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L E G I S L A Ç Ã O TURMA ESPECÍFICA ORGAN IZ AÇÕE S CRIMINOSAS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 1 SUMÁRIO 1. ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS .................................................................................... 4 1.1. OBSERVAÇÕES INICIAIS ........................................................................................... 4 1.2 LEGISLAÇÃO COMENTADA ....................................................................................... 9 CAPÍTULO I – DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ............................................................... 9 CAPÍTULO II – DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DA PROVA ............ 22 SEÇÃO I – DA COLABORAÇÃO PREMIADA ................................................................... 24 SEÇÃO II - DA AÇÃO CONTROLADA.............................................................................. 37 SEÇÃO III - DA INFILTRAÇÃO DE AGENTES .................................................................. 39 SEÇÃO IV - DO ACESSO A REGISTROS, DADOS CADASTRAIS, DOCUMENTOS E INFORMAÇÕES............................................................................................................... 44 SEÇÃO V - DOS CRIMES OCORRIDOS NA INVESTIGAÇÃO E NA OBTENÇÃO DA PROVA ............................................................................................................................ 45 1.3 QUESTÕES PARA TREINAMENTO ........................................................................... 46 1.4 GABARITO COMENTADO ........................................................................................ 49 https://t.me/cursomege 2 As fantasias têm de ser irreais. Porque no momento, no segundo que consegue o que quer… não quer, não pode querer mais. Para poder continuar a existir, o desejo tem de ter os objetos eternamente ausentes. Vocês não querem “algo”, querem a fantasia desse “algo”. O desejo apoia fantasias desvairadas. Foi essa a ideia de Pascal ao dizer que somos realmente felizes quando sonhamos acordados com a felicidade futura. Daí o ditado: “O melhor da festa é esperar por ela”. Ou: “Cuidado com seus desejos”. Não pelo fato de conseguir o que quer, mas pelo fato de não querer mais depois de conseguir. Então, a lição de Lacan é: Viver de desejos não traz a felicidade. O verdadeiro significado de ser humano é a luta para viver por ideias e ideais. E não medir a vida pelo que obtiveram em termos de desejos, mas pelos momentos de integridade, compaixão, racionalidade e até autossacrifício. Porque no final a única forma de medir o significado de nossas vidas é valorizando a vida dos outros. A vida de David Gale. 3 CONTEXTUALIZAÇÃO Mais uma vez, meus amigos, iniciarei o material com uma breve contextualização (jurídico-histórica). Diferentemente do assunto abordado na primeira rodada (abuso de autoridade), cuja cobrança eu acredito que será mais objetiva, as questões acerca de crime organizado podem ter algum apelo mais teórico – notadamente em discursivas e orais. 4 1. ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 1.1. OBSERVAÇÕES INICIAIS Eu vou lhe fazer uma proposta irrecusável - Vito Corleone. A reunião de pessoas a fim de cometer crimes, numa ou noutra medida, sempre existiu. O surgimento de tais grupos, portanto, não tem data precisa, mas é possível se dizer que as Tríades Chinesas figuram entre as mais antigas organizações do mundo, tendo origem no ano de 1644. O objetivo inicial era restaurar a dinastia Ming, expulsando todos os invasores do império. Outra importante organização asiática é a Yakuza, cujas ramificações existem até hoje. Os grupos mais famosos e glamourizados, no entanto, são os italianos, que tiveram início com o movimento de resistência contra o Rei de Nápoles. Ficou muito conhecido por ter uma estrutura de família, como a “Casa Nostra” de origem siciliana, a “Camorra” napolitana e a “N’drangheta”, da região da Calábria. Tais “famílias” começaram suas atividades criminosas com a prática de extorsão e contrabando, depois de certo tempo, começaram a traficar e lavar dinheiro. Como última demonstração de evolução e visando o bom andamento de suas atividades, a máfia italiana começou a financiar campanhas eleitorais, com objetivo de possuir controle sobre os governantes do país (LIMA, Renato B. Legislação Criminal Especial. 2ª edição. Salvador. Ed. JP, 2014). Aliás, para quem quiser entender melhor a evolução da atuação da máfia, vale a pena assistir à trilogia “Poderoso Chefão”. Durante a obra, vocês perceberão que o grupo, presidido por Vito Andolini/Corleone (The Godfather), é concebido como uma pequena reunião de pessoas que fazia favores em troca da lealdade dos favorecidos e termina como uma grande corporação, com influência social, política e religiosa. Recomendo vivamente. Agora você vem a mim e diz 'Don Corleone, faça justiça', mas você não pede com respeito. Você não oferece sua amizade. Você nem sequer pensar em me chamar de Padrinho. Don Corleone. No Brasil, em que pese não seja fácil identificar quais, de fato, foram as primeiras reuniões de pessoas a fim de cometer delitos, entende-se que a manifestação mais remota de crime organizado é o cangaço – que tem em Virgulino Lampião o seu principal representante. Tais movimentos organizados (não necessariamente com raízes no cangaço) só aumentaram – na horizontal e na vertical, sobretudo por conta da alta lucratividade que lhe é inerente. 5 Dado todo esse contexto histórico sobre o crime (cada vez mais) organizado, as forças internacionais sentiam a obrigação de tomar uma atitude. Com isso, surgiu a Convenção de Palermo (Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado), incorporada ao direito Brasileiro pelo Decreto 5015/2004. Com o intuito de incentivar e promover a cooperação para prevenir e combater de forma eficaz a criminalidade estrutural e estruturante, a norma definiu os conceitos de grupo criminoso organizado, infração grave, grupo estruturado, bens, produto do crime, bloqueio, confisco, entrega vigiada etc. No território brasileiro também não existia uma norma que definisse organização criminosa, pois, segundo a doutrina, dentre eles Nestor Távora (2018, p. 884, LECRIM), a Lei 9.034/95 e suas modificações posteriores não definiam organização criminosa, tampouco tipificavam como delito a conduta de compor aquela organização. Suas disposições se destinavam à disciplina do uso de meios operacionais para prevenção e repressão de ações praticadas por organizações criminosas. O que a Lei 9.034/95 fez, na verdade, foi apenas menção ao termo “organização criminosa”, sem conceituá-lo e, muito menos, tipificá-lo. O conceito veio apenas com a Lei 12.694/12: Art. 2º Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional. A Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional trazia a seguinte definição: “Grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concentradamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves enunciadas na presente convenção, com intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material”. Porém, tal norma internacional encontrou resistência no Brasil, tendo em vista que o fato de um tratado internacional definir o conceito de “organização criminosa” importaria em uma violação aos princípios da legalidade, reserva legal e da taxatividade. 6 TIPO PENAL – NORMATIZAÇÃO. A existência detipo penal pressupõe lei em sentido formal e material. LAVAGEM DE DINHEIRO – LEI Nº 9.613/98 – CRIME ANTECEDENTE. A teor do disposto na Lei nº 9.613/98, há a necessidade de o valor em pecúnia envolvido na lavagem de dinheiro ter decorrido de uma das práticas delituosas nela referidas de modo exaustivo. LAVAGEM DE DINHEIRO – ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA E QUADRILHA. O crime de quadrilha não se confunde com o de organização criminosa, até hoje sem definição na legislação pátria. (STF - HC: 96007 SP, Relator: Min. MARCO AURÉLIO, Data de Julgamento: 12/06/2012, Primeira Turma, Data de Publicação: ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-027 DIVULG 07-02-2013 PUBLIC 08- 02-2013) A ementa acima deixa claro que a falta de uma definição legal de organizações criminosas gerava impunidade, pois, no caso exposto, os acusados foram absolvidos. Isso porque havia a necessidade de existir um crime anterior para a configuração da lavagem de dinheiro, porém, como não existia a definição legal de organização criminosa (e muito menos uma pena) era impossível condenar e aplicar qualquer sanção aos envolvidos. Foi, então, criada a Lei 12.694/12, que versava sobre a formação do juízo colegiado para julgamento dos crimes praticados por organizações criminosas. Contudo, a Lei apresentava um pequeno problema, pois versava pura e simplesmente sobre a definição das organizações criminosas e sobre a formação do juízo colegiado, deixando de fora todo o processo de investigação e produção de provas, fato que determinou a curtíssima vida útil da norma. Outro