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1 Caio Takano FUNDAMENTOS DA TRIBUTAÇÃO PARTE 3 SUMÁRIO 1. Crédito e lançamento tributário 1.1 Crédito tributário 1.2 Lançamento tributário e suas modalidades 1.3 Legislação aplicável ao lançamento 1.4 Revisão do lançamento 2. Suspensão, extinção e exclusão do crédito tributário 2.1 Suspensão do crédito tributário 2.1.1. Moratória 2.1.2. Depósito do montante integral 2.1.3. Reclamações e recursos administrativos 2.1.4. Medidas liminares ou tutelas antecipatórias 2.1.5. Parcelamento 2.2 Extinção do crédito tributário 2.2.1 Formas de extinção do crédito tributário pelo pagamento 2.2.2 Formas de extinção do crédito tributário pelo decurso do tempo 2.2.3 Formas de extinção do crédito tributário por decisões definitivas 2.2.4 Outras formas de extinção do crédito tributário 2.3 Exclusão do crédito tributário 2.3.1 Anistia 2.3.2 Isenção 3. Fiscalização e as garantias e privilégios do crédito tributário 3.1 Fiscalização tributária 3.2 Dívida ativa 3.3 Privilégios e preferências do crédito tributário 3.4 Garantias do crédito tributário 3 1. CRÉDITO E LANÇAMENTO TRIBUTÁRIO 1.1 Crédito tributário A ideia de que exista uma obrigação tributária já pressupõe existência de um crédito como elemento intrínseco a ela. A distinção entre o momento do nascimento da obrigação e o momento em que nasce o respectivo crédito é criticável, pois o crédito nada mais é do que o direito subjetivo do credo, dentro de uma relação jurídica. No entanto, o Código Tributário Nacional faz a distinção entre “obrigação tributária” e “crédito tributário”, cabendo ao intérprete compreender a distinção entre esses dois institutos. Para Paulo de Barros Cavalho (2013), o crédito tributário ostenta a relação de parte para com o todo em relação à obrigação tributária, possuindo a mesma natureza (art. 139 do CTN). Crédito é a denominação dada pelo CTN à obrigação tributária, sob o ângulo do sujeito ativo, consistente no direito de crédito do Fisco, já apurado e dotado de certeza e liquidez, e, portanto, exigível. Obrigação é o próprio vínculo entre Fisco e contribuinte, que surge com o fato gerador. Em verdade, crédito tributário e obrigação tributária são dois lados da mesma realidade: a obrigação é o vínculo jurídico que nasce com a ocorrência do fato gerador; o crédito surge com a determinação e a quantificação da obrigação tributária (SCHOUERI, 2019, p. 647). Ainda que, por um lado, o CTN confira individualidade para o “crédito tributário”, dissociando-o da respectiva obrigação, por outro, esse mesmo código reconhece a sua imbricada relação de pertinência, ao dispor, em seu art. 140, que “as circunstâncias que modificam o crédito tributário, sua extensão ou seus efeitos, ou as garantias ou os privilégios a ele atribuídos, ou que excluem sua exigibilidade não afetam a obrigação tributária que lhe deu origem”. 1.2 Lançamento tributário e suas modalidades O lançamento tributário é o ato administrativo, de competência do Fisco, que tem como finalidade constituir o crédito tributário. Esse ato decorre de um procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo o caso, propor a aplicação da penalidade cabível, nos termos do art. 142 do CTN1. 1 Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Parágrafo único. A atividade administrativa de lançamento é vinculada e obrigatória, sob pena de responsabilidade funcional. 4 Assim, tem-se que o lançamento decorre de um procedimento de investigação e determinação da obrigação tributária, compreendendo uma sequência de atos tendentes à individualização da relação de crédito. O lançamento é o ato final, pelo qual se dá a constituição do crédito tributário, conferindo-lhe certeza e liquidez. Do dispositivo legal, constata-se que o lançamento tem como finalidade: (i) verificar a ocorrência da obrigação tributária; (ii) determinar a matéria tributável; (iii) identificar o sujeito passivo; (iv) calcular o montante do tributo devido; e (v) se for o caso, propor a aplicação da penalidade cabível. Quanto às suas modalidades, o lançamento pode ser: (i) de ofício (art. 149 do CTN); (ii) por declaração (art. 147 do CTN); ou (iii) por homologação (art. 150, §4º do CTN), a depender da participação do sujeito passivo na apuração da obrigação tributária e na constituição do respectivo crédito. No lançamento de ofício, a própria Administração Tributária apura o montante do