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LEI - ORGANIZACAO CRIMINOSA COMENTADA

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L E G I S L A Ç Ã O
TURMA ESPECÍFICA 
ORGAN IZ AÇÕE S 
 CRIMINOSAS
ORGANIZAÇÕES 
 CRIMINOSAS
 
1 
SUMÁRIO 
 
1. ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS .................................................................................... 4 
1.1. OBSERVAÇÕES INICIAIS ........................................................................................... 4 
1.2 LEGISLAÇÃO COMENTADA ....................................................................................... 9 
CAPÍTULO I – DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ............................................................... 9 
CAPÍTULO II – DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DA PROVA ............ 22 
SEÇÃO I – DA COLABORAÇÃO PREMIADA ................................................................... 24 
SEÇÃO II - DA AÇÃO CONTROLADA.............................................................................. 37 
SEÇÃO III - DA INFILTRAÇÃO DE AGENTES .................................................................. 39 
SEÇÃO IV - DO ACESSO A REGISTROS, DADOS CADASTRAIS, DOCUMENTOS E 
INFORMAÇÕES............................................................................................................... 44 
SEÇÃO V - DOS CRIMES OCORRIDOS NA INVESTIGAÇÃO E NA OBTENÇÃO DA 
PROVA ............................................................................................................................ 45 
1.3 QUESTÕES PARA TREINAMENTO ........................................................................... 46 
1.4 GABARITO COMENTADO ........................................................................................ 49 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
https://t.me/cursomege
 
2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
As fantasias têm de ser irreais. Porque no 
momento, no segundo que consegue o que quer… 
não quer, não pode querer mais. Para poder 
continuar a existir, o desejo tem de ter os objetos 
eternamente ausentes. Vocês não querem “algo”, 
querem a fantasia desse “algo”. O desejo apoia 
fantasias desvairadas. Foi essa a ideia de Pascal ao 
dizer que somos realmente felizes quando 
sonhamos acordados com a felicidade futura. Daí o 
ditado: “O melhor da festa é esperar por ela”. Ou: 
“Cuidado com seus desejos”. Não pelo fato de 
conseguir o que quer, mas pelo fato de não querer 
mais depois de conseguir. 
Então, a lição de Lacan é: Viver de desejos não traz 
a felicidade. O verdadeiro significado de ser 
humano é a luta para viver por ideias e ideais. E não 
medir a vida pelo que obtiveram em termos de 
desejos, mas pelos momentos de integridade, 
compaixão, racionalidade e até autossacrifício. 
Porque no final a única forma de medir o 
significado de nossas vidas é valorizando a vida dos 
outros. A vida de David Gale. 
 
 
3 
 
CONTEXTUALIZAÇÃO 
 
Mais uma vez, meus amigos, iniciarei o material com uma breve 
contextualização (jurídico-histórica). Diferentemente do assunto abordado na 
primeira rodada (abuso de autoridade), cuja cobrança eu acredito que será 
mais objetiva, as questões acerca de crime organizado podem ter algum apelo 
mais teórico – notadamente em discursivas e orais. 
 
 
4 
1. ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 
1.1. OBSERVAÇÕES INICIAIS 
Eu vou lhe fazer uma proposta 
irrecusável - Vito Corleone. 
A reunião de pessoas a fim de cometer crimes, numa ou noutra medida, 
sempre existiu. O surgimento de tais grupos, portanto, não tem data precisa, mas é 
possível se dizer que as Tríades Chinesas figuram entre as mais antigas 
organizações do mundo, tendo origem no ano de 1644. O objetivo inicial era 
restaurar a dinastia Ming, expulsando todos os invasores do império. Outra 
importante organização asiática é a Yakuza, cujas ramificações existem até hoje. 
Os grupos mais famosos e glamourizados, no entanto, são os italianos, que 
tiveram início com o movimento de resistência contra o Rei de Nápoles. Ficou muito 
conhecido por ter uma estrutura de família, como a “Casa Nostra” de origem 
siciliana, a “Camorra” napolitana e a “N’drangheta”, da região da Calábria. 
Tais “famílias” começaram suas atividades criminosas com a prática de extorsão e 
contrabando, depois de certo tempo, começaram a traficar e lavar dinheiro. Como 
última demonstração de evolução e visando o bom andamento de suas atividades, a 
máfia italiana começou a financiar campanhas eleitorais, com objetivo de possuir 
controle sobre os governantes do país (LIMA, Renato B. Legislação Criminal Especial. 
2ª edição. Salvador. Ed. JP, 2014). 
Aliás, para quem quiser entender melhor a evolução da atuação da máfia, vale 
a pena assistir à trilogia “Poderoso Chefão”. Durante a obra, vocês perceberão que 
o grupo, presidido por Vito Andolini/Corleone (The Godfather), é concebido como 
uma pequena reunião de pessoas que fazia favores em troca da lealdade dos 
favorecidos e termina como uma grande corporação, com influência social, política 
e religiosa. Recomendo vivamente. 
Agora você vem a mim e diz 'Don Corleone, faça justiça', mas você 
não pede com respeito. Você não oferece sua amizade. Você nem 
sequer pensar em me chamar de Padrinho. Don Corleone. 
No Brasil, em que pese não seja fácil identificar quais, de fato, foram as 
primeiras reuniões de pessoas a fim de cometer delitos, entende-se que a 
manifestação mais remota de crime organizado é o cangaço – que tem em Virgulino 
Lampião o seu principal representante. Tais movimentos organizados (não 
necessariamente com raízes no cangaço) só aumentaram – na horizontal e na 
vertical, sobretudo por conta da alta lucratividade que lhe é inerente. 
 
5 
Dado todo esse contexto histórico sobre o crime (cada vez mais) organizado, 
as forças internacionais sentiam a obrigação de tomar uma atitude. 
Com isso, surgiu a Convenção de Palermo (Convenção das Nações Unidas 
Contra o Crime Organizado), incorporada ao direito Brasileiro pelo Decreto 
5015/2004. Com o intuito de incentivar e promover a cooperação para prevenir e 
combater de forma eficaz a criminalidade estrutural e estruturante, a norma definiu 
os conceitos de grupo criminoso organizado, infração grave, grupo estruturado, 
bens, produto do crime, bloqueio, confisco, entrega vigiada etc. 
No território brasileiro também não existia uma norma que definisse 
organização criminosa, pois, segundo a doutrina, dentre eles Nestor Távora (2018, 
p. 884, LECRIM), a Lei 9.034/95 e suas modificações posteriores não definiam 
organização criminosa, tampouco tipificavam como delito a conduta de compor 
aquela organização. Suas disposições se destinavam à disciplina do uso de meios 
operacionais para prevenção e repressão de ações praticadas por organizações 
criminosas. 
O que a Lei 9.034/95 fez, na verdade, foi apenas menção ao termo 
“organização criminosa”, sem conceituá-lo e, muito menos, tipificá-lo. O conceito 
veio apenas com a Lei 12.694/12: 
Art. 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se organização 
criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, 
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de 
tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta 
ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a 
prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 
(quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional. 
A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional 
trazia a seguinte definição: 
“Grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum 
tempo e atuando concentradamente com o propósito de cometer 
uma ou mais infrações graves enunciadas na presente 
convenção, com intenção de obter, direta ou indiretamente, um 
benefício econômico ou outro benefício material”. 
Porém, tal norma internacional encontrou resistência no Brasil, tendo em vista 
que o fato de um tratado internacional definir o conceito de “organização criminosa” 
importaria em uma violação aos princípios da legalidade, reserva legal e da 
taxatividade. 
 
6 
TIPO PENAL – NORMATIZAÇÃO. A existência detipo penal 
pressupõe lei em sentido formal e material. LAVAGEM DE 
DINHEIRO – LEI Nº 9.613/98 – CRIME ANTECEDENTE. A teor do 
disposto na Lei nº 9.613/98, há a necessidade de o valor em 
pecúnia envolvido na lavagem de dinheiro ter decorrido de uma 
das práticas delituosas nela referidas de modo exaustivo. 
LAVAGEM DE DINHEIRO – ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E 
QUADRILHA. O crime de quadrilha não se confunde com o de 
organização criminosa, até hoje sem definição na legislação 
pátria. (STF - HC: 96007 SP, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data 
de Julgamento: 12/06/2012, Primeira Turma, Data de Publicação: 
ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-027 DIVULG 07-02-2013 PUBLIC 08-
02-2013) 
A ementa acima deixa claro que a falta de uma definição legal de organizações 
criminosas gerava impunidade, pois, no caso exposto, os acusados foram 
absolvidos. Isso porque havia a necessidade de existir um crime anterior para a 
configuração da lavagem de dinheiro, porém, como não existia a definição legal de 
organização criminosa (e muito menos uma pena) era impossível condenar e aplicar 
qualquer sanção aos envolvidos. 
Foi, então, criada a Lei 12.694/12, que versava sobre a formação do juízo 
colegiado para julgamento dos crimes praticados por organizações criminosas. 
Contudo, a Lei apresentava um pequeno problema, pois versava pura e 
simplesmente sobre a definição das organizações criminosas e sobre a formação 
do juízo colegiado, deixando de fora todo o processo de investigação e produção de 
provas, fato que determinou a curtíssima vida útil da norma. 
Outro problema da lei de 2012 era que ela conceituava ORCRIM, mas não a 
tipificava. Isto é, conceituava-se o que seria um grupo criminoso, mas ele não era 
considerado um crime por si só. 
Então, no ano de 2013 foi promulgada a Lei 12.850, que conceituou, tipificou 
e consagrou meios especiais de investigação sobre grupos criminosos. 
a) NÚMERO DE AGENTES: Na lei de 2012, configurar-se-ia ORCRIM com 
(três) ou mais pessoas, já a Lei 12.850/13 afirma que tal crime só se 
configura com a união estável, pelo menos, QUATRO agentes; 
b) CRIMES E CONTRAVENÇÕES: a primeira norma falava em vantagem 
obtida por meio de crimes, mas a segunda fala em infrações penais, ou 
seja, a ORCRIM pode ter por objeto a prática de CRIME OU 
CONTRAVENÇÃO (uma vez que a Lei 12.850/13 usa a expressão 
INFRAÇÃO PENAL, gênero do qual crime e contravenção são espécies); 
 
