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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui Contabilidade Societária – IFRS A Atual Realidade da Contabilidade Societária no Brasil Responsável pelo Conteúdo: Prof. Dr. João Paulo Cavalcante Lima Revisão Textual: Aline Gonçalves Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Por Que uma Contabilidade Internacional? • A Contabilidade Internacional e o Papel do IASB; • Contabilidade Internacional e sua Evolução no Brasil; • Contabilidade Internacional: Algumas “Novidades”. A Atual Realidade da Contabilidade Societária no Brasil Fonte: Getty Im ages Objetivos • Compreender por que a Contabilidade Internacional é a linguagem internacional dos ne- gócios e por que ela é de suma importância para as empresas que pretendem operar no mercado de capitais internacional; • Demonstrar a influência da Contabilidade Internacional na atual Contabilidade Societária no Brasil. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! UNIDADE A Atual Realidade da Contabilidade Societária no Brasil Contextalização Para que você possa ter uma clara ideia acerca da importância da adoção das normas in- ternacionais de contabilidade para as empresas brasileiras em geral e do quanto é im- prescindível que os profissionais da área Contábil, Controladoria, Auditoria e outras áreas afins se atualizem com o estudo e o conhecimento dessas normas, eu sugiro que você leia a matéria intitulada de “Adoção do IFRS (Internacional Financial Reporting Standards) no Brasil: a importância da adequação às normas internacionais de contabilidade”. Disponível em: https://bit.ly/3tVjLvy 6 7 Por Que uma Contabilidade Internacional? A Contabilidade é considerada a linguagem “dos negócios”, ou seja, é onde os prin- cipais agentes econômicos buscam informações sobre a performance empresarial e avaliação de risco para se realizar investimentos. Para que essa linguagem seja limpa e de perfeito entendimento, surge a Contabili- dade Internacional definindo métodos para que a área contábil possa se adaptar a um contexto internacional. Desse modo, ela é estruturada a fim de adaptar relatórios que serão compreendidos por todos. A Contabilidade é um elemento essencial para a criação e manutenção de qual- quer empreendimento de negócios nas economias modernas. Assim, a Contabilidade Internacional surge como uma resposta às modificações no ambiente que a cerca e às demandas dos seus usuários (gestores, investidores, credores, governos, consumidores, empregados, entre outros). A Contabilidade Internacional e o Papel do IASB Os esforços organizados na direção de uma harmonização contábil mundial foram iniciados efetivamente em 1973, com a criação do International Accounting Standards Committee (IASC). O International Accounting Standards Board (IASB), a partir de 2001, é visto como o “condutor” do processo de harmonização contábil, uma vez que fica sob sua responsa- bilidade a elaboração dos padrões contábeis internacionais. Estão envolvidos, também, no processo de harmonização, organismos internacionais e regionais, órgãos de classe, legisladores nacionais, entre outros. Dessa forma, inicialmente, temos o IASC, que foi fundado como instituição privada em 29 de junho de 1973, em Londres (Grã-Bretanha), por acordo feito entre profissionais de nove países: Austrália, Canadá, França, Alemanha, Japão, México, Países Baixos, Reino Unido e Estados Unidos. Outros países foram se associando gradativamente, entre os quais o Brasil, e hoje ele reúne mais de 140 países. Visite o site da IFRS. Disponível em: https://bit.ly/339lqBV Figura 1 Fonte: Reprodução 7 UNIDADE A Atual Realidade da Contabilidade Societária no Brasil IASC (International Accounting Standards Committee), criado em 1973, até 2000, por ocasião do Congresso Internacional de Contadores de 1973. Em 1973, criou-se também o FASB (Financial Accounting Standards Board), que é a regulamentação americana. 