tributo devido e constitui o respectivo crédito tributário (exemplificativamente, é o que ocorre com o IPTU, em que a própria Municipalidade apura o montante de imposto devido e encaminha o carnê ao contribuinte, com informações sobre os critérios de apuração e o montante a ser pago). Aplica-se nas hipóteses em que próprio legislador assim estabeleceu na legislação de regência ou nas hipóteses em que houver falha do contribuinte na prestação de alguma informação relevante na apuração do tributo (em regra, culminando num auto de infração). Inclusive, neste último caso, se a referência para o cálculo do tributo fornecida pelo contribuinte não for confiável (por exemplo, em razão de irregularidade ou omissão), poderá proceder ao arbitramento, nos termos do art. 148 do CTN2, consistente num verdadeiro instrumento para descoberta efetiva da base de cálculo do tributo. Já no lançamento de ofício, a Administração Tributária ainda é quem realiza o ato constitutivo do crédito tributário, mas o faz com a colaboração do contribuinte, que lhe entrega uma declaração com as informações necessárias para a compreensão da exata dimensão do fato gerador. É o caso do imposto de importação, em que a mera entrega da declaração para a autoridade alfandegária não constitui o crédito tributário e não implica a obrigação de o contribuinte recolher o tributo. Somente será exigível o imposto no caso de o próprio agente fiscal constituir o crédito tributário e exigir o imposto devido, mediante autuação. Por fim, no lançamento por homologação, a legislação atribui ao sujeito passivo o dever de antecipar o pagamento sem prévio exame da autoridade administrativa. Ou seja, é o próprio sujeito ativo que procede à apuração do tributo devido e constitui o crédito tributário, recolhendo o tributo devido. Ao Fisco, cabe a tarefa de, tomando conhecimento da atividade exercida pelo sujeito passivo, verificar se a constituição do crédito foi realizada de forma correta e se o pagamento antecipado realizado é suficiente para extinguir o crédito formalizado. Em caso positivo, a autoridade fiscal homologa o lançamento realizado 2 Art. 148. Quando o cálculo do tributo tenha por base, ou tome em consideração, o valor ou o preço de bens, direitos, serviços ou atos jurídicos, a autoridade lançadora, mediante processo regular, arbitrará aquele valor ou preço, sempre que sejam omissos ou não mereçam fé as declarações ou os esclarecimentos prestados, ou os documentos expedidos pelo sujeito passivo ou pelo terceiro legalmente obrigado, ressalvada, em caso de contestação, avaliação contraditória, administrativa ou judicial 5 pelo contribuinte, o que pode ocorrer de forma expressa ou tácita (em regra, dentro do prazo de cinco anos a contar da ocorrência do fato gerador3). Cabe recordar que o Superior Tribunal de Justiça assentou entendimento de que o débito declarado e não pago prescinde de lançamento de ofício por parte do Fisco para se devidamente cobrado (STJ Resp 94.603/SP, Resp 752.787/SP), bem como tem o condão para impedir a emissão de certidão negativa em nome do contribuinte(Súmula 446 do STJ). 1.3 Legislação aplicável ao lançamento De acordo com o art. 144 do CTN, o “lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada”. Assim, em relação à legislação aplicável para a constituição do crédito tributário, aplica-se aquela vigente à época da ocorrência do fato gerador. A única exceção consta no próprio dispositivo, nos casos em que a legislação “tenha instituído novos critérios de apuração ou processos de fiscalização, ampliado os poderes de investigação das autoridades administrativas, ou outorgado ao crédito maiores garantias ou privilégios”, hipótese na qual aplica-se a legislação posterior ao lançamento4. 1.4 Revisão do lançamento Uma vez que o sujeito passivo esteja regularmente notificado, o lançamento poderá ser alterado apenas em virtude de processo administrativo (por força de impugnação do sujeito passivo ou recurso de ofício), ou por iniciativa de ofício da autoridade administrativa, nos casos previstos no artigo 149 do CTN5, e desde que não tenha se esgotado o prazo decadencial6. 3 CTN. Art. 150, § 4º Se a lei não fixar prazo à homologação, será ele de cinco anos, a contar da ocorrência do fato gerador; expirado esse prazo sem que a Fazenda Pública se tenha pronunciado, considera-se homologado o lançamento e definitivamente extinto o crédito, salvo se comprovada a ocorrência de dolo, fraude ou simulação. 