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História da Psicologia no campo da saúde Primeiramente é necessário fazer uma distinção entre a psicologia da saúde e a psicologia hospitalar. O termo ‘Psicologia Hospitalar’ não existe em outros países que não o Brasil. Em 1940 a Psicologia teve ingresso no campo da saúde, no qual buscava construir modelos alternativos aos hospitais psiquiátricos e se inserir dentro dos hospitais gerais inserção dos psicólogos visando melhorar a qualidade da assistência hospitalar. A psicologia hospitalar teve espaço inicial por fazer parte e representar o modelo biomédico, principalmente por se fazer presente nos campos de atenção de maior complexidade. Hoje entende-se que há a psicologia da saúde, por abranger vários cenários de atuação. Em 1962 a psicologia ganha, no Brasil, status de profissão com curso de formação e regulamentada (formação generalista). Naquela época, as áreas possíveis para exercer a profissão incluíam o magistério, escolar, clínica e industrial (organizacional) a área especifica é construída para compreender e delimitar um conjunto de características das atividades a serem desenvolvidas. Ao longo do tempo, foram surgindo outras áreas (áreas emergentes) a partir das principais já citadas, dentre elas, a psicologia da saúde. A partir do final da década de 70 a American Psychological Association (APA) reconheceu a psicologia da saúde como um novo campo do saber. No Brasil, as equipes começaram a contar com a figura do psicólogo nos postos de saúde (UBS), hospitais gerais, ambulatórios, CAPS (etc.) entre os anos 1990 e 2000, em um momento em que o Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil estava estruturando-se. Assim, se inaugurava a entrada dos psicólogos nos serviços de atenção à psicologia da saúde, fato que desvelou a fragilidade da formação de psicólogos em termos de seu preparo para atuar na saúde pública no nível da atenção primária. Apesar de ser uma disciplina nova, a Psicologia da Saúde tem crescido rapidamente. “O que seria no Brasil a Psicologia Hospitalar é denominada Psicologia da Saúde em outros países. Entretanto, esses dois conceitos não são equivalentes, em primeiro lugar, pelo próprio significado de tais termos – saúde e hospital. Enquanto saúde se refere a um conceito complexo relativo às funções orgânicas, físicas e mentais (WHO, 2003), hospital diz respeito a uma instituição concreta onde se tratam doentes, internados ou não. Assim, o próprio significado da palavra saúde leva-nos a refletir sobre a prática profissional centrada na intervenção primária, secundária e terciária. Já quando nos referimos ao hospital, automaticamente, pensamos em algum tipo de doença já instalada, só sendo possível a intervenção secundária e terciária para prevenir seus efeitos adversos, sejam eles físicos, emocionais ou sociais” (Castro & Bornholdt, 2004). Esse campo tem conquistado espaço também desde os anos 80, com a Reforma Sanitária Brasileira – principalmente com a criação do SUS em 90, adentrando à Rede de Atenção à Saúde (RAS). Além disso, trouxe consigo a dimensão ampliada do conceito de saúde-doença. Desde a oitava Conferência Nacional de Saúde em 1986, há uma mobilização para que os profissionais de saúde expandam suas ações para além dos ambulatórios e hospitais, abrangendo a atenção primária. Bases principais da VIII Conferência Nacional de Saúde: 1) Saúde como um direito de cidadania de TODOS 2) Reformulação do sistema de saúde 3) Bases de financiamento do setor (saúde) Conceito ampliado: lei orgânica da saúde - LOS 8080/90 Os níveis de saúde expressam a organização social e econômica do país, a saúde tem como determinantes e condicionantes, entre outros, a alimentação, a moradia, o saneamento básico, o meio ambiente, o trabalho, a renda, a educação, a atividade física, o transporte, o lazer e o acesso aos bens e serviços essenciais. Parágrafo único. Dizem respeito também à saúde as ações que se destinam a garantir às pessoas e à coletividade condições de bem-estar físico, mental e social. Psicologia da Saúde Qual objetivo da psicologia da saúde? Seu interesse está na forma como o sujeito vive e experimenta o seu estado de saúde ou de doença, na sua relação consigo mesmo, com os outros e com o mundo. Objetiva fazer com que as pessoas incluam no seu projeto de vida um conjunto de atitudes e comportamentos ativos que as levem a promover a saúde e prevenir a doença. Dessa forma, busca compreender o papel das variáveis psicológicas sobre a manutenção da saúde, o desenvolvimento de doenças e seus comportamentos associados. Além de desenvolver pesquisas sobre cada um desses aspectos. A psicologia da saúde atua tanto na assistência quanto no ensino. O domínio diz respeito ao papel da Psicologia, como ciência e como profissão, nos campos da saúde e da doença, incluindo as saúdes física e mental e abrange todo o campo da Medicina, mas ultrapassando-o ao levar em conta os fatores sociais, culturais e ambientais. Segundo Matarazzo: Psicologia da Saúde é o conjunto de contribuições educacionais, científicas e profissionais específicas da Psicologia, utilizadas para a promoção e manutenção da A Psicologia da Saúde visa compreender e atuar sobre a inter-relação entre comportamento e saúde e comportamento e doenças. Também são objetos de estudo os funcionamentos psicológicos habitualmente saudáveis envolvidos em situações que, mesmo implicando ajuste emocional, não acarretam alterações no estado de saúde, como por exemplo, a gravidez e o envelhecimento. Visa também aperfeiçoar técnicas de enfrentamento no processo de ajustamento ao adoecer, à doença e às suas eventuais consequências. saúde, prevenção e tratamento das doenças, identificação da etiologia e diagnóstico (de problemas) relacionados à saúde, doença e disfunções, para a análise do sistema de atenção à saúde e formação de políticas de saúde. Um grande desafio dos psicólogos nesse tempo de inserção no campo da saúde foi a utilização de princípios da psicologia clínica, muito utilizada e referenciada na época. A situação retratava pouca habilidade em adequar as necessidades ao novo contexto. “Um novo paradigma que precisava de revisão teórico-prática” para atender as demandas dos diferentes segmentos socioeconômicos e territoriais e para sair do modelo assistencial, iniciando um modelo preventivo. Observação: Alguns autores alertam que a utilização de termos como ‘medicina comportamental’, ‘psicologia médica’ e ‘medicina psicossomática’ é “inadequada, confunde e limita o campo de atuação do psicólogo da saúde”. Essa situação se reflete na prática na forma de confusão quanto à definição do papel profissional do psicólogo atuante na área da saúde. Exemplos de prevenção exames, campanhas educativas, hábitos saudáveis Em 2004 foi criada uma nova Diretriz Curricular Nacional (DCN), que tem por objetivo definir a identidade e homogeneidade do curso de Psicologia (com defesa de uma formação ampla). Essas bases curriculares foram criadas a partir do Compromisso e compreensão crítica dos fenômenos socioculturais Formação dos profissionais deve contemplar o sistema de saúde vigente no país e suas derivações (trabalho em equipe, atenção à saúde) e Foram ressaltadas as habilidades e competências a serem aplicadas à promoção de saúde e prevenção de agravos. Ainda em 2004, foi aprovada a política direcionada ao diálogo com a graduação (AprenderSUS) Em 2005 foi firmada a portaria interministerial (Ministério da Saúde + Ministério da Educação) para cooperação técnica na formação e desenvolvimento de recursos humanos na área da saúde. Isso visava favorecer uma formação com o SUS + DCN FORMAÇÃO DE PROFISSIONAIS A PARTIR DOS PRINCÍPIOS DO SUS. Foi lançado também o PRO-SAÚDE (Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional),que teve ênfase na atenção básica. Ênfase na atenção básica transforma os processos de geração de conhecimentos, ensino aprendizagem, prestação de serviços à população. No contexto de atuação do psicólogo na saúde, em geral não é o paciente quem busca pelo profissional de psicologia; normalmente essa relação não é espontânea do paciente, mas sim por encaminhamentos. A atuação pode se dar em ambientes limitados em relação à privacidade, tempo e objetivo. A psicologia deve ter um engajamento na equipe multidisciplinar, realizando ações que reforcem o trabalho interdisciplinar, priorizando a tomada de decisões compartilhada. Já que citamos equipe, vamos diferenciar os TIPOS DE EQUIPE: A atuação do psicólogo na saúde deve visar Usuário + Família + Equipe ◦ Unidisciplinar: todos os profissionais são treinados da mesma forma, há uma grande crítica a esse modelo, porque destitui as características diferenciadoras entre as áreas do saber. ◦ Multidisciplinar: uma equipe composta por um conjunto de disciplinas que trata, simultaneamente, de uma dada questão, sem que os profissionais implicados estabeleçam efetivas trocas efetivas entre si. Neste caso, cada especialista emprega sua metodologia, baseado em suas hipóteses e teorias, sendo que o objeto em questão é visto sob múltiplos pontos de vista, numa justaposição de conhecimentos; ou seja, o mesmo tema é abordado sob diversos ângulos, de forma que não existe a perspectiva de síntese (Galván, 2007). ◦ Interdisciplinar: ocorre intercâmbio mútuo e interação de diversos conhecimentos de forma recíproca e coordenada. Há uma perspectiva metodológica comum a todos e há integração dos resultados. Os interesses próprios de cada disciplina permanecem, porém, buscam soluções dos seus próprios problemas através da articulação com as outras disciplinas. ◦ Transdisciplinar: Etapa superior a interdisciplinaridade, transcende