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Economia Ambiental Economia Política do Meio Ambiente no Brasil Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. Marco Antonio Gomes Revisão Textual: Profa. Esp. Vera Lídia de Sá Cicaroni 5 Ao iniciarmos o estudo sobre a Economia Política do Meio ambiente, mais especificamente no caso brasileiro, cabem algumas indagações. Como a questão ambiental afeta a realidade econômica brasileira? Em que contexto se insere a produção de bens e serviços, diante da nova realidade dada pela questão ambiental? Entender como funciona, atualmente, o sistema econômico é fundamental bem como entender os mecanismos de controle ambiental, as leis e marcos regulatórios e as condições estruturais para a inserção da economia do meio ambiente na realidade brasileira. As regulações estabelecidas em âmbito nacional coadunam com mecanismos existentes internacionalmente, ou seja, são criadas versões nacionais de instrumentos e ações consagrados internacionalmente. Veremos que eventos ocorridos no Brasil também levaram à adoção de medidas que impuseram novos marcos legais e regulatórios sobre a questão ambiental no território nacional. Promover o debate sobre as relações entre produção econômica e meio ambiente. Incutir novos conceitos e aprimorar o conhecimento sobre conceitos econômicos existentes e as novas realidades ambientais. Despertar conhecimento crítico e habilidade de desenvolver novas ideias e arranjos socioeconômicos. Economia Política do Meio Ambiente no Brasil · Introdução · Relações sociedade e meio ambiente no Brasil · Produção e a questão ambiental: as políticas de “comando e controle” · Economia Ambiental e instrumentos de mercado · Princípios orientadores de política ambientais · Principais obstáculos para Implementação de Instrumentos Econômicos Ambientais 6 Unidade: Economia Política do Meio Ambiente no Brasil Contextualização A questão ambiental é um assunto cotidiano no Brasil, seja por conta de notícias relacionadas às queimadas na Amazônia ou da crise hídrica que afeta o abastecimento público e a geração de energia elétrica. Mas nem sempre foi assim. Como se deu esse processo? Uma série de acontecimentos, ao longo das últimas décadas, influenciou o debate ambiental, ampliando os espaços de discussão e envolvendo diversos setores da sociedade. Um desses acontecimentos foi a redemocratização do país e a promulgação da Constituição de 1988, que foi resultado de longos debates e que propunha, entre outras coisas, a ampliação da participação da sociedade nas soluções dos grandes problemas nacionais. Além disso, temos a transição de uma economia clássica, que enxerga o meio ambiente como mero provedor de “recursos” ou matérias-primas, para uma economia ambiental, que enxerga na natureza bens e elementos passíveis de valoração econômica. Há, portanto, um embate conceitual entre duas visões de mundo: a que considera o meio ambiente como questão secundária, já que a natureza é uma provedora inesgotável de recursos; e outra que considera esses recursos cada vez mais escassos e limitados e que demanda mudanças nas relações sociedade – meio ambiente. 7 Introdução Nesta unidade vamos tratar do modo como as relações sociedade-natureza evoluíram recentemente no Brasil e de como essas relações ocasionaram a incorporação de inovações nos mecanismos de gestão do meio ambiente, levando a inovações de caráter econômico. Relações sociedade e meio ambiente no Brasil As políticas desenvolvimentistas, iniciadas no Brasil em meados do século XX e cuja ideologia pauta as discussões políticas fortemente ainda nos dias de hoje, representam, senão um entrave, um obstáculo à criação de políticas de sustentabilidade. Essas políticas buscam, em sua essência, a transformação do território por meio de intervenções sistemáticas, principalmente na área de infraestrutura – criação de parques industriais, rodovias, ferrovias, expansão das fronteiras agrícolas. Ocorre que essa visão de mundo, que incompatibiliza desenvolvimento com preservação ambiental, acaba por criar os conflitos que, por eles mesmos, alimentam as principais reivindicações da pauta ambiental. Os Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND), por exemplo, foram grandes orientadores da ocupação da região amazônica durante a década de 1970. A propaganda oficial dos projetos decorrentes desses planos, como a Rodovia Transamazônica, glorificava a ocupação da região como