problema da lei de 2012 era que ela conceituava ORCRIM, mas não a tipificava. Isto é, conceituava-se o que seria um grupo criminoso, mas ele não era considerado um crime por si só. Então, no ano de 2013 foi promulgada a Lei 12.850, que conceituou, tipificou e consagrou meios especiais de investigação sobre grupos criminosos. a) NÚMERO DE AGENTES: Na lei de 2012, configurar-se-ia ORCRIM com (três) ou mais pessoas, já a Lei 12.850/13 afirma que tal crime só se configura com a união estável, pelo menos, QUATRO agentes; b) CRIMES E CONTRAVENÇÕES: a primeira norma falava em vantagem obtida por meio de crimes, mas a segunda fala em infrações penais, ou seja, a ORCRIM pode ter por objeto a prática de CRIME OU CONTRAVENÇÃO (uma vez que a Lei 12.850/13 usa a expressão INFRAÇÃO PENAL, gênero do qual crime e contravenção são espécies); 7 c) 12.850/13 CONCEITUOU E TIPIFICOU: A terceira e talvez mais importante diferença, é que na lei publicada em 2012 as organizações criminosas não constituíam, isoladamente, um delito. A lei conceituou ORCRIM e consagrou um regime diferenciado aos participantes. Porém, na lei de 2013, foi introduzido o crime referente a ORCRIMs, com isso a formação de organização criminosa passou a tipificar um crime por si só. LEI 9.034/95 LEI 12.694/12 LEI 12.850/13 FEZ MENÇÃO AO TERMO “ORCRIM”. MENCIONOU E CONCEITUOU “ORCRIM”. CONCEITUOU E TIPIFICOU. CRIMES PLURISSUBJETIVOS➔ Também chamados de delitos de concurso necessário, plurissubjetivos são aqueles cujas configurações demandam, necessariamente, a presença de mais de um agente. Exemplos: associação criminosa, ORCRIM, associação para o tráfico, bigamia, rixa etc. A doutrina costuma ramificar esse conceito em três espécies distintas... 8 CONCEITOS QUE SERÃO COBRADOS E APENAS VOCÊS ACERTARÃO... 1. CRIMINALIDADE ORGANIZADA X CRIMINALIDADE MASSIFICADA➔ O Professor Paulo César Busato, em sua obra “Comentários à Lei de Organizações Criminosas” (Editora Saraiva), diz o seguinte: Criminalidade de massa compreende assaltos, invasões de apartamentos, furtos, estelionatos, roubos e outros tipos de violência contra os mais fracos e oprimidos. Conclui o autor que, nesse tipo de criminalidade, os prejuízos recaem, notadamente, sobre os mais fracos e oprimidos, o que permite que sejam manipulados por políticas criminais populistas. 2. O QUE É O “MEDO COLETIVO DIFUSO”? ➔ Ainda segundo o Professor Busato, esse crimes que recaem sobre as massas mais fracas e oprimidas geram um MEDO COLETIVO DIFUSO. É justamente esse sentimento que faz com que essas pessoas sejam alvos mais fáceis de políticas criminais populistas e demagogas, que não reduzem, de fato, a criminalidade. O medo coletivo difuso, destarte, advém da criminalidade de massa. 3. O QUE É A “IMPUTAÇÃO RECÍPROCA”? ➔ Na perspectiva do “domínio funcional do fato”, o brilhante Professor Luís Greco ensina: se duas ou mais pessoas, partindo de uma decisão conjunta, contribuem para a realização do delito, eles terão o domínio funcional do fato, que fará de cada qual coautor do fato com um todo... Meus amigos, é isso o que o autor chama de IMPUTAÇÃO RECÍPROCA: os coautores responderão pelo fato como um todo, ainda que cada um só tivesse sido responsável por parte da conduta. 4. CRIME ORGANIZADO POR NATUREZA X CRIME ORGANIZADO POR EXTENSÃO➔ Crime organizado por natureza é o “propriamente dito”, isto é, aquele previsto no art. 2º da lei. Por extensão, por sua vez, alude às infrações penais que serão praticadas pela organização. 5. A LEI 12.694/12 FOI REVOGADA? ➔ Atentem-se ao fato, reitero, de que a Lei 12.850/13 não ab-rogou (revogou completamente) a lei de 2012. Permanecem existentes, válidos e eficazes institutos como a formação do colegiado de juízes. No entanto, quanto ao conceito de ORCRIM, houve a revogação, devendo ser consagrado como parâmetro aquele trazido pela lei mais recente. 9 1.2 LEGISLAÇÃO COMENTADA CAPÍTULO I – DA ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA ARTIGO 1º (VETORES INTERPRETATIVOS) Art. 1º Esta Lei define organização criminosa e dispõe sobre a investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o procedimento criminal a ser aplicado. § 1º Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. § 2º Esta Lei se aplica também: I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo legalmente definidos. (Redação dada pela lei nº 13.260, de 2016) A lei 12.40/13 acabou com a discussão e a confusão conceitual que existia entre “associação criminosa” e “organização criminosa”. Já em seu art. 1º, elenca os requisitos nucleares para se conceituar a ORCRIM. Reparem: • QUATRO OU MAIS! Associação de pelo menos quatro pessoas; • ESTRUTURA ORDENADA, AINDA QUE INFORMAL: Estruturalmente ordenada (ainda que se trate de estrutura hierárquica rudimentar); • DIVISÃO DE TAREFAS: àqueles que compõe a estrutura da ORCRIM são atribuídas tarefas (não é necessária a delimitação de atribuições de forma rígida, por regimento ou estatuto); • VANTAGEM DE QUALQUER NATUREZA: Com a finalidade de obter direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, não se limitando a vantagens pecuniárias; 10 • PENAS SUPERIORES A QUATRO ANOS OU QUE HAJA CARÁTER TRANSACIONAL: Através do cometimento de infrações penais, cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou independente do quantum máximo abstrato, sejam de caráter transnacional. Reparem! SUPERIORES E NÃO “IGUAL OU SUPERIOR”. Meus amigos, esse dispositivo inicial da lei tem que estar afiadíssimo, na ponta da língua. É muito comum que ele seja cobrado em primeiras fases, alterando-se pequenos trechos do preceito primário para nos confundir. Leiam, pelo menos, 19 vezes. CRIMES ECONTRAVENÇÕES➔ O preceito primário diz “infrações”. Logo, é possível – ao menos no plano das ideias - que exista ORCRIM criada para a prática de contravenções penais. Lembrem-se: infração penal é gênero da qual crime e contravenção são espécies. Ocorre que, não existe contravenção penal com pena máxima superior a 4 anos. Justamente por isso, discute-se acerca da possibilidade (ou não) de haver ORCRIM para a contravenção de jogo do bicho. DUAS CORRENTES: • FERNANDO CAPEZ: entende que é possível. Para ele, o art. 1º abrangeria os crimes com penas máximas superiores a 4 anos e TODAS as contravenções. NÃO PREVALECE! • CLEBER MASSON: entende que não, isso porque o preceito primário diz que, para haver a ORCRIM, a infração (CRIME OU CONTRAVENÇÃO) deve ter pena superior a 4 anos. Com dito, não existe contravenção com tal sanção. MAJORITÁRIA! MUITA ATENÇÃO! O examinador é louco para nos pegar com as diferenças entre ORCRIM, associação criminosa, associação para o tráfico etc. A tabela abaixo vai te ajudar com isso. 11 Para sacramentar a diferença dos conceitos de ORCRIM previstos em três diplomas: • CONVENÇÃO DE PALERMO: art. 2º, “a” - "Grupo criminoso organizado" - grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material; • LEI 12.694/12; art. 2º: Para os efeitos desta Lei, considera-se organização criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, 12 estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional; • LEI 12.850/13: Considera-se organização criminosa a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional. NORMA DE EXTENSÃO: o §2º traz uma norma de extensão, que expande a abrangência da lei para aplicação dos institutos previstos como meio de investigação e obtenção de prova nas seguintes situações: • Infrações penais previstas em tratados ou convenções internacionais, quando iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; • Organizações terroristas, sendo os grupos voltados para a prática de qualquer dos atos delituosos previstos na Lei nº 13.260/16 (Lei de Terrorismo). ARTIGO 2º Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. § 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa. § 2º As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização criminosa houver emprego de arma de fogo. § 3º A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução. 13 § 4º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços): I - se há participação de criança ou adolescente; II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição para a prática de infração penal; III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior; IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas independentes; V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização. § 5º Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra organização criminosa, poderá o juiz determinar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração, quando a medida se fizer necessária à investigação ou instrução processual. § 6º A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário público a perda do cargo, função, emprego ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8 (oito) anos subsequentes ao cumprimento da pena. § 7º Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que trata esta Lei, a Corregedoria de Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Público, que designará membro para acompanhar o feito até a sua conclusão. § 8º As lideranças de organizações criminosas armadas ou que tenham armas à disposição deverão iniciar o cumprimento da pena em estabelecimentos penais de segurança máxima. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019); ATENÇÃO! Fiquem atentos a esse dispositivo. Ele foi adicionado pelo pacote anticrime e a chance de ser cobrado em primeira fase é grande (em qualquer cargo). 14 § 9º O condenado expressamente em sentença por integrar organização criminosa ou por crime praticado por meio de organização criminosa não poderá progredir de regime de cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou outros benefícios prisionais se houver elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019). O tipo penal previsto no art. 2º da presente lei tem como finalidade proteger a paz pública. Trata-se de crime formal uma vez que, embora exista a previsão de resultado, ele é prescindível (dispensável) para que a consumação ocorra. Trata-se da tipificação daquilo que mencionamos anteriormente: os crimes de organização criminosa por natureza. Membros não identificados ou inimputáveis ➔ Vale lembrar que é amplamente majoritário que esses membros (inimputáveis e não identificados) entram no cômputo de integrantes para configurar o mínimo de 4 autores da ORCRIM. E EVENTUAIS AGENTES INFILTRADOS, CONTAM? De acordo com Rogério Sanches, com quem concordamos, não. Isso porque o agente infiltrado não atua com animus associativo. Pelo contrário, a sua intenção é justamente desmantelar a ORCRIM. Crimes de tendência interna transcendente➔ Já vimos isso na primeira aula e também em tabela do material de abuso de autoridade. Tecerei alguns comentários apenas a título de lembrete e fixação de conteúdo. Coloca isso na cabeça: crime de tendência interna transcendente é sinônimo de crime de intenção. Trata-se de um gênero que se subdivide em duas espécies: • CRIME FORMAL: também chamado de “resultado cortado”; • CRIME MUTILADO DE DOIS ATOS: também chamado de atrofiado de dois atos; Em ambos os casos, o agente tem uma intenção interna (desculpem a redundância!) que é desnecessária para a consumação do crime. Logo, tanto os formais quanto os mutilados de dois atos consumam-se independentemente da produção do resultado naturalístico (a “intenção interna”). Se essa intenção (o resultado naturalístico) ocorrer, tratar-se-á de mero exaurimento. E é aqui que reside a diferença entre os formais e os de resultado cortado: nos formais, o exaurimento depende de um 3º (família pagar o resgate da 15 extorsão mediante sequestro); no mutilado de dois atos, o exaurimento depende de conduta do próprio agente (falsificação de moeda). Resumi o assunto na tabela abaixo: Os núcleos do caput do art. 2º são; ➔ Promover que significa dar impulso, disseminar. ➔ Constituir que significa criar, instituir, estruturar. ➔ Financiar é sustentar, prover; ➔ Integraré participar, estar dentro; 16 Consumação e tentativa➔ Quanto à consumação, nas três primeiras modalidades (promover, constituir e financiar) o delito é instantâneo, sendo possível a prisão em flagrante somente no momento da prática da ação correlata. Já no que se refere à conduta de integrar, ela é permanente, vindo a conduta e a consumação a se protraírem no tempo, o que torna o agente passível de prisão em flagrante a qualquer momento – entenda-se: enquanto durar a permanência. E A TENTATIVA, É POSSÍVEL? Prevalece que não, pois o crime depende de estabilidade. Logo, ou existe estabilidade e o crime se consuma, ou haverá apenas atos preparatórios impuníveis. CRIME OBSTÁCULO➔ Lembremos que o iter criminis (caminho do crime) é formado por cogitação, preparação, execução e consumação. Via de regra, cogitação e preparação não são fases puníveis, uma vez que não atingem o bem jurídico ou não o expõe a perigo. Em alguns casos, no entanto, o legislador decide antecipar a tutela penal, punindo-se atos preparatórios autonomamente. COMO ASSIM? Vejam... a associação de pessoas é feita para que crimes sejam praticados. Ou seja, nada mais é do que a preparação de delitos futuros. O legislador, no entanto, entendeu por bem punir autonomamente (como delito autônomo) essa preparação. É o que ocorre com a ORCRIM, com a associação criminosa etc. Crime obstáculo, em miúdos, nada mais é do que a punição excepcional de atos preparatórios. O QUE É CONSUMAÇÃO MATERIAL? Muito cuidado! “Consumação material” é o nome que Zaffaroni deu ao exaurimento. Logo, a “consumação material” não é consumação! EXAURIMENTO FAZ PARTE DO CAMINHO DO CRIME? Malgrado existam autores que defendam que sim, é amplamente majoritária a ideia de que o exaurimento não compõe o iter criminis. O caminho do crime, nessa perspectiva, esgotar-se-ia com a consumação, sem ser composto pelo resultado que se exauriu. Norma penal em branco homogênea homovitelina➔ É norma penal em branco homogênea (lei complementa lei) e homovitelina (pois o complemento “organização criminosa” está na mesma lei do preceito que precisa ser complementado). §1º - Figura típica de OBSTRUIR A INVESTIGAÇÃO➔ No §1º, a lei previu o crime de obstrução de investigação de organização criminosa ou das infrações penais correlatas. 17 Este delito se aplica para os casos em que se busca de alguma forma dificultar ou até mesmo impedir o avanço ou o .êxito das investigações dos crimes relacionados. Foi muito elogiado após a promulgação da lei pois pela primeira vez uma lei brasileira previu um tipo penal especifico para obstrução da investigação. Verbis: Art. 2º Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas. § 1º Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa. MUITO CUIDADO EM PROVAS OBJETIVAS! Reparem que o dispositivo cita apenas INVESTIGAÇÃO. Logo, se em uma prova de primeira fase esse parágrafo for cobrado e citar INVESTIGAÇÃO OU PROCESSO, acho prudente que assinalemos incorreto. E EM PROVAS SUBJETIVAS? Há duas correntes. Vejamos: 1. Uma primeira corrente, encabeçada por Nucci, Sanches e Masson, entende que impedir ou embaraçar processo judicial também configuraria o delito. Para eles, se se pune o menos (investigação), punir-se-ia o mais (processo). Não haveria analogia in malam partem, mas sim interpretação extensiva, em que se amplia o significado da (s) palavra (s) para que ela coincida com o espírito da lei; 2. Busato e Bitencourt, por outro lado, entendem que a infeliz omissão legislativa acerca do impedimento/embaraço do processo impediria a punição daquele que pratica tais condutas após o recebimento da denúncia (início do processo judicial). Caso contrário, para eles, haveria analogia in malam partem; CUIDADO: MP X DEFENSORIA: A sugestão que eu dou é que, a depender da prova, se adote uma ou outra posição. Em primeiras fases, repito, marcaria como correta a opção que trouxesse a literalidade da lei (apenas investigação). Em provas subjetivas, no entanto, acho prudente que se consagre os dois posicionamentos, defendendo um ou outro a depender do cargo que se almeja. 18 ANALOGIA INTERPRETAÇÃO EXTENSIVA Existe uma lacuna normativa, logo, para preenchê-la, utiliza-se a norma que regula um caso semelhante. Aqui HÁ AUSÊNCIA DE NORMA E, PORTANTO, LACUNA. A lei prevê o caso, mas com insuficiência verbal, de forma que se estende o significado de uma palavra para que ele alcance o espírito da norma. Aqui HÁ INSUFICIÊNCIA DE NORMA E NÃO LACUNA. Circunstâncias dos §§ 2º, 3º e 4º➔ Os parágrafos 2º e 4º trazem circunstâncias que serão levadas em consideração na terceira etapa do método trifásico de aplicação da sanção, oportunidade em que o juiz poderá elevar a reprimenda penal do agente por meio da exasperação da pena restante das duas fases anteriores, sendo as frações gravitantes em 1/6 (um sexto), 2/3 (dois terços) ou 1/2 (metade), conforme o caso. O §3º, por sua vez, consagra uma agravante (considerada na 2º fase do critério trifásico) àqueles que detêm poder de mando na estrutura da ORCRIM. Infelizmente, é comum que apareçam questões de provas objetivas que cobrem esses percentuais. Calma... não é difícil diferenciá-los: • AUMENTO DE ATÉ METADE (§ 2º): quando a atuação da ORCRIM envolver arma de fogo; • AUMENTO DE 1/6 A 2/3 (§4º): em todas as outras hipóteses; • AGRAVANTE (§3º): àqueles que detêm poder de mando; TEORIA DO DOMÍNIO DO FATO. VAI CAIR! ➔ Aproveitando que a agravante do §3º alude a “poder de mando”, vou inserir abaixo uma tabela sobre o “domínio do fato”. Notem que “domínio do fato” é um gênero, que se divide em espécies de domínio. Não me estenderei por aqui, porque postarei uma aula específica sobre o assunto. De qualquer maneira, o quadro abaixo sintetiza o tema de maneira suficiente para qualquer fase dos certames. Vinícius Marçal: as atividades da organização criminosa devem ser marcadas pela divisão de tarefas, característica fundamental da teoria do domínio funcional do fato. Por meio desta, basta que haja reunião dos autores, cada um com o domínio das funções que lhes foram previamente atribuídas para a prática do delito, sendo desnecessário que todos venham a executar propriamente os delitos para os quais a organização criminosa foi formada. 