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Tutoria 5 Mariana Maciel OE1. DEFINIR IMUNODEFICIÊNCIA FAZENDO SUA CLASSIFICAÇÃO E DIFERENCIAÇÃO EM PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA. As imunodeficiências podem ser causadas por defeitos hereditários que afetam o desenvolvimento do sistema imunológico ou podem resultar de efeitos secundários de outras doenças (p. ex., infecção, desnutrição, envelhecimento, imunossupressão, doenças autoimunes ou quimioterapia). Do ponto de vista clínico, os pacientes com imunodeficiências têm maior suscetibilidade a infecções, assim como a determinados tipos de câncer. O tipo de infecção em um paciente depende, sobretudo, do componente do sistema imunológico afetado. Pacientes com deficiências de imunoglobulinas, complemento ou células fagocitárias tipicamente apresentam infecções recorrentes com bactérias piogênicas, enquanto aqueles que têm deficiência na imunidade celular são suscetíveis a infecções causadas por vírus, fungos e bactérias intracelulares. Imunodeficiências Primárias (Congênitas): As imunodeficiências primárias são raras (felizmente); todavia, elas contribuíram muito para o nosso entendimento a respeito do desenvolvimento e da função do sistema imunológico. A maioria das imunodeficiências primárias é geneticamente determinada e afeta a imunidade adaptativa (isto é, humoral ou celular) ou os mecanismos naturais de defesa do hospedeiro, incluindo as proteínas do complemento e células, como as células fagocitárias e NK. Deficiências na imunidade adaptativa costumam ser classificadas de acordo com o componente primário envolvido (isto é, células B, células T ou ambas); entretanto, por causa das interações entre os linfócitos T e B, essas distinções não são bem definidas. Por exemplo, é comum defeitos nas células T causarem uma deficiência na produção de anticorpos e, por isso, deficiências isoladas das células T podem ser indistinguíveis das deficiências combinadas de células T e B. A maioria das imunodeficiências primárias é detectada de forma precoce (entre seis meses e dois anos de idade), em geral porque as crianças são suscetíveis a infecções recorrentes. Um dos feitos mais importantes da biologia molecular moderna foi a identificação das bases genéticas de diversas imunodeficiências primárias (Fig. 4-25), estabelecendo as fundações para a substituição pela terapia genética no futuro. ➢ Agamaglobulinemia Ligada ao X: Doença de Bruton ➢ Imunodeficiência Comum Variável ➢ Deficiência Isolada de IgA ➢ Síndrome de Hiper-lgM ➢ Hipoplasia do Timo: Síndrome de DiGeorge ➢ Imunodeficiência Combinada Grave ➢ Defeitos na Ativação de Linfócitos ➢ Imunodeficiência com Trombocitopenia e Eczema: Síndrome de Wiskott-Aldrich ➢ Deficiências Genéticas dos Componentes da Imunidade Natural – proteínas do complemento, células fagocitárias Imunodeficiências Secundárias (Adquiridas): As imunodeficiências secundárias a outras doenças ou terapias são muito mais comuns do que as desordens primárias (hereditárias). As imunodeficiências secundárias podem ser encontradas em pacientes com desnutrição, infecção, câncer, doença renal ou sarcoidose. Entretanto, as causas mais comuns de imunodeficiência são a supressão da medula óssea ou da função linfocitária induzida por algum tratamento. O exemplo mais importante da imunodeficiência secundária é a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA). Fonte: Patologia Básica – Robbins Doenças secundárias decorrentes de imunodeficiência Estas doenças podem ser um resultado de: ➢ Doença prolongada (crônica) e/ou séria como diabetes ou câncer; ➢ Medicamentos; ➢ Raramente, radioterapia. Tutoria 5 Mariana Maciel As doenças decorrentes de imunodeficiência podem resultar praticamente de qualquer doença grave prolongada. O diabetes, por exemplo, pode conduzir a uma doença decorrente de imunodeficiência, porque os leucócitos não funcionam bem se a concentração de glicose no sangue estiver elevada. A infecção pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV) causa a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), que é a doença mais grave e frequente de imunodeficiência adquirida. Muitos tipos de câncer podem causar imunodeficiência. Por exemplo, qualquer câncer que afete a medula óssea (como leucemia e linfoma) pode impedir que a medula óssea produza leucócitos normais (células B e células T), que são parte do sistema imunológico. A desnutrição, quer seja referente a todos ou a apenas um nutriente, pode danificar o sistema imunológico. Quando a desnutrição causa uma perda de peso até menos de 80% do peso recomendado, o sistema imunológico é afetado. Uma redução de 70% ou mais conduz, habitualmente, a uma debilitação grave. Imunodeficiências secundárias também ocorrem em pessoas idosas e pessoas hospitalizadas. Os imunossupressores são deliberadamente utilizados para suprimir o sistema imunológico. Por exemplo, alguns são usados para prevenir a rejeição de um órgão ou um tecido transplantado ( Medicamentos utilizados para evitar a rejeição de um transplante). Eles podem ser administrados a pessoas com uma doença autoimune para suprimir o ataque do corpo contra seus próprios tecidos. Os corticosteroides, um tipo de imunossupressor, são utilizados para suprimir a inflamação associada a várias doenças, tais como a artrite reumatoide. No entanto, os imunossupressores também inibem a capacidade que o organismo tem de combater as infecções e, possivelmente, de destruir as células cancerígenas. A quimioterapia e a radioterapia também podem suprimir o sistema imunológico, levando, por vezes, a doenças decorrentes de imunodeficiência. https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-hormonais-e-metab%C3%B3licos/diabetes-mellitus-dm-e-dist%C3%BArbios-do-metabolismo-da-glicose-no-sangue/diabetes-mellitus-dm https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/infec%C3%A7%C3%B5es/infec%C3%A7%C3%A3o-pelo-v%C3%ADrus-da-imunodefici%C3%AAncia-humana-hiv/infec%C3%A7%C3%A3o-pelo-v%C3%ADrus-da-imunodefici%C3%AAncia-humana-hiv https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-nutricionais/desnutri%C3%A7%C3%A3o/desnutri%C3%A7%C3%A3o https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/transplante/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-transplantes#v8573631_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/doen%C3%A7as-imunol%C3%B3gicas/transplante/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-transplantes#v8573631_pt https://www.msdmanuals.com/pt-br/casa/dist%C3%BArbios-%C3%B3sseos,-articulares-e-musculares/dist%C3%BArbios-articulares/artrite-reumatoide-ar#v21496572_pt Tutoria 5 Mariana Maciel OE2. ENTENDER O HIV/SIDA, ABORDANDO: DEFINIÇÃO, EPIDEMIOLOGIA, QUADRO CLÍNICO , FISIOPATOLOGIA, FATORES DE RISCO, PREVENÇÃO, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO. DEFINIÇÃO : HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana): O HIV é um retrovírus que provoca uma redução imunológica crônica e que tem comportamento progressivo, essas características estão relacionadas ao decréscimo nos níveis dos linfócitos CD4, que atuam como mensageiros de ataque para diversos leucócitos a fim de que se inicie o combate imunológico contra o agente agressor, com o ataque aos linfócitos CD4 esta defesa do organismo fica deficitária, o que muitas vezes ocasiona a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA) como consequência. Fonte: http://www2.unifap.br/ppcs/files/2014/09/Janete-Silva-Ramos.pdf HIV significa vírus da imunodeficiência humana. É o vírus que pode levar à síndrome da imunodeficiência adquirida, ou AIDS, se não for tratado. Ao contrário de alguns outros vírus, o corpo humano não consegue se livrar completamente do HIV, mesmo com o tratamento. Então, uma vez que você tenha o HIV, você o terá por toda a vida. O HIV ataca o sistema imunológico do corpo, especificamente as células CD4 (células T), que ajudam o sistema imunológico a combater infecções. Não tratado, o HIV reduz o número de células CD4 (células T) no corpo, tornando a pessoa mais propensa a obter outras infecções ou cânceresrelacionados à infecção. Com o tempo, o HIV pode destruir tantas dessas células que o corpo não consegue combater infecções e doenças. Essas infecções oportunistas ou cânceres se aproveitam de um sistema imunológico muito fraco e sinalizam que a pessoa tem AIDS, o último estágio da infecção pelo HIV. A AIDS é a fase mais grave da infecção pelo HIV. Pessoas com AIDS têm um sistema imunológico tão danificado que recebem um número crescente de doenças graves, chamadas de infecções oportunistas. Fonte: https://www.hiv.gov/hiv-basics/overview/about-hiv-and-aids/what-are-hiv-and-aids SIDA (Síndrome da Imunodeficiência Humana): É a doença causada pelo HIV, que ataca células específicas do sistema imunológico, responsáveis por defender o organismo de doenças. Em um estágio avançado da infecção pelo HIV, a pessoa pode apresentar diversos sinais e sintomas, além de infecções oportunistas (pneumonias atípicas, infecções fúngicas e parasitárias) e alguns tipos de câncer. Sem o tratamento antirretroviral, o HIV usa essas células do sistema imunológico para replicar outros vírus e as destroem, tornando o organismo incapaz de lutar contra outras infecções e doenças. A AIDS é uma doença retroviral causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV). Ela é caracterizada por infecção e depleção dos linfócitos T CD4+ e imunossupressão acentuada, causando infecções oportunistas, neoplasias secundárias e manifestações neurológicas. TRANSMISSÃO : As principais formas de transmissão do HIV são: ➢ Sexual; ➢ Sanguínea (em receptores de sangue ou hemoderivados e em usuários de drogas injetáveis, ou UDI); ➢ Vertical (da mãe para o filho, durante a gestação, parto ou por aleitamento). Além dessas formas, mais frequentes, também pode ocorrer a transmissão