blema anterior, observando que f'(x) = O {::} x = O ou x = i e
f(-1), J(i) <O< f(O).
259
5. Tome no maior que as maiores raízes reais de f e de f'. Use o te-
orema de Bolzano, juntamente com o fato de que f(x) > O para x
suficientemente grande ( conforme estimativa análoga à que precede
(3.7)) para mostrar que f(x) > O para x > no. Em seguida, use o
corolário 5.7 para mostrar que f(u) > f(v) para u > v > no.
6. Tome, de acordo com o problema anterior, no E N tal que u > v >
no::::} f(u) > J(v) > O. Em seguida, sem> no é um inteiro tal que
f(m) = p, um número primo, mostre que J(m + p2) é composto.
7. Inicialmente, mostre que a condição do enunciado equivale a x 11 -x =
y 11 - y. Em seguida, prove que, para qualquer e E JR, o polinômio
f(x) = X 11 - X - e tem no máximo três raízes reais distintas; para
tanto, você precisará utilizar os resultados do corolário 5. 7 e do pro-
blema 3, de maneira análoga àquela delineada na sugestão ao pro-
blema 4.
8. Como À -::/= O, mostre que À é raiz do polinômio do enunciado se, e ·
só se, f(.X) = 1, onde J(X) = (X - a1)(X - a2)(X - a3)(X - a4).
Agora, mostre que fé decrescente em (-oo, a1), de sorte que J(O) = 1
garante que À ~ a1. Por fim, note que, se a1 :::; À :::; a2, então
f(.X):::; o.
9. Sejam J(X) = aX4 + bX3 + cX2 + dX + e e t > 1 tal que t 2 é
uma raiz real de aX2 + (e - b)X + (e - d). Mostre que f(t)J(-t) =
(bt2 + d)(l - t 2) < O e, em seguida, use o teorema de Bolzano.
10. Faça
e conclua que xg'(x) = f(x) 2 ~ O, para todo x ~ O. Em seguida, use
o corolário 5.7 para concluir que g(l) ~ g(O) = O, com igualdade se,
e só se, g for constante.
11. Comece mostrando que f tem três raízes reais distintas a < /3 < "(,
tais que -2 <a< -1, O< /3 < 1 e 1 < 'Y < 2. Em seguida, observe
260 Soluções e Sugestões
que J(f(x)) = O se, e só se, f(x) = a, /3 ou 'Y· Por fim, examine
as quantidades de raízes reais distintas de cada um dos polinômios
f (X) - a, f (X) - /3 e f (X) - "f.
12. Seja g(x) = f(x) + f'(x) + f"(x) + · · · + j(n)(x) e suponha, por con-
tradição, que g assume valores negativos. Então, f i- O e a condição
f ( x) 2: O para x E IR garante que n é par e o coeficiente líder de J
é positivo. Portanto, limlxl----++oo f(x) = +oo, e o teorema de Wei-
erstrass (o teorema 4.31 de [121) garante a existência de x0 E IR tal
que g assume seu valor mínimo em xo, valor este negativo. Segue do
problema 3 que g'(xo) = O. Mas, como
g'(xo) = f'(xo) + f"(xo) + · · · + JCn)(xo),
temos que
O> g(xo) = J(xo) + g'(xo) = f(xo) 2: O, .
o que é uma contradição.
13. Mostre inicialmente que B pode jogar de forma tal que, quando falta-
rem ser escolhidos exatamente três coeficientes, ao menos dois deles
sejam coeficientes de termos xr, com r ímpar. Em seguida, após A
jogar, teremos f(X) = g(X) + aXk + bX1, sendo g um polinômio
completamente determinado, 1 ::; k, l ::; 2n - 1 inteiros distintos e a
e b coeficientes a escolher, tais que pelo menos l é ímpar. Por fim,
como f(2) = g(2) + 2ka+ 21b e J(-1) = g(-1) + (-l)ka-b, teremos
f(2) + 21J(-1) = g(2) + 219(-l) + (2k + (-l)k21)a, de forma que
B d · lh d 9C2)+219(-1) e 1 - a1 po e Jogaresco en o a = 2k+(-l)k 21 . onc ua que, apos t
jogada de B, teremos f (2) + 21 f (-1) = O, de sorte que, pelo TVI, f
terâ pelo menos uma raiz real, independentemente da última jogada
de A.
14. Sem perda de generalidade, suponha que o coeficiente líder do polinô-
mio f, originalmente escrito na lousa, é positivo, e sejam a a menor
e /3 a maior raiz real de f. Se a < /3, mostre que f'(a) > O ou
261
f' (/3) > O; se f' (/3) > O ( o caso f' (a) > O é anâlogo), conclua que
o próximo polinômio escrito na lousa ou não tem raiz no intervalo
[/3, +oo) ou tem uma raiz em (/3, +oo). Se a = /3, de sorte que
f(X) = (X - a)3 , mostre que f ± f' se enquadra no primeiro caso.
15. Se bi = -ai para 1::; i::; n, mostre que a condição f(x) 2: 1 equivale
a :f ~~ ::; O, onde q(X) = f1~=l (X - bi) e
Mostre que p tem uma raiz x1 E (b1, +oo); em seguida, use o teorema
de Bolzano para mostrar que p também possui uma raiz Xi em cada
um dos intervalos (bi, bi-1), para 2 ::; i ::; n. Analisando separada-
mente os casos n par e n ímpar, mostre que a soma dos comprimentos
dos intervalos-solução da inequação :f~~ ::; O é l~~=l Xi - ~~=l bil·
Por fim, use as relações de Girard para mostrar que ~~=l Xi = O.