4 Art. 144. O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege- se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada. § 1º Aplica-se ao lançamento a legislação que, posteriormente à ocorrência do fato gerador da obrigação, tenha instituído novos critérios de apuração ou processos de fiscalização, ampliado os poderes de investigação das autoridades administrativas, ou outorgado ao crédito maiores garantias ou privilégios, exceto, neste último caso, para o efeito de atribuir responsabilidade tributária a terceiros. 5 Art. 149. O lançamento é efetuado e revisto de ofício pela autoridade administrativa nos seguintes casos: I - quando a lei assim o determine; II - quando a declaração não seja prestada, por quem de direito, no prazo e na forma da legislação tributária; III - quando a pessoa legalmente obrigada, embora tenha prestado declaração nos termos do inciso anterior, deixe de atender, no prazo e na forma da legislação tributária, a pedido de esclarecimento formulado pela autoridade administrativa, recuse-se a prestá-lo ou não o preste satisfatoriamente, a juízo daquela autoridade; IV - quando se comprove falsidade, erro ou omissão quanto a qualquer elemento definido na legislação tributária como sendo de declaração obrigatória; V - quando se comprove omissão ou inexatidão, por parte da pessoa legalmente obrigada, no exercício da atividade a que se refere o artigo seguinte; VI - quando se comprove ação ou omissão do sujeito passivo, ou de terceiro legalmente obrigado, que dê lugar à aplicação de penalidade pecuniária; VII - quando se comprove que o sujeito passivo, ou terceiro em benefício daquele, agiu com dolo, fraude ou simulação; VIII - quando deva ser apreciado fato não conhecido ou não provado por ocasião do lançamento anterior; IX - quando se comprove que, no lançamento anterior, ocorreu fraude ou falta funcional da autoridade que o efetuou, ou omissão, pela mesma autoridade, de ato ou formalidade especial. 6 Art. 149. Parágrafo único. A revisão do lançamento só pode ser iniciada enquanto não extinto o direito da Fazenda Pública. 6 AULA VIRTUAL 7 https://fipecafi.blackboard.com/bbcswebdav/library/V%C3%ADdeos/GTB/TCF/Fundamentos%20da%20Tributa%C3%A7%C3%A3o/Fundamentos%20da%20tributa%C3%A7%C3%A3o%20-%20Aula%2007.html 7 2. SUSPENSÃO, EXTINÇÃO E EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO 2.1 Suspensão do crédito tributário Uma vez constituído o crédito tributário, ele se torna exigível. No entanto, há algumas situações, previstas no art. 151 do Código Tributário Nacional, que tem o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário enquanto perdurarem. São elas: (i) moratória; (ii) depósito do montante integral; (iii) reclamações e recursos administrativos; (iv) medidas liminares; (v) parcelamento. 2.1.1. Moratória Trata-se da concessão de novo prazo para cumprimento da obrigação tributária (prorrogação), em razão de uma situação excepcional, como uma calamidade, catástrofe ou situação assemelhada. Na moratória, não há renúncia, mas simplesmente uma dilação no prazo, pois a cobrança do imposto implicaria um sacrifício exagerado aos sujeitos passivos afetados pela situação excepcional. Sempre depende de lei para sua concessão (legitimidade popular), que deverá dispor sobre os critérios para a sua concessão, bem como poderá circunscrever seu campo de atuação, restringindo a uma região do território (aquela atingida pelo mal). Ela pode ser concedida em caráter geral, pelo ente que detenha a competência para exigir o tributo ou pela União Federal, abrangendo todos os contribuintes daquele território. Ou ainda, poderá ser concedida em caráter individual, por despacho da autoridade autorizada por lei. 2.1.2. Depósito do montante integral O depósito do montante integral do débito é um ato voluntário do sujeito passivo que tem como objetivo suspender a exigibilidade do crédito tributário, sendo feito no âmbito judicial. Trata-se de depósito de entrega de valores a título precário, que não tem o condão de extinguir o crédito tributário porque este, neste momento, é objeto de discussão judicial. Apenas caso o crédito tributário seja confirmado é que haverá a conversão do depósito em renda do sujeito ativo, operando-se a quitação da obrigação tributária (conforme art. 156, inc. VI CTN). 