ocupacional, ocasionada por acidente de trabalho, em profissionais da área da saúde que sofrem ferimentos com instrumentos perfurocortantes contaminados com sangue de pacientes infectados pelo HIV. Sexual A principal forma de exposição em todo o mundo é a sexual, sendo que a transmissão heterossexual, nas relações sem o uso de preservativo é considerada pela OMS como a mais frequentes. Na África subsaariana, é a principal forma de transmissão. Nos países desenvolvidos, a exposição ao HIV por relações homossexuais ainda é a responsável pelo maior número de casos, embora as relações heterossexuais estejam aumentando proporcionalmente como uma tendência na dinâmica da epidemia. Os fatores que aumentam o risco de transmissão do HIV em uma relação heterossexual são: alta viremia, imunodeficiência avançada, relação anal receptiva, relação sexual durante a menstruação e presença de outra DST, principalmente as ulcerativas. Sabe- se hoje que as úlceras resultantes de infecções sexualmente transmissíveis como cancro mole, sífilis e herpes genital, aumentam muito o risco de transmissão do HIV. https://www.hiv.gov/hiv-basics/overview/about-hiv-and-aids/what-are-hiv-and-aids Tutoria 5 Mariana Maciel Sanguínea A transmissão sanguínea associada ao uso de drogas injetáveis é um meio muito eficaz de transmissão do HIV, devido ao uso compartilhado de seringas e agulhas. Essa via de transmissão adquire importância crescente em várias partes do mundo, como na Asia, América Latina e no Caribe. A transmissão mediante transfusão de sangue e derivados é cada vez menos relevante nos países industrializados e naqueles que adotaram medidas de controle da qualidade do sangue utilizado, como é o caso do Brasil. Vertical A transmissão vertical, decorrente da exposição da criança durante a gestação, parto ou aleitamento materno, vem aumentando devido à maior transmissão heterossexual. Na África, são encontradas as maiores taxas desta forma de infecção pelo HIV, da ordem de 30 a 40%; entretanto, em outras partes do mundo, como na América do Norte e Europa, situam-se em torno de 15 a 29%. Os principais motivos dessa diferença devem- se ao fato de que, na África, a transmissão heterossexual é mais intensa, e que neste continente, o aleitamento materno é muito mais frequentes do que nos países industrializados. A transmissão intrauterina é possível em qualquer fase da gravidez; porém é menos frequentes no primeiro trimestre. As infecções ocorridas nesse período não têm sido associadas a malformações fetais. O risco de transmissão do HIV da mãe para o filho pode ser reduzido em até́ 67% com o uso de AZT durante a gravidez e no momento do parto, associado à administração da mesma droga ao recém-nascido por seis semanas. Um estudo realizado nos Estados Unidos (Aids Clínica Trila Groupe 076 ou ACTG- 076) demonstrou redução na transmissão vertical de 25,6% para 8,3% com o uso de AZT durante a gravidez. A transmissão pelo leite materno é evitada com o uso de leite artificial ou de leite humano processado em bancos de leite, que fazem aconselhamento e triagem das doadoras. Ocupacional A transmissão ocupacional ocorre quando profissionais da área da saúde sofrem ferimentos com instrumentos perfurocortantes contaminados com sangue de pacientes portadores do HIV. Estima-se que o risco médio de contrair o HIV após uma exposição percutânea a sangue contaminado seja de aproximadamente 0,3%. Nos casos de exposição de mucosas, esse risco é de aproximadamente 0,1%. Os fatores de risco já́ identificados como favorecedores deste tipo de contaminação são: a profundidade e extensão do ferimento a presença de sangue visível no instrumento que produziu o ferimento, o procedimento que resultou na exposição e que envolveu a colocação da agulha diretamente na veia ou artéria de paciente portador de HIV e, finalmente, o paciente fonte da infecção mostrar evidências de imunodeficiência avançada, ser terminal ou apresentar carga viral elevada. Outras possíveis formas de transmissão Embora o vírus tenha sido isolado de vários fluidos corporais, como saliva, urina, lágrimas, somente o contato com sangue, sêmen, secreções genitais e leite materno tem sido implicado como fontes de infecção. O risco da transmissão do HIV por saliva foi avaliado em vários estudos laboratoriais e epidemiológicos. Esses estudos demonstraram que a concentração e a infectividade dos vírus da saliva de indivíduos portadores do HIV é extremamente baixa. Até́ o momento, não foi possível evidenciar, com segurança, nenhum caso de infecção por HIV adquirido por qualquer das seguintes vias teóricas de transmissão: contato interpessoal não-sexual e não-percutâneo (contato casual), vetores artrópodes (picadas de insetos), fontes ambientais (aerossóis, por exemplo) e objetos inanimados (fômites), além de instalações sanitárias. Há raros relatos anedóticos de hipotética transmissão horizontal do HIV; porém, estes não resistem a uma análise mais cuidadosa, e as evidências são insuficientes para caracterizar formas não-tradicionais de transmissão. Dados laboratoriais e epidemiológicos não provem qualquer suporte à possibilidade teórica de transmissão por artrópodes atuando como vetores biológicos ou mecânicos. Não foi possível evidenciar qualquer multiplicação do HIV em artrópodes após inoculação intra-abdominal, intratorácica ou após repasto de sangue infectado. Outros estudos demonstraram ausência de replicação do HIV em linhagens celulares derivadas de artrópodes. Estudos epidemiológicos nos Estados Unidos, Haiti e África Central não demonstraram qualquer evidência de transmissão por vetores. Conclui-se que formas alternativas de transmissão são altamente improváveis, e que a experiência cumulativa é suficientemente ampla para se assegurar enfaticamente que não há qualquer justificativa para restringir a participação de indivíduos infectados nos seus ambientes domésticos, escolares, sociais ou profissionais. Fonte: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Aids_etiologia_clinica_diagnostico_tratamento.pdf EPIDEMIOLOGIA : Segundo o UNAIDS,a página reúne estatísticas sobre HIV e AIDS, disponíveis nos relatórios do UNAIDS e nos informativos mais recentes do Ministério da Saúde (para dados nacionais). Este conteúdo é atualizado de seis em seis meses. Tutoria 5 Mariana Maciel Estatísticas Globais sobre HIV - 2020 ➢ 25,4 milhões de pessoas tem acesso à terapia antirretroviral (até o final de junho de 2019). ➢ 38 milhões de pessoas em todo o mundo vivendo com HIV (até o fim de 2019). ➢ 1,7 milhão de novas infecções por HIV (até o fim de 2019). ➢ 690 000 pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS (até o fim de 2019). ➢ 75,7 milhões de pessoas foram infectadas pelo HIV desde o início da epidemia (até o fim de 2019). ➢ 32,7 milhões de pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS desde o início da epidemia (até o fim de 2019). Pessoas vivendo com HIV ➢ Em 2019, havia 38 milhões de pessoas vivendo com HIV. - 36,2 milhões de adultos. - 1, milhão de crianças (menos de 15 anos). ➢ 81% de todas as pessoas vivendo com HIV conheciam seu estado sorológico positivo para HIV. ➢ Cerca de 7,1 milhões de pessoas não sabiam que estavam vivendo com HIV. Pessoas vivendo com HIV com acesso à terapia antirretroviral ➢ Até o fim de 2019, 25,4 milhões de pessoas vivendo com HIV tinham acesso à terapia antirretroviral. ➢ Em 2019, 67% de todas as pessoas vivendo com HIV tiveram acesso ao tratamento. - 68% dos adultos com 15 ou mais anos vivendo com HIV tinham acesso ao tratamento, assim como 53% das crianças de 0 a 14 anos. - 73% das mulheres com 15 ou mais anos tinham acesso ao tratamento. Entretanto, apenas 61% dos homens com 15 ou mais anos tinham acesso. ➢ 82% das mulheres grávidas vivendo com HIV tinham acesso a medicamentos antirretrovirais para prevenir a transmissão do HIV para seus bebês em 2019. Novas infecções por HIV ➢ Novas infecções por HIV foram reduzidas em 40% desde o pico em 1998. - Em 2019, cerca de 1,7 milhão de novas infecções por HIV. ➢ Desde 2010, as novas infecções por HIV diminuíram cerca de 23%, de 2,1 milhões para 1,7 milhão em 2019. - Desde 2010, novas infecções por HIV entre crianças diminuíram em 52%, de 310.000 em 2010 para 150.000 em 2019. Mortes relacionadas à AIDS ➢ As mortes relacionadas à AIDS foram reduzidas em mais de 60% desde o pico em 2004. - Em 2019, cerca de 690.000 de pessoas morreram de doenças relacionadas à AIDS em todo o mundo, em comparação com 1,7 milhão em 2004 e 1,1 milhão em 2010. ➢ A mortalidade relacionada à AIDS diminuiu 39% desde 2010. HIV e COVID-19 ➢ Impactos que a pandemia da COVID-19 poderia ter em países de baixa e média renda em todo o mundo sobre o fornecimento de medicamentos antirretrovirais genéricos usados para tratar o HIV. ➢ Os lockdowns e fechamentos de fronteira impostos para impedir a COVID-19 estão impactando tanto a produção de medicamentos quanto sua distribuição, potencialmente levando a aumentos em seus custos e a problemas de abastecimento. ➢ A interrupção completa de 6 meses no tratamento do HIV pode levar a mais de 500.000 mortes adicionais por doenças relacionadas à AIDS. AGENTE ETIOLÓGICO : Em 1983, o HIV-1 foi isolado de pacientes com AIDS pelos pesquisadores Luc Montaigner, na França, e Robert Gallo, nos EUA, recebendo os nomes de LAV (Lymphadenopathy Associated Virus ou Virus Associado à Linfadenopatia) e HTLV-III (Human T- Lymphotrophic Virus ou Vírus T-Linfotrópico Humano tipo lll) respectivamente nos dois países. Em 1986, foi identificado um segundo agente etiológico, também retrovírus, com características semelhantes ao HIV-1, denominado HIV-2. Nesse mesmo ano, um comitê internacional recomendou o termo HIV (Human Immunodeficiency Virus ou Vírus da Imunodeficiência Humana) para denominá-lo, reconhecendo-o como capaz de infectar seres humanos. Tutoria 5 Mariana Maciel