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Problema 4: Fechamento 1 Pro���m� 4 - Fec����n�o 1. Fisiopatologia, manejo e diagnóstico da Leishmaniose Visceral e AIDS HIV/AIDS BRASIL. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em adultos. Ministério da Saúde. 2013. VERONESI, R.; FOCACCIA, R. Imunopatogênese da infecção pelo HIV/AIDS. In: VERONESI, R.; FOCACCIA, R. Tratado de Infectologia. 5 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2015. BRASIL. Manual técnico para o diagnóstico da infecção pelo HIV. Ministério da Saúde. 2013. ESTRUTURAÇÃO DO VÍRUS E GENES Uma partícula infecciosa do HIV consiste em duas cadeias idênticas de RNA acondicionadas dentro de um núcleo de proteínas virais, circundado por um envelope composto por uma bicamada fosfolipídica derivada da membrana da célula hospedeira, mas com inclusões de proteínas de membrana codificadas pelo vírus. A sequência gag codifica proteínas estruturais do núcleo. A sequência env codifica glicoproteinas gp120 e gp41 do envelope, que não estão covalentemente associadas uma à outra e são necessárias para a infecção das células. A sequência pol codifica as enzimas virais transcriptase reversa, integrase e protease, que são necessárias para a replicação viral. Além destes genes, como nos retrovírus típicos, o genoma do HIV-1 contém seis outros genes reguladores, ou seja, os genes tat, rev, vif, nef, vpr, vpu, cujos produtos regulam a replicação viral e a evasão imune ao hospedeiro de várias formas. FISIOPATOLOGIA A AIDS é uma doença causada pela infecção com HIV. Causa profunda imunossupressão acompanhada de infecções oportunistas e tumores malignos, além de degeneração do SNC. O HIV infecta vários tipos de células do sistema imune, incluindo células T CD4 + auxiliares, macrófagos e células dendríticas. A infecção inicia quando a glicoproteína do envelope gp120 do vírus se liga a duas proteínas da célula hospedeira, ao CD4 e um correceptor membro de receptores de quimiocinas (CXCR4 e CCR5). O complexo de glicoproteína do envelope viral, chamado Env, formado por uma subunidade gp41 transmembranar e gp120 externa, medeia um processo de múltiplas etapas da fusão do envelope do vírion à membrana da célula alvo. Acontece uma interação entre as estruturas do complexo e estruturas virais e no final, a membrana viral se une a membrana celular. Além disso, a gp120 e gp41 são expressas na membrana da célula infectada antes da liberação de vírus, e elas servem como mediadores de fusão célula infectada com uma célula não infectada que apresenta CD4 e correceptores, e então o genoma do HIV pode ser passada para a célula saudável que foi fusionada. Ou seja, uma célula infectada infecta outras, sem necessariamente um vírus " inteiro" precisar fazer isso. HIV dentro da célula, enzimas do complexo de nucleoproteínas se tornam ativas, o núcleo da nucleoproteína viral se rompe, há transcrição reversa do genoma de RNA do HIV para DNA de cadeia dupla pela transcriptase reversa viral e o DNA do vírus entra no núcleo. A integrase viral também entra no núcleo e catalisa a integração do DNA viral ao genoma da célula hospedeira. O DNA do HIV integrado é chamado de provírus e esse pode permanecer inativo por meses ou anos e assim a infecção permanece latente. O início da transcrição do gene do HIV nas células T está associado à ativação das células T por antígenos ou citocinas. Este fenômeno é significativo para a patogênese da AIDS porque a resposta normal de uma célula T infectada de forma latente a um microrganismo pode ser a UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o maneira pela qual a latência do HIV é encerrada e a produção de vírus iniciada. Acho que os detalhes bioquímicos não são tão importantes então o que acontece para que esse vírus comece a se multiplicar é justamente a ativação de proteínas responsáveis pela expressão de outros genes e produção de transcritos completos de RNAm, uma dessas proteínas é a Tat. As proteínas precoces (Rev, Tat e Nef) são produzidas logo após a infecção e como vimos, servem para ativar genes tardios (env, gag e pol) que codificam componentes estruturais dos vírus (transcriptases, gps, …). As proteínas virais são formadas no citoplasma, os vírus começam a ser montados e saem da célula do hospedeiro por brotamento levando parte da membrana plasmática. A taxa de produção de vírus pode atingir níveis suficientemente altos para causar morte celular. A infecção aguda se caracteriza pela infecção das células T de memória CD4 + em tecidos linfóides das mucosas e morte de muitas células infectadas. Como os tecidos da mucosa constituem o maior reservatório de células T no corpo e o principal reservatório das células T de memória, esta perda local se reflete em uma depleção considerável de linfócitos. A transição para a infecção crônica é acompanhada pela disseminação do vírus, viremia e desenvolvimento de respostas imunes pelo hospedeiro. As células dendríticas (DC) do epitélio no local de entrada viral capturam o vírus e, em seguida, migram para os linfonodos. Uma vez nos tecidos linfóides, as células dendríticas podem transmitir o HIV aos linfócitos T CD4 + por contato direto célula-célula (o HIV usa os mecanismos do sistema imune ao seu favor, ele pega carona na DC). Após alguns dias a primeira exposição ao HIV, a replicação viral pode ser detectada nos linfonodos. Essa replicação causa viremia acompanhada por uma síndrome aguda do HIV. A viremia permite que o vírus se dissemine por todo o corpo e infecte as células T auxiliares, macrófagos e células dendríticas nos tecidos linfóides periféricos. Então o sistema imune começa a apresentar uma resposta imune humoral e celular direcionadas aos antígenos virais. Essa resposta controla parcialmente a infecção e a reprodução viral e este controle reflete-se em diminuição da viremia para níveis baixos, mas detectáveis, aproximadamente 12 semanas após a exposição primária. Já