o âmbito de cada disciplina. Esse modelo de equipe não atinge apenas as interações ou reciprocidades, mas situa essas relações no interior de um sistema total, há interação global das várias ciências, de forma que não é possível separar as matérias. A equipe que funciona segundo uma dinâmica transdisciplinar tem sua coordenação assegurada por referência a uma finalidade comum, com tendência à horizontalização das relações de poder. Atuação em Psicologia da Saúde A finalidade principal da Psicologia da Saúde é compreender como é possível, através de intervenções psicológicas, contribuir para a melhoria do bem-estar dos indivíduos e das comunidades. O campo de atuação nessa disciplina inclui: Realizar pesquisas da rotina profissional, métodos científicos. Elaborar protocolos de avaliações das intervenções psicológicas. Elaborar comunicação profissional – parecer, laudos, relatórios. Auxiliar os demais membros da equipe no manejo emocional dos usuários. Atuar com colaboração aos outros profissionais e trocas de saberes. Comunicar-se efetivamente com os pacientes e reforçar o esclarecimento sobre a doença e os cuidados, facilitar a adesão ao tratamento, auxiliar na adaptação e enfrentamento. Planejar e coordenar processos grupais, manejar a doença e promover a saúde. Intervenções: orientação, aconselhamento psicológico, psicoterapia, psicoeducação, mudanças nas crenças prejudiciais. Diagnostico e avaliação psicológica: anamnese, clínica, devolutiva. Manejo de questões éticas e legais. Desenvolver expertise para avaliação, intervenção e investigação. Promove intervenções direcionadas à relação (médico-paciente, família-paciente, paciente-paciente, paciente-processo de adoecer, hospitalização, repercussões emocionais). O psicólogo no contexto da saúde deve buscar acolher o indivíduo em um primeiro momento para depois desenvolver intervenções. Além de saber a demanda, é necessário conhecer a doença, os procedimentos e o tratamento como um todo. Conhecimento da doença + contexto singular do indivíduo Níveis de avaliação cognitiva: Primária: avaliação da situação como danosa, ameaçadora. Secundária: avaliação dos recursos para contornar ou evitar perdas. Reavaliação: modificação da avaliação inicial conforme mudanças internas do indivíduo a partir de reflexões (aceitação ou negação). Avaliação do dano percebido: Prejuízo consumado/ênfase no passado: avaliação conforme valores e crenças de forma que seja marcado pela ideia de temporário ou permanente. Requer minimização, impedimento de progressão, reinterpretação do processo. Prejuízo potencial/ênfase no futuro: enfrentamento antecipatório, condição de prevenção, manejo, correção, adaptação, uso de experiências pessoais para lidar com a situação. Possível ganho sob situação adversa: ênfase no futuro com expectativa de ganhos na possível perda. Menor ansiedade, menor medo, raiva, culpa, conflitos. Avaliação familiar: deve-se observar o nível de competência dos membros, natureza da relação preexistente, mudanças associadas ao aparecimento da doença, nível de funcionalidade e flexibilidade familiar. Dentro da psicologia da saúde há dois conceitos básicos: A promoção de saúde: educar, ou seja, instaurar na população comportamentos que sejam realmente eficazes para a construção de uma saúde ótima. Isto requer a formação de novas condutas, a modificação de atitudes e o fomento de crenças favoráveis através de diferentes tipos de relações funcionais, como formulações verbais, campanhas, trabalho em grupo, intermediação em centros laborais, intersetorialidade. Essas ações propiciam a condição de saúde, definindo também como esses comportamentos hão de se instaurar – normalmente é feita antes da prevenção. Assim, a promoção deve ser pensada sobre a base do perfil epidemiológico da comunidade ou grupo específico no qual se deseja intervir; voltada à proposição das assistências antes mesmo do aparecimento das enfermidades. A prevenção de doenças: é posterior à promoção da saúde. É o ato em si, depois de involucrar-se com a promoção de saúde, pretende contribuir com a diminuição da incidência de enfermidades, a diminuição da prevalência, mediante o encurtamento do período de duração da doença ou a diminuição das sequelas e complicações da doença. As intervenções do psicólogo se voltam para a prevenção de doenças nos diversos níveis de atenção de saúde. As ações que visam a diminuição da incidência das enfermidades são consideradas prevenção primária; as que visam a diminuição da prevalência são prevenção secundária; e a diminuição de sequelas e complicações das enfermidades são prevenção terciária: Prevenção primária Prevenção secundária Prevenção terciaria A atuação em psicologia da saúde deve ser embasada na perspectiva BIOPSICOSSOCIAL dos processos de saúde O primeiro nível de intervenção psicológica se faz nos serviços de APS e deverá ser realizada em duas etapas: no nível da prevenção primária e no da intervenção primária. Prevenção primária A prevenção primária deve estar diretamente relacionada e condicionada à promoção da saúde. Suas ações não devem dirigir-se a um indivíduo, senão aos planos de educação para a saúde. Tem como característica central a atuação nos problemas epidemiológicos da população beneficiária e investe na construção de estilos de vida saudáveis e na evitação de comportamentos de risco. Busca desenvolver práticas de prevenção que se prolonguem ou se utilizem durante toda a vida. Assim, a prevenção primária deverá ser realizada antes que se encontre um problema concreto. Exemplo: campanhas em escolas destinadas à promoção de hábitos de vida saudáveis como alimentação, exercício e exames. Intervenção primária Pode ser explicada como uma intervenção direta sobre uma queixa detectada em um indivíduo ou em um coletivo social. Trata-se da primeira ação de saúde ante a presença deum problema que deverá ser identificado e orientado. Em seguida, se o caso necessitar de uma intervenção psicológica especializada será encaminhado a um dos outros níveis de atenção de saúde, já que neste nível a intervenção não é especializada profissionais generalistas da atenção primária. A adequada abordagem dos problemas no nível primário poderia descongestionar os serviços de saúde nos níveis especializados. A intervenção primária do psicólogo na equipe de saúde, ainda que desempenhe um papel específico, deverá ser realizada numa perspectiva interdisciplinar e multiprofissional. Ou seja, todo o trabalho necessita ser compreendido, planejado e executado em equipes multiprofissionais. Exemplos: assistir os pacientes em consultas primárias (não é psicoterapia), propor programas de humanização e melhoria da qualidade dos serviços, estudar o perfil epidemiológico dos coletivos sociais sob a responsabilidade profissional, visando a elaboração de um plano de intervenção primária. Prevenção secundária Acontece, geralmente, nos ambulatórios e/ou centros de especialidades. Seu principal objetivo é dar acompanhamento ao paciente ajudando-o no seguimento de seu tratamento, seja físico ou psicológico, com o objetivo de prevenir o agravamento da doença. Para atuar neste nível, os psicólogos da saúde podem se utilizar do conhecimento produzido pelas investigações das causas e fatores associados à falta de adesão ao tratamento. Conhecer bem as características associadas à falta de adesão a determinados tratamentos facilita a formulação de programas preventivos, voltados à proposição de diversas atividades dedicadas a evitar comportamentos que reforcem a dificuldade de seguimento do tratamento. Exemplo: o indivíduo já tem diabetes; agora a equipe vai ensinar o regime diabético, insulina, cuidados no geral. Intervenção secundária Propõe um tratamento mais específico. A intervenção secundária é o campo tradicionalmente mais conhecido e desenvolvido tanto da Psicologia como das especialidades médicas em geral. Em termos da Psicologia, possui um fundamento teórico/prático bem sedimentado na Psicologia Clínica. É o campo no qual se utilizam as técnicas mais tradicionalmente desenvolvidas a exemplo da psicoterapia. Realizar psicodiagnósticos diferenciais (mediante o uso de testes ou através de diagnósticos descritivos fenomenológicos; Elaborar pareceres para responder às demandas de outros profissionais, inclusive para a justiça; Atuar em conjunto com os demais profissionais de saúde e equipes de saúde básica e especializada; Prevenção terciária Está relacionada à assistência aos problemas de alta complexidade, em geral, nos hospitais ou nos centros de especialidades. A prevenção terciária inclui o seguimento de pacientes em tratamento clínico, cirúrgico, quimioterápico e radioterápico. A preparação para cirurgias, as técnicas de redução ou enfrentamento da ansiedade são também muito utilizadas nestas situações. O objetivo destas ações é ajudar que estes pacientes desenvolvam uma nova expectativa de vida com outros valores capazes de dar-lhes o suporte necessário para enfrentar a nova realidade em consequência da doença. Intervenção terciária Intervenções voltadas às famílias dos pacientes são importantes intervenções preventivas. Promover a orientação e o preparo dos familiares ajuda a diminuir os impactos da notícia da doença e facilita a adaptação do grupo familiar à nova situação. O psicólogo da saúde investiga os fatores biopsicossociais que intervêm na etiologia dos problemas de saúde, analisando como o contexto sociocultural afeta a saúde/ doença/cuidado/vida/morte em consequência dos estilos de vida. Através da epidemiologia é possível conhecer dados sobre a prevalência e incidência das enfermidades. A prevalência remete ao número total de casos de uma doença manifestada em uma população em um período específico de tempo. A incidência indica a frequência de novos casos em um espaço de tempo determinado. Compreensão da gênese e manutenção dos problemas de saúde (enfermidades e repertórios de conduta, enfermidades e hábitos insalubres). Prevenção e promoção da saúde (programas de atenção à saúde da criança, do adolescente, do adulto, da mulher, etc) Facilitação e potenciação do diagnóstico e tratamento. A adesão ao tratamento. Avaliação e tratamento dos problemas de saúde (dor) Assistir os profissionais de saúde – cuidar dos cuidadores. Fazer consulta/interconsultas com outras equipes de saúde. Procedimentos e técnicas em saúde (Aqui vamos utilizar exemplos para facilitar o entendimento) Situação problema: mãe acompanha a filha há 4 meses no hospital por motivos de tratamento de uma doença crônica. 