O HIV é um retrovírus com genoma RNA, da Família Retroviridae (retrovírus) e subfamília Lentivirinae. Pertence ao grupo dos retrovírus citopáticos e não-oncogênicos que necessitam, para multiplicar-se, de uma enzima denominada transcriptase reversa, responsável pela transcrição do RNA viral para uma cópia DNA, que pode, então, integrar-se ao genoma do hospedeiro. Embora não se saiba ao certo qual a origem do HIV-1 e 2, sabe-se que uma grande família de retrovírus relacionados a eles está presente em primatas não-humanos, na África sub-Sahariana. Todos os membros desta família de retrovírus possuem estrutura genômica semelhante, apresentando homologia em torno de 50%. Além disso, todos têm a capacidade de infectar linfócitos através do receptor CD4. Aparentemente, o HIV- 1 e o HIV-2 passaram a infectar o homem há poucas décadas; alguns trabalhos científicos recentes sugerem que isso tenha ocorrido entre os anos 40 e 50. Numerosos retrovírus de primatas não-humanos encontrados na África têm apresentado grande similaridade com o HIV-1 e com o HIV-2. O vírus da imunodeficiência símia (SIV), que infecta uma subespécie de chimpanzés africanos, é 98% similar ao HIV-1, sugerindo que ambos evoluíram de uma origem comum. Por esses fatos, supõe-se que o HIV tenha origem africana. Ademais, diversos estudos sorológicos realizados na África, utilizando amostras de soro armazenadas desde as décadas de 50 e 60, reforçam essa hipótese. O HIV é bastante lábil no meio externo, sendo inativado por uma variedade de agentes físicos (calor) e químicos (hipoclorito de sódio, glutaraldeído). Em condições experimentais controladas, as partículas virais intracelulares parecem sobreviver no meio externo por até, no máximo, um dia, enquanto partículas virais livres podem sobreviver por 15 dias, à temperatura ambiente, ou até 11 dias, a 37°C. Recentemente, têm sido descritas, ainda, variantes genômicas (subtipos), tanto de HIV- 1 quanto de HIV-2, em pacientes infectados procedentes de diferentes regiões geográficas. Classificam-se, assim, os isolados de HIV-1 em dois grupos, M (major) e O (outlier), com variabilidade genética de até 30%. No grupo M, identificam-se nove subtipos (A, B, C, D, E, F, G, H e I), e no grupo O, apenas um. Em relação ao HIV-2 descrevem-se cinco subtipos: A, B, C, D, e E. Embora ainda não conhecida, especula- se a possibilidade de variantes virais possuírem diferentes índices de transmissibilidade e/ou patogenicidade. Ciclo vital do HIV na célula humana: 1. ligação de glicoproteínas virais (gp120) ao receptor específico da superfície celular (principalmente linfócitos T-CD4); 2. fusão do envelope do vírus com a membrana da célula hospedeira; 3. liberação do "core" do vírus para o citoplasma da célula hospedeira; 4. transcrição do RNA viral em DNA complementar, dependente da enzima transcriptase reversa; 5. transporte do DNA complementar para o núcleo da célula, onde pode haver integração no genoma celular (provírus), dependente da enzima integrase, ou a permanência em forma circular, isoladamente; 6. o provírus é reativado, e produz RNA mensageiro viral, indo para o citoplasma da célula; 7. proteínas virais são produzidas e quebradas em subunidades, por intermédio da enzima protease; 8. as proteínas virais produzidas regulam a síntese de novos genomas virais, e formam a estrutura externa de outros vírus que serão liberados pela célula hospedeira; e 9. o vírion recém-formado é liberado para o meio circundante da célula hospedeira, podendo permanecer no fluído extracelular, ou infectar novas células. A interferência em qualquer um destes passos do ciclo vital do vírus impediria a multiplicação e/ou a liberação de novos vírus. Atualmente estão disponíveis comercialmente drogas que interferem em duas fases deste ciclo: a fase 4 (inibidores da transcriptase reversa) e a fase 7 (inibidores da protease). Fonte: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/Aids_etiologia_clinica_diagnostico_tratamento.pdfCiclo Viral: A infecção pelo HIV inicia-se com a entrada do vírus na célula, através da ligação da proteína de superfície (gp120) com o receptor da célula (molécula CD4) (Figura 9.1.3). A entrada ocorre através da fusão do vírus com a membrana da célula, reação mediada por gp41. Desde a sua descoberta, ficou claro que a molécula de CD4 não poderia ser o único receptor do HIV. Isso porque existiam células suscetíveis à infecção viral que não apresentavam a molécula de CD4 em sua superfície; além disso, não se conseguiu infectar células de camundongos transfectadas com o gene da molécula de CD4. Posteriormente, foi descoberto que as moléculas CXCR4 e CCR5, cujos ligantes naturais são quimoquinas (SDF-1, para a primeira, e RANTES, MIP-1a e MIP-1b, para a segunda), eram o correceptor do HIV. Indivíduos com deleção no gene CCR-5 são resistentes à infecção pelo HIV, e os indivíduos heterozigotos evoluem de forma mais lenta para a aids. Após entrar na célula, o vírus precisa desarmar a proteína APOBEC3G, um antiviral natural da célula, que promove hipermutação G-A durante a transcrição reversa. A proteína viral Vif se liga a APOBEC3G levando a sua degradação. RNA viral é convertido a DNA pelas enzimas transcriptase reversa e ribonuclease H. Essa reação ocorre no citoplasma da célula nas primeiras 6 horas de infecção. A dupla fita de DNA, assim formada, é integrada de forma randômica ao genoma do hospedeiro pela enzima Tutoria 5 Mariana Maciel integrase. O funcionamento da integrase depende da sua ligação com um cofator celular denominado LEDGF/p75. Uma vez integrado, o DNA viral permanece na célula enquanto ela estiver viva. Proteínas celulares e virais controlam a expressão gênica do HIV. Inicialmente, apenas as proteínas Tat, Rev e Nef são sintetizadas. O acúmulo da primeira no núcleo da célula aumenta a transcrição da segunda, que regula a expressão do RNA mensageiro, levando a produção das proteínas estruturais. Após a síntese da proteína precursora do Gag, esta é direcionada a membrana celular para montagem da partícula viral. A liberação do vírus é por brotamento; durante esta fase, a enzima protease processa as proteínas precursoras dos genes pol e gag, tornando a partícula viral madura e capaz de infectar uma nova célula. Ainda não são conhecidos todos os processos celulares envolvidos na replicação do HIV. Recentemente, utilizando-se técnicas de siRNA (small interfereing RNA – pequenas moléculas de RNA que interferem na expressão de um gene), foi possível identificar mais de 200 novas proteínas celulares necessárias para a replicação viral. O conhecimento do ciclo viral permitiu que fossem desenvolvidas drogas antirretrovirais, que atualmente podem ser divididas em: a) inibidores da transcriptase reversa: atuam na fase inicial do ciclo, impedindo a formação do DNA a partir do RNA. b) inibidores da protease: atuam no final do ciclo impedindo a maturação da partícula viral. c) inibidores da fusão: impedem a fusão da membrana viral com a celular impedindo a entrada do vírus. d) inibidores da entrada: atuam impedindo a ligação do vírus ao receptor (CD4) ou aos correceptores (CCR5 ou CXC4). e) inibidores da integrase: impedem que o provírus recém-produzido pela RT integre-se ao genoma da célula hospedeira. f) inibidores da maturação viral: ligam-se a regiões específicas da proteína precursora do gene gag impedindo a sua clivagem. Dinâmica Viral: Com o desenvolvimento de testes de biologia molecular, capazes de quantificar o RNA viral presente no plasma, ficou demonstrado que a replicação do HIV é um processo extremamente dinâmico e contínuo. Durante a fase aguda, a carga viral é de aproximadamente 105 a 107 cópias/mL. Esses níveis caem aproximadamente 100 vezes após um período de 8 a 10 semanas, provavelmente devido ao desenvolvimento de células T citotóxicas. Segue-se um período em que o nível da carga viral mantém-se constante. Nesta fase, a quantidade de vírus presente no plasma correlaciona-se com a progressão para aids. O nível basal da carga viral de um indivíduo pode sofrer flutuações, devido a infecções ou administração de vacinas. A replicação viral ocorre principalmente nos órgãos linfoides, na região perifolicular dos centros germinativos. Pode-se detectar DNA viral em cerca de 30% dos linfócitos CD4 presentes nesses órgãos, com expressão de 0,1 a 1% de RNA viral, sugerindo infecção ativa. A quantidade de vírus presente neste local pode ser até 100 vezes maior que no sangue. Partindo do princípio de que a quantidade de vírus presente no plasma corresponde ao equilíbrio entre a produção e o clareamento, foi possível calcular a sobrevida das partículas virais e das células infectadas. Concluiu-se que a meia-vida da partícula viral no plasma é de apenas seis horas e que são produzidas cerca de 109 a 1010 partículas virais por dia. A maioria das partículas virais (93 a 99%) são produzidas por linfócitos CD4 ativados, que têm meia-vida de apenas um dia. As restantes (1 a 7%) são provenientes principalmente de células como macrófagos, cuja meia-vida é de 14 dias. As células T de memória são responsáveis pela produção de menos de 1% das partículas virais presentes no plasma. Caso a meia-vida das células infectadas residuais não fosse muito longa, seria possível erradicar o vírus após um longo período com tratamento potente, desde que não houvesse interrupção deste. Tentativas de erradicação da infecção pelo HIV ainda não tiveram sucesso ou porque as células infectadas residuais podem permanecer períodos muito prolongados com o vírus, ou porque os medicamentos atuais não são suficientemente potentes para inibir completamente a replicação viral, e o reservatório viral é mantido por uma baixa replicação. Variabilidade genética do HIV: Assim como outros vírus RNA, o HIV tem alta variabilidade genética. Entre os mecanismos responsáveis pela geração de variabilidade, está a