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Módulo: Controle de Incidência Tributária Aluno: Paulo Victor Reis Cordeiro Seminário 3 – Sistema, Competência e Princípios. 1. Que é sistema? Há diferença entre sistema e ordenamento jurídico? Pode-se dizer que o direito positivo se caracteriza como um sistema? Sistema deve ser entendido como o objeto formado pelo conjunto de elementos que se unem através de características correlacionadas, as quais utilizam um princípio unificador e são orientadas por um vetor comum. A doutrina diverge acerca do enquadramento de ordenamento jurídico (sinônimo de direito positivo) como um sistema. Porém, me posiciono no sentido de entendê-lo como um sistema. Utilizando a definição de sistema acima enunciada, chegaremos à conclusão de que as normas devem ser entendidas como sistema. Pois, são organizadas por elementos comuns e se relacionam de diversas formas, segundo um princípio unificador. Sendo assim, o direito positivo é classificado como sistema nomoempírico prescritivo. O homem, utilizando sua consciência e racionalidade, observa os fatos sociais e legisla no sentido de regulá-los. 2. Que se entende por “sistema constitucional tributário”? Qual sua função no direito tributário? Sistema constitucional tributário é o subconjunto de normas que se encontram no bojo da Constituição Federal que versam sobre matéria tributária. Como sabemos, a Constituição Federal tem a função de regular os atos inerentes ao Estado, dando direitos e deveres correlatos, na tentativa de intervir nas relações intersubjetivas e regular os seus administrados. É ela o ponto de partida para as mais variadas normas vigentes em nosso ordenamento. Sendo assim, o seu subconjunto de normas tributárias tem a mesma função acima descrita. Tal conjunto de normas vem regular o poder de império inerente ao Estado, garantindo com que não sejam realizados abusos contra os seus administrados. Este regramento é composto por normas de comportamento, aquelas diretamente ligadas à noção de regulação das relações intersubjetivas, e por normas de estrutura, aquelas que dispõem acerca de órgãos, procedimentos e a forma como devem ser introduzidas novas normas. Este conjunto de normas definem as competências tributárias dos entes da federação, informam princípios que regulam a atuação estatal, evitando o abuso de direitos contra os administrados e impõem limites ao poder de tributar do Estado. 3. Que é princípio, como é e para que serve? Há diferença entre regras e princípios? No caso de conflito, qual deve prevalecer? E no caso de conflito entre princípios, qual critério deve informar a solução? (Vide anexos I e II). Toda norma é impregnada de valor. Porém, umas são mais valoradas que as demais e, dessa forma, acabam por exercer a função sintática de forma mais forte que as outras. Estas normas de maior valor são designadas pelo termo princípio. A diferença entre as regras e os princípios é justamente o que fora apontado acima. Os princípios são regras de maior valor e se sobressaem em relação às demais. Se ocorrer conflitos entre regras e princípios, devem prevalecer os princípios. Pois, carregam em sua estrutura valores concebidos por todo o ordenamento. 4. Identificar, nas situações a seguir, se algum princípio foi desrespeitado e, em caso afirmativo, indicar qual: a) instituição e regulamentação de dever instrumental por meio de instrução normativa (vide anexo III); Instituição de dever instrumental deve ser por meio de lei em sentido estrito, em conformidade com o princípio da legalidade. Porém, o detalhamento do dever instrumental pode ser realizado por outros instrumentos normativos, tais como a instrução normativa. b) estipulação de graus de risco da atividade laborativa (para o SAT) por meio de decreto (vide anexo IV); Neste caso, a estipulação do grau de risco da atividade laborativa está insitamente ligada à majoração do tributo. Pois, o grau de risco irá determinar a alíquota aplicável à atividade. Sendo assim, estipular o grau de risco por meio de decreto fere o princípio da estrita legalidade elencado no artigo 97 do CTN. c) multas sancionatórias na percentagem de 75% (vide anexos V e VI); O legislador pátrio, ao dispor que é vedado utilizar tributo com efeito de confisco, não definiu a abrangência do termo confisco, deixando-a à interpretação do exegeta. Sendo assim, fora necessária a manifestação do STF para dirimir o conflito aqu existente. O Egrégio Tribunal tem entendimento pacificado no sentido de não ser confiscatório as multas no valor limite da obrigação principal, ou seja, o limite definido pelo STF foi no valor de 100% do valor do tributo. Portanto, no caso em tela, a