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A crioterapia é a aplicação de recursos terapêuticos frios cuja faixa de temperatura está entre 0 e 18ºC. Quando esse recurso é colocado sobre a pele, a transferência de calor ocorre da pele para o gelo, até que as temperaturas se igualem. Os efeitos dessa prática estão relacionados à redução na velocidade do metabolismo celular, vasoconstrição, diminuição da inflamação e da dor. Essa redução do metabolismo é o benefício primário da aplicação do frio em lesões agudas. As indicações da utilização desse recurso são: ➢ Lesão ou inflamação aguda; ➢ Dor aguda, crônica ou pós-cirúrgica; ➢ Prevenção de formação de edema; ➢ Antes ou durante exercícios de reabilitação; ➢ Espasticidade que acompanha distúrbios do SNC; ➢ Espasmo muscular agudo e crônico; ➢ Neuralgia. Algumas contraindicações são: ➢ Insuficiência circulatória; ➢ Trombose venosa profunda; ➢ Hipersensibilidade ao frio/urticária pelo frio; ➢ Falta de sensibilidade na pele; ➢ Diabetes avançado; ➢ Feridas crônicas; ➢ Feridas abertas sem curativo; ➢ Doença vascular periférica; ➢ Lúpus; A profundidade, a magnitude e a duração dos efeitos da crioterapia baseiam-se no tipo de recurso terapêutico frio em uso e nas propriedades anatômicas e fisiológicas dos tecidos que estão sendo tratados. Como a pele se acha em contato direto com o recurso terapêutico, ela é o primeiro tecido a perder calor. Conforme a pele é resfriada, ela atrai o calor dos tecidos subjacentes (tecido adiposo, fáscia e músculos, nessa ordem). O resfriamento excessivo dos tecidos pode aumentar o risco de geladura e atrasar o processo cicatricial. O tipo de recurso terapêutico frio usado também influi na quantidade de resfriamento. Quando aplicadas diretamente na pele, as bolsas de gelo e a massagem com gelo produzem o maior gradiente de temperatura. Embora o gradiente de temperatura não seja tão grande, tratamentos com imersão no frio (incluindo turbilhão frio) afetam uma área de superfície maior do que as bolsas de gelo. Aplicação intermitente Consiste na aplicação de frio por 10min, seguida por 10min sem bolsa de gelo. Quando a bolsa de gelo é removida, a pele é capaz de se reaquecer, mantendo assim um gradiente de temperatura entre a bolsa e a pele. O músculo continua frio quando o gelo é removido, porém a pele se reaquece. Quando comparado à aplicação contínua de gelo, esse método é mais eficaz na diminuição da dor, pode diminuir o fluxo sanguíneo capilar e aumentar o fluxo venoso nos tendões, mas não tem efeito na função ou na limitação da formação de edema quando comparado à aplicação contínua. Sensações da aplicação do frio As sensações são descritas como: frio, queimação, dor, dormência (analgesia). A analgesia, que consiste na ausência de dor, é obtida após 18 a 21min de aplicação de frio. Essas reações são mais acentuadas durante a imersão no gelo. Nem todas as pessoas experimentam as mesmas sensações, sendo necessário informar o paciente sobre as possíveis sensações antes de iniciar o tratamento. Os efeitos celulares e hemodinâmicos da aplicação de frio são benéficos no tratamento de condições agudas, subagudas e crônicas. rioterapi Efeitos sobre a resposta celular Durante o tratamento das lesões agudas, o principal efeito fisiológico do frio é a redução do metabolismo celular, que limita a quantidade de lesão secundária ao diminuir as necessidades de oxigênio da célula. A diminuição máxima do metabolismo é alcançada quando a temperatura diminui para 10 a 15ºC. Os benefícios máximos da aplicação de frio na redução da lesão secundária ocorrem quando o tratamento é iniciado dentro de 30min após o trauma. Efeitos na inflamação As mudanças que o frio provoca na função celular e na dinâmica sanguínea servem para controlar os efeitos da inflamação aguda. A aplicação de frio provoca: ➢ Redução da liberação de mediadores inflamatórios; ➢ Diminuição da síntese de prostaglandina; ➢ Diminuição da permeabilidade capilar; ➢ Diminuição da interação leucócito/endotélio; ➢ Diminuição da atividade da enzima creatina quinase. A supressão da liberação de mediadores inflamatórios diminui a quantidade de hemorragia e edema. Efeitos no sangue e outros líquidos corporais Vasoconstrição das arteríolas locais, aumento da viscosidade sanguínea e redução do fluxo sanguíneo são os principais efeitos observados na aplicação do frio. A vasoconstrição é mediada pelo SNA e pela liberação de proteínas locais. A diminuição da temperatura tecidual estimula os termorreceptores nos vasos sanguíneos e nos tecidos moles locais, desencadeando uma resposta do SNP que instrui os vasos à constrição. O corpo então tenta manter as temperaturas intramusculares pela liberação de mediadores hormonais do hipotálamo e da medula suprarrenal. A pele do local tratado se torna vermelha durante o tratamento (eritema), o que poderia estar relacionado ao aumento do fluxo sanguíneo no local, porém é mais provável que seja o resultado da liberação local de histamina e aumento na concentração de oxi-hemoglobina. Efeitos sobre o edema O uso de crioterapia limita a formação do edema e reduz os efeitos da inibição artrogênica do músculo pelo aumento da resposta dos neurônios motores afetados. A aplicação de frio isolado não promove a remoção do edema e pode prejudicar o mecanismo de retorno venoso e linfático ao aumentar a viscosidade do líquido. A compressão e elevação durante o tratamento com frio auxilia