Seção 5.3
1. Se f denota o polinômio do enunciado e g(X) = (X - l)f(X), então
g(X) = xn+I - 2xn + 1. Conclua, a partir da regra de Descartes,
que g tem no mâximo duas raízes reais positivas e, daí, que f tem
uma única raiz positiva, a qual deve ser an (alternativamente, apele
para o exemplo 5.17). Para concluir, é suficiente, pelo teorema de
Bolzano, mostrar que f (2 - 2n1:_i) e f (2 - 2;) têm sinais contrârios.
Por fim, use o fato de que 1 < 2 - 2n1:_I < 2 - 2; para mostrar que é
suficiente provar que g ( 2 - 2n1:_i) e g ( 2 - 2;) têm sinais contrârios.
2. Se f(X) = aX3 +bX2 +cX +d, queremos calcular o número de raízes
reais de g = 2f f" - (!')2 . Suponha, sem perda de generalidade, que
a = 1; ademais, se a < /3 < 'Y são as raízes de f, mostre que,
trocando g(X) por h(X) = g(X + /3), podemos supor, sem perda
'i I
262 Soluções e Sugestões
de generalidade, que /3 = O e, daí, que e < O e d = O. Sob tais
simplificações, um cálculo imediato fornece g(X) = 3X4 + 4bX3 +
6cX2 - c2 . Basta, agora, usar a regra de Descartes para concluir que
g tem exatamente uma raiz positiva e exatamente uma raiz negativa.
Seção 6.1
1. Para o item (i), use o fato de que âfj = j para concluir que an =
bn; em seguida, argumente por indução. Para (ii), tome n = âf e
argumente por indução sobre n; para o passo de indução, comece
escolhendo an igual ao coeficiente líder de f.
2. Para k = O e k = 1, o resultado é trivial. Para k 2:: 2, mostre que
G)(x) = O se O ::; x ::; k - 1, (1)(x) = (%) se x 2:: k e (1)(x) =
(-l)k(-xkl+k), se x < O. .
3. Aplique o teorema de interpolação de Lagrange.
4. Aplique o teorema de interpolação de Lagrange.
6. Adapte, ao presente caso, a demonstração da proposição 6.6.
7. Faça w = eis 2;; em seguida, para 1 ::; k ::; n-1 substitua x = wk nas
funções polinomiais correspondentes a p e aos Pj 's e use o resultado
da proposição 6.6.
8. Para cada um dos primos p do conjunto A= {3, 5, 7, 11, 13, 17}, seja
ap o valor comum das somas ak+ªk+p+ak+2p+· · · quando k varia de
1 a p, e Wp = eis 2;. Se J(X) = a50X50 + · · · + a2X2 + a1X, aplique
a versão geral da fórmula de multiseção ( dada pelo problema 5) para
r = O, 1, ... ,P - 1, a fim de obter um sistema linear de equações do
tipo (6.2) nas p incógnitas f(wi), O ::; j ::; p - 1. Conclua, com o
auxílio da proposição 6.6, que a solução de tal sistema é f(l) = pap
e f(wp) = · · · = f(w~- 1) = O, obtendo, assim, p - 1 raízes distintas e
não nulas para f. Por fim, notando que LpEA (p - 1) = 50 e que O
também é raiz de f, conclua que f = O.
263
Seção 6.2
1. Façamos indução sobre k 2:: 1, sendo o caso k = 1 imediato. Suponha,
por hipótese de indução, que a fórmula valha para um certo k E N.
Para k + 1, temos:
f(x + (k + l)h) = f(x + kh) + (fllf)(x + kh)
k
= f(x + kh) + ~ (;) (Ll~-j (Lllf))(x)
k k
= ~ G}L',~-i f)(x) + ~ G) (L'>!+l-j f)(x)
k
= ~ e) ( "'~-; !) (x) + (L'>~+l f)(x)
k
+ fi G}"':-(i-1) f)(x).
Agora, executando uma troca de índices na última soma acima e
utilizando a relação de Stifel, obtemos f(x+ (k+ l)h) sucessivamente
igual a
t G) ("'~-; f)(x) + ("':+! f)(x) + ~ C: 1) ("'•-; f)(x)
= (fl~+l f)(x) + (flif)(x)
+ ~ ( G) + C: 1)) ("'t+l}-(i+l} f)(x)
= I: k ~ 1 (Ll~+l-j f)(x). k+l ( )
j=O J
2. Adapte, ao presente caso, as soluções dos exemplos 6.15 e 6.15.
3. Como âf = n, a proposição 6.14 garante que fln+l f = O, onde
escrevemos [lk para denotar Llr Portanto, segue do item (e) da
264 Soluções e Sugestões
proposição 6.13 que
n+l
O = (~n+l f)(O) = L(-l)j (n ~ 1) f(n + 1 - j)
j=O J
n+l
_ '°'( l)j (n + 1) 1 - {;r_ - j · (n~i~j) + f(n + 1)
n+l
= I:(-l)j + f(n + 1),
j=l
de maneira que
n+l {
f ( n + 1) = - ~ ( -1 )J = O, se n = 1 (mod2)
1, se n = O(mod2)
4. Use o item (e) da proposição 6.13 para obter a igualdade
Em seguida, utilize o lema 2.12 de [13], juntamente com o resultado
do problema 18 da seção 6.2 de [10].