2.1.3. Reclamações e recursos administrativos As reclamações e os recursos administrativo igualmente têm o condão de suspender a exigibilidade do crédito tributário, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo. Isso porque o processo administrativo fiscal é uma hipótese de revisão do ato administrativo pela própria Administração Pública, razão pela qual a própria liquidez do crédito tributário está em xeque até que venha a ser confirmado pela Administração. Assim, enquanto perdurar o processo administrativo fiscal, fica 8 suspensa a cobrança do crédito tributário, evitando-se que se cobre por algo que venha a ser, posteriormente, modificado ou extinto. 2.1.4. Medidas liminares ou tutelas antecipatórias A concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, no âmbito de uma ação judicial, também tem como efeito a suspensão da exigibilidade do crédito tributário. Tratando-se de ordem judicial de caráter provisório que tem como objetivo assegurar os direitos reivindicados pela parte, concedido de forma precária sem uma análise exauriente do processo, não tem o condão de extinguir o crédito, mas apenas de suspendê-lo até que a decisão do mérito seja proferida de forma definitiva. 2.1.5. Parcelamento O parcelamento tem natureza jurídica de moratória específica, com condições, forma de pagamento e prazos previstos em lei. Assim como a moratória, suspende a exigibilidade do débito tributário, mas não exclui juros e multas, tal como prevê o art. 155-A do CTN7. Importante destacar que muitos parcelamentos exigem, como condição para sua celebração, a confissão dos débitos tributários e eventual desistência de ações judiciais sobre o mérito do crédito tributário que está sendo parcelado. Entretanto, como tem decidido o Superior Tribunal de Justiça, a confissão restringe-se exclusivamente à ocorrência do fato gerador, não quanto aos efeitos jurídicos dele decorrentes. Ou seja, confessa-se, por exemplo, que realizou uma circulação de mercadorias tributável, mas não os juros que estão sendo exigidos em desconformidade com a legislação. Consoante a jurisprudência daquela Corte Superior: “Se a partereconhece a prevalência de dívida tributária, parcelando-a, fica impedida de discutir os aspectos fáticos que motivaram a confissão. É possível, entretanto, o questionamento judicial de aspectos da relação jurídico-tributária, como, por exemplo, a aplicabilidade da norma instituidora do tributo”8. 2.2 Extinção do crédito tributário A obrigação tributária nasce com a ocorrência do fato gerador, torna-se exigível com o lançamento tributário, e se extingue com a ocorrência de alguma das hipóteses previstas no art. 156 do CTN, que englobam: (i) formas de extinção do crédito tributário pelo pagamento; (ii) formas de extinção do crédito tributário pelo decurso do tempo; (iii) formas de extinção do crédito tributário por decisões definitivas; (iv) outras formas de extinção do crédito tributário. 7 Art. 155-A. O parcelamento será concedido na forma e condição estabelecidas em lei específica. § 1º Salvo disposição de lei em contrário, o parcelamento do crédito tributário não exclui a incidência de juros e multas. § 2º Aplicam-se, subsidiariamente, ao parcelamento as disposições desta Lei, relativas à moratória. 8 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Recurso Especial nº 1.204.532/RS, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/10/2010, DJe 25/10/2010. 9 2.2.1 Formas de extinção do crédito tributário pelo pagamento Dentre as formas de extinção do crédito tributário pelo pagamento, temos: (i) pagamento em dinheiro; (ii) compensação; (iii) conversão de depósito em renda; (iv) homologação do lançamento; (v) consignação em pagamento; (vi) dação em pagamento. O pagamento em dinheiro é a forma ordinária de extinção do crédito tributário, e deve ser feito, em regra, em até 30 dias após a notificação do lançamento. A compensação não deixa de ser uma forma de pagamento, no entanto, não pelo dinheiro, mas pela compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda pública. É necessário que exista lei ordinária dispondo sobre o procedimento, as condições e as garantias necessárias às autoridades administrativas para que possa ser utilizada em cada caso. Importante salientar que, nos termos do art. 170-A do CTN, “é vedada a compensação mediante o aproveitamento de tributo, objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado da respectiva decisão judicial”. A conversão do depósito em renda igualmente constitui uma forma de pagamento, apenas diferenciando da primeira modalidade de pagamento em dinheiro em razão do local onde o dinheiro utilizado se encontra: nesta modalidade, o dinheiro já está depositado em uma conta judicial e será utilizado para quitação integral do crédito tributário. Na homologação do pagamento, a extinção do crédito tributário se dá após o exame do pagamento realizado antecipadamente pelo sujeito passivo, resultado de sua apuração do tributo e constituição do crédito. A consignação em pagamento pode ocorrer na hipótese: (i) de recusa de recebimento, ou subordinação deste ao pagamento de outro tributo ou de penalidade, ou ao cumprimento de obrigação acessória; (ii) de subordinação do recebimento ao cumprimento de exigências administrativas sem fundamento legal; ou (iii) de exigência, por mais de uma pessoa jurídica de direito público, de tributo idêntico sobre um mesmo fato gerador. Em todos os casos, o sujeito passivo poderá consignar judicialmente o montante devido de tributo e, caso seja julgada procedente a ação do sujeito passivo, o pagamento se reputa efetuado e a importância consignada é convertida em renda. Por último, a dação em pagamento constitui a possibilidade de pagamento mediante dação de bens imóveis, o que foi permitido a partir da vigência da a Lei Complementar nº 104/2001. Entretanto, é necessário que cada ente federativo regulamente a dação em pagamento em lei específica, dispondo sobre a forma e as condições para que haja a quitação do tributo pela entrega de bens imóveis. Na esfera federal, a dação em pagamento encontra-se regulamentada pela Lei nº 13.259/16. 2.2.2 Formas de extinção do crédito tributário pelo decurso do tempo Dentre as formas de extinção do crédito tributário pelo decurso do 10 tempo, temos: (i) decadência e (ii) prescrição. A decadência constitui a perda do direito de a Fazenda Pública constituir o crédito tributário, após o prazo de cinco anos. A data de início da contagem do prazo decadencial pode variar, a depender da modalidade de lançamento aplicável ao tributo ou, se houver decisão que anule, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. Em regra, aplica-se o prazo disposto no art. 173, inc. I do CTN, pelo qual o prazo inicia-se a contar do primeiro dia do exercício seguinte àquele em que o lançamento poderia ter sido efetuado. Assim, o prazo decadencial para um débito de IPTU, referente ao fato gerador ocorrido em 1º de janeiro de 2017, inicia-se em 1º de janeiro de 2018 (pois o lançamento, em tese, poderia ter ocorrido durante todo o exercício de 2017, após a ocorrência do fato gerador). Entretanto, nos tributos sujeitos ao lançamento por homologação, o prazo decadencial começa a contar da ocorrência do fato gerador, desde que não se comprove a ocorrência de dolo, fraude ou simulação por parte do sujeito passivo. Exemplificativamente, o ICMS referente ao mês de fevereiro de 2017 (i.e, em até cinco anos da ocorrência do fato gerador) deve ser homologado ou lavrado auto de infração respectivo até fevereiro de 2022 sob pena de extinção do crédito tributário. Mas caso tenha se verificado que o contribuinte praticou fraude, a contagem se inicia apenas em 1º de janeiro de 2018, o que significa que o novo prazo decadencial se esgota apenas em 1º de janeiro de 2023. Por fim, caso o crédito tributário esteja sendo discutido no âmbito administrativo e seja decidido que houve vício formal no lançamento realizado, culminando em sua anulação e ensejando novo prazo para o lançamento, o prazo para que este novo lançamento ocorra também será de cinco anos, contados da data em que se tornar definitiva a decisão que houver anulado, por vício formal, o lançamento anteriormente efetuado. O vício formal é aquele que não diz respeito aos aspectos materiais da constituição do crédito tributário (base de cálculo, alíquota, legislação aplicável etc.), mas a regras procedimentais para o lançamento tributário (por exemplo, a ausência dos requisitos do art. 142 do CTN, como motivação clara do auto de infração lavrado). A prescrição também é uma forma de extinção do próprio crédito tributário, mas nas hipóteses em que este já tenha sido devidamente constituído pelo lançamento. A partir deste momento, a ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos (art. 174 do CTN). Diferentemente