solução dos conflitos agrários ao levar “o homem sem-terra do Nordeste para a terra sem homem da Amazônia”. Não havia grandes preocupações com todas as implicações possíveis do ponto de vista socioambiental: as queimadas, degradação dos cursos d’água, empobrecimento do solo, conflitos entre migrantes e indígenas. Tudo ficou à revelia das discussões, o que acarretou, ao longo de décadas, sérios problemas de ordem social, econômica e ambiental. A criação e implementação de políticas ambientais ocasionou, na atualidade, contestações. As exigências ocasionadas por essas políticas passaram a ser consideradas, por muitos setores econômicos, como obstáculos ou entraves ao desenvolvimento nos modelos tradicionais. A questão ambiental, no Brasil, tornou-se uma preocupação emergente a partir de 1973, quando foi criada uma Secretaria Especial de Meio Ambiente em âmbito federal. Foram enfatizadas, principalmente, medidas de comando e controle, ou seja, políticas mais voltadas para fiscalização e punição de poluidores e infratores ambientais. Essa secretaria Especial viria a tornar-se, futuramente, o atual Ministério do Meio Ambiente. Nesse período, tornou-se emblemático o caso de Cubatão, município industrial da Baixada Santista (SP), em que surgiram problemas gravíssimos de saúde pública relacionados à poluição do ar. 8 Unidade: Economia Política do Meio Ambiente no Brasil Aprofundando o Tema: O caso de Cubatão, 1984. Em 1984, na cidade de Cubatão, na região da Baixada Santista, começaram a ser denunciados inúmeros casos de sérias doenças relacionadas à poluição do ar. Nessa cidade fica um imenso polo industrial, com empresas do setor de refino de petróleo, petroquímicas e siderúrgicas. A poluição do ar gerada por essas empresas ocasionou, primeiro, a ocorrência de chuvas ácidas, que destruíram a vegetação das encostas, provocando enormes deslizamentos. Além disso, eram constantes os relatos de doenças pulmonares, de irritação de mucosas e náuseas. A situação agravou-se com o aparecimento de diversos casos de bebês anencéfalos, ou seja, crianças que nasciam sem cérebro, deformidade que, posteriormente, foi relacionada com a poluição química. A região de Cubatão ficou conhecida mundialmente como Vale da Morte, o que levou as autoridades estaduais a implementar uma intensa política de punição aos poluidores e de recuperação ambiental. A ocorrência de uma explosão de um duto numa área povoada matou dezenas de pessoas, incendiando um bairro inteiro, o que serviu para denunciar a situação de extrema degradação pela qual passava a população. A situação começou a mudar com a implantação, em 1984, do Programa de Controle da Poluição Ambiental, envolvendo a CETESB (Companhia de Saneamento Ambiental do Estado de São Paulo), prefeitura e a comunidade local. Foram desenvolvidas ações de educação ambiental e de envolvimento das comunidades, para que estas se conscientizassem sobre os mecanismos de controle ambiental. As indústrias poluidoras receberam multas altíssimas, sendo obrigadas a instalar equipamentos de filtragem e treinar pessoal para lidar com acidentes e eventuais problemas. Atualmente, estima-se que 98% dessa poluição que ocorria nos anos 80 cessou, visto que há um controle permanente, por meio de medidores, sobre os níveis de poluição na região. Fonte:http://www.pensamentoverde.com.br/atitude/historia-poluicao-cubatao-cidade-deixou-vale-morte/. Anteriormente, na Conferência de Meio Ambiente de Estocolmo, em 1972, a posição assumida pelo governo brasileiro havia sidode ampla defesa do crescimento econômico, ainda que às custas da degradação do meio ambiente. Devemos lembrar que, nesse momento histórico, o Brasil estava atravessando um de seus maiores períodos de crescimento econômico baseado, essencialmente, na ampliação das infraestruturas (rodovias, usinas hidrelétricas, refinarias de petróleo) e no aumento da produção industrial. Apenas em 1975, durante a elaboração do II PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), foi conceituada legalmente a poluição industrial em nível federal e foi permitido que os estados e municípios estabelecessem controles ambientais sobre as empresas, o que ocorreu em São Paulo e no Rio de Janeiro (ALMEIDA, 1998, p. 137). Em 1981, a Lei Federal n. 6938 estabeleceu a base legal da Política Nacional de Meio Ambiente. Pela primeira vez, surgiu, na legislação brasileira, o princípio do poluidor-pagador, por meio do qual ficou