5. As condições do enunciado garantem que (~}f)(ü) > O para O< k <
4 - -
3 e (~if)(n) > O para todo n E N. Mostre agora que, para todo
m EN, temos
n-1
(~i-1 f)(n) = L(~i f)(k) + (~i-1 f)(O)
k=O
e, por fim, use a fórmula acima para mostrar sucessivamente que
(~ff)(n) > O, (~tf)(n) > O, (~if)(n) > O e f(n) = (~~f)(n) > O,
para todo n EN.
265
Seção 7.1
2. Inicialmente, mostre que Pi1 ••. Pkk divide ambos f e 9 em (Q[X]. Para
o que falta, comece mostrando que, se h E (Q[X] é mônico e tal que
h I f rni[X] t- h _ 81 8k 8~ 8f O J: em ~ , en ao - p1 ... Pk q1 ... q1 , com ::::; ui ::::; ai, para
1 ::::; i ::::; k, e O::::; 8: ::::; a~, para 1 ::::; i ::::; l.
3. Argumente por contraposição.
5. Comece utilizando o corolário 3.25, juntamente com o problema 2,
página 74, nos moldes do item (b) do exemplo 7.7.
6. Para o item (a), faça indução sobre k, utilizando o corolário 7.4 para
mostrar que existem li, Ík E JK[X] tais que t = "'l hªk-l + 4, com
g 91 ... gk-1 gk
li = O ou 8 f1 < 8(9f1 •.. 9~1:._11 ) e Ík = O ou 8 Ík < 8(9rk). Para
o item (b), comece dividindo f por 9k, obtendo f = 9kq + r, com
r = O ou O ::::; ar < 8(9k); em seguida, divida r por 9k-l e proceda
indutivamente.
Seção 7.2
2. Como f é redutível sobre (Q, existem 91, h1 E Q[X] momcos, não
constantes e tais que f = 91h1. Tome a, b, e, d E Z \ {O} tais que
mdc (a, b) = mdc (e, d) = 1 e 91 = i9, h1 = á9, com 9, h E Z[X]
mônicos e não constantes. Como bdf(X) = ac9(X)h(X), tome con-
teúdos e use o lema de Gauss para concluir que bd = ac.
Seção 7.3
2. Note primeiro que
f(a) =O::::;, f(a) =O::::;, ](a)= O.
A segunda afirmação é imediata.
'
i I
266 Soluções e Sugestões
5. Se a E <Q for uma possível raiz racional de f, o critério de pesquisa de
raízes racionais garante que a E Z e a 1 84, mas ainda fornece muitas
possibilidades para a; a fim de eliminar várias delas, projete f em
Z3[X] e em Zs[X] para concluir, com o auxílio do problema 2, que
a= O (mod3) e a= 4(mod5), de sorte que a= -6, -21 ou 84.
6. Faça indução sobre âf; no passo de indução você terá de usar que
P 1 ({) , para 1 :S k :::; p - 1.
7. Suponha que fg não é primitivo e fixe um primo p que divide todos
os seus coeficientes. A partir da igualdade fg = fg = Õ em Zp[X],
conclua que f = Õ ou g = Õ.
8. Use o resultado da proposição 7.19, juntamente com as relações de
Girard.
9. Mostre que, módulo 17, temos
X 3 - 3X2 + I = (X -4)(X - 5)(X + 6).
Em seguida, ponha Sk = ak + bk + ck, tk = 4k + 5k + (-6)k e conclua
( com o auxílio dos métodos da seção 4.2) que
A partir daí, mostre que sn E Z, para todo n E N, e sn = tn (mod 17).
Seção 7.4
1. Inicialmente, use o critério de pesquisa de raízes racionais para mos-
trar que o polinômio dado não tem raízes inteiras. Em seguida, analise
a possibilidade X 4 - X 2 + 1 = (X2 + aX + b)(X2 + cX+ d), com
a,b,c,d E Z.
267
2. Pelo lema de Gauss, basta mostrarmos que f não pode ser escrito
como o produto de dois polinômios não constantes de coeficientes in-
teiros. Para tanto, observe inicialmente que, pelo critério de pesquisa
de raízes racionais, f não possui raízes racionais; portanto, se f pu-
desse ser escrito como o produto de dois polinômios não constantes
de coeficientes inteiros, deveríamos ter
f(X) = (X2 + aX + b)(X3 + cX2 + dX + e),
para certos a, b, e, d, e E Z. Desenvolvendo o produto do segundo
membro acima e comparando coeficientes de mesmo grau, concluí-
mos que deveria ser be = 2, de forma que (b,e) = (1,2), (-1,-2),
(2, 1) ou (-2, -1). Mas, verifica-se facilmente que nenhuma dessas
possibilidades é compatível com as demais equações obtidas da com-
paração dos coeficientes.
3. Escreva f(Xn) = g(X)h(X), com g, h E ~[X] \ lR como prescrito
pelo enunciado e n > 1 (o caso n = 1 é trivial). Se g(X) = bkXk +
bk+lxk+i + · · · e h(X) = ezX1 + ez+1xz+1 + · · · , com bk, ez # O,
então, trocando g eh respectivamente por g(X) = bk + bk+lX + · · ·
e h(X) = ezXk+l + Cz+1Xk+l+l + · · · , podemos supor que g(O) # O.