19 Repito: tratarei desse tema em aula, mas tenha em mente que, aqui, o domínio que se exige é aquele que advém da ideia de divisão de tarefas: CADA AUTOR DETÉM O DOMÍNIO SOBRE A SUA PARCELA DE PATICIPAÇÃO. 20 CASO PRÁTICO PARA TREINO: “A” contrata “B” para matar “C”, amante de sua esposa. “A” é autor, pois, para a teoria do domínio do fato, o mandante é autor (ainda que não pratique a conduta típica). Isso está certo? NÃO! ESTÁ ERRADO! Meus amigos, sugiro que leiam com cuidado as observações abaixo. O tema é muito cobrado em provas e causa enorme confusão. Fiz essa pergunta em um post no Instagram e mais de 85% erraram. A título de contextualização: no plano da autoria, a expressão “domínio do fato” foi consagrada por Lobe (1933), ganhou força com Welzel (em 1939) e teve seus contornos concretamente delineados por Roxin (1963). A teoria não visa dizer quem será ou não punido, mas sim delimitar QUEM É AUTOR E QUEM É PARTÍCIPE. Há três formas de se dominar o fato: 1. domínio da ação, 2. domínio funcional do fato e 3. domínio da vontade. O que se quer dizer é o seguinte: o fato pode ser dominado com base na AÇÃO (caso daquele que realiza o verbo-núcleo do tipo – ex.: quem aperta o gatilho e mata alguém); com base num DOMÍNIO FUNCIONAL(caso em que há mais de uma pessoa, cada uma responsável por uma tarefa – ex.: um ameaça e o outro subtrai coisa alheia móvel) e com base na VONTADE. É essa terceira ramificação que nos interessa e é nela que eu focarei. É possível se dizer, a grosso modo, que domínio do fato é gênero que se subdivide nas três espécies citadas. A questão que eu propus a vocês é respondida com fulcro nesse 3º domínio: o domínio da vontade, que se manifesta nos casos em que se utiliza um terceiro como mero instrumento. Isso pode ocorrer quando o autor se vale de coação para que alguém cometa o delito ou quando ele induz o terceiro (o instrumento!) a erro. Nesses dois casos, diz-se que AUTOR será o HOMEM DE TRÁS – que coagiu ou induziu a erro. Mas o domínio da vontade também se manifesta na órbita de um APARATO ORGANIZADO DE PODER, que são os casos de organizações verticalmente estruturadas (como grupos terroristas e governos totalitários), em que o sujeito que está no comando responde como AUTOR MEDIATO, desde que: 1. Tenha proferido a ordem; 2. A ordem seja dissociada do direito e 3. Os executores sejam fungíveis (substituíveis). Resumindo, há três domínios: DA AÇÃO (AUTOR IMEDIATO), FUNCIONAL DO FATO (COAUTORIA) E DA VONTADE (AUTORIA MEDIATA). Eu lhes pergunto: no caso concreto da questão que eu propus a vocês, o marido detinha em suas mãos algum desses domínios? Ele praticou o verbo? Não, logo, não domina a ação. Havia divisão de tarefas? Não, afinal, era “B” quem faria tudo, logo, não há domínio funcional. Utilizou-se de um instrumento que foi coagido, induzido a erro ou utilizou-se de um aparato de poder? Não, logo, não existe o domínio da vontade. 21 EMPRESA CRIMINOSA? Reparem, portanto, que nem sempre o autor mediato se utiliza de uma pessoa inimputável ou induz alguém a erro. Isso porque, como dito, ele pode ser o homem que comanda um aparato verticalizado e estruturado de poder. E, além disso, de acordo com Luís Greco, Roxin admite que haja um “autor por trás do autor”, isto é, utilização de um instrumento plenamente responsável (imputável e consciente) nos casos das chamadas “empresas criminosas”. Nesse caso, meus amigos, “A” é mero partícipe, haja vista que apenas instigou/induziu o matador, mediante paga, a matar “B”. Reparem, nesse sentido, que o marido era MANDANTE, mas não autor, posto que não dominava o fato em nenhuma de suas três vertentes. Fonte (Luís Greco e Alaor Leite. “O que é e o que não é a teoria do domínio do fato”). Art. 62, I, do CP: BIS IN IDEM? ➔ Muito cuidado com isso: uma vez aplicada a agravante do art. 2º, §3º, da Lei de ORCRIM, afastar-se-á a agravante prevista no art. 62, I, do CP, sob pena de indesejável bis in idem. Agravante da “transnacionalidade” - art. 2º, §4º, V➔ Somente se aplica no caso de prática de infrações penais com penas máximas superiores a quatro anos. No caso de caracterização do crime pelo caráter transnacional, não se aplica a agravante do inciso V, porque a transnacionalidade constitui elementar do crime. CONSEGUIRAM VISUALIZAR ISSO? O delito de ORCRIM se configura quando: • As infrações possuem pena máxima superior a 4 anos ou • Independentemente da pena, caso as infrações tenham caráter transnacional; Nesse segundo caso, a transnacionalidade funcionou como elementar, logo, não poderá ser utilizada, mais uma vez, como agravante. CRIME DE FUSÃO, ACESSÓRIO OU PARASITÁRIO➔ São os delitos que pressupõe a existência de um crime anterior. Notem, nessa perspectiva, que a conduta prevista no §1º do art. 2º ilustra uma infração parasitária/acessória/fusão, uma vez que deve haver uma organização criminosa para que a obstrução da investigação se configure. 22 CAPÍTULO II – DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DA PROVA A partir daqui, veremos os meios de obtenção de prova. O assunto desmorona em concursos (sobretudo MP e polícias), em todas as fases. Se tivéssemos uma prova amanhã e eu fosse sugerir algo da lei de ORCRIM para ser lido, sugeriria justamente essa parte investigativa e de obtenção de provas. ARTIGO 3º Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova: I - colaboração premiada; II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos; III - ação controlada; IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais; V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica; VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica; VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11; VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal. § 1º Havendo necessidade justificada de manter sigilo sobre a capacidade investigatória, poderá ser dispensada licitação para contratação de serviços técnicos especializados, aquisição ou locação de equipamentos destinados à polícia judiciária para o rastreamento e obtenção de provas previstas nos incisos II e V. (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015) § 2º No caso do § 1º , fica dispensada a publicação de que trata o parágrafo único do art. 61 da Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, devendo ser comunicado o órgão de controle interno da realização da contratação. (Incluído pela Lei nº 13.097, de 2015) 23 A Lei nº 12.850/13 disciplinou diretamente em seu bojo normativo os meios de obtenção de prova, como é o caso da colaboração premiada (art. 4º), da ação controlada (art. 8º), da infiltração de agentes (art. 10) e do acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas a dados cadastrais constantes de bancos etc. Reparem que a captação ambiental já era prevista como técnica especial de investigação ainda na antiga Lei nº 9.034/95 (art. 2º, IV), assim como a ação controlada (art. 2º, II), a infiltração de agentes (art. 2º, V) e o acesso a dados, documentos e informações fiscais, bancárias, financeiras e eleitorais (art. 2º, III). Porquês de novas formas de investigação➔ Vocês se lembram da distinção entre crimes de rua/colarinho azul e white colar crime/colarinho branco? Os primeiros são aqueles praticados, via de regra, sem engenhosidade, por pessoas menos favorecidas e que são objeto de constância controle formal e informal (Polícias Militar e Civil, Ministério Público, guardas etc.). Aliás, a expressão colarinho azul alude à cor dos macacões utilizados por operários estadunidenses na primeira metade do século XX. Enfim, esses chamados crimes de rua não são praticados por grandes organizações criminosas. Eles são executados de maneira amadora e sem artimanhas. Os meios convencionais de investigação, nesse sentido, são suficientes para a persecução penal – extrajudicial e judicial. Os crimes de colarinho branco, por outro lado, muitas vezes praticados por organizações estruturadas e com alto nível de engenhosidade e profissionalismo, não podem ser enfrentados por meios tradicionais de investigação (requisições, buscas, testemunhas etc.). Chega a ser ingênuo pensar o contrário. Tanto é assim que, nessa perspectiva, surgem as chamadas CIFRAS DOURADAS, que indicam a diferença entre a criminalidade organizada REAL e aquela que é, de fato, conhecida e enfrentada pelo Estado. Cifras ➔ É um pouco constrangedor, para um daltônico como eu, tratar de tantas cores. Mas, enfim... trago abaixo outras “cifras” da criminalidade: CIFRAS NEGRAS CIFRAS DOURADAS CIFRAS CINZAS CIFRAS AMARELAS CIFRAS VERDES CIFRAS ROSAS Engloba todos os crimes que não chegam ao conhecimento policial.Crimes de colarinho branco que não chegam ao conhecimento das autoridades. Delitos que chegam ao conheci- mento da polícia, mas não chegam à fase judicial. Crimes praticados por funcionários públicos e que não chegam ao conhecimento das autoridades por receio da vítima em sofrer represálias. Alude aos crimes ambientais. São os crimes homotransfó- bicos que não chegam ao conhecimento do Estado. 