no retorno venoso. A crioterapia limita a formação de edema ao reduzir o metabolismo celular, diminuindo assim a atividade metabólica e limitando a quantidade de lesão hipóxica secundária. A vasoconstrição subsequente diminui a permeabilidade das vênulas pós-capilares e o fluxo sanguíneo reduzido diminui a pressão intravascular. Os dois eventos atrapalham a saída dos líquidos do interior dos tecidos. Embora a crioterapia reduza de forma substancial a formação do edema após um trauma musculoesquelético, a aplicação do frio não impede a formação de edema associada a doenças como insuficiência venosa Os mecanismos de compressão, elevação (gravidade), contrações musculares e “bombeamento” muscular por estimulação elétrica precisam também ser incorporados ao plano de tratamento para ocorrer a redução do edema. Condução nervosa A aplicação de frio diminui a taxa com que os impulsos nervosos são transmitidos e aumenta o limiar de despolarização necessário para iniciar o impulso. Conforme a temperatura do nervo diminui, seu limiar de despolarização aumenta, diminuindo a frequência geral da transmissão. O frio também reduz a velocidade de condução nervosa ao tornar mais lenta a comunicação na sinapse. Deve-se ter o cuidado de evitar a paralisia nervosa induzida pelo frio. Ocorre pela remoção dos desencadeadores químicos e mecânicos da dor, por meio da redução da inflamação, da limitação do edema, da interrupção da transmissão nervosa e da diminuição da velocidade de condução nervosa. Neurapraxia induzida pelo frio: transmissão dos impulsos nocivos é reduzida pelo rebaixamento da excitabilidade das terminações nervosas livres e diminuição da velocidade de condução nervosa, resultando em um aumento do limiar de dor. Efeitos no espasmo muscular O frio reduz o espasmo muscular ao suprimir o reflexo de estiramento através de: ➢ Redução do limiar das terminações nervosas aferentes; ➢ Diminuição da sensibilidade dos fusos musculares. A atividade das fibras do tipo Ia diminui com a aplicação de frio, as fibras do tipo II se tornam mais ativas e as fibras do tipo Ib são menos afetadas. Como o frio afeta o espasmo muscular, a dor é reduzida pelo alívio da estimulação mecânica imposta aos receptores nervosos na área do espasmo. Umapequena interrupção no ciclo dor-espasmo-dor pode resultar em alívio prolongado dos espasmos musculares pela diminuição da quantidade de pressão mecânica aplicada sobre os nervos e outros tecidos. Efeitos na função muscular A diminuição na velocidade de condução nervosa, a diminuição da sensibilidade dos fusos musculares e o aumento da viscosidade dos líquidos leva à diminuição na habilidade de realizar movimentos musculares rápidos e obter força máxima. Porém, esses efeitos são anulados se for acrescentado um período de aquecimento antes de realizar qualquer exercício. Efeitos do tratamento imediato O tratamento imediato (repouso, compressão e elevação) contrapõe a resposta inicial do corpo à lesão. O repouso previne traumas adicionais e pode ser feito através de uma imobilização da parte afetada, o uso de muletas ou outros métodos. O gelo triturado é a forma ideal de aplicação de frio durante o tratamento imediato, pois produz uma diminuição da temperatura mais rápida e significativa quando comparada às outras formas de aplicação de frio, uma vez que se molda à parte do corpo que está sendo tratada. A compressão diminui o gradiente de pressão entre os vasos sanguíneos e os tecidos. Isso dificulta o vazamento adicional de líquido dos leitos capilares para os tecidos intersticiais, ao mesmo tempo em que favorece o aumento da drenagem linfática. A elevação promove ação da força da gravidade sobre o membro e favorece os retornos venoso e linfático. O membro deve ser elevado o mais alto possível, mas ainda em uma posição confortável. criocinética Envolve o uso de terapia fria em conjunto com movimento e é utilizada para melhorar a ADM por meio da eliminação ou da redução do elemento da dor. Essa técnica pode ser iniciada nos casos em que o tecido mole subjacente e o osso estão intactos e a dor está limitando a quantidade de movimento funcional. Lesão relacionada ao frio Dois fatores associados à crioterapia podem aumentar o risco de lesões durante o tratamento: a diminuição da temperatura da pele e a quantidade de pressão usada para segurar a bolsa de gelo. Temperaturas extremas, que não são alcançadas durante tratamentos aplicados normalmente, podem resultar em geladura. Além disso, o frio e a pressão associados à bandagem compressiva podem traumatizar os nervos superficiais, ocasionando neuropatia induzida pelo frio. Para evitar a neuropatia induzida pelo frio em nervos superficiais grandes (nervo fibular comum, nervo ulnar), não se deve aplicar bandagens compressivas apertadas e deve-se limitar a duração do tratamento a cerca de 10 a 15min. O primeiro sinal físico de geladura é o clareamento do tom vermelho normalmente associado à aplicação do frio. Essa cor é substituída por um branco lustroso com aspecto de cera. Caso se permita que a geladura continue, a pele formará bolhas ou ficará descamada e ocorrerá um acúmulo óbvio de edema. REFERÊNCIA: Starkey, C. Recursos Terapêuticos em Fisioterapia. Barueri, SP: Editora Manole, 2017. 9788520454435. Disponível em: <https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/978 8520454435/>. Acesso em: 19 maio 2021.
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