1- Práticas integrativas em saúde (PIS) Meditação Acupuntura Homeopatia Outros – 11 práticas reconhecidas pelo Ministério da Saúde 2- Práticas de Terapia Cognitivo Comportamental Relaxamento: colocar uma música para a filha ouvir, relaxar músculos, instrução do profissional para que o indivíduo saia do foco do estresse. Jacobson é um autor que fala sobre como o relaxamento aumenta a pressão sanguínea Visualização – um tipo de relaxamento sem utilizar questões motoras, uma visualização guiada pelo profissional, que dá instruções para o paciente imaginar e criar a visualização mental Contra condicionamento -- a paciente hospitalizada emparelhou o hospital ao enjoo. É necessário colocar outros estímulos que evitem o enjoo. Dessensibilização sistemática -- gradualmente aproxima a pessoa de um estimulo inicialmente aversivo. Por exemplo: aversão a realizar exame de sangue por conta da perfuração com agulha. Inicialmente, o profissional poderia começar mostrando uma foto de um exame sendo realizado, depois, um vídeo, depois, mostrando a agulha utilizada para a paciente e assim por diante, até que seja suportável para ela realizar o exame. Treino em assertividade -- comunicação sem agressividade 3- Práticas da psicologia humanista e psicanálise Escuta ativa e questionamento socrático-- o que é aceitar, o que é estar nervosa? Manejo de relações interpessoais e empoderamento-- respeitar o espaço, a história, relações e momento atual. Psicologia hospitalar Psicologia hospitalar Como já mencionado anteriormente, o termo Psicologia Hospitalar tem sido usado no Brasil para designar o trabalho de psicólogos da saúde em hospitais. Situação encontrada: processo doença-internação-tratamento, tanto como processos determinantes quanto como reações que podem agravar o quadro de base destes pacientes, e/ou impor sequelas dificultando ou mesmo inviabilizando seu processo de recuperação. Toda doença apresenta aspectos psicológicos; toda doença encontra-se repleta de subjetividade, e por isso, pode-se beneficiar do trabalho da psicologia hospitalar. Setting terapêutico Na atuação nos contextos de saúde é peculiar: o psicólogo deve adaptar sua atuação, visto que os espaços e condições são muito diferentes do setting da atuação clínica em consultório (Ismael, 2005). O espaço físico não é privativo ao atendimento psicológico, como o valorizado na teoria e modelo de consultório. O atendimento pode ser interrompido a qualquer momento por outros profissionais da saúde que estão cumprindo seus deveres e funções. Além disso, pode ser necessário atender o paciente no meio de outros vários pacientes, se for em uma grande enfermaria, ou em locais não próprios para atendimentos, como corredores, escadas, pátios. Nesses casos, há impossibilidade de se manter completamente o sigilo. Devemos considerar também as consequências da hospitalização, em que o paciente perde sua individualidade, sente uma brusca ruptura com seu cotidiano e deve seguir agora a rotina hospitalar e seu horário rígido. O trabalho do psicólogono hospital A organização e funcionamento dos serviços de psicologia em um hospital geral podem ser de duas formas: Sistema de Consultoria: o psicólogo avalia, indica e/ou realiza um tratamento para o paciente que está sob os cuidados de outros profissionais. A presença do psicólogo é episódica, respondendo a uma solicitação específica de outro profissional. Sua atuação se baseia em auxiliar no diagnóstico, no tratamento, no plano de ação, fornecendo orientações ao paciente, aos familiares e aos membros da equipe. Sistema de Ligação: o psicólogo está inserido na equipe que cuida do paciente. O profissional da Psicologia tem um contato contínuo com um dos diversos serviços/clínicas/departamentos/unidades do Hospital Geral por ser um membro efetivo das equipes locais, atendendo seus pacientes, participando de reuniões clínicas e lidando com aspectos da relação estabelecida entre equipes, pacientes e famílias. Os atendimentos têm caráter informativo, profilático e terapêutico. Tipos de diagnósticos ◦ Reacional: é o diagnostico quanto a reação do paciente frente à doença. ◦ Médico: aspectos orgânicos. ◦ Transferencial: envolve a rede de apoio do paciente, a que ponto ele está conseguindo transferir família, instituição, médico (equipe). ◦ Situacional: analisa a situação como um todo, não somente com olhares para a internação, mas leva em conta o aspecto social, emocional, etc. ◦ Psicológico: fruto de uma avaliação psicológica. ◦ Adesão ao tratamento A adesão está no ponto central de qualquer tratamento, visto envolver possibilidades para o sujeito, além de qualidade no tratamento. A psicologia pensa na família, da rede de apoio e no significado da doença. Entretanto, existem várias questões que problematizam a adesão ao tratamento, como: qualidade de vida, efeitos colaterais, fatores sociais, mudança de vida etc. sendo a mudança de rotina o que mais afeta na adesão ao tratamento. Como medir a adesão? Através do relato principalmente, monitorar exames, observar a prescrição que foi passada, observar familiares – se trata de um auxílio e não de um controle. É uma co- construção do modelo biopsicossocial: Individuo Equipe Família/amigos A partir do entendimento da doença e do tratamento a adesão fica mais clara. Conceitos gerais importantes Psicologia positiva Segundo Martin Seligman a ciência psicológica tem “esquecido” ou negligenciado a sua mais importante missão: a de construir uma visão de ser humano com ênfase em aspectos “virtuosos”. Nesta ótica, o movimento intitulado “Psicologia Positiva” vem afirmar-se na edição especial de 2001 do periódico American Psychologist, e é definido como uma “tentativa de levar os psicólogos contemporâneos a adotarem uma visão mais aberta e apreciativa dos potenciais, das motivações e das capacidades humanas”. Tendo em vista esta perspectiva, a ciência psicológica busca transformar velhas questões em novas possibilidades de compreensão de fenômenos psicológicos como felicidade, otimismo, altruísmo, esperança, alegria, satisfação e outros temas humanos, tão importantes para a pesquisa quanto depressão, ansiedade, angústia e agressividade. Trata-se, portanto, de uma psicologia que almeja antes de tudo romper com o viés “negativo” e reducionista de algumas tradições epistemológicas que têm adotado o ceticismo diante de expressões salutogênicas de indivíduos, grupos ou comunidades. Resiliência Originalmente empregado na física (1807) como um conceito relacionado à capacidade que um material tem de receber energia e não deformar suas plasticidades permanentes. A psicologia se utilizou desse conceito em 1970 como: “a capacidade de se adaptar a situações adversas, mantendo sua integridade mental e conseguindo evoluir positivamente”. Resiliência e invulnerabilidade não são termos equivalentes, afirmam Zimmerman e Arunkumar (1994). Segundo estes autores, resiliência refere-se a uma “habilidade de superar adversidades, o que não significa que o indivíduo saia da crise ileso, como implica o termo invulnerabilidade” Psicossomática A Medicina Psicossomática é a especialidade médica das enfermidades etiologicamente determinadas por fatores emocionais, por meio de compreensão psicanalítica desde que adequadamente interpretados os conflitos inconscientes específicos. Explicar os determinantes psicológicos dos sintomas corporais tem sido o principal objetivo daqueles que se dedicam à Medicina Psicossomática. O conceito de Psicossomática integra três perspectivas: 1) A doença com sua dimensão psicológica; 2) A relação médico-paciente com seus múltiplos desdobramentos; 3) A ação terapêutica voltada para a pessoa do doente, este entendido como um todo biopsicossocial. No Brasil, a maioria dos que atuam em Psicossomática são psicanalistas, psiquiatras e psicólogos que trabalham com referenciais analíticos. Obs.: A Psicologia Médica é o braço clínico da concepção psicossomática original, com uma diferença fundamental: a Psicossomática estuda as relações mente-corpo e seu foco é a patogenia, enquanto a Psicologia Médica estuda as relações assistenciais e seu foco é a terapêutica. O primeiro ressalta a questão diagnóstica e o segundo, a atuação clínica. Importante ressaltar que patogenia significa origem da doença. É diferente de patologia, que significa a doença em si. Nome de referência na psicossomática: Franz Alexander médico psicanalista que iniciou pesquisas sobre a etiologia psicológica nas doenças somáticas. As doenças revelam a forma de viver, as dificuldades de encarar os desafios e compreender os sentimentos. A psicossomática defende uma medicina humanizada, que busque entender mais profundamente o adoecimento. Estresse O que é o estresse? Inicialmente definido em termos fisiológicos de resposta a um evento ameaçador, no entanto estresse é muito mais complexo – duas