1973 IASC FASB IASC foi alterado para IASB 1973 2001 Figura 2 – Linha do tempo: evolução dos órgãos responsáveis pelas Normas Internacionais de Contabilidade Fonte: Adaptada de IFRS A Comissão Europeia decidiu, em 2001, adotar as normas internacionais de conta- bilidade (IAS) emitidas até então pelo International Accounting Standards Committee (IASC) como a base para a preparação das demonstrações financeiras das empresas abertas da Comunidade Europeia. Essa decisão coincidiu com a reestruturação do IASC e a criação do International Accounting Standards Board (IASB). Vigência do IASC, elaboração da IAS De 1973 a 2001 A partir da alteração para o IASB, temos as IFRS 2001 Figura 3 – Linha do tempo: reestruturação do IASC e a criação do International Accounting Standards Board (IASB) Fonte: Adaptada de IFRS 8 9 Em 1º de abril de 2001, o IASB assumiu a responsabilidade de emissão de padrões contábeis internacionais, tornando-se então uma fundação sem fins lucrativos. De acor- do com a sua constituição, o IASB tem os seguintes objetivos: • Desenvolver, no interesse público, um único conjunto de normas contábeis globais de alta qualidade, inteligíveis, exequíveis, que exijam informações de alta qualidade, transparentes e comparáveis nas demonstrações contábeis e em outros relatórios financeiros, para ajudar os participantes do mercado de capital e outros usuários em todo o mundo a tomar decisões econômicas; • Promover o uso e a aplicação rigorosa dessas normas; e • Promover a convergência entre as normas contábeis locais e as Normas Internacio- nais de Contabilidade de alta qualidade. Em 2002, o IASB e o FASB acordam em realizar um programa conjunto de desen- volvimento das normas contábeis, visando sua convergência. Em 2006, IASB e FASB atualizam o acordo sobre convergência. Já em 2012, es- tabelecem um novo objetivo de complementação dos projetos de conversão relevantes remanescentes para o primeiro semestre de 2013 em seu relatório para o G20 (Grupo dos 20 é um grupo constituído por ministros da economia e presidentes de bancos cen- trais dos 19 países de economias mais desenvolvidas do mundo, mais a União Europeia). IASB e FASB 2002 2006 2012 Figura 4 – Linha do tempo: convergência entre IASB e FASB Fonte: Adaptada de IFRS Desde então, o IASB passou a revisar as normas internacionais e a emitir novas, de modo a formar um conjunto de normas contábeis a ser adotado para direcionar e padronizar a forma como as empresas abertas europeias deveriam preparar e divulgar suas demonstrações financeiras. A comunidade europeia estabeleceu 2005 como sendo o ano para adoção integral pela primeira vez das Normas Internacionais de Relatórios Financeiros – IFRS (comu- mente denominadas Normas Internacionais de Contabilidade – IAS). 9 UNIDADE A Atual Realidade da Contabilidade Societária no Brasil Adoção integral das Normas Internacionais pela UE. 2005 Figura 5 – Linha do tempo: adoção integral pela primeira vez das Normas Internacionais de Relatórios Financeiros – IFRS Fonte: Adaptada de IFRS O FASB (Financial Accounting Standards Board)é o principal órgão de normatização contábil nos Estados Unidos. Iniciou suas atividades em junho de 1973, com grande apoio financeiro por parte do Governo dos Estados Unidos, das entidades de classe da profissão contábil e por grandes empresas. A SEC (Securities and Exchange Commission), a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) americana, endossou o FASB como a única emissora de padrões reconhecidos. A missão do FASB é estabelecer e melhorar os padrões de con- tabilidade financeira, promover a convergência internacional de padrões de Contabilidade, além de contribuir para a educação contábil e ampliação do nível de entendimento dos contadores, auditor e de usuários das informações financeiras. FASB Estados Unidos Emitir pronunciamentos contábeis, válidos para as empresas privas norte-americanas e suas subsdiárias ao redor do mundo. Aulixiar a SEC no aperfeiçoamento do mercado de capitais internacional. IASC União Europeia Emitir pronunciamentos contábeis, válidos para as empresas da União Europeia e suas subsdiárias ao redor do mundo. Aulixiar na padronização das normas internacionais de contabilidade. Figura 6 – Atribuições do FASB e do IASC Fonte: Adaptado de OLIVEIRA et al., 2008, p. 9 Contabilidade Internacional e sua Evolução no Brasil A adoção das normas contábeis das IFRS no Brasil ocorreu com a atualização da Lei 6.404/1976, que se deu em duas etapas: em 2008 e em 2010. Com relação à parte 10 11 fiscal, o governo inicialmente estabeleceu regras transitórias, conhecidas no mercado como RTT (Regime Tributário de Transição) (Lei 11.941/2009), e finalmente fixou re- gras definitivas por meio da Lei 12.973/2014. Em 2005, foi criado um órgão único para a emissão de normas de contabilidade: o Co- mitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Foi também fundamental, nesse processo, o papel do Banco Central do Brasil (BACEN), da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), que decidiram, entre 2006 e 2007, que as empresas por eles reguladas teriam que adotar as IFRS tais como emitidas pelo IASB nas demonstrações consolidadas