multa no percentual de 75% não ultrapassa o limite do que se entende por confiscatório. d) imposto de importação com alíquota de 150%; Aqui é evidente que o tributo se encontra revestido de efeito confiscatório. Pois, é descabido tributo com valor superior à mercadoria. Satirizando, seria como se o Estado quisesse confiscar uma mercadoria e mais metade da mesma mercadoria, ferindo o direito fundamental a propriedade elencado na CF/88. e) lei municipal ou distrital que institui responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa; No presente caso, foi desrespeitado o princípio da estrita legalidade. Pois, matéria atinente à obrigação deve ser introduzida no ordenamento através de Lei Complementar, conforme dispõe o art. 146, III, "b" da CF/88. f) elaboração, pelo CONFAZ, de lista de produtos semielaborados sujeitos à incidência do ICMS (vide anexo VII); No julgamento do Recurso Extraordinário 240.186/PE, o STF decidiu pela constitucionalidade da competência conferida ao CONFAZ para elaboração da lista de produtos semielaborados que se sujeitam a incidência do ICMS. g) penhora, em execução fiscal, de automóvel de pequeno valor utilizado para transportar portador de necessidades especiais (vide anexo VIII). Muito embora o bem em questão não esteja presente no rol de bens impenhoráveis, a depender do caso concreto, a regra pode ser ampliada para garantir certos direitos fundamentais. Sendo assim, esta penhora acabou por violar o princípio da dignidade humana. h) quebra do sigilo bancário em favor da fiscalização. Não fere princípios. Pelo contrário, acredito que deva ocorrer para buscar a supremacia do interesse público sobre o privado. Pois, embora infrinja a privacidade, a quebra do sigilo bancário não é feita de forma discricionária. Deve ser concedida pelo magistrado para que possa ocorrer. i) a imposição da desistência das discussões judiciais e administrativas para adesão a parcelamento de débitos. Tal imposição não fere princípios dispostos em nosso ordenamento. Pois, a adesão ao parcelamento mostra que o contribuinte está de acordo com o débito devido e, portanto, não tem mais porque discutir o débito em questão. j) desconsideração de negócio jurídico realizado pelo contribuinte mediante planejamento tributário em razão de ausência de propósito negocial nos atos praticados pelo contribuinte. O caso narrado acima fere o princípio da livre iniciativa. 5. Que é, como é e para que serve a competência tributária? Quais as características da competência tributária? Há relevância na distinção dentre tipos e conceitos no tocante a competência tributária no Sistema Jurídico Brasileiro? Qual a diferença entre competência tributária e capacidade tributária? Analisar a facultatividade do seu exercício relativamente à Lei de Responsabilidade Fiscal (LC n. 101/00), que veda a transferência voluntária de receitas a entes que tenham deixado de instituir algum tributo de sua competência. (vide anexo IX) A competência tributária pode ser entendida em várias acepções, desde a competência dada pela CF aos entes federados para legislar sobre os seus tributos até a produção de norma individual e concreta. Porém, acredito que a pergunta tenha pertinência à função legislativa dos entes. Sendo assim, a competência tributária é a função legiferantede instituir tributos, concedido pela CF/88 aos entes da federação. A competência tributária possui seis características, são elas: privatividade, indelegabilidade, incaducabilidade, inalterabilidade, irrenunciabilidade e facultatividade do exercício. Como exposto no primeiro parágrafo, deve ser definida a acepção do uso da competência tributária, para que não ocorra distorção de entendimento. Pois, a palavra congrega vários sentidos. Competência tributária e capacidade tributária não se confundem. A primeira trata do poder legiferante dos entes da república, já a capacidade tributária ativa é a função de fiscalizar e arrecadar o tributo instituído. Há mais uma distinção entre elas. Como sabemos, a competência tributária é indelegável. Por outro lado, a capacidade tributária ativa pode ser delegada a outra pessoa, seja ela pessoa jurídica de direito privado ou público. 6. Proposta de Reforma Tributária Nacional que substitua os impostos estaduais e municipais sobre bens e serviços, por um imposto único de competência da União por emenda constitucional viola os Princípios do Pacto Federativo e do Federalismo Fiscal? E se esta emenda prever expressamente o repasse obrigatório da integralidade ou parte do produto da arrecadação desse imposto único para os estados e municípios? A reforma descrita na questão fere os Princípios do Pacto Federativo e do Federalismo Fiscal. Pois, acabaria com os recursos destinados a tais entes e afetaria custeio das mais variadas atividades realizadas por eles. Porém, se for realizado o repasse, total ou parcial, da arrecadação deste imposto único, a situação passa a ter outra feição. O principal problema acerca do tema é a extinção de recursos para os estados e municípios. Se for realizado dessa forma, suas atividades continuam a ser exercidas, pois seria possível o custeio delas. 