Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
David Salazar Lissane ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS ADOPTADAS PELAS INSTITUIÇÕES MICROFINANCEIRAS PARA A REDUÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO: CASO DO MICROCRÉDITO HLUVUKU NO DISTRITO DE MOAMBA (2016-2018) Licenciatura em Gestão de Empresas, habilitação em Gestão Financeira Universidade Pedagógica de Maputo 2021 David Salazar Lissane ANÁLISE DAS ESTRATÉGIAS ADOPTADAS PELAS INSTITUIÇÕES MICROFINANCEIRAS PARA A REDUÇÃO DO RISCO DE CRÉDITO: CASO DO MICROCRÉDITO HLUVUKU NO DISTRITO DE MOAMBA (2016-2018) Monografia Científica apresentada ao Departamento de Economia e Gestão, Escola Superior de Contabilidade e Gestão, para a Obtenção do Grau Académico de Licenciatura em Gestão de Empresas, habilitação em gestão financeira. Supervisor: Dr. Silvino Uamba Universidade Pedagógica de Maputo 2021 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO.........................................................................................................................i DECLARAÇÃO ........................................................................................................................ ii DEDICATÓRIA ....................................................................................................................... iii AGRADECIMENTOS ............................................................................................................... iv EPIGRAFE ................................................................................................................................. v RESUMO .................................................................................................................................. vi ABSTRACT .............................................................................................................................vii LISTA DE ABREVIATURAS ................................................................................................ viii LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... ix LISTA DE FIGURAS ................................................................................................................. x LISTA DE GRÁFICOS ............................................................................................................. xi 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 12 1.1. Problemática ............................................................................................................... 14 1.2. Justificativa ................................................................................................................. 14 1.3. Objectivos................................................................................................................... 15 1.3.1. Objectivo geral .................................................................................................... 15 1.3.2. Objectivos específicos ......................................................................................... 15 1.4. Hipóteses .................................................................................................................... 16 1.4.1. Hipótese Afirmativa ............................................................................................. 16 1.4.2. Hipótese Negativa ................................................................................................ 16 1.5. Delimitação do tema ................................................................................................... 16 1.6. Limitações do trabalho ................................................................................................ 16 1.7. Estrutura do Trabalho ................................................................................................. 17 2. REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................................. 18 2.1. Estratégia .................................................................................................................... 18 2.2. Crédito ........................................................................................................................ 18 2.2.1. Importância do crédito ......................................................................................... 19 2.3. Microfinanças ............................................................................................................. 19 2.3.1. Definição de microfinanças .................................................................................. 20 2.3.2. Os clientes das microfinanças .............................................................................. 21 2.3.3. Juros cobrados em operações microfinanceiras .................................................... 21 2.3.4. Riscos em operações de microfinanças................................................................. 22 2.4. O microcrédito ............................................................................................................ 25 2.4.1. O que é microcrédito? .......................................................................................... 25 2.4.2. Origem dos fundos do microcrédito ..................................................................... 26 2.4.3. Actividades das organizações do microcrédito ..................................................... 26 2.4.4. Microcrédito em Moçambique ............................................................................. 27 2.4.5. Papel do microcrédito .......................................................................................... 27 3. METODOLOGIA DE PESQUISA ........................................................................................ 29 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ..................................................................... 33 5. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES................................................................................ 45 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 47 7. ANEXOS .............................................................................................................................. 56 ii DECLARAÇÃO Declaro que esta monografia é fruto da minha investigação pessoal, o seu conteúdo é original e todas fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto, nas notas e bibliografia final. Declaro também que o trabalho nunca foi apresentado em nenhuma outra instituição para obtenção do grau académico. Maputo, ___ de Fevereiro de 2021 ________________________________________ (David Salazar Lissane) iii DEDICATÓRIA À minha mãe Maria Madalena António Muthombene pela boa educação e força que sempre tem me dado até atingir este nível. À minha esposa Raquelina Lissane por estar do meu lado me dando força para sempre continuar e não desistir. E por fim ao meu filho Miguel Lissane. iv AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus pelo dom da vida bem como pela graça e misericórdia que sempre tem-me concedido na minha vida. Ao meu supervisor Dr. Silvino Uamba pela disponiblidade e consideração, foram aspectos cruciais para o sucesso do meu trabalho. A minha família em geral que contribuiu com todo esforço para a realização do presente trabalho bem como na minha vida académica. A igreja Evangélica Assembleia de Deus de Moçambique-Ramo Moamba em particular ao pastor Raimundo Tsucane pelas orações e apoio. A Eunice Chiongue pela influência e apoio para que eu pudesse me inscrever neste curso. O presente trabalho não seriauma realidade se o Microcrédito Hluvuku não tivesse disponibilizado as informações relevantes para o mesmo, sendo assim a minha maior consideração e apreço em particular ao senhor Ernesto Rungo gerente do microcrédito Hluvuku no distrito da Moamba e a senhora Dádiva Muteto oficial de crédito que tiveram a coragem de me fornecer informações para o trabalho mesmo sendo confidenciais. Aos meus colegas em particular a Tamara Nicolas pelo apoio e força para que eu não desistisse e que fosse adiante com os estudos, e docentes da Escola Superior de Contabilidade e Gestão, do curso de Gestão de Empresas pelo esforço na transmissão de conhecimentos científicos A todos que directamente e indirectamente apoiaram me, o meu e mais profundo agradecimento. KHANIMAMBO, NIBONGUILE, THANK YOU, OBRIGADO!!! v EPIGRAFE “O crédito na hora certa, em quantidade suficiente e a um preço acessível são instrumentos de promoção de actividades produtivas e de melhoria da qualidade de vida de populações carentes, especialmente do meio rural. ” Abramovay (2004) vi RESUMO O presente trabalho tem por foco analisar as estratégias adoptadas pelas instituições microfinanceiras para a redução do risco de crédito. A metodologia usada neste trabalho foi bibliográfica, exploratória e um estudo de caso no Microcrédito Hluvuku no distrito de Moamba entre o período de 2016-2018, a obtenção de informações relevantes ao tema em estudo foi feita através de questionários e entrevistas de modo a perceber de uma forma profunda o risco de crédito. O risco de crédito na maioria das vezes resulta da assimetria de informação, onde as instituições microfinanceiras não possuem informações relacionadas com o tomador e isso implica na redução do consumo e o investimento por parte do tomador visto que nao será concedido o crédito e para as instituições microfinanceiras reduz o retorno esperado. Para a poder lidar com este dilema do