24 Dispensa de licitação no § 1º➔ Prevê mais um caso de dispensabilidade de licitação, além dos casos previstos na Lei nº 8.666/93, sendo que o procedimento licitatório poderá ser dispensado quando a necessidade de manutenção do sigilo o exigir, especificamente quanto à aquisição de materiais e demais equipamentos técnicos servíveis para a realização dos procedimentos de captação ambiental e interceptação telefônica. A partir daqui, trataremos dos principais meios de prova. SEÇÃO I – DA COLABORAÇÃO PREMIADA ARTIGO 3º-A Art. 3º-A. O acordo de colaboração premiada é negócio jurídico processual e meio de obtenção de prova, que pressupõe utilidade e interesse públicos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Dupla natureza jurídica➔ A colaboração premiada é, a um só tempo, um negócio jurídico processual e um meio de obtenção de prova. CUIDADO, MAIS UMA VEZ! Notem que esse dispositivo foi alterado pela Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime) – acho bem provável que ele seja cobrado em provas objetivas. Direito Penal Premial➔ A colaboração premiada é uma das manifestações do Direito Penal Premial, instituto que consagra a ideia de que aquele que colabora e/ou tem bom comportamento recebe um prêmio, que, no âmbito da Lei 12850/13 pode variar: diminuição de pena, perdão judicial, progressão de regime, não oferecimento de denúncia... Espécies de colaboração premiada➔ De acordo com Vladimir Aras, a colaboração premiada é um gênero que se subdivide em 4 espécies: 1. DELAÇÃO PREMIADA: 2. COLABORAÇÃO PARA LIBERTAÇÃO: 3. COLABORAÇÃO PARA RECUPERAÇÃO DE ATIVOS: 4. COLABORAÇÃO PREVENTIVA: Percebam, portanto, que, a despeito de corriqueiramente se considerar “delação” e “colaboração” como expressões sinônimas, trata-se de equívoco. Ocorre a delação premiada quando, a fim de colaborar, o sujeito expõe as outras pessoas implicadas no delito e seu papel na trama. Trata-se do famigerado AGENTE REVELADOR. 25 Na colaboração para libertação, indica-se o local em que a vítima sequestrada/refém foi mantida em cativeiro. Na colaboração para recuperação de ativos, fornece-se elementos para localização do produto ou proveito do crimes e também de bens que podem ser submetidos a lavagem de dinheiro. Por fim, na colaboração preventiva aquele que colabora traz à autoridade dados que impedem um crime ou a sua permanência. MUITO CUIDADO! Em qualquer um desses casos, meras conjecturas e declarações vagas não são suficientes para que se entregue ao suposto colaborador o prêmio. Conforme ensina Cleber Masson, as informações prestadas devem ser minuciosas e precisas. 26 Argumentos favoráveis e contrários à colaboração premiada ➔ Amigos, resumi alguns argumentos favoráveis e contrários à colaboração premiada na tabela abaixo. Tema importante, sobretudo para fases subjetivas. 27 ARTIGO 3º-B Art. 3º-B. O recebimento da proposta para formalização de acordo de colaboração demarca o início das negociações e constitui também marco de confidencialidade, configurando violação de sigilo e quebra da confiança e da boa-fé a divulgação de tais tratativas iniciais ou de documento que as formalize, até o levantamento de sigilo por decisão judicial. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º A proposta de acordo de colaboração premiada poderá ser sumariamente indeferida, com a devida justificativa, cientificando-se o interessado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º Caso não haja indeferimento sumário, as partes deverão firmar Termo de Confidencialidade para prosseguimento das tratativas, o que vinculará os órgãos envolvidos na negociação e impedirá o indeferimento posterior sem justa causa. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 3º O recebimento de proposta de colaboração para análise ou o Termo de Confidencialidade não implica, por si só, a suspensão da investigação, ressalvado acordo em contrário quanto à propositura de medidas processuais penais cautelares e assecuratórias, bem como medidas processuais cíveis admitidas pela legislação processual civil em vigor. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 4º O acordo de colaboração premiada poderá ser precedido de instrução, quando houver necessidade de identificação ou complementação de seu objeto, dos fatos narrados, sua definição jurídica, relevância, utilidade e interesse público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 5º Os termos de recebimento de proposta de colaboração e de confidencialidade serão elaborados pelo celebrante e assinados por ele, pelo colaborador e pelo advogado ou defensor público com poderes específicos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 6º Na hipótese de não ser celebrado o acordo por iniciativa do celebrante, esse não poderá se valer de nenhuma das informações ou provas apresentadas pelo colaborador, de boa-fé, para qualquer outra finalidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 28 Capacidade postulatória do Delegado de Polícia➔ Importante salientar que havia grande discussão se o Delegado de Polícia poderia celebrar acordo de colação premiada uma vez sendo o Ministério público titular da ação penal sendo ajuizada uma ação direta de inconstitucionalidade contestando tal previsão. O Plenário do Supremo Tribunal Federal na ADI 5508 considerou constitucional a possibilidade de delegados de polícia realizarem acordos de colaboração premiada na fase do inquérito policial. Votaram os ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Celso de Mello e Carmen Lúcia (presidente), todos acompanhando o entendimento do relator, ministro Marco Aurélio. Segundo ele, a formulação de proposta de colaboração premiada pela autoridade policial como meio de obtenção de prova não interfere na atribuição constitucional do Ministério Público de ser titular da ação penal e de decidir sobre o oferecimento da denúncia. Os ministros destacaram que, mesmo que o delegado de polícia proponha ao colaborador a redução da pena ou o perdão judicial, a concretização desses benefícios ocorre apenas judicialmente, pois se trata de pronunciamentos privativos do Poder Judiciário. De acordo com a decisão, embora não seja obrigatória a presença do Ministério Público em todas as fases da elaboração dos acordos entre a autoridade policial e o colaborador, o MP deve obrigatoriamente opinar. No entanto, cabe exclusivamente ao juiz a decisão homologar ou não o acordo, depois de avaliar a proposta e efetuar o controle das cláusulas eventualmente desproporcionais, abusivas ou ilegais. Após o ministro Marco Aurélio ressaltar seu entendimento no sentido da impossibilidade de interferência da autoridade policial na atribuição exclusiva do Ministério Público de oferecer denúncia, os ministros Alexandre de Moraes e Roberto Barroso reajustaram os votos para acompanhar integralmente o relator. Os ministros Edson Fachin, Rosa Weber e Luiz Fux divergiram parcialmente. Eles entendem que, embora a autoridade policial possa formular acordo de colaboração, a manifestação do Ministério Público sobre os termos da avença deve ser definitiva e vinculante. Chamamento de corréu➔ Há quem considere a expressão chamamento de corréu como um sinônimo de colaboração premiada. Outros, por outro lado, entendem que a chamada de corréu é o ato pelo qual um comparsa denuncia antigos parceiros sem que, para isso, receba um prêmio. É o que Renato Brasileiro chama de DELAÇÃO NÃO PREMIADA. 29 O queé a CROWN WITNESS? ➔ São as famigeradas testemunhas da coroa, em que o imputado perde essa condição para adquirir outro status jurídico, o de testemunha em prol do interesse público – colaborador. Há, no entanto, quem diga que os agentes infiltrados também seriam testemunhas da coroa. Teoria do QUEEN FOR A DAY. O que é? ➔ De acordo com o art. 4º, par. 10º da Lei 12.850/13, as partes podem se retratar, caso em que as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor. Disso surge a ideia do queen for a day, haja vista que aquele que colaborou, mas se retratou, estará imune de elementos autoincriminatórios que foram produzidos. INTERESSANTE SOBRETUDO PARA PROVAS DE MP E DELTA: nesses casos, as provas produzidas com as declarações daquele que se retratou não poderão ser utilizadas contra ele mesmo, mas poderão ser utilizadas em desfavor de uma 3ª pessoa. É importante salientar que a colaboração premiada não foi instituída no ordenamento brasileiro com advento da lei 12.850/13. O instituto já existia em outras leis extravagantes. a) Lei nº 8.072/90 (art. 8º); b) Código Penal (art. 159, §4º); c) Lei nº 9.034/95 – antiga lei de organização criminosa (art. 6º, caput); d) Lei nº 9.080/95, a qual inseriu formas de colaboração premiada na Lei nº 7.492/86 dos crimes contra o sistema financeiro nacional (art. 25, §2º) e na Lei nº 8.137/90 dos crimes contra o sistema tributário nacional, contra a ordem econômica e contra as relações de consumo (art. 16, Parágrafo Único); e) Lei nº 9.613/98 - lavagem de capitais (art. 1º, §5º), com redação dada pela Lei nº 12.683/12; f) Lei nº 11.343/06 (art. 41, caput) – Lei de Drogas; g) Lei nº 12.529/11 (art. 86 e art. 87), ao tratar do acordo de leniência para pessoas jurídicas; h) Lei nº 12.846/13 – Lei anticorrupção - (art. 16 e 17), ao prever o acordo de leniência com reflexos eminentemente administrativos em decorrência da prática de crimes contra a 30 administração pública e os relacionados a licitações e contratos administrativos da Lei nº 8.666/93. i) Lei nº 9.807/99, ao reger o sistema de proteção às testemunhas. ARTIGO 3º-C e ARTIGO 4º Art. 3º-C. A proposta de colaboração premiada deve estar instruída com procuração do interessado com poderes específicos para iniciar o procedimento de colaboração e suas tratativas, ou firmada pessoalmente pela parte que pretende a colaboração e seu advogado ou defensor público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º Nenhuma tratativa sobre colaboração premiada deve ser realizada sem a presença de advogado constituído ou defensor público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º Em caso de eventual conflito de interesses, ou de colaborador hipossuficiente, o celebrante deverá solicitar a presença de outro advogado ou a participação de defensor público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 3º No acordo de colaboração premiada, o colaborador deve narrar todos os fatos ilícitos para os quais concorreu e que tenham relação direta com os fatos investigados. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 4º Incumbe à defesa instruir a proposta de colaboração e os anexos com os fatos adequadamente descritos, com todas as suas circunstâncias, indicando as provas e os elementos de corroboração. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados: I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por eles praticadas; II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa; III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa; 31 IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa; V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada. § 1º Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do colaborador, a natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da colaboração. § 2º Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal). § 3º O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional. Inicialmente podem ser oferecidas ao pretenso colaborador as seguintes recompensas: a) Perdão judicial; b) Redução em até 2/3 da pena privativa de liberdade; c) Substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direito. Existem outros benefícios no decorrer do procedimento; ACORDO DE IMUNIDADE OU ACORDO DE NÃO DENUNCIAR: Talvez esse seja o maior benefício existente na regência do procedimento de colaboração premiada, pois imuniza-se o agente de ser objeto do jus puniendi. O art. 4º, §4º, da Lei nº 12.850/13 dispõe que o não oferecimento da denúncia depende de mais dois requisitos: a) líder da organização criminosa e b) for o primeiro a prestar a efeva colaboração. CUIDADO – EXCEÇÃO AO PRINCÍPIO DA OBRIGATORIEDADE! Reparem que o “prêmio” previsto no § 4º é mais uma exceção ao princípio da obrigatoriedade da ação penal. 32 ARGUMENTO QUE SÓ VOCÊS CONHECERÃO: o princípio da obrigatoriedade tem recebido uma releitura. Isto é, não se entende mais que o titular da ação penal tem a obrigação de denunciar. O parquet tem a obrigação de AGIR, ainda que não o faça por meio de oferecimento da denúncia. a) REDUÇÃO DA PENA: até a metade ou a progressão de regime, se a colaboração se der após a sentença Pois bem, feitas as propostas pelos dois lados, delegado de polícia (ou ministério público) e investigado (ou acusado), conforme o caso, o termo será remetido ao juiz competente para deliberar sobre a homologação (art. 4º, §7º). Registre-se que caso haja mais de um juízo criminal na Comarca, as peças deverão ser encaminhadas para o protocolo de distribuição, sendo que, quanto a isso, haverá a necessidade de se observar, cuidadosamente, o sigilo determinado pela Lei. Percebe-se que o legislador foi cuidadoso em afastar o juiz da análise do mérito da investigação, limitando-o a versar somente sobre os pressupostos legais do acordo avençado, em especial no que diz respeito à voluntariedade da tratava, podendo inclusive convocar o colaborador para ouvi-lo sigilosamente, porém sempre na presença de seu defensor. § 4º Nas mesmas hipóteses do caput deste artigo, o Ministério Público poderá deixar de oferecer denúncia se a proposta de acordo de colaboração referir- se a infração de cuja existência não tenha prévio conhecimento e o colaborador: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) I - não for o líder da organização criminosa; II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo. § 4º-A. Considera-se existente o conhecimento prévio da infração quando o Ministério Público ou a autoridade policial competente tenha instaurado inquérito ou procedimento investigatório paraapuração dos fatos apresentados pelo colaborador. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 5º Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade ou será admitida a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos. § 6º O juiz não participará das negociações realizadas entre as partes para a formalização do acordo de colaboração, que ocorrerá entre o delegado de polícia, o investigado e o defensor, com a manifestação do Ministério Público, ou, conforme o caso, entre o Ministério Público e o investigado ou acusado e seu defensor. 33 § 7º Realizado o acordo na forma do § 6º deste artigo, serão remetidos ao juiz, para análise, o respectivo termo, as declarações do colaborador e cópia da investigação, devendo o juiz ouvir sigilosamente o colaborador, acompanhado de seu defensor, oportunidade em que analisará os seguintes aspectos na homologação: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) I - regularidade e legalidade; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - adequação dos benefícios pactuados àqueles previstos no caput e nos §§ 4º e 5º deste artigo, sendo nulas as cláusulas que violem o critério de definição do regime inicial de cumprimento de pena do art. 33 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), as regras de cada um dos regimes previstos no Código Penal e na Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de Execução Penal) e os requisitos de progressão de regime não abrangidos pelo § 5º deste artigo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) III - adequação dos resultados da colaboração aos resultados mínimos exigidos nos incisos I, II, III, IV e V do caput deste artigo; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) IV - voluntariedade da manifestação de vontade, especialmente nos casos em que o colaborador está ou esteve sob efeito de medidas cautelares. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) O juiz deve avaliar entre outros o “RELEVO” da colaboração, ou seja, REgularidade, LEgalidade e VOluntariedade. RE – regularidade; LE – legalidade; VO – voluntariedade. § 7º-A O juiz ou o tribunal deve proceder à análise fundamentada do mérito da denúncia, do perdão judicial e das primeiras etapas de aplicação da pena, nos termos do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) e do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal), antes de conceder os benefícios pactuados, exceto quando o acordo prever o não oferecimento da denúncia na forma dos §§ 4º e 4º-A deste artigo ou já tiver sido proferida sentença. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 7º-B. São nulas de pleno direito as previsões de renúncia ao direito de impugnar a decisão homologatória. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 8º O juiz poderá recusar a homologação da proposta que não atender aos requisitos legais, devolvendo-a às partes para as adequações necessárias. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) 34 § 9º Depois de homologado o acordo, o colaborador poderá, sempre acompanhado pelo seu defensor, ser ouvido pelo membro do Ministério Público ou pelo delegado de polícia responsável pelas investigações. § 10. As partes podem retratar-se da proposta, caso em que as provas autoincriminatórias produzidas pelo colaborador não poderão ser utilizadas exclusivamente em seu desfavor. § 10-A Em todas as fases do processo, deve-se garantir ao réu delatado a oportunidade de manifestar-se após o decurso do prazo concedido ao réu que o delatou. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 11. A sentença apreciará os termos do acordo homologado e sua eficácia. § 12. Ainda que beneficiado por perdão judicial ou não denunciado, o colaborador poderá ser ouvido em juízo a requerimento das partes ou por iniciativa da autoridade judicial. § 13. O registro das tratativas e dos atos de colaboração deverá ser feito pelos meios ou recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual, destinados a obter maior fidelidade das informações, garantindo-se a disponibilização de cópia do material ao colaborador. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) § 14. Nos depoimentos que prestar, o colaborador renunciará, na presença de seu defensor, ao direito ao silêncio e estará sujeito ao compromisso legal de dizer a verdade. § 15. Em todos os atos de negociação, confirmação e execução da colaboração, o colaborador deverá estar assistido por defensor. § 16. Nenhuma das seguintes medidas será decretada ou proferida com fundamento apenas nas declarações do colaborador: (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) I - medidas cautelares reais ou pessoais; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - recebimento de denúncia ou queixa-crime; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) III - sentença condenatória. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 17. O acordo homologado poderá ser rescindido em caso de omissão dolosa sobre os fatos objeto da colaboração. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 18. O acordo de colaboração premiada pressupõe que o colaborador cesse o envolvimento em conduta ilícita relacionada ao objeto da colaboração, sob pena de rescisão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019); 35 ARTIGO 5º e ARTIGO 6º Art. 5º São direitos do colaborador: I - usufruir das medidas de proteção previstas na legislação específica; II - ter nome, qualificação, imagem e demais informações pessoais preservados; III - ser conduzido, em juízo, separadamente dos demais coautores e partícipes; IV - participar das audiências sem contato visual com os outros acusados; V - não ter sua identidade revelada pelos meios de comunicação, nem ser fotografado ou filmado, sem sua prévia autorização por escrito; VI - cumprir pena ou prisão cautelar em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou condenados. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 6º O termo de acordo da colaboração premiada deverá ser feito por escrito e conter: I - o relato da colaboração e seus possíveis resultados; II - as condições da proposta do Ministério Público ou do delegado de polícia; III - a declaração de aceitação do colaborador e de seu defensor; IV - as assinaturas do representante do Ministério Público ou do delegado de polícia, do colaborador e de seu defensor; V - a especificação das medidas de proteção ao colaborador e à sua família, quando necessário. Como forma de incentivar e até mesmo de trazer maior segurança para os colaboradores, possibilitando o êxito de investigações complexas e a desarticulação de grupos criminosos organizados, o legislador fez constar na Lei 12.850/13 direitos que o investigado poderá usufruir, caso queira, durante ou após a celebração do acordo de colaboração premiada. O art. 5º, I da Lei nº 12.850/13 ao prever que o colaborador poderá usufruir das medidas de proteção previstas na legislação especifica, possibilita a utilização de todas as formas previstas na Lei de Proteção às Testemunhas, tais como. Verbis: 36 Lei 9.807/99: Art. 7o Os programas compreendem, dentre outras, as seguintes medidas, aplicáveis isolada ou cumulativamente em benefício da pessoa protegida, segundo a gravidade e as circunstâncias de cada caso: I - segurança na residência, incluindo o controle de telecomunicações; II - escolta e segurança nos deslocamentos da residência, inclusive para fins de trabalho ou para a prestação de depoimentos; III - transferência de residência ou acomodação provisória em local compatível com a proteção; IV - preservação da identidade, imagem e dados pessoais; V - ajuda financeira mensal para prover as despesas necessárias à subsistência individual ou familiar, no caso de a pessoa protegida estar impossibilitada de desenvolver trabalho regular ou de inexistência de qualquer fonte de renda; VI - suspensãotemporária das atividades funcionais, sem prejuízo dos respectivos vencimentos ou vantagens, quando servidor público ou militar; VII - apoio e assistência social, médica e psicológica; VIII - sigilo em relação aos atos praticados em virtude da proteção concedida; IX - apoio do órgão executor do programa para o cumprimento de obrigações civis e administrativas que exijam o comparecimento pessoal. Parágrafo único. A ajuda financeira mensal terá um teto fixado pelo conselho deliberativo no início de cada exercício financeiro. 37 Art. 7º O pedido de homologação do acordo será sigilosamente distribuído, contendo apenas informações que não possam identificar o colaborador e o seu objeto. § 1º As informações pormenorizadas da colaboração serão dirigidas diretamente ao juiz a que recair a distribuição, que decidirá no prazo de 48 (quarenta e oito) horas. § 2º O acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações, assegurando-se ao defensor, no interesse do representado, amplo acesso aos elementos de prova que digam respeito ao exercício do direito de defesa, devidamente precedido de autorização judicial, ressalvados os referentes às diligências em andamento. § 3º O acordo de colaboração premiada e os depoimentos do colaborador serão mantidos em sigilo até o recebimento da denúncia ou da queixa-crime, sendo vedado ao magistrado decidir por sua publicidade em qualquer hipótese. (Redação dada pela Lei nº 13.964, de 2019) SEÇÃO II - DA AÇÃO CONTROLADA ARTIGO 8º e ARTIGO 9º Art. 8º Consiste a ação controlada em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações. § 1º O retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente comunicado ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério Público. § 2º A comunicação será sigilosamente distribuída de forma a não conter informações que possam indicar a operação a ser efetuada. § 3º Até o encerramento da diligência, o acesso aos autos será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações. § 4º Ao término da diligência, elaborar-se-á auto circunstanciado acerca da ação controlada. Art. 9º Se a ação controlada envolver transposição de fronteiras, o retardamento da intervenção policial ou administrativa somente poderá ocorrer com a cooperação das autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado, de modo a reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do crime. 38 Meus amigos, esse assunto é absolutamente importante para carreiras policiais. Ação controlada é atividade eminentemente investigativa, em que a ação policial, será retardada, com a finalidade de se buscar uma maior amplitude na coleta de provas ou de elementos de informações. Sinônimos ➔ Flagrante retardado, prorrogado, postergado, diferido. Tal providência legislava é extrema importância ainda mais se tratando de atividades envolvendo organizações criminosas, pois, como se sabe, o art. 301 do CPP traz uma obrigação para as autoridades policiais e seus agentes de prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito, não havendo qualquer ressalva no dispositivo ou seja, Sendo assim, caso o policial, presenciando uma atividade criminosa não venha a agir para recompor a ordem pública violada ou cessar a atividade criminosa, poderia incorrer, em tese, no crime de prevaricação (art. 319 do CP), além da responsabilidade administrava e civil. Trata-se de atividade onde a ação policial, ante a uma atividade criminosa presente, será retardada, com a finalidade de se buscar uma maior amplitude na coleta de provas ou de elementos de informações, seja com a identificação e prisão de um maior número de coautores do fato, seja para a descoberta de outras infrações penais correlatas. Existem outras leis que tratam da ação controlada, uma delas é a Lei de Drogas (11.343/06). ISSO VAI CAIR! Na Lei de Drogas, a ação controlada depende de AUTORIZAÇÃO JUDICIAL. Na lei de ORCRIM, basta comunicação à autoridade judicial. Outra diferença é que a Lei nº 12.850/13 traz um procedimento bem mais criterioso para o desencadeamento de tal operação: ➔ Comunicação prévia ao juiz competente que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério Público (art. 8º, §1º); ➔ Comunicação sigilosamente distribuída de forma a não conter informações que possam indicar a operação a ser efetuada (art. 8º, §2º); ➔ Determinação de que o acesso aos autos referentes à medida será restrito ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações (art. 8º, §3º); ➔ A elaboração de auto circunstanciado ao término da diligência, informando sobre o desfecho da ação controlada (art. 8, §4º); 39 ➔ Cooperação das autoridades dos países que figurem como provável itinerário ou destino do investigado caso o retardamento da intervenção policial ou administrava envolva a transposição das fronteiras nacionais. Tal procedimento tem o objetivo de reduzir os riscos de fuga e extravio do produto, objeto, instrumento ou proveito do crime (art. 9º). SEÇÃO III - DA INFILTRAÇÃO DE AGENTES ARTIGO 10º Art. 10. A infiltração de agentes de polícia em tarefas de investigação, representada pelo delegado de polícia ou requerida pelo Ministério Público, após manifestação técnica do delegado de polícia quando solicitada no curso de inquérito policial, será precedida de circunstanciada, motivada e sigilosa autorização judicial, que estabelecerá seus limites. § 1º Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. § 2º Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o