na fase crônica propriamente dita, o baço e os linfonodos constituem locais de replicação contínua do HIV e de destruição celular. Durante este período da doença, o sistema imune permanece capaz de combater a maioria das infecções por microrganismos oportunistas, e poucas ou nenhuma manifestação clínica da infecção pelo HIV está presente. Portanto, esta fase da infecção pelo HIV é chamada de período de latência clínica. Embora a maioria das células T do sangue periférico não abrigue o vírus, a destruição das células T CD4 + no interior de tecidos linfóides progride de forma constante durante o período latente e o número de células T CD4 + sanguíneas circulantes declina constantemente. No início da doença, o indivíduo pode continuar produzindo novas células T CD4 +, e, portanto, estas células podem ser substituídas quase tão rapidamente quanto são destruídas. Mas, ao longo de anos, o ciclo contínuo de infecção pelo vírus, morte de células T e nova infecção leva a uma perda considerável de células T CD4 + dos tecidos linfóides e circulantes. MECANISMO DE IMUNODEFICIÊNCIA: o HIV causa problemas na imunidade inata e adaptativa. Uma causa importante da perda de células T CD4 + em pessoas infectadas pelo HIV é o efeito direito da infecção viral nestas células. O processo de produção viral e brotamento através da membrana celular pode aumentar a permeabilidade dessa membrana e gerar um influxo de quantidades letais de cálcio, o que induz a apoptose ou lise osmótica pelo influxo de água. Além disso, a produção viral pode interferir na síntese proteica celular levando a sua morte. Outras teorias foram propostas. Uma delas está relacionada a ativação crônica de células não infectadas pelo HIV pelas infecções que são comuns nesses pacientes e também por citocinas produzidas em resposta a essas infecções. A ativação crônica das células T gera a apoptose e assim, temos a perda de células não infectadas também. Para completar o pacote, as células infectadas não expressam CD4 e assim não são mais responsivas a antígenos. Outras células como macrófagos e DC tambémsão infectadas, mas não são destruídas como as células T, porém possuem a sua função UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o alterada e podem funcionar como reservatórios virais. Todas as fases vão ser determinadas pela quantidade de vírus no plasma do paciente e a contagem de células T. FA�� ��UD�: Nessa fase também chamada de síndrome aguda do HIV é o período de viremia caracterizada por sintomas inespecíficos da infecção. Geralmente ocorre de 3 a 6 semanas após a infecção. Há um pico na concentração viral plasmática e uma redução discreta na contagem de células T CD4 +, mas o número de células sanguíneas T CD4 + geralmente retorna ao normal. Mas em alguns pacientes pode ser assintomática devido a uma infecção oculta. FA�� �RÔNI�� �� LA�ÊN�I� �LÍNI��: Pode durar anos. Durante este tempo, o vírus permanece contido no interior de tecidos linfóides e a perda de células T CD4 + é corrigida por reconstituição a partir de células progenitoras. Os pacientes permanecem assintomáticos ou apresentam infecções secundárias. Dentro de 2 a 6 meses após a infecção, a concentração viral plasmática se estabiliza. Conforme a doença progride, os pacientes tornam-se suscetíveis a outras infecções e as respostas imunes a estas infecções podem estimular a produção de HIV e acelerar a destruição dos tecidos linfóides. Algumas responsáveis são citocinas como TNF. A�D�: Acontece quando temos uma contagem de linfócitos menor que 200 células/mm3. A viremia pode aumentar drasticamente à medida que a replicação viral acelera em outros reservatórios além das células T. Esse processo dá margem para infecções oportunistas, neoplasia, caquexia, insuficiência renal e degeneração do SNC. A caquexia é frequentemente observada nesses pacientes com doenças inflamatórias crônicas e pode ser resultante dos efeitos das citocinas inflamatórias (como TNF) sobre o apetite e o metabolismo. A resposta imune apresentada pelo organismo consegue controlar a infecção nos estágios iniciais, porém é ineficiente a longo prazo. A falta de eficiência é caracterizada por estimular a captura de vírus opsonizados por células não infectadas por endocitose ou por erradicação de células T que apresentam antígenos virais pelas TCD8. EV��ÃO: O HIV apresenta uma taxa de mutação extremamente elevada por causa da propensão a erros de transcrição reversa, e, desta forma, pode evitar a detecção pelos anticorpos ou células T geradas em resposta às proteínas virais. SÍN��OM� ���SU��T��� �A ��D�: Definida como perda de peso involuntária de mais de 10% do peso inicial, associada à diarreia, com duração superior a 30 dias, ou fraqueza e febre com duração superior a um mês, na ausência de doença concomitante ou outra condição, que não o HIV-1, que possam explicar a síndrome. A biópsia muscular evidencia apenas atrofia de fibras do tipo II, ou atrofia angular. Pode ser considerada mais como condição heterogênea do que propriamente uma miopatia verdadeira. Está relacionada principalmente a fatores nutricionais, porém sugere-se a influência das citocinas, particularmente a IL-1-β, a qual desempenharia papel pró-inflamatório caquetizante. A produção da interleucina é sistêmica, e não muscular. Em razão da origem multifatorial, propõe-se, além da correção nutricional, o uso de esteroides anabolizantes como a oxandrolona, com efeitos positivos. Pacientes sem queixa neurológica, mas com algum grau de atrofia, apresentam na sua maioria (97%) alterações histológicas caracterizadas por denervação, atrofia de fibras do tipo II, inflamação e necrose com fagocitose. DIAGNÓSTICO Para o diagnóstico do HIV contamos com diversos métodos que serão empregados de acordo com o tempo de infecção. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o Os testes para detecção da infecção pelo HIV são principalmente empregados em três situações: para triagem sorológica do sangue doado e garantia da segurança do sangue, hemoderivados e órgãos para transplante; para os estudos de vigilância epidemiológica; e para realizar o diagnóstico da infecção pelo HIV. Logo após a descoberta do HIV, foram desenvolvidos imunoensaios (IE) para o diagnóstico da infecção. Nas últimas décadas, quatro gerações de IE foram desenvolvidas. O ensaio de primeira geração tem o formato indireto ou seja, a presença de anticorpos específicos é detectada por um conjugado constituído por um anticorpo anti-IgG humana, geralmente ELISA. Esses exames são pouco específicos e menos sensíveis que as gerações posteriores. O ensaio de segunda geração também tem formato indireto; porém, utiliza antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos derivados de proteínas do HIV. Em comparação com os ensaios de primeira geração, os de segunda geração são mais sensíveis e específicos, por conter uma maior concentração de proteínas. O ensaio de terceira geração tem o formato “sanduíche” (ou imunométrico). A característica desse ensaio é utilizar antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos tanto na fase sólida quanto sob a forma de conjugado. Esse formato permite a detecção simultânea de anticorpos anti-HIV IgM e IgG. Como a IgG é bivalente, ou seja, possui dois sítios de ligação ao antígeno e a IgM é pentavalente, um desses sítios liga-se ao antígeno adsorvido à fase sólida e o outro fica livre para ligar-se aos mesmos antígenos solúveis, sob a forma de conjugado. Dessa forma, o anticorpo fica “entre dois” antígenos e, por essa característica, qualquer classe de imunoglobulina anti-HIV (IgG, IgM, IgA ou IgE) será detectada por esse tipo de metodologia. O ensaio de quarta geração detecta simultaneamente o antígeno p24 e anticorpos específicos anti-HIV. O componente de detecção de anticorpo tem o formato de “sanduíche”; portanto, detecta todas as classes de imunoglobulinas contra proteínas recombinantes ou peptídeos sintéticos derivados das glicoproteínas gp41 e gp120/160. O componente de detecção de antígeno p24 é constituído por um anticorpo monoclonal na fase sólida (para capturar o antígeno p24 presente no soro) e de um conjugado constituído por um antissoro (anticorpo) poliespecífico contra a proteína p24. Os Testes Rápidos (TR) são imunoensaios (IE) simples, que podem ser realizados em até 30 minutos. Existem vários formatos de TR, e os mais frequentemente utilizados são: dispositivos (ou tiras) de Imunocromatografia (ou fluxo lateral), Imunocromatografia de dupla migração (DPP), dispositivos de imunoconcentração e fase sólida. Esses testes devem ter uma especificidade > 99% e sensibilidade > 99,5% para serem classificados com bom desempenho. Embora os testes rápidos sejam sensíveis e específicos, falso-positivos podem ocorrer e por isso, testes complementares foram desenvolvidos. Dentre esses, estão incluidos Western blot (WB), Imunoblot (IB) ou imunoensaios em linha (LIA, do inglês Line Immuno Assay), incluindo o Imunoblot Rápido (IBR) e imunofluorescência indireta (IFI). A IFI foi muito utilizada como teste complementar durante a primeira década da epidemia de HIV, mas atualmente foi substituída pelo WB e Imunoblot. O WB e o Imunoblot envolvem o uso de tiras de membrana com proteínas nativas do HIV que são separadas por eletroforese (WB), ou por proteínas recombinantes ou peptídeos sintéticos impregnados diretamente nessas membranas (Imunoblot). Essas tiras são incubadas com amostras de soro ou plasma. Os anticorpos presentes na amostra se ligam especificamente às proteínas das tiras de WB ou IB e esses anticorpos anti-HIV específicos ligados às proteínas são detectados por anticorpos secundários, conjugados com uma UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o enzima, seguido por um substrato que gera um produto colorido. O WB e o Imunoblot são de custo elevado e requerem interpretação subjetiva. O WB é considerado regente quando se detecta duas das seguintes proteínas:p24; gp41; gp120/gp160. O IBR é semelhante ao IB, porém utiliza a metodologia DPP (Plataforma de Migração Dupla). Na fase sólida estão presentes os antígenos recombinantes ou peptídeos sintéticos dos vírus HIV-1 (p24, gp41, gp120 e gp160), incluindo o grupo O, e também a proteína do HIV-2 (gp36). Ao contrário do WB e IB, o IBR permite a detecção de anticorpos em menos de 30 minutos. A maioria desses ensaios detectam apenas IgG e por isso não são recomendados para confirmar a presença de anticorpos IgM HIV específicos (ensaios de terceira ou quarta geração) ou a presença do antígeno p24 (ensaios de quarta geração). A infecção pelo HIV pode ser diagnosticada por meio da detecção direta de componentes do vírus (antígeno p24, RNA ou DNA pró- viral). A detecção do antígeno p24 do HIV-1 ou de RNA ou DNA desempenha um papel importante quando a detecção de anticorpos não é possível. São especialmente úteis para o diagnóstico em crianças com idade inferior a 18 meses e na infecção aguda em adultos. Existem testes comerciais que detectam o DNA (qualitativo) e/ ou RNA, quer qualitativamente ou quantitativamente. Além desses, o diagnóstico pode ser feito utilizando amostras de sangue seco em papel filtro (DBS). Existem IE e WB que foram otimizados para utilizar DBS como amostra. As amostras coletadas em papel filtro devem ser testadas apenas com conjuntos diagnósticos que possuem registros válidos na ANVISA para utilização nesse tipo de amostra. TRATAMENTO A instituição da terapia antirretroviral (TARV) tem por objetivo diminuir a morbidade e mortalidade melhorando a qualidade e a expectativa de vida, e não erradicar a infecção pelo HIV. Sabe-se que mesmo em assintomáticos com contagem elevada de linfócitos T CD4, a replicação viral e a ativação imune crônica estão associadas ao desenvolvimento de doenças como eventos cardiovasculares, por isso o início da terapia é importante. Também se observa que pessoas