7. A Emenda Constitucional n. 39/02 acrescentou à Constituição o art. 149-A e parágrafo único, dispondo: “Art. 149-A. Os Municípios e o Distrito Federal poderão instituir contribuição, na forma das respectivas leis, para o custeio do serviço de iluminação pública, observado o disposto no art. 150, I e III. Parágrafo único. É facultada a cobrança da contribuição a que se refere o caput, na fatura de consumo de energia elétrica”. Com fundamento nesse dispositivo, a Prefeitura de Itumambé instituiu o seguinte tributo: Prefeitura Municipal de Itumambé, Decreto Municipal 3.708 de 10/10/03 (DOM 13/10/03) Art. 1ºFica instituída contribuição para o custeio do serviço municipal de energia elétrica que tem como fato gerador a prestação do serviço de energia elétrica pelo Município. Art. 2ºA base de cálculo é o valor da fatura de consumo de energia elétrica. 1 §º A alíquota é de 0,5%. 2 §º Os contribuintes que morarem na região central pagarão 50% a mais do valor devido. Art. 3ºContribuinte é o consumidor de energia elétrica. Art. 4ºCompete à Secretaria de Finanças fiscalizar o abatimento realizado pela concessionária. Art. 5ºA importância devida a título dessa contribuição deve ser paga até o último dia do mês subsequente e recolhida pela concessionária de energia elétrica juntamente com a fatura mensal de consumo, ficando a concessionária responsável pelo abatimento do montante recolhido da fatura municipal. Parágrafo único. O não-pagamento da contribuição, ou o não repasse, implica multa de 150 UFIRs. Art. 6ºEsta lei entra em vigor na data de sua publicação, devendo produzir todos os seus efeitos a partir do dia 01/11/03. Pergunta-se: a) O sistema constitucional tributário brasileiro admite alterações na faixa de competência tributária das pessoas políticas? Há alguma vedação à ampliação da competência tributária municipal por meio de emenda constitucional? Em caso afirmativo, qual(is)? Sim, é possível realizar alterações nas competências tributárias elencadas na CF/88, desde que sejam feitas pelo procedimento adequado, qual seja: Emenda Constitucional. O legislador pátrio pode realizar quaisquer mudanças na competência municipal, desde que o faço por meio de Emenda Constitucional. b) Os Municípios podem, na criação de tal contribuição, com fundamento no art. 149-A da CF, utilizar uma das materialidades que lhes foram atribuídas constitucionalmente para a instituição de impostos? E das materialidades atribuídas aos Estados, Distrito Federal e União por ocasião da repartição constitucional das competências para instituição de impostos? Há vedação constitucional quanto à materialidade eleita: “consumir energia”? Justifique (vide anexo X). c) Quais princípios tributários não foram observados pela Prefeitura de Itumambé ao instituir esse tributo? A Prefeitura pode escolher quais princípios tributários quer aplicar e afastar os outros? A contribuição em comento encontra-se eivada de inconstitucionalidade desde o momento de sua instituição. Pois, foi realizada por veículo introdutor errado. Não foi introduzido por meio de lei, mas sim por decreto municipal, ferindo o princípio da legalidade. O art. 2, §2º do decreto em questão violou o princípio da não discriminação tributária, em razão da procedência ou do destino dos bens e serviços. Pois, estabeleceu distinção no valor devido entre os moradores da região central e os demais moradores da cidade. O parágrafo único do art. 5º do decreto violou o princípio que veda a instituição de tributo com pretensões confiscatórias. Pois exigiu penalidade elevada com relação a prestação devida. O art. 6º do decreto fere os princípios da anterioridade geral e a anterioridade nonagesimal. d) A alteração do prazo de pagamento deve respeitar o princípio da anterioridade? Em qual o critério da Regra-Matriz de Incidência figura o prazo para pagamento do tributo?(Vide anexo XI). A alteração no prazo de recolhimento deve respeitar o princípio da anterioridade. Pois, tal princípio foi criado com o intuito de evitar que o contribuinte seja surpreendido pelas exações e possa se programar para cumpri-los. O prazo para pagamento encontra-se no critério quantitativo da RMIT.
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