estabelecida a obrigação de que o poluidor deve pagar pelos danos causados ao meio ambiente. Foi criado o Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA) – cujo órgão principal de caráter consultivo e deliberativo é o Conselho Nacional de Meio Ambiente (CONAMA). Pela primeira vez, foi estabelecido um conselho tripartite, envolvendo representantes de Estado, municípios e da sociedade civil, dando voz às organizações não governamentais e entidades ligadas aos trabalhadores. http://www.pensamentoverde.com.br/atitude/historia-poluicao-cubatao-cidade-deixou-vale-morte/ 9 A evolução da discussão sobre os problemas ambientais culminou, então, com a elaboração do Capítulo que trata do meio ambiente na Constituição Federal promulgada em 1988. Criou- se o Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal – IBDF, posteriormente transformado em Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA). Além disso, apareceram inovações, como a obrigação de reparação de danos ao meio ambiente, já que o meio ambiente passou a ser considerado bem de uso comum do povo, ou seja, de direito coletivo. Em 1992, a Secretaria Especial de Meio Ambiente da Presidência adquiriu caráter de Ministério – Ministério do Meio Ambiente, responsável pelo planejamento das políticas ambientais brasileiras. O IBAMA tornou-se o executor da Política Nacional de Meio Ambiente e o CONAMA, um órgão consultivo do sistema. O novo Código Florestal Brasileiro Em 2012, após um imenso processo de revisão que contrapôs, de um lado, produtores agrícolas e, de outro, ecologistas, foi publicada a lei Federal 12.651, também conhecida como novo código florestal brasileiro. O Código Florestal anterior, de 1965, era considerado ultrapassado e de difícil aplicação pelos setores do agronegócio especialmente. A nova lei manteve conceitos fundamentais, como a Reserva Legal e as Áreas de Proteção Permanente (APP), estabelecendo regras mais flexíveis para sua obtenção, que levam em conta o tamanho da propriedade, por exemplo. O projeto aprovado pelo Congresso Nacional foi vetado pela presidente da República, tendo sido vários de seus artigos substituídos. Isso, no entanto, não satisfez vários setores da sociedade preocupados com a questão ambiental, já que vários itens polêmicos foram mantidos – caso da possibilidade de recuperação de Áreas de Proteção Permanente com espécies exóticas (não nativas do Brasil). Fonte: http://www.imaflora.org/downloads/biblioteca/52d7c3a819c3e_Guia_Aplicao_Nova_Lei_Florestal.pdf Produção e a questão ambiental: as políticas de “comando e controle” A instituição das chamadas “políticas de comando e controle” começou a incutir, no setor produtivo, cuidados com o meio ambiente. Essas políticas são muito aplicadas em termos de política ambiental, especialmente por conta de sua eficácia, já que as ações são mais visíveis e obtêm maior respaldo imediato da opinião pública, em especial de grupos ambientalistas (ALMEIDA, 1998, p. 44). Ainda segundo essa autora, esses instrumentos de regulação de forma direta são preferidos também pelas empresas poluidoras: As empresas acreditam ter maior influência sobre as regulações por intermédio de acordos, negociações, algumas até de caráter ilícito (suborno a fiscalizadores, por exemplo). Certas formas de regulação – como as licenças não comercializáveis, padrões de qualidade ambiental, zoneamentos – podem operar como barreiras à entrada, favorecendo as empresas já estabelecidas no mercado, que se esforçam por alegar que o meio ambienta já está sobrecarregado de poluidores (ALMEIDA, 1998, p. 44). http://www.imaflora.org/downloads/biblioteca/52d7c3a819c3e_Guia_Aplicao_Nova_Lei_Florestal.pdf 10 Unidade: Economia Política do Meio Ambiente no Brasil Se, antes das políticas de comando e controle, era possível iniciar qualquer atividade sem se preocupar com a origem dos recursos e o destino dos rejeitos, agora é necessário preocupar-se com diversas questões: o licenciamento da atividade; os processos produtivos mais limpos; a destinação dos resíduos sólidos, do esgoto e dos rejeitos da produção. Estabeleceram-se, ainda, padrões ambientais, comuns no Brasil especialmente a partir da experiência paulista no polo industrial de Cubatão. Os inúmeros problemas de saúde surgidos levaram a uma ampla movimentação social, exigindo que fossem tomadas providências. Os opositores da premência das políticas de comando e controle apontam uma série de desvantagens que estas