pessoas podem responder ao mesmo estressor de maneiras diferentes. Os fatores biológicos, psicológicos e sociais estão envolvidos na resposta ao estresse. Estresse é definido como “estado emocional negativo que ocorre em resposta a eventos percebidos como difíceis ou que excedam os recursos e habilidades da pessoa em lidar com eles”. É importante o papel da avaliação que a pessoa tem sobre a experiência estressante – avaliação cognitiva. Se acreditamos ter recursos para lidar com a situação, pouco ou nenhum estresse será experimentado, mas se sentimos a experiência como ameaçadora ou como incapazes para lidar com ela, experimentaremos os efeitos do estresse. Entendimento a partir da Psicologia da Saúde com foco no modelo biopsicossocial Fontes de Estresse – Incluem eventos do cotidiano, eventos da vida, fatores culturais e sociais. O potencial de estresse pode variar muito de pessoa para pessoa. Exemplo: o casamento pode ser tanto um fator de risco quanto de proteção. Abordagem dos eventos da vida – qualquer mudança é estressante – no entanto, eventos adversos têm mais impacto na saúde Efeitos de ondulação - Os conflitos são fontes de estresse, e, sentir-se dividido entre dois desejos ou motivações opostas é um exemplo disso: 3 tipos de conflitos, cada um com um potencial para produzir estresse: o Aproximação e Evitação – Um indivíduo deseja aproximar resultados agradáveis e evitar resultados indesejáveis. É considerado o tipo de conflito que gera mais estresse. o Aproximação-aproximação – escolha entre dois resultados igualmente agradáveis. São mais fáceis de resolver e não produzem tanto estresse. o Evitação-evitação – São mais estressantes, pois envolve a escolha de duas consequências indesejáveis. Um exemplo de solução comum é evitar escolher. Conflito entre culturas é também uma fonte de estresse Efeitos FÍSICOS do estresse – o estresse contribui para o aparecimento de uma ampla gama de distúrbios,principalmente quando se torna crônico. Afeta o organismo de maneira DIRETA e INDIRETA o Indireta – o estresse pode afetar indiretamente a saúde de uma pessoa promovendo comportamentos que podem prejudicar a saúde como não comer ou não dormir adequadamente. Relação entre níveis elevados de estresse e uso de substâncias. Estresse atrapalha as funções cognitivas – atenção, memória, concentração. o Direta– alterando as funções do corpo, levando a sintomas doenças e enfermidades. Estresse e sistema endócrino: o estresse afeta o sistema nervoso e outros dois importantes sistemas – endócrino e imunológico. “Todo tipo de ameaça imediata ao seu bem-estar é uma experiência que produz estresse e desencadeia uma série de mudanças no seu corpo”. o O estresse estimula a produção de hormônios catecolaminas – adrenalina e noradrenalina OBS.: Uma vez que a ameaça é removida o nível de excitação do corpo diminui em 20 a 60 minutos. Resposta de Lutar ou Fugir. A resposta de lutar ou fugir ajuda a assegurar a sobrevivência. Modelos explicativos e teorias do Estresse Síndrome da adaptação geral (Selye) A reação do corpo ao estresse passaria por três estágios: Alarme: resposta de luta ou fuga, mobilizando recursos de enfrentamento. O corpo recebe a informação e os sistemas nervosos e cardiovasculares se mobilizam. Se o evento estressor permanecer, vai para a próxima fase. Resistência: continua a enfrentar o estressor, com decréscimo na capacidade de enfrentar problemas cotidianos. Mobiliza o sistema endócrino (cortisol, adrenalina, oxitocina). Se o estressor perdurar, passa a próxima fase. Exaustão: as reservas energéticas do corpo estão exauridas. Aqui ocorrem geralmente as doenças e transtornos de adaptação. Hans Selye descobriu que o estresse prolongado ativa uma segunda via endócrina – hipotálamo, glândula pituitária e o córtex suprarrenal – hormônios corticoides – cortisol. A curto prazo esses hormônios colaboram na proteção do corpo contra os estressores. No entanto, se o estressor é prolongado, os níveis altos e contínuos de corticoides podem enfraquecer importantes sistemas do corpo, diminuir a imunidade e aumentar a suscetibilidade a sintomas físicos e doenças – pode também levar à depressão e outros problemas psicológicos. Modelo transacional do estresse (Lazarus & Folkman) Na situação estressora, mobilizamos recursos pessoais e sociais de enfrentamento. Quando os recursos são suficientes não há estresse Quando os recursos são insuficientes o processo de estresse é desencadeado A resposta ao estresse NÃO é estática, ou seja, ocorrem interações e ajustes contínuos (transações) entre o ambiente e as tentativas de enfrentamento. Avaliação cognitiva dos estressores o Avaliação primária: “Estou em perigo?”. O evento pode ser percebido como irrelevante, benigno-positivo ou ameaçador. o Avaliação secundária: “Como lidar?”. A pessoa avalia suas capacidades de enfrentamento. Respostas comportamentais e cognitivas de enfrentamento o Reavaliação cognitiva As situações não são inerentemente estressantes, mas percebidas ou não como estressantes a partir dos recursos disponíveis Pode-se interpretar o mesmo evento de formas diferentes em ocasiões distintas Modelo da diátese ao estresse Dois fatores interagem continuamente na determinação da suscetibilidade do indivíduo ao estresse e a doença: fatores de predisposição e fatores de precipitação o Fatores de predisposição: vulnerabilidade ao estresse. Aqui encontram- se fatores genéticos e ambientais anteriores o Fatores de precipitação: fatores ambientais presentes Reatividade: reação fisiológica ao estresse, que varia de acordo com o indivíduo e afeta a vulnerabilidade a doenças Teoria do buscar apoio Resposta comportamental ao estresse para o Zelar (exemplo: proteger os filhos) o Agrupar (exemplo: procurar redes sociais para proteção) É diferente da resposta de luta ou fuga ao estresse Escala de estresse de Marilda Lippe Estágio de Alarme – ocorre uma excitação intensa na medida que o corpo mobiliza recursos físicos internos para atender às demandas do evento. Estágio de Resistência – o corpo tenta ativamente resistir ou ajustar-se à situação de estresse contínuo. Estágio de Exaustão – o estressor persiste – os sintomas do estágio de alarme reaparecem de maneira irreversível. Estresse e o Sistema Imunológico O estresse pode diminuir a eficiência do sistema imunológico – sistema de segurança do corpo – combate a bactérias, vírus e células cancerígenas. Sistema composto por: medula espinhal, baço, timo e os gânglios linfáticos. Os elementos mais importantes do sistema imunológico são os linfócitos – células brancas. Eles são produzidos na medula óssea e são armazenados no timo e baço até serem utilizados. Psiconeuroimunologia – é o estudo científico das conexões dos processos biológicos, sistema nervoso e sistema imunológico Sistema nervoso e sistema imunológico estão diretamente ligados pelas fibras do sistema nervoso – influenciam na produção dos linfócitos As superfícies dos linfócitos contêm receptores para neurotransmissores e hormônios incluindo catecolamina e cortisol. As atividades dos linfócitos e do sistema imunológico estão diretamente influenciadas pelos neurotransmissores, hormônios e outros mensageiros químicos Estressores (aqueles do cotidiano) afetam o sistema imunológico. Pode aumentar a vulnerabilidade ao adoecimento, no entanto a exposição a estressores não se traduz automaticamente como saúde mais debilitada. Genética, alimentação, exercícios físicos, hábitos pessoais e acesso a serviços de saúde Algumas pessoas são mais vulneráveis aos efeitos negativos do estresse que outras. Fatores Individuais – as diferenças individuais que as pessoas apresentam ao reagir a estressores devem-se parcialmente à maneira como elas avaliam o evento e se possuem recursos para lidar com ele. Fatores Psicológicos – controle pessoal: ter certa sensação de controle sobre uma situação estressante reduz o impacto do estressor e diminui sentimentos de ansiedade e depressão. Ter controle também aumenta as sensações positivas – em contraste, sentir-se sem controle diante da situação estressora aumenta a produção de catecolaminas e cortisol, o que diminui a eficácia do sistema imunológico. Estilo explanatório – Otimismo X Pessimismo Tende a se manter ao longo da vida. Estilo explanatório otimista – as pessoas tendem a usar explicações externas, instáveis e específicas para eventos negativos. Estilo explanatório pessimista – as pessoas tendem a usar explicações internas, estáveis e globais para os eventos negativos – também acreditam que não podem mudar a situação o que os deixa vulneráveis ao estresse. Emoções Negativas Crônicas Pessoas ansiosas, deprimidas, nervosas ou hostis têm maior risco de desenvolvimento de doenças crônicas. Relatam mais eventos negativos e tendem a apresentar maior sofrimento diante de situações de estresse Comportamento tipo A: inclui uma série de características como sentido exagerado de urgência de tempo, hostilidade, raiva e irritação, ambição e competitividade intensa Pessoas mais relaxadas e descontraídas foram classificadas como de comportamento tipo B. “Tipo A tem o dobro de chance de desenvolver doença cardíaca que o tipo B” Hostilidade – tendência a sentir raiva, contrariedade, rancor e desdém e ter crenças negativas sobre a natureza humana em geral. As pessoas hostis tendem a acreditar que o comportamento do outro é intencionalmente direcionado para eles. Tendem a ser desconfiadas, cínicas e pessimistas. Verificou-se ao analisar os traços isoladamente, que apenas a hostilidade apresentava correlação com o desenvolvimento de doenças cardíacas Fatores sociais Apoio social – refere-seao suporte oferecido por outras pessoas. Cada vez mais