da decadência, há no art. 174 do CTN a previsão de quatro hipóteses em que a prescrição se interrompe (i.e., que a contagem se reinicia completamente): (i) pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; (ii) pelo protesto judicial; (iii) por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; e (iv) por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor. 11 2.2.3 Formas de extinção do crédito tributário por decisões definitivas Dentre as formas de extinção do crédito tributário por decisões definitivas, temos: (i) decisão irreformável e (ii) decisão judicial transitada em julgada. Em ambos os casos, há um órgão competente que, ao término de um processo de discussão sobre o mérito do crédito tributário constituído, decidiu pela sua anulação. A decisão irreformável é aquela proferida no âmbito administrativo da qual não caiba nenhum recurso. A decisão judicial transitada em julgada é aquela proferida no âmbito judicial que, igualmente, é revestida de definitividade, por não haver a possibilidade de se interpor recurso para modificá-la. 2.2.4 Outras formas deextinção do crédito tributário Por fim, como outras formas de extinção do crédito tributário temos: (i) remissão e (ii) transação. A remissão é o perdão do crédito tributário. Como o tributo é um direito indisponível do ente tributante, deve haver lei para a sua concessão, que poderá ser geral ou individual, por intermédio de despacho fundamentado. Já a transação seria a negociação da dívida tributária atual entre o Fisco e o contribuinte, permitindo-se a novação da obrigação tributária. Assim como na remissão, é necessário que haja lei para regulamentar o procedimento administrativo para que se realize a transação. 2.3 Exclusão do crédito tributário O Código Tributário Nacional emprega a expressão “exclusão do crédito tributário” para se referir às duas situações em que o contribuinte estaria “dispensado” de praticar uma das hipóteses de extinção do crédito tributário. São elas a anistia e a isenção. 2.3.1 Anistia A anistia é uma remissão especial que se volta especificamente às penalidades pecuniárias. Necessita de lei para a sua instituição e não admite aplicação prospectiva, ou seja, a anistia somente abrange penalidades pecuniárias referentes a períodos passados. Pode ser concedida pelo ente público em caráter geral ou em caráter específico, neste caso, havendo a necessidade de despacho da autoridade administrativa. Isso deve ocorrer em requerimento por meio do qual o interessado faça prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos, previstos em lei para sua concessão. 2.3.2 Isenção A norma de isenção deve ser necessariamente veiculada por lei e tem como efeito a subtração de parcela do campo de abrangência de 12 uma norma de incidência tributária, de modo que as situações nela previstas deixam de ser objeto de tributação. A isenção pode ser concedida em caráter geral ou em caráter específico. Neste caso, é necessário despacho da autoridade administrativa, devendo o interessado fazer prova do preenchimento das condições e do cumprimento dos requisitos previstos em lei ou do contrato para sua concessão. Ademais, salvo se concedida por prazo certo e em função de determinadas condições, pode ser revogada ou modificada por lei, a qualquer tempo, não gerando direito adquirido. AULA VIRTUAL 8 https://fipecafi.blackboard.com/bbcswebdav/library/V%C3%ADdeos/GTB/TCF/Fundamentos%20da%20Tributa%C3%A7%C3%A3o/Fundamentos%20da%20tributa%C3%A7%C3%A3o%20-%20Aula%2008.html 13 3. FISCALIZAÇÃO E AS GARANTIAS E PRIVILÉGIOS DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO 3.1 Fiscalização tributária A fiscalização tributária não apenas encontra diversos limites no Código Tributário Nacional (lei complementar), mas igualmente na Constituição Federal, de onde se constata a existência de um objeto, uma finalidade e limites específicos. Cabe notar que na Constituição Federal são colocadas as principais balizas ao poder geral de fiscalização pela Administração Tributária. Nesse contexto, é relevante que se investigue o alcance do § 1º do art. 145, in fine, da Constituição Federal: Art. 145. § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. Uma leitura apressada poderia induzir ao entendimento de que a parte final do dispositivo apenas quer significar que a Constituição, querendo os fins (tributação), forneceu os meios (capacidade de