a partir do ano de 2010. De suma importância igualmente foi o papel da nossa Autoridade Tributária, a Secretaria da Receita Federal do Brasil, no sentido de atuar rumo a uma convergência sem impactos tributários para as empresas, bem como o apoio institucional e operacional do Conselho Federal de Contabilidade (CFC). A mudança de uma contabilidade baseada em regras para uma contabilidade baseada em princípios aumentou o nível de julgamento exigido pelos responsáveis pela elaboração e pela auditoria das demonstrações contábeis. Esse novo ordenamento contábil, onde a essência econômica dos eventos econômi- cos prevalece sobre a forma jurídica, gera, portanto, uma série de desafios conceituais e práticos para contadores, auditores, gestores e analistas de mercado. Apesar de o CPC ter sido criado em 2005, a emissão dos Pronunciamentos passou a ocorrer de fato a partir de 2008. Com a criação da Lei 11.638 de 2007, o CPC emitiu um primeiro conjunto de Pro- nunciamentos Contábeis naquele ano para atender às necessidades imediatas da mudan- ça da legislação. Por exemplo, a lei obrigou a preparação e divulgação da Demonstração dos Fluxos de Caixa (DFC), antes publicada no mercado brasileiro apenas de forma vo- luntária. Então, o CPC emitiu em 2008 o Pronunciamento Técnico CPC 03, elaborado a partir da IAS7, para permitir que as empresas pudessem elaborar e publicar a DFC em 2008 já com o novo padrão contábil. No total, foram emitidos quinze Pronunciamentos Técnicos e duas Orientações. Os Pronunciamentos Técnicos estabelecem conceitos doutrinários, estrutura técnica e procedimentos a serem aplicados. Já as Interpretações são emitidas para esclarecer, de forma mais ampla, os Pronunciamentos Técnicos. Por fim, as Orientações possuem caráter transitório e informativo, destinando-se a dar esclarecimentos sobre a adoção dos Pronunciamentos Técnicos e/ou Interpretações. Durante 2009, o CPC emitiu os demais Pronunciamentos Técnicos (em um total de quase 30 documentos, além de interpretações e orientações), porém tinham que ser aplicados apenas a partir de 2010, embora com efeitos retroativos ao PL inicial de 2009, para preservar a comparabilidade 2010/2009. A aplicação desses novos CPC fez com que o modelo contábil brasileiro (BR GAAP, que significa Brazilian Generally Accepted Accounting Principles, traduzindo: Princípios 11 UNIDADE A Atual Realidade da Contabilidade Societária no Brasil Contábeis Geralmente Aceitos no Brasil) fosse fortemente alterado, adequando-se ao pa- drão internacional. Assim, a aplicação dos novos CPC na contabilidade individual das companhias fazia com que as demonstrações consolidadas resultassem também como aderentes ao padrão internacional, ou seja, as companhias passaram a adotar as IFRS por meio da adoção dos CPC, de maneira indireta. Passada a fase mais complexa de mudança das normas, entre 2008 e 2010, quando todo o modelo contábil brasileiro precisou ser alterado, o CPC continuou e continua acompanhando mudanças nas IFRS, adotando novas IFRS aprovadas pelo IASB e revi- sando os seus Pronunciamentos Técnicos locais para mantê-los atualizados. Figura 7 Fonte: Reprodução O objetivo do CPC inclui: [...] o estudo, o preparo e a emissão de Pronunciamentos Técnicos sobre procedimentos de Contabilidade e a divulgação de informações dessa natureza, para permitir a emissão de normas pela entidade reguladora brasileira, visando à centrali- zação e uniformização do seu processo de produção, levando sempre em conta a conver- gência da Contabilidade Brasileira aos padrões internacionais. Outra motivação para criação do CPC foi a necessidade de reduzir os elevados custos decorrentes da ausência de um padrão contábil que impede que as organizações tenham um entendimento harmônico das informações econômicas, financeiras e pa- trimoniais entre as suas próprias unidades – as quais, muitas vezes, estão sediadas em diferentes países, portanto sujeitas a diferentes padrões normativos. Nesse contexto, o CPC passou e exercer papel fundamental no processo de norma- tização da contabilidade brasileira, atuando como representante dos interesses de diversas entidades para as quais as normas contábeis são fundamentais. Você sabia que o CPC não pode emitir normas? Isso porque a Constituição Brasileira impede que entidades públicas deleguem para terceiros atribuições que lhes foram dadas por lei. Dessa forma, a solução de contorno encontrada para legitimar as normas contábeis foi inserir formalmente os pronunciamentos do CPC no fluxo de elaboração das NBC e requerer que sejam avalizadas por todas as entidades envolvidas. 