com reconstituição imune, em uso de TARV, que mantêm contagens de LT-CD4 + acima de 500 células/mm3 e carga viral indetectável, atingem expectativa de vida semelhante à da população geral. Ressalta-se que, quando o tratamento é iniciado precocemente, aumentam-se as chances de se alcançar níveis elevados de LT-CD4 +. Deve-se estimular o início da TARV independente da contagem de T CD4. EM NENHUMA SITUAÇÃO DEVERÁ HAVER QUALQUER TIPO DE COERÇÃO PARA INÍCIO DA TRAV. Deve-se informar, por um lado, que os dados científicos atualmente disponíveis a respeito dos benefícios clínicos de se iniciar o tratamento em faixas de LT- CD4 + acima de 500 células/mm3 não são conclusivos. Por outro lado, é necessário enfatizar o alto nível de evidência de que a supressão viral pode reduzir (NÃO ELIMINA) significativamente a transmissão sexual do HIV. A TARV poderá ser iniciada desde que a pessoa que vive com HIV seja esclarecida sobre benefícios e riscos, além de fortemente motivada e preparada para o tratamento, respeitando-se a autonomia do indivíduo. Deve-se enfatizar que a TARV, uma vez iniciada, não deverá ser interrompida. A TARV está indicada para todos os indivíduos sintomáticos, independentemente da contagem de LT-CD4+. Entende-se por sintomáticos pacientes com: ● Nefropatia associada ao HIV (NAHIV): é uma forma clássica de acometimento glomerular que pode ocorrer com qualquer nível de LT-CD4 +. Manifesta-se por proteinúria intensa e hipoalbuminemia, habitualmente sem sinais clínicos de hipertensão arterial ou edema. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o ● Alterações neurológicas atribuídas ao HIV, incluindo alterações neurocognitivas, como perda da memória, lentificação psicomotora e déficit de atenção. Em uma fase inicial da demência associada ao HIV, esses sintomas costumam ser leves, evoluindo para déficits mais graves, tais como distúrbios da marcha, tremor e perda da habilidade motora fina. ● Cardiomiopatia associada ao HIV. ● Tuberculose ativa + HIV. Seu início deve ser precoce, entre 2 e 8 semana após o início do tratamento da tuberculose. ● Imunodeficiência avançada ou moderada. Em pacientes com contagem de LT-CD4 + 500 células/mm3 e carga viral superior a 100.000 cópias/mL, recomenda-se a monitorização laboratorial frequente e considerar início de TARV quando o LT-CD4 + estiver próximo a 500 células/ mm3. A escolha da terapia deve levar em consideração alguns fatores: - Eficácia e toxicidade imediata e no longo prazo; - Presença de coinfecções e comorbidades; - Uso concomitante de outros medicamentos; - Potencial de adesão; - Adequação à rotina de vida do paciente; - Interação com a alimentação; - Custo dos medicamentos. P�I���RA ���H�: A terapia inicial deve sempre incluir combinações de três antirretrovirais, sendo dois ITRN/ITRNt associados a um ITRNN. ● ITRN/ITRNt - Inibidores da transcriptase reversa análogos de nucleosídeos e nucleotídeos (atuam como terminadores de cadeia de DNA, depois deles nucleosídio é acrescentado, e assim, inibe a transcrição do RNA viral para DNA). ● ITRNN - inibidores da transcriptase reversa não análogos de nucleosídeo (se ligam diretamente a transcriptase reversa, inibindo-a). ● IP/r - Inibidores da protease reforçados com ritonavir (inibem a quebra de proteínas precursoras na formação viral e inibem a maturação viral). Só pra ficar claro, esses não são os únicos medicamentos existentes, também temos inibidores de integrase (impedem a integração do pró-vírus no genoma da célula), inibidores de entrada (inibem a gp41) e antagonistas de receptores de CCR5 (impedem a entrada de vírus CCR5-trópico. Mas, não vi a recomendação desses. Mas quais medicamentos utilizar? A associação de tenofovir com lamivudina (TDF/3TC) apresenta um perfil de toxicidade favorável em relação à lipoatrofia e à toxicidade hematológica quando comparada ao AZT, e permite tomada única diária. O TDF é um análogo de nucleotídeo (ITRNt) e sua maior desvantagem é a nefrotoxicidade, particularmente em diabéticos, hipertensos, negros e idosos e no uso concomitante de outros medicamentos nefrotóxicos. Pacientes com doença renal preexistente devem usar preferencialmente outra associação de ITRN. A UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o diminuição da densidade óssea tem sido relacionada ao uso de TDF. O EFV (efavirenz) apresenta posologia confortável (1 comprimido ao dia), facilitando a adesão ao tratamento. Promove supressão da replicação viral por longo prazo e possui perfil de toxicidade favorável. Seus efeitos adversos mais comuns – tonturas, alterações do sono, sonhos vívidos e alucinações – costumam desaparecer após as primeiras duas a quatro semanas de uso. A indicação do efavirenz deve ser avaliada criteriosamente em pessoas com depressão ou que necessitam ficar em vigília durante a noite. Quando comparados aos IP/r, os ITRNN são raramente associados a manifestações gastrintestinais, tais como náuseas, vômitos ou diarreia. Além disso, dislipidemia e resistência periférica à insulina parecem ser menos frequentes com o uso de esquemas contendo ITRNN. Caso o sistema TDF + 3 TC + EFV esteja contraindicado, podemos substituir o TDF por: A associação de zidovudina com lamivudina (AZT/3TC) é uma das mais estudadas em ensaios clínicos randomizados: apresenta eficácia e segurança equivalentes a outras combinações de dois ITRN/ITRNt, sendo habitualmente bem tolerada. Está disponível em coformulação no Sistema Único de Saúde (SUS), o que contribui para maior comodidade posológica, devendo-se ingerir 1 comprimido 2 vezes ao dia. A toxicidade hematológica é um dos principais efeitos adversos do AZT, o que pode resultar na necessidade de sua substituição. Recomenda-se evitar o uso desse medicamento em casos de anemia (Hb < 10g/dL) e/ou neutropenia (neutrófilos < 1.000 células/mm3). A combinação de abacavir com lamivudina(ABC/3TC) é alternativa para os pacientes com intolerância ou contraindicação