fiscalização). Não é esse, entretanto, o teor desse enunciado. Como lembra Luís Eduardo Schoueri, o referido dispositivo tem o escopo de assegurar que a fiscalização ganhe um objeto (identificação do patrimônio, rendimentos e atividades econômicas do contribuinte), uma finalidade (conferência de efetividade aos objetivos de pessoalidade e respeito à capacidade contributiva) e uma limitação (atuar respeitando os “direitos individuais” e os “estritos termos da lei” ), ou seja, é clara a opção do legislador constituinte quanto à prevalência dos direitos individuais do contribuinte, não podendo a Administração Pública, ao exercer suas atividades fiscalizatórias, alegar sua prerrogativa constitucional para fiscalização tributária, em detrimento daqueles direitos (SCHOUERI, 2019, p. 908). Nesse sentido, o Supremo Tribunal Federal ainda reconhece o princípio da livre iniciativa como um limite ao poder de fiscalização, tendo sido editadas três súmulas, afastando qualquer forma de sanção política (súmulas nº 70, 323 e 547): • Súmula 70 – É inadmissível a interdição de estabelecimento como meio coercitivo para a cobrança de tributo. • Súmula 323 – É inadmissível a apreensão de mercadorias como meio coercitivo para pagamento de tributos. • Súmula 547 – Não é lícito à autoridade proibir que o contribuinte em débito adquira estampilhas, despache mercadorias nas alfândegas e exerça suas atividades profissionais. 14 Por fim, há no Código Tributário Nacional uma série de outros limites (previstos nos arts. 194 a 197) que igualmente deverão ser observados pela autoridade fiscal, que preveem limites à atividade fiscalizatória, como o limite temporal para a conclusão do procedimento da fiscalização do art. 196 do CTN9 ou o limite qualitativo de quais livros fiscais podem ser acessados de forma irrestrita pelos fiscais do art. 195 do CTN10. 3.2 Dívida ativa A dívida regularmente inscrita goza da presunção relativa de certeza e liquidez e tem o efeito de prova pré-constituída (art. 204 do CTN)11. Trata-se de formação do título executivo que será objeto de cobrança judicial, razão pela qual se devem cumprir os requisitos mínimos previstos no art. 202 do CTN, quais sejam: (i) o nome do devedor e dos responsáveis; (ii) a quantia devida e a maneira de calcular os juros de mora acrescidos; (iii) a origem e natureza do crédito (com disposição da lei em que seja fundado); (iv) a data em que foi inscrita; (v) sendo o caso, o número do processo administrativo de que se originar o crédito; (vi) a indicação do livro e da folha da inscrição. Em caso de eventuais omissões dos requisitos acima, poderá ser decretada a nulidade da inscrição e do processo de cobrança dela decorrente. No entanto, o próprio Código Tributário Nacional prevê que a nulidade poderá ser sanada até a decisão de primeira instância, mediante substituição da certidão nula, devolvido prazo para defesa ao sujeito passivo12. 3.3 Privilégios e preferências do crédito tributário É amplo o privilégio assegurado ao crédito tributário, alcançando bens gravados por garantia real ou cláusulas de inalienabilidade ou impenhorabilidade. Somente os bens que a lei declare absolutamente impenhoráveis ficam resguardado das pretensões do Fisco (ex.: art. 649 do CC/2002). No que tange à sua preferência em relação a outros créditos, os créditos tributários levam vantagem sobre os demais créditos, exceto os decorrentes da legislação trabalhista ou de acidente de trabalho. Na falência, também não se preferidos aos créditos extraconcursais, 9 Art. 196. A autoridade administrativa que proceder ou presidir a quaisquer diligências de fiscalização lavrará os termos necessários para que se documente o início do procedimento, na forma da legislação aplicável, que fixará prazo máximo para a conclusão daquelas. Parágrafo único. Os termos a que se refere este artigo serão lavrados, sempre que possível, em um dos livros fiscais exibidos; quando lavrados em separado deles se entregará, à pessoa sujeita à fiscalização, cópia autenticada pela autoridade a que se refere este artigo. 10 Art. 195. Para os efeitos da legislação tributária, não têm aplicação quaisquer disposições legais excludentes ou limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos comerciantes industriaisou produtores, ou da obrigação destes de exibi-los. Parágrafo único. Os livros obrigatórios de escrituração comercial e fiscal e os comprovantes dos lançamentos neles efetuados serão conservados até que ocorra a prescrição dos créditos tributários decorrentes das operações a que se refiram. 