7 
c) 12.850/13 CONCEITUOU E TIPIFICOU: A terceira e talvez mais importante 
diferença, é que na lei publicada em 2012 as organizações criminosas 
não constituíam, isoladamente, um delito. A lei conceituou ORCRIM e 
consagrou um regime diferenciado aos participantes. Porém, na lei de 
2013, foi introduzido o crime referente a ORCRIMs, com isso a formação 
de organização criminosa passou a tipificar um crime por si só. 
LEI 9.034/95 LEI 12.694/12 LEI 12.850/13 
FEZ MENÇÃO AO 
TERMO “ORCRIM”. 
MENCIONOU E 
CONCEITUOU “ORCRIM”. 
CONCEITUOU E 
TIPIFICOU. 
CRIMES PLURISSUBJETIVOS➔ Também chamados de delitos de concurso 
necessário, plurissubjetivos são aqueles cujas configurações demandam, 
necessariamente, a presença de mais de um agente. Exemplos: associação 
criminosa, ORCRIM, associação para o tráfico, bigamia, rixa etc. 
A doutrina costuma ramificar esse conceito em três espécies distintas... 
 
8 
CONCEITOS QUE SERÃO COBRADOS E APENAS 
VOCÊS ACERTARÃO... 
1. CRIMINALIDADE ORGANIZADA X CRIMINALIDADE MASSIFICADA➔ O 
Professor Paulo César Busato, em sua obra “Comentários à Lei de Organizações 
Criminosas” (Editora Saraiva), diz o seguinte: Criminalidade de massa compreende 
assaltos, invasões de apartamentos, furtos, estelionatos, roubos e outros tipos de 
violência contra os mais fracos e oprimidos. Conclui o autor que, nesse tipo de 
criminalidade, os prejuízos recaem, notadamente, sobre os mais fracos e oprimidos, 
o que permite que sejam manipulados por políticas criminais populistas. 
2. O QUE É O “MEDO COLETIVO DIFUSO”? ➔ Ainda segundo o Professor 
Busato, esse crimes que recaem sobre as massas mais fracas e oprimidas geram 
um MEDO COLETIVO DIFUSO. É justamente esse sentimento que faz com que essas 
pessoas sejam alvos mais fáceis de políticas criminais populistas e demagogas, que 
não reduzem, de fato, a criminalidade. 
O medo coletivo difuso, destarte, advém da criminalidade de massa. 
3. O QUE É A “IMPUTAÇÃO RECÍPROCA”? ➔ Na perspectiva do “domínio 
funcional do fato”, o brilhante Professor Luís Greco ensina: se duas ou mais pessoas, 
partindo de uma decisão conjunta, contribuem para a realização do delito, eles terão o 
domínio funcional do fato, que fará de cada qual coautor do fato com um todo... 
Meus amigos, é isso o que o autor chama de IMPUTAÇÃO RECÍPROCA: os 
coautores responderão pelo fato como um todo, ainda que cada um só tivesse sido 
responsável por parte da conduta. 
4. CRIME ORGANIZADO POR NATUREZA X CRIME ORGANIZADO POR 
EXTENSÃO➔ Crime organizado por natureza é o “propriamente dito”, isto é, aquele 
previsto no art. 2º da lei. Por extensão, por sua vez, alude às infrações penais que 
serão praticadas pela organização. 
5. A LEI 12.694/12 FOI REVOGADA? ➔ Atentem-se ao fato, reitero, de que a 
Lei 12.850/13 não ab-rogou (revogou completamente) a lei de 2012. Permanecem 
existentes, válidos e eficazes institutos como a formação do colegiado de juízes. No 
entanto, quanto ao conceito de ORCRIM, houve a revogação, devendo ser 
consagrado como parâmetro aquele trazido pela lei mais recente. 
 
 
 
 
9 
1.2 LEGISLAÇÃO COMENTADA 
CAPÍTULO I – DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA 
ARTIGO 1º (VETORES INTERPRETATIVOS) 
Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação 
criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o 
procedimento criminal a ser aplicado. 
§ 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais 
pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, 
ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, 
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais 
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de 
caráter transnacional. 
§ 2º Esta Lei se aplica também: 
I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional 
quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido 
no estrangeiro, ou reciprocamente; 
II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a 
prática dos atos de terrorismo legalmente definidos. (Redação dada pela lei nº 
13.260, de 2016) 
A lei 12.40/13 acabou com a discussão e a confusão conceitual que existia 
entre “associação criminosa” e “organização criminosa”. Já em seu art. 1º, elenca os 
requisitos nucleares para se conceituar a ORCRIM. Reparem: 
• QUATRO OU MAIS! Associação de pelo menos quatro 
pessoas; 
• ESTRUTURA ORDENADA, AINDA QUE INFORMAL: 
Estruturalmente ordenada (ainda que se trate de estrutura 
hierárquica rudimentar); 
• DIVISÃO DE TAREFAS: àqueles que compõe a estrutura da 
ORCRIM são atribuídas tarefas (não é necessária a 
delimitação de atribuições de forma rígida, por regimento ou 
estatuto); 
• VANTAGEM DE QUALQUER NATUREZA: Com a finalidade de 
obter direta ou indiretamente, vantagem de qualquer 
natureza, não se limitando a vantagens pecuniárias; 
 
10 
• PENAS SUPERIORES A QUATRO ANOS OU QUE HAJA 
CARÁTER TRANSACIONAL: Através do cometimento de 
infrações penais, cujas penas máximas sejam superiores a 4 
(quatro) anos, ou independente do quantum máximo 
abstrato, sejam de caráter transnacional. Reparem! 
SUPERIORES E NÃO “IGUAL OU SUPERIOR”. 
Meus amigos, esse dispositivo inicial da lei tem que estar afiadíssimo, na ponta 
da língua. É muito comum que ele seja cobrado em primeiras fases, alterando-se 
pequenos trechos do preceito primário para nos confundir. Leiam, pelo menos, 19 
vezes. 
CRIMES ECONTRAVENÇÕES➔ O preceito primário diz “infrações”. Logo, é 
possível – ao menos no plano das ideias - que exista ORCRIM criada para a prática 
de contravenções penais. Lembrem-se: infração penal é gênero da qual crime e 
contravenção são espécies. 
 Ocorre que, não existe contravenção penal com pena máxima superior a 4 
anos. Justamente por isso, discute-se acerca da possibilidade (ou não) de haver 
ORCRIM para a contravenção de jogo do bicho. DUAS CORRENTES: 
• FERNANDO CAPEZ: entende que é possível. Para ele, o 
art. 1º abrangeria os crimes com penas máximas 
superiores a 4 anos e TODAS as contravenções. NÃO 
PREVALECE! 
• CLEBER MASSON: entende que não, isso porque o 
preceito primário diz que, para haver a ORCRIM, a 
infração (CRIME OU CONTRAVENÇÃO) deve ter pena 
superior a 4 anos. Com dito, não existe contravenção 
com tal sanção. MAJORITÁRIA! 
 
MUITA ATENÇÃO! O examinador é louco para nos pegar com as diferenças 
entre ORCRIM, associação criminosa, associação para o tráfico etc. A tabela 
abaixo vai te ajudar com isso. 
 