apresentam, especialmente no longo prazo: · provocam ineficiência econômica, por desconsiderarem as diferenças entre agentes privados; · envolvem custos crescentes, já que demandam a utilização de normas e especificações, assim como mobilizam imensos setores de fiscalização; · acabam por criar barreiras que impedem a circulação de licenças comercializáveis – mecanismo mais defendido pelos economistas ambientais modernos; · não apresentam um incentivo à melhoria dos padrões de qualidade no combate à poluição; · podem sofrer manipulação por parte de agentes econômicos importantes. Mesmo com tal oposição, esse tipo de política ainda é muito importante para regular setores que tendem a se concentrar espacialmente ou em casos em que é necessário evitar o esgotamento de capacidade de carga de uma determinada área – caso dos zoneamentos ecológicos, por exemplo. Quadro 1: Instrumentos de política ambiental baseados em regulação direta (comando e controle). Tipo de Instrumento Descrição Padrões Padrões de emissão de poluentes, padrões de qualidade ambiental, padrões tecnológicos (controle de equipamentos), especificações de processo e produtos (composição, durabilidade etc.) Zoneamentos e Licenças O zoneamento fixa áreas em que não são permitidas algumas atividades, além de conceder licenças (não comercializáveis) para instalação e operação. Serve, ainda, para restringir atividades a determinadas áreas ou certos períodos. Cotas Limites (cotas) à extração de algum produto específico, como madeira, peixes etc. Fonte: adaptado de ALMEIDA, 1998, p. 47. O estabelecimento de padrões, em diversos níveis, tem como aspecto positivo a determinação de uma linha de base, a partir da qual se obtêm parâmetros mínimos a serem seguidos por todos. A criação de cotas funciona de modo mais específico e, especialmente, sobre áreas ou insumos que sejam objeto de exploração predatória ou cuja exploração seja limitada no tempo (períodos de reprodução de espécies, por exemplo). De modo similar, a criação de zoneamentos determina áreas específicas no território, a partir de usos, com parâmetros e regulações específicas. Além de uma política de comando e controle, pode ser também um bom exemplo de planejamento indicativo, se feito a partir de uma ampla participação da sociedade. Se feito de maneira inadequada, pode representar um obstáculo à boa execução de políticas públicas. 11 Economia Ambiental e instrumentos de mercado Conforme os princípios da Economia ambiental, que são fundados basilarmente na teoria econômica neoclássica, os distúrbios ambientais nada mais são do que consequências das imperfeiçõesde mercado. De acordo com o prof. Sabetai Calderoni: A economia funciona a partir de preços que se formam em consequência da escassez relativa dos bens e serviços de que a humanidade necessita e a que aspira para satisfazer seus desejos. Os preços são os indicadores que orientam o comportamento dos consumidores, das empresas, dos governos e de todas as instituições e indivíduos que interagem, ofertando e demandando esses bens e serviços (CALDERONI, in: PHILLIPPI JR, 2004, p. 575). Sendo assim, a visão de Adam Smith sobre a mão invisível do mercado serviria também para respaldar as ações sobre o meio ambiente. Basta que se atribuam aos bens e serviços ambientais preços que reflitam sua escassez relativa, para que seja possível sua preservação. Apesar da dificuldade de serem estabelecidos valores para serviços ambientais, como água, ar, solo, florestas, existem meios de se observar esses valores por intermédio dos custos destes como fatores de produção. Instrumentos Econômicos A teoria econômica tradicionalmente considera a degradação do meio ambiente como mera externalidade, ou seja, como uma imperfeição do sistema econômico que produz discrepância entre os custos privados e os sociais (ALMEIDA, 1998, p. 47). Para corrigir essas imperfeições, podem ser criados instrumentos econômicos ambientais que interfiram na relação custo-benefício, estimulando mecanismos que favoreçam a redução da degradação do meio ambiente pelos setores produtivos. A utilização desses instrumentos suplantaria, gradativamente, as de comando e controle, na medida em que permitiria maior flexibilidade de adaptação para os agentes produtivos. Segundo Macedo (2002), A valoração econômica do meio ambiente é o grande desafio a ser superado para a inclusão dos indicadores ambientais nas contas nacionais. Em vista das limitações