aos esquemas com TDF/3TC ou AZT/3TC. A combinação de didanosina com lamivudina (ddI/3TC) é recomendada na terapia inicial apenas nas situações de intolerância ao AZT, TDF e ABC. Pancreatite e neuropatia periférica estão relacionadas ao uso do ddI. A nevirapina (NVP) é considerada preferencial em relação ao EFV em algumas situações. A NVP pode ser usada em casos de intolerância ao EFV, apresenta menor custo. Ele reduz LDL e aumenta HDL sendo uma opção para pacientes com DM, coronariopatias ou risco vascular elevado. Mas esse medicamento possui hepatotoxicidade elevada. SE���D� �I�H�: Em situações em que o uso de efavirenz e nevirapina esteja impossibilitado, deve-se proceder à sua substituição por um Inibidor de Protease, de modo que o esquema ARV fique estruturado da seguinte forma: O lopinavir/ritonavir (LPV/r) deve ser o IP/r preferencial, pelas seguintes razões: experiência de uso, maior número de estudos clínicos com seguimento no longo prazo, potência e durabilidade conferidas ao esquema, além de menor custo e facilidade logística, pois não necessita de armazenamento refrigerado. As vantagens da combinação de IP com ritonavir como adjuvante farmacológico estão em proporcionar níveis séricos mais elevados e estáveis do medicamento, por tempo mais prolongado e com menor risco de mutações que confiram resistência viral. Por outro lado, é mais frequente a ocorrência de eventos gastrintestinais (diarreia) e dislipidemias em esquemas com IP/r, quando comparados a associações que envolvem ITRNN, particularmente o efavirenz. As alternativas para o LPV/r são: O atazanavir/ritonavir (ATV/r) é opção alternativa ao LPV/r, devido ao seu perfil de toxicidade favorável e eficácia na supressão viral. Desvantagens relacionadas a essa associação são o seu elevado custo. Convém salientar que a combinação LPV/r está associada a maior ocorrência de dislipidemia e que o ATV/r determina hiperbilirrubinemia indireta e icterícia em 4% dos casos. O uso do ATV/r deve ser evitado em indivíduos que necessitem de inibidores de bomba de prótons (por ex., omeprazol). O fosamprenavir/ritonavir (FPV/r) é opção no manejo da toxicidade ao LPV/r e ATV/r. Temos também as situações especiais: UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o Achei uma tabela legal, vou colocar. GENOTIPAGEM Está indicada para pacientes que se infectaram com parceiros em uso de TARV (atual ou pregresso) e gestantes infectadas pelo HIV. Esse processo serve para a detecção de mutações de resistência, correlacionando-as com maiores chances de falha terapêutica. Dados de uma grande coorte europeia demonstraram que a presença de mutações de resistência primária a, pelo menos, um antirretroviral utilizado no tratamento inicial, aumentou o risco de falha terapêutica no primeiro ano de acompanhamento. Um aspecto importante para a análise de efetividade e custo-efetividade da adoção da genotipagem pré- tratamento é a prevalência da resistência primária ou transmitida do HIV-1 na população, uma vez que esta determina o número de testes de genotipagem necessários para encontrar um caso em que o exame efetivamente influenciaria na decisão terapêutica. Desse modo, considerando que a prevalência da resistência primária ou transmitida apresenta significativas diferenças regionais, a avaliação de custo-efetividade dessa estratégia deve ser avaliada em cada contexto epidemiológico. Dois estudos recentes adotaram as mutações propostas pela OMS e incluíram amostras das cinco regiões do Brasil, embora não representativas do país, ou mesmo das regiões brasileiras. Nesses estudos, a prevalência nacional de mutações de resistência primária a qualquer classe de ARV foi de 8,1% e 12,3%. Apesar da sua importância como alerta para fins de vigilância, esses resultados não subsidiam a decisão da adoção da genotipagem pré-tratamento universal, pelos motivos já expostos. Em síntese, inexistem evidências publicadas com metodologia adequada que sustentem de modo inequívoco o benefício da implantação rotineira de genotipagem pré-tratamento no Brasil. Além disso, é preciso ponderar vantagens e desvantagens de sua utilização na rotina pré-tratamento, incluindo o potencial retardo no início da TARV e o impacto desfavorável na Rede Nacional de Genotipagem (Renageno). Por fim, são necessários estudos representativos para avaliar a magnitude da resistência primária do HIV no Brasil. Além disso, quando falamos de falha terapêutica, recomenda-se a genotipagem para o HIV, disponível pelo SUS (Renageno), como ferramenta de detecção de resistência. As suas principais vantagens são: 1. Possibilitar a escolha de esquemas antirretrovirais com maior chance de supressão viral, com base na identificação de mutações de resistência; 2. Propiciar o uso de medicamentos ativos por períodos mais prolongados; 3. Evitar trocas desnecessárias de antirretrovirais; 4. Evitar toxicidade de medicamentos inativos; UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o 5. Melhorar a relação custo-efetividade. Os critérios para a realização do teste de genotipagem pela Renageno são: 1. Falha virológica confirmada em coleta consecutiva de carga viral após intervalo de quatro semanas; 2. Carga viral superior a 1.000 cópias/mL; 3. Uso regular de TARV por pelo menos seis meses. ABORDAGEM E CONSULTAS AB����GE� ���CI��: Um dos objetivos da abordagem inicial de uma pessoa com diagnóstico de infecção pelo HIV é estabelecer uma sólida relação médico-paciente. O uso de uma linguagem acessível é fundamental para a compreensão dos aspectos essenciais da infecção, da avaliação clínico-laboratorial, da adesão e do tratamento. É preciso conhecer as condições psicossociais do paciente, por isso é necessário uma anamnese bem feita. Durante o exame físico devemos avaliar PA, peso, altura, IMC, circunferência abdominal, alterações neurocognitivas e focais, alterações de pele, adenopatias, hepatoesplenomegalia, alterações genitais… Alguns