Sejam, pois, g(X) = bo + b1X + · · · e h(X) = ezX1 + cz+1xz+1 + · · · ,
com bo, ez # O. Use o fato de que f(Xn) = g(X)h(X) para mostrar
que n l l. Em seguida, cancele os termos de grau mínimo em ambos os
membros da igualdade f(Xn) = g(X)h(X) e argumente por indução
sobre âf para mostrar que g(X) = g1(Xn) e h(X) = h1(Xn), para
certos 91, h1 E ~[X]\~ como prescrito pelo enunciado.
4. Pelo lema de Gauss, é suficiente examinar quando f = gh, com g e h
polinômios mônicos, não constantes e de coeficientes inteiros. Adap-
tando a ideia da prova do exemplo 7.32, temos 1 = f (O) = g(O)h(O),
de sorte que g(O) = h(O) = ±1; portanto, a1, a2, ... , an são raí-
zes duas a duas distintas do polinômio g - h. Se g - h # O, entãç:>,
â(g-h) :S max{âg, âh} < âf = n, de sorte que g-h teria menos de
n raízes distintas. Logo, g - h = O e, daí, f = g2 ou, ainda,
g(X)2 - 1 = (X - a1) ... (X - an)·
1
! '
1
268 Soluções e Sugestões
Em particular, devemos ter n = 2k, para algum k E N. Suponha,
sem perda de generalidade, que
g(X)-l = (X-a1) ... (X-ak) e g(X)+l = (X-ak+1) ... (X-a2k),
com a1 < a2 < · · · < ªk e ªk+l < ªk+2 < · · · < a2k· Então,
e, avaliando a igualdade acima respectivamente em a1, a2, ... , ak,
obtemos
para 1 ::;; i ::;; k. A partir daí, conclua que, se k 2:: 3, então ao menos
dois dos números ªk+l, ªk+2, ... , a2k seriam iguais, o que não ~ o
caso. Por fim, analise separadamente os casos k =· 1 e k = 2 para
obter os polinômios do enunciado.
5. Use o critério de Eisenstein, em conjunção com o resultado do item
(a) do problema 8, página 178.
6. Use o teorema 7.27, em conjunção com o critério de pesquisa de raízes
racionais (proposição 3.16).
7. Suponha f = gh, com g, h E Z[X] \Z, e examine a igualdade J(X) =
g(X)h(X) em Zp[X].
8. Pelo lema de Gauss, basta mostrar que fé irredutível em Z[X]. Por
contradição, suponha que fosse f = gh, com g e h não constantes
e de coeficientes inteiros e (sem perda de generalidade, uma vez que
f(O) = p) g(O) = ±1. Use as relações de Girard para concluir que g,
e então f, tem uma raiz complexa z de módulo menor ou igual a 1.
Por fim, substitua a expressão de f na igualdade f(z) = O e use as
hipóteses sobre os coeficientes de f para chegar a uma contradição.
9. Sejam z1, ... , Zn as raízes complexas de f. Se lzj J ::;; 1, para algum
1 ::;; j ::;; n, então
JaoJ = Ja1Zj + · · · + anz.11
::;; Ja1JlzjJ + · · · + JanlJziln
::;; Ja1J + · · · + JanJ,
269
o que é um absurdo. Logo, JziJ > 1, para 1::;; j::;; n. Suponha, agora,
que f = gh, com g, h E Z[X]\Z, digamos g(X) = bo+b1X + · +brXr
e h(X) = co + c1X + · · · + c8 X 8 • Reenumerando os Zj 's, se necessário,
podemos supor que as raízes de g são z1, ... , Zr. Então, segue das
relações de Girard que
Portanto, JboJ 2:: JbrJ + 1 e JcoJ ::;; JcsJ + 1, de sorte que
JaoJ = lbolJcoJ 2:: (lbrJ + l)(Jcsl + 1)
= lbrlJcsJ + lbrJ + lcsl + 1
2:: lbrlJcsJ + 2,vJbrllcsl + 1
= ( vlbrllcsl + 1)2
=(~+1)2.
Assim, JiaoT 2:: JfaJ + 1, o que é um absurdo.
10. Para cada 1 ::;; i ::;; k, escolha ai E Ai; em seguida, escolha um
primo p tal que p > a1, ... , ªk· Se A= {pq; q E N e p f q}, mostre
que existe 1 ::;; j ::;; k tal que A n Aj é infinito. Por fim, aplique o
critério de Eisenstein para mostrar que todo polinômio f de grau m,
com coeficiente líder ªi e demais coeficientes em A n Aj satisfaz a
condição ( c).
11. Para o item (a), use um argumento àquele da prova do lema 5.1.
Para o item (b), suponha que f = gh, com g, h E Z[X] \ Z. Então,
segue de (a) que todos os coeficientes de g1(X) = g (X+ m - !)
têm um mesmo sinal. Portanto, g2(X) := 91(-X) tem coeficientes
270 Soluções e Sugestões
não nulos e de sinais alternados, de sorte que 192 ( x) 1 < 191 ( x) 1 para
todo x > O e, daí, 9 (-x + m - !) < 9 (x + m - !), para todo x >
O; em particular, l9(m - 1)1 < l9(m)I. Conclua que l9(m)I ~ 2 e,
analogamente, lh(m)I ~ 2. Por fim, use o fato de que f(m) é primo
para chegar a uma contradição.