 
 
 
 
11 
 
Para sacramentar a diferença dos conceitos de ORCRIM previstos em três 
diplomas: 
• CONVENÇÃO DE PALERMO: art. 2º, “a” - "Grupo criminoso 
organizado" - grupo estruturado de três ou mais pessoas, 
existente há algum tempo e atuando concertadamente com o 
propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou 
enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, 
direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro 
benefício material; 
• LEI 12.694/12; art. 2º: Para os efeitos desta Lei, considera-se 
organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, 
 
12 
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, 
ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou 
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática 
de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) 
anos ou que sejam de caráter transnacional; 
• LEI 12.850/13: Considera-se organização criminosa a 
associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente 
ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que 
informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, 
vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações 
penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) 
anos, ou que sejam de caráter transnacional. 
NORMA DE EXTENSÃO: o §2º traz uma norma de extensão, que expande a 
abrangência da lei para aplicação dos institutos previstos como meio de 
investigação e obtenção de prova nas seguintes situações: 
• Infrações penais previstas em tratados ou convenções 
internacionais, quando iniciada a execução no País, o 
resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou 
reciprocamente; 
• Organizações terroristas, sendo os grupos voltados para a 
prática de qualquer dos atos delituosos previstos na Lei nº 
13.260/16 (Lei de Terrorismo). 
ARTIGO 2º 
Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por 
interposta pessoa, organização criminosa: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas 
correspondentes às demais infrações penais praticadas. 
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, 
embaraça a investigação de infração penal que envolva organização 
criminosa. 
§ 2º As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização 
criminosa houver emprego de arma de fogo. 
§ 3º A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, 
da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de 
execução. 
 
13 
§ 4º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços): 
I - se há participação de criança ou adolescente; 
II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa 
dessa condição para a prática de infração penal; 
III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em 
parte, ao exterior; 
IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações 
criminosas independentes; 
V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da 
organização. 
§ 5º Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra 
organização criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do 
cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida 
se fizer necessária à investigação ou instrução processual. 
§ 6º A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário público 
a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição para o 
exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes 
ao cumprimento da pena. 
§ 7º Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que trata esta 
Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao 
Ministério Público, que designará membro para acompanhar o feito até a sua 
conclusão. 
§ 8º As lideranças de organizações criminosas armadas ou que tenham 
armas à disposição deverão iniciar o cumprimento da pena em 
estabelecimentos penais de segurança máxima. (Incluído pela Lei nº 
13.964, de 2019); 
 
ATENÇÃO! Fiquem atentos a esse dispositivo. Ele foi adicionado pelo pacote 
anticrime e a chance de ser cobrado em primeira fase é grande (em qualquer 
cargo). 
 
 
 
14 
§ 9º O condenado expressamente em sentença por integrar organização 
criminosa ou por crime praticado por meio de organização criminosa não 
poderá progredir de regime de cumprimento de pena ou obter livramento 
condicional ou outros benefícios prisionais se houver elementos probatórios 
que indiquem a manutenção do vínculo associativo. (Incluído pela Lei nº 
13.964, de 2019). 
O tipo penal previsto no art. 2º da presente lei tem como finalidade proteger 
a paz pública. Trata-se de crime formal uma vez que, embora exista a previsão de 
resultado, ele é prescindível (dispensável) para que a consumação ocorra. 
Trata-se da tipificação daquilo que mencionamos anteriormente: os crimes de 
organização criminosa por natureza. 
Membros não identificados ou inimputáveis ➔ Vale lembrar que é 
amplamente majoritário que esses membros (inimputáveis e não identificados) 
entram no cômputo de integrantes para configurar o mínimo de 4 autores da 
ORCRIM. 
E EVENTUAIS AGENTES INFILTRADOS, CONTAM? De acordo com Rogério 
Sanches, com quem concordamos, não. Isso porque o agente infiltrado não atua 
com animus associativo. Pelo contrário, a sua intenção é justamente desmantelar a 
ORCRIM. 
Crimes de tendência interna transcendente➔ Já vimos isso na primeira 
aula e também em tabela do material de abuso de autoridade. Tecerei alguns 
comentários apenas a título de lembrete e fixação de conteúdo. Coloca isso na 
cabeça: crime de tendência interna transcendente é sinônimo de crime de intenção. 
Trata-se de um gênero que se subdivide em duas espécies: 
• CRIME FORMAL: também chamado de “resultado cortado”; 
• CRIME MUTILADO DE DOIS ATOS: também chamado de 
atrofiado de dois atos; 
Em ambos os casos, o agente tem uma intenção interna (desculpem a 
redundância!) que é desnecessária para a consumação do crime. Logo, tanto os 
formais quanto os mutilados de dois atos consumam-se independentemente da 
produção do resultado naturalístico (a “intenção interna”). 
Se essa intenção (o resultado naturalístico) ocorrer, tratar-se-á de mero 
exaurimento. E é aqui que reside a diferença entre os formais e os de resultado 
cortado: nos formais, o exaurimento depende de um 3º (família pagar o resgate da 
 
15 
extorsão mediante sequestro); no mutilado de dois atos, o exaurimento depende 
de conduta do próprio agente (falsificação de moeda). 
Resumi o assunto na tabela abaixo: 
 
Os núcleos do caput do art. 2º são; 
➔ Promover que significa dar impulso, disseminar. 
➔ Constituir que significa criar, instituir, estruturar. 
➔ Financiar é sustentar, prover; 
➔ Integraré participar, estar dentro; 
 
16 
Consumação e tentativa➔ Quanto à consumação, nas três primeiras 
modalidades (promover, constituir e financiar) o delito é instantâneo, sendo 
possível a prisão em flagrante somente no momento da prática da ação correlata. 
Já no que se refere à conduta de integrar, ela é permanente, vindo a conduta e a 
consumação a se protraírem no tempo, o que torna o agente passível de prisão em 
flagrante a qualquer momento – entenda-se: enquanto durar a permanência. 
E A TENTATIVA, É POSSÍVEL? Prevalece que não, pois o crime depende de 
estabilidade. Logo, ou existe estabilidade e o crime se consuma, ou haverá apenas 
atos preparatórios impuníveis. 
CRIME OBSTÁCULO➔ Lembremos que o iter criminis (caminho do crime) é 
formado por cogitação, preparação, execução e consumação. Via de regra, 
cogitação e preparação não são fases puníveis, uma vez que não atingem o bem 
jurídico ou não o expõe a perigo. Em alguns casos, no entanto, o legislador decide 
antecipar a tutela penal, punindo-se atos preparatórios autonomamente. 
COMO ASSIM? Vejam... a associação de pessoas é feita para que crimes sejam 
praticados. Ou seja, nada mais é do que a preparação de delitos futuros. O 
legislador, no entanto, entendeu por bem punir autonomamente (como delito 
autônomo) essa preparação. É o que ocorre com a ORCRIM, com a associação 
criminosa etc. Crime obstáculo, em miúdos, nada mais é do que a punição 
excepcional de atos preparatórios. 
O QUE É CONSUMAÇÃO MATERIAL? Muito cuidado! “Consumação material” é 
o nome que Zaffaroni deu ao exaurimento. Logo, a “consumação material” não é 
consumação! 
EXAURIMENTO FAZ PARTE DO CAMINHO DO CRIME? Malgrado existam 
autores que defendam que sim, é amplamente majoritária a ideia de que o 
exaurimento não compõe o iter criminis. O caminho do crime, nessa perspectiva, 
esgotar-se-ia com a consumação, sem ser composto pelo resultado que se exauriu. 
Norma penal em branco homogênea homovitelina➔ É norma penal em 
branco homogênea (lei complementa lei) e homovitelina (pois o complemento 
“organização criminosa” está na mesma lei do preceito que precisa ser 
complementado). 
§1º - Figura típica de OBSTRUIR A INVESTIGAÇÃO➔ No §1º, a lei previu o crime 
de obstrução de investigação de organização criminosa ou das infrações penais 
correlatas. 
 
 
 
17 
Este delito se aplica para os casos em que se busca de alguma forma dificultar ou 
até mesmo impedir o avanço ou o .êxito das investigações dos crimes relacionados. Foi 
muito elogiado após a promulgação da lei pois pela primeira vez uma lei brasileira 
previu um tipo penal especifico para obstrução da investigação. Verbis: 
Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente 
ou por interposta pessoa, organização criminosa: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo 
das penas correspondentes às demais infrações penais 
praticadas. 
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer 
forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva 
organização criminosa. 
MUITO CUIDADO EM PROVAS OBJETIVAS! Reparem que o dispositivo cita 
apenas INVESTIGAÇÃO. Logo, se em uma prova de primeira fase esse parágrafo for 
cobrado e citar INVESTIGAÇÃO OU PROCESSO, acho prudente que assinalemos 
incorreto. 
E EM PROVAS SUBJETIVAS? Há duas correntes. Vejamos: 
1. Uma primeira corrente, encabeçada por Nucci, Sanches e 
Masson, entende que impedir ou embaraçar processo judicial 
também configuraria o delito. Para eles, se se pune o menos 
(investigação), punir-se-ia o mais (processo). Não haveria 
analogia in malam partem, mas sim interpretação extensiva, 
em que se amplia o significado da (s) palavra (s) para que ela 
coincida com o espírito da lei; 
2. Busato e Bitencourt, por outro lado, entendem que a infeliz 
omissão legislativa acerca do impedimento/embaraço do 
processo impediria a punição daquele que pratica tais 
condutas após o recebimento da denúncia (início do processo 
judicial). Caso contrário, para eles, haveria analogia in malam 
partem; 
CUIDADO: MP X DEFENSORIA: A sugestão que eu dou é que, a depender da 
prova, se adote uma ou outra posição. Em primeiras fases, repito, marcaria como 
correta a opção que trouxesse a literalidade da lei (apenas investigação). Em provas 
subjetivas, no entanto, acho prudente que se consagre os dois posicionamentos, 
defendendo um ou outro a depender do cargo que se almeja. 
 