12 13 O CPC é integrado pelos seguintes membros: Figura 8 – Membros do CPC Fonte: Adaptada de CPC Além das seis entidades contidas na Figura 6, participam do CPC como convidadas: Figura 9 – Membros Convidados do CPC Fonte: Adaptada de CPC As Normas Brasileiras de Contabilidade (NBC) constituem-se em um conjunto de regras e procedimentos de conduta que devem ser observados como requisitos para o exercício da profissão contábil, bem como os conceitos doutrinários, princípios, estrutu- ra técnica e procedimentos a serem aplicados na realização dos trabalhos previstos nas normas aprovadas por resolução emitidas pelo CFC. A Estrutura das Normas Brasileiras de Contabilidade está regulamentada na Resolu- ção CFC 1.328/11. As NBC classificam-se em Profissionais e Técnicas. As Normas Profissionais estabelecem regras de exercício profissional e classificam-se em: • NBC PG: geral; • NBC PA: do Auditor Independente; • NBC PP: do Perito Contábil. As Normas Técnicas estabelecem conceitos doutrinários, regras e procedimentos aplicados de Contabilidade. 13 UNIDADE A Atual Realidade da Contabilidade Societária no Brasil Qual a diferença entre as Resoluções editadas pelo CFC e os pronunciamentos do CPC? O CPC emite pronunciamentostécnicos, orientações e interpretações. A partir desses tra- balhos, os órgãos reguladores têm emitido suas normas próprias, permitindo assim a uni- formização do processo de produção de normas. O CFC é um desses órgãos reguladores, portanto, nas normas técnicas emitidas pelo CFC, temos pronunciamentos do CPC como sua base. Entretanto, os pronunciamentos técnicos não têm força de norma, enquanto aquelas emanadas de órgãos reguladores, entre eles o CFC, têm força de norma. Além disso, as NBC não se resumem apenas aos pronunciamen- tos do CPC. A adoção das IFRS no Brasil trouxe aos participantes que lidam com a informação contábil, seja na preparação, na auditoria, na regulação ou na análise propriamente dita, a necessidade de compreenderem que esse novo modelo contábil é extensivamente ba- seado em julgamento profissional e, obviamente, sujeito a maior subjetividade em todas as etapas do processo contábil – reconhecimento, mensuração e divulgação. Dentro desse contexto, tornou-se extremamente importante a divulgação de uma nova informação, até então inexistente nas notas explicativas das demonstrações con- tábeis das empresas brasileiras: informações sobre as premissas e estimativas contábeis críticas. A adaptação a esse novo cenário requer uma profunda mudança cultural e de comportamento. O fato de o Brasil ter escolhido adotar as IFRS tanto nas demonstrações consolidadas quanto nas individuais fez com que as normas internacionais tivessem que ser traduzidas para o português e transformadas em normas locais. Porém, esse processo fez com que algumas normas internacionais tivessem que ser ligeiramente modificadas em função de aspectos legais, sem descaracterizar a posição do IASB. Um exemplo disso é a proibição, no Brasil, da prática da reavaliação de ativos imo- bilizados, como imóveis de uso, máquinas, veículos etc. Essa prática era inclusive aceita no Brasil até 2007, porém, a partir de 2008, foi vedada, embora seja uma alternativa de avaliação permitida pelas IFRS. Outro exemplo é a inclusão da Demonstração do Valor Adicionado (DVA) no conjun- to das demonstrações financeiras a serem publicadas pelas companhias abertas. Isso se deve ao fato de que a Lei 11.638/07 passou a exigir a publicação dessa demonstração para as companhias abertas. De acordo com as IFRS, essa demonstração seria apenas uma demonstração suplementar e voluntária, mas, no Brasil, todas as companhias aber- tas a publicam. A harmonização pode ser entendida como um processo por meio do qual as dife- renças nas práticas contábeis entre os países são reduzidas, mas não eliminadas. Isso porque, na medida em que reconhece que cada país deve “direcionar” a contabilidade para atender às suas características e necessidades específicas, isso leva obrigatoriamen- te a diferenças entre os países. A padronização ocorreria apenas se não existissem as diversas causas apontadas ante- riormente para as diferenças contábeis. Além disso, a padronização implica desconsiderar 14 15 discrepâncias significativas entre as empresas do país, como tamanho e fontes principais de financiamento, restringindo a escolha do procedimento contábil. Logo, os termos harmonização e uniformização não podem, de forma alguma, ser tomados como sinônimos ao tratar das práticas