12. Combine o teorema de Pólya-Szegõ, dado pelo problema anterior, com
o resultado do problema 7, página 75.
Seção 8.1
1. Se f(X) = anXn+. · ·+a1X +ao E Q[X]\Q tem a por raiz, examine
o polinômio
(X) ªnxn an n-1 a1 [ ] \ 9 = - + -X +···+-X+ ao E Q X Q. rn rn-1 r
2. Pela primeira fórmula de de Moivre, temos ( cos 2; + i sen 2; )n = 1.
Em seguida, desenvolva o binômio e utilize a relação fundamental
da trigonometria para obter um polinômio não nulo, de coeficientes
racionais e tendo cos 2; por raiz.
3. Use o critério de Eisenstein 7.28.
4. Use primeiro o teorema de Gauss 7.15 para mostrar que existe 9 E
.Z[X] \ .Z, irredutível sobre .Z e tal que 9(a) = O. Conclua, com o
auxílio do lema de Gauss 7.14 que 9 também é irredutível sobre Q e,
daí, que 9 = Pa·
5. Para o item (i), aplique duas vezes a observação 8.10, juntamente com
o fato de que P..,ra(X) = X - y'a ou X 2 - a, conforme y'a E N ou
./a~ N (e analogamente para P,/b e P,jc)· Para o item (ii), use (i) e
o critério de pesquisa de raízes racionais.
271
6. Pelo problema 2, página 185, fé irredutível sobre Q. Suponha, agora,
que existam a e b inteiros primos entre si e n > 1 natural tais que
f(a) = O, onde a= v'fTI. Seja
9(X) = bXn - a= b(X - a)(X - aw) ... (X - awn-l),
onde w = eis 2;. Pelo corolário 8.4, temos que f = Pai portanto, o
item (b) da proposição 8.3 garante que f divide 9 em Q[X] e, daí,
em .Z[X] (uma vez que f E .Z[X] e fé mônico). Portanto, segue do
problema 2, página 7 4, que existem 1 :'.S k < l :'.S n - 1 tais que
Examinando o termo independente de f, segue que -a5 = 2 e, daí,
a = - ~- Mas, como h(X) = X 5 + 2 é irredutível (pelo critério de
Eisenstein) e h(a) = O, deveríamos ter f = h, o que é um absurdo.
7. Se a= a1, ... , am são as raízes de Pa e (3 = f31, ... , f3n são as raízes
de PfJ, o candidato natural a analisar é
h(X)= I1 (X-ai(3j)=(a1···ªmtfIPfJ(~ix).
l<i<m i=l
1~}3:;n
Agora, observe que a1 ... am = ±pa(O) E Q.
Seção 8.2
1. Use o item (a) da proposição 8.14 para n = pk-l e n = pk.
2. Uma raiz típica de <I>2n é w = eis 2;;, tal que 1 :'.S k :'.S 2n e
mdc (k, 2n) = 1. Use, agora, o fato de que -w também é dessa
forma para concluir que -w também é raiz de <I>2n· Conclua, pois,
que <I>2n(X) é o produto de fatores do tipo (X - w)(X + w).
272 Soluções e Sugestões
3. Se <I>m e <I>n tivessem um fator não constante comum em C[X], então
eles seriam idênticos, como polinômios minimais de uma qualquer de
suas raízes comuns. Sendo <I>m = <I>n = f, seguiria do item (a) da
proposição 8.14 que J2 dividiria xmn - 1, o que é um absurdo.
4. Primeiramente, veja que, com n e d como no enunciado, temos <p(n) =
<p(d) · ~' de forma que o<I>n = of, onde f(X) = <I>d(xnfd). Agora,
se w = eis 2~71"' com 1 :s; k :s; d e mdc(k,d) = 1, e rJ E (C é uma
raiz ~-ésima de w, mostre que rJ é uma raiz primitivan-ésima da
unidade. Conclua, por fim, que <I>n e f têm as mesmas raízes.
5. Pelo teorema de Dirichlet, escolha d EN tal que 1 + kd = p, um nú-
. E ºd ºd PA 1 l+d l+(k-l)d mero pnmo. m segm a, cons1 ere a (p-l)!, (p-l)!, ... , (p-l)! .
6. A versão geral do teorema de Dirichlet garante que a PA ( n + 2, 2n +
2, 3n + 2, ... ) contém infinitos primos. Sendo p = kn + 2 > a um
qualquer deles e g uma raiz primitiva módulo p, segue do fato de
{g, g2 , .•. , gP-1} ser um SCR módulo p a existência de um inteiro
1 :s; t :s; p - 1 tal que gi = a ( mod p). Agora, aplique o teorema de
Bézout para garantir a existência de naturais u e v tais que nu =
t + (p - l)v, de sorte que (gur = a (modp).
7. Considere, inicialmente, o caso em que a é ímpar. A condição do enun-
ciado garante a existência de naturais b e t e primos ímpares distintos
q1, ... , qt para os quais a= b2q1 ... qt; portanto, pela proposição 7.23
de [14], basta garantirmos a existência de infinitos primos p para os
quais ( ~) ... (;) = -1. Pela lei da reciprocidade quadrática, tal
relação equivale a
ÍI (p.) = (-l)l+(p;1)(8/),
j=l q]
onde s = I:;~=l qj. Aplique, agora, o teorema dos primos de Dirichlet,
escolhendo p = 4kq1 ... qt + 1.