transcriptase reversa, que incorpora erroneamente em torno de 10-4 bases em cada ciclo replicativo. Como o HIV tem 104 pares de base em seu genoma, pode-se dizer que ocorre uma substituição nucleotídea por genoma, por ciclo replicativo, fazendo com que a população de retrovírus contenha pouco ou nenhum genoma idêntico. Por esse motivo, o HIV é considerado uma quasiespécie. A alta taxa de replicação viral é responsável pelo surgimento de mutações que geram resistência aos antirretrovirais. Como são produzidas 109 a 1010 partículas virais por dia, e o genoma viral é de aproximadamente 104, todos os dias são geradas 105 a 106 variantes que possuem mutação em cada posição do genoma, o que explica por que o vírus torna-se rapidamente resistente quando se utiliza monoterapia. Recombinação é outro fator responsável pela variação viral. Tutoria 5 Mariana Maciel Classificação genética do HIV: No Brasil, pelo menos cinco subtipos foram encontrados até o momento: os subtipos A, B, C, D e F1. Destes, pelo menos sete CRF identificaram-se com destaque: ➢ Subtipo B: predomina em quase todas as regiões do país. Cerca de 40% das cepas brasileiras têm uma característica que as diferencia das outras cepas B encontradas nos Estados Unidos e na Europa: no topo da alça V3, região imunodominante da proteína gp120, o motivo GPGR foi substituído por GWGR. Cepas com esta característica estavam presentes desde o início da epidemia no Brasil. ➢ Subtipo C: está presente principalmente na região sul do país. A frequência é baixa na cidade de São Paulo, Rio de Janeiro e norte do país. ➢ Subtipo F: predomina em usuários de drogas na cidade de São Paulo, onde a frequência pode chegar a 20%. Nas cidades do Rio de Janeiro e de Santos não se encontrou associação entre o subtipo F e o uso de drogas endovenosas. ➢ Subtipo D: foi encontrado em uma frequência baixa na cidade do Rio de Janeiro. FISIOPATOLOGIA : IMUNOPATOGÊNESE DA INFECÇÃO PELO HIV/AIDS : Introdução Apesar de a aids ser reconhecidacomo entidade médica no início dos anos 1980 e o agente causal (o vírus da família HIV) ser descoberto logo após, ainda existem muitas dúvidas a respeito do mecanismo pelo qual a infecção com os retrovírus HIV genomatrópicos causa depleção de células T CD4+ e a subsequente imunodeficiência fatal. Na década de 1990, os estudos sobre a infecção pelo HIV e aids ajudaram a entender tanto a infecção por esse retrovírus quanto o próprio funcionamento do sistema imune dos seres humanos. A integração do genoma viral nas células infectadas, principalmente das células T, é a causa das principais alterações na expressão de genes das células hospedeiras, levando a destruição destas e de células não infectadas. É notável que o número de células viáveis infectadas pelo vírus é relativamente pequeno – apesar da grande quantidade de vírus e da altíssima taxa de replicação viral, variando entre 0,1 e 13,5% das células mononucleares do sangue periférico (PBMC) – a maioria destas com provírus em forma latente ou defeituosa. Devido à baixa frequência de células infectadas, a taxa de destruição e regeneração compensatória de células T CD4+ é inexplicavelmente alta. Portanto, os pesquisadores precisam descobrir por que as alterações causadas pela infecção pelo HIV causam morte celular maciça, mesmo de células não infectadas. Embora alguns trabalhos tenham sugerido que a taxa de infecção é maior, mesmo durante o período de latência clínica, a simples presença do DNA viral no genoma das células não deve ser fatal na ausência de ativação. Portanto, a questão a respeito da imunopatogênese da aids permanece aberta. Conforme citou-se, a integração do material genético viral com o genoma da célula hospedeira resulta em alterações que afetam tanto as células infectadas como as precursoras. Entre essas anormalidades, incluem-se diminuição da proliferação das células T antígeno-específicas e da síntese de citocinas e mudanças nos processos celulares básicos, como o ciclo de regulação celular, resultando em morte celular programada prematura. A infecção viral também causa mudanças na homeostase não imunológica com consequências no processo imunológico, como elevação do nível de substância P, que, por sua vez, aumenta a expressão do HIV nos monócitos. Algumas dessas alterações são interligadas, enquanto outras parecem ocorrer por vias paralelas. Atualmente, é impossível avaliar a contribuição precisa de cada um desses fatores na destruição das células T CD4+ e, consequentemente, na imunodeficiência na infecção pelo HIV. Alteração da síntese de citocinas Durante a progressão da infecção causada pelo HIV, até atingir o quadro típico de aids, os pacientes apresentarão queda progressiva da função e do número de células T helper (Th), acompanhada de hipergamaglobulinemia. É proposto que, após a infecção pelo HIV, os linfócitos dos pacientes que evoluem para aids apresentam produção menor de interleucina- 2 (IL-2) e interferon-gama (INF-γ) em resposta ao antígeno, com subsequente aumento de produção de IL-4 e IL-10. A combinação desses achados sugere que o desequilíbrio da rede de citocinas poderia ser responsável pelo menos por uma parte das alterações imunológicas que levam à aids. Pacientes que progridem do estágio assintomático para a doença sintomática apresentariam resposta imune alterada secretando, predominantemente, citocinas do tipo Th2 (embora alguns pesquisadores acreditem que a mudança observada seja das células do tipo Th0). As análises dos clones das células T dos pacientes com HIV, antes e depois da soroconversão, revelaram queda da proporção das células do tipo Th1 após a soroconversão associada com o aumento das células do tipo Th2/Th0. Aumento relativo da frequência das células do tipo Th2/Th0, com consequente redução da proporção das células do tipo Th1, também foi observado em indivíduos infectados com o vírus HIV quando comparados com controles não infectados. Além disso, a adição de IL-12, tanto quanto de anticorpos anti-IL-4 ou anti-IL-10, restaurou a função das células Th em culturas de PBMC de indivíduos infectados pelo HIV. Esses Tutoria 5 Mariana Maciel dados analisados em conjunto sugerem que as células do tipo Th1 podem desempenhar função protetora contra a infecção pelo HIV. Aponta-se que as células do tipo Th2 podem ser diferenciadas das células do tipo Th1, devido à maior expressão de CD30, um marcador da superfície celular expressado por um subgrupo de linfócitos, tanto no sangue periférico como nos órgãos linfoides. O CD30 é conhecido por ser liberado da superfície celular, embora a função da molécula solúvel ainda não seja conhecida. Surpreendentemente, a rápida progressão para aids é correlacionada com altos níveis de CD30 solúvel circulante. Do ponto de vista molecular, a ativação das células T e a síntese de citocinas dependem da interação de fatores ligados ao DNA com as regiões promotoras/acentuadoras de genes específicos. Após a recepção dos sinais extrínsecos próprios de ativação, o fator nuclear das células ativadas (NF-AT) será produzido e ligado ao elemento produtor do gene IL-2, resultando na expressão aumentada dessa citocina. O NF-AT responsável pela indução do IL-4 difere do responsável pela indução do IL-2 pela falta do componente AP-1, proteína dimérica que circula no núcleo seguindo a ativação do linfócito e liga-se a uma sequência específica de genes similar ao promotor de IL-2 e a região terminal longa repetida do HIV (LTR). Consequentemente, a expressão do AP-1 seguindo a ativação das células infectadas do tipo Th1 pode causar o aumento da expressão do HIV-1 (Figura 9.3.1). Essa desordem pode levar a células do tipo Th1 mais suscetíveis a morte induzida pela presença do HIV. Além disso, vários produtos do gene do HIV, como o gp41e o Nef, alteram a função normal das enzimas envolvidas na indução do AP-1, mais precisamente da proteína cinase C (PKC), e das enzimas da família da proteína ativada mitogênica (MAP/MAAP/MAAAP). A interação entre os produtos dos genes virais e as proteínas sinalizadoras envolvidas no mecanismo de ativação das células T pode explicar em parte a desordem da resposta imunológica que parece afetar predominantemente as células do tipo Th1 (Figura 9.3.1). A correlação entre a progressão da doença e a subsequente perda da função imune Th1-específica pode ser exemplificada pelos tipos de infecção que os pacientes apresentarão em ordem sequencial. A maioria das infecções oportunistas são do tipo intracelular, para as quais as células Th1 e suas citocinas são a barreira de defesa mais importante. Por exemplo, a secreção de citocina Th1 (mas não Th2), em resposta aos antígenos do toxoplasma, estaria prejudicada nos linfócitos dos pacientes coinfectados com HIV e Toxoplasma gondii. Secreção diminuída de citocinas ativadoras de macrófagos (IFN-γ), associada com a diminuição da capacidade dos macrófagos infectados pelo HIV para fagocitar o T. gondii, é responsável pela reativação da doença em pacientes com aids. Portanto, estratégias que restaurem o equilíbrio Th1/Th2 podem ser abordagens imunoterapêuticas úteis para prevenir o desenvolvimento e tratar a aids e as infecções oportunistas subsequentes – além de poder servir para orientar a escolha dos adjuvantes utilizados no desenvolvimento da vacina contra a aids. Entretanto, alguns pesquisadores sugerem que a mudança do perfil de Th1 para Th2/Th0 não ocorre na aids. É importante mencionar que os trabalhos que apresentam esses resultados foram feitos a partir de células não estimuladas e que, embora esses resultados ex vivo devam ser considerados, o que acontece com o paciente provavelmente ocorre sob o estímulo da própria infecção pelo HIV e das infecções concomitantes. Dois pontos precisam ser esclarecidos se, de fato, as células Th1 forem preferencialmente mortas pelo vírus HIV: a polêmica desencadeada por Sergio Romagnani a respeito