contábeis, porque o primeiro fala em redu- ção das diferenças, enquanto o último defende a eliminação das diferenças entre os países. Quadro 1 – Benefícios e Desvantagens da adoção das Normas Internacionais de Contabilidade Benefícios da adoção das Normas Internacionais de Contabilidade • Maior consistência das demonstrações financeiras entre os países, o que pode facilitar as análises de investimento e crédito; • Redução dos custos para empreendimentos multinacionais (sim- plificando, por exemplo, a consolidação de contas estrangeiras e permitindo a adoção de um mesmo conjunto de relatórios internos e externos para qualquer país); • Pode facilitar o acesso das empresas nacionais aos mercados de capitais estrangeiros, reduzindo o custo da elaboração de demons- trações contábeis de acordo com diferentes padrões contábeis; • Maiores possibilidades de trabalho para contadores; • Pode auxiliar os países em desenvolvimento, fornecendo-lhes um conjunto de padrões contábeis de qualidade sem que para isso eles tenham que despender seus recursos com pesquisas. Desvantagens da adoção das Normas Internacionais de Contabilidade • A adoção das normas internacionais localmente pode não resultar em harmonização efetiva das práticas contábeis dos países, es- pecialmente porque são desconsideradas as diferenças nacionais como sistemas jurídicos, estágio de desenvolvimento econômico e aspectos culturais, entre outros; • Sempre há um custo para os países, decorrente da adoção das nor- mas internacionais; • Pode servir como um meio de imposição da vontade dos países eco- nomicamente desenvolvidos sobre aqueles em desenvolvimento. Contabilidade Internacional: Algumas “Novidades” O CPC 00 (R1) – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório Contábil-Financeiro foi revogado e, a partir de 10 de dezembro de 2019, temos agora o CPC 00 (R2) – Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro (NBC 04). A partir de janeiro de 2020, a segunda revisão apresenta novos conceitos sobre apresentação, mensuração e divulgação, atualizou a definição de ativos e passivos, bem como os critérios de reconhecimento e desreconhecimento de ativos e passivos nas de- monstrações financeiras. As modificações introduzidas nessa Estrutura Conceitual por meio dos Capítulos 1 e 3 foram preparadas conjuntamente pelo IASB e pelo FASB. Vale lembrar que a estrutura conceitual não define normas ou procedimentos para qualquer aspecto sobre mensuração ou divulgação, e não deve haver conflito entre essa estrutura conceitual e um pronunciamento técnico; nesse caso, as exigências do pronun- ciamento técnico devem prevalecer. 15 UNIDADE A Atual Realidade da Contabilidade Societária no Brasil E mais, o grande objetivo da Estrutura Conceitual adotada é ajudar o normatizador a seguir determinada linha na emissão de suas normas, ajudar os contadores a entender e interpretar essas normas que têm de aplicar e a ajudar os usuários das demonstrações contábeis a interpretá-las. Por que a Estrutura Conceitual precisou ser revisada? • Estrutura Conceitual Anterior: foi emitida em 1989 e parcialmente revisada em 2010; • Prioridade: identificados como prioritários pelas partes interessadas na consulta da agenda de 2011; • Preenchimento de lacunas: por exemplo, orientação sobre mensuração, apresentação e divulgação; • Atualização: por exemplo, as definições sobre ativo e passivo; • Estrutura Conceitual Revisada: conjunto mais abrangente de conceitos para relató- rios financeiros. Principais Alterações No Capítulo 1, o IASB reforça o posicionamento de que os relatórios contábil-fi- nanceiros se destinam primariamente aos seguintes usuários externos: investidores, financiadores e outros credores, sem hierarquia de prioridade. Os usuários internos (administração e acionistas controladores) têm condições de gerar as informações que julgarem necessárias para a tomada de decisão. Mas os usuários exter- nos contam com os demonstrativos como a principal fonte de informação, talvez a única. Essa parte da norma foi publicada em 2010 e passou por extenso processo de análise na época, sendo agora não atingida pela revisão. O Capítulo 2 descreve o que torna as informações financeiras úteis. Na revisão da norma, o CFC esclareceu os papéis de prudência, incerteza de mensuração e essên- cia sobre a forma ao avaliar se as informações são úteis. CARACTERÍSTICAS QUALITATIVAS FUNDAMENTAIS DE MELHORIA COMPARABILIDADE VERIFICABILIDADE TEMPESTIVIDADE COMPRENSIBILIDADE RELEVÂNCIA REPRESENTAÇÃO FIDEDIGNA Figura 10 – Características Qualitativas do