risco de crédito o microcrédito Hluvuku aposta na Formação de seus colaboradores, Padronização dos créditos de acordo com o grupo alvo, Análise da apacidade de amortização, Análise dos pedidos de crédito e Acompanhamento/monitoramento ao tomador. Da análise feita às estratégias que o microcredito Hluvuku adopta concluiu-se que são eficazes na redução do risco de crédito onde validou-se a hipótese afirmativa que diz que as estratégias adoptadas pelo Microcrédito Hluvuku são eficazes para a redução o risco de crédito contribuindo desta forma para o desenvolvimento económico local através das informações colectadas que tornam os tomadores credíveis ou não no âmbito da concessão de crédito. Palavras-chave: Risco de crédito, Assimetria de informação e Microcrédito vii ABSTRACT This paper focuses on analyzing the strategies adopted by microfinance institutions to reduce credit risk. The methodology used in this work was bibliographic, exploratory and a case study in Microcredit Hluvuku in the district of Moamba between the period 2016-2018, obtaining relevant information to the topic under study was done through questionnaires and interviews in order to understand credit risk is profound. The credit risk most often results from information asymmetry, where microfinance institutions do not have information related to the borrower and this implies a reduction in consumption and investment by the borrower since the credit will not be granted and for the institutions microfinance has reduced the expected return. In order to be able to deal with this credit risk dilemma, the Microcredit Hluvuku bets on the training of its employees, Standardization of credits according to the target group, Analysis of the amortization capacity, Analysis of credit requests and Follow-up / monitoring to the borrower. From the analysis made to the strategies adopted by the microcredit Hluvuku, it was concluded that they are effective in reducing credit risk, where the affirmative hypothesis that says that the strategies adopted by Microcredit Hluvuku are valid is effective for reducing credit risk, thus contributing for local economic development through the collected information that makes borrowers credible or not within the scope of credit granting. Keywords: Credit risk, Information asymmetry and Microcredit viii LISTA DE ABREVIATURAS ONGs-Organizações não Governamentais IMF-Instituições Microfinanceiras INE-Instituto Nacional de Estatística EN2-Estrada Nacional nr 2 ADSEMA- Associação de Desenvolvimento Sócio-Económio De Matutuine MH-Microcrédito Hluvuku LPF-Loan Perform https://www.mftransparency.org/microfinance-pricing/mozambique/010-HluvukuADSEMA/ ix LISTA DE TABELAS Tabela 1: Localização geográfica-limites do distrito de Moamba..................................................33 Tabela 2: Organização Administrativa Do Distrito Da Moamba…………………………………35 Tabela 3: Valores do Microcrédito Hluvuku……..........................................................................37 Tabela 4: Evolução dos empréstimos concedidos pelo Microcrédito Hluvuku de 2016-2018…....39 Tabela 5: Evolução das inadimplências dos tomadores nos perídos de 2016-2018…....................40 Tabela 6: As medidas adoptadas pelo Microcrédito Hluvuku para reduzir o risco de crédito são eficazes?..........................................................................................................................................43 Tabela 7: Após a cedência do empréstimo, o Microcrédito tem feito o devido monitoramento aos seus clientes?...................................................................................................................................44 x LISTA DE FIGURAS Figura 1: Vertentes da Indústria de Microfinanças.........................................................................20 Figura 2: Localização geográfica do distrito de Moamba no Mapa…………………………........34 xi LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Fins pelos quais os clientes do Microcrédito têm destinado mais os seus empréstimos.42 Gráfico 2: Área viável e rentável para o Microcrédito ceder o empréstimo………………………43 12 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho de pesquisa visa analisar as estratégias adoptadas pelas microfinanças para a redução do risco de crédito onde se apresenta uma discussão sobre o impacto do risco de crédito no microcrédito, a descrição das estratégias adoptadas para a mitigação do risco de crédito. Para uma melhor compreensão sobre o tema em questão será feita uma breve abordagem sobre alguns conceitos relevantes neste âmbito. O microcrédito que é uma versão das Microfinanças, surge como uma ferramenta de democratização do acesso ao crédito, pois sua metodologia consiste na concessão de empréstimos, contínuos e progressivos, de pequenos montantes à população de baixa renda, através de um processo simples e menos burocrático, geralmente pelo uso do aval solidário como forma de garantia acessível a essas pessoas. Segundo essa modalidade de crédito é compreendida como ferramenta de redução da pobreza, pois considera-se que ela possibilita aos tomadores (pessoas de “baixa renda”) realizar investimentos em seus pequenos negócios (em geral informais), trazendo- lhes maiores rendimentos e, desse modo, sair da condição de pobreza. NERI (2008) Ainda na mesma linha de análise, NERI (2008:29) declara que os microcréditos desempenham um papel fundamental na medida em que fornecem serviços financeiros a clientes que foram excluídos do sector bancário formal, buscando servir pessoas que as instituições bancarias tradicionais não consideram valer a pena atender e tendo como principaisclientes microempreendimentos (ou nanonegócios). O crédito concedido pelos microcréditos é de extrema relevância pois serve para a criação de auto-empregos através de actividades geradoras de rendimentos, bem como para a habitação para os pobres. Os credores sempre enfrentam dificuldades para analisar a real ou aproximada situação financeira de seus clientes. Isso porque parte dos clientes não fornecem todas informações sobre eles, nem existe um banco de dados no mercado que possibilite a obtenção delas. Assim as informações sobre a real situação financeira dos clientes encontra-se oculta, ou seja, enquanto os clientes possuem informações perfeitas sobre a qualidade de seus investimentos e financiamentos, 13 os credores assumem riscos de selecção adversa por não conhecerem a efectiva exposição de risco. É desta maneira que surge o termo risco de crédito para os microcréditos por haver incerteza da devolução do capital obtido por parte dos tomadores de crédito. (SANTOS 2015:213) É por essa razão que os microcréditos devem desenvolver modelos e estratégias para lidar com este fenómeno de risco de crédito. Portanto nesta pesquisa do tema em questão, existe um elemento associado ao risco de crédito que será estudado: assimetria de informação. 14 1.1. Problemática O risco de crédito é um dos maiores riscos implícitos nos empréstimos bancários e nas obrigações emitidas pelas empresas e pelos países. O risco de crédito tem por suporte a possibilidade de os devedores (mutuários de empréstimos) ou as contrapartes em transacções entrarem em situação de incumprimento. O desafio do microcrédito não é apenas realizar operações com montantes reduzidos e conseguir chegar aos menos favorecidos, é efectuar esses empréstimos e conseguir o dinheiro de volta. Mesmo com adopção dos melhores modelos de avaliação de crédito, só se conhece o resultado da operação no seu vencimento ou quando não se recebe o valor pactuado na concessão de crédito. Essa falta de certeza quanto ao resultado do processo é que cria a condição de risco na operação de crédito. O risco de crédito é a possibilidade da operação não se encerrar da forma esperada. É desta maneira que surge a seguinte questão: Será que as estratégias adoptadas pelo microcrédito Hluvuku reduzem o risco de crédito no âmbito da concessão de crédito a população do distrito de Moamba? 1.2. Justificativa O presente trabalho de pesquisa será relevante para a sociedade, a comunidade académica, os microcréditos e para a economia. Para a Sociedade Esta pesquisa é relevante para a sociedade uma vez que é a principal tomadora de crédito nos microcréditos na medida em que ela sensibiliza a mesma para fornecer dados credíveis referentes a sua posição financeira e a alocação dos recursos financeiros emprestados de modo a reduzir o risco de crédito. 15 Para a comunidade académica O trabalho é relevante para a comunidade académica na medida em que servira de referência para a produção de outros trabalhos científicos relacionados com o tema em questão, criando condições para melhorar a pesquisa científica consequentemente o conhecimento. Para os microcréditos Os microcréditos são a principal fonte de busca de recursos financeiros para toda população de baixa renda, desta forma através deste trabalho eles vão desenvolver modelos para que não haja incerteza da devolução do capital emprestado por parte da população para reduzir o risco de crédito para que haja retorno esperado. Para a economia O presente trabalho é relevante para a economia na medida em que os microcréditos desenvolvem estratégias para estancar o risco de crédito assim permitindo com que haja concessão do credito aos tomadores, pois, o credito desempenha um papel muito importante na economia de um pais, proporcionando fundos para o funcionamento do comercio e actividades económicas de todos os géneros, para alem de financiar as necessidades pessoais de milhões de cidadãos. Através da concessão do crédito alarga-se a massa monetária em circulação no sistema económico. 