exames complementares também são pedidos, dentre eles: Também são feitas investigações de tuberculose, investigação de risco cardiovascular, rastreamento de neoplasias. PE����IC����E D�� ��N�U�T��: A periodicidade das consultas médicas deve adequar-se à fase do tratamento e às condições clínicas do paciente. Após a introdução ou alteração da TARV, recomenda-se retorno entre 7 e 15 dias com o propósito de se observar eventos adversos e dificuldades que possam comprometer a adesão; em seguida, retornos mensais até a adaptação do paciente à TARV. Pacientes com quadro clínico estável poderão retornar para consultas em intervalos de até 6 meses; nesses casos, exames de controle também poderão ser realizados com periodicidade maior. Ressalta-se que, nos intervalos entre as consultas médicas, a adesão deverá ser trabalhada por outros profissionais da equipe multiprofissional, quando o paciente comparecer ao serviço para retirar medicamentos, realizar exames, participar de encontro de grupos e outras consultas. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o LEISHMANIOSE VISCERAL Ref: BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de recomendações para diagnóstico, tratamento e acompanhamento de pacientes com a coinfecção Leishmania-HIV. Brasília, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral. Brasília, 2003. O calazar ou leishmaniose visceral é uma doença causada por protozoários do subgênero Leishmania, particularmente pela L. chagasi (mas também pelo L. donovani, L. infantum) na América Latina. As leishmanias são transmitidas ao homem por flebotomíneos. Existem dois tipos de LV, que diferem nas suas características de transmissão: a LV zoonótica é transmitida do animal para o vetor e em seguidapara o humano; e a LV antroponótica é transmitida do humano para o vetor e em seguida para o humano. Na primeira, humanos são hospedeiros ocasionais e animais, principalmente cães, são os reservatórios do parasita. LV zoonótica é encontrada em áreas de transmissão de L. infantum, enquanto a LV antroponótica é encontrada em áreas de transmissão da L. donovani. Morfologia e Biologia As leishmanias são parasitos intracelulares obrigatórios que se reproduzem dentro do sistema fagocítico mononuclear dos mamíferos suscetíveis. O dimorfismo é característica desse gênero, todavia se admite hoje a possibilidade de três estágios diferentes do parasito. As formas amastigotas, que em geral são arredondadas, medem de 3 a 6 μ de diâmetro e não têm o flagelo exteriorizado. Nas colorações de Romanovsky, o citoplasma aparece em azul, o núcleo é relativamente grande, excêntrico, e cora-se em vermelho. A estrutura mitocondrial é característica e contém uma quantidade substancial de DNA extranuclear, que aparece organizado em mini ou maxicírculos justanucleares (Figura 94.1). Multiplica-se exclusivamente dentro dos vacúolos de macrófagos por divisão simples No trato digestivo do vetor invertebrado (que é o flebótomo, pequeno inseto conhecido como mosquito-palha), as leishmânias se desenvolvem, passando por múltiplos estágios, até atingirem uma forma flagelada denominada promastigota metacíclico, que migra para a probóscida do inseto e, pela regurgitação no repasto sanguíneo dele, é inoculada nos mamíferos. Os promastigotas podem crescer in vitro em um número variado de meios de cultivo, multiplicando-se até uma fase estacionária, em que aparecem as formas metaciclogênicas bastante infectantes. A interação dos promastigotas com os macrófagos, que ocorre no início da infecção, tem sido amplamente estudada. Diversos receptores e substâncias interativas têm sido identificados. Nos macrófagos in vitro, na ausência de soro, o acoplamento do promastigota é mediado pelo receptor de complemento tipo 3 (CR3), o qual é receptor de fibronectina, de frutose/manose e de produtos finais de glicolizações. Na superfície do parasito, duas moléculas importantes foram identificadas como essenciais para o acoplamento dele ao macrófago: uma protease neutra à glicoproteína UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o 63 (gp63); e uma lipofosfoglicose (LPG). A Leishmania donovani somente ativa o complemento em presença de anticorpos. Portanto, uma vez aderida à membrana do macrófago, o parasito é fagocitado, perde o flagelo dentro dos vacúolos parasitófaros, funde-se aos lisossomas e inicia a sua replicação. CICLO EVOLUTIVO Atualmente no homem, as formas amastigotas se multiplicam, chegando a dezenas de parasitos em uma única célula, até destruí-la. Os protozoários livres são, então, novamente fagocitados ou ingeridos pelos flebótomos ao sugarem o mamífero infectado, ocorrendo no tubo digestivo deles uma série de transformações. Tornam a perder o flagelo e, no epitélio da parede do intestino do inseto, evoluem para uma nova forma flagelar metacíclica que migra até a probóscida do inseto, sendo, então, regurgitados para a corrente sanguínea do mamífero no repasto sanguíneo das fêmeas desse inseto, fechando-se assim o ciclo biológico desses protozoários (Figura abaixo). Recentes investigações revelam que a saliva dos flebótomos contém substâncias que aumentam ou facilitam a infecção das células mononucleares dos mamíferos. FIGURA. Ciclo evolutivo e epidemiológico do calazar. A) Hospedeiro humano; B) Vetor (flebótomos); C) Reservatório: 1-5, Leishmania intracelular; 6-8, ruptura das células e invasão de novos macrófagos; 9-10, leptomos (promastigotas desenvolvidas nos flebótomos. 