se verifica a importância do papel das relações interpessoais no enfrentamento do estresse e na saúde física. Os pesquisadores mediram o suporte social e descobriram que as pessoas socialmente isoladas têm saúde debilitada e taxa de mortalidade maior que pessoas com contatos sociais. O “isolamento é fator de risco significativo tanto quanto o tabagismo”. Como o apoio social beneficia a saúde? O apoio social de amigos e familiares pode modificar nossa avaliação do significado de um estressor, incluindo o grau de como percebemos essa ameaça. Saber que há apoio prontamente disponível pode fazer a situação parecer menos ameaçadora. A presença de pessoas que nos amparam parece diminuir a intensidade das reações físicas ao estressor. Uma rede de apoio social forte pode promover humores e emoções positivas, melhorar a autoestima e aumentar os sentimentos de controle sobre a situação O outro lado da moeda é que os relacionamentos com outras pessoas podem também ser fonte significativa de estresse. Interações negativas com os outros são fonte de sofrimento psicológico. Assim é a QUALIDADE dos relacionamentos que se faz importante para determinar sua influência na saúde. Também é um estressor a presença de suporte excessivo ou não solicitado. Gênero e suporte social As mulheres podem ser mais vulneráveis às questões relativas à qualidade do suporte social pelo incentivo cultural a exercer o papel de cuidado e apoio. Coping ou enfrentamento Refere-se às maneiras como tentamos mudar as circunstâncias ou interpretações das circunstâncias para torna-las menos ameaçadoras. Duas estratégias comuns Foco no problema Foco na emoção O coping é um processo dinâmico e contínuo. Podemos mudar nossa estratégia de coping à medida que avaliamos as variáveis das demandas e nossos recursos para enfrentá-las. Quando o coping ou enfrentamento é adequado, nos ajustamos à situação estressante e logo reduzimos o impacto da mesma, porém, um gerenciamento não realista pode implicar sentimentos e comportamentos que intensificam e prolongam o sofrimento. O coping adaptativo envolve uma avaliação realista da situação e a determinação do que pode ser feito para minorar seus efeitos. Envolve desenvolver tolerância emocional para lidar com os eventos negativos da vida, manter a autoestima e equilibrar as emoções. Coping adaptativo está direcionado a manter relações importantes durante situações aversivas. Focado no problema – é dirigido para administrar o evento estressor. Focado na emoção – é direcionado a minorar o impacto emocional do evento. Foco no problema: coping por confronto, ou seja, esforços agressivos ou de risco para mudar a situação. Idealmente o coping por confronto é assertivo, objetivo sem ser hostil. É diferente de solução planejada do problema: implica no esforço para racionalizar a situação, identificar possíveis soluções, e então implementá-las. Foco na emoção – quando o estressor é do tipo sobre o qual temos pouco ou nenhum controle o que podemos controlar é a emoção que ele nos causa. Quando se conduz a atenção para longe do evento estressor em direção a outras atividades – coping de esquiva propicia alívio a curto prazo. Racionalização dos desejos para escapar nas fantasias O recurso de enfrentamento inadequado para situações crônicas ou de longo prazo pode gerar desajustamento – depressão e ansiedade Buscar apoio social refere-se à estratégia de coping que implica voltar-se aos amigos, parentes e outras pessoas para apoio. Ao tentar minimizar o impacto emocional diminuindo a importância do evento estressor, há um distanciamento A negação é a recusa a perceber que há um problema. Reavaliação positiva – estratégia de coping focada na emoção mais adaptativa. Encontrar sentido pessoal no sofrimento Diferentes estratégias de coping podem ser utilizadas em estágios diferentes! Em geral, inicialmente lidamos com coping focado na emoção para então utilizar as estratégias focadas no problema. Cultura e coping A cultura possui um papel importante na escolha das estratégias de coping. Culturas individualistas enfatizam a importância e o valor de exercerem controle sobre as circunstâncias especialmente ameaçadoras e estressantes, favorecem estratégias com foco no problema. Culturas coletivistas dão ênfase maior no controle das reações pessoais em vez de controlar a situação em si – incentivo ao coping focado na emoção. Não há uma fórmula de coping eficaz para todas as situações! Toda estratégia de coping que é funcional, ou seja, que identifica alternativas realistas para gerenciar nossas emoções e manter os relacionamentos importantes é adaptativa e eficaz. Qualidade de vida É um conceito relativamente recente, a saúde e doença são compreendidos como um continuo Mudanças nos paradigmas mundiais – aumento da morbimortalidade e de doenças crônico-degenerativas. “A oncologia foi a especialidade que, por excelência, se viu confrontada com a necessidade de avaliar as condições de vida dos pacientes que tinham sua sobrevida aumentada devido aos tratamentos realizados, já que, muitas vezes, na busca de acrescentar anos à vida, era deixada de lado a necessidade de acrescentar vida aos anos”. No âmbito da saúde coletiva e das políticas públicas para o setor de saúde, também é possível identificar interesse crescente pela avaliação da QV. As informações sobre QV têm sido incluídas tanto como indicadores para avaliação da eficácia, eficiência e impacto de determinados tratamentos para grupos de portadores de agravos diversos, quanto na comparação entre procedimentos para o controle de problemas de saúde. QV como um indicador nos julgamentos clínicos de doenças específicas. Trata-se da avaliação do impacto físico e psicossocial que as enfermidades, disfunções ou incapacidades podem acarretar para as pessoas acometidas, permitindo um melhor conhecimento do paciente e de sua adaptação à condição. A compreensão sobre a QV do paciente incorpora-se ao trabalho do dia-a-dia dos serviços, influenciando decisões e condutas terapêuticas das equipes de saúde Dificuldade de definição do conceito de QV: “qualidade de vida é uma vaga e etérea entidade, algo sobre a qual muita gente fala, mas que ninguém sabe claramente o que é”. Uma definição clássica, do tipo global, é datada de 1974: “qualidade de vida é a extensão em que prazer e satisfação têm sido alcançados”. A noção de que QV envolve diferentes dimensões configura-se a partir dos anos 80, acompanhada de estudos empíricos para melhor compreensão do fenômeno. Qualidade de vida: subjetividade e multidimensionalidade - na década de 90 parece consolidar-se um consenso entre os estudiosos da área quanto a dois aspectos relevantes do conceito de qualidade de vida: subjetividade e multidimensionalidade No que concerne à subjetividade, trata-se de considerar a percepção da pessoa sobre o seu estado de saúde e sobre os aspectos não-médicos do seu contexto de vida. (Estudiosos enfatizam, então, que QV só pode ser avaliada pela própria pessoa). Nesse sentido, há a preocupação quanto ao desenvolvimento de métodos de avaliação e de instrumentos que devem considerar a perspectiva da população ou dos pacientes, e não a visão de cientistas e de profissionais de saúde (medidas de autorrelato). O consenso quanto à multidimensionalidade refere-se ao reconhecimento de que o construto é composto por diferentes dimensões. Qualidade de vida: conceituação - Duas tendências quanto à conceituação do termo na área de saúde são identificadas: qualidade de vida como um conceito mais genérico, e qualidade de vida relacionada à saúde A QV foi definida como “a percepção do indivíduo sobre a sua posição na vida, no contextoda cultura e dos sistemas de valores nos quais ele vive, e em relação a seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” O termo qualidade de vida relacionada à saúde é muito frequente na literatura e tem sido usado com objetivos semelhantes à conceituação mais geral. No entanto, parece implicar os aspectos mais diretamente associados às enfermidades ou às intervenções em saúde Alguns autores defendem os enfoques mais específicos da qualidade de vida, assinalando que esses podem contribuir para melhor identificar as características relacionadas a um determinado agravo. Outros ressaltam que algumas medidas de qualidade de vida relacionadas à saúde têm abordagem eminentemente restrita aos sintomas e às disfunções, contribuindo pouco para uma visão abrangente dos aspectos não médicos associados à qualidade de vida. Clarificando o conceito: distinção entre qualidade de vida e estado de saúde- os termos ‘qualidade de vida’ e ‘estado de saúde’ aparecem na literatura muitas vezes quase como sinônimos Alguns autores investigaram a importância de três grandes dimensões – saúde mental, funcionamento físico e funcionamento social – sobre a percepção da QV e do estado de saúde, em 12 estudos que trabalharam esses indicadores com amostras de pacientes portadores de enfermidades crônicas (câncer, hipertensão, HIV/AIDS, entre outras). A dimensão que teve maior poder de predição em relação ao escore da QV foi o da saúde mental/bem-estar psicológico, sendo que o poder preditivo da dimensão funcionamento físico foi menor. Os autores concluíram que os dois construtos (saúde e qualidade de vida) são diferentes e alertaram que determinados instrumentos que avaliam a percepção do estado de saúde não devem ser usados para a avaliação da QV. As dimensões da qualidade de vida: A natureza multidimensional do construto foi validada, de modo empírico, a partir da emergência de quatro grandes dimensões: (a) física – percepção do indivíduo sobre sua condição física; (b) psicológica – percepção do indivíduo sobre sua