 
18 
ANALOGIA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA 
Existe uma lacuna normativa, logo, 
para preenchê-la, utiliza-se a norma 
que regula um caso semelhante. Aqui 
HÁ AUSÊNCIA DE NORMA E, 
PORTANTO, LACUNA. 
A lei prevê o caso, mas com 
insuficiência verbal, de forma que se 
estende o significado de uma palavra 
para que ele alcance o espírito da 
norma. Aqui HÁ INSUFICIÊNCIA DE 
NORMA E NÃO LACUNA. 
Circunstâncias dos §§ 2º, 3º e 4º➔ Os parágrafos 2º e 4º trazem circunstâncias 
que serão levadas em consideração na terceira etapa do método trifásico de 
aplicação da sanção, oportunidade em que o juiz poderá elevar a reprimenda penal 
do agente por meio da exasperação da pena restante das duas fases anteriores, 
sendo as frações gravitantes em 1/6 (um sexto), 2/3 (dois terços) ou 1/2 (metade), 
conforme o caso. 
O §3º, por sua vez, consagra uma agravante (considerada na 2º fase do critério 
trifásico) àqueles que detêm poder de mando na estrutura da ORCRIM. 
Infelizmente, é comum que apareçam questões de provas objetivas que 
cobrem esses percentuais. Calma... não é difícil diferenciá-los: 
• AUMENTO DE ATÉ METADE (§ 2º): quando a atuação da 
ORCRIM envolver arma de fogo; 
• AUMENTO DE 1/6 A 2/3 (§4º): em todas as outras hipóteses; 
• AGRAVANTE (§3º): àqueles que detêm poder de mando; 
TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO. VAI CAIR! ➔ Aproveitando que a agravante 
do §3º alude a “poder de mando”, vou inserir abaixo uma tabela sobre o “domínio 
do fato”. Notem que “domínio do fato” é um gênero, que se divide em espécies de 
domínio. Não me estenderei por aqui, porque postarei uma aula específica sobre o 
assunto. De qualquer maneira, o quadro abaixo sintetiza o tema de maneira 
suficiente para qualquer fase dos certames. 
Vinícius Marçal: as atividades da organização criminosa devem ser marcadas pela 
divisão de tarefas, característica fundamental da teoria do domínio funcional do fato. 
Por meio desta, basta que haja reunião dos autores, cada um com o domínio das funções 
que lhes foram previamente atribuídas para a prática do delito, sendo desnecessário que 
todos venham a executar propriamente os delitos para os quais a organização criminosa 
foi formada. 
 
19 
Repito: tratarei desse tema em aula, mas tenha em mente que, aqui, o domínio 
que se exige é aquele que advém da ideia de divisão de tarefas: CADA AUTOR DETÉM 
O DOMÍNIO SOBRE A SUA PARCELA DE PATICIPAÇÃO. 
 
 
 
 
20 
CASO PRÁTICO PARA TREINO: “A” contrata “B” para matar “C”, amante de sua 
esposa. “A” é autor, pois, para a teoria do domínio do fato, o mandante é autor 
(ainda que não pratique a conduta típica). Isso está certo? 
 
NÃO! ESTÁ ERRADO! Meus amigos, sugiro que leiam com cuidado as 
observações abaixo. O tema é muito cobrado em provas e causa enorme confusão. 
Fiz essa pergunta em um post no Instagram e mais de 85% erraram. 
A título de contextualização: no plano da autoria, a expressão “domínio do 
fato” foi consagrada por Lobe (1933), ganhou força com Welzel (em 1939) e teve seus 
contornos concretamente delineados por Roxin (1963). A teoria não visa dizer quem 
será ou não punido, mas sim delimitar QUEM É AUTOR E QUEM É PARTÍCIPE. 
Há três formas de se dominar o fato: 1. domínio da ação, 2. domínio funcional 
do fato e 3. domínio da vontade. O que se quer dizer é o seguinte: o fato pode ser 
dominado com base na AÇÃO (caso daquele que realiza o verbo-núcleo do tipo – 
ex.: quem aperta o gatilho e mata alguém); com base num DOMÍNIO FUNCIONAL(caso em que há mais de uma pessoa, cada uma responsável por uma tarefa – ex.: 
um ameaça e o outro subtrai coisa alheia móvel) e com base na VONTADE. É essa 
terceira ramificação que nos interessa e é nela que eu focarei. É possível se dizer, a 
grosso modo, que domínio do fato é gênero que se subdivide nas três espécies 
citadas. 
A questão que eu propus a vocês é respondida com fulcro nesse 3º domínio: 
o domínio da vontade, que se manifesta nos casos em que se utiliza um terceiro 
como mero instrumento. Isso pode ocorrer quando o autor se vale de coação para 
que alguém cometa o delito ou quando ele induz o terceiro (o instrumento!) a erro. 
Nesses dois casos, diz-se que AUTOR será o HOMEM DE TRÁS – que coagiu ou 
induziu a erro. Mas o domínio da vontade também se manifesta na órbita de um 
APARATO ORGANIZADO DE PODER, que são os casos de organizações verticalmente 
estruturadas (como grupos terroristas e governos totalitários), em que o sujeito que 
está no comando responde como AUTOR MEDIATO, desde que: 1. Tenha proferido 
a ordem; 2. A ordem seja dissociada do direito e 3. Os executores sejam fungíveis 
(substituíveis). 
Resumindo, há três domínios: DA AÇÃO (AUTOR IMEDIATO), FUNCIONAL DO 
FATO (COAUTORIA) E DA VONTADE (AUTORIA MEDIATA). Eu lhes pergunto: no caso 
concreto da questão que eu propus a vocês, o marido detinha em suas mãos algum 
desses domínios? Ele praticou o verbo? Não, logo, não domina a ação. Havia divisão 
de tarefas? Não, afinal, era “B” quem faria tudo, logo, não há domínio funcional. 
Utilizou-se de um instrumento que foi coagido, induzido a erro ou utilizou-se de um 
aparato de poder? Não, logo, não existe o domínio da vontade. 
 
21 
EMPRESA CRIMINOSA? Reparem, portanto, que nem sempre o autor mediato 
se utiliza de uma pessoa inimputável ou induz alguém a erro. Isso porque, como 
dito, ele pode ser o homem que comanda um aparato verticalizado e estruturado 
de poder. E, além disso, de acordo com Luís Greco, Roxin admite que haja um “autor 
por trás do autor”, isto é, utilização de um instrumento plenamente responsável 
(imputável e consciente) nos casos das chamadas “empresas criminosas”. 
Nesse caso, meus amigos, “A” é mero partícipe, haja vista que apenas 
instigou/induziu o matador, mediante paga, a matar “B”. Reparem, nesse sentido, 
que o marido era MANDANTE, mas não autor, posto que não dominava o fato em 
nenhuma de suas três vertentes. Fonte (Luís Greco e Alaor Leite. “O que é e o que 
não é a teoria do domínio do fato”). 
 
Art. 62, I, do CP: BIS IN IDEM? ➔ Muito cuidado com isso: uma vez aplicada a 
agravante do art. 2º, §3º, da Lei de ORCRIM, afastar-se-á a agravante prevista no art. 
62, I, do CP, sob pena de indesejável bis in idem. 
Agravante da “transnacionalidade” - art. 2º, §4º, V➔ Somente se aplica no caso 
de prática de infrações penais com penas máximas superiores a quatro anos. No 
caso de caracterização do crime pelo caráter transnacional, não se aplica a 
agravante do inciso V, porque a transnacionalidade constitui elementar do crime. 
CONSEGUIRAM VISUALIZAR ISSO? O delito de ORCRIM se configura quando: 
• As infrações possuem pena máxima superior a 4 anos ou 
• Independentemente da pena, caso as infrações tenham 
caráter transnacional; 
Nesse segundo caso, a transnacionalidade funcionou como elementar, logo, 
não poderá ser utilizada, mais uma vez, como agravante. 
CRIME DE FUSÃO, ACESSÓRIO OU PARASITÁRIO➔ São os delitos que 
pressupõe a existência de um crime anterior. Notem, nessa perspectiva, que a 
conduta prevista no §1º do art. 2º ilustra uma infração parasitária/acessória/fusão, 
uma vez que deve haver uma organização criminosa para que a obstrução da 
investigação se configure. 
 