1.3. Objectivos 1.3.1. Objectivo geral Analisar a eficácia das estratégias adoptadas pelo microcrédito Hluvuku para a redução do risco de crédito no distrito de Moamba 2016-2018. 1.3.2. Objectivos específicos Descrever o impacto do risco de crédito nas instituições de Microfinanças; Apontar os modelos adoptados pelo Microcrédito Hluvuku para a redução do risco de crédito; 16 Descrever as estratégias adoptados pelo Microcrédito Hluvuku para a redução do risco de crédito; Aferir até que ponto as estratégias adoptadas pelo Microcrédito Hluvuku são eficazes para reduzir o risco de crédito. 1.4. Hipóteses O presente trabalho de pesquisa apresenta as seguintes respostas possíveis para o problema em estudo: 1.4.1. Hipótese Afirmativa As estratégias adoptadas pelo Microcrédito Hluvuku são eficazes para a redução do risco de crédito através das informações colectadas que tornam os tomadores credíveis ou não no âmbito da concessão de crédito, contribuindo desta forma para o desenvolvimento económico local. 1.4.2. Hipótese Negativa As estratégias adoptadas pelo Microcrédito Hluvuku não são eficazes para a redução do risco de crédito através das informações colectadas que tornam os tomadores credíveis ou não no âmbito da concessão de crédito, não contribuindo desta forma para o desenvolvimento económico local. 1.5. Delimitação do tema O risco de crédito encontra-se presente em todas microfinanças como, micropoupanças, microsseguros, crédito imobiliário, mas o presente trabalho de pesquisa focalizar-se-á especificamente no microcrédito onde vai se analisar as estratégias adoptadas pelo microcrédito Hluvuku para a redução do risco de crédito, na província de Maputo, distrito de Moamba no período de 2016-2018. 1.6. Limitações do trabalho O presente trabalho de pesquisa foi elaborado num cenario de dificuldades bibliográficas visto que nas bibliotecas existem poucos livros que tratam do tema em questão; 17 Indisponibilidade de informação e de dados por parte do microcrédito sob pretexto de sigilo profissional; Fraca percepção do assunto em questão por parte da maioria dos colaboradores do microcrédito. 1.7. Estrutura do Trabalho Para alcançar os objectivos previamente estabelecidos, a presente pesquisa encontra-se extruturada em cinco partes a seguir: Parte I – Introdução: é nesta parte onde faz-se breves comentários sobre risco de crédito e microcrédito, posteriormente encontramos a problemática, justificativa, objectivos, hipóteses, delimitação do tema e as limitações do trabalho. Parte II – Revisão da Literatura: concepções básicas acerca de estratégia, crédito, o papel dos microcréditos, risco de crédito, o impacto do risco de crédito e assimetria de informação no microcrédito bem como acerca do Microcrédito em Moçambique. Parte III - Metodologia: o método ou caminho usado para o desenvolvimento do trabalho, onde encontramos os tipos de pesquisa usados para o desenvolvimento do trabalho, seguidamente encontramos as técnicas de recolha de dados e bem como as limitações do trabalho e a amostragem. Parte IV – Análise e Interpretação dos dados: Neste capítulo é feita uma análise das informações recolhidas no Microcrédito Hluvuku através de questionário e entrevista feita aos gestores da área de crédito, tendo posteriormente tabulado os dados e feita a sua respectiva interpretação de modo a perceber melhor se as estratégias adoptadas pelo Microcrédito reduzem o risco de crédito. Parte V – Conclusões e Recomendações: Neste capítulo, encontramos a conclusão obtida durante a pesquisa de campo feita no Microcrédito Hluvuku, de modo, aperceber o real impacto do risco de credito no microcrédito e a validação da hipótese que melhor responde ao problema previamente descrito bem como as recomendações dadas pelo autor tendo em conta as constatações encontradas no trabalho. 18 2. CAPITULO II: REVISÃO DA LITERATURA 2.1. Estratégia O sucesso de qualquer empresa é função da sua orientação estratégica. Etimologicamente, a palavra “estratégia” deriva da palavra grega (strategos) que significa o chefe ou líder do exército- o general. Estratégia são acções efectuadas ou planeadas em resposta ou antecipação ao ambiente externo. A estratégia permite às organizações definir e orientar o caminho a percorrer a longo prazo, apesar das contingências encontradas pelo caminho. Parte-se de um ponto em que a organização se encontra e, de acordo com as previsões, traça-se o caminho futuro, que será percorrido com avaliações, correções e controlos. Na visão de (TEIXEIRA 2014, pág. 26), Estratégia é a direcção e campo de acção de uma organização no longo prazo que, idealmente, faz o ajustamento dos seus recursos com o ambiente em mudança, em particular os seus mercados e clientes, e, ordem a satisfazer as expectativas dos seus stakeholders. Para CHANDLER apud GASPAR et al (2014), estratégia é a explicitação dos objectivos de longo prazo, dos cursos de acção e da afectação dos recursos necessários para os concretizar. Ainda na análise do conceito de estratégia, na visão de MINTZBERG apud GASPAR (2014), a estratégia pode ser entendida como uma forca de mediação entre a empresa e a sua envolvente, cuja formulação requer uma interpretação da envolvente e uma linha de decisões organizacionais coerentes com essa interpretação. 2.2. Crédito Conceder crédito a uma pessoa é, em essência, acreditar nela. VENTURA (2000) Segundo CABIDO (1999, pág. 14), o crédito é um contrato bilateral onde uma parte que empresta e outra que pede emprestado e promete pagar em certo tempo acordado. Para SANTOS (2010), crédito é definido como modalidade de financiamento destinada a possibilitar a realização de transações comerciais entre empresas e seus clientes. O crédito inclui duas noções fundamentais: confiança-expressa na promessa de pagamento, e tempo- que se refere ao período fixado entre a aquisição e a liquidação da dívida. 19 Ainda na mesma linha de análise SCHRICKEL (1994) acrescenta dizendo que crédito é todo acto de vontade ou disposição de alguém de destacar ou ceder, temporariamente, parte do seu património a um terceiro, com a expectativa de que esta parcela volte a sua posse integralmente, apos decorrido o tempo estipulado. 2.2.1. Importância do crédito O crédito é um dos principais mecanismos de intermediação financeira praticados pelas instituições financeiras. Através dele acorda-se entre as partes interessadas (credor e tomador), a utilização de um determinado montante de dinheiro durante um período de tempo. A remuneração a que o credor tem direito devido à concessão em forma de empréstimo do seu poder de compra presente é expressa pelas taxas de juros. (PSICO 2010) Segundo Silva (2006), o crédito desempenha papel econômico e social, uma vez que: Possibilita às empresas aumentarem seu nível de atividade; Estimula o consumo influenciando na demanda; Ajuda as pessoas a obterem a moradia, bens e até alimentos; Facilita a execução de projetos para os quais as empresas não disponham de recursos próprios suficientes. 2.3. Microfinanças 2.3.1. Definição de microfinanças Para (ARMENDÁRIZ), microfinanças é o conjunto de serviços financeiros que envolvem valores de pequena monta, oferecidos a indivíduos de baixa renda. Segundo PSICO (2010, Pág. 15) quando fala-se do termo Microfinanacas refere-se á prestação por instituições financeiras rentáveis e sustentáveis1, de serviços financeiros, envolvendo montantes unitários reduzidos, ás pessoas e pequenas empresas, formais e informais, de baixo rendimento, que por essa razão estão excluídas ou têm dificuldade de acesso ao sistema financeiro tradicional. 1 Uma sustentabilidade total ou auto-suficiência significa que os retornos cobrem todos os custos. 20 Ainda sobre a definição de Microfinanças YUNUS apud PSICO (2010), diz que “as microfinanças são o adubo que permite alavancar as energias dos pobres.” As microfinanças consistem, basicamente, em um segmento do sistema financeiro voltado para a prestação de serviços financeiros adequados e sustentáveis para a população de baixa renda, com um alvo de duplo caráter: a promoção do desenvolvimento do setor microempresarial, e o combate à pobreza. Figura 1: Vertentes da Indústria de Microfinanças Fonte: YUNUS apud PSICO (2010) Os serviços microfinanceiros desempenham papel fundamental no que diz respeito ao aumento do grau de formalização da economia; permanecer na economia informal é, para muitos microempresários, a única alternativa de manter seu negócio em funcionamento. Oportunidades de crédito e acesso a outros serviços financeiros são estimuladores eficientes para a migração destes empreendimentos para o lado formal da economia, aumentando a arrecadação de impostos, com todos os demais benefícios sociais que isto pode trazer. (GOLDMARK; NICHTER e FIORI, 2002). Os responsáveis por tornar disponíveis as operações de microfinanças ao público são as Instituições Microfinanceiras. Em poucas palavras, uma instituição microfinanceira (IMF) é uma organização que oferece serviços financeiros a pessoas de baixa renda. Dentro da indústria de microfinanças, o termo instituição microfinanceira veio para identificar uma gama extensa de organizações dedicadas à provisão destes serviços (ONGs, uniões de crédito, cooperativas, bancos comerciais privados, instituições financeiras