condição afetiva e cognitiva; (c) do relacionamento social – percepção do indivíduo sobre os relacionamentos sociais e os papéis sociais adotados na vida; (d) do ambiente – percepção do indivíduo sobre aspectos diversos relacionados ao ambiente onde vive. Temas em Psicologia da Saúde Estudos sobre a dor O que é a dor? A dor é parte integrante da vida, presente ao longo de todo ciclo vital, desde o nascimento até a morte. Aparece associada a doenças, processos inflamatórios, acidentes, e procedimentos médicos ou cirúrgicos e, embora tão desagradável e estressante, é essencial para a sobrevivência porque exerce uma função protetora para o organismo. A dor é uma experiência pessoal, complexa, multidimensional, mediada por vários componentes sensoriais, afetivos, cognitivos, sociais e comportamentais, desencadeada ou percebida a partir de uma agressão infligida ao organismo. Funcionando como um alarme sinalizador de que alguma coisa não está bem, a dor demanda atenção e interrompe o fluxo de processos mentais, assume prioridade sobre outras demandas cognitivas competitivas e por fim impulsiona o indivíduo a procurar cuidados para a sintomatologia e tratamento para o problema subjacente. Entretanto, a intensidade e frequência da dor pode extrapolar suas funções sinalizadoras e comprometer seriamente a qualidade de vida da pessoa em sofrimento ou inabilitá-la para diferentes atividades da vida diária. Esta é, talvez, a mais universal e mais antiga forma de estresse, que tendo a idade do homem ainda não foi completamente compreendida nem pode ser completamente controlada, apesar dos esforços envidados neste sentido ao longo da história da humanidade. O conceito sensório-fisiológico da dor implica a conclusão de que ela é apenas uma percepção cerebral linear do impulso nervoso advindo do tecido agredido, cuja intensidade é proporcional à agressão aplicada ao tecido. Entretanto, hoje é sabido que a dor é percebida através do complexo sistema sensorial nociceptivo, no qual o estímulo doloroso iniciado nos terminais sensoriais pode ser modificado antes da percepção da dor. Descaracteriza-se assim, a linearidade entre o estímulo doloroso e a dor percebida. Obs.: A abordagem tradicional de que a dor é diretamente relacionada à natureza ou extensão do tecido danificado e o rígido entendimento do processo de percepção da dor são recusadas pelos estudiosos modernos, que já reconhecem as características individuais e as variáveis psicossociais como mediadoras da experiência de dor A maioria das pessoas podem experienciar uma variação enorme de dores ao longo da vida, com muitas peculiaridades e aspectos a serem considerados para uma descrição apropriada. Essas características da dor podem variar para a mesma pessoa a cada situação dolorosa, como por exemplo: 1.Localização A dor pode acontecer nos músculos, juntas, dentes, pele, ou em membros amputados, caracterizando a dor fantasma. A localização pode ainda ser pontual e bem definida ou difusa, difícil de ser apontada. 2. Qualidade A principal sensação, ou forma que a dor toma, pode ser de formigamento, queimação, ardor, pontada, latejamento, pressão, perfuração, corte e outros. 3. Intensidade A "força" da dor pode ser percebida como forte, fraca e em uma grande variedade de graduação entre os extremos "sem dor" e "dor excruciante", ou insuportável. 4. Frequência A dor pode ser ininterrupta ou episódica, ocorrendo em diferentes intervalos de tempo. 5. Natureza A dor pode ser orgânica, com causa física conhecida e reconhecida ou psicogênica, sem qualquer causa física, associada ao funcionamento ou momento psicológico da pessoa. 6. Etiologia A variável desencadeadora da dor pode ser uma fratura, cirurgia, artrite reumatoide, cortes acidentais, acidente químico, pancada entre várias outras. 7. Duração Um episódio doloroso pode permanecer por diferentes períodos de tempo, variando entre meses e alguns segundos. Classificação da dor 1- Dor Aguda - Tem duração relativamente curta, entre minutos e algumas semanas, e decorre de lesões teciduais, processos inflamatórios ou moléstias. São exemplos as dores advindas de injeções, arranhões, pós-operatórios e procedimentos médicos em geral. 2- Dor Crônica - Tem duração extensa, de vários meses (em geral considera-se seis meses) a vários anos, e geralmente acompanha o processo da doença ou está associada a uma lesão já tratada. São exemplos a dor que acompanha a artrite reumatoide e a dor fantasma (dor em um membro amputado). Alguns autores consideram a necessidade de usar uma categoria decorrente desta (dor crônica progressiva), para incluir a dor associada a doenças crônicas progressivas. A dor do câncer, por exemplo, surge apenas em determinado momento do estágio da doença (geralmente, em estágio adiantado). Para a compreensão de dores associadas a doenças progressivas as peculiaridades da doença precisam ser consideradas. 3- Dor Recorrente - É uma dor aguda, porque ocorre em episódios de curta duração, mas tem uma característica crônica porque se repete ao longo de muito tempo, às vezes ao longo de quase uma vida e não está claramente associada a uma etiologia específica como ocorre com as dores agudas e crônicas. O exemplo mais conhecido de dor recorrente é a enxaqueca, em que o paciente sofre de forte dor de cabeça intercalada por períodos livres de qualquer dor. 4- Dor clínica - é a dor decorrente de procedimentos médico-hospitalares invasivos ou associada a moléstias; este tipo de dor difere da "dor cotidiana", decorrente de arranhões, pequenos cortes ou pancadas. 5- Dor induzida - é a dor provocada em laboratório, em pessoas saudáveis, com início e término previstos e sob o controle de quem recebe o estímulo doloroso. Esta classificaçãoé útil em situações de pesquisa sobre o processo perceptual e respostas ao estímulo doloroso. O que é o sistema nociceptivo? A nocicepção é a detecção de um estímulo agressivo por terminais sensoriais e a transmissão de informações sobre a presença e qualidade desse estímulo através de conexões sinápticas das células nervosas transmissoras, do local estimulado até o cérebro. Em outras palavras, nocicepção é a atividade específica do sistema nervoso que viabiliza a percepção de dor que é, por sua vez, uma experiência psicológica. A percepção da dor começa com a aplicação de um estímulo agressivo externo ao organismo, que gera impulsos nervosos captados e conduzidos por nervos periféricos primários, os nociceptores. Estes sucessivamente se conectam, através de sinapses, a outras classes de neurônios em uma complexa rede neural na espinha, e segue até o tálamo e córtex no cérebro onde a percepção da dor ocorre. Esta cadeia também acontece quando estímulos mecânicos, térmicos ou químicos ativam os nociceptores profundamente localizados na pele, vasos sanguíneos, tecidos subcutâneos, músculos, vísceras, juntas e outras estruturas do organismo. Entretanto, o complexo mecanismo nociceptivo não é suficiente para explicar a dor e suas peculiaridades, como a ocorrência da dor crônica mesmo na ausência da nocicepção. É possível que portadores de dores crônicas tenham suas respostas iniciais de dor geradas por real lesão tecidual reforçadas (mantidas) de tal forma pelo ambiente, que persistem mesmo após a remoção do estímulo doloroso desencadeador do processo nociceptivo, ou após a recuperação do tecido lesado, como no caso da dor fantasma. Teorias da dor: 1- Teorias Restritivas a) Teorias do Dualismo Mente-Corpo: ao aproximar o pé de uma pessoa de uma chama, esta aciona a delicada linha ligada ao ponto da pele tocado pelo fogo (nervos sensoriais), que no mesmo instante aciona o cérebro e sua resposta de dor, como se as cordas do sino fossem puxadas. Esta é a mais tradicional concepção de dor, de acordo com a qual a percepção da dor é diretamente proporcional à intensidade do estímulo. Refinamentos desta abordagem surgidos no século XIX resultaram na Teoria da Especificidade assumida por teóricos da época como Muller e von Frey (os mais citados). Segundo esta teoria, a dor é comunicada ao cérebro através de um sistema sensorial exclusivo (daí o nome "especificidade"), como os da audição e da visão. Assim, se recebemos um beliscão no braço, o sinal de dor é disparado e enviado ao cérebro através de uma trilha sensorial específica. O principal problema com esta teoria é a explicação dada às dimensões percepção e estado afetivo da dor. A dor é entendida como a percepção de ameaça ou real agressão ao tecido, e o estado afetivo (a característica desprazerosa da dor) é apenas uma reação à sensação primária de dor b) Teorias Padrão: a intensidade do estímulo e a natureza do somatório central do input sensorial são os principais determinantes da dor. Por um lado, as novas teorias reconheciam a regularidade (padrão) do input nervoso, que é essencial para explicar o mecanismo da dor. Mas por outro lado, ignoravam a especialização fisiológica dos receptores, considerando todos os terminais sensoriais igualmente enervados, de modo que a dor era entendida como o resultado de uma intensa estimulação de receptores inespecíficos. Obs. 1: A teoria da especificidade e as teorias padrão foram discutidas por mais de um século, mas ambas explicavam a dor através da quantidade, grau ou natureza do estímulo sensorial ou da lesão fisiológica infligida ao tecido. Obs. 2: Isto explica a dor clínica (parcialmente) mas deixa inexplicada a dor crônica e a mediação da dor por variáveis psicossociais. c) Teorias Psicológicas: têm a mesma natureza das teorias da especificidade e padrão. Mas ao contrário daquelas, centra a explicação da dor em fenômenos psicológicos ao invés de fisiológicos. A teoria propõe que uma vez