 
22 
CAPÍTULO II – DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DA PROVA 
A partir daqui, veremos os meios de obtenção de prova. O assunto desmorona 
em concursos (sobretudo MP e polícias), em todas as fases. 
Se tivéssemos uma prova amanhã e eu fosse sugerir algo da lei de ORCRIM 
para ser lido, sugeriria justamente essa parte investigativa e de obtenção de provas. 
ARTIGO 3º 
Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo 
de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova: 
I - colaboração premiada; 
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos; 
III - ação controlada; 
IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais 
constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações 
eleitorais ou comerciais; 
V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da 
legislação específica; 
VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da 
legislação específica; 
VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11; 
VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e 
municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou 
da instrução criminal. 
§ 1º Havendo necessidade justificada de manter sigilo sobre a capacidade 
investigatória, poderá ser dispensada licitação para contratação de serviços 
técnicos especializados, aquisição ou locação de equipamentos destinados à 
polícia judiciária para o rastreamento e obtenção de provas previstas nos 
incisos II e V. (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015) 
§ 2º No caso do § 1º , fica dispensada a publicação de que trata o parágrafo único 
do art. 61 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, devendo ser comunicado o 
órgão de controle interno da realização da contratação. (Incluído pela Lei nº 
13.097, de 2015) 
 
23 
A Lei nº 12.850/13 disciplinou diretamente em seu bojo normativo os meios 
de obtenção de prova, como é o caso da colaboração premiada (art. 4º), da ação 
controlada (art. 8º), da infiltração de agentes (art. 10) e do acesso a registros de 
ligações telefônicas e telemáticas a dados cadastrais constantes de bancos etc. 
Reparem que a captação ambiental já era prevista como técnica especial de 
investigação ainda na antiga Lei nº 9.034/95 (art. 2º, IV), assim como a ação 
controlada (art. 2º, II), a infiltração de agentes (art. 2º, V) e o acesso a dados, 
documentos e informações fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais (art. 2º, III). 
Porquês de novas formas de investigação➔ Vocês se lembram da distinção 
entre crimes de rua/colarinho azul e white colar crime/colarinho branco? Os 
primeiros são aqueles praticados, via de regra, sem engenhosidade, por pessoas 
menos favorecidas e que são objeto de constância controle formal e informal 
(Polícias Militar e Civil, Ministério Público, guardas etc.). 
Aliás, a expressão colarinho azul alude à cor dos macacões utilizados por 
operários estadunidenses na primeira metade do século XX. Enfim, esses chamados 
crimes de rua não são praticados por grandes organizações criminosas. Eles são 
executados de maneira amadora e sem artimanhas. Os meios convencionais de 
investigação, nesse sentido, são suficientes para a persecução penal – extrajudicial 
e judicial. 
Os crimes de colarinho branco, por outro lado, muitas vezes praticados por 
organizações estruturadas e com alto nível de engenhosidade e profissionalismo, 
não podem ser enfrentados por meios tradicionais de investigação (requisições, 
buscas, testemunhas etc.). Chega a ser ingênuo pensar o contrário. 
Tanto é assim que, nessa perspectiva, surgem as chamadas CIFRAS 
DOURADAS, que indicam a diferença entre a criminalidade organizada REAL e 
aquela que é, de fato, conhecida e enfrentada pelo Estado. 
Cifras ➔ É um pouco constrangedor, para um daltônico como eu, tratar de 
tantas cores. Mas, enfim... trago abaixo outras “cifras” da criminalidade: 
CIFRAS 
NEGRAS 
CIFRAS 
DOURADAS 
CIFRAS 
CINZAS 
CIFRAS 
AMARELAS 
CIFRAS 
VERDES 
CIFRAS 
ROSAS 
Engloba todos 
os crimes que 
não chegam ao 
conhecimento 
policial.Crimes de 
colarinho 
branco que não 
chegam ao 
conhecimento 
das autoridades. 
Delitos que 
chegam ao 
conheci- 
mento da 
polícia, mas 
não chegam à 
fase judicial. 
Crimes praticados por 
funcionários públicos 
e que não chegam ao 
conhecimento das 
autoridades por 
receio da vítima em 
sofrer represálias. 
Alude aos 
crimes 
ambientais. 
São os crimes 
homotransfó- 
bicos que não 
chegam ao 
conhecimento 
do Estado. 
 
24 
Dispensa de licitação no § 1º➔ Prevê mais um caso de dispensabilidade de 
licitação, além dos casos previstos na Lei nº 8.666/93, sendo que o procedimento 
licitatório poderá ser dispensado quando a necessidade de manutenção do sigilo o 
exigir, especificamente quanto à aquisição de materiais e demais equipamentos 
técnicos servíveis para a realização dos procedimentos de captação ambiental e 
interceptação telefônica. 
A partir daqui, trataremos dos principais meios de prova. 
SEÇÃO I – DA COLABORAÇÃO PREMIADA 
ARTIGO 3º-A 
Art. 3º-A. O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico processual e 
meio de obtenção de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos. 
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
Dupla natureza jurídica➔ A colaboração premiada é, a um só tempo, um 
negócio jurídico processual e um meio de obtenção de prova. 
CUIDADO, MAIS UMA VEZ! Notem que esse dispositivo foi alterado pela Lei 
13.964/19 (Pacote Anticrime) – acho bem provável que ele seja cobrado em provas 
objetivas. 
Direito Penal Premial➔ A colaboração premiada é uma das manifestações 
do Direito Penal Premial, instituto que consagra a ideia de que aquele que colabora 
e/ou tem bom comportamento recebe um prêmio, que, no âmbito da Lei 12850/13 
pode variar: diminuição de pena, perdão judicial, progressão de regime, não 
oferecimento de denúncia... 
Espécies de colaboração premiada➔ De acordo com Vladimir Aras, a 
colaboração premiada é um gênero que se subdivide em 4 espécies: 
1. DELAÇÃO PREMIADA: 
2. COLABORAÇÃO PARA LIBERTAÇÃO: 
3. COLABORAÇÃO PARA RECUPERAÇÃO DE ATIVOS: 
4. COLABORAÇÃO PREVENTIVA: 
Percebam, portanto, que, a despeito de corriqueiramente se considerar 
“delação” e “colaboração” como expressões sinônimas, trata-se de equívoco. Ocorre 
a delação premiada quando, a fim de colaborar, o sujeito expõe as outras pessoas 
implicadas no delito e seu papel na trama. Trata-se do famigerado AGENTE 
REVELADOR. 
 
25 
Na colaboração para libertação, indica-se o local em que a vítima 
sequestrada/refém foi mantida em cativeiro. Na colaboração para recuperação de 
ativos, fornece-se elementos para localização do produto ou proveito do crimes e 
também de bens que podem ser submetidos a lavagem de dinheiro. Por fim, na 
colaboração preventiva aquele que colabora traz à autoridade dados que impedem 
um crime ou a sua permanência. 
MUITO CUIDADO! Em qualquer um desses casos, meras conjecturas e 
declarações vagas não são suficientes para que se entregue ao suposto colaborador 
o prêmio. Conforme ensina Cleber Masson, as informações prestadas devem ser 
minuciosas e precisas. 
 
26 
Argumentos favoráveis e contrários à colaboração premiada ➔ Amigos, 
resumi alguns argumentos favoráveis e contrários à colaboração premiada na 
tabela abaixo. Tema importante, sobretudo para fases subjetivas. 
 
 
 
27 
ARTIGO 3º-B 
Art. 3º-B. O recebimento da proposta para formalização de acordo de 
colaboração demarca o início das negociações e constitui também marco de 
confidencialidade, configurando violação de sigilo e quebra da confiança e da 
boa-fé a divulgação de tais tratativas iniciais ou de documento que as 
formalize, até o levantamento de sigilo por decisão judicial. (Incluído pela Lei 
nº 13.964, de 2019) 
§ 1º A proposta de acordo de colaboração premiada poderá ser sumariamente 
indeferida, com a devida justificativa, cientificando-se o interessado. (Incluído 
pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 2º Caso não haja indeferimento sumário, as partes deverão firmar Termo de 
Confidencialidade para prosseguimento das tratativas, o que vinculará os 
órgãos envolvidos na negociação e impedirá o indeferimento posterior sem 
justa causa. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 3º O recebimento de proposta de colaboração para análise ou o Termo de 
Confidencialidade não implica, por si só, a suspensão da investigação, 
ressalvado acordo em contrário quanto à propositura de medidas processuais 
penais cautelares e assecuratórias, bem como medidas processuais cíveis 
admitidas pela legislação processual civil em vigor. (Incluído pela Lei nº 13.964, 
de 2019) 
§ 4º O acordo de colaboração premiada poderá ser precedido de instrução, 
quando houver necessidade de identificação ou complementação de seu 
objeto, dos fatos narrados, sua definição jurídica, relevância, utilidade e 
interesse público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 5º Os termos de recebimento de proposta de colaboração e de 
confidencialidade serão elaborados pelo celebrante e assinados por ele, pelo 
colaborador e pelo advogado ou defensor público com poderes específicos. 
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 6º Na hipótese de não ser celebrado o acordo por iniciativa do celebrante, 
esse não poderá se valer de nenhuma das informações ou provas 
apresentadas pelo colaborador, de boa-fé, para qualquer outra 
finalidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
 
 
 