de o HIV infectar preferencialmenteas células Th2; e o fato de que, embora as células Th1 possam ser mortas seletivamente, no final, todos os linfócitos CD4+ são mortos. É possível que existam dois caminhos para matar as células CD4+: um envolvendo apoptose das células do tipo Th1 mais suscetíveis; e outro com morte em decorrência da infecção das células do tipo Th2 remanescentes. Demonstra-se que a sobrevida das células do tipo Th2 é altamente favorecida in vivo pela presença das células do tipo Th1. Pode-se, portanto, supor que a morte das células do tipo Th1 afeta a habilidade de sobrevivência das células Th2, embora não se saiba por qual mecanismo. A função de células CD8+ com atividade citotóxica e especificidade para o HIV é cada vez mais exaltada como fundamental para o retardo na progressão para aids e como um marcador positivo de resposta aos antirretrovirais. A infecção pelo HIV de linfócitos T CD4+ leva à destruição dessas células, pela falta de auxílio para manutenção da resposta imune e por um mecanismo ativo via indução de apoptose. Apoptose Processo fisiológico utilizado pelo organismo para controlar o ciclo de vida da maioria das populações celulares. A morte celular programada por apoptose ocorre após determinada série de eventos ativar genes específicos. É caracterizada pela condensação da cromatina, fragmentação do DNA em um padrão específico de 200 pares de base e ruptura da membrana celular. Tutoria 5 Mariana Maciel A apoptose é a forma preferida de morte no timo, utilizada pelo sistema imunológico como parte do processo seletivo. Células T maduras são mais resistentes ao sinal de morte pela ativação do receptor das células T (TCR). Entretanto, a infecção pelo HIV ou a interação entre CD4 e gp120 (com ou sem formação de complexos antígeno-anticorpo) diminui o limiar da apoptose induzida por antígenos em células T maduras. A interação entre gp120 do HIV e CD4 interrompe a atividade de ligação do NF-AT e da proteína NF-kB, reduzindo a proliferação e a produção de citocinas, e é relacionada com a queda da liberação de Ca2+ induzida pelo TCR e a ativação do PKC. Devido à diminuição do limiar necessário para a morte celular induzida pelo TCR, a resposta ao antígeno fica seriamente comprometida porque as células T de memória transformam-se em alvos particularmente suscetíveis a apoptose em indivíduos infectados pelo HIV. Além disso, o gp120 pode, por si só, induzir esse efeito em células não infectadas pelo HIV (Figura 9.3.1). No entanto, vários estudos mostram resultados conflitantes a respeito da relação entre a progressão da doença e a intensidade de morte celular programada de linfócitos. A apoptose induzida pela infecção com o HIV acontece especificamente em células infectadas, uma vez que, sobre a ingerência do LTR do vírus, o gene Bax é ativado e, na presença de Tat, leva à morte celular. É importante lembrar que as diferentes classes de células T podem ser mortas seletivamente por apoptose induzida por antígeno; que citocinas Th1 foram capazes de suprimir a apoptose em células T de indivíduos infectados pelo HIV; e que clones de Th1 mostraram-se 10 vezes mais sensíveis à morte induzida por TCR que clones Th2/Th0 após exposição ao HIV. Os níveis do receptor solúvel TNF (sTNFr) e do antagonista do receptor IL-1 (IL-1ra) são elevados em pacientes com aids (grupos III e IV, de acordo com a classificação de aids do Centers for Disease Control – CDC), o que pode contribuir para o aumento da apoptose, devido ao bloqueio das citocinas que têm habilidade de resgatar células da morte programada. Sabe-se que a molécula TNF-related apoptosis-inducing ligand (TRAIL) participa ativamente na morte de células T CD4+ em pacientes infectados pelo HIV. Foi demonstrado que TRAIL está aumentada no sangue de pacientes com HIV, comparados com controle, mas que a terapia apropriada diminui os níveis desta molécula àqueles próximos dos controles. A exposição ao HIV, esteja ele na sua forma infectante ou não, induz a produção de TRAIL por monócitos e por algumas células dendríticas, sugerindo mais um mecanismo de patogênese do HIV, desta feita localizado na sinapse imunológica. Aqui cabe lembrar que esta pode também estar envolvida na infecção de células virgens por células infectadas, pela formação do que se convencionou chamar de sinapse viral. A ativação bem-sucedida das células T CD4+ ocorre após a liberação de dois sinais: a interação entre o TCR e o complexo principal de histocompatibilidade – MHC/antígeno combinado com a interação entre CD4 e a região da molécula de classe II MHC: e a variedade de moléculas coestimulantes, isoladas ou combinadas entre si ou com citocinas. Uma dessas moléculas é a B7, uma família de receptores de superfície que se liga ao CD28 na superfície dos linfócitos T. O estímulo de anti-CD28 previne a apoptose de linfócitos de indivíduos infectados pelo HIV e protege as células T contra a infecção pelo HIV. Outras moléculas associadas com sinais coestimulantes e o homing de linfócitos T ativados são a ICAM e a VCAM, duas moléculas de adesão da mesma família. Foram encontrados níveis circulatórios desproporcionalmente elevados dessas duas moléculas na infecção pelo HIV-1. De maneira oposta à forma da molécula que se liga à membrana, a forma solúvel não libera o sinal secundário necessário para a ativação das células T e do homing e pode até mesmo competir com a forma que se liga à membrana pelo mesmo receptor na superfície dos linfócitos. Além disso, demonstra- se que o estímulo das moléculas CD2 pode abolir a apoptose das células T induzida por gp120. Como discutido, falhas na liberação de um segundo sinal adequado podem contribuir para a morte celular induzida por ativação na infecção pelo HIV. Podem também ser um alvo importante na imunoterapia, uma vez que mesmo a morte das células T independentes do antígeno, na infecção pelo HIV, pode ser prevenida pelo correto sinal de recuperação. Nunca é demais ressaltar que a infecção pelo HIV induz a várias mudanças na expressão da adesão e nas moléculas coestimuladoras nos monócitos e células dendríticas. Além disso, sinais mensageiros secundários parecem estar bloqueados pelo menos na cascata envolvida na ativação mediada pelo CD29, mesmo com a expressão do receptor normal. Nas células infectadas pelo HIV, ocorre frequentemente aumento sustentado do Ca2+ intracelular na ausência da ativação concomitante do PKC, após estímulos antigênicos ou miogênicos, levando à apoptose. A exposição ao HIV, ou a subunidade gp41 do envelope glicoproteico, inibe a resposta normal do PKC a ativação do linfócito e estimulação da integrina. O desequilíbrio gerado pelas desordens causadas pelo HIV ou pelos produtos de seu gene pode também aumentar a apoptose indiretamente. Alteração da regulação dos genes do hospedeiro por produtos dos genes do hiv Muitos genes virais interagem com componentes do genoma celular do hospedeiro, especificamente alguns envolvidos no processo de transcrição (Figura 9.3.1). O Nef inibe a indução da atividade ligada ao DNA do NF-kB pelas células T mitogênicas, a transcrição do gene IL-2 mediada pelo TCR e a captação do AP-1. O Nef interage com muitas outras proteínas celulares do hospedeiro, incluindo CD4, p56lck, p53 e p44mapk (uma enzima da família da cinase MAP). Tutoria 5 Mariana Maciel A interação do produto do gene Nef com o promotor para CD4 leva à diminuição da expressão dessa molécula. Em adição, o gene também interfere com a via de ativação celular coordenada pelo NF-kB, por mecanismos que ainda não estão totalmente esclarecidos. Além desse, Vpu (Viroporina) e Env também participam no aumento de catabolismo da molécula de CD4 e da diminuição de sua produção por linfócitos T, contribuindo para a menor expressão desta molécula observada em pacientes infectados pelo HIV. Recentemente, Casartelli e colaboradores observaram 182 variantes de Nef em crianças com diversos perfis de respostaao HIV, demonstrando que existe uma nos indivíduos não progressores com mais mutações deste gene. Além disso, a região U3 do HIV-1 LTR codifica potenciais sítios de ligação de fatores de transcrição celular do hospedeiro, como o NF-AT. Trabalhos publicados recentemente sugerem que tanto o Nef como a região U3 podem desempenhar importante papel no controle da progressão da doença, uma vez que a retirada específica desses genes é associada com progressão clínica mais lenta da infecção. Outro gene do HIV que interfere com a função normal das células T é o Tat (fator de transativação) que interfere com a transcrição do gene e a expressão da superfície do complexo TCR/CD3, consequentemente inibindo a proliferação das células T. A expressão do Tat também é relacionada à queda da expressão do CD28 e ao aumento da síntese e adesividade de integrinas aos monócitos. Além disso, induz a síntese e a secreção de fator de crescimento transformador beta (TGF-β), IL-6 e IL-10 e pode induzir a apoptose diretamente em linfócitos cultivados não infectados. Recentemente, outro gene importante do HIV demonstrou funções patogênicas, o da proteína regulatória assessória – Vpr, fundamental para a infecção de células do sistema nervoso central, além de atuar na neuropatogênese da infecção pelo HIV, causando senilidade precoce nas células infectadas. A proteína Tat também está associada à neuropatologia causada pelo HIV, pela estimulação de células da micróglia a produzirem moléculas pró-inflamatórias e radicais livres que são neurotóxicos, além de interferir com as vias de controle de monofosfato cíclico de adenosina (AMPc), a expressão de canais iônicos e o balanço intracelular de cálcio, conforme visto. Alteração da função das células apresentadoras de antígeno (caa) e do ciclo celular CAA (monócitos, macrófagos, células dendríticas) e possivelmente algumas células endoteliais desempenham papel importante na infecção