evoluído o substrato psicológico necessário para a percepção da dor, ela não precisa mais de uma estimulação externa para ser experimentada (e explica a dor crônica na ausência de agressão real ao tecido). Em uma variante desta teoria, Bumer e Heilbronn propuseram a Desordem de Predisposição à Dor (pain-prone disorder), segundo a qual a pessoa predisposta é caracterizada pela negação das próprias emoções, inatividade, depressão, culpa, problemas pessoais e outros afetos negativos, associados a uma história familiar de depressão, alcoolismo e dor. Eles propuseram que a dificuldade para expressar raiva e para controlar emoções intensas eram os elos entre dor crônica e afetos negativos. Para estes autores a dor e a depressão eram distúrbios semelhantes no processamento de informações fortemente emocionais, como a contenção prolongada de raiva interpessoal intensa. d) Teoria Comportamental-Operante Radical: entende a dor como um fenômeno observável em suas manifestações abertas denominadas "comportamento de dor", verbais ou não, sujeitas a contingências de reforçamento e modelagem por fatores ambientais externos ao organismo. Esta abordagem minimiza a importância de variáveis fisiológicas na percepção da dor, considerando que o comportamento de dor depois de aprendido pode ocorrer mantido por reforçamento social mesmo na ausência do fenômeno nociceptivo. Outras variações desta teoria ampliaram o conceito de comportamento de dor, para incluir as atividades mentais e cognitivas como pensamentos e imagens, considerados comportamentos operantes encobertos. e) Teoria Cognitiva Radical: entende a dor como um resultado do pensamento racional e atividades cognitivas correlatas. Assim, os defensores desta teoria afirmam que a dor decorre de padrões específicos de pensamento disfuncional e apontam diferentes técnicas de tratamento (como condicionamento operante e biofeedback) como técnicas que na realidade modificam o modo como os pacientes pensam sobre sua dor (intervenção cognitiva). Apesar dos bons resultados encontrados em intervenções cognitivas no tratamento da dor, esta abordagem é muito simplista e desconsidera os resultados também positivos obtidos por intervenções neurofisiológicas (Novy & cols., 1995). As teorias restritivas não explicam, no total, algumas questões como: 1.A lesão sem dor 2. O dor desproporcional à extensão do estímulo física doloroso 3. Persistência da dor após a recuperação da lesão 4. O insucesso de procedimentos cirúrgicos bloqueadores da dor 2- Teorias abrangentes a) Teoria do Gate Control: o principal argumento apresentado foi que os impulsos nervosos evocados por lesões são influenciados na espinha por outras células nervosas que atuam como portões impedindo ou facilitando a passagem dos impulsos, como se segue: Um mecanismo de controle na espinha dorsal modula a transmissão dos impulsos nervosos dos terminais aferentes até as células transmissoras na espinha, chamadas "células T". Fibras nervosas de pequeno e de grande diâmetro são respectivamente responsáveis pela condução lenta ou rápida desses estímulos. O mecanismo de controle do portão é influenciado também pelos impulsos nervosos centrais, ou descendentes do cérebro. Quando a descarga de impulsos conduzidos pelas células T excedem um certo nível crítico, é ativado o sistema de ação. b) Teoria Operante-Comportamental Não Radical: o paciente usa os comportamentos de dor para comunicar aos outros o seu sofrimento. Para o autor, comportamentos de dor incluem: Queixa verbal de dor e sofrimento Vocalizações outras (ex.: gemidos e soluços) Gestos e postura corporal Demonstração de limitações funcionais ou limitações Obs.: Consequências positivas a esses comportamentos funcionam como reforçadores e aumentam sua probabilidade de ocorrência,descrevendo o caráter adaptativo desses comportamentos. c) Teoria Cognitivo-Comportamental: entende a dor a partir do envolvimento de variáveis afetivas, comportamentais, cognitivas e físico-sensoriais. A partir dela surgiu o maior número de técnicas interventivas para controle psicológico da dor, seja como auxiliar no tratamento médico-farmacológico ou como tratamento único em casos em que procedimentos médico-farmacológicos são insuficientes, indisponíveis, desnecessários ou inconvenientes. Dentre as técnicas conhecidas e cujos resultados têm indicado sucesso, incluem-se: Relaxamento; Hipnose; Uso de imagens; Biofeedback; Treino de habilidades e de solução de problemas. Esta teoria focaliza o estresse e a disfunção apresentada pelo paciente em dor, reconhecendo seus aspectos psicológicos e fisiológicos e, em especial, reúne de forma coerente e consistente o impacto de variáveis cognitivas, o processo de modelagem e modificação do comportamento, as terapias cognitivas específicas e os princípios da aprendizagem social. A intervenção trabalha a crença individual sobre a dor, leva o paciente à contínua reinterpretação da experiência dolorosa e ao reconhecimento e manejo dessas experiências. Conceituação da IASP: Em 1973, foi fundada a International Association for the Study of Pain (IASP) com o objetivo de integrar as múltiplas disciplinas subjacentes ao entendimento da dor, como psicologia, fisiologia, anatomia, e química do sistema nervoso e, a partir daí, desenvolver estratégias adequadas para seu manejo e controle “uma experiência sensorial e emocional desprazerosa associada com real ou potencial lesão de tecido ou descrita em termos de tal lesão" A IASP não oferece uma teoria para explicar a dor, mas adota esta definição que implica atividades fisiológicas, cognitivas e comportamentais que podem ser reconhecidas à luz das teorias abrangentes descritas acima. A adoção deste conceito pela comunidade científica assegura o reconhecimento da natureza multidimensional da dor. Doenças crônicas A retomada do modelo biopsicossocial para o entendimento do processo saúde- doença e qualidade de vida. A história da medicina mostra que o entendimento original do ser humano, segundo a visão de Hipócrates, era a de um ser holístico, integrado e biopsicossocial. Depois, as antigas civilizações desenvolveram uma abordagem fortemente mística sobre saúde e doença que durou até os séculos XV e XVI quando a então moderna medicina científica se movimentou para banir o componente supersticioso de suas bases conceituais. Desse movimento resultou a cisão mente-corpo, a perda da visão holística do ser humano, e a designação dos cuidados do corpo para os médicos e dos cuidados da mente para os filósofos e teólogos. Surgia o modelo biomédico, reducionista por natureza, responsável por uma visão unidimensional da saúde e pela priorização da doença sobre a saúde. A base puramente biológica dos sintomas de doença física só foi claramente contestada após as publicações de Sigmund Freud sobre a conversão histérica, de Dunbar e Alexander sobre a medicina psicossomática, apontando evidências do impacto exercido pelo estilo de vida, variáveis pessoais e sociais sobre a saúde física. Gradualmente o modelo biomédico caía em descrédito e erguia-se o modelo biopsicossocial de saúde. O aumento na incidência de doenças crônicas e as implicações clínicas do comportamento do ser humano moderno Até o início desse século, as principais causas de morte eram as doenças agudas, aquelas de curta duração, geralmente viróticas ou bacterianas, como tuberculose, pneumonia e gastroenterite que, embora possam ainda matar, hoje estão tecnicamente sob o controle da medicina. Atualmente, as principais causas de morte e comprometimento da qualidade de vida na sociedade industrializada são as doenças crônicas, cuja etiologia e evolução contam com claros mediadores comportamentais. Alguns comportamentos contrários à boa saúde são, por exemplo, o tabagismo, associado ao desenvolvimento do câncer; a hostilidade presente no padrão de comportamento estressado chamado Tipo A, considerado um dos promotores dos problemas coronários e do enfarto do miocárdio; e o comportamento sexual descuidado, facilitador da contaminação pelo vírus HIV. O aumento da sobrevida do paciente portador de doenças crônicas Hoje, a doença crônica não é mais sinônimo absoluto de morte, como foi no passado. Alguns casos já podem mesmo ser curados, como certos tipos de câncer que se diagnosticados e tratados precocemente podem apresentar remissão completa. A medicina já tem recursos para assegurar tratamento especializado para várias doenças crônicas e promover uma longevidade de muitos anos para o paciente. Esses recursos, entretanto, não contemplam a melhoria da qualidade de vida e os pacientes, durante seus possíveis muitos anos de sobrevida, convivem com uma condição em geral debilitante e múltiplas implicações práticas e psicológicas. Em psicologia da saúde, o processo saúde-doença é entendido como um complexo intercâmbio de fatores biológicos, sociais e psicológicos, ocorrido em macro e micro níveis, e capaz de influenciar a unidade mente-corpo. No macro nível incluem-se as variáveis psicológicas e sociais como ansiedade, estrutura familiar e redes de suporte social. No micro nível incluem-se as variáveis orgânicas e biológicas, como nível de insulina no sangue e má formação celular. A interação dos dois níveis completa o processo multidimensional e dinâmico da saúde-doença Psicologia e doenças crônicas A relação entre saúde, doença e variáveis psicológicas é bidirecional, onde tanto a saúde pode ser afetada por variáveis psico-comportamentais, como os processos psicológicos e sociais podem ser afetados por suas condições de saúde. Variáveis orgânicas e comportamentais podem, por sua vez, sofrer simultaneamente a influência de variáveis sócio-político-culturais. O que