 
28 
Capacidade postulatória do Delegado de Polícia➔ Importante salientar que 
havia grande discussão se o Delegado de Polícia poderia celebrar acordo de colação 
premiada uma vez sendo o Ministério público titular da ação penal sendo ajuizada 
uma ação direta de inconstitucionalidade contestando tal previsão. 
O Plenário do Supremo Tribunal Federal na ADI 5508 considerou 
constitucional a possibilidade de delegados de polícia realizarem acordos de 
colaboração premiada na fase do inquérito policial. 
Votaram os ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e 
Carmen Lúcia (presidente), todos acompanhando o entendimento do relator, 
ministro Marco Aurélio. Segundo ele, a formulação de proposta de colaboração 
premiada pela autoridade policial como meio de obtenção de prova não interfere 
na atribuição constitucional do Ministério Público de ser titular da ação penal e de 
decidir sobre o oferecimento da denúncia. 
Os ministros destacaram que, mesmo que o delegado de polícia proponha ao 
colaborador a redução da pena ou o perdão judicial, a concretização desses 
benefícios ocorre apenas judicialmente, pois se trata de pronunciamentos 
privativos do Poder Judiciário. 
De acordo com a decisão, embora não seja obrigatória a presença do 
Ministério Público em todas as fases da elaboração dos acordos entre a autoridade 
policial e o colaborador, o MP deve obrigatoriamente opinar. No entanto, cabe 
exclusivamente ao juiz a decisão homologar ou não o acordo, depois de avaliar a 
proposta e efetuar o controle das cláusulas eventualmente desproporcionais, 
abusivas ou ilegais. 
Após o ministro Marco Aurélio ressaltar seu entendimento no sentido da 
impossibilidade de interferência da autoridade policial na atribuição exclusiva do 
Ministério Público de oferecer denúncia, os ministros Alexandre de Moraes e 
Roberto Barroso reajustaram os votos para acompanhar integralmente o relator. 
Os ministros Edson Fachin, Rosa Weber e Luiz Fux divergiram parcialmente. Eles 
entendem que, embora a autoridade policial possa formular acordo de colaboração, 
a manifestação do Ministério Público sobre os termos da avença deve ser definitiva 
e vinculante. 
Chamamento de corréu➔ Há quem considere a expressão chamamento de 
corréu como um sinônimo de colaboração premiada. Outros, por outro lado, 
entendem que a chamada de corréu é o ato pelo qual um comparsa denuncia 
antigos parceiros sem que, para isso, receba um prêmio. É o que Renato Brasileiro 
chama de DELAÇÃO NÃO PREMIADA. 
 
 
29 
O queé a CROWN WITNESS? ➔ São as famigeradas testemunhas da coroa, 
em que o imputado perde essa condição para adquirir outro status jurídico, o de 
testemunha em prol do interesse público – colaborador. Há, no entanto, quem diga 
que os agentes infiltrados também seriam testemunhas da coroa. 
Teoria do QUEEN FOR A DAY. O que é? ➔ De acordo com o art. 4º, par. 10º da 
Lei 12.850/13, as partes podem se retratar, caso em que as provas 
autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas 
exclusivamente em seu desfavor. Disso surge a ideia do queen for a day, haja vista 
que aquele que colaborou, mas se retratou, estará imune de elementos 
autoincriminatórios que foram produzidos. 
INTERESSANTE SOBRETUDO PARA PROVAS DE MP E DELTA: nesses casos, as 
provas produzidas com as declarações daquele que se retratou não poderão ser 
utilizadas contra ele mesmo, mas poderão ser utilizadas em desfavor de uma 3ª 
pessoa. 
É importante salientar que a colaboração premiada não foi instituída no 
ordenamento brasileiro com advento da lei 12.850/13. O instituto já existia em 
outras leis extravagantes. 
a) Lei nº 8.072/90 (art. 8º); 
b) Código Penal (art. 159, §4º); 
c) Lei nº 9.034/95 – antiga lei de organização criminosa (art. 
6º, caput); 
d) Lei nº 9.080/95, a qual inseriu formas de colaboração 
premiada na Lei nº 7.492/86 dos crimes contra o sistema 
financeiro nacional (art. 25, §2º) e na Lei nº 8.137/90 dos 
crimes contra o sistema tributário nacional, contra a ordem 
econômica e contra as relações de consumo (art. 16, 
Parágrafo Único); 
e) Lei nº 9.613/98 - lavagem de capitais (art. 1º, §5º), com 
redação dada pela Lei nº 12.683/12; 
f) Lei nº 11.343/06 (art. 41, caput) – Lei de Drogas; 
g) Lei nº 12.529/11 (art. 86 e art. 87), ao tratar do acordo de 
leniência para pessoas jurídicas; 
h) Lei nº 12.846/13 – Lei anticorrupção - (art. 16 e 17), ao 
prever o acordo de leniência com reflexos eminentemente 
administrativos em decorrência da prática de crimes contra a 
 
30 
administração pública e os relacionados a licitações e 
contratos administrativos da Lei nº 8.666/93. 
i) Lei nº 9.807/99, ao reger o sistema de proteção às 
testemunhas. 
ARTIGO 3º-C e ARTIGO 4º 
Art. 3º-C. A proposta de colaboração premiada deve estar instruída com 
procuração do interessado com poderes específicos para iniciar o 
procedimento de colaboração e suas tratativas, ou firmada pessoalmente pela 
parte que pretende a colaboração e seu advogado ou defensor público. 
(Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 1º Nenhuma tratativa sobre colaboração premiada deve ser realizada 
sem a presença de advogado constituído ou defensor público. (Incluído 
pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 2º Em caso de eventual conflito de interesses, ou de colaborador 
hipossuficiente, o celebrante deverá solicitar a presença de outro advogado 
ou a participação de defensor público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 3º No acordo de colaboração premiada, o colaborador deve narrar todos os 
fatos ilícitos para os quais concorreu e que tenham relação direta com os 
fatos investigados. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 4º Incumbe à defesa instruir a proposta de colaboração e os anexos com os 
fatos adequadamente descritos, com todas as suas circunstâncias, indicando 
as provas e os elementos de corroboração. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 
2019) 
Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, 
reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la 
por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e 
voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que 
dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: 
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa 
e das infrações penais por eles praticadas; 
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização 
criminosa; 
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da 
organização criminosa; 
 
31 
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações 
penais praticadas pela organização criminosa; 
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada. 
§ 1º Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a 
personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a 
repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração. 
§ 2º Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, 
a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com 
a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz 
pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício 
não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 
28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo 
Penal). 
§ 3º O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao 
colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por 
igual período, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, 
suspendendo-se o respectivo prazo prescricional. 
Inicialmente podem ser oferecidas ao pretenso colaborador as seguintes 
recompensas: 
a) Perdão judicial; 
b) Redução em até 2/3 da pena privativa de liberdade; 
c) Substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direito. 
Existem outros benefícios no decorrer do procedimento; 
ACORDO DE IMUNIDADE OU ACORDO DE NÃO DENUNCIAR: Talvez esse seja 
o maior benefício existente na regência do procedimento de colaboração premiada, 
pois imuniza-se o agente de ser objeto do jus puniendi. O art. 4º, §4º, da Lei nº 
12.850/13 dispõe que o não oferecimento da denúncia depende de mais dois 
requisitos: 
a) líder da organização criminosa e 
b) for o primeiro a prestar a efeva colaboração. 
CUIDADO – EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE! Reparem que 
o “prêmio” previsto no § 4º é mais uma exceção ao princípio da obrigatoriedade da 
ação penal. 
 
32 
ARGUMENTO QUE SÓ VOCÊS CONHECERÃO: o princípio da obrigatoriedade 
tem recebido uma releitura. Isto é, não se entende mais que o titular da ação penal 
tem a obrigação de denunciar. O parquet tem a obrigação de AGIR, ainda que não o 
faça por meio de oferecimento da denúncia. 
a) REDUÇÃO DA PENA: até a metade ou a progressão de regime, 
se a colaboração se der após a sentença 
Pois bem, feitas as propostas pelos dois lados, delegado de polícia (ou ministério 
público) e investigado (ou acusado), conforme o caso, o termo será remetido ao juiz 
competente para deliberar sobre a homologação (art. 4º, §7º). Registre-se que caso haja 
mais de um juízo criminal na Comarca, as peças deverão ser encaminhadas para o 
protocolo de distribuição, sendo que, quanto a isso, haverá a necessidade de se 
observar, cuidadosamente, o sigilo determinado pela Lei. 
Percebe-se que o legislador foi cuidadoso em afastar o juiz da análise do 
mérito da investigação, limitando-o a versar somente sobre os pressupostos legais 
do acordo avençado, em especial no que diz respeito à voluntariedade da tratava, 
podendo inclusive convocar o colaborador para ouvi-lo sigilosamente, porém 
sempre na presença de seu defensor. 
§ 4º Nas mesmas hipóteses do caput deste artigo, o Ministério Público poderá 
deixar de oferecer denúncia se a proposta de acordo de colaboração referir-
se a infração de cuja existência não tenha prévio conhecimento e o 
colaborador: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 
I - não for o líder da organização criminosa; 
II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo. 
§ 4º-A. Considera-se existente o conhecimento prévio da infração quando o 
Ministério Público ou a autoridade policial competente tenha instaurado 
inquérito ou procedimento investigatório paraapuração dos fatos 
apresentados pelo colaborador. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 5º Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até 
a metade ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os 
requisitos objetivos. 
§ 6º O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a 
formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de 
polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, 
ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e 
seu defensor. 
 