pelo HIV e na imunopatogênese da aids. Essas células servem como reservatório de vírus – acredita-se que tenham papel importante na sua disseminação, especialmente para o cérebro. Durante a fase assintomática aguda da doença, a replicação viral é confinada principalmente aos órgãos linfoides. Nos centros de germinação, as partículas de HIV são captadas na superfície das células foliculares dendríticas (FDC), que são intimamente associadas com linfócitos T CD4+, uma vez que migram através dos folículos linfoides. Recentemente, demonstrou-se que as FDC convertem o HIV neutralizado para a forma infecciosa, sugerindo que podem atuar como veículo de transmissão viral para linfócitos CD4+. Com a progressão da doença, os órgãos linfoides originalmente aumentados atrofiam-se pela destruição das FCD e consequente liberação na circulação das partículas de HIV capturadas. Além do papel óbvio de transmissão do vírus para células não infectadas, as CAA têm outra função importante no início da aids. É cada vez mais certo que a replicação do vírus HIV é dependente da ativação da célula do hospedeiro. As CAA apresentarão o antígeno aos linfócitos T CD4+ infectados – elas que atuam estimulando sua ativação levando a expressão da proteína viral e a replicação viral, como visto. Receptores de quimiocinas e moléculas de adesão Recentemente, uma nova família de correceptores de fusão para o HIV foi identificada. São receptores das famílias CC e CXC de quimiocinas (LESTR/Fusin, CCR5, os receptores RANTES, MIP-1α e MIP-1β, CCR3, o receptor para eotaxina e CCR2b). O tipo de correceptor utilizado pelo vírus é determinado pelas características do seu envelope glicoproteico. Mutações do código dos genes de alguns correceptores de fusão do HIV-1, ou seja, CCR5 e CCR2, geram correceptores não funcionais (embora continuem a funcionar como receptores de quimiocinas) aparentemente conferindo resistência à infecção pelo HIV-1 nos indivíduos que carregam alelos mutantes. Um evento importante na infecção pelo HIV e subsequente morte das células CD4+ é a formação de sincício. Vários estudos correlacionam a habilidade do paciente em induzir a formação de sincício in vitro com queda mais rápida da taxa de células T CD4+, carga viral aumentada e rápida progressão da doença. A formação de sincício inicia-se pela fusão das membranas de uma célula infectada com uma não infectada, seguida da formação de células multinucleadas por meio de um mecanismo dependente da função das glicoproteínas IFA-1 e ICAM-1 derivadas do hospedeiro e incorporadas ao envelope do HIV-1. Finalmente, a importância das moléculas de adesão solúveis já foi discutida no item da apoptose. Anticorpos, rede idiotípica e desequilíbrio autoimune de MHC e substância p Foram revisados alguns dos mais populares e bem documentados mecanismos da imunopatogênese do HIV. Alguns pesquisadores sugerem que a resposta imunológica, por si só, pode desempenhar um papel crítico no desenvolvimento da Tutoria 5 Mariana Maciel imunodeficiência e progressão para aids e óbito e que a tolerância ao HIV pode realmente ser um fator de sobrevivência. Eles argumentam que o anticorpo contra o envelope do vírus pode favorecer a infecção, em vez de retardá-la, e que os anticorpos anti- anti-D4 têm efeito similar. A teoria da rede sugere que a regulação imune é mantida no organismo pelo reconhecimento de múltiplos idiotipos em todas as moléculas imunes. Alguns autores sugerem que a autoimunidade, ou o reconhecimento idiotípico das células T CD4+ não infectadas, desencadeada por antígenos de origem viral resulta na destruição das células T. Nessa mesma linha de raciocínio, acredita-se que algum grau de autodestruição das células T CD4+ ocorre na aids, e que esta destruição é mediada por um processo autoimune. Autores sugerem que o mimetismo do MHC pode ser importante no desenvolvimento da aids. Segundo eles, proteínas virais livres e a indução das células imunorreguladoras podem causar a falência do equilíbrio entre as moléculas que mimetizam as moléculas MHC de Classes I e II. Ainda conforme os autores, um dos marcadores desse desequilíbrio autoimune é a presença de anticorpos anti-Fab, na aloimunização, na autoimunidade e no câncer associado a fenômenos autoimunes, que podem ter importante papel na queda da contagem de células CD4+ e no desenvolvimento de imunodeficiência. A importância das interações neuroendocrinoimunes na patogênese da aids também é publicada. Embora nenhuma associação entre ACTH ou glicocorticosteroides e status da doença tenha sido encontrada, dois grupos descreveram a associação entre substância P e infectividade do HIV e replicação. A substância neuropeptídio P (SP) é conhecida por aumentar certas respostas mediadas por células em modelos animais e indivíduos saudáveis. Estudos independentes mostram que, diferente do seu efeito imunoestimulador em indivíduos saudáveis, a SP induz a queda da resposta a mitógenos em pacientes com aids. Além do mais, a adição de SP resultou em expressão aumentada do HIV-1 em macrófagos in vitro. Como o diagnóstico de aids tem efeito psicológico grave e a liberação de neuropeptídios, como a SP, é associada a circunstâncias estressantes, é lícito supor que a elevação da SP devido ao stress pode auxiliar na multiplicação dos vírus. HISTÓRIA NATURAL DA INFECÇÃO PELO HIV: INFECÇÃO AGUDA Grande parte das infecções agudas acontece pela via sexual (80% por exposição de mucosas). O coito anal receptivo é a forma com maior probabilidade de adquirir infecção, pois no canal anal há grande quantidade de células dendríticas e linfócitos. A interação mais provável acontece com as células dendríticas, por receptores de manose (C-Lectina) que interagem com gp120 (glicoproteína de superfície do HIV), iniciando o processo de entrada viral. A via receptiva vaginal é a segunda forma mais frequente de transmissão. A transmissão para o parceiro ativo também é possível, porem depende de vários fatores, como intensidadedo ato sexual, microlesões penianas, presença de lesão na mucosa vaginal ou anal, decorrente de trauma da relação ou doença sexualmente transmissível (sífilis, por exemplo). Outras formas de transmissão, como sexo oral, aleitamento materno, uso de drogas injetáveis e hemoderivados contaminados, figuram como formas menos frequentes de transmissão, porém não menos importantes. Após duas horas do contato do vírus com uma das mucosas relacionadas (anal, vaginal ou peniana), o HIV atravessa a barreira mucoepitelial protetora e pode entrar em contato com macrófagos teciduais, linfócitos e células dendríticas, estas com a capacidade de apresentar antígenos, carreando o vírus até o grupamento linfoide mais próximo (geralmente, um linfonodo mesentérico). Esse processo ocorre em até 24 horas após o contato e, como não houve integração do genoma viral com o DNA de uma célula hospedeira, ainda há chance de evitar a infecção. Uma vez no linfonodo regional mais próximo, o vírus é apresentado ao linfócito T CD4+ virgem e entregue ao seu alvo sem ter sido reconhecido pelo sistema imune (mecanismo chamado de “cavalo de Troia”). Começa então a replicação viral no linfonodo, atingindo toda subpopulação de linfócitos CD4+ presente. Essa é a chamada “fase eclipse”, com duração aproximada de 7 a 21 dias, período no qual o RNA viral geralmente não pode ser detectado no plasma do paciente. Com o tráfego celular (cell traffic king), esses linfócitos carrearão o vírus pelas próximas 2 a 3 semanas a todas as partes do organismo, principalmente os linfócitos do tecido associado a mucosa (MALT) intestinal. O MALT intestinal representa o maior grupamento linfoide de todo o organismo; tem a função de proteger o hospedeiro de translocações intestinais, além de papel importante na regulação e tolerância do sistema imune. A replicação no MALT intestinal é intensa e leva a depleção importante nessa subpopulação de linfócitos, além de permitir a translocação bacteriana do intestino para a corrente sanguínea. Os lipopolissacarídeos das bactérias gram-negativas intestinais (enterobacteriaceas), uma vez na corrente sanguínea, funcionam como fortes iniciadores da resposta imune, aumentado a ativação de linfócitos circulantes e facilitando ainda mais a infecção pelo HIV. Esse processo de disseminação do vírus pelo sangue é responsável tanto pela queda abrupta de linfócitos e de viremia alta da infecção aguda, como pela progressiva queda na contagem de linfócitos circulantes durante a infecção crônica. Tutoria 5 Mariana Maciel Nesse momento de grande viremia, surgem os sintomas da infecção aguda: manifestações inespecíficas, como febre, linfadenomegalia generalizada, anorexia, mal-estar ou até mesmo esplenomegalia, hepatomegalia, icterícia, rash cutâneo, plaquetopenia e diarreia, esta que figura como um dos sintomas mais frequentes e muitas vezes leva o paciente à investigação de doença inflamatória intestinal, pois pode vir acompanhada de muco. A carga viral plasmática é o determinante crítico da infecção. O risco de transmissão dobra com cada aumento de 1 log na viremia. A relação entre coito anal e viremia é ainda maior abaixo dos 35 anos de idade, o que corrobora a observação de que a maioria das transmissões ocorre principalmente durante a infecção aguda e estágios tardios na infecção, momentos de alta viremia. Outros fatores que afetam a probabilidade de infecção estão na Tabela 9.4.1. O vírus HIV tem várias estratégias para se evadir do reconhecimento pelo sistema imune inato, bem como pelo adaptativo. Ele é capaz de bloquear inibidores inatos de vírus, como o fator de restrição 1 e o APOBEC3G (também conhecido como CEM15). O HIV destrói o controle imune celular por meio da deficiência de resposta dos linfócitos CD4+ infectados e dos linfócitos CD8+ não infectados, os quais, de forma eficiente, facilitam o escape dos vírus do controle imune. Ele também evade