CPC de Estrutura Conceitual Fonte: Adaptada de CPC 16 17 Relevância e representação fidedigna são as características qualitativasfundamen- tais das informações financeiras úteis e os conceitos orientadores que se aplicam a toda a Estrutura Conceitual revisada. No Capítulo 3, Demonstrações Contábeis e a entidade que relata, são descritos o ob- jetivo e o escopo das demonstrações financeiras e uma descrição da entidade que relata. A entidade que reporta é a entidade que é obrigada a, ou decide, elaborar demons- trações contábeis. Dessa forma, o limite apropriado de uma entidade que relata é deter- minado considerando as necessidades de informações dos usuários das demonstrações contábeis da entidade. Esses usuários precisam de informações relevantes e que repre- sentem fielmente o que pretendem representar. O Capítulo 4, Elementos das demonstrações contábeis, define os cinco elementos das demonstrações contábeis – ativo, passivo, patrimônio líquido, receitas e despesas. Entre as alterações da revisão da norma, consta que as definições de ativo e passivo foram refinadas e as conceituações de receitas e despesas foram atualizadas apenas para refletir esse aperfeiçoamento. Quadro 2 – Alterações da revisão da norma: ativo e passivo Antes • Ativo: Um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual se espera que benefícios econômicos futuros fluam para a entidade; • Passivo: Passivo é uma obrigação presente daentidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera que resulte na saída de recursosda entidade capazes de gerar benefícios econômicos. Atual • Ativo: Um recurso econômico presente controlado pela entidade como resultado de eventos passados. Um recurso econômico é um direito que tem potencial para produzir benefícos econômicos; • Passivo: Uma obrigação presente da entidade de transferir re- curso econômico como resultado de eventos passados. Fonte: Adaptado de CPC Os critérios para incluir ativos e passivos nas demonstrações contábeis (reconhecimen- to) e orientações sobre quando os baixar (desreconhecimento) constam no Capítulo 5. Entre as alterações efetuadas da norma, os critérios de reconhecimento revisados referem- -se explicitamente às características qualitativas das informações úteis. No Capítulo 6, Mensuração, constam várias bases de mensuração e é onde se dis- cute os fatores a serem considerados ao selecionar uma dessas bases. A versão ante- rior da Estrutura Conceitual incluía pouca orientação sobre esse tema. Ao selecionar a base de mensuração, é necessário considerar a natureza das informações no balanço patrimonial e na demonstração do resultado. A importância relativa de cada fator a ser considerado depende dos fatos e das circunstâncias de casos individuais. O Capítulo 7 da NBC TG Estrutura Conceitual é novo e inclui conceitos de apresen- tação, divulgação e orientação sobre a inclusão de receitas e despesas na demonstração do resultado e do resultado abrangente. A finalidade é melhorar o tema comunicação, para tornar as informações financeiras mais úteis para investidores, credores e outros usu- ários, considerando-se que uma comunicação eficaz de informações nas demonstrações 17 UNIDADE A Atual Realidade da Contabilidade Societária no Brasil contábeis torna-as mais relevantes e isso contribui para uma representação fiel dos ativos, passivos, patrimônio líquido, receitas e despesas da entidade. No Brasil, em dezembro de 2009, o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) aprovou o Pronunciamento Técnico PME – Contabilidade para Pequenas e Médias Em- presas, sendo o equivalente da IFRS para PMEs (IASB). O CPC PME foi homologado pela Resolução do Conselho Federal de Contabilidade – CFC n. 1.255/09, a qual entrou em vigor nos exercícios iniciados a partir de 1º de janeiro de 2010. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites CPC https://bit.ly/3egR8Dw Vídeos As novas normas internacionais de contabilidade e os seus desafios https://youtu.be/iBJReCf41Rc Leitura A adoção no Brasil das normas internacionais de contabilidade IFRS: o processo e seus impactos na qualidade da informação contábil https://bit.ly/3tdTpU9 O valor e a importância da contabilidade em um ano de crise https://bit.ly/2RmTB6e 19 UNIDADE A Atual Realidade da Contabilidade Societária no Brasil Referências OLIVEIRA, A. M. S.; OLIVEIRA, L. M. de; ALVES, P. S. L. da G. Contabilidade in- ternacional: gestão de riscos, governança corporativa e contabilização de derivativos. São Paulo: Atlas, 2008. 20
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