8. Faça D. = a2 - 4b. Multiplicando ambos os membros da equação
dada por 4 e completando quadrados, mostre que as hipóteses do
273
problema garantem que a congruência x 2 = D. (mod n) tem solução,
para todo n E N. Se D. não for quadrado perfeito, escreva D. = af32 ,
com a, f3 E Z e lal > l. Use, então, o resultado do problema anterior
para chegar a uma contradição.
Seção 8.3
1. Prove que a expansão decimal de a não é periódica.
2. Supondo que tais números fossem racionais, deduza que 1r e e seriam
algébricos, exibindo polinômios com coeficientes racionais que teriam
tais números como raízes.
3. Se ya fosse algébrico, então várias aplicações do teorema 8.12 garan-
tiriam que o mesmo sucederia com ( va) = a. Se an fosse algébrico,
e f E (Q[X] \ {O} fosse tal que f(a) = O, construa g E (Q[X] \ {O} tal
que g(a) = O.
Seção 9.1
l. Use a relação (6.3) de [11] para estabelecer a recorrência satisfeita
pelas sequências (xn)n=:,:1 e (Yn)n=:,:1- Em seguida, adapte a solução do
exemplo 9.4 a esse caso.
2. Se f(X) = X 3 - 3X2 + 1, comece mostrando que f tem raízes reais
a > b > e, tais que - 160 < e < - 150 , 160 < b < 1~ e O < bn + cn < 1,
para todo inteiro n 2 2. Se an = an + bn + cn para n 2 1, mostre
que a1, a2, a3 E Z e ªk+3 = 3ak+2 - ak, para k 2 1; em seguida
conclua, a partir do que fizemos acima, que l an J = an - l. Por fim,
use a recorrência linear satisfeita pela sequência (an)n>l para mostrar
que ªk+17 = ak (mod 17); alternativamente, apele para o problema 9,
página 178.
274 Soluções e Sugestões
Seção 9.2
1. Para a segunda parte, suponha que lzl > R e faça E = lzl - R. Use a
condição de convergência para garantir a existência de n E N tal que
lzn - zl < E e deduza, daí, que lznl > R, o que é uma contradição.
2. Use o resultado do problema anterior.
3. Adapte os argumentos delineados na prova da proposição 9.15.
4. Aplique o resultado dos itens (a) e (b) do problema anterior à sequên-
cia das somas parciais de I:k21 (azk + bwk)·
6. Comece observando que, se (zn)n21 é uma sequência em X tal que
Zn--+ z, com z E X, então, pela desigualdade triangular,
IIJ(zn)l - lf(z)II ~ lf(zn) - f(z)I.
7. Veja inicialmente que, se (zn)n21 é uma sequência em X, tal que Zn--+
z, então lzn - zl < B para todo índice n suficientemente grande; daí,
I f ( Zn) - f ( z) 1 ~ AI Zn - z 1, também para todo índice n suficientemente
grande. Agora, mostre que a convergência de (zn)n21 para z acarreta
a convergência de (f(zn))n21 para J(z).
8. O caso m = 1 é o conteúdo do exemplo 9.12. Param= 2 e lzl < for,
segue, daí, que
Por indução, se
= L ak+lzk+l
k,l20
1 '°' (n + m -2) n n
(1 - az)m-l = L.....t m - 2 a z '
n20
Referências 275
então
1 1 1
onde utilizamos o teorema das colunas do triângulo de Pascal na
última igualdade acima.
Seção 9.3
2. Nas notações do enunciado da proposição 4.17, ponha J(X) = ITi=l (1+
ZjX) = I:"J=o SjXi; em seguida, calcule f' de duas maneiras distin-
tas, e.g., diretamente e com o auxílio da fórmula para ~(~i, dada no
problema 3, página 83. Por fim, compare, nos casos k < n e k ~ n, o
coeficiente de xk-l em ambas as expressões para f'. Você precisará
utilizar o resultado do exemplo 9.12.
276 Referências
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282 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPÍTULO A
Glossário.
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APMO: Asian-Pacific Mathematical Olympiad.
Áustria-Polônia: Olimpíada de Matemática Austro-Polonesa.
BMO: Balkan Mathematical Olympiad.
Baltic Way: Baltic Way Mathematical Contest.
Crux: Crux Mathematicorum, periódico de problemas da Sociedade
Canadense de Matemática.
IMO: lnternational Mathematical Olympiad.
283
284 Glossário
Israel-Hungria: Competição Binacional Israel-Hungria.
Miklós-Schweitzer: The Miklós-Schweitzer Mathematics Competi-
tion (Hungria).
NMC: Nordic Mathematical Contest.
OBM: Olimpíada Brasileira de Matemática.
OCM: Olimpíada Cearense de Matemática.
OBMU: Olimpíada Brasileira de Matemática para Universitários.
OCS: Olimpíada de Matemática do Cone Sul.
OIM: Olimpíada Ibero-americana de Matemática.
OIMU: Olimpíada Ibero-americana de Matemática Universitária.
ORM: Olimpíada Rioplatense de Matemática.