não-bancárias e bancos estatais, por exemplo). MICROFINANCAS Produtos de Credito (Microcredito) SEGUROS PRODUTOS DE POUPANCA OUTROS 21 2.3.2. Os clientes das microfinanças Os maiores clientes das microfinanças são pessoas de baixa renda, sem acesso às instituições financeiras formais ou tradicionais. Em muitos casos, são autônomos, donos de pequenos negócios familiares. Os tomadores de microcrédito são tipicamente trabalhadores por conta-própria, empreendedores de baixo rendimento tanto das áreas urbana ou rural. Exercem actividades económicas de comerciantes, vendedores de rua, pequenos agricultores, provedores de serviços (cabeleireiros, motoristas), artesãos e pequenos produtores. Usualmente as suas actividades propiciam-lhes uma instável fonte de rendimento (obtido, em muitos casos, com o acumular de turnos de trabalhos). Embora se trate de uma população pobre, não podem ser ainda considerados miseráveis. (LEDGERWOOD apud PSICO 2010) O acesso às instituições financeiras convencionais diminui conforme a renda: quanto menor a renda, menores as possibilidades de acesso. Por outro lado, quanto menor a renda, mais caros e onerosos os acordos financeiros – muitas vezes informais – a que se tem acesso. Indivíduos neste segmento excluído e/ou sub-servido são, assim, os clientes primordiais das microfinanças. (BRUSKY e FORTUNA 2002) 2.3.3. Juros cobrados em operações microfinanceiras Segundo GITMAN (2010, pág. 247), juros refere-se a remuneração paga pelo tomador ao emprestador de fundos. Do ponto de vista do tomador, representa o custo de fundos captados. E para MEGLIORIMI e VALLIM (2009, pág. 20), juros pode ser entendido simplesmente como a remuneração do capital. A provisão de serviços financeiros para a população de baixa renda é algo caro, especialmente no que diz respeito ao tamanho das transações. Esta é uma das principais razões pelas quais alguns bancos não fazem empréstimosde montantes reduzidos. Agentes de Crédito devem visitar as residências e locais de trabalho de seus clientes e avaliar a possibilidade da concessão de crédito baseado em entrevistas com o próprio cliente e sua família; 22 novas visitas devem então ser feitas, uma vez aprovado o crédito, para reforçar a cultura e a importância do pagamento em dia do empréstimo. Muitas das actividades das pessoas de mais baixa renda possuem atividades de baixo retorno, sob o ponto de vista do trabalho e dos indicadores financeiros. Acesso a capital pode permitir aos pobres obterem maiores retornos em seus negócios – muito maiores, na maioria das vezes, do que as taxas de juros cobradas. (BETING, 2003) 2.3.4. Riscos em operações de microfinanças Risco é a probabilidade de perda financeira (GITMAN, 2010) Segundo D’ONOFRIO (2002), as IMF, de modo geral, enfrentam quatro tipos de risco, que são apresentados a seguir: 2.3.4.1. Risco de mercado É o risco oriundo de fatores externos à instituição e sem vínculo direto com a relação entre a IMF e o cliente; pode ser entendido em termos de fatores macroeconômicos, e afeta não somente as próprias instituições de microcrédito, mas também os próprios clientes. Relaciona-se a eventos como inflação, flutuação excessiva nas taxas de câmbio ou nível de emprego. Para se proteger do risco de mercado, é necessário acompanhar as tendências macroeconômicas e buscar se antecipar a elas. O interessante, neste caso, é notar que o efeito primário dos eventos macroeconômicos sobre as IMFs ocorre de maneira indireta (transmitido pelos clientes – que, em períodos de turbulência, diminuem a demanda por crédito e trazem problemas de inadimplência à instituição). O resultado usualmente é a redução da oferta de crédito e o aumento das taxas de juros repassadas aos clientes. 2.3.4.2. Risco Operacional São os riscos de perda direta (exemplo: incapacidade de cobrar eficientemente um empréstimo em atraso) ou indireta (exemplo: atraso na cobrança de em pagamento, resultando em perda temporária de receita), resultantes de processos internos ineficientes, pessoas, sistemas ou eventos externos. Surgem de problemas no processamento das transações das instituições e na gestão dos ativos. Não podem ser diversificados, mas podem ser evitados. Relata-se que algumas das maiores perdas já registradas em instituições de microcrédito são oriundas de fraude e não do risco de 23 crédito – e a possibilidade de fraude é claramente um risco operacional, com origem em falhas eventuais dos sistemas internos de gestão. As melhores maneiras de se evitarem os riscos operacionais são, no entanto, práticas bem estruturadas de gestão, com auditoria e monitoramento interno realizados periodicamente. 2.3.4.3. Risco de liquidez Risco da instituição não ser capaz de cumprir suas obrigações por falta de caixa. Depende basicamente do acesso da instituição a financiamentos, da qualidade da carteira e da gestão. Pode ser descrito como uma crise de provisão de fundos, relacionado a um evento externo (corte de fonte de financiamento, por exemplo), ao próprio risco de crédito (descumprimento de pagamento por parte de clientes) ou à falha na gestão do caixa, de modo que os recebimentos à vista não sejam suficientes para cobrir os pagamentos a vencer. Perceba-se que o risco de liquidez atinge também a capacidade da instituição em desembolsar os valores para os empréstimos aprovados, colocando ainda mais em perigo o futuro da instituição. A gestão do caixa e a manutenção de fontes alternativas de financiamento são as estratégias mais comuns e eficientes para redução dos riscos de liquidez. 2.3.4.4. Risco de crédito Para GASPAR et al (2014, pág. 190), risco de crédito é probabilidade de uma empresa ou Estado que emite instrumentos de divida não pagar juros devidos ou reembolsar o capital aplicado. Trata-se do risco de que o cliente, por qualquer motivo, venha a não honrar suas obrigações (não pague o empréstimo); Estimar os riscos de crédito para clientes de IMFs é algo extremamente difícil; em primeiro lugar, pela não-existência de um histórico de crédito (algo que é, deve-se considerar, intrínseco ao público-alvo destas instituições) que permita avaliar a postura do candidato em relação aos empréstimos que eventualmente venha a tomar; além disso, porque este risco é diretamente relacionado à qualidade da equipe da instituição, e de sua capacidade em avaliar este risco. 24 Os riscos de crédito são tratados de maneira agressiva nas instituições; o não pagamento de um empréstimo dispara ação rápida, para não gerar um efeito dominó entre os mutuários (muitos passam a não pagar quando o primeiro tomador não paga o empréstimo e a cobrança por parte da instituição não é feita de forma rápida). A reputação da instituição de cobrar rapidamente débitos em atraso é uma ferramenta importante no gerenciamento do risco de crédito. Existe um elemento que é inevitável estudar quando trata-se do risco de crédito: Assimetria de informação. 2.3.4.4.1. Assimetria de informação nas IMF Para SAMUELSON & NORDHAUS (2012, pág. 217), a informação assimétrica ocorre quando os compradores e os vendedores têm informação diferenciada sobre factos importantes, como o estado de saúde pessoal ou a qualidade do bem que esta a ser vendido. O crédito particulariza-se como um serviço cuja contrapartida do mutuário só se efectivará em determinado momento futuro do tempo, sendo que o credor ao possui informação perfeita se a sua contraparte arcará com a sua responsabilidade. No mercado de crédito (particularmente nos microcréditos) subsistem informações assimétricas entre as partes envolvidas na transacção. O tomador do empréstimo possui melhore condições de avaliar o risco envolvido no projecto financiado, alem da sua disposição ∕ capacidade de pagamento, do que o credor. Na literatura económica, os problemas causados pela assimetria de informação contemplam aqueles decorrentes da seleção adversa e do risco moral. (PSICO 2010) Segundo ABREU apud PSICO (2010), O problema da seleção adversa surge como consequência ao factor de que diferentes devedores possuem diferentes probabilidades de arcar com as suas dívidas. A seleção adversa ocorre quando a insuficiência de informação sobre os potenciais mutuários leva a uma má (adversa) seleção dos projectos relativamente aos quais o financiamento é solicitado. Ainda na mesma linha de análise, (PSICO 2010) acrescenta dizendo que o problema de risco moral consiste na não observância de determinadas atitudes, por parte do devedor, que interferem na sua capacidade de honrar a divida contraída, pois, se o problema resultante da informação assimétrica ocorre depois da transação financeira temos um problema de risco moral. O risco moral consiste na possibilidade do agente que contrai um empréstimo alterar o destino dos fundos 25 (afectando-os a um fim diferente ou a uma actividade menos moral) depois do empréstimo ter sido concedido. O mutuário pode saber a priori o que pretende fazer, procurando tirar vantagem do facto de não partilhar toda informação com a instituição financeira. 