33 
§ 7º Realizado o acordo na forma do § 6º deste artigo, serão remetidos ao juiz, 
para análise, o respectivo termo, as declarações do colaborador e cópia da 
investigação, devendo o juiz ouvir sigilosamente o colaborador, acompanhado 
de seu defensor, oportunidade em que analisará os seguintes aspectos na 
homologação: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 
I - regularidade e legalidade; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
II - adequação dos benefícios pactuados àqueles previstos no caput e nos §§ 
4º e 5º deste artigo, sendo nulas as cláusulas que violem o critério de definição 
do regime inicial de cumprimento de pena do art. 33 do Decreto-Lei nº 2.848, 
de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), as regras de cada um dos regimes 
previstos no Código Penal e na Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de 
Execução Penal) e os requisitos de progressão de regime não abrangidos pelo 
§ 5º deste artigo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
III - adequação dos resultados da colaboração aos resultados mínimos 
exigidos nos incisos I, II, III, IV e V do caput deste artigo; (Incluído pela Lei nº 
13.964, de 2019) 
IV - voluntariedade da manifestação de vontade, especialmente nos casos em 
que o colaborador está ou esteve sob efeito de medidas cautelares. (Incluído 
pela Lei nº 13.964, de 2019) 
O juiz deve avaliar entre outros o “RELEVO” da colaboração, ou seja, 
REgularidade, LEgalidade e VOluntariedade. 
RE – regularidade; 
LE – legalidade; 
VO – voluntariedade. 
§ 7º-A O juiz ou o tribunal deve proceder à análise fundamentada do mérito 
da denúncia, do perdão judicial e das primeiras etapas de aplicação da pena, 
nos termos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) 
e do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), 
antes de conceder os benefícios pactuados, exceto quando o acordo prever o 
não oferecimento da denúncia na forma dos §§ 4º e 4º-A deste artigo ou já 
tiver sido proferida sentença. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 7º-B. São nulas de pleno direito as previsões de renúncia ao direito de 
impugnar a decisão homologatória. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 8º O juiz poderá recusar a homologação da proposta que não atender aos 
requisitos legais, devolvendo-a às partes para as adequações 
necessárias. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 
 
34 
§ 9º Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre 
acompanhado pelo seu defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério 
Público ou pelo delegado de polícia responsável pelas investigações. 
§ 10. As partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas 
autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas 
exclusivamente em seu desfavor. 
§ 10-A Em todas as fases do processo, deve-se garantir ao réu delatado a 
oportunidade de manifestar-se após o decurso do prazo concedido ao réu que 
o delatou. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 11. A sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia. 
§ 12. Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o 
colaborador poderá ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou por 
iniciativa da autoridade judicial. 
§ 13. O registro das tratativas e dos atos de colaboração deverá ser feito pelos 
meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica 
similar, inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das 
informações, garantindo-se a disponibilização de cópia do material ao 
colaborador. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 14. Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de 
seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de 
dizer a verdade. 
§ 15. Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, 
o colaborador deverá estar assistido por defensor. 
§ 16. Nenhuma das seguintes medidas será decretada ou proferida com 
fundamento apenas nas declarações do colaborador: (Redação dada pela 
Lei nº 13.964, de 2019) 
I - medidas cautelares reais ou pessoais; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
II - recebimento de denúncia ou queixa-crime; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 
2019) 
III - sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 17. O acordo homologado poderá ser rescindido em caso de omissão dolosa 
sobre os fatos objeto da colaboração. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 18. O acordo de colaboração premiada pressupõe que o colaborador cesse 
o envolvimento em conduta ilícita relacionada ao objeto da colaboração, sob 
pena de rescisão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019); 
 
 
35 
ARTIGO 5º e ARTIGO 6º 
Art. 5º São direitos do colaborador: 
I - usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica; 
II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais 
preservados; 
III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e 
partícipes; 
IV - participar das audiências sem contato visual com os outros acusados; 
V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser 
fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito; 
VI - cumprir pena ou prisão cautelar em estabelecimento penal diverso dos 
demais corréus ou condenados. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 
Art. 6º O termo de acordo da colaboração premiada deverá ser feito por 
escrito e conter: 
I - o relato da colaboração e seus possíveis resultados; 
II - as condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia; 
III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor; 
IV - as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de 
polícia, do colaborador e de seu defensor; 
V - a especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, 
quando necessário. 
Como forma de incentivar e até mesmo de trazer maior segurança para os 
colaboradores, possibilitando o êxito de investigações complexas e a desarticulação 
de grupos criminosos organizados, o legislador fez constar na Lei 12.850/13 direitos 
que o investigado poderá usufruir, caso queira, durante ou após a celebração do 
acordo de colaboração premiada. 
O art. 5º, I da Lei nº 12.850/13 ao prever que o colaborador poderá usufruir 
das medidas de proteção previstas na legislação especifica, possibilita a utilização 
de todas as formas previstas na Lei de Proteção às Testemunhas, tais como. Verbis: 
 
 
36 
Lei 9.807/99: 
Art. 7o Os programas compreendem, dentre outras, as 
seguintes medidas, aplicáveis isolada ou cumulativamente 
em benefício da pessoa protegida, segundo a gravidade e as 
circunstâncias de cada caso: 
I - segurança na residência, incluindo o controle de 
telecomunicações; 
II - escolta e segurança nos deslocamentos da residência, 
inclusive para fins de trabalho ou para a prestação de 
depoimentos; 
III - transferência de residência ou acomodação provisória em 
local compatível com a proteção; 
IV - preservação da identidade, imagem e dados pessoais; 
V - ajuda financeira mensal para prover as despesas 
necessárias à subsistência individual ou familiar, no caso de a 
pessoa protegida estar impossibilitada de desenvolver 
trabalho regular ou de inexistência de qualquer fonte de 
renda; 
VI - suspensãotemporária das atividades funcionais, sem 
prejuízo dos respectivos vencimentos ou vantagens, quando 
servidor público ou militar; 
VII - apoio e assistência social, médica e psicológica; 
VIII - sigilo em relação aos atos praticados em virtude da 
proteção concedida; 
IX - apoio do órgão executor do programa para o 
cumprimento de obrigações civis e administrativas que 
exijam o comparecimento pessoal. 
Parágrafo único. A ajuda financeira mensal terá um teto 
fixado pelo conselho deliberativo no início de cada exercício 
financeiro. 
 
 
 
37 
Art. 7º O pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, 
contendo apenas informações que não possam identificar o colaborador e o 
seu objeto. 
§ 1º As informações pormenorizadas da colaboração serão dirigidas 
diretamente ao juiz a que recair a distribuição, que decidirá no prazo de 48 
(quarenta e oito) horas. 
§ 2º O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao 
delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações, 
assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos 
elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, 
devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às 
diligências em andamento. 
§ 3º O acordo de colaboração premiada e os depoimentos do colaborador 
serão mantidos em sigilo até o recebimento da denúncia ou da queixa-crime, 
sendo vedado ao magistrado decidir por sua publicidade em qualquer 
hipótese. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 
SEÇÃO II - DA AÇÃO CONTROLADA 
ARTIGO 8º e ARTIGO 9º 
Art. 8º Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou 
administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela 
vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a 
medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e 
obtenção de informações. 
§ 1º O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente 
comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites 
e comunicará ao Ministério Público. 
§ 2º A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter 
informações que possam indicar a operação a ser efetuada. 
§ 3º Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao 
juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir 
o êxito das investigações. 
§ 4º Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação 
controlada. 
Art. 9º Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento 
da intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a 
cooperação das autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou 
destino do investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, 
objeto, instrumento ou proveito do crime. 
 
38 
Meus amigos, esse assunto é absolutamente importante para carreiras 
policiais. Ação controlada é atividade eminentemente investigativa, em que a ação 
policial, será retardada, com a finalidade de se buscar uma maior amplitude na 
coleta de provas ou de elementos de informações. 
Sinônimos ➔ Flagrante retardado, prorrogado, postergado, diferido. 
Tal providência legislava é extrema importância ainda mais se tratando de 
atividades envolvendo organizações criminosas, pois, como se sabe, o art. 301 do 
CPP traz uma obrigação para as autoridades policiais e seus agentes de prender 
quem quer que seja encontrado em flagrante delito, não havendo qualquer ressalva 
no dispositivo ou seja, Sendo assim, caso o policial, presenciando uma atividade 
criminosa não venha a agir para recompor a ordem pública violada ou cessar a 
atividade criminosa, poderia incorrer, em tese, no crime de prevaricação (art. 319 
do CP), além da responsabilidade administrava e civil. 
Trata-se de atividade onde a ação policial, ante a uma atividade criminosa 
presente, será retardada, com a finalidade de se buscar uma maior amplitude na 
coleta de provas ou de elementos de informações, seja com a identificação e prisão 
de um maior número de coautores do fato, seja para a descoberta de outras 
infrações penais correlatas. 
Existem outras leis que tratam da ação controlada, uma delas é a Lei de Drogas 
(11.343/06). ISSO VAI CAIR! Na Lei de Drogas, a ação controlada depende de 
AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. Na lei de ORCRIM, basta comunicação à autoridade 
judicial. 
Outra diferença é que a Lei nº 12.850/13 traz um procedimento bem mais 
criterioso para o desencadeamento de tal operação: 
➔ Comunicação prévia ao juiz competente que, se for o caso, 
estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério 
Público (art. 8º, §1º); 
➔ Comunicação sigilosamente distribuída de forma a não 
conter informações que possam indicar a operação a ser 
efetuada (art. 8º, §2º); 
➔ Determinação de que o acesso aos autos referentes à medida 
será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de 
polícia, como forma de garantir o êxito das investigações (art. 
8º, §3º); 
➔ A elaboração de auto circunstanciado ao término da 
diligência, informando sobre o desfecho da ação controlada 
(art. 8, §4º); 
 