dos anticorpos por meio de mutações constantes. O diagnóstico de infecção aguda por HIV-1 requer um alto índice de suspeita clínica por médicos de todas as especialidades, uma vez que o quadro clínico varia desde febre ao esclarecimento de manifestações gastrointestinais exuberantes, e o uso correto de testes diagnósticos laboratoriais específicos (Quadro 9.4.1). O diagnóstico de infecção por HIV deve ser inicialmente avaliado por meio de um teste ELISA (enzime linked immuno sorbent assay) ou ensaio imunoenzimático. Se o teste ELISA for positivo, um teste Western-blot é feito para confirmar que o resultado do teste ELISA é específico para o HIV. Se os testes ELISA e Western-blot forem negativos ou indeterminados e houver suspeita de síndrome retroviral aguda, uma carga viral de HIV-1 deve ser obtida, porem este teste não deve ser utilizado de rotina para diagnóstico, uma vez que podem ocorrer falso-negativos, a depender da quantidade de vírus circulante. Com o limite de detecção cada vez menor pela evolução do teste, futuramente, essa particularidade desaparecerá. O vírus pode ser detectado por reação em cadeia da polimerase (PCR), durante os sete primeiros dias após a infecção, tornando esse teste uma ferramenta útil se uma intervenção terapêutica precoce for necessária. Resultados verdadeiros positivos são quase sempre 100.000 cópias/mL ou mais altos. Valores mais baixos, ou seja, menores do que 10.000 cópias/mL devem ser vistos com suspeita, e uma amostra de repetição deve ser colhida; leituras falso-positivas podem ocorrer. Os testes ELISA e Western-blot tornam-se, inicialmente, positivos, aproximadamente 22 a 27 dias após a infecção aguda. Se o paciente for infectado com HIV-2, um teste ELISA, que não contém antígenos HIV-2, pode ser negativo, e o Western- blot do HIV-1 é geralmente fracamente reativo. Para tais infecções, ensaios bDNA podem refletir a carga viral de forma mais acurada, em comparação com ensaios de PCR. Os indivíduos afetados com o grupo O do HIV-1 podem apresentar resultados negativos de ELISA, bem como resultados negativos ou indeterminados de Western-blot. Testes para HIV-2 e certas variantes pouco usuais do HIV-1 requerem conhecimento especial dos produtos de teste específicos em utilização. Infecção dupla pelo HIV Refere-se à presença de duas variantes virais, que podem acontecer tanto na forma de coinfecção como na de superinfecção. A primeira se dá com a entrada de duas variantes no momento da primoinfecção; já a segunda é a entrada de uma segunda variante após a primoinfecção, e pode acontecer por vírus selvagem ou por vírus que carreie alguma resistência. A infecção dupla é condição para que ocorra recombinação de subtipos virais. As consequências da infecção dupla não são conhecidas. Estudos clínicos mostram que a progressão de doença com mais rápida evolução e a superinfecção com variante resistente estão associadas a falha virológica do tratamento. Progressão da doença A doença pelo HIV é subdividida em três fases: aguda, crônica assintomática e crônica sintomática. A progressão entre essas fases tem grande variabilidade temporal, porem a fase aguda geralmente se resolve espontaneamente em 14 a 21 dias. Após a fase inicial de viremia e disseminação para tecidos linfoides do organismo, há uma queda da carga viral que coincide com a resposta celular contra o vírus. O momento de pico de viremia com início da resposta celular está associado a sintomas em 60 a 90% dos pacientes (aids em fase aguda). São fatores clínicos e laboratoriais associados a pior prognóstico: ■ Doença primária sintomática. ■ Duração prolongada da fase aguda. ■ Sintomas neurológicos. ■ Presença de candidíase oral. ■ Maior número de sinais e sintomas agudos. ■ Maior severidade de sintomas. Tutoria 5 Mariana Maciel ■ Nadir de células CD4 na fase aguda. ■ Carga viral no início do tratamento. ■ Queda lenta da carga viral após início da resposta celular. Ao fim da fase aguda, o paciente entra no períodoclinicamente assintomático. Apesar disso, a progressão imunológica e viral, durante esse tempo, resultará em doença sintomática. Esse período dura, em média, 3 a 7 anos em pacientes não tratados. A doença sintomática é dividida em duas fases, não necessariamente contíguas e, na maioria dos casos, sobrepõem-se: a doença pelo HIV (não aids) e a imunodeficiência propriamente dita (aids). Os pacientes podem apresentar doença definidora de aids antes de manifestar qualquer sintoma relacionado à infecção pelo HIV, contudo os eventos relacionados à ação viral direta são marcadores de imunodeficiência clínica e predizem progressão para imunodeficiência. A taxa de progressão da doença é altamente variável entre os indivíduos infectados, com intervalos de 6 meses a até 20 anos para o óbito. Na ausência de tratamento, o tempo médio de sobrevida até o desenvolvimento de aids é de 10 a 11 anos, e após o aparecimento de doenças oportunistas, ou seja, aids, a média de sobrevida depende da contagem de CD4 inicial no momento do diagnóstico. Em pacientes com linfócitos abaixo de 200 células/mm3, a média de sobrevida é de 3,7 anos, mas, se a contagem inicial esteve abaixo de 70 células/ mm3, esse valor cai para 1,3 anos. A velocidade de progressão para aids varia de progressão rápida (6 meses) para nenhuma progressão significativa, os chamados “não progressores”, que mantêm contagem de linfócitos CD4 acima de 500 células/mm3 e são assintomáticos por mais de 10 anos de infecção sem terapia específica. Estima-se que 1 a 5% dos pacientes infectados se enquadrem nessa categoria. Modelos prognósticos mostram que, com seguimento prolongado, esses pacientes progridem para aids. Existe outra categoria de pacientes que experimentam longos períodos assintomáticos, denominados “controladores de elite”, são pacientes que mantêm carga viral indetectável na ausência de terapia antirretroviral por um ano com três dosagens diferentes ao longo desse tempo. Aproximadamente 0,6% das pessoas convivendo com HIV/aids estão nessa categoria. Nesses pacientes, existe resposta celular específica para o HIV mais robusta, comparada com os pacientes que não controlam a viremia. Fatores genéticos associados aos “controladores de elite” somente foram encontrados em 25% desses pacientes, com 10% dessas pessoas apresentando CD4 menor que 350 células/mm3 e 3% manifestando aids. Como marcador importante, os “controladores” tinham níveis mais altos de lipopolissacarídeos circulantes e nível mais alto de ativação imune, comparado com pacientes não infectados. MARCADORES DE PROGRESSÃO: Contagem de linfócitos CD4: A contagem de células CD4+ foi o primeiro marcador usado no acompanhamento da doença pelo HIV. Contagem absoluta, porcentagem de CD4 e taxa de declínio são preditores de progressão para AIDS. O risco de desenvolvimento de doenças oportunistas pode ser estratificado de acordo com a contagem de linfócitos CD4. Por exemplo, o risco relativo de um paciente desenvolver pneumonia por P. Jirovecii é 4,9 se sua contagem de linfócitos CD4 estiver abaixo de 200 células/mm3. A carga viral e a contagem de linfócito CD4+ têm padrão de comportamento nas três fases evolutivas, permitindo avaliação da evolução da infecção (carga viral) e do sistema imunológico atingido pela infecção (Figuras 9.4.1 e 9.4.2). Na doença natural, o CD4 declina ao longo da infecção em patamares, nos quais é possível prever as infecções mais prevalentes. A carga viral, que se inicia muito alta e declina na fase de latência clínica, volta a subir na fase de doença sintomática (aids). A Figura 9.4.2 demonstra a estratificação da contagem de linfócitos CD4 em relação ao aparecimento de doenças oportunistas. Tutoria 5 Mariana Maciel A taxa de queda de linfócitos CD4 é gradual durante a progressão da doença, acelerando conforme o tempo, com uma média de 80 a 110 células/mm3 por ano. A queda de CD4 prediz a progressão da doença em qualquer estrato de carga viral, e seu valor preditivo positivo aumenta quanto maior for o tempo de infecção pelo HIV. O CD4 plasmático não reflete de forma fidedigna a contagem total de CD4 do indivíduo, uma vez que a maioria dessas células reside no tecido linfoide. A depleção massiva dos linfócitos associados ao MALT intestinal na infecção aguda leva à diminuição do pool de linfócitos totais, que permanecem depletados durante toda a história natural da infecção não tratada. Carga viral plasmática: A carga viral é preditora de progressão de doença em qualquer estágio. Após um pico inicial, a carga viral cai até um nível estável e se mantém durante as fases assintomáticas da doença, voltando a aumentar alguns anos antes do desenvolvimento de aids, porém nem todos os estudos corroboram esse padrão. Estudos mais recentes mostram que um nível estável nunca é atingido e que a carga viral plasmática se mantém em constante elevação. Ambos os valores absolutos e a taxa de aumento da carga viral são preditores de progressão de doença. Níveis de DNA pró-viral em sangue periférico extraído de células mononucleares também predizem progressão para aids independentemente de CD4 e carga viral. FATORES DO HOSPEDEIRO QUE INFLUENCIAM A PROGRESSÃO DA DOENÇA Vários fatores genéticos (polimorfismos de receptores de quimiocinas) já demonstraram influenciar tanto a transmissão do HIV quanto a sua progressão. O primeiro polimorfismo reportado foi CCR5Δ32. A deleção homozigótica de 32 pares de bases do correceptor CCR5 leva a resistência em alguns indivíduos, porem estes ainda podem ser infectados por variantes de HIV que se utilize de outros correceptores, como CXCR4. EVENTOS SÉRIOS NÃO RELACIONADOS À AIDS As causas de morte em pacientes infectados pelo HIV mudaram muito naqueles que estão sob tratamento com esquemas antirretrovirais de alta potência. Esses pacientes não mais apresentam doenças oportunistas, porém têm incidência aumentada de eventos