1. Lutzomyia longipalpis, vetor mais importante no Brasil; 2. Raposa (Lycalopex vetulus) com LV, capturada nos arredores de Sobral, Ceará. Notar o emagrecimento, as unhas compridas, os pelos eriçados e a paresia do trem posterior. Fisiopatologia/Patogenia O flebótomo fêmea, ao picar o reservatório infectado, provoca uma pequena laceração da pele e um hematoma do qual ingere os macrófagos infectados com amastigotas de Leishmania, as quais se dividem e evoluem em seu tubo digestivo até formas promastigotas metacíclicas que chegam ao aparelho bucal do inseto. Ao picar o homem a fêmea do inseto regurgita as formas promastigotas, as quais são englobadas pelos macrófagos e com auxílio de substâncias da saliva do inseto, disseminam-se pelo sistema linforreticular do fígado, do baço, do endotélio vascular e em todo o sistema onde se multiplicam intensamente por divisão das formas amastigotas. Inicialmente ocorre uma resposta humoral, por ativação policlonal de linfócitos B, que se caracteriza por uma intensa produção de gamaglobulina, seguida de uma depressão da atividade linfocitária e da produção de interleucinas (IL-2), interferon-y (IFN-y) e IL-10, redução dos neutrófilos e pancitopenia generalizada. A evolução da infecção se baseia na resposta imune fenotípica de Thl (responsável por produzir citocinas como IFN-y, IL-γ2, importantes na resposta contra vírus e parasitas intracelulares, indução de macrófagos, etc.) e Th2 (responsável por produzir citocinas como IL-4 e IL-10, importantes na indução da produção de IgG e IgE e na inibição da resposta Th1). Nesta evolução para as formas graves predomina o componente Th2, com diminuição da proliferação de linfócitos T citotóxicos, decréscimo de IL-2 e IFN-y com predomínio de IL-4, IL-5, IL-6 e IL-10 e ativação policlonal de linfócitos B. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o Na evolução para as formas brandas ou as sintomáticas predomina o componente Thl com limitação da doença e abortamento da infecção, associada com IL-2, IFN-y, IL-12 e ação de linfócitos TCD4+ e CD8+. FIGURA. Esquema representativo da ativação imunológica de macrófagos e linfócitos T à infecção pela L. donovani. X representa ausência de resposta; macrófago apresenta antígeno. Exerce uma ação e produção: produção aumentada; produção diminuída. ➔ Lin����do�: Geralmente, os linfonodos não exibem acentuado aumento de volume. No sistema linforreticular, principalmente os macrófagos do baço, do fígado e da medula óssea fagocitam as formas promastigotas metacíclicas, que se transformam em amastigotas e se multiplicam intensamente abarrotando aquele sistema. ➔ Baço: O baço aumenta de volume, fica congesto, com focos hemorrágicos, com intensa hiperplasia do sistema retículo-histiocitário, atrofia dos folículos linfóides e fibrose. ➔ Fíga��: No fígado ocorre hiperplasia e hipertrofia das células de Kupffer, principalmente das parasitadas, reação inflamatória mesenquimal com infiltração de histiócitos, monócitos, linfócitos e plasmócitos com formação de nódulos granulomatosos e lesões parenquimatosas, atrofia do parênquima e degeneração gordurosa (esteatose). Os sinusóides hepáticos se tornam dilatados. ➔ Med��� ós�e�: Na medula óssea aparecem sinais de hiperplasia funcional plasmocitária, aumento dos megaloblastos e redução dos mielócitos, com presença de Leishmania nos macrófagos. Ocorre hiperplasia e parasitismo do sistema retículo-histiocitário na pele e em todo o organismo. Quadro clínico O calazar clássico se manifesta em três fases, o período inicial, o período de estado e o estágio final. A doença se inicia com febre recorrente de 39-40°C, ou insidiosa com dois picos diários, às vezes com calafrio e mal-estar, instalando-se progressivamente esplenomegalia e hepatomegalia, diarréia e sensação indefinida de desconforto e cansaço. No período de estado a doença progride em sua cronicidade com anemia, leucopenia e pancitopenia, aumento progressivo do baço e do fígado, atingindo grandes proporções (Fig. abaixo). O paciente, se não tratado, evolui no seu emagrecimento até a caquexia, aparecendo manifestações hemorrágicas, queda de cabelo e sinais de profunda desnutrição. Devemos mencionar as formas hemorrágicas com púrpura trombocitopênica ehemorragias digestivas como acidente final da doença fatal. Devemos assinalar a associação do calazar com outras doenças, como a infecção pelo HIV, que muitas vezes faz brotar um calazar “dormente”. UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o Diagnóstico Conforme disposto no Manual de Vigilância e Controle da Leishmaniose Visceral (2006), o diagnóstico pode ser realizado no âmbito ambulatorial e, por se tratar de uma doença de notificação compulsória e com características clínicas de evolução grave, deve ser feito de forma precisa e o mais precocemente possível. Di�g�ós�i�� l��o��t��i�� Diagnóstico imunológico: Pesquisa de anticorpos contra Leishmania ● Imunofluorescência indireta – consideram-se como positivas as amostras reagentes a partir da diluição de 1:80. Nos títulos iguais a 1:40, com clínica sugestiva de LV, recomenda-se a solicitação de nova amostra em 30 dias ● Testes rápidos imunocromatográficos – são considerados positivos quando a linha controle e a linha teste aparecem na fita ou plataforma ● Ensaio imunoenzimático (ELISA) – Este teste não está disponível na rede pública de saúde. Ob�e�v�ção: Títulos variáveis dos exames sorológicos podem persistir positivos por longo período, mesmo após o tratamento. Assim, o resultado de um teste positivo, na ausência de manifestações clínicas, não autoriza a instituição de terapêutica. Diagnóstico parasitológico: É o diagnóstico de certeza feito pelo encontro de formas amastigotas do parasito, em material biológico obtido preferencialmente da medula óssea – por ser um procedimento mais seguro –, do linfonodo ou do baço. Este último deve ser realizado em ambiente hospitalar e em condições cirúrgicas. Diagnóstico diferencial: Realizar diagnóstico diferencial com enterobacteriose de curso prolongado (associação de esquistossomose com salmonela ou outra enterobactéria), malária, brucelose, febre tifoide, esquistossomose hepatoesplênica, forma aguda da doença de Chagas, linfoma, mieloma múltiplo, anemia falciforme, entre outras. Tratamento Sempre que possível, a confirmação parasitológica da doença deve preceder o tratamento. Porém, quando o diagnóstico