39 
➔ Cooperação das autoridades dos países que figurem como 
provável itinerário ou destino do investigado caso o 
retardamento da intervenção policial ou administrava 
envolva a transposição das fronteiras nacionais. Tal 
procedimento tem o objetivo de reduzir os riscos de fuga e 
extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do 
crime (art. 9º). 
SEÇÃO III - DA INFILTRAÇÃO DE AGENTES 
ARTIGO 10º 
Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, 
representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, 
após manifestação técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso 
de inquérito policial, será precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa 
autorização judicial, que estabelecerá seus limites. 
§ 1º Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente, 
antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. 
§ 2º Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que 
trata o art. 1º e se a prova não puder ser produzida por outros meios 
disponíveis. 
§ 3º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo 
de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade. 
§ 4º Findo o prazo previsto no § 3º, o relatório circunstanciado será 
apresentado ao juiz competente, que imediatamente cientificará o Ministério 
Público. 
§ 5º No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar 
aos seus agentes, e o Ministério Público poderá requisitar, a qualquer tempo, 
relatório da atividade de infiltração. 
A infiltração é mais uma técnica especial de investigação trazida pela Lei de 
Organizações Criminosas. Apesar de ter sido detalhado na Lei nº 12.850/13, não se 
trata de uma novidade no ordenamento jurídico uma vez que encontrava previsão 
na antiga lei de organização criminosas, assim como no art. 53, I da lei 11343/06 (lei 
de drogas). 
Existe doutrina que classifica a infiltração em simples e complexa. A primeira 
seria aquela realizada com a aquiescência da vítima de determinado crime. A 
segunda seria a ocorrida na apuração de organização criminosa, onde o agente, em 
 
40 
hipótese nenhuma, teria a sua identidade revelada. A mesma doutrina alerta para 
a diferença entre penetração e infiltração, consistindo a primeira em adentrar em 
determinado recinto, a fim de colher o máximo de evidências possíveis. 
A lei prenuncia que somente será possível a infiltração se houver pedido em 
forma de representação do delegado de polícia durante o inquérito policial, ou 
mediante requerimento do Ministério Público, mas sempre com a manifestação 
técnica do delegado de polícia, sendo o pedido direcionado ao juiz competente,que 
decidirá em 24 horas. 
O requerimento do Ministério Público ou a representação do delegado de 
polícia para a infiltração de agentes conterão a demonstração da necessidade da 
medida, o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos 
das pessoas investigadas e o local da infiltração. 
Apesar da exigência de detalhamento das informações na petição policial ou 
ministerial, conforme citado acima, a lei se preocupou com o sigilo do pedido, sendo 
que no art. 12 expôs que: “O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de 
forma a não conter informações que possam indicar a operação a ser efetivada ou 
identificar o agente que será infiltrado”. 
Quanto aos requisitos de admissibilidade da medida de infiltração esta 
somente poderá ser admitida se; 
a) houver indícios de existência de organização criminosa, nos termos do art. 
1º da Lei nº 12.850/13; 
b) a prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis (§2º, art. 10) e; 
c) a aceitação do agente de polícia (art. 14, I). 
ARTIGO 10-A, 10-B, 10-C e 10-D 
ARTIGO 11º, ARTIGO 12º e ARTIGO 13º 
Art. 10-A. Será admitida a ação de agentes de polícia infiltrados virtuais, 
obedecidos os requisitos do caput do art. 10, na internet, com o fim de 
investigar os crimes previstos nesta Lei e a eles conexos, praticados por 
organizações criminosas, desde que demonstrada sua necessidade e indicados o 
alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas 
e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que permitam a 
identificação dessas pessoas. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 1º Para efeitos do disposto nesta Lei, consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.964, 
de 2019) 
 
41 
I - dados de conexão: informações referentes a hora, data, início, término, 
duração, endereço de Protocolo de Internet (IP) utilizado e terminal de origem da 
conexão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
II - dados cadastrais: informações referentes a nome e endereço de assinante ou 
de usuário registrado ou autenticado para a conexão a quem endereço de IP, 
identificação de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no momento 
da conexão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 2º Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente, 
antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 3º Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata 
o art. 1º desta Lei e se as provas não puderem ser produzidas por outros meios 
disponíveis. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 4º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de 
eventuais renovações, mediante ordem judicial fundamentada e desde que o 
total não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja comprovada sua 
necessidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 5º Findo o prazo previsto no § 4º deste artigo, o relatório circunstanciado, 
juntamente com todos os atos eletrônicos praticados durante a operação, 
deverão ser registrados, gravados, armazenados e apresentados ao juiz 
competente, que imediatamente cientificará o Ministério Público. (Incluído pela 
Lei nº 13.964, de 2019) 
§ 6º No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos 
seus agentes, e o Ministério Público e o juiz competente poderão requisitar, a 
qualquer tempo, relatório da atividade de infiltração. (Incluído pela Lei nº 13.964, 
de 2019) 
§ 7º É nula a prova obtida sem a observância do disposto neste artigo. (Incluído 
pela Lei nº 13.964, de 2019) 
Art. 10-B. As informações da operação de infiltração serão encaminhadas 
diretamente ao juiz responsável pela autorização da medida, que zelará por seu 
sigilo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso aos autos será 
reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia responsável pela 
operação, com o objetivo de garantir o sigilo das investigações. (Incluído pela Lei 
nº 13.964, de 2019) 
Art. 10-C. Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por 
meio da internet, colher indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos 
no art. 1º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 
Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de observar a estrita 
finalidade da investigação responderá pelos excessos praticados. (Incluído pela 
Lei nº 13.964, de 2019) 
 
42 
Art. 10-D. Concluída a investigação, todos os atos eletrônicos praticados durante 
a operação deverão ser registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao 
juiz e ao Ministério Público, juntamente com relatório circunstanciado. (Incluído 
pela Lei nº 13.964, de 2019) 
Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no caput deste artigo 
serão reunidos em autos apartados e apensados ao processo criminal 
juntamente com o inquérito policial, assegurando-se a preservação da identidade 
do agente policial infiltrado e a intimidade dos envolvidos. (Incluído pela Lei nº 
13.964, de 2019) 
Art. 11. O requerimento do Ministério Público ou a representação do delegado de 
polícia para a infiltração de agentes conterão a demonstração da necessidade da 
medida, o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou 
apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração. 
Parágrafo único. Os órgãos de registro e cadastro público poderão incluir nos 
bancos de dados próprios, mediante procedimento sigiloso e requisição da 
autoridade judicial, as informações necessárias à efetividade da identidade fictícia 
criada, nos casos de infiltração de agentes na internet. (Incluído pela Lei nº 13.964, 
de 2019) 
Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a não 
conter informações que possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar 
o agente que será infiltrado. 
§ 1º As informações quanto à necessidade da operação de infiltração serão 
dirigidas diretamente ao juiz competente, que decidirá no prazo de 24 (vinte e 
quatro) horas, após manifestação do Ministério Público na hipótese de 
representação do delegado de polícia, devendo-se adotar as medidas necessárias 
para o êxito das investigações e a segurança do agente infiltrado. 
§ 2º Os autos contendo as informações da operação de infiltração acompanharão 
a denúncia do Ministério Público, quando serão disponibilizados à defesa, 
assegurando-se a preservação da identidade do agente. 
§ 3º Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a 
operação será sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo 
delegado de polícia, dando-se imediata ciência ao Ministério Público e à 
autoridade judicial. 
Art. 13. O agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade 
com a finalidade da investigação, responderá pelos excessos praticados. 
Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo 
agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa. 
 
 
 
43 
Observância da devida proporcionalidade na atuação do agente infiltrado. 
Doutrina costuma classificar o princípio da proporcionalidade em outros três 
subprincípios, quais sejam: necessidade, adequação e proporcionalidade em 
sentido estrito. Nestor Távora em sua “legislação criminal para concursos” dispõe que 
os princípios deveriam ser observados da seguinte maneira: 
a) Necessidade: consistindo na necessidade de adoção da medida, sendo 
adotada somente se não houver outro meio. 
b) Adequação: consistiria na idoneidade do ato perpetrado para fazer com 
que o agente obtenha maiores elementos de informação sobre a 
empreitada delituosa desenvolvida pea organização criminosa. 
c) Proporcionalidade em sentido estrito: cuida-se da escolha entre várias 
opções igualmente possíveis para cumprir os objetivos da intervenção 
policial