sérios não relacionados à aids, como doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, malignidades não definidoras de aids, doença renal e hepática. O risco de um evento sério, como infarto, acidente vascular encefálico, doença renal terminal entre outras, é aumentado no paciente convivendo com HIV em relação à população soronegativa. A infecção pelo HIV leva à inflamação crônica, que ativa sistema de coagulação e outras cascatas inflamatórias, culminando na alteração do perfil de lipoproteínas e aumento de aterosclerose. Níveis aumentados de D-dímero estão relacionados ao aumento de eventos cardiovasculares em pacientes soronegativos e podem ser relevantes também em pacientes convivendo com HIV. Fonte: Tratado de Infectologia – Veronesi QUADRO CLÍNICO : A infecção pelo HIV pode ser dividida em quatro fases clínicas: 1) infecção aguda; 2) fase assintomática, também conhecida como latência clínica; 3) fase sintomática inicial ou precoce; e 4) aids. 1. Infecção aguda Tutoria 5 Mariana Maciel A infecção aguda, também chamada de síndrome da infecção retroviral aguda ou infecção primária, ocorre em cerca de 50% a 90% dos pacientes. Seu diagnóstico é pouco realizado devido ao baixo índice de suspeição, sendo, em sua maioria, retrospectivo. O tempo entre a exposição e os sintomas é de cinco a 30 dias. A história natural da infecção aguda caracteriza-se tanto por viremia elevada, como por resposta imune intensa. Durante o pico de viremia, ocorre diminuição rápida dos linfócitos T CD4 +, que posteriormente aumentam, mas geralmente não retornam aos níveis prévios à infecção. Observa-se, também, aumento do número absoluto de linfócitos T CD8+ circulantes, com a inversão da relação CD4+/CD8+, que se torna menor que um. Este aumento de células T CD8+, provavelmente, reflete uma resposta T citotóxica potente, que é detectada antes do aparecimento de anticorpos neutralizantes. Existem evidências de que a imunidade celular desempenha papel fundamentalno controle da viremia na infecção primária. Os sintomas aparecem durante o pico da viremia e da atividade imunológica. As manifestações clínicas podem variar, desde quadro gripal até́ uma síndrome mononucleose-like. Além de sintomas de infecção viral, como febre, adenopatia, faringite, mialgia, artralgia, rash cutâneo maculopapular eritematoso, ulcerações muco- cutâneas envolvendo mucosa oral, esôfago e genitália, hiporexia, adinamia, cefaleia, fotofobia, hepatoesplenomegalia, perda de peso, náuseas e vômitos; os pacientes podem apresentar candidíase oral, neuropatia periférica, meningoencefalite asséptica e síndrome de Guillain-Barré́. Os achados laboratoriais inespecíficos são transitórios, e incluem: linfopenia seguida de linfocitose, presença de linfócitos atípicos, plaquetopenia e elevação sérica das enzimas hepáticas. Os sintomas duram, em média, 14 dias, sendo o quadro clínico autolimitado. A ocorrência da síndrome de infecção retroviral aguda clinicamente importante ou a persistência dos sintomas por mais de 14 dias parecem estar relacionadas com a evolução mais rápida para aids. O quadro abaixo mostra os sinais e sintomas frequentemente associados à síndrome viral aguda causada pelo HIV. Após a resolução da fase aguda, ocorre a estabilização da viremia em níveis variáveis (set points), definidos pela velocidade da replicação e clareamento viral. O set point é fator prognóstico de evolução da doença. A queda da contagem de linfócitos T CD4+, de 30 a 90 células por ano, está diretamente relacionada à velocidade da replicação viral e progressão para a aids. 2. Fase assintomática Na infecção precoce pelo HIV, também conhecida como fase assintomática, o estado clínico básico é mínimo ou inexistente. Alguns pacientes podem apresentar uma linfadenopatia generalizada persistente, "flutuante" e indolor. Portanto, a abordagem clinica nestes indivíduos no início de seu seguimento prende-se a uma história clinica previa, investigando condições de base como hipertensão arterial sistêmica, diabetes, DPOC, doenças hepáticas, renais, pulmonares, intestinais, doenças sexualmente transmissíveis, tuberculose e outras doenças endêmicas, doenças psiquiátricas, uso prévio ou atual de medicamentos, enfim, situações que podem complicar ou serem agravantes em alguma fase de desenvolvimento da doença pelo HIV. A história familiar, hábitos de vida, como também uma avaliação do perfil emocional e psicossocial do paciente, seu nível de entendimento e orientação sobre a doença são extremamente importantes. No que diz respeito à avaliação laboratorial nesta fase, uma ampla variedade de alterações pode estar presente. Os exames laboratoriais de rotina recomendados são: ● Hemograma completo: para avaliação de anemia, leucopenia, linfopenia e plaquetopenia. ● Níveis bioquímicos: para uma visão das condições clínicas gerais, em particular para conhecimento dos níveis bioquímicos iniciais dos pacientes, principalmente funções hepática e renal, desidrogenase lática, amilase. ● Sorologia para sífilis: em função do aumento da incidência de co-infecção, visto que a infecção pelo HIV pode acelerar a história natural da sífilis. Recomenda-se o VDRL e se positivo o exame confirmatório FTA-ABS. Pacientes HIV+ com evidências sorológicas de sífilis não tratada devem ser submetidos a punção lombar e avaliação para neurolues. ● Sorologia para os vírus da hepatite: devido à alta incidência de co-infecção com hepatites B e C nos grupos de homossexuais, bissexuais, heterossexuais com múltiplos parceiros e usuários de drogas injetáveis. O screening recomendado para hepatite B é antígeno de superfície (HBS Ag) e o anticorpo ancore do vírus B (anti-HBc); para a hepatite C: anticorpo contra o vírus da hepatite C (Anti- HCV). Tutoria 5 Mariana Maciel ● Sorologia para toxoplasmose (lgG): em decorrência da maioria dos pacientes apresentar exposição previa ao Toxoplasma gondii, sendo indicada a profilaxia em momento oportuno, conforme faixa de células T CD4+ do paciente. Os métodos preferenciais são: hemoaglutinação, imunofluorescência ou ELISA. ● Sorologia para citomegalovírus (CMV) e herpes: embora questionada, indica-se para detecção de infecção latente. Pacientes com sorologia negativa para citomegalovírus devem evitar exposição a hemoderivados de doadores com sorologia positiva, em caso de necessidade de transfusão sanguíneas. ● Radiografia de tórax: recomenda-se na avaliação inicial como parâmetro basal para possíveis alterações evolutivas no futuro ou em pacientes com história de doença pulmonar frequentes. ● PPD (derivado proteico purificado): teste recomendado de rotina anual para avaliação da necessidade de quimioprofilaxia para tuberculose. Em paciente com infecção pelo HIV, considera-se uma enduração > 5mm como uma reação forte e indicativa da necessidade de quimioprofilaxia. ● Papanicolau: recomendado na avaliação ginecológica inicial, seis meses após e, se resultados normais, uma vez a cada ano. Sua indicação é de fundamental importância, devido à alta incidência de displasia cervical e rápida progressão para o câncer cervical em jovens HIV positivas. ● Perfil imunológico e carga viral: é, sem dúvida, um dos procedimentos mais importantes na avaliação do paciente com infecção precoce pelo HIV, pois é a partir dela, através da interpretação dos vários testes atualmente disponíveis, que se pode ter parâmetros do real estadiamento da infecção, prognóstico, decisão quanto ao início da terapia antirretroviral e avaliação da resposta ao tratamento, bem como o uso de profilaxia para as infecções oportunistas mais comuns na ocasião propicia. Recomenda-se a realização periódica de sub- tipagem de células T CD4+ e avaliação quantitativa da carga viral para HIV a cada 3-4 meses. 3. Fase sintomática inicial ● Sudorese noturna: é queixa bastante comum e tipicamente inespecífica entre os pacientes com infecção sintomática inicial pelo HIV. Pode ser recorrente e pode ou não vir acompanhada de febre. Nessa situação deve ser considerada a possibilidade de infecção oportunista, particularmente tuberculoses, lançando-se mão de investigação clínica e laboratorial especificas. ● Fadiga: também é frequentes manifestação da infecção sintomática inicial pelo HIV e pode ser referida como mais intensa no final de tarde e após atividade física excessiva. Fadiga progressiva e debilitante deve alertar para a presença de infecção oportunista, devendo ser sempre pesquisada. ● Emagrecimento: é um dos mais comuns entre os sintomas gerais associados com infecção pelo HIV, sendo referido em 95-100% dos pacientes com doença em progressão. Geralmente encontra-se associado a outras condições como anorexia. A associação com diarreia aquosa o faz mais intenso. ● Diarreia: consiste em manifestação frequentes da infecção pelo HIV desde sua fase inicial. Determinar a causa da diarreia pode ser difícil e o exame das fezes para agentes específicos se faz necessário. Na infecção precoce pelo HIV, patógenos entéricos mais comuns devem ser suspeitados: Salmonella spp., Shigella spp., Campylobacter sp, Giardia lamblia, Entamoeba histolytica, adenovírus, rotavírus. Agentes como Cryptosporidium parvum e Isospora belli, geralmente reconhecidos em fase mais avançada da doença causada pelo HIV, podem apresentar-se como expressão clínica autolimitada, principalmente com a elevação da contagem de células T CD4+ obtida com o início do tratamento antirretroviral. Quando a identificação se torna difícil ou falha, provas terapêuticas empíricas podem ser lançadas, baseando-se nas características epidemiológicas e clínicas do quadro. ● Sinusopatias: sinusites e outras sinusopatias ocorrem com relativa frequência entre os pacientes com infecção pelo HIV. A forma aguda é mais comum no estágio inicial da doença pelo HIV, incluindo os mesmos agentes considerados em pacientes
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