sorológico ou parasitológico não estiver disponível ou na demora da sua liberação, o tratamento deve ser iniciado. O tratamento engloba terapêutica específica e medidas adicionais, como hidratação, antitérmicos, antibióticos, hemoterapia e suporte nutricional. Exames laboratoriais e eletrocardiográficos deverão ser realizados durante o tratamento para acompanhar a evolução e identificar possível toxicidade medicamentosa. O antimonial pentavalente tem a vantagem de poder ser administrado no nível ambulatorial, o que diminui os riscos relacionados à hospitalização. A anfotericina B é a única opção no tratamento de gestantes e de pacientes que tenham contraindicações ou que manifestem toxicidade ou refratariedade relacionada ao uso dos antimoniais pentavalentes Recomenda-se o antimoniato de N-metil glucamina como fármaco de primeira escolha para o tratamento da LV, exceto em algumas situações, nas quais se recomenda o uso da anfotericina B, prioritariamente em sua formulação lipossomal. A lista de indicações para utilização da anfotericina B lipossomal inclui pacientes que atendam a pelo menos um dos critérios abaixo: ● idade menor que 1 ano; ● idade maior que 50 anos; ● escore de gravidade: clínico >4 ou clínico-laboratorial >6; ● insuficiência renal; ● insuficiência hepática; ● insuficiência cardíaca; UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� Pro���m� 4 – Fec����n�o ● intervalo QT corrigido maior que 450ms; ● uso concomitante de medicamentos que alteram o intervalo QT; ● hipersensibilidade ao antimonial pentavalente ou a outros medicamentos utilizados para o tratamento da LV; • infecção pelo HIV; ● comorbidades que comprometem a imunidade; ● uso de medicação imunossupressora; ● falha terapêutica ao antimonial pentavalente ou a outros medicamentos utilizados para o tratamento da LV; ● gestantes. Nas situações em que o paciente apresente hipersensibilidade ou falha terapêutica ao antimonial pentavalente e não se enquadre em nenhum dos critérios de indicação para utilização da anfotericina B lipossomal, poderá ser adotado como alternativa terapêutica o desoxicolato da anfotericina B. Abaixo vocês verão um resumex sobre os medicamentos propostos pelo Ministério da Saúde. ➔ An�i��n�a�� �� N-me��� g���am��� Indicação: Na impossibilidade de uso de anfotericina B lipossomal, os pacientes de LV com maior risco de óbito podem ser tratados com o antimoniato de N-metil glucamina. Dose e via de aplicação: 20mg/Sb+5/kg/dia, por via endovenosa ou intramuscular, uma vez ao dia, por no mínimo 20 e no máximo 40 dias. A dose prescrita refere-se ao antimônio pentavalente (Sb+5). Dose máxima de 3 ampolas ao dia. Administração: Endovenosa ou intramuscular. ➔ An�o��r��i�� B l��o�s���� Dose e via de aplicação: 3mg/kg/dia, durante 7 dias, ou 4mg/kg/dia, durante 5 dias em infusão venosa, em uma dose diária. ➔ Des����ol��� �e �n���er����a B Dose e via de aplicação: 1mg/kg/dia por infusão venosa, durante 14 a 20 dias. Dose máxima diária de 50 mg Na Figura abaixo são apresentados os medicamentos utilizados para o tratamento da LV e LTA segundo apresentação, dose e via de aplicação. A escolha de cada um deles deverá considerar a faixa etária, presença de gravidez, comorbidades e o perfil de toxicidade das drogas. Todos os medicamentos citados, tanto para o tratamento da LV quanto da LTA, são tóxicos e podem apresentar eventos adversos. A dose de antimoniato e o tempo de tratamento dependem da forma clínica e em alguns casos, os pacientes só evoluem para cura após a tentativa de vários esquemas terapêuticos. Condutas diante do abandono de tratamento UN��� – 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa� http://scielo.iec.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-49742011000100012#f1 Pro���m� 4 – Fec����n�o Entende-se por abandono de tratamento todo caso que não completou 20 doses de tratamento com antimonial pentavalente no tempo preestabelecido, ou pacientes que, não tendo recebido alta, não compareceram até 30 dias após o agendamento, para avaliação clínica. Quando houver a interrupção no tratamento, deve ser considerado o número de doses, o estado clínico atual e o tempo decorrido da última dose. Caso o paciente retorne antes de 7 dias de interrupção da droga, completar o tratamento; após 7 dias, considerar o Quadro 6. Critérios de Cura São essencialmente clínicos. O desaparecimento da febre é precoce e acontece por volta do 5º dia de medicação; a redução da hepatoesplenomegalia ocorre logo nas primeiras semanas. Ao final do tratamento, o baço geralmente apresenta redução de 40% ou mais, em relação à medida inicial. A melhora dos parâmetros hematológicos (hemoglobina e leucócitos) surge a partir da 2a semana. As alterações vistas na eletroforese de proteínas se normalizam lentamente, podendo levar meses. O ganho ponderal do paciente é visível, com retorno do apetite e melhora do estado geral. Nessa situação, o controle por meio de exame parasitológico ao término do tratamento é dispensável. O seguimento do paciente tratado deve ser feito aos 3, 6 e 12 meses após o tratamento, e na última avaliação, se permanecer estável, o paciente é considerado curado. O aparecimento de eosinofilia ao final do tratamento ou ao longo dos segmentos é sinal de bom prognóstico. As provas sorológicas não são indicadas para seguimento do paciente. Profilaxia O uso de inseticidas residuais, telagem das portas e janelas das casas e a eliminação dos animais domésticos (cães) nas áreas de transmissão domiciliar e peridomiciliar têm se mostrado efetivos no controle. Na transmissão extradomiciliar e em áreas de florestas as únicas alternativas são os repelentes e o uso de vestimenta protetora contra a picada dos flebótomos. A vacinação preventiva com antígenos de promastigotas pode dar resultados parciais e transitórios. UN���– 5º Sem���r� – 2021.1 Mód. XI� Gru�� �� Sal��ção #pa�
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