2.3.4.4.2. Importância da informação na redução do risco de crédito nas IMF A informação prestada pela instituição de crédito na fase pré-contratual é fundamental para uma decisão correcta por parte do potencial mutuário. Esta informação deve ser rigorosa e transparente e permitir a comparação com diferentes alternativas de crédito, procurando a adequação dos produtos de crédito ao perfil de risco do cliente. Estas preocupações decorrem da constatação de que uma rigorosa avaliação da capacidade financeira do cliente por parte das instituições de crédito, adequando os produtos às suas características, contribui para prevenir o endividamento e incumprimentodo crédito. No âmbito da concessão do crédito deve ser sempre assegurada uma informação completa e rigorosa das condições das operações a contratar, que permita uma tomada de decisão com base numa correcta avaliação das respectivas características e custos, qualquer que seja a forma como acedam ao crédito. Avaliação por parte das instituições de crédito (em particular os microcréditos) das características dos potenciais clientes, da sua capacidade de endividamento e do seu perfil de devedor, no momento da solicitação de um novo crédito, é essencial para a concessão de crédito com responsabilidade. (RODRIGUES 2012). 2.4. O microcrédito 2.4.1. O que é microcrédito? Microcrédito, segundo a definição utilizada pelo Governo Brasileiro em seus documentos, consiste na “concessão de empréstimos de baixo valor a pequenos empreendedores informais e microempresas sem acesso ao sistema financeiro tradicional, principalmente por não terem como oferecer garantias reais; é um crédito destinado à produção (capital de giro e investimento) e é concedido com o uso de metodologia específica”. 26 Para MARTINS et al (2002), o microcrédito pode ser definido como um empréstimo de pequeno valor, dado a empreendedores de baixa renda. É uma maneira de potencializar o desenvolvimento de pequenos negócios, através de crédito para indivíduos que, pelo baixo nível de formalização de seus negócios, ou pela inexistência de garantias, não conseguem acessar crédito junto às instituições tradicionais do sistema financeiro. 2.4.2. Origem dos fundos do microcrédito As organizações de microcrédito operam a partir da disponibilização de recursos reunidos num fundo financeiro destinado a empréstimos, a sua carteira de empréstimos. O fundo é originário de fontes de diversas, provenientes de órgãos de fomento internacionais, dos governos ou do próprio sistema financeiro. São montantes destinados ao fundo perdido, oriundos de doações, ou emprestados às organizações de microcrédito em condições contratuais especiais. No último caso, essas condições irão determinar, por sua vez, quais são as outras que a entidade poderá oferecer ao tomador final de crédito. Desta forma, as organizações de microcrédito apresentam-se como intermediárias financeiras entre credores de última instância (proprietários dos recursos disponibilizados no fundo) e os tomadores finais (a população excluída do sistema financeiro), assumindo as seguintes funções: reduzir os custos de transacção e colocar-se como avalista dos tomadores finais perante o proprietário dos fundos. (MEZERRA; REZENDE; LEDGERWOOD apud PSICO 2010) 2.4.3. Actividades das organizações do microcrédito Segundo LEDGERWOOD apud PSICO (2010), as actividades de uma organização de microcrédito normalmente envolvem: a) Concessão de pequenos empréstimos, principalmente para financiar capital de giro e pequenos investimentos em capital; b) Avaliações económicas informais para emprestadores e investidores; c) Fornecimento de garantias substitutas, como garantias de grupos de poupanças compulsórias; d) Disponibilização de empréstimos de maior vulto, baseados em performance da quitação das dívidas dos primeiros empréstimos tomados; 27 e) Produtos de seguros de poupança. 2.4.4. Microcrédito em Moçambique A história do microcrédito de forma mais institucionalizado em Moçambique é relativamente recente, mas sempre existiram formas menos institucionalizados que permitem que as pessoas tenham acesso ao dinheiro para poderem investir em pequenos negócios bem como suprir as suas necessidades imediatas. Segundo PSICO (2010) apresenta formas informais de financiamento nomeadamente: “Xitique” - é uma forma de poupança obrigatória dentro de um grupo, onde é predominante a pressão pelos membros para aumentar o autocontrolo dos gastos. Este grupo é constituído por 4 a 10 pessoas, sendo amigos ou familiares; “Associações funerárias” – as associações funerárias funcionam em grupos de 20 a 30 pessoas, frequentemente provenientes da mesma família. Cada um dos membros paga um valor mensal. Em caso de falecimento os membros do fundo e seus familiares directos-cônjuge, pais e filhos têm direito a um caixão. “Agiotas” - que concedem créditos individuais em valores. A garantia usada é a boa reputação do tomador, cheques pré-datados e haveres pessoais. São pagas altas taxas de juro, mensalmente. 2.4.5. Papel do microcrédito Experiências mostram que acções microfinanceiras podem ajudar a população mais pobre a elevar sua renda, construir negócios viáveis e reduzir sua vulnerabilidade a impactos externos da economia. Pode ser também um instrumento poderoso para fazer da população de baixa renda agentes efetivos de mudança em suas comunidades. Para (CARNEIRO apud PSICO 2010), O sector económico informal contemplado pelos serviços de microcrédito, não obstante, provoca compreensão díspar. Este sector dispõe das seguintes características: 28 a) É composto por actividades que não oferecem barreiras à entrada. b) Utilização de recursos locais c) É marcado pela propriedade familiar das empresas d) Opera em pequena escala e) Vale-se de tecnologia adaptada e investida em trabalho f) Opera em mercados concorrenciais não regulados O alívio a pobreza2 exige muitas ferramentas, incluindo alimento, abrigo, emprego, saúde e serviços de planeamento familiar, serviços financeiros, educação, infraestruturas, mercados e comunicação. O crédito é uma ferramenta poderosa que é usada eficazmente quando for disponibilizada aos dignos de crédito entre os pobres economicamente activos que participam, pelo menos, numa economia parcial de dinheiro-pessoas com capacidade de usar empréstimos e boa vontade para pagá-los. Em suma os objectivos de um microcrédito são: melhorar o nível de vida dos pobres e clientes excluídos do sistema bancário formal e suas famílias, e ampliar o leque de oportunidades das comunidades (PSICO 2010) 2 O desemprego e sub-desemprego são manifestações de pobreza. 29 3. METODOLOGIA DE PESQUISA Segundo DE ANDRADE (2006, pág. 129), metodologia é o conjunto de métodos ou caminhos que são percorridos na busca de conhecimento. O método científico é um procedimento necessário para se obter conhecimentos científicos, que sejam objectivos, sistemáticos, organizados e verificáveis. Conhecimentos reais, susceptíveis de verificação científica (LAKATOS & MARCONI 2011) 3.1. Pesquisa Segundo GIL (2016, pág. 1), pesquisa é o procedimento racional e sistemático que tem como objectivo proporcionar respostas aos problemas que são propostos. A pesquisa é requerida quando não se dispõe de informação suficiente para responder ao problema, ou então quando a informação disponível se encontra em tal estado de desordem que não possa ser adequadamente relacionada ao problema. 3.1.1. Tipos de pesquisa Pesquisa Quantitativa e Qualitativa Segundo LAKATOS & MARCONI (2002), Os dados devem ser, quanto possível, expressos com medidas numéricas. Na visão de GIL (2008), a pesquisa quantitativa toma em consideração que tudo pode ser quantificável, demostrando em números as opiniões e informações para classificá-las e analisá-las usando recursos e técnicas estatísticas. Ainda na mesma linha de análise na pesquisa qualitativa as opiniões não são traduzidas em números, desta forma não requerendo o uso de métodos e técnicas estatísticas. No presente trabalho foi feita uma pesquisa qualitativa, visto que a analise e interpretação de dados foi baseada na observação e na entrevista de modo a perceber profundamente o dilema do risco de crédito em instituições microfinanceiras. E a pesquisa quantitativa com base nos questionários, onde as informaçõescolectadas aos colaboradores foram 30 convertidas em números para poder perceber as estratégias adoptadas para poder reduzir o risco de crédito. Pesquisa Bibliográfica Lakatos e Marconi (2003), afirmam que a pesquisa bibliográfica é o uso de documentos publicados que tem a ver com o tema em pesquisa, onde são selecionados em livros, jornais, revistas, teses com o intuito de directamente ligado com o assunto a ser pesquisado. Neste trabalho foi feita uma pesquisa bibliográfica, através de livros, artigos, monografias, de modo a ter um entendimento profundo em relação ao tema em questão. Pesquisa Exploratória Segundo Gil (2008), a pesquisa exploratória visa proporcionar maior familiaridade com o problema (explicitá-lo) e pode envolver levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisado. Geralmente, assume a forma de pesquisa bibliográfica e estudo de caso. No presente trabalho de investigação foi feita uma pesquisa exploratória, baseando-se no conhecimento empírico ou seja recolha de informações com pessoas experientes que tenham um conhecimento do tema em questão, conhecimento prático, livros com vista a obter maior familiaridade com o problema, de modo a torna-lo explícito e poder fazer a construção das hipóteses do trabalho. Estudo de Caso Estudo de caso é a actividade de colectar e analisar informações sobre um determinado indivíduo, família, grupo, comunidade ou instituição, a fim de estudar aspectos variados de seu dia a dia, de acordo com o assunto da pesquisa. (Lakatos e Marconi, 2003) Para este trabalho no estudo de caso foi feita uma colecta e interpretação de informações no Microcredito Hluvuku no distrito de Moamba. 