11 Art. 204. A dívida regularmente inscrita goza da presunção de certeza e liquidez e tem o efeito de prova pré-constituída. Parágrafo único. A presunção a que se refere este artigo é relativa e pode ser ilidida por prova inequívoca, a cargo do sujeito passivo ou do terceiro a que aproveite. 12 Art. 203. A omissão de quaisquer dos requisitos previstos no artigo anterior, ou o erro a eles relativo, são causas de nulidade da inscrição e do processo de cobrança dela decorrente, mas a nulidade poderá ser sanada até a decisão de primeira instância, mediante substituição da certidão nula, devolvido ao sujeito passivo, acusado ou interessado o prazo para defesa, que somente poderá versar sobre a parte modificada. 15 decorrentes da administração da massa falida) ou aos créditos com garantias reais, no limite do valor do bem gravado. 3.4 Garantias do crédito tributário Por fim, há uma séria de garantias no Código Tributário Nacional – não excludentes de outras garantias previstas em outras legislações –, tais como: (i) a presunção de alienação ou oneração fraudulenta de bens ou rendas, ou seu começo, por sujeito passivo em débito para com a Fazenda Pública, por crédito tributário regularmente inscrito como dívida ativa; (ii) possibilidade de o juiz decretar a indisponibilidade de seus bens e direitos, comunicando a decisão, preferencialmente por meio eletrônico, aos órgãos e entidades que promovem registros de transferência de bens, especialmente ao registro público de imóveis e às autoridades supervisoras do mercado bancário e do mercado de capitais. Isso a fim de que, no âmbito de suas atribuições, façam cumprir a ordem judicial; (iii) presunção de certeza e liquidez do crédito inscrito em dívida ativa; (iv) a exigência de Certidão Negativa de Débitos como requisito para transacionar com o Poder Público; dentre outras. Além disso, fora do Código Tributário Nacional, há outras garantias do crédito tributário que têm sido utilizadas pelas Administrações Tributárias, como o protesto da dívida, previsto na Lei nº 9.492/97, inclusive para fins tributários a partir das alterações pela Lei nº 12.767/12, e, ainda a averbação administrativas de bens, prevista no art. 20-B da Lei nº 10.522/02. AULA VIRTUAL 9 DOWNLOAD DO MATERIAL UTILIZADO NAS AULAS VIRTUAIS ARQUIVO DE IMPRESSÃO https://fipecafi.blackboard.com/bbcswebdav/library/V%C3%ADdeos/GTB/TCF/Fundamentos%20da%20Tributa%C3%A7%C3%A3o/Fundamentos%20da%20tributa%C3%A7%C3%A3o%20-%20Aula%2009.html https://fipecafi.blackboard.com/bbcswebdav/library/V%C3%ADdeos/GTB/TCF/Fundamentos%20da%20Tributa%C3%A7%C3%A3o/Arquivo%20Impress%C3%A3o_slides%20videos.pdf 16 REFERÊNCIAS BARRETO, Paulo Ayres. Conceitos constitucionais e competência tri- butária. In: SANTOS, Nélida Cristina dos. Temas de direito tributá- rio: estudos em homenagem a Eduardo Bottallo. São Paulo: Saraiva, 2013. CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário: linguagem e méto- do. 3ª ed. São Paulo: Noeses, 2009. COSTA, Regina Helena. Curso de direito tributário. São Paulo: Sa- raiva, 2009. DERZI, Misabel. Notas. In: BALEEIRO, Aliomar. Limitações constitu- cionais ao poder de tributar. 8ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. MACHADO, Hugo de Brito. As contribuições no sistema tributário brasileiro. São Paulo: Dialética, 2003. SCHOUERI, Luís Eduardo. Direito tributário. 9ª ed. São Paulo: Sa- raiva, 2019. SMITH, Adam. A riqueza das nações. Vol II. São Paulo: Martins Fon- tes, 2013. TANZI, Vito. Complexity in taxation: origin and consequences. In: TÔRRES, Heleno Taveira (Coord.). Direito tributário internacional aplicado. Vol VI. São Paulo: Quartier Latin, 2012. 17 © FIPECAFI - Todos os direitos reservados. A FIPECAFI assegura a proteção das informações contidas nesse material pelas leis e normas que regulamentam os direitos autorais, marcas registradas e patentes. Todos os textos, imagens, sons, vídeos e/ou aplicativos exibidos nesse volume são protegidos pelos direitos autorais, não sendo permitidas modificações, reproduções, transmissões, cópias, distribuições ou quaisquer outras formas de utilização para fins comerciais ou educacionais sem o consentimento prévio e formal da FIPECAFI.
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