expostas, relativas à atribuição de valores monetários aos fenômenos ambientais, a abordagem física tem algumas vantagens e parece ser de mais fácil implementação na medida em que independe dos pressupostos econômicos (MACEDO, 2002, p. 218). Se houver a necessidade, por parte de uma empresa, de remediar uma área contaminada ou despoluir um rio ou recuperar uma floresta, pode ser importante para essa empresa estabelecer mecanismos que eliminem ou minimizem seus impactos, já que o custo disso pode ser consideravelmente maior que o de reverter o dano. 12 Unidade: Economia Política do Meio Ambiente no Brasil Assim, a prevenção durante a elaboração de um projeto por parte dessa empresa pode significar redução drástica de gastos futuros, isso sem contar os possíveis efeitos negativos que uma ação mal elaborada pode causar na sua imagem. Segundo Calderoni, existem algumas técnicas que podem ser utilizadas para estimar o custo da proteção ambiental envolvida. São elas: · métodos de engenharia, ou seja, utilização de coeficientes relacionando, por exemplo, quantidade produzida e controle da poluição; · estimativa do custo dos danos, que visa reparar os danos ao ambiente; · perda de lucros e ganhos, cálculo que visa observar quanto se ganharia mediante um processo indenizatório, por exemplo; · avaliação de contingente, quando se pesquisa até que ponto o consumidor estaria disposto a pagar mais por um produto ambientalmente correto; · custo de reposição, quando se calcula o valor necessário para se repor o ativo ambiental eventualmente danificado; · princípio da contaminação ótima: “a contaminação será boa enquanto os benefícios que proporciona às empresas contaminadoras e aos consumidores, que pagarão menos pelos produtos, forem superiores aos custos atribuídos aos que sofrem as consequências desta contaminação” (CALDEROI, in PHILLIPPI JR, 2004, p. 581). Já, para o autor Zilton Luiz Macedo (2002), os principais métodos de avaliação monetária dos bens ambientais são: a) Produção Sacrificada – consiste em avaliar, a preços de mercado, a produção que deixa de ser realizada como consequência dos danos causados ao meio ambiente por outras atividades; b) Disposição a pagar – quando o meio ambiente não tem apenas valor de mercado (mensurável pelo método anterior) mas, também valor de uso futuro e valor da própria existência, tais como a preservação de florestas ou de paisagens (MACEDO, 2002, p. 211). A tabela a seguir elenca os principais instrumentos econômicos utilizados para proporcionar mudanças nas relações sociedade – meio ambiente: Quadro 2: Instrumentos Econômicos Instrumentos Usos Impostos Servem tanto para levar as empresas a considerar um nível ótimo de poluição como também para, ao fixar uma meta, obter das empresas o cumprimento de objetivos ambientais. Taxas Ambientais Em geral, uma taxação serve para estabelecer limites para comportamentos danosos por parte de entidades regulamentadas. Assim, as fontes escolhem: ou emitem poluição e pagam ou implementam programas de controle ambiental e de prevenção de danos (CALDERONI apud PHILLIPPI JR, 2004. p. 597) 13 Certificados transacionáveis Servem para trocar potenciais de poluição de uma empresa ou região para outra. Assim, se uma área tiver alcançado um nível máximo de emissões, por exemplo, pode comprar créditos de outra área que tenha investido em preservação. Subsídios Em oposição às taxas e impostos, os subsídios são parte de uma política de incentivos para aqueles que mudarem condutas negativas ou que estejam implementando ações benéficas ao meio. Pode se dar por meio de custeio de equipamentos, linhas especiais de financiamento etc. A utilização desses instrumentos econômicos de gestão ambiental é eficaz desde que se cumpram também outros fatores. Decisões empresariais podem ser muito mais influenciadas, por exemplo, por conjunturas específicas determinadas por políticas macroeconômicas. Assim, pouco adianta ter incentivos e taxas de proteção ambiental, se os valores não forem compensatórios ou se o peso desses fatores for pequeno na planilha de cálculo de um empreendedor. É fundamental que haja uma articulação entre essas políticas específicas, de cunho ambiental, e as demais políticas públicas, proporcionando, assim, maior colaboração e coordenação entre os agentes, tornando a política efetiva (CALDERONI in: PHILLIPPI JR, p. 598) A cobrança de taxas e impostos tem um efeito duplo: incentiva o empreendedor