Putnam: The William Lowell Mathematics Competition (Estados
Unidos).
Torneio das Cidades: The Tournament of the Towns, olimpíada
intermunicipal mundial de Matemática.
Índice Remissivo
Adição de polinômios, 34
Algoritmo
da divisão para polinômios, 40
de Horner-Ruffini, 49
de Horner-Rufinni, 106
Argumento principal de um com-
plexo, 17
Argumentos de um complexo, 17
Bézout
Etienne, 156
teorema de, 156
Base, 141
Bolzano
Bernhard, 114
teorema de, 114
Chebyshev
Pafnuty, 61
polinômios de, 61
Coeficiente líder, 38
Complexo
argumento principal de um, 17
argumentos de um, 17
conjugado, 6
forma polar de um, 17
forma trigonométrica de um,
17
módulo de um, 7
plano, 7
raiz de um, 21
Complexos
adição de, 5
desigualdade triangular para,
11, 12
diferença de, 6
multiplicação de, 5
números, 3
quociente de, 6
Conjugado
de um complexo, 6
285
286 ÍNDICE REMISSIVO ÍNDICE REMISSIVO 287
de um quatérnio, 15 Elemento neutro, 37 identidades de, 106 Número
Conjunto aberto, 220
Fórmula Identidades
algébrico, 190
Conteúdo de um polinômio, 164 algébrico, grau de um, 209
Convergência de uma série, 225 de de Moivre, primeira, 18 de Horner-Ruffini, 106 imaginário puro, 8
de de Moivre, segunda, 21 de Jacobi, 110
transcendente, 190 de Moivre de multiseção, 66 Indeterminada, 45
Números complexos, 3 Abraham, 18 de Taylor, 81
Newton primeira fórmula de, 18 Fatoração canônica, 162 Jacobi
Isaac, 102 segunda fórmula de, 21 Forma polar, 17 Carl G. J., 108
teorema de, 102 Derivada Forma trigonométrica, 1 7 identidades de, 108, 110
de um polinômio, 76 Função teorema de, 108
Norma de um quatérnio, 15
propriedades da, 77 contínua, 227 Kronecker Ordem
Descartes polinomial, 46, 172 delta de, 136 de uma recorrência, 215
regra de, 131
Leopold, 136 lexicográfica, 103
René, 131 Gauss
Desigualdade Carl F., 69 Lagrange Pólya, George, 187
entre as médias, 126 lema de, 165 polinômios interpoladores de, Pólya-Szego, teorema de, 187
triangular, 11, 12 teorema de, 70, 83 136 PA
Desigualdades de McLaurin, 127 Girard, relações de, 91 teorema de interpolação de, 137 de ordem 1, 239
Diferença Grau, 38 Lema de Gauss, 165 de ordem m, 239
de polinômios, 37 de um número algébrico, 209 Limite de uma sequência, 222 Parte imaginária, 8
finita, 147 de um polinômio, 86 Lindemann, Ferdinand, 213 Parte real, 8
Dirichlet, teorema de, 206 propriedades do, 38 Liouville Plano complexo, 7
Disco exemplo de, 212 Polinômio Hamilton a n indeterminadas, 85 aberto, 220 Joseph, 209
fechado, 220
quatérnios de, 14
teorema de, 210 binomial, 142
William R., 14 característico, 216 Divisor
comum, 156
Hermite, Charles, 213 Módulo de um complexo, 7 ciclotômico, 202
Homotetia, 27 McLaurin coeficiente líder de um, 38 comum, máximo, 156
centro de, 27 Colin, 126 conteúdo de um, 164
Eixo razão de, 27 desigualdades de, 127 derivada de um, 76
imaginário, 7 Horner-Ruffini Multiconjunto, 62 forma fatorada de um, 72, 73
real, 7 algoritmo de, 49, 106 Multiplicação de polinômios, 34 grau de um, 38, 86
288
homogêneo, 98
irredutível, 159, 165
mônico, 38
primitivo, 164
raiz de um, 46
recíproco, 75
redutível, 159, 165
simétrico, 90
simétrico elementar, 91
simetrização de um, 99
ÍNDICE REMISSIVO
Michel, 118
teorema de, 118
Raízes, soma simétrica elementar
das, 92
Raiz
n-ésima da unidade, 22
n-ésima de um complexo, 21
da unidade, 22
de um polinômio, 46
múltipla, 52
variação de um, 128 multiplicidade de uma, 52
Polinômios primitiva da unidade, 202
adição de, 34, 86 simples, 52
algoritmo da divisão para, 40 teste da, 46
associados, 156 Raiz primitiva, 173
de Chebyshev, 61 da unidade, 202
diferença de, 37 Recorrência
iguais, 32 linear, 215
igualdade de, 87 ordem de uma, 215
interpoladores de Lagrange, 136 relação de, 215
multiplicação de, 34, 86 Relação
primos entre si, 158
quociente de, 42
relativamente primos, 158
Projeção sobre Zp[X], 169
Quatérnio
conjugado de um, 15
norma de um, 15
Quatérnios, 14
Quociente de polinômios, 42
Rôlle
de ordem parcial, 13
de ordem total, 13
Relações de Girard, 91
Resto, 42
Rotação, 27
ângulo de, 27
centro de, 27
Série