é uma doença crônica? É chamada crônica quando os recursos médico-farmacológicos disponíveis são insuficientes para curar a patologia. A terapêutica oferecida apenas desacelera, ou impede o progresso da doença, além de aliviar os sintomas e manter o melhor nível de funcionamento possível para o organismo afetado, embora possa provocar efeitos negativos na qualidade de vida do paciente. Pacientes crônicos procuram terapeutas para trabalhar dificuldades geradas não só pela doença em si, mas por suas consequências e implicações psicológicas e comportamentais. O atendimento ao portador de doença crônica requer do psicólogo uma compreensão aprimorada das peculiaridades relativas às doenças, não somente enquadrada na especificidade médica, mas que lhe permita acompanhar os avanços procedimentais e medicamentosos para o tratamento, os processos relativos ao prognóstico e as implicações decorrentes para o paciente e sua família. Visão contextualista: permite ao psicólogo estabelecer relações adequadas entre variáveis envolvidas no processo de saúde-doença. Como realizar uma intervenção psicológica nesse contexto? É necessário que se tenha um treinamento profissional adequado associado à compreensão da doença, do prognóstico e das técnicas e procedimentos utilizados para o diagnóstico e tratamento. Dessa forma, permite que o psicólogo elabore uma proposta potencialmente eficaz de intervenção, voltada para o perfil psicológico do paciente e as peculiaridades de seu quadro clínico, dos recursos e opções disponíveis, dos procedimentos necessários e das possíveis implicações psicológicas e sociais decorrentes da doença. Prevenção de doenças tratamento reabilitação Relembrando prevenção: são ações conjuntas com a promoção de saúde que visam aquisição e manutenção de hábitos contra doenças. Relembrando Tratamento: Programas interventivosno processo do tratamento da doença já estabelecida. Os procedimentos realizados junto ao paciente devem favorecer: o A aceitação e adaptação aos limites impostos pelo tratamento; o A adesão aos regimes medicamentosos e alimentares prescritos; o Modificação de hábitos e de estilo de vida; o Manejo da dor e do estresse; o Tomadas de decisão quanto às opções de tratamento disponíveis o Preparo para a realização de procedimentos invasivos dolorosos ou desconfortáveis e enfrentamento de suas possíveis ou previsíveis consequências. Relembrando Reabilitação - Inclui alguns dos procedimentos e objetivos utilizados na prevenção e no tratamento; promove a melhoria da qualidade de vida do paciente a despeito de limitações impostas pelas sequelas deixadas; treina a aquisição de novas habilidades ou recuperação daquelas esquecidas; e auxiliam o paciente na revisão de valores que geralmente fazem ao retomar a vida profissional, familiar, e social após o diagnóstico de uma doença crônica. Ao longo do processo interventivo, o psicólogo deve estar preparado também para trabalhar com a morte, auxiliando o paciente a compreender a evolução da doença, assistindo-o e a sua família nos momentos de negação, recusa e elaboração dos processos de luto. O psicólogo, além de conhecer aspectos relacionados à doença e à terminologia de procedimentos médicos, deve ter um bom treinamento clínico em psicoterapia, técnicas de entrevista, observação, avaliação de comportamento de risco, relaxamento e modificação de comportamento. É importante frisar que para uma EFICAZ utilização do modelo biopsicossocial é preciso que o psicólogo tenha um bom vínculo com o paciente, capaz de realizar uma avaliação psicológica antes de aplicar uma intervenção Bioética O direito à vida compreende um direito fundamental e supremo a ser tutelado pelo ordenamento jurídico. Pensado em face das questões polêmicas atuais, o direito à vida é analisado sob o viés do princípio da dignidade da pessoa humana (olhar bioético) O conceito de morte digna ou boa morte nem sempre é a mesma para os pacientes, os cuidadores, os familiares e os profissionais da área de Saúde. A abreviação da morte, a aplicação de esforços terapêuticos desproporcionais, como a obstinação, a futilidade e o encarniçamento terapêutico, ou a instituição dos cuidados paliativos, que aliviam o sofrimento, constituem os extremos de tratamentos que podem ser oferecidos ao indivíduo em estágio terminal. O que, realmente, deve ser realizado para o paciente é um dilema ético de difícil decisão, porém que determinará, em última instância, todo o processo de morte de um ser. Assim, é imprescindível a discussão sobre o impasse entre métodos artificiais para prolongar a vida e a atitude de deixar a doença seguir sua história natural, com destaque para a eutanásia, a distanásia e a ortotanásia. Diferenciação entre Eutanásia, Ortotanásia e Distanásia Eutanásia No que diz respeito à eutanásia, foi definida, inicialmente como o ato de tirar a vida do ser humano. Mas depois de ser discutido e repensado, o termo significa morte sem dor, sem sofrimento desnecessário. Atualmente, é entendida como uma prática para abreviar a vida, a fim de aliviar ou evitar sofrimento para os pacientes. O termo supracitado é ilegal no Brasil, porém é aceito em alguns países, como a Holanda e a Bélgica. Vale ressaltar que o Código de Ética Médica brasileiro de 1988 tem todos os artigos alusivos ao tema contrários à participação do médico na eutanásia e no suicídio assistido. Na eutanásia o próprio profissional se responsabiliza do ato da morte, propiciando meios para isso. No suicídio assistido o paciente se responsabiliza pelo ato da morte, propiciando meios para isso, tendo acompanhamento de um profissional. Corresponde à abreviação da vida do paciente em estado terminal e que sofre de intensa dor física ou psicológica. Note-se que aquele que assiste a sua prática, fornecendo os meios para tanto, ou, ainda, induz ou instiga o paciente é considerado responsável. “Ato que se leva a morte de um paciente de forma rápida e indolor”. Segundo a definição do Comitê de Ética da Associação Europeia de Cuidados Paliativos, a eutanásia só pode ser voluntária e ativa. Afirma que a eutanásia é “matar a pedido”, sendo definida como: “um médico intencionalmente mata uma pessoa pela administração de drogas devido a um pedido voluntário e competente da mesma”. Suicídio assistido pelo médico seria: “um médico intencionalmente ajuda uma pessoa a cometer suicídio provendo drogas para autoadministração devido a um pedido voluntário e competente da mesma”. Ortotanásia Etimologicamente, ortotanásia significa morte correta - orto: certo; thanatos: morte. Traduz a morte desejável, na qual não ocorre o prolongamento da vida artificialmente com procedimentos que alteram o processo natural do morrer. Destarte, na ortotanásia, o indivíduo em estágio terminal é direcionado pelos profissionais envolvidos em seu cuidado para uma morte sem sofrimento, que dispensa a utilização de métodos desproporcionais de prolongamento da vida, tais como ventilação artificial ou outros procedimentos invasivos. A finalidade primordial é não promover o adiamento da morte, sem, entretanto, provocá-la; é evitar a utilização de procedimentos que aviltem a dignidade humana na finitude da vida. “Ato de parar com a atividade para prolongar a vida artificialmente de um paciente”. Morte natural – permitida no Brasil. Distanásia É conceituada como uma morte difícil ou penosa, usada para indicar o prolongamento do processo da morte, por meio de tratamento que apenas prolonga a vida biológica do paciente, sem qualidade de vida e sem dignidade. Também pode ser chamada de obstinação terapêutica. Nesse sentido, enquanto, na eutanásia, a preocupação principal é com a qualidade de vida remanescente, na distanásia, a intenção é de se fixar na quantidade de tempo dessa vida e de instalar todos os recursos possíveis para prolongá-la ao máximo “Ato de prolongamento máximo da vida de um paciente, o que resulta numa morte longa e sofrida, não indicado no Brasil.” Nesse enfoque, é necessário diferenciar o direito à deliberação da morte e o privilégio à morte digna. A faculdade de decidir sobre a morte está relacionada à eutanásia, que traduz o auxílio ao suicídio, através de procedimentos que provocam a morte. Por outro lado, o direito de morrer de forma digna diz respeito a uma morte natural, com humanização, sem que haja o prolongamento da vida e do sofrimento, através da instituição de intervenções fúteis ou inúteis, que se reporta à distanásia. É notório destacar que a reflexão sobre a legalidade das práticas supracitadas é uma temática de intensa discussão em diversos países. Diante desse contexto, considerando- se a relevância da temática no campo da Bioética para o meio acadêmico, assim como para a prática assistencial e de pesquisa no campo da saúde, é sobremaneira importante desenvolver estudos que busquem socializar sua produção científica, visto que são incipientes as publicações que abordem o referido tema. Cuidados Paliativos O que é? “Uma abordagem que melhora a qualidade de vida do paciente e seus familiares frente a problemas associados a doenças que ameacem a vida, através da prevenção e alívio do sofrimento por meio de uma identificação precoce e avaliação e tratamento impecáveis da dor e outros problemas, físicos, psicossociais e espirituais (definição da OMS). Princípios básicos • Prevenir ou aliviar a dor e outros sintomas, bem como o desamparo; • Fortalecer e restaurar a autonomia; • Valorizar a vida e considerar o morrer como um processo normal, encarando o fim da vida com dignidade e paz; • Não busca apressar a morte, tampouco encará-la como sinal de fracasso da equipe; • Integrar os aspectos
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