31 3.2.Técnicas ou Instrumentos de Recolha de dados 3.2.1. Observação Segundo LAKATOS & MARCONI (2003), A observação é uma técnica de colecta de dados para conseguir informações e não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenómenos que se desejam estudar. Neste trabalho foi feita uma observação da realidade sobre as estratégias que o microcrédito Hluvuku adopta para poder reduzir o risco de crédito no distrito de Moamba. 3.2.2. Entrevista A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. (LAKATOS & MARCONI, 2003). Neste trabalho, a entrevista será estruturada visto que foi elaborado um roteiro de perguntas previamente estabelecidos com o objectivo de obter informações e ajudar a responder o problema de pesquisa e bem como analisar as estratégias adoptadas para reduzir o risco de crédito. A entrevista foi feita no Microcrédito Hluvuku-distrito de Moamba ao gerente e oficial da área de gestão de risco de crédito. 32 3.2.3. Questionário Para LAKATOS & MARCONI (2003), o Questionário é um instrumento de colecta de dados constituído por uma série ordenada de perguntas que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. Neste trabalho, o questionário foi feito com o objectivo de poder colectar informações relevantes para poder fazer uma análise da eficácia das estratégias adoptadas no Microcrédito Hluvuku no distrito de Moamba na redução do risco de crédito com o intuito de poder responder o problema de pesquisa e a testar as hipóteses estabelecidas. As perguntas do questionário foram fechadas e foram feitas aos colaboradores do Microcrédito Hluvuku-distrito de Moamba. 3.3. População e Amostra População (ou universo da pesquisa) é a totalidade de indivíduos que possuem as mesmas características definidas para um determinado estudo e amostra é parte da população ou do universo, seleccionada de acordo com uma regra (GIL,2008). O Microcrédito Hluvuku-distrito de Moamba actualmente conta com 6 colaboradores que estão distribuídos da seguinte forma: gerência, sector Administrativo e Financeiro e oficiais de crédito. Dentro dos 6 colaboradores, 4 são homens e 2 mulheres, com idades que variam entre 30 a 45 anos ou mais. Todos os colaboradores do Microcrédito fazem parte da amostra, ou seja a entrevista bem como o questionário foram respondidos por todos colaboradores. 33 4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS ESTUDO DE CASO: MICROCRÉDITO HLUVUKU- DISTRITO DE MOAMBA (2016-2018) 4.1. Perfil do distrito de Moamba Localização, Superfície e População O Distrito da Moamba está situado na parte norte da província de Maputo, a 55 Km da capital do país, a que está ligado pela EN2/4, e está posicionado entre os paralelos 24° 27’e 25° 50’Sul e os meridianos 31° 59’e 32° 37’Este. Tem como limites geográficos a Norte o Rio Massi tonto que o separa do distrito de Magude, a Sul os distritos de Boane e Namaacha, a Este os distritos da Manhiça e Marracuene e a Oeste uma linha de fronteira artificial com a província Sul-Africana do Transval. O distrito apresenta uma configuração de triângulo com, no sentido Norte - Sul, uma extensão de 150Km compreendida entre Panjane junto ao rio Massintonto e a ribeira de Movene, e no sentido Leste – Oeste, uma extensão de 61 Km no paralelo de Sabié. Tabela 1: Localização geográfica-limites do distrito de Moamba DISTRITO DISTRITO DE MOAMBA LIMITES NORTE SUL ESTE OESTE Magude Boane, Namaacha e Cidade da Matola Magude, Manhiça e Marracuene República da África do Sul Fonte: INE-2005 34 Figura 2: Localização geográfica do distrito de Moamba no Mapa Namaacha Boane Fonte: Ministério da Administração Estatal-2005 A superfície do distrito é de 4.628 km2 e a sua população está estimada em 89.932 habitantes, destes 46.911 são Mulheres, Segundo o Censo 2017 com uma densidade populacional de 16 hab/km2. A estrutura etária do distrito reflecte uma relação de dependência económica de 1:1, isto é, por cada 10 crianças ou anciões existem 10 pessoas em idade activa. Com uma população jovem (39%, abaixo dos 15 anos), tem um índice de masculinidade de 94% (por cada 100 pessoas do sexo feminino existem 94 do masculino) e uma taxa de urbanização de 36%, concentrada na Vila da Moamba e de Ressano Garcia e zonas periféricas de matriz semi-urbana. Organização Administrativa O Distrito da Moamba, com sede na Vila de Moamba, é constituído por quatro postos administrativos: Moamba -Sede, Ressano Garcia, Sabié e Pessene, que estão subdivididos em 10 localidades. Magude Manhiça Marracuene Matola Matutuíne 35 Tabela 2: Organização Administrativa Do Distrito Da Moamba Fonte: Posto Administrativo da Moamba-Sede: 2017 Sector agrícola A maioria da população dedica-se à produção em sequeiro com baixa produtividade e alto risco, em explorações familiares de menos de 1 hectare e dependentes das condições de pluviosidade. Existem grandes extensões de antigas propriedades agrícolas abandonadas que outrora foram pertença de privados ou antigas machambas estatais. As principais culturas são o milho, amendoim, feijão-nhemba, abóbora, cana sacarina, batata- doce e mandioca, alimentando-se a população de cereais e tubérculos (milho, mandioca e arroz) acompanhados de verduras, feijões, amendoim, peixe e carne de caça. Para a obtenção de rendimentos monetários, este sector recorre à venda de hortícolas (tomate e cebola), cana sacarina com que fabricam bebidas alcoólicas e peixe da bacia de Corumana. As remessas de trabalhadores na África do Sul, a venda de carvão, lenha e carne decaça constituem, igualmente, importantes fontes de rendimento familiar. Posto Administrativo Localidade Aglomerados/povoados Moamba –Sede Moamba -Sede Vila da Moamba, Chimezane, Nhoquene, Josina Machel, Mahambacheco, Golomo e Goane I. Ressano Garcia Ressano Garcia Réngué Vila Sede, Chimparango, Incomáti, Chanculo, Movene, Mubobo,Réngué Pessene Pessene -Sede Mahulane Vundiça Sede, Mahoche, Maguaza, Chivonzuanine, Vachanine, Hilaguene, Waimbela, Tenga Sede, Chiboene, Mucapane, Matchumbutane, Muzele, Khokholo e Gohloza-Sede, Matchitchi, Marilane, Mbeve, Lango Sábie Sabié Rengué Macaene Malengane Matunganhane Vila, Corrumana, Chavane, Lingongolo, Incomanine, Mulombo I, Mulombo II, Mafufine, Valha, Chicuvati,Rengué,Mucacaze,Mucambo, Goane II, Colela, Bandoia, Nwamanhanga, Muburo, Chinhanguanine, Gueva, Malengane Estação,População dispersa. 36 4.2. Breve historial do Microcrédito Hluvuku Um ano após o fim do conflito armado em Moçambique (1992), a OXFAM Intermon-uma ONG espanhola- implantou um projecto de emergência que visava recuperar as infra-estruturas destruídas durante o conflito no distrito de Matutuine3 e criar as condições mínimas necessárias para que as populações refugiadas, que regressavam à zona, reiniciassem as suas vidas. O projecto de emergência consistia em financiar micro-empresas da região e pequenos empreendedores para a recuperação das suas actividades produtivas. Esse financiamento foi concedido, numa primeira fase, em regime de fundo perdido. Posteriormente, e porque a procura de ajuda financeira na região aumentou, o projecto passou a ter o retorno do dinheiro emprestado acrescido dos juros, os quais, serviam para cobrir os custos de gestão do fundo ou para sua ampliação. O projecto de emergência terminou em 2001 e neste ano, nasce a HLUVUKU4-ADSEMA, uma associação de âmbito distrital e pessoa colectiva sem fins lucrativos, voltada para o desenvolvimento socio-económico das comunidades onde se encontrava inserida nos distritos de Matutuíne e de Catembe-província e cidade de Maputo, e em 2014 estendeu-se para o distrito de Moamba. 4.2.1. Grupo-alvo O Microcrédito Hluvuku concede crédito para as áreas de agro-pecuária, pesca, comércio e serviços, habitação e bens de consumo. São clientes elegíveis, os cidadãos que tenham a partir de 18 anos idade que queiram desenvolver actividades viáveis e/ou que já as desenvolvam e pretendam aumentar o seu capital circulante ou melhorar infra-estruturas, adquirir novos equipamentos ou mercadorias ou ainda melhorar as suas condições de habitação. 3 Um dos distritos da província de Maputo. 4 Significava desenvolvimento em “ronga”, uma das línguas nacionais, faladas na região sul de Moçambique. 37 4.2.2. Elementos estratégicos do Microcrédito Hluvuku Missão Melhorar as condições socio-económicas da população da província de Maputo providenciando serviços financeiros sustentáveis de alta qualidade com zelo, competência e profissionalismo a pessoas de baixa renda com capacidade e actividades viáveis. Visão Liderar a oferta de serviços financeiros sustentáveis às populações rurais na província de Maputo. Valores Tabela 3: Valores do Microcrédito Hluvuku Valores Descrição Transparência e Honestidade Na prestação de contas pela utilização de serviços financeiros internos e externos da organização. Competência e Profissionalismo Na prestação de serviços financeiros aos seus clientes e na implementação e monitoria das actividades definidas no seu plano estratégico e planos operacionais. Flexibilidade e Disponibilidade Nas mais diversas realizações para às quais a Hluvuku é chamada a intervir nos mercados onde actua. Espírito de equipa e Solidariedade Não só no que concerne às equipes de trabalho interno, mas também no seu contributo para a comunidade onde se insere. Sigilo e Compromisso Em todos os actos relacionados directa ou indirectamente coma actividade da Hluvuku, particularmente na relação com seus clientes. 