art. 1º e se a prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis. § 3º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade. § 4º Findo o prazo previsto no § 3º, o relatório circunstanciado será apresentado ao juiz competente, que imediatamente cientificará o Ministério Público. § 5º No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos seus agentes, e o Ministério Público poderá requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade de infiltração. A infiltração é mais uma técnica especial de investigação trazida pela Lei de Organizações Criminosas. Apesar de ter sido detalhado na Lei nº 12.850/13, não se trata de uma novidade no ordenamento jurídico uma vez que encontrava previsão na antiga lei de organização criminosas, assim como no art. 53, I da lei 11343/06 (lei de drogas). Existe doutrina que classifica a infiltração em simples e complexa. A primeira seria aquela realizada com a aquiescência da vítima de determinado crime. A segunda seria a ocorrida na apuração de organização criminosa, onde o agente, em 40 hipótese nenhuma, teria a sua identidade revelada. A mesma doutrina alerta para a diferença entre penetração e infiltração, consistindo a primeira em adentrar em determinado recinto, a fim de colher o máximo de evidências possíveis. A lei prenuncia que somente será possível a infiltração se houver pedido em forma de representação do delegado de polícia durante o inquérito policial, ou mediante requerimento do Ministério Público, mas sempre com a manifestação técnica do delegado de polícia, sendo o pedido direcionado ao juiz competente,que decidirá em 24 horas. O requerimento do Ministério Público ou a representação do delegado de polícia para a infiltração de agentes conterão a demonstração da necessidade da medida, o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração. Apesar da exigência de detalhamento das informações na petição policial ou ministerial, conforme citado acima, a lei se preocupou com o sigilo do pedido, sendo que no art. 12 expôs que: “O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a não conter informações que possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente que será infiltrado”. Quanto aos requisitos de admissibilidade da medida de infiltração esta somente poderá ser admitida se; a) houver indícios de existência de organização criminosa, nos termos do art. 1º da Lei nº 12.850/13; b) a prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis (§2º, art. 10) e; c) a aceitação do agente de polícia (art. 14, I). ARTIGO 10-A, 10-B, 10-C e 10-D ARTIGO 11º, ARTIGO 12º e ARTIGO 13º Art. 10-A. Será admitida a ação de agentes de polícia infiltrados virtuais, obedecidos os requisitos do caput do art. 10, na internet, com o fim de investigar os crimes previstos nesta Lei e a eles conexos, praticados por organizações criminosas, desde que demonstrada sua necessidade e indicados o alcance das tarefas dos policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e, quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que permitam a identificação dessas pessoas. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 1º Para efeitos do disposto nesta Lei, consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 41 I - dados de conexão: informações referentes a hora, data, início, término, duração, endereço de Protocolo de Internet (IP) utilizado e terminal de origem da conexão; (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) II - dados cadastrais: informações referentes a nome e endereço de assinante ou de usuário registrado ou autenticado para a conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário ou código de acesso tenha sido atribuído no momento da conexão. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 2º Na hipótese de representação do delegado de polícia, o juiz competente, antes de decidir, ouvirá o Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 3º Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o art. 1º desta Lei e se as provas não puderem ser produzidas por outros meios disponíveis. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 4º A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de eventuais renovações, mediante ordem judicial fundamentada e desde que o total não exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja comprovada sua necessidade. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 5º Findo o prazo previsto no § 4º deste artigo, o relatório circunstanciado, juntamente com todos os atos eletrônicos praticados durante a operação, deverão ser registrados, gravados, armazenados e apresentados ao juiz competente, que imediatamente cientificará o Ministério Público. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 6º No curso do inquérito policial, o delegado de polícia poderá determinar aos seus agentes, e o Ministério Público e o juiz competente poderão requisitar, a qualquer tempo, relatório da atividade de infiltração. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) § 7º É nula a prova obtida sem a observância do disposto neste artigo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 10-B. As informações da operação de infiltração serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela autorização da medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao delegado de polícia responsável pela operação, com o objetivo de garantir o sigilo das investigações. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 10-C. Não comete crime o policial que oculta a sua identidade para, por meio da internet, colher indícios de autoria e materialidade dos crimes previstos no art. 1º desta Lei. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de observar a estrita finalidade da investigação responderá pelos excessos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) 42 Art. 10-D. Concluída a investigação, todos os atos eletrônicos praticados durante a operação deverão ser registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e ao Ministério Público, juntamente com relatório circunstanciado. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados no caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e apensados ao processo criminal juntamente com o inquérito policial, assegurando-se a preservação da identidade do agente policial infiltrado e a intimidade dos envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 11. O requerimento do Ministério Público ou a representação do delegado de polícia para a infiltração de agentes conterão a demonstração da necessidade da medida, o alcance das tarefas dos agentes e, quando possível, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e o local da infiltração. Parágrafo único. Os órgãos de registro e cadastro público poderão incluir nos bancos de dados próprios, mediante procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as informações necessárias à efetividade da identidade fictícia criada, nos casos de infiltração de agentes na internet. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019) Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a não conter informações que possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente que será infiltrado. § 1º As informações quanto à necessidade da operação de infiltração serão dirigidas diretamente ao juiz competente, que decidirá no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, após manifestação do Ministério Público na hipótese de representação do delegado de polícia, devendo-se adotar as medidas necessárias para o êxito das investigações e a segurança do agente infiltrado. § 2º Os autos contendo as informações da operação de infiltração acompanharão a denúncia do Ministério Público, quando serão disponibilizados à defesa, assegurando-se a preservação da identidade do agente. § 3º Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a operação será sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo delegado de polícia, dando-se imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial. Art. 13. O agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com a finalidade da investigação, responderá pelos excessos praticados. Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa. 43 Observância da devida proporcionalidade na atuação do agente infiltrado. Doutrina costuma classificar o princípio da proporcionalidade em outros três subprincípios, quais sejam: necessidade, adequação e proporcionalidade em sentido estrito. Nestor Távora em sua “legislação criminal para concursos” dispõe que os princípios deveriam ser observados da seguinte maneira: a) Necessidade: consistindo na necessidade de adoção da medida, sendo adotada somente se não houver outro meio. b) Adequação: consistiria na idoneidade do ato perpetrado para fazer com que o agente obtenha maiores elementos de informação sobre a empreitada delituosa desenvolvida pea organização criminosa. c) Proporcionalidade em sentido estrito: cuida-se da escolha entre várias opções igualmente possíveis para cumprir os objetivos da intervenção policial