a eliminar fontes poluentes, desde que o custo seja menor do que a taxa, e também gera caixa para que o agente público possa implementar ações ambientais, inclusive por meio de subsídios a ações benéficas (MACEDO, 2002, p. 214). Aprofundando o tema: Limites físicos para o desenvolvimento Muitos autores creem que há um limite físico ao desenvolvimento, após o qual nem mesmo os avanços tecnológicos poderão fazer frente. Este debate tem sido muito amplo na comunidade científica desde os anos 70 do século XX. Para eles, a utilização de instrumentos econômicos ou a incorporação de inovações apenas retardam a degradação inevitável do meio ambiente. Alguns autores, como Rachel Carson e Schumacher, acreditam que a evolução tecnológica não trará, por si só, uma maior proteção ao meio ambiente e recursos naturais. Pelo contrário: a evolução tecnológica, ao permitir maior exploração econômica, tornaria ainda mais acelerados os processos que culminariam com a devastação do planeta (SAES; MIYAMOTO, 2012). Esses autores, juntamente com D. Meadows, influenciaram a elaboração do trabalho Limits to Growth (Limites do Crescimento) de 1972. Esse grupo demonstrava um grande pessimismo, já que seus estudos demonstravam que, mesmo com interferência do desenvolvimento tecnológico, a humanidade atingiria um ponto, nos próximos 100 anos, em que não seria mais possível nenhum crescimento populacional ou econômico. Um contraponto surgiu com o trabalho de pesquisadores de Sussex, na Inglaterra, que criticavam a visão pessimista do relatório de 1972. Apesar de também não terem uma crença cega no determinismo tecnológico, estes pesquisadores afirmavamser necessária uma ampla participação da sociedade no encaminhamento de soluções dos problemas ambientais. 14 Unidade: Economia Política do Meio Ambiente no Brasil Princípios orientadores de política ambientais De acordo com Calderoni (apud Phillippi Jr, 2004), há princípios consolidados internacionalmente para orientar as políticas ambientais, os quais são divididos em: Princípio da Precaução, Princípio da Sustentabilidade e Princípio da Responsabilidade. Falaremos, em primeiro lugar, sobre o Princípio da Responsabilidade, cujas ações dividem-se em: · responsabilidade pós-consumo do produtor pelas mercadorias e serviços colocados no mercado; · responsabilidade por eventuais danos causados ao meio ambiente, sejam econômicos ou sociais; · adoção do princípio do poluidor-pagador. O princípio do poluidor-pagador O princípio do poluidor-pagador serve para orientar a aplicação de penalidades no Direito Ambiental brasileiro, na medida em que determina que o custo decorrente das atividades poluentes deve ser imputado ao poluidor. Os instrumentos econômicos são fundamentais para que se exija daqueles que causam danos ao meio ambiente a responsabilidade por suas ações, propiciando a reparação dos danos. As atividades privadas, ao produzirem custos que são repassados à comunidade, estão sujeitas à penalização. Quando a relação custo-benefício de um empreendimento tende a ser negativa no âmbito social, o agente econômico pode ser dissuadido, seja por meio da exigência de equipamentos ou ações que revertam os danos, seja por meio de pagamento pelos danos. Se o agente regulador, geralmente o Estado, especifica quais procedimentos devem ser seguidos pelos poluidores, está sendo posta em prática uma medida conhecida por “comando e controle”. Esse é o tipo de medida mais comum no caso brasileiro. Em geral, esses instrumentos têm caráter normativo, mas podem também influenciar questões de ordem econômica e ambiental (CALDERONI, 2004, p. 614). Via de regra, apresentam “obrigações de fazer ou de não fazer, instituem metas e gradações para o desempenho de funções e estabelecem o modo como tais obrigações devem ser cumpridas” (CALDERONI, 2004, p. 614). O princípio do usuário-pagador O princípio do usuário-pagador estabelece que “a cobrança deve onerar aqueles que são usuários do bem ou serviço ambiental” (BRAGA et alii, 2005 p. 230). Para que seja adequadamente implementado, este princípio da Economia Ambiental pressupõe que se tenha claro qual o valor a ser cobrado, de quem cobrar e qual o melhor instrumento de cobrança do ponto de vista legal (taxa, contribuição) (BRAGA et alii, 2005, p. 230). 