38 Igualidade de Oportunidades Para todos os potenciais clientes internos ne externos da organização, priorizando as questões de gênero na sua actuação. Dinamismo e Excelência Na prossecução da sua visão e missão, dos objectivos gerais e específicos e das actividades definidas para a organização. Responsabilidade e Humildade Nas suas acções de carácter social salvaguardando sempre um bom relacionamento com a comunidade em que se encontra inserida. Fonte: Microcrédito Hluvuku Objectivo Financiar para desenvolver a população com actividades economicamente activas. 4.3. Microcrédito Hluvuku-Distrito de Moamba O Microcrédito Hluvuku iniciou as suas actividades no distrito de Moamba em 2014, com o objectivo de promover o desenvolvimento socio-económico, providenciando serviços financeiros a pessoas economicamente activas. 4.3.1. Gestão de risco de crédito no Microcrédito Hluvuku-distrito de Moamba Segundo o ponto de vista do Microcrédito, risco de crédito é a possibilidade de ocorrência de perdas associadas ao não cumprimento pelo mutuário de suas respectivas obrigações financeiras nos termos acordados. Para o microcrédito o risco de crédito ou o não cumprimento dos compromissos por parte dos clientes resultam em perdas financeiras, pelo facto de ter-se concedido o crédito ao cliente mas por sua vez não há retorno porque simplesmente o cliente não fez o pagamento da dívida contraída. É por esta razão que os microcréditos devem ter capacidade para saber definir os critérios de selecção de indivíduos a financiar. Para o Microcrédito Hluvuku os critérios de legibilidade para um individuo ser concedido o crédito são: 39 Idoneidade; Ser residente no distrito a mais de 6 meses; Ter uma fonte de renda segura; Ter boa reputação na comunidade. Além disso, o Microcrédito distingue o bom tomador do mau tomador através do historial do crédito se for o caso do tomador subsequente e através de informações colhidas na comunidade como referido anteriormente, se for o caso de um tomador primário. O tempo que o Microcrédito leva para aprovar o empréstimo a partir do momento da sua candidatura do tomador é de 10 dias uteis. Apos a cedência de credito ao tomador é necessário que se faca o devido monitoramento para garantir que o mesmo venha a cumprir com o seu compromisso. No Microcrédito Hluvuku o monitoramento é feito através da informação fornecida pelo Sistema de Gestão de Crédito e visitas rotineiras ao tomador que podem acontecer de 3 ou 7 dias apos a cedência do empréstimo. No Microcrédito Hluvuku os clientes têm destinado mais os seus empréstimos na Agricultura, comercio, pecuária, bens de consumo, habitação e actividades sociais e a que tem mais inadimplência é a agricultura. Tabela 4: Evolução dos empréstimos concedidos pelo Microcrédito Hluvuku de 2016-2018 Descrição Nº total de contratos Percentagem 2016 533 33% 2017 553 34% 2018 549 33% TOTAL 1635 100% Fonte: Microcrédito Hluvuku Os dados acima revelam a evolução dos empréstimos que o microcrédito Hluvuku no distrito de Moamba concedeu aos seus clientes a partir de 2016 a 2018. É possível notar que em 2016 houve empréstimos com percentagem correspondente a 33% e por sua vez no ano de 2017 o 40 número de empréstimos aumentam a uma percentagem que corresponde a 34% mas no ano de 2018 a um declínio do número de empréstimos para 34%. Tabela 5: Evolução das inadimplências dos tomadores nos períodos de 2016-2018 Descrição Nº total de contratos Nº de contratos em incumprimento Percentagem 2016 533 133 31% 2017 553 133 31% 2018 549 170 38% TOTAL 1635 436 100% Fonte: Microcrédito Hluvuku Analisando a informaçãoacima supracitada pode-se entender que entraram em incumprimento 133 clientes que corresponde a 31% em 2016, tendo mantido a mesma percentagem de contratos em incumprimento no ano de 2017 e por sua vez no ano de 2018 houve aumento de contratos em incumprimento para 170 que dispararam em 38%. Segundo o Microcrédito Hluvuku no distrito de Moamba os clientes têm destinado os seus empréstimos na agricultura, comercio, pecuária, bens de consumo, habitação e actividades sociais, e dentre estas áreas a que tem mais inadimplências é a agricultura por ser uma área de incerteza e alto risco. 4.3.2. Estratégias adoptadas pelo Microcrédito Hluvuku no distrito de Moamba para reduzir o risco de crédito Segundo informações prestadas pelo Microcrédito, as estratégias usadas para reduzir o risco de crédito são: a) Formação de seus colaboradores Pessoas formadas tem uma visão diferenciada de pessoas analfabéticas. E se formar com qualidade estas pessoas são capazes de perceber com facilidade os riscos inerentes a este financiamento. O microcrédito Hluvuku pauta na formação constante de seus colaboradores com vista a lidar com o dilema das inadimplências por parte dos tomadores de credito, pois um 41 colaborador sem conhecimento esta propenso a diversos erros no âmbito de cedência de empréstimos tal como dar credito a clientes que não deveriam ter. b) Padronização dos créditos de acordo com o grupo alvo Padronização dos créditos refere-se aos limites estabelecidos pelo microcrédito no âmbito da cedência do empréstimo. O Microcrédito Hluvuku concede o crédito aos tomadores em conformidade com a zona onde se encontra inserido, nas condições e actividades que se praticam nessa mesma zona, pois evita conceder altos valores monetários a clientes que não vão conseguir honrar com o seu compromisso. c) Análise da capacidade de amortização Capacidade de amortização é a disponibilidade financeira que o cliente tem de amortizar a dívida mensalmente, bem como o tempo a levar para fazer o pagamento da dívida contraída. No âmbito de cedência do empréstimo o cliente é questionado sobre a sua capacidade de amortização para poder se fazer o cálculo da taxa de juro a ser aplicada. d) Análise dos pedidos de crédito De acordo com a capacidade de amortização do tomador o Microcrédito Hluvuku analisa até quanto de crédito deverá ceder tomando como base todas as rendas bem como os gastos/despesas incorridas pelo cliente mensalmente. Seria um grande risco se o Microcredito não fizesse o balanço da capacidade de amortização com o crédito pedido pelo tomador, pois podia fazer a cedência de altos valores monetários sendo que o tomador tem fraca capacidade para amortizar o mesmo. e) Acompanhamento/monitoramento ao tomador Segundo o microcrédito Hluvuku, sistema é um conjunto de partes (recursos, pessoas, bens, software e hardware) envolvidas com finalidade de obter algo e comum. Para poder fazer o acompanhamento dos seus clientes o microcrédito Hluvuku dispõe do aplicativo LPF-Loan Perform como Sistema software, é uma base de dados de clientes que contém informações obtidas durante a composição do processo de crédito até o fim do pagamento da dívida. Então este Sistema de gestão de crédito funciona de modo a resumir a informação do dia de pedido de crédito, 42 montante, taxas, períodos, garantias, atrasos, até o fim do pagamento da dívida. Além disso o Microcrédito tem feito visitas de aplicação do montante pedido apos uma ou duas semanas da cedência do credito onde buscam averiguar se realmente o montante foi aplicado segundo o motivo que o levou o cliente a pedir o financiamento. 4.4. Análise e Interpretação de resultados da pesquisa Gráfico 1: Fins pelos quais os clientes do Microcrédito têm destinado mais os seus empréstimos Fonte: Microcrédito Hluvuku Os clientes do Microcrédito Hluvuku residentes no distrito de Moamba são geralmente pessoas de baixa renda e maior parte deles dedicam-se ao cultivo da terra (agricultura). Conforme a informação elucidada no gráfico acima, 83% dos colaboradores respondeu que os clientes destinam os seus empréstimos obtidos junto ao Microcrédito Hluvuku na agricultura e 17% no comércio. A agricultura é uma actividade de incertezas e de alto risco devido a vários factores que podem influenciar na colheita, sendo assim os clientes podem não ter o retorno esperado das suas actividades comprometendo desta maneira o pagamento da dívida contraída, é por esta razão que os Microcréditos devem adoptar estratégias com vista a lidar com situações desta natureza. 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 Agricultura Comércio Consumo Habitação 83% 17% 0% 0% 43 Gráfico 2: Área viável e rentável para o Microcrédito ceder o empréstimo Fonte: Microcrédito Hluvuku O Microcrédito tem cedido mais o seu crédito para o sector de comércio por ser uma área que pode gerar altos lucros dependendo do tipo de negócio que o cliente apostar. É um risco muito grande quando as instituições microfinanceiras não buscam informações da aplicação do crédito no âmbito da cedência, pois a busca de informação desta natureza possibilita avaliar se haverá retorno do crédito concedido ou não. Tabela 6: As medidas adoptadas pelo Microcrédito Hluvuku para reduzir o risco de crédito são eficazes? Colaboradores do Microcrédito Hluvuku- Moamba Respostas Número Percentagem Sim 6 100% Não 0 0% Total 6 100% Fonte: Microcrédito Hluvuku 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Agricultura Comércio Consumo Habitação 44 Conforme as respostas acima evidenciadas, todos colaboradores do Microcrédito Hluvuku no distrito de Moamba acreditam que as medidas/estratégias adoptadas pelo Microcrédito são eficazes para reduzir o risco de crédito. Uma instituição microfinanceira que não dispõe de estratégias eficazes para reduzir o risco de crédito caminha a passos galopantes para decretar insolvência pois não saberá fazer a acepção dos bons tomadores dos maus e por sua vez não haverá retorno do crédito concedido. O Microcrédito Hluvuku no distrito de Moamba dispõe de estratégias que possibilitam a selecção dos bons tomadores do que dos maus bem como um sistema de controlo eficiente. Tabela 7: Após a cedência do empréstimo, o Microcrédito tem feito o devido monitoramento aos seus clientes? Colaboradores do Microcrédito Hluvuku- Moamba Respostas Número Percentagem Sim 6 100% Não 0 0% Total 6 100% Fonte: Microcrédito Hluvuku É muito importante que os Microcréditos façam o monitoramento/controlo dos clientes apos a cedência do empréstimo para poder acompanhar o processo de pagamento deles no que tange ao cumprimento de prazos e possivelmente detectar os que estão se tornando inadimplentes. Segundo os colaboradores do Microcrédito Hluvuku no distrito de Moamba tem sido feito o devido monitoramento dos clientes após a cedência do empréstimo oque faz com que haja a recuperação do credito concedido por parte do microcrédito usando o aplicativo LPF-Loan Perform como Sistema software, é uma base de dados de clientes que contém informações obtidas durante a composição do processo de crédito até o fim do pagamento da dívida, não só mas também através de visitas de aplicação do montante pedido após uma ou duas semanas da cedência do crédito onde buscam averiguar se realmente o montante foi aplicado segundo o motivo que o levou o cliente a pedir o financiamento. 