absolutamente convergente, 226
convergência de uma, 225
ÍNDICE REMISSIVO
de potências, 229
soma de uma, 225
soma parcial de uma, 225
SCI, 177
SCR, 66
Sequência
convergente, 222
divergente, 233
limite de uma, 222
recorrente linear, 215
subsequência de uma, 222
Sistema de Vandermonde, 140
Subsequência, 222
Szegõ, Gábor, 187
Teorema
de Bézout, 156
de Bolzano, 114
de Dirichlet, 206
de Gauss, 70, 83
de interpolação de Lagrange,
137
de Jacobi, 108
de Liouville, 210
de Newton, 102
de Pólya-Szegõ, 187
de permanência do sinal, 121
de Rôlle, 118
do valor médio, 117
fundamental da álgebra, 70
fundamental dos polinômios si-
métricos, 102
Unidade imaginária, 4
Vandermonde
Alexandre-Theóphile, 140
sistema de, 140
289
Variação de um polinômio, 128
.!ISBM
(continuação dos títulospublicados)
Treze Viagens pelo Mundo da Matemática· C. Correia de Sa e J. Rocha (editores)
Como Resolver Problemas Matemáticos · T. Tao
Geometria em Sala de Aula · A. C. P. Rellmeister (Comitê Editorial da RPM)
Números Primos, amigos que causam problemas - P. Ribenboim
Manual de Redação Matemática· D.C de Morais Filho
COLEÇÃO PROFMAT
Introdução à Álgebra Linear · A. Refez e C.S. Fernandez
Tópicos de Teoria dos Números. C. G. Moreira, F. E Brochero e N. C. Saldanha
Polinômios e Equações Algébricas · A. Refez e M.L. Villela
Tópicos de Historia de Matemática - T. Roque e J. Bosco Pitombeira
Recursos Computacionais no Ensino de Matemática · V. Giraldo, P. Caetano e F.
Mattos
Temas e Problemas Elementares - E. L. Lima, P. C. Pinto Carvalho, E. Wagner e
A. C. Morgado
Números e Funções Reais · E. L. Lima
Aritmética · Abramo Refez
Geometria · A. Caminha
Avaliação Educacional · M. Rabelo
Geometria Analítica · J. Delgado, K. Frensel e L. Crissaff
Matemática Discreta· A. Morgado e P.C.P. Carvalho
Matemática e Atualidade · Volume 1 . C. Rousseau e Y. Saint-Aubin
COLEÇÃO INICIAÇÃO CIENTÍFICA
Números Irracionais e Transcendentes· D. G. de Figueiredo
Números Racionais e Irracionais · I. Niven
Tópicos Especiais em Álgebra· J. F. S. Andrade
COLEÇÃO TEXTOS UNIVERSITÁR10S
Introdução à Computação Algébrica com o Maple · L. N. de Andrade
Elementos de Aritmética · A. Refez
Métodos Matemáticos para a Engenharia · E. C. de Oliveira e M. Tygel
Geometria Diferencial de Curvas e Superfícies · M. P. do Carmo
Matemática Discreta· L. Lovász, J. Pelikán e K. Vesztergombi
Álgebra Linear: Um segundo Curso . R. P. Bueno
.!ISBM
(continuação dos títulos publicados)
Introdução às Funções de uma Variável Complexa · C. S. Fernandez e N. C.
Bernardes Jr.
Elementos de Topologia Geral · E. L. Lima
A Construção dos Números · J. Ferreira
Introdução à Geometria Projetiva· A. Barros e P. Andrade
Análise Vetorial Clássica - F. Acker
Funções, Limites e Continuidade· P. Ribenboim
Fundamentos de Análise Funcional· D. Pellegrino, E. Teixeira e G. Botelho
Teoria dos Números Transcendentes · D. Marques
Introdução à Geometria Hiperbólica · O modelo de Poincaré · P. Andrade
Álgebra Linear: Teoria e Aplicações · T. P. de Araújo
COLEÇÃO MATEMÁTICA APLICADA
Introdução à Inferência Estatística · R. Bolfarine e M. Sandoval
Discretização de Equações Diferenciais Parciais· J. Cuminato e M. Meneguette
COLEÇÃO OLIMPÍADAS DE MATEMÁTICA
Olimpíadas Brasileiras de Matemática, 1 ª a 8ª - E. Mega, R. Watanabe
Olimpíadas Brasileiras de Matemática, 9ª a 16ª . C. Moreira, E. Motta,
E. Tengan, L. Amâncio, N. C. Saldanha e P. Rodrigues
21 Aulas de Matemática Olímpica· C. Y. Shine
Iniciação à Matemática: Um Curso com Problemas e Soluções - K. I. M. Oliveira e
A. J. C. Fernández
Olimpíadas Cearenses de Matemática 1981-2005 Nível Fundamental - E.
Carneiro, O. Campos e M.Paiva
Olimpíadas Cearenses de Matemática 1981-2005 Nível Médio. E. Carneiro, O.
Campos e M.Paiva
Olimpíadas Brasileiras de Matemática · 17° a 24ª · C. G. T. de A. Moreira, C. Y.
Shine, E. L. R. Motta, E. Tengan e N. C. Saldanha
COLEÇÃO FRONTEIRAS DA MATEMÁTICA
Fundamentos da Teoria Ergódica · M.Viana e K. Oliveira
Tópicos de Geometria Diferencial · A. C. Muniz Neto
Formas Diferenciais e Aplicações · M. Perdigão do Carmo