15 Este princípio foi utilizado na elaboração da Política Estadual de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo – Lei 7.663/91, ao determinar a necessidade de que o uso da água fosse pago por aqueles que dela se beneficiam, dependendo do grau de utilização de cada setor – agricultura, abastecimento público, indústrias etc. Princípio do beneficiário-pagador Este é um princípio suplementar ao anterior, na medida em que estabelece que, nos casos em que uma obra ou ação traga benefícios ambientais, econômicos ou sociais a vários grupos, estes devem compartilhar o custo desses benefícios. Se uma empresa de abastecimento, por exemplo, constrói uma represa, mas também proporciona benefícios outros além daquele que era o objetivo inicial (ela pode, por exemplo, proporcionar lazer e recreação para população do entorno; excedente hídrico que pode ser usado em irrigação, entre outros benefícios) essa empresa pode, por este princípio, cobrar pelo benefício proporcionado (BRAGA et alii, 2005, p. 231). Principais obstáculos para Implementação de Instrumentos Econômicos Ambientais Além das considerações já feitas, de ordem macroeconômica, que influenciam a implementação de instrumentos econômicos, existem outros fatores que precisam ser levados em conta. Como a temática ambiental, no Brasil, é considerada de competência concorrente, as entidades de nível municipal, estadual e federal devem buscar ações sinérgicas que amplifiquem os benefícios e facilitem a aplicação desses instrumentos. Em muitos casos, não existem políticas conjuntas ou complementares para dar conta das inúmeras situações de ameaça à política ambiental. Para piorar, algumas vezes, as ações são duplicadas ou contraditórias. Pode haver, ainda, conflitos de interesses entre órgãos no cumprimento das políticas bem como conflitos de competência (CALDERONI in PHILLIPPI JR, 2004, p. 599). Alguns princípios de Economia Ambiental, voltados para a implementação de instrumentos econômicos, podem conter ações de não muito fácil mensuração ou aplicação. O princípio do beneficiário-pagador é um exemplo. Por mais justo que tal princípio possa parecer, na prática essas ações podem encontrar imensos obstáculos à sua implementação. No caso específico da cobrança pelo uso dos recursos hídricos, há forte resistência à sua aplicação por grupos que estão acostumados, historicamente, a usufruir livremente desse recurso – a água – que tem se tornado cada vez mais escasso. 16 Unidade: Economia Política do Meio Ambiente no Brasil Material Complementar Explore MACEDO, Zilton Luiz. Os limites da economia na gestão ambiental. Revista Margem: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, nº 15, p. 203-222, Junho de 2002. PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A globalização da natureza e a natureza da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. Explore Sociedade Brasileira de Economia Ecológica: http://www.ecoeco.org.br/conteudo/publicacoes/encontros/ii_en/mesa2/4.pdf http://www.ecoeco.org.br/conteudo/publicacoes/encontros/ii_en/mesa2/4.pdf 17 Referências ALMEIDA, Luciana Togeiro de. Política Ambiental: Uma análise econômica. Campinas: Papirus/UNESP, 1998. BRAGA, Benedito et alii. Introdução à Engenharia Ambiental. São Paulo: Pearson/Prentice Hall, 2005. CALDERONI, Sabetai. Economia Ambiental. In: PHILIPPI JR, Arlindo; ROMERO, Marcelo Andrade; BRUNA, Gilda Collet. (Editores) Curso de Gestão Ambiental. Barueri – SP: Manole, 2004. MACEDO, Zilton Luiz. Os limites da economia na gestão ambiental. Revista Margem: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, nº 15, p. 203-222, Junho de 2002. PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. A globalização da natureza e a natureza da globalização. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006. ROMEIRO, A. R. Economia ou Economia Política da sustentabilidade. IE/UNICAMP, nº102, set. 2001. SAES, B. M.; MIYAMOTO, B. C. B. Limites físicos do crescimento econômico e progresso tecnológico: o debate “The Limits to Growth versus Sussex. Desenvolvimento e Meio Ambiente, v. 26, p. 51-68, jul./dez. 2012. Curitiba: Editora UFPR. Sites: Imaflora: http://www.imaflora.org/downloads/biblioteca/52d7c3a819c3e_Guia_Aplicao_ Nova_Lei_Florestal.pdf Revista Eletrônica Âmbito Jurídico: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_ link=revista_artigos_leitura&artigo_id=932 Pensamento Verde: http://www.pensamentoverde.com.br/atitude/historia-poluicao-cubatao- cidade-deixou-vale-morte/ 18 Unidade: Economia Política do Meio Ambiente no Brasil Anotações
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