45 5. CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES 5.1. Conclusão O presente trabalho de pesquisa buscou analisar as estratégias adoptadas pelas instituições microfinanceiras para a redução do risco de crédito onde fez-se um estudo no Microcrédito Hluvuku que este encontra-se instalado no distrito de Moamba. Apos a fundamentação teórica bem como análise no campo de estudofoi possível constatar que as instituições microfinceiras precisam de adoptar estratégias eficazes para poder reduzir o risco de crédito visto que os tomadores de microcrédito são tipicamente trabalhadores por conta-própria, empreendedores de baixo rendimento tanto das áreas urbana ou rural. Exercem actividades económicas de comerciantes, vendedores de rua, pequenos agricultores, provedores de serviços (cabeleireiros, motoristas), artesãos e pequenos produtores. Usualmente as suas actividades propiciam-lhes uma instável fonte de rendimento (obtido, em muitos casos, com o acumular de turnos de trabalhos) (LEDGERWOOD apud PSICO 2010) Para tal é necessário que os Microcréditos busquem de uma forma profunda informações que possam ajudar na avaliação da capacidade amortização do empréstimo por parte dos tomadores Segundo RODRIGUES (2012), esta informação deve ser rigorosa e transparente e permitir a comparação com diferentes alternativas de crédito, procurando a adequação dos produtos de crédito ao perfil de risco do cliente. Estas preocupações decorrem da constatação de que uma rigorosa avaliação da capacidade financeira do cliente por parte das instituições de crédito, adequando os produtos às suas características, contribui para prevenir o endividamento e incumprimento do crédito. Para responder a este dilema de risco de crédito o Microcrédito Hluvuku-distrito de Moamba busca aposta na Formação constante de seus colaboradores, padronização dos créditos de acordo com o grupo alvo, análise da capacidade de amortização, análise dos pedidos de crédito, bem como fazer o devido acompanhamento ou monitoramento ao tomador, oque pode se concluir que estas estratégias que o microcrédito adopta ajudam a reduzir o risco de crédito, desta forma valida-se a hipótese afirmativa que diz: As estratégias adoptadas pelo Microcrédito Hluvuku são eficazes para a redução do risco de crédito através das informações colectadas que tornam os tomadores credíveis 46 ou não no âmbito da concessão de crédito, contribuindo desta forma para o desenvolvimento económico local. 5.2. Recomendações Apesar das estratégias que o microcrédito Hluvuku-distrito de Moamba adopta serem eficazes na redução do risco de crédito, é necessário que se observe os pontos a seguir: Algumas das análises sobre o risco de créditos no Microcrédito Hluvuku são feitas pelos gestores de clientes, considerando que estes estão em constante contacto com o cliente nas operações do dia-a-dia, melhor seria se todas as análises inerentes ao risco de crédito fossem desenvolvidas por alguém fora do alcance do cliente para garantir imparcialidade; Criação de espaço para formação constante (mensalmente) de colaboradores sobre técnicas de gestão de risco de crédito, pois é muito importante que todos tenham conhecimento dos elementos que identificam um tomador não credível, sendo assim a decisão será mais acertada; Incentivar as comunidades através de palestras na criação de “Grupos Solidários.” 47 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARMENDÁRIZ, Beatriz; MORDUCH, Jonathan. The economics of microfinance; BETING, J. Juros do Sorveteiro. O Estado de São Paulo, 2003; BRUSKY, B. FORTUNA, J.P. Entendendo a Demanda para as Microfinanças no Brasil: um Estudo Qualitativo em Duas Cidades. Rio de Janeiro: Programa de Desenvolvimento Institucional – BNDES, 2002; CABIDO, Jacinto, Gestão do Crédito Bancário, 1ªedição, Lisboa, 1999; DOS SANTOS, J. O. Análise de Crédito: empresas, pessoas físicas, varejo, agronegócio e pecuária. 6ᵃ Edição. São Paulo, Atlas. 2015; D’ONOFRIO, S.TILLMAN, B.; SUMMERLIN, R. Técnicas de Gestão Microfinanceiras. Rio de Janeiro: Programa de Desenvolvimento Institucional – BNDES, 2002; FERREIRA, A. B. de H. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1995; FERREIRA, Domingos. Finanças Tóxicas e Crises Financeiras: derivados e produtos estruturados de crédito. Ed. Rei dos Livros. Portugal. 2014; FIRMINO, Manuel B. Gestão das Organizações: Conceitos e tendências actuais. Lisboa. Escolar Editora. 2010; FREIRE, Adriano. Estratégia: sucesso em Portugal. Lisboa. Editorial Verbo. 2000; GASPAR, et al. Dicionário de Gestão. Lisboa. Escolar Editora. 2014; GIL, A. Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6ª ed. Editora Atlas. São Paulo, 2008; GOLDMARK, L.; VECHINA, D.; POCKCROSS, S. A Situação das Microfinanças no Brasil. Rio de Janeiro: Material Preparatório para o I Seminário Internacional de Microfinanças – BNDES, 2000; GOLDMARK, L.; NICHTER, S. FIORI, A. Entendendo as Microfinanças no Contexto Brasileiro. Rio de Janeiro: Programa de Desenvolvimento Institucional – BNDES, 2002; 48 GITMAN, Lawrence J. Princípios de administração financeira. 12 ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2010; Instituto Nacional De Estatística-2019; LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Pesquisa. In: __. Técnica de Pesquisa. 3ed. rev.eampl. São Paulo: Atlas, 2003; LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Pesquisa. Técnica de Pesquisa. 5ed. São Paulo: Atlas, 2002; MEGLIORINI, Evandir; VALLIM, Marco A. Administração financeira: uma abordagem brasileira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009; Ministério da Administração Estatal, Perfil do distrito de Moamba, 2005- Disponível na Internet em: http://www.govnet.gov.mz/ NERI, Marcelo. Microcrédito: o mistério Nordestino e Grameen Brasileiro. 1ᵃ Edição, Brasil. 2008; PSICO, J. A. T. Microfinancas: Solução para o combate à pobreza?. Lisboa. Escolar Editora. 2010; RODRIGUES, Jorge. Gestão estratégica das instituições financeiras. Lisboa. Escolar Editora. 2012; SAMUELSON, P. A., NORDHAUS, W.D. Economia. 19. Ed. Liboa. Bookman. 2012; SANTOS, José Odálio, Análise de Crédito: Empresas, Pessoas Físicas, Agronegócio e Pecuária, Editora Atlas S.A., 3ª edicao, São Paulo, 2010; SANTOS, António J.R. Gestão Estratégica: conceitos, modelos e instrumentos. Lisboa. Escolar Editora. 2008; SCHRICKEL, Wolfgang Kurt, Analise de Credito: Concessão e Gerência de Empréstimos, Editora Atlas S.A., São Paulo, 1994; SECURATO, J. R. Análise e avaliação do risco: Pessoas físicas e jurídicas. 2ᵃ Edição. São Paulo, Saint Paul Editora. 2012; http://www.govnet.gov.mz/ 49 SILVA, José Pereira da. Gestão e análise de risco de crédito. 5 Ed. São Paulo: Atlas, 2006 Posto Administrativo da Moamba-Sede, 2017; TEIXEIRA, Sebastião. Gestão das Organizações. 3.ed. Lisboa. Escolar Editora. 2013; TEIXEIRA, Sebastião. Gestão Estratégica. Lisboa. Escolar Editora. 2014; VALGY, I. I. C. I. Microfinanças em Moçambique: Estudo do perfil do Utilizador na Cidade de Maputo; VENTURA, Eloy Câmara. A evolução do crédito da Antiguidade aos dias atuais. Curitiba: Juruá, 2000. 50 7. Anexos ANEXOS 51 Anexo 1: Modelo de Entrevista para os Gestores, Técnicos da área de crédito do M. H. MODELO DE ENTREVISTA PARA OS GESTORES, TÉCNICOS DA ÁREA DE GESTÃO DE CRÉDITO DO MICROCRÉDITO HLUVUKU A presente entrevista tem como objectivo colher informações relacionadas com as estratégias adoptadas pelo Microcrédito Hluvuku para reduzir o risco de crédito no distrito de Moamba. A entrevista insere-se no âmbito de uma pesquisa destinada à elaboração da monografia científica para a conclusão do Curso de Licenciatura em Gestão de Empresas com Habilitações em Gestão Financeira. As suas respostas serão tratadas e usadas somente para efeitos de pesquisa, garantindo o anonimato, o sigilo e a confidencialidade das informações prestadas. 1. Quando iniciou a actividade do Microcredito e qual foi a razão da sua criação? 2. Conceito de risco de crédito para o Microcrédito? 